Você está na página 1de 7

FRM DE PENEDO

ANÁLISE JURISPRUDENCIAL 2022.1


Modelo

ARBITRAGEM – PROFª. LENY ARAÚJO


ASSUNTO:
ESTRUTURA PROCEDIMENTAL ANÁLISE CRÍTICA DA DECISÃO

1. EMENTA/SÚMULA
 Tribunal de origem: Única Turma Recursal Cível e Criminal de Imperatriz,
TJMA SÚMULA DO JULGAMENTO: RECURSO INOMINADO.
 Prévio juízo de admissibilidade: TJMA, admitiu/conheceu o Recurso Inominado. SUSPENSÃOPROCESSO PARA DEMONSTRAÇÃO DO INTERESSE
 Tipo do Recurso: Recurso Inominado – Lei nº 9.099/95, art. 41 PROCESSUAL PELA PARTE. INEXISTÊNCIA DE INCOMPATIBILIDADE
 Hipótese de cabimento: recorre-se da sentença do Juizado Especial Estadual. ENTRE A EXIGÊNCIA DE CUMPRIMENTO DE PRESSUPOSTOS À
 Recurso Inominado nº 0800255-84.2020.10.0028 PROPOSITURA DE UMA DEMANDA E O PRINCÍPIO DO ACESSO À JUSTIÇA
 Relator (a): Juiz Glender Malheiros Guimarães OU DA INAFASTABILIDADE DA PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. RECURSO
 Recorrente – NILVAN NASCIMENTO DA SILVA IMPROVIDO. SENTENÇA MANTIDA.
 Recorrido – VIA VAREJO S/A 1. Foi determinado pelo juízo de base a suspensão do processo para que se
 Data do julgamento: 20/08/2020 demonstrasse a ocorrência da pretensão resistida, condição de admissibilidade
 O recurso foi conhecido e não provido. da ação, sugerindo o uso da plataforma digital do Ministério da Justiça
"consumidor.gov.br", como ferramenta eficiente para tal providência, e a parte
demandante, devidamente intimada para tal, NÃO apresentou manifestação nos
autos, ao que o juiz julgou extinta a demanda, nos termos do art. 485, inciso VI do
CPC, por reconhecer não preenchidas as condições formais para seguimento do
feito.
2. O Recurso é da parte Requerente e argumentou ter o magistrado se
aventurado em tentar legislar, determinando como condição processual o
protocolo da demanda na via administrativa e que a decisão foi inconstitucional
violou o princípio da inafastabilidade do poder judiciário (art. 5º, inciso XXXV da
CF/88), o princípio do contraditório e da ampla defesa (5º, LV da CF/88), e
demais dispositivos constitucionais e que o juiz “a quo” equivocadamente citou na
decisão a resolução 43/2017 do Tribunal de Justiça do Maranhão para
fundamentar a decisão inconstitucional, todavia, em seu entender, a referida
resolução faz recomendação do protocolo na demanda na ferramenta
“consumidor.gov.br”, e não uma exigência, ou pressuposto processual para
extinguir processos.
3. Ficou bem assentado na decisão atacada que se determinou a suspensão do
processo para que a parte demonstrasse a ocorrência da pretensão resistida,
condição de admissibilidade da ação, SUGERINDO o Magistrado o uso da
plataforma "consumidor.gov.br", como ferramenta eficiente para tal providência,
quedando-se inrete a parte demandante, ou seja, fundamentou o Magistrado
essa suspensão para comprovação do interesse processual e prestígio por
alternativa de composição no próprio CDC, em seu art. 4º, inciso V, segundo o
qual deve-se incentivar mecanismos alternativos de solução de conflitos de
consumo e, no art. 6º, VII do mesmo código, o acesso aos órgãos judiciários e
administrativos com vistas à prevenção ou reparação de danos patrimoniais e
morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a proteção Jurídica,
administrativa e técnica aos necessitados, tendo fundamentado a sentença
extintiva na Política Judiciária Nacional de tratamento adequado de conflitos,
inaugurada pela Resolução 125/2010 do CNJ e o tratamento dado pelo CPC ao
regular o andamento das demandas judiciais (Art. 3º, Art. 174, II) e a Lei
13.140/2015 (Lei de Mediação) em seu art. 32, e na Lei 13.460/2017, chamando
ainda a inteligência da Resolução 43/2017 do Tribunal de Justiça do Maranhão,
que prestigia a oportunidade da demonstração de uma pretensão resistida, ou
seja, que se aponte uma tentativa de solução do conflito antes da propositura da
demanda, até para que se ponha em atividade a máquina estatal de solução de
conflitos.
4. No caso dos autos, notou o Magistrado de base, acertadamente, não ter
havido sequer tentativa de resolução pré-processual com a utilização de meios
consensuais, ingressando a parte, diretamente, na esfera judiciária, tudo estando
a indicar sequer tivesse a parte posta no pólo passivo da demanda ciência do
problema a ser resolvido, a ensejar a carência do interesse de agir, pois, à
míngua de qualquer obstáculo imposto pela parte requerida, não se pode
compreender aperfeiçoada a lide, doutrinariamente conceituada como um conflito
de interesses qualificado por uma pretensão resistida, ou seja, o interesse de agir
(ou processual), conforme entende a doutrina brasileira, resta configurado
quando, com base nas afirmações autorais, in status assertionis, esteja presente
o binômio necessidade/adequação, para o autor, da tutela por ele pretendida, de
modo que se possa aquilatar a presença do interesse de agir, razão pela qual, ao
se verificar as alegações da parte requerente, devem ser feitas as seguintes
perguntas, partindo-se do princípio (hipotético e preliminar) de que as afirmações
autorais são verdadeiras: (a) somente através da providência solicitada ele
poderia satisfazer sua pretensão? e (b) Essa providência é adequada a
proporcionar tal satisfação?
5. No caso, por todo o narrado, forçoso reconhecer faltar interesse processual a
parte autora, por não demonstrada a necessidade da providência jurisdicional
(ausência de lide), ou seja, não tendo percebido demonstrado nos autos o
interesse processual, e a fim de oportunizar à parte o ajuste, determinou o juízo a
suspensão do processo por 30 dias, recomendando à parte o uso da plataforma
do Consumidor para solução do seu conflito, ao que, deixando ela transcorrer in
albis o prazo, forçoso reconhecer inexistente a lide, no sentido de pretensão
resistida, pois se ainda não existe resistência à pretensão deduzida pelo autor em
juízo, este é carecedor de ação, por falta de interesse processual, pois a
existência de litígio constitui conditio sine qua non do processo.
6. Longe de esvaziar a eficácia do direito fundamental à ação (direito
constitucional, público, e abstrato que é) e do princípio da inafastabilidade da
Jurisdição ("a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça
a direito"), exige-se olhos postos sobre o interesse de agir, configurado na
existência de uma pretensão resistida, para que o Órgão Julgador possa prestar
satisfatoriamente a tutela jurisdicional, não se estando aqui a chancelar recusa
em resolver a pretensão da parte, ao contrário, intimou-se a parte para
demonstrar pretensão resistida (lide) e determinou-se a suspensão do feito para
essa demonstração, apenas com a indicação da plataforma “consumidor.gov.br”,
e não a exigência impreterível da utilização da mesma, ou seja, a referida
plataforma não foi a causa da extinção do feito, mas a não comprovação da lide.
7. A questão que se coloca sob enfoque e discussão funda-se na exigência de
prévio requerimento administrativo, incluído ai a plataforma “consumidor.gov.br”,
para o ajuizamento da ação, e a exigência de um novo olhar sobre o conceito
jurídico do interesse processual, na medida em que não se pode ignorar o
estímulo que o CPC confere aos meios extrajudiciais de solução de conflitos (art.
3º, §3º), deixando de lado a ultrapassada e censurável cultura da litigância que
abarrota o Judiciário, razão pela qual deve-se buscar, sempre que possível,
soluções alternativas para a resolução dos conflitos instaurados, pondo de lado a
cultura da litigância e a lógica do vencedor/perdedor, na medida em que nem
todo conflito deva ou mereça ser judicializado, ou seja, deve-se repensar a teoria
de que sempre, em qualquer situação e sem qualquer critério, seja possível
ajuizar uma medida judicial, sem que antes se tenha intentado vias alternativas
de solução de disputas entre as partes, de modo que o judiciário efetivamente
seja a ultima ratio e a conciliação seja o primeiro degrau a ser pisado, o que trará
vantagens obvias para as partes e para todo o caro e custoso sistema de justiça.
8. Nessa linha, o E. STF no julgamento do Recurso Extraordinário 631.240, com
repercussão geral reconhecida, considerou que a exigência do prévio
requerimento administrativo em causas previdenciárias não fere a garantia de
livre acesso ao Judiciário, previsto no artigo 5º, inciso XXXV, da CF/88 e, do
mesmo modo, tem decidido o E. STJ, no sentido, nas ações de exibição de
documentos, de que a exigência de requerimento prévio junto à agência bancária
é indispensável para aquilatar o interesse processual/necessidade para a ação
principal e não viola o princípio do acesso à Justiça (STJ, Resp. 1.349.453-MS,
Rel. Min. Luis Felipe Salomão), entendimento que tem sido estendido para outros
tipos de demandas judiciais, como nas cobranças de seguro obrigatório (DPVAT)
junto à Seguradora Líder (Resolução CNSP 154/2006 e Portaria CNSP n°
2.797/07) e, mais recentemente, em pedidos direcionados às pessoas jurídicas
de direito público para fornecimento de medicamento de alto custo, ou seja, a
jurisprudência e a boa doutrina processual começam a caminhar para a releitura
do princípio do acesso à justiça, coibindo de modo racional o chamado “abuso no
direito de demandar”, até como necessidade de racionalização do acesso à
Justiça e de se reduzir o número de demandas derivadas de conflitos hipotéticos
(em que o adverso sequer tem conhecimento prévio da pretensão apresentada
em juízo), prestigiando mecanismos extrajudiciais de solução dos conflitos, sejam
os contenciosos administrativos nos casos de demandas contra o Poder Público,
os SACs (Serviços de Atendimento ao Consumidor) nas relações de consumo, ou
mesmo as ferramentas, especialmente virtuais, de recepção e atendimento a
reclamações, aliás, como faz o TJMA, que tem link da ferramenta/plataforma em
seu site institucional (http://www.tjma.jus.br/links/portal/cidadao) e encaminha
para a plataforma ( https://consumidor.gov.br/pages/principal/?1596712010125).
9. Há que se observar, todavia, que o entendimento da prévia demonstração do
interesse como condição do ajuizamento da ação e demonstração de tentativa de
resolução amigável não é e nem pode ser absoluta, devendo ser temperado pela
admissão de hipóteses excepcionais, em que o acesso à Justiça possa se dar de
modo direto, como nos casos em que: a) a resposta não se dê em tempo
razoável; b) os pedidos de consumidores, de ordinário, não sejam atendidos
pelos fornecedores cadastrados; e c) seja necessária tutela de urgência, situação
em que não será possível ao jurisdicionado aguardar eventual solução
extrajudicial, ou seja, salvo nos casos excepcionais, é lícito e razoável ao juiz
determinar ao autor que comprove ter utilizado previamente alguma forma de
pedido administrativo, aí incluída a plataforma “consumidor.gov.br (CPC, arts. 6º,
10 e 321), sob pena de indeferimento da inicial, por falta de interesse de agir, de
modo que apenas após a comprovação da resistência à pretensão e/ou eventual
insucesso na composição extrajudicial é que o juiz determinaria a citação do réu,
tal como procedeu o magistrado de base, razão pela qual, malgrado a
insurgência recursal e suas razões, se mantém a decisão vergastada em sua
integralidade.
10. Forte, portanto, no fortalecimento da política da resolução pre-processual e/ou
administrativa dos conflitos e na inteligência de que não se pode mais admitir que
demandas que podem e merecem ser resolvidas pela via consensual sejam
destinadas a ocupar a pauta do Judiciário de forma direta como esta em foco,
sem que antes tenha a parte comprovado ter intentado, por quaisquer dos meios
possíveis e existentes, a prévia resolução do litígio com demonstração de efetiva
resistência ao direito que alega ser titular, o que encontra fundamento na
Resolução 125/2010 do CNJ, cuja inteligência foi formatada da Resolução
43/2017 do TJMA, tudo conjugado com os arts. 4º, 6º e 18 do CDC, fortalecidos
pelas normas processuais vigentes, especialmente do art. 3º, 4º, 5º, 174 e §7º do
art. 334, todos do CPC e nas Leis 13.140/2015 (lei da mediação), Leis
13.655/2018 e 13.726/2018, uníssonas na inteligência de que não há
incompatibilidade entre a exigência de cumprimento de pressupostos à
propositura de uma demanda e o princípio do acesso à justiça ou da
inafastabilidade da prestação jurisdicional, o que tem recebido chancela da boa e
atualizada jurisprudência pátria, inclusive do TJMA, como no AI nº 0804411-
73.2018.8.10.0000, de Relatoria do Desembargador Ricardo Duailibe, que
autorizou a viailidade processual e jurídica da suspensão processual para
conciliação extrajudicial em homenagem aos mecanismos pré-processuais de
solução de conflitos.
11. Assim, não obstante as razões recursais, lidas e ponderadas à exaustão,
POR UNANIMIDADE, o presente recurso foi CONHECIDO, MAS NÃO
PROVIDO, ficando mantida a decisão de base em sua integralidade, aproveitada
aqui também como razão de decidir.
12. Condenação da parte Recorrente em custas e honorários advocatícios, estes
no percentual de 20% sobre o valor da causa, por conta do resultado do
julgamento, suspensa a exigência, pelo prazo legal, acaso lhe tenha sido
permitido litigar sob o palio da gratuidade da justiça.
13. Súmula de julgamento que serve de acórdão, nos termos do art. 46, parte
final, da Lei nº 9.099/95 e, em homenagem a celeridade e economia processual,
ratifica-se, de modo específico quanto a esta matéria, a competência regimental
do juiz relator para julgar monocraticamente recursos semelhantes, aplicando a
jurisprudência dominante do STJ e firmado nesta Turma Recursal.

2. OBJETO DO RECURSO

A sentença que extinguiu o processo, nos termos do art. 485, inciso VI do CPC,
posto que, a parte autora não demonstrou comprovante da pretensão resistida
(interesse processual), pelo uso da plataforma consumidor.gov, conforme
sugerido pelo juízo.
3. DA DELIMITAÇÃO DA CONTROVÉRSIA
 Pontos incontroversos
 As controvérsias existentes
 Fundamentos fáticos da ação
 Tese do Recorrente
 Violação do art. 5º, XXXV, da CF – Princ. da Inafastabilidade do
Poder Judiciário.
 Violação do art. 5º, da CF – Princ. do Contraditório e da Ampla
Defesa

 Tese do Recorrido
 Encontra-se nos item: 2

4. O ACÓRDÃO
 Fundamentos jurídicos

 A Turma Recursal tratou do seguinte vício: a não demonstração


da pretensão resistida pela parte Recorrente, como condição
da ação, com base no art. 485, VI do CPC.

 Resolução nº 125/2010, CNJ.

 CPC, arts. 3º e 174, II.

 Lei nº 13.140/2015, art. 32.

 Lei nº 13.460/2017.
 Resolução nº 43/2017, do TJMA.

5. ANÁLISE CRÍTICA DA DECISÃO


 Se, concorda ou não com os fundamentos jurídicos utilizados
pelos Juízes, Ministros ou Desembargadores. Justifique.

Considerações:
 Os alunos devem dar ênfase ao estudo do direito material e procedimental em relação à análise crítica, posto que, o objeto de nosso estudo é a forma
pela qual os Tribunais decidiram o caso.
 A análise jurisprudencial tem o objetivo de promover a interpretação jurídica das decisões emanadas pelos Tribunais Superiores, Tribunais de
Justiça dos Estados e Juizados Especiais Cíveis, e, inserir o aluno no contexto do caso judicial concreto cujo objetivo é desenvolver as suas
capacidades, crítica e intelectual, aplicando-se o aprendizado teórico em casos práticos.

Você também pode gostar