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TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

Registro: 2024.0000077357

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1057392-03.2022.8.26.0100 e código ebFATgQr.
ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº


1057392-03.2022.8.26.0100, da Comarca de São Paulo, em que é apelante CIA DE
SANEAMENTO BÁSICO DO ESTADO DE SÃO PAULO - SABESP, é apelado FRANCA

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por MARIA LAURA DE ASSIS MOURA TAVARES, liberado nos autos em 06/02/2024 às 17:21 .
EXPANSÃO S.A.

ACORDAM, em 5ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de São


Paulo, proferir a seguinte decisão: "Após sustentação oral do Dr. Oscar Lopes de Alencar
Junior e do Dr. Guilherme Toshihiro Takeishi, negaram provimento ao recurso. V. U.", de
conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores MARIA


LAURA TAVARES (Presidente), HELOÍSA MIMESSI E FERMINO MAGNANI FILHO.

São Paulo, 5 de fevereiro de 2024

MARIA LAURA TAVARES


RELATORA
Assinatura Eletrônica
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TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

VOTO Nº 35.159

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1057392-03.2022.8.26.0100 e código ebFATgQr.
APELAÇÃO CÍVEL Nº 1057392-03.2022.8.26.0100
COMARCA: SÃO PAULO
APELANTE: COMPANHIA DE SANEAMENTO BÁSICO DO ESTADO DE SÃO
PAULO SABESP

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APELADO: FRANCA EXPANSÃO S.A.
Juiz de 1ª Instância: Eduardo Palma Pellegrinelli

APELAÇÃO CÍVEL AÇÃO ANULATÓRIA DE SENTENÇA


ARBITRAL Pretensão de anular sentença arbitral Empresa
contratada da Sabesp que demandou a instauração de procedimento
arbitral para a aplicação da penalidade contratual contra a empresa de
saneamento, após reconhecimento de conduta abusiva perpetrada pela
sociedade em outro procedimento de arbitragem, o que prejudicou as
atividades da empresa contratada Sentença arbitral que julgou
procedente o pedido da contratante para aplicar multa em razão do
descumprimento contratual por parte da Sabesp Alegação de ofensa
à coisa julgada, em razão do quanto decidido na medida cautelar nº
1016607-87.2015.8.26.0053 e incompetência do juízo arbitral para
decidir a respeito de direito patrimonial indisponível (cláusula
exorbitante) Inocorrência - A decisão judicial anterior tratou de
questões distintas das travadas no procedimento arbitral questionado
Pretensão da contratada que não toca a fiscalização da execução do
Contrato e a aplicação de sanção pela Administração Pública
Pretensão no procedimento arbitral de assegurar o equilíbrio no que
concerne às penalidades de ordem contratual, de forma a tornar
paritária a relação Ato de gestão contratual que não se reveste das
prerrogativas da Administração Pública - Mero inconformismo da
autora com o teor da sentença arbitral Restrição da atuação do
Poder Judiciário nas decisões arbitrais que se justifica para garantir
segurança jurídica àqueles que se submetem à arbitragem como forma
de solução de litígio, tornando-a útil, eficaz e atraente -
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS Condenação da autora na forma
escalonada do artigo 85, § 3º, CPC Sentença mantida Recurso
desprovido.

Trata-se de ação proposta pela COMPANHIA DE


SANEAMENTO BÁSICO DO ESTADO DE SÃO PAULO (Sabesp) contra FRANCA
EXPANSÃO S.A., por meio da qual busca a declaração de nulidade da sentença
arbitral proferida no procedimento arbitral CMA 628-19, em razão da
incompetência do juízo arbitral para dirimir a respeito de matéria de direito

Apelação Cível nº 1057392-03.2022.8.26.0100 - São Paulo - VOTO Nº 2/17


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patrimonial indisponível, buscando a improcedência dos pedidos formulados por

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FRANCA EXPANSÃO no procedimento em questão. Afirma a inexistência de
jurisdição arbitral e a violação à coisa julgada em relação ao provimento
jurisdicional proferido nos autos da medida cautelar nº
1016607-87.2015.8.26.0053.

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A r. sentença de fls. 838/843, cujo relatório é adotado,
julgou improcedente o pedido, entendendo que o juízo arbitral, ao identificar o
descumprimento de obrigação contratual pela Sabesp e fixar a multa, age nos
termos do artigo 1º, § 1º, da Lei nº 9307/96, tratando a multa de direito
patrimonial disponível.

Em virtude da sucumbência, a autora foi condenada ao


pagamento das custas, das despesas processuais e dos honorários advocatícios
em favor do advogado contratado pela ré, fixados em 10% do valor da causa.

A Sabesp interpôs o recurso de apelação de fls.


854/863 por meio do qual afirma que a demanda arbitral teve por objeto a
reversão da multa administrativa rescisória aplicada pela Administração Pública à
contratada no Contrato Administrativo Atípico CSS nº 1057/11. Sustenta que as
sanções administrativas são direito indisponível, de forma que não poderia haver
a inversão da multa, para aplicar sanção à autora. Alega a violação de coisa
julgada, dado que este Juízo já se manifestou a respeito de a fiscalização, a
aplicação direta de sanções e as restrições serem prerrogativas de direito público
da autora (cláusulas exorbitantes), configurando direito indisponível. Ademais,
pretende que o pedido formulado pela requerida no juízo arbitral seja julgado
improcedente. Subsidiariamente, pretende a redução da verba honorária fixada
na r. sentença.

O feito foi distribuído a esta Relatora por prevenção


(1016607-87.2015.8.26.0053).

O recurso preencheu os requisitos de tempestividade e

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regularidade (fl. 966), foi instruído com as contrarrazões da parte adversa (fls.

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869/909) e é ora recebido em seus regulares efeitos.

As partes se opuseram ao julgamento virtual (fls. 936 e


938).

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É o relatório.

Com relação à preliminar de não conhecimento do


recurso, trazida pela ré, tem-se que o recurso é apto, uma vez que as razões
deduzidas impugnaram de modo suficiente os fundamentos decisórios da
sentença, permitindo a clara compreensão da pretensão recursal. Sendo assim, o
recurso deve ser conhecido.

Cuida-se de ação anulatória proposta pela COMPANHIA


DE SANEAMENTO BÁSICO DO ESTADO DE SÃO PAULO (Sabesp) em que busca a
declaração de nulidade de sentença arbitral proferida por árbitro único, que
acolheu o pedido subsidiário da ré FRANCA EXPANSÃO para aplicar multa em seu
favor “em decorrência do descumprimento contratual perpetrado pela Sabesp”
(fl. 185).

No presente apelo, a autora busca anular a sentença


arbitral sob o fundamento de que o juízo arbitral indevidamente deliberou a
respeito de direito indisponível (sanção administrativa), imputando penalidade a
Sabesp em desrespeito ao artigo 1º, § 1º da Lei de Arbitragem, o qual prevê que
“a administração pública direta e indireta poderá utilizar-se da arbitragem para
dirimir conflitos relativos a direitos patrimoniais disponíveis”.

A autora afirma, ainda, que nos termos do artigo 58, da


Lei nº 8.666/93, as sanções administrativas são prerrogativas do Poder Público,
não sendo possível a proposta de “inversão da sanção administrativa”, tal como
pleiteado pela ré no procedimento arbitral.

Apelação Cível nº 1057392-03.2022.8.26.0100 - São Paulo - VOTO Nº 4/17


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A Sabesp também alega que a sentença arbitral viola a

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coisa julgada da medida cautelar nº 1016607-87.2015.8.26.0053, julgada por
esta 5ª Câmara de Direito Público, onde se reconheceu que “a fiscalização da
execução do contrato, a aplicação direta de sanções e as restrições à oposição
da exceção do contrato não cumprido são prerrogativas de direito público da

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administração contratante (cláusulas exorbitantes), configurando direito
indisponível. Assim, a matéria não deve ser submetida ao juízo arbitral, que
poderá dirimir conflitos relativos a direitos patrimoniais disponíveis apenas”.

Adicionalmente, assevera a improcedência do pedido de


aplicação de multa administrativa em desfavor da Administração Pública.

Pois bem.

A arbitragem foi instaurada nos termos da Cláusula 33


do “Contrato de Concessão do Direito Real de Uso das Áreas ou da Permissão
Qualificada de Uso e de Acesso, Conforme o Caso, e da Execução das Obras de
Implantação das Adutoras de Água Bruta 1, 2 e 3 (Captação/EEAB2/EAB3/Eta);
Adutoras de Água Tratada 1 e 2 (ETA/RES. Aeroporto/R5A) e Interligação
R5a/Santa Cruz; Adutoras De Água Tratada (R5a/Res. Capelinha/Eta Norte);
Linha de Recalque para Transferência de Lodo (ETA Sul/ ETE Franca); Emissário
para Transferência de Lodo (ETA Sul/ETE Franca) e Sistema de Tratamento de
Lodo na ETE Franca do Sistema de Abastecimento de Água do Município de
Franca / Sistema Produtor Sapucaí Miri” (Contrato), firmado pelas partes em 4
de agosto de 2011.

A ré Franca Expansão, requerente do procedimento


arbitral, demandou a sua instauração para a aplicação da penalidade contratual
prevista na cláusula 32 do Contrato em desfavor da Sabesp, em linha com os
princípios gerais do direito, igualmente aplicáveis ao Direito Administrativo,
principalmente no que tange ao princípio da boa-fé. Subsidiariamente, sustentou
que, caso o Juízo Arbitral entenda não ser aplicável a multa pelo mesmo valor
estipulado pela Sabesp, deve ser aplicada multa em valor razoável e compatível

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à conduta da autora, a ser arbitrado pelo Árbitro Único.

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De início, é necessário afastar as premissas trazidas
pela Sabesp nestes autos.

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Com relação ao argumento de coisa julgada, na
sentença arbitral, o Árbitro bem distinguiu os fatos presentes na medida cautelar
nº 1016607-87.2015.8.26.0053 e os fatos do procedimento arbitral ora
combatido.

No Procedimento Arbitral CMA 628-19, objeto destes


autos, a tutela almejada pela ré Franca não implicou adentrar “em prerrogativas
sancionatórias próprias e exclusivas da Administração, pois o que pretende, ao
fim e ao cabo, é o equilíbrio da relação ajustada no Contrato, mediante a adoção
de práticas isonômicas no quadrante das penalidades eminentemente
contratuais”; prosseguindo o Juízo Arbitral:

90. Nesse sentido, não busca a Requerente afastar


prerrogativa da SABESP de aplicar sanções
administrativas; mas, tão somente, que a ela,
Requerente, seja assegurado equilíbrio no que
concerne às penalidades de ordem contratual, de
forma a tornar paritária a relação.
91. Emerge dessa circunstância a inaplicabilidade de
efeitos do quanto debatido pelas Partes na Medida
Cautelar Inominada e estampado no correspondente
Acórdão.
92. Nessa medida judicial a Requerente discutiu as
alegadas ameaças feitas pela SABESP de aplicação de
sanções no curso da execução do Contrato, e teve por
finalidade a obtenção de liminar de modo a,
notadamente, impedir a Requerida de impor
penalidades à Requerente enquanto pendentes certas
circunstâncias ou condições resultantes do Contrato.
93. Nos termos do Acórdão:
“A fiscalização da execução do contrato, a aplicação
direta de sanções e as restrições à oposição da
exceção do contrato não cumprido são prerrogativas
de direito público da administração contratante
(cláusulas exorbitantes), configurando direito
indisponível. Assim, a matéria não deve ser submetida
ao juízo arbitral, que poderá dirimir conflitos relativos
a direitos patrimoniais disponíveis. (…) A autora

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[Requerente] pretende afastar verdadeiras


prerrogativas de direito público da SABESP (…).”

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94. Observa-se do trecho acima que a decisão judicial
tratou de questões distintas daquelas travadas neste
procedimento, cuja pretensão da Requerente, reitere-
se, não toca a fiscalização da execução do Contrato
já rescindido e a aplicação de sanção pela
Administração, tampouco questões atinentes à exceção
de contrato não cumprido, circunstância essa apta a

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afastar qualquer potencial vinculação deste Juízo
Arbitral ao contido no referido julgado.
95. Em outros termos, a Requerente em momento
algum questiona ou se insurge contra o exercício pela
Requerida das prerrogativas assinaladas no art. 58 da
Lei nº 8.666/93, pelo que não prospera a alegação de
coisa julgada.
96. Com efeito, a pretensão da Requerente nesta
arbitragem é outra, diversa daquela objeto da Medida
Cautelar Inominada, e, portanto, não resta por
“esvaziar o conteúdo de exorbitância das cláusulas
reguladoras daquele poder, para criar uma inusitada
(e, infundada, como se verá) inversão de posições, em
que o ente privado é que passaria a ser sujeito ativo
das prerrogativas sancionadoras que cabem
exclusivamente aos entes públicos”, como aduz o Dr.
Flávio Luiz Yarshell, em seu Parecer.
97. Isso, porque o pleito da Requerente de isonomia
contratual não prejudica ou afasta a alegada
prerrogativa da Requerida em aplicar sanções
administrativas, razão pela qual não implica em
inversão de posições, mas apenas na fixação de certa
medida paritária em negócio firmado sob a égide de
direito privado. (grifou-se)

Logo, não há violação à coisa julgada no que diz


respeito ao objeto do Procedimento Arbitral CMA 628-19.

Ademais, a sentença arbitral (fls. 119/190)


corretamente distingue que a ré Franca não pleiteou “reversão” da multa
rescisória que lhe foi imposta por rescisão contratual, como sustenta a autora
Sabesp, não sendo o caso de arbitrabilidade de direito indisponível, em violação
ao artigo 1º, § 1º, da Lei de Arbitragem.

Em verdade, a ré Franca Expansão buscou a aplicação


de multa contratual em desfavor da Sabesp diante do reconhecimento no
Procedimento de Arbitragem CMA 393/15 de “conduta abusiva e desidiosa

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perpetrada” pela autora, em razão de “atraso injustificado na aprovação de

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projetos e de pedidos de compra de materiais ou insumos necessários ao bom
andamento das obras, quer seja pela demora na assinatura de documentos
essenciais e importantes para a execução das obras, entre outros fatos que
prejudicaram” as atividades da ré Franca Expansão (fls. 167/168).

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Desse modo, não há incompetência do juízo arbitral
para a análise do objeto do procedimento, uma vez que não diz respeito à
sanção de natureza administrativa, relacionada a ato de império que a
Administração Pública pratica no exercício do seu poder-dever, o que, realmente
não pode ser submetida à jurisdição arbitral.

Pelo contrário, a penalidade discutida no Procedimento


Arbitral CMA 628-19 tem fundamento na relação negocial formalizada entre as
partes pelo Contrato e como leciona Alexandre Santos de Aragão:

“(...) , o campo de arbitrabilidade envolvendo a


Administração Pública e, assim, o conceito de
disponibilidade para esse efeito no Direito
Administrativo corresponde às matérias
contratualizáveis.1

Destacou o árbitro que:

137. No concreto, como visto anteriormente, a relação


contratual estabelecida entre as Partes rege-se pelo
direito privado, não se aplicando na espécie as
primazias da Administração Pública, inclusive pela
própria estrutura societária da Requerida.
138. Com efeito, os negócios levados a cabo por
sociedade de fins eminentemente lucrativos, com
ações no mercado bursátil detidas em boa medida por
investidores nacionais e estrangeiros, não se
harmonizam com privilégios estatais.
139. De outra banda, o interesse público alegado pela
Requerida, a demandar salvaguarda, para além de no
caso ser de natureza secundária, não encontra eco nas
penalidades subjacentes à controvérsia objeto desta
arbitragem, de natureza eminentemente contratual.
140. Sob outro ângulo, o Contrato, mero instrumento
1ARAGÃO, Alexandre Santos de. A arbitragem no direito administrativo. Revista de Arbitragem e
Mediação, v. 54, p. 25-63, jul.-set. 2017, tópico 2.

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para a Requerida alcançar seus interesses finalísticos,


projeta de seus termos uma dualidade de penalidades,

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contratual e administrativa.
141. Como acentuado em tópico anterior, as
penalidades contratuais decorrem da livre
manifestação de vontade, enquanto as sanções
administrativas derivam das normas legais. Cada qual
visa atender objetivo tanto específico quanto distinto.
142. Resta evidente do contexto contratual que as

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Partes optaram por acordar, a par das sanções
administrativas, penalidades voltadas propriamente ao
inadimplemento relativo e absoluto de obrigações e
deveres contratuais. E assim foi feito embasada a
Requerida em sua aptidão de contratar e estabelecer
livremente os direitos e obrigações de parte a parte.
143. Tais disposições não encerram conteúdo jurídico
subjacente às cláusulas exorbitantes, com vistas a
proteger interesse coletivo, como argumenta a
Requerida, posto direcionadas à salvaguarda de
interesses próprios e patrimoniais oriundos da relação
privada pactuada com a Requerente.
144. O propósito, na realidade, é o de resguardar e
incentivar o fiel cumprimento de todos os termos e
condições do Contrato, como ocorre nos negócios em
geral, e deriva da autonomia da vontade e dos
pressupostos que norteiam a adequada e ordinária
gestão empresarial. (fls. 164/166) (grifou-se)

Logo, a sentença arbitral ora questionada reconheceu


que “a aplicação de multa em desfavor da Requerida funda-se, assim, na culpa
apurada e pronunciada no Procedimento Arbitral CMA 393/15” (fl. 173),
decidindo que:

192. Resta, portanto, improcedente o pedido de fixação


de penalidade contra a Requerida a título de multa por
rescisão do Contrato, e procedente o pedido subsidiário
de aplicação de multa em favor da Requerente “em
decorrência do descumprimento contratual perpetrado
pela SABESP”, sendo desnecessário pautar-se a fixação
do valor em critério que o Juízo Arbitral julgue
razoável, dado estar embasado no mesmo montante
apurado e adotado pela própria Requerida. (fl. 185)

Assim, não há como acolher o argumento de que a


discussão travada no procedimento arbitral disse respeito à matéria inerente ao
Estado, quando, em verdade, discutiu-se ato despido de prerrogativa especial,
cujo objetivo é fixar relações jurídicas normais (de direito comum) entre a

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Administração e outras pessoas jurídicas2.

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As hipóteses de anulação de sentenças arbitrais pelo
Poder Judiciário estão previstas no artigo 32 da Lei nº 9.307/96:

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Art. 32. É nula a sentença arbitral se:
I - for nula a convenção de arbitragem;
II - emanou de quem não podia ser árbitro;
III - não contiver os requisitos do art. 26 desta Lei;
IV - for proferida fora dos limites da convenção de
arbitragem;
VI - comprovado que foi proferida por prevaricação,
concussão ou corrupção passiva;
VII - proferida fora do prazo, respeitado o disposto no
art. 12, inciso III, desta Lei; e
VIII - forem desrespeitados os princípios de que trata
o art. 21, § 2º, desta Lei.

Art. 21. A arbitragem obedecerá ao procedimento


estabelecido pelas partes na convenção de arbitragem,
que poderá reportar-se às regras de um órgão arbitral
institucional ou entidade especializada, facultando-se,
ainda, às partes delegar ao próprio árbitro, ou ao
tribunal arbitral, regular o procedimento.
(...)
§ 2º Serão, sempre, respeitados no procedimento
arbitral os princípios do contraditório, da igualdade das
partes, da imparcialidade do árbitro e de seu livre
convencimento. (destaques nossos)

A doutrina majoritária entende que o referido rol é


taxativo e demanda interpretação restritiva3.

Em homenagem e em atendimento ao artigo 5º, inciso


XXXV, da Constituição Federal, a Lei nº 9.307/1996 (Lei da Arbitragem) prevê a
possibilidade de acesso ao Poder Judiciário para o controle da higidez da decisão
arbitral. É o que se depreende de seu artigo 33, que dispõe sobre o cabimento
de demanda para “a decretação de nulidade da sentença arbitral” e da ação de
embargos do devedor para idêntico fim.

2 SUNDFELD, Carlos Ari; CÂMARA, Jacintho Arruda. O Cabimento da Arbitragem nos Contratos
Administrativos. Revista de Direito Administrativo. n. 248, p. 117-126, 2008. p. 121
3 Sustentando o caráter exaustivo das hipóteses previstas no artigo 32 da Lei 9.307/1996, confira-

se, entre outros: Lobo, Carlos Augusto da Silveira; Leporace, Guilherme. Cumprimento e
impugnação da sentença arbitral no Poder judiciário. RArb 30/199 e ss.

Apelação Cível nº 1057392-03.2022.8.26.0100 - São Paulo - VOTO Nº 1 0/17


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O controle exercido pelo Poder Judiciário restringe-se à
verificação da validade da decisão arbitral, sem a possibilidade de qualquer
incursão quanto à sua justiça ou acerto, o que se extrai do artigo 32 da Lei
9.307/1996, que, como mencionado, prevê em caráter taxativo as hipóteses a

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ensejar a invalidação da sentença arbitral.

Nenhuma das referidas hipóteses está ligada à correção


de errores in juridicando, ou seja, das questões relativas ao direito material
submetidas à jurisdição arbitral, permitindo apenas a correção de errores in
procedendo.

A liberdade e autonomia de vontade das partes que


permeia o procedimento arbitral repele o controle estatal quanto ao direito
material da decisão arbitral, o que remete à ponderação de que a flexibilização
extremada desse controle pelo Poder Judiciário implicaria, como alerta CÂNDIDO
RANGEL DINAMARCO:

“um perigosíssimo fator de esvaziamento do instituto


da arbitragem, pois comprometeria os fundamentos e
objetivos deste alongando litígios no tempo,
encarecendo a produção da tutela definitiva,
conferindo publicidade a assuntos que se pretendia
tratar com discrição, renunciando aos conhecimentos
especializados dos árbitros experts. Essa abertura
atingiria também, na alma, um dos grandes
pressupostos da opção arbitral, que é a boa-fé dos
litigantes, que deve levá los a resignar se com os
azares de uma decisão previamente aceita mediante o
compromisso que firrnaram.”4

FLÁVIO LUIZ YARSHELL sintetiza o cabimento da


propositura de demanda para anulação de decisão arbitral:

“(...) Daí decorrem, dentre outros, desdobramentos,


igualmente reconhecidos: a sujeição só se dá em
relação às partes que a contrataram o controle estatal
da sentença proferida pelos árbitros é excepcional e
suas hipóteses de cabimento devem ser interpretadas
4 Dinamarco, Cândido Rangel. Limites da sentença arbitral e de seu controle jurisdicional, p. 331.

Apelação Cível nº 1057392-03.2022.8.26.0100 - São Paulo - VOTO Nº 1 1/17


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de forma estrita; não é admissível o controle do mérito


da decisão arbitral, excluída, portanto, eventual

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revisão sobre eventual error in judicando; não se pode,
a pretexto de falta de adequada motivação, pretender
que o judiciário reveja os fundamentos de fato e de
direito adotados pelo órgão arbitral.”5

Assim é que se conclui que deve haver uma maior

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rigidez na análise do cabimento do controle do Poder Judiciário sobre a sentença
arbitral, visando apenas garantir a ordem pública e a observância dos princípios
que regem a arbitragem.

O procedimento arbitral não possui o mesmo rigor do


processo judicial, de forma que o controle exercido pelo Poder Judiciário sobre a
sentença arbitral não deve considerar o formalismo exigido ao processo civil, sob
pena de transformar o procedimento arbitral em um simulacro de processo
judicial e maculando a própria razão de existência da arbitragem, que objetiva
conferir uma maior flexibilidade, agilidade e celeridade para a resolução dos
conflitos:

“a sintonia entre as esferas do Poder Judiciário e da


arbitragem será fator decisivo para a pacificação social
e a implementação de resultado alvissareiro na
composição de conflitos tencionada através da escolha
do referido meio alternativo, vez que ambos os canais
voltam-se para o escopo comum na realização do
amplo conceito da garantia de acesso à justiça. E, na
prática, quanto mais fluido for o relacionamento entre
essas instâncias, maiores serão as possibilidades para
que haja a prestação jurisdicional mais efetiva,
embora, em princípio, supostamente objetivem
resguardar valores contrapostos da segurança e
celeridade. Essa contradição de propósitos e apenas
aparente, já que, no âmago, tanto o juiz como o árbitro
buscam a conciliação dessas grandezas no intento de
melhor promover a aplicação do direito material,
conferindo a efetiva fruição do bem da vida a seus
titulares.”6

Com relação ao controle do Poder Judiciário sobre as


5 Yarshell, Flávio Luiz. Capítulo 23 - Ainda sobre o caráter subsidiário do controle jurisdicional
estatal da sentença arbitral, in Processo Em jornadas XI Jornadas Brasileiras de Direito
Processual XXV Jornadas Ibero-americanas de Direito Processual, p. 312.
6 Nagao, Paulo Issamu. Do controle judicial da sentença arbitral, 2013, p. 201.

Apelação Cível nº 1057392-03.2022.8.26.0100 - São Paulo - VOTO Nº 1 2/17


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sentenças arbitrais, são relevantes, ainda, as fundamentações utilizadas pelo C.

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Superior Tribunal de Justiça no julgamento do Recurso Especial nº
1.660.963/SP:

“RECURSO ESPECIAL. AÇÃO ANULATÓRIA DE


SENTENÇA ARBITRAL. CONFLITO DE INTERESSES

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DIRIMIDO PELO TRIBUNAL ARBITRAL, SURGIDO NO
BOJO DE CONTRATO DE CESSÃO DE QUOTAS SOCIAIS.
1. HIPÓTESES DE CABIMENTO. TAXATIVIDADE. 2.
ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DO
CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA ANTE O
INDEFERIMENTO DE PROVA PERICIAL CONTÁBIL. NÃO
OCORRÊNCIA. 3. LIVRE CONVICÇÃO MOTIVADA DO
JULGADOR. FUNDAMENTAÇÃO COESA E COERENTE A
EVIDENCIAR A DESNECESSIDADE, E MESMO
IDONEIDADE, DA PROVA REQUERIDA.
RECONHECIMENTO. 4. ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO A
PRINCÍPIO DE ORDEM PÚBLICA (BOA-FÉ OBJETIVA).
PRETENSÃO DE REVISAR A JUSTIÇA DA DECISÃO
ARBITRAL. IMPOSSIBILIDADE. RECURSO ESPECIAL
IMPROVIDO.
1. O excepcional controle judicial promovido por meio
de ação anulatória, prevista no art. 33 da Lei n.
9.307/1996, não pode ser utilizado como subterfúgio
para se engendrar o natural inconformismo da parte
sucumbente com o desfecho conferido à causa pelo
Juízo arbitral, como se de recurso tratasse, com o
simples propósito de revisar o mérito arbitral. 1.1 A
ação anulatória de sentença arbitral há de estar
fundada, necessariamente, em uma das específicas
hipóteses contidas no art. 32 da Lei 9.307/1996, ainda
que a elas seja possível conferir uma interpretação
razoavelmente aberta, com o propósito de preservar,
em todos os casos, a ordem pública e o devido
processo legal e substancial, inafastáveis do controle
judicial.
2. O exame quanto à suficiência das provas ou à
necessidade de realização de determinada prova é
providência que compete exclusivamente ao juiz da
causa, no caso, o Tribunal arbitral, afigurando-se
corolário do princípio do livre convencimento
motivado. O indeferimento de determinada prova,
desde que idoneamente fundamentado pelo juízo
arbitral, não importa em ofensa ao contraditório.
3. Da fundamentação expendida pelo Tribunal arbitral,
constata-se que a fixação do preço das quotas sociais
pressupôs não apenas o conhecimento, mas,
principalmente, o assentimento das partes
contratantes acerca da situação contábil da sociedade
por ocasião da realização do negócio jurídico. Logo,
qualquer débito ali constante não poderia ser
compreendido como "oculto", conclusão, é certo, que

Apelação Cível nº 1057392-03.2022.8.26.0100 - São Paulo - VOTO Nº 1 3/17


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dispensou a realização de perícia contábil. De seus


termos, é possível inferir, claramente, que a realização

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de prova pericial, a recair justamente sobre a
contabilidade da sociedade empresarial ? conhecida e
utilizada pelas partes para o estabelecimento do preço
do negócio jurídico na sequência perfectibilizado ?
seria de todo inútil à identificação de algum débito
oculto, sem que houvesse a individualização mínima
deste pela parte interessada, providência

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absolutamente factível, já que perpetrou, sponte
propria, a retenção do valor do pagamento com base,
naturalmente, em débitos específicos.
3.1 Diante da coesa e substancial fundamentação
adotada pelo Tribunal arbitral, a não realização da
prova pericial contábil requerida, considerada
desnecessária ao deslinde da controvérsia pelo
Tribunal arbitral, não encerrou vilipêndio aos princípios
do contraditório e da ampla defesa, apto a ensejar a
anulação da sentença arbitral, mas, sim, consectário
do livre convencimento motivado do Juízo arbitral.
4. Em que pese o alto grau de indeterminação do
conceito de "ordem pública" ? variável dado o
momento histórico ?, este deve compreender toda a
gama de princípios e valores incorporados na ordem
jurídica interna, com alto grau de normatividade,
portanto, que se revelem fundamentais ao Estado,
razão pela qual são de observância obrigatória pelo
direito estrangeiro (como condição de eficácia) e, por
interpretação ampliativa, pelo Juízo arbitral.
4.1 A compreensão adotada pelo Tribunal arbitral de
que o comportamento contratual da recorrente ensejou
o desequilíbrio contratual ajustado pelas partes e
enriquecimento indevido, não importa em ofensa à
ordem pública, mostrando-se absolutamente possível,
segundo o direito brasileiro, eleito pelas partes para
dirimir o mérito do conflito de interesses ? não se
tecendo, no ponto, nenhuma consideração de mérito,
se acertada ou não a decisão arbitral.
4.2 A argumentação expendida pela insurgente de que
a sentença arbitral violou o princípio da boa-fé objetiva
evidencia, às escâncaras, o propósito de revisar a
justiça da decisão arbitral, a refugir por completo das
restritas e excepcionais hipóteses de cabimento da
ação anulatória.
5. Recurso especial improvido.”
(REsp 1660963/SP, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO
BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado em 26/03/2019,
DJe 29/03/2019)

No referido julgado, o C. Superior Tribunal de Justiça


tomou por premissa a excepcionalidade da intervenção estatal nas decisões
arbitrais, bem como que as hipóteses de anulação de sentenças arbitrais,

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arroladas no artigo 32 da Lei nº 9.307/96, não admitem que o Poder Judiciário

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reanalise questões de mérito da sentença proferida, uma vez que as partes, ao
celebrar a convenção de arbitragem, afastam a atuação estatal.

Pelo caminho trilhado pelo C. Superior Tribunal de

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Justiça em sua fundamentação, neste ponto, deduz-se que a Corte procurou
reforçar sua linha argumentativa - de que não poderia revisitar o juízo de
convencimento do Tribunal Arbitral - por meio de uma avaliação quanto a
coerência dos fundamentos trazidos pelos árbitros.

Assim, não cabe ao Poder Judiciário imiscuir-se na


atividade arbitral, exceto em situações excepcionais, o que não se verifica na
hipótese dos autos. A restrição se justifica justamente para garantir segurança
jurídica àqueles que se submetem à arbitragem como forma de solução de litígio,
tornando-a útil, eficaz e atraente.

A penalidade contratual discutida no Procedimento


Arbitral CMA 628-19 diz respeito à relação endocontratual das partes, não se
tratando de penalidade regulatória ou sanção advinda do poder de polícia da
Administração Pública, correspondendo a multa contratual, de natureza
patrimonial disponível, que pode ser transacionada, destacando-se que:

Como a rescisão do contrato administrativo, em regra,


decorre de conflitos que envolvem direitos
patrimoniais e disponíveis, esse tipo de desfazimento
pode ser solucionado por meio da convenção de
arbitragem, afastando-se a Administração e o
contratado da apreciação do conflito pelo Judiciário.
Solução dessa natureza guarda consonância com o
princípio da eficiência, permitindo maior celeridade das
soluções para os litígios administrativos.7

Dessa forma, a tentativa da autora de revisar a decisão


do juízo arbitral é contrária ao próprio sistema dos procedimentos arbitrais, dado
que a revisão de mérito da sentença arbitral é indevida.

7 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo. São Paulo: Atlas, v. 2, p. 50, 2012.

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A sentença arbitral questionada está bem

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fundamentada e o procedimento não se refere a direito indisponível da
Administração Pública ou de cláusula exorbitante, prerrogativa do Poder Público,
ocupando-se de penalidade contratual decorrente de má-prática da autora,
apurada em outro procedimento arbitral.

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Logo, não resta configurada qualquer hipótese de
nulidade ou anulabilidade da sentença arbitral, sendo que a mera discordância da
parte sobre a interpretação dos fatos e o resultado do procedimento arbitral não
justifica a propositura da ação anulatória da sentença arbitral, tendo em vista
que não cabe ao Poder Judiciário rever o mérito da decisão.

Por fim, a Sabesp pretende a aplicação equitativa dos


honorários advocatícios fora dos casos previstos no § 8º do artigo 85 do Código
de Processo Civil.

Em que pese o esforço da autora, não é o caso de se


afastar as determinações do artigo 85, § 3º, do Código de Processo Civil. No
específico caso dos autos, trata-se de condenação cujo valor, apesar de alto, não
representa montante exorbitante e serve também para coibir a propositura
descabida de ações judiciais visando anular sentença arbitral por mero
inconformismo com o seu resultado.

A discussão dos autos é travada entre as partes desde


2015, tendo a autora acionado o Poder Judiciário para discutir questão já
dirimida no juízo arbitral.

Assim, a manutenção dos honorários, in casu na forma


do artigo 85, § 3º, do CPC, prestigia o trabalho dos advogados, que possuem
importante papel no acesso e garantia da justiça, em observância aos atos
processuais necessários à defesa dos interesses patrocinados e ao
convencimento do magistrado, e não resultará em verba honorária excessiva ao
patrono da parte autora. Do mesmo modo, não há violação de preceitos

Apelação Cível nº 1057392-03.2022.8.26.0100 - São Paulo - VOTO Nº 1 6/17


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constitucionais da proporcionalidade e da razoabilidade no caso.

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Deste modo, a r. sentença merece pequeno ajuste para
condenar a Sabesp ao pagamento de honorários advocatícios na forma do artigo
85, no menor percentual dos incisos do § 3º, quando da liquidação do valor

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devido.

Pelo exposto, pelo meu voto, nego provimento ao


recurso interposto, com observação quanto à adequação da condenação
escalonada ao pagamento de honorários advocatícios na forma do artigo 85, § 3º
do Código de Processo Civil.

Eventuais recursos interpostos contra este julgado


estarão sujeitos a julgamento virtual, devendo ser manifestada a discordância
quanto a essa forma de julgamento no momento da interposição.

Maria Laura de Assis Moura Tavares


Relatora

Apelação Cível nº 1057392-03.2022.8.26.0100 - São Paulo - VOTO Nº 1 7/17

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