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1. EMENTA/SÚMULA
Tribunal de origem: Única Turma Recursal Cível e Criminal de Imperatriz,
TJMA SÚMULA DO JULGAMENTO: RECURSO INOMINADO.
Prévio juízo de admissibilidade: TJMA, admitiu/conheceu o Recurso Inominado. SUSPENSÃOPROCESSO PARA DEMONSTRAÇÃO DO INTERESSE
Tipo do Recurso: Recurso Inominado – Lei nº 9.099/95, art. 41 PROCESSUAL PELA PARTE. INEXISTÊNCIA DE INCOMPATIBILIDADE
Hipótese de cabimento: recorre-se da sentença do Juizado Especial Estadual. ENTRE A EXIGÊNCIA DE CUMPRIMENTO DE PRESSUPOSTOS À
Recurso Inominado nº 0800255-84.2020.10.0028 PROPOSITURA DE UMA DEMANDA E O PRINCÍPIO DO ACESSO À JUSTIÇA
Relator (a): Juiz Glender Malheiros Guimarães OU DA INAFASTABILIDADE DA PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. RECURSO
Recorrente – NILVAN NASCIMENTO DA SILVA IMPROVIDO. SENTENÇA MANTIDA.
Recorrido – VIA VAREJO S/A 1. Foi determinado pelo juízo de base a suspensão do processo para que se
Data do julgamento: 20/08/2020 demonstrasse a ocorrência da pretensão resistida, condição de admissibilidade
O recurso foi conhecido e não provido. da ação, sugerindo o uso da plataforma digital do Ministério da Justiça
"consumidor.gov.br", como ferramenta eficiente para tal providência, e a parte
demandante, devidamente intimada para tal, NÃO apresentou manifestação nos
autos, ao que o juiz julgou extinta a demanda, nos termos do art. 485, inciso VI do
CPC, por reconhecer não preenchidas as condições formais para seguimento do
feito.
2. O Recurso é da parte Requerente e argumentou ter o magistrado se
aventurado em tentar legislar, determinando como condição processual o
protocolo da demanda na via administrativa e que a decisão foi inconstitucional
violou o princípio da inafastabilidade do poder judiciário (art. 5º, inciso XXXV da
CF/88), o princípio do contraditório e da ampla defesa (5º, LV da CF/88), e
demais dispositivos constitucionais e que o juiz “a quo” equivocadamente citou na
decisão a resolução 43/2017 do Tribunal de Justiça do Maranhão para
fundamentar a decisão inconstitucional, todavia, em seu entender, a referida
resolução faz recomendação do protocolo na demanda na ferramenta
“consumidor.gov.br”, e não uma exigência, ou pressuposto processual para
extinguir processos.
3. Ficou bem assentado na decisão atacada que se determinou a suspensão do
processo para que a parte demonstrasse a ocorrência da pretensão resistida,
condição de admissibilidade da ação, SUGERINDO o Magistrado o uso da
plataforma "consumidor.gov.br", como ferramenta eficiente para tal providência,
quedando-se inrete a parte demandante, ou seja, fundamentou o Magistrado
essa suspensão para comprovação do interesse processual e prestígio por
alternativa de composição no próprio CDC, em seu art. 4º, inciso V, segundo o
qual deve-se incentivar mecanismos alternativos de solução de conflitos de
consumo e, no art. 6º, VII do mesmo código, o acesso aos órgãos judiciários e
administrativos com vistas à prevenção ou reparação de danos patrimoniais e
morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a proteção Jurídica,
administrativa e técnica aos necessitados, tendo fundamentado a sentença
extintiva na Política Judiciária Nacional de tratamento adequado de conflitos,
inaugurada pela Resolução 125/2010 do CNJ e o tratamento dado pelo CPC ao
regular o andamento das demandas judiciais (Art. 3º, Art. 174, II) e a Lei
13.140/2015 (Lei de Mediação) em seu art. 32, e na Lei 13.460/2017, chamando
ainda a inteligência da Resolução 43/2017 do Tribunal de Justiça do Maranhão,
que prestigia a oportunidade da demonstração de uma pretensão resistida, ou
seja, que se aponte uma tentativa de solução do conflito antes da propositura da
demanda, até para que se ponha em atividade a máquina estatal de solução de
conflitos.
4. No caso dos autos, notou o Magistrado de base, acertadamente, não ter
havido sequer tentativa de resolução pré-processual com a utilização de meios
consensuais, ingressando a parte, diretamente, na esfera judiciária, tudo estando
a indicar sequer tivesse a parte posta no pólo passivo da demanda ciência do
problema a ser resolvido, a ensejar a carência do interesse de agir, pois, à
míngua de qualquer obstáculo imposto pela parte requerida, não se pode
compreender aperfeiçoada a lide, doutrinariamente conceituada como um conflito
de interesses qualificado por uma pretensão resistida, ou seja, o interesse de agir
(ou processual), conforme entende a doutrina brasileira, resta configurado
quando, com base nas afirmações autorais, in status assertionis, esteja presente
o binômio necessidade/adequação, para o autor, da tutela por ele pretendida, de
modo que se possa aquilatar a presença do interesse de agir, razão pela qual, ao
se verificar as alegações da parte requerente, devem ser feitas as seguintes
perguntas, partindo-se do princípio (hipotético e preliminar) de que as afirmações
autorais são verdadeiras: (a) somente através da providência solicitada ele
poderia satisfazer sua pretensão? e (b) Essa providência é adequada a
proporcionar tal satisfação?
5. No caso, por todo o narrado, forçoso reconhecer faltar interesse processual a
parte autora, por não demonstrada a necessidade da providência jurisdicional
(ausência de lide), ou seja, não tendo percebido demonstrado nos autos o
interesse processual, e a fim de oportunizar à parte o ajuste, determinou o juízo a
suspensão do processo por 30 dias, recomendando à parte o uso da plataforma
do Consumidor para solução do seu conflito, ao que, deixando ela transcorrer in
albis o prazo, forçoso reconhecer inexistente a lide, no sentido de pretensão
resistida, pois se ainda não existe resistência à pretensão deduzida pelo autor em
juízo, este é carecedor de ação, por falta de interesse processual, pois a
existência de litígio constitui conditio sine qua non do processo.
6. Longe de esvaziar a eficácia do direito fundamental à ação (direito
constitucional, público, e abstrato que é) e do princípio da inafastabilidade da
Jurisdição ("a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça
a direito"), exige-se olhos postos sobre o interesse de agir, configurado na
existência de uma pretensão resistida, para que o Órgão Julgador possa prestar
satisfatoriamente a tutela jurisdicional, não se estando aqui a chancelar recusa
em resolver a pretensão da parte, ao contrário, intimou-se a parte para
demonstrar pretensão resistida (lide) e determinou-se a suspensão do feito para
essa demonstração, apenas com a indicação da plataforma “consumidor.gov.br”,
e não a exigência impreterível da utilização da mesma, ou seja, a referida
plataforma não foi a causa da extinção do feito, mas a não comprovação da lide.
7. A questão que se coloca sob enfoque e discussão funda-se na exigência de
prévio requerimento administrativo, incluído ai a plataforma “consumidor.gov.br”,
para o ajuizamento da ação, e a exigência de um novo olhar sobre o conceito
jurídico do interesse processual, na medida em que não se pode ignorar o
estímulo que o CPC confere aos meios extrajudiciais de solução de conflitos (art.
3º, §3º), deixando de lado a ultrapassada e censurável cultura da litigância que
abarrota o Judiciário, razão pela qual deve-se buscar, sempre que possível,
soluções alternativas para a resolução dos conflitos instaurados, pondo de lado a
cultura da litigância e a lógica do vencedor/perdedor, na medida em que nem
todo conflito deva ou mereça ser judicializado, ou seja, deve-se repensar a teoria
de que sempre, em qualquer situação e sem qualquer critério, seja possível
ajuizar uma medida judicial, sem que antes se tenha intentado vias alternativas
de solução de disputas entre as partes, de modo que o judiciário efetivamente
seja a ultima ratio e a conciliação seja o primeiro degrau a ser pisado, o que trará
vantagens obvias para as partes e para todo o caro e custoso sistema de justiça.
8. Nessa linha, o E. STF no julgamento do Recurso Extraordinário 631.240, com
repercussão geral reconhecida, considerou que a exigência do prévio
requerimento administrativo em causas previdenciárias não fere a garantia de
livre acesso ao Judiciário, previsto no artigo 5º, inciso XXXV, da CF/88 e, do
mesmo modo, tem decidido o E. STJ, no sentido, nas ações de exibição de
documentos, de que a exigência de requerimento prévio junto à agência bancária
é indispensável para aquilatar o interesse processual/necessidade para a ação
principal e não viola o princípio do acesso à Justiça (STJ, Resp. 1.349.453-MS,
Rel. Min. Luis Felipe Salomão), entendimento que tem sido estendido para outros
tipos de demandas judiciais, como nas cobranças de seguro obrigatório (DPVAT)
junto à Seguradora Líder (Resolução CNSP 154/2006 e Portaria CNSP n°
2.797/07) e, mais recentemente, em pedidos direcionados às pessoas jurídicas
de direito público para fornecimento de medicamento de alto custo, ou seja, a
jurisprudência e a boa doutrina processual começam a caminhar para a releitura
do princípio do acesso à justiça, coibindo de modo racional o chamado “abuso no
direito de demandar”, até como necessidade de racionalização do acesso à
Justiça e de se reduzir o número de demandas derivadas de conflitos hipotéticos
(em que o adverso sequer tem conhecimento prévio da pretensão apresentada
em juízo), prestigiando mecanismos extrajudiciais de solução dos conflitos, sejam
os contenciosos administrativos nos casos de demandas contra o Poder Público,
os SACs (Serviços de Atendimento ao Consumidor) nas relações de consumo, ou
mesmo as ferramentas, especialmente virtuais, de recepção e atendimento a
reclamações, aliás, como faz o TJMA, que tem link da ferramenta/plataforma em
seu site institucional (http://www.tjma.jus.br/links/portal/cidadao) e encaminha
para a plataforma ( https://consumidor.gov.br/pages/principal/?1596712010125).
9. Há que se observar, todavia, que o entendimento da prévia demonstração do
interesse como condição do ajuizamento da ação e demonstração de tentativa de
resolução amigável não é e nem pode ser absoluta, devendo ser temperado pela
admissão de hipóteses excepcionais, em que o acesso à Justiça possa se dar de
modo direto, como nos casos em que: a) a resposta não se dê em tempo
razoável; b) os pedidos de consumidores, de ordinário, não sejam atendidos
pelos fornecedores cadastrados; e c) seja necessária tutela de urgência, situação
em que não será possível ao jurisdicionado aguardar eventual solução
extrajudicial, ou seja, salvo nos casos excepcionais, é lícito e razoável ao juiz
determinar ao autor que comprove ter utilizado previamente alguma forma de
pedido administrativo, aí incluída a plataforma “consumidor.gov.br (CPC, arts. 6º,
10 e 321), sob pena de indeferimento da inicial, por falta de interesse de agir, de
modo que apenas após a comprovação da resistência à pretensão e/ou eventual
insucesso na composição extrajudicial é que o juiz determinaria a citação do réu,
tal como procedeu o magistrado de base, razão pela qual, malgrado a
insurgência recursal e suas razões, se mantém a decisão vergastada em sua
integralidade.
10. Forte, portanto, no fortalecimento da política da resolução pre-processual e/ou
administrativa dos conflitos e na inteligência de que não se pode mais admitir que
demandas que podem e merecem ser resolvidas pela via consensual sejam
destinadas a ocupar a pauta do Judiciário de forma direta como esta em foco,
sem que antes tenha a parte comprovado ter intentado, por quaisquer dos meios
possíveis e existentes, a prévia resolução do litígio com demonstração de efetiva
resistência ao direito que alega ser titular, o que encontra fundamento na
Resolução 125/2010 do CNJ, cuja inteligência foi formatada da Resolução
43/2017 do TJMA, tudo conjugado com os arts. 4º, 6º e 18 do CDC, fortalecidos
pelas normas processuais vigentes, especialmente do art. 3º, 4º, 5º, 174 e §7º do
art. 334, todos do CPC e nas Leis 13.140/2015 (lei da mediação), Leis
13.655/2018 e 13.726/2018, uníssonas na inteligência de que não há
incompatibilidade entre a exigência de cumprimento de pressupostos à
propositura de uma demanda e o princípio do acesso à justiça ou da
inafastabilidade da prestação jurisdicional, o que tem recebido chancela da boa e
atualizada jurisprudência pátria, inclusive do TJMA, como no AI nº 0804411-
73.2018.8.10.0000, de Relatoria do Desembargador Ricardo Duailibe, que
autorizou a viailidade processual e jurídica da suspensão processual para
conciliação extrajudicial em homenagem aos mecanismos pré-processuais de
solução de conflitos.
11. Assim, não obstante as razões recursais, lidas e ponderadas à exaustão,
POR UNANIMIDADE, o presente recurso foi CONHECIDO, MAS NÃO
PROVIDO, ficando mantida a decisão de base em sua integralidade, aproveitada
aqui também como razão de decidir.
12. Condenação da parte Recorrente em custas e honorários advocatícios, estes
no percentual de 20% sobre o valor da causa, por conta do resultado do
julgamento, suspensa a exigência, pelo prazo legal, acaso lhe tenha sido
permitido litigar sob o palio da gratuidade da justiça.
13. Súmula de julgamento que serve de acórdão, nos termos do art. 46, parte
final, da Lei nº 9.099/95 e, em homenagem a celeridade e economia processual,
ratifica-se, de modo específico quanto a esta matéria, a competência regimental
do juiz relator para julgar monocraticamente recursos semelhantes, aplicando a
jurisprudência dominante do STJ e firmado nesta Turma Recursal.
2. OBJETO DO RECURSO
A sentença que extinguiu o processo, nos termos do art. 485, inciso VI do CPC,
posto que, a parte autora não demonstrou comprovante da pretensão resistida
(interesse processual), pelo uso da plataforma consumidor.gov, conforme
sugerido pelo juízo.
3. DA DELIMITAÇÃO DA CONTROVÉRSIA
Pontos incontroversos
As controvérsias existentes
Fundamentos fáticos da ação
Tese do Recorrente
Violação do art. 5º, XXXV, da CF – Princ. da Inafastabilidade do
Poder Judiciário.
Violação do art. 5º, da CF – Princ. do Contraditório e da Ampla
Defesa
Tese do Recorrido
Encontra-se nos item: 2
4. O ACÓRDÃO
Fundamentos jurídicos
Lei nº 13.460/2017.
Resolução nº 43/2017, do TJMA.
Considerações:
Os alunos devem dar ênfase ao estudo do direito material e procedimental em relação à análise crítica, posto que, o objeto de nosso estudo é a forma
pela qual os Tribunais decidiram o caso.
A análise jurisprudencial tem o objetivo de promover a interpretação jurídica das decisões emanadas pelos Tribunais Superiores, Tribunais de
Justiça dos Estados e Juizados Especiais Cíveis, e, inserir o aluno no contexto do caso judicial concreto cujo objetivo é desenvolver as suas
capacidades, crítica e intelectual, aplicando-se o aprendizado teórico em casos práticos.