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A redação da nova Lei de Licitações apresenta uma alteração na forma como as empresas
demonstram sua capacidade técnica operacional para obras e serviços de engenharia. O
artigo 67, II, da Lei 14.133/21 determina que as certidões ou atestados da empresa devem
ser emitidos pelo conselho profissional competente. Entretanto, o Conselho Regional de
Engenharia e Agronomia (Crea) ou o Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU), que são
os conselhos responsáveis pela engenharia e arquitetura, não costumavam emitir tais
certidões ou atestados para comprovar a capacidade técnica operacional.
O artigo 67, inciso II, da Lei nº 14.133, em conjunto com o disposto sobre a CAO na
Resolução nº 1.137, podem alterar de forma significativa a forma de comprovação da
habilitação técnica pelos participantes dos procedimentos licitatórios. Contudo ainda
pairam dúvidas como se interpretar o dispositivo da Lei 14.133 retromencionado quando se
trata de obras e serviços de engenharia, como se demonstrará a seguir.
Habilitação
As comprovações exigidas pela Administração Pública são cruciais para que o licitante
possa demonstrar de forma inequívoca que possui as condições necessárias para cumprir o
contrato a ser firmado com a Administração. Somente é possível demandar do licitante
aquilo que é verdadeiramente suficiente e necessário para executar o objeto do contrato em
questão.
Nesses casos, o próprio profissional que solicita a certidão pode assinar uma declaração
atestando a veracidade dos dados técnicos qualitativos e quantitativos do atestado. Essa
mudança já está em vigor.
No que tange a ART, a ART complementar foi eliminada, e agora a ART só é classificada
como inicial ou de substituição. No entanto, essa mudança ainda está sendo implementada,
pois o Crea tem 120 dias para adaptar sua infraestrutura tecnológica e sistema corporativo
aos novos procedimentos eletrônicos para registro de responsabilidade técnica.
O equívoco na vigência da Lei 8.666 eram os editais que exigiam que esse atestado fosse
emitido pelo Crea e CAU, documento que inexistia na prática juntos aos respectivos
conselhos profissionais. Em outras palavras, não era necessário que o atestado fosse
emitido pelo Crea ou CAU. Na verdade, o atestado era emitido por outras contratantes
(públicos ou privados) que tenham trabalhado com a empresa anteriormente. A certificação
junto ao Crea ou CAU é realizada para cruzar dados sobre os profissionais vinculados à
empresa no momento da execução do trabalho, a fim de garantir a veracidade do atestado.
À primeira vista ao se analisar o inciso II do artigo 67, nota-se que sua redação poderia ser
considerada defeituosa, uma vez que faz menção à emissão de documentos pelos conselhos
profissionais para atestar a capacidade operacional das empresas, algo que não era viável
até o momento.
Ademais, o §3º do artigo 67, traz em seu texto que, exceto nos casos de contratação de
obras e serviços de engenharia, a administração tem a opção de substituir as exigências
mencionadas nos incisos I e II do artigo, por outras provas que comprovem que o
profissional ou empresa possui conhecimento técnico e experiência prática na realização de
serviços semelhantes.
O Certificado de Acervo Técnico Operacional é o limite máximo que pode ser exigido,
portanto, é possível pedir requisitos inferiores a ele, como atestados emitidos pela empresa
e não certificados pelo Conselho competente, em substituição ao primeiro.
Reforça-se isso o prisma do formalismo moderado que permeia toda a redação da Nova Lei
de Licitações. Toma-se como exemplo, referente apenas a habilitação: a Lei 14.133
estabelece que a comissão de licitação pode corrigir erros ou falhas nos documentos de
habilitação que não afetem sua substância ou validade jurídica, desde que haja um
despacho fundamentado, registrado e acessível a todos, dando-lhes eficácia para fins de
habilitação e classificação (artigo 64, §1º). Além disso, a substituição ou apresentação de
novos documentos após a entrega dos documentos de habilitação só é permitida em casos
de diligência para complementação de informações ou atualização de documentos
expirados, desde que necessários para apurar fatos existentes à época da abertura do
certame (artigo 64, I e II). Os documentos de habilitação fiscal, social e trabalhista podem
ser substituídos ou supridos, no todo ou em parte, por outros meios hábeis a comprovar a
regularidade do licitante, inclusive por meio eletrônico (artigo 68, §1º). Por fim, a
documentação exigida pode ser apresentada em original, cópia ou por qualquer outro meio
expressamente admitido pela Administração (artigo 70, I).
Portanto, a leitura do inciso II do artigo 67 da Lei 14.133 passa ser da seguinte maneira: a
comprovação da capacidade técnico-operacional deve ser feita por meio de atestados
emitidos por pessoas jurídicas de direito público ou privado, que comprovem a aptidão para
desempenho de atividade compatível com o objeto da licitação, em características,
quantidades e prazos. Para essa comprovação, podem ser solicitadas as CATs ou
ARTs/RRTs emitidas pelo conselho de fiscalização profissional competente em nome dos
profissionais responsáveis técnicos pela obra ou serviço de engenharia ao qual o atestado
fizer referência. Ou ainda, a apresentação do CAO em substituição ao atestado emitidos por
pessoas jurídicas anteriormente contratadas.
O ideal é que conforme dispõe o artigo 67 da lei 14.133 é que a forma de comprovar a
capacidade seja o mais abrangente possível, possibilitando tanto os atestados emitidas por
pessoa jurídica de direito público ou privado acompanhados do CAT e ART como o novo
CAO. Qualquer limitação acerca dessa documentação necessita-se de justificação pela
Administração, da sua imprescindível necessidade frente as peculiaridades do objeto
pretendido.
[1] No mesmo sentido :TORRES, Ronny Charles Lopes de. Leis de Licitações públicas
comentadas – 12. ed. rev., ampl. E atual – São Paulo: Ed. Juspodivm, 2021. P. 944.