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Título : A EXIGÊNCIA DE ASSINATURA POR ENGENHEIRO NO ORÇAMENTO APRESENTADO PELO LICITANTE EM


LICITAÇÕES PARA OBRAS E SERVIÇOS DE ENGENHARIA
Autor : Equipe Zênite

OBRAS E SERVIÇOS DE ENGENHARIA - 272/253/MAR/2015

A EXIGÊNCIA DE ASSINATURA POR ENGENHEIRO NO ORÇAMENTO APRESENTADO PELO


LICITANTE EM LICITAÇÕES PARA OBRAS E SERVIÇOS DE ENGENHARIA

EQUIPE ZÊNITE

A equipe técnica é formada pelo corpo jurídico da Zênite.

INTRODUÇÃO

O presente artigo irá analisar a validade da exigência de que os orçamentos apresentados pelos
licitantes em certames de obras e serviços de engenharia sejam subscritos por engenheiro
devidamente registrado junto ao CREA.

Por meio de análise do regramento legal aplicável, bem como dos entendimentos do Tribunal de
Contas da União e do Superior Tribunal de Justiça, pretende-se traçar um panorama quanto à
legalidade da inclusão dessa exigência nos editais pela Administração Pública.

TRATAMENTO LEGAL DA MATÉRIA

A Lei nº 8.666/93, ao tratar, em seu art. 30, da documentação a ser exigida para fins de habilitação
técnica, prescreve no seu inc. IV: “prova de atendimento de requisitos previstos em lei especial,
quando for o caso”.

Verifica-se, em face desse comando legal, que os documentos a serem apresentados quando da
habilitação técnica são os que os incisos do art. 30 expressamente exigem e as demais condições
impostas por lei especial, quando pertinentes à contratação. A propósito, Marçal Justen Filho (2012, p.
530) assevera que: “quando o objeto do contrato envolver bens ou atividades disciplinados por
legislação específica, o instrumento convocatório deverá reportar-se expressamente às regras
correspondentes”.

No que tange à assinatura dos orçamentos estimativos constantes das propostas referentes a
obras e serviços de engenharia, dispõe a Lei nº 5.194/66, que regula o exercício das profissões de
engenheiro, arquiteto e engenheiro-agrônomo:

Art. 14 Nos trabalhos gráficos, especificações, orçamentos, pareceres, laudos e atos judiciais ou
administrativos, é obrigatória além da assinatura, precedida do nome da emprêsa, sociedade,
instituição ou firma a que interessarem, a menção explícita do título do profissional que os
subscrever e do número da carteira referida no Ed. extra 56.

Art. 15 São nulos de pleno direito os contratos referentes a qualquer ramo da engenharia, arquitetura
ou da agronomia, inclusive a elaboração de projeto, direção ou execução de obras, quando firmados
por entidade pública ou particular com pessoa física ou jurídica não legalmente habilitada a praticar a
atividade nos têrmos desta lei.

(...)

Art. 20 Os profissionais ou organizações de técnicos especializados que colaborarem numa parte


do projeto, deverão ser mencionados explicitamente como autores da parte que lhes tiver sido
confiada, tornando-se mister que todos os documentos, como plantas, desenhos, cálculos, pareceres,
relatórios, análises, normas, especificações e outros documentos relativos ao projeto, sejam por êles

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assinados.

Parágrafo único. A responsabilidade técnica pela ampliação, prosseguimento ou conclusão de


qualquer empreendimento de engenharia, arquitetura ou agronomia caberá ao profissional ou entidade
registrada que aceitar êsse encargo, sendo-lhe, também, atribuída a responsabilidade das obras,
devendo o Conselho Federal dotar resolução quanto às responsabilidades das partes já executadas ou
concluídas por outros profissionais. (Grifamos.)

A interpretação conjunta dos dispositivos acima autoriza concluir que a exigência de que os
orçamentos de obras e serviços de engenharia sejam assinados por engenheiro encontra fundamento
legal, mostrando-se, portanto, impositiva.

As previsões legais citadas encontram fundamento de validade no fato de que somente o


engenheiro, por ser profissional especializado, detém conhecimentos técnicos para avaliar quais itens
ou atividades serão necessários à execução de uma obra ou um serviço de engenharia e, por
conseguinte, quais os custos envolvidos.

Assim, não se mostra suficiente a apresentação, perante a Administração, de tais orçamentos


apenas subscritos pelo representante legal da empresa licitante.

Afirma-se, ainda, que o engenheiro que subscreve os orçamentos poderá ou não ser o
responsável técnico indicado pela licitante, não havendo obrigatoriedade legal nesse sentido. O que
importa é que as propostas (orçamentos) sejam elaboradas por profissionais competentes, na forma
da Lei: engenheiros ou arquitetos, conforme o caso.

Em síntese, a partir da análise da legislação pertinente, a proposta com orçamentos para a


prestação de serviço ou realização de obra de engenharia apresentada pelo licitante perante a
Administração deve ser assinada por engenheiro, sob pena de nulidade.

Não obstante isso, é válido destacar a existência de precedentes no sentido de que a falta de
assinatura do engenheiro na proposta deve ser considerada uma falha formal.

ENTENDIMENTO DA JURISPRUDÊNCIA – IRREGULARIDADE FORMAL

Sobre o tema, oportuno destacar precedente do Tribunal de Contas da União que entendeu
restritiva a exigência de assinatura dos orçamentos constantes da proposta por responsável técnico,
considerando também indevida a desclassificação de proposta pela ausência de assinatura do
engenheiro:

Acórdão nº 2.872/2010 – Plenário

[Relatório]

Entretanto, faltava a assinatura dos responsáveis técnicos pela elaboração da planilha orçamentária,
em descumprimento ao item 7.7 do edital de Concorrência nº 09/2009:

'7.7. No orçamento em planilha de quantitativos, unidades, preços unitários, parciais e totais da obra,
alínea 'a' do subitem 7.5, deverá constar, obrigatoriamente a assinatura do técnico detentor dos
atestados referido na alínea 'f', do subitem 6.2 deste Edital, precedida do nome da empresa a que
interessarem, a menção explícita de seu título e o número de sua carteira profissional expedida pelo
CREA.'

(...)

Em primeiro lugar, não fica claro o propósito de se exigir a assinatura do engenheiro na planilha
orçamentária, responsabilizando-se pelos preços propostos pela empresa, uma vez que os
preços ofertados têm natureza comercial. Diferentemente é o preço de referência da Administração,
que deve ser atestado pelo engenheiro responsável pela elaboração do orçamento-base.

A regra do art. 14 da Lei nº 5.194/1966 tem aplicabilidade para a elaboração do orçamento em si,
de responsabilidade da Administração. É ele (o orçamento-base) que demanda conhecimento
técnico. Afinal, resulta do levantamento dos serviços que serão condizentes com a execução do objeto

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contratado, em conformidade com o projeto básico que o subsidia. Assim, o engenheiro técnico
responsabiliza-se pelos serviços escolhidos, custos e quantidades que formam a planilha
orçamentária.

(...)

[Voto]

9. Também foram verificadas irregularidades no procedimento licitatório que culminou com a seleção
da empresa responsável pela construção da agência.

10. Algumas licitantes foram desclassificadas em decorrência de falhas meramente formais, que
poderiam ter sido sanadas durante o processo licitatório, a exemplo da falta de assinatura do
responsável técnico nas planilhas orçamentárias. Nesse caso, a ação equivocada por parte do
INSS decorreu de parecer da procuradoria da autarquia, que defendeu a exclusão das licitantes que
não tivessem cumprido a exigência, retirando da competição empresas que ofertaram preços inferiores
aos da proposta vencedora. O fato deve ser objeto de alerta à autarquia, evitando-se, assim, que
venha a se repetir futuramente.

[Acórdão]

9.4. alertar o INSS e sua procuradoria quanto às irregularidades consubstanciadas na desclassificação


de licitantes por aspectos meramente formais (item 7.7 do Edital de Concorrência nº 09/2009), em
descumprimento ao princípio legal que preconiza a escolha da proposta mais vantajosa na licitação,
devendo ser suprimidas dos editais das próximas licitações no âmbito do PEX cláusulas que restrinjam
o caráter competitivo do certame ou que prejudiquem a obtenção de melhores preços;. (Grifamos.)

De acordo com o entendimento adotado pelo TCU, a exigência de assinatura do orçamento por
engenheiro, emergente da Lei nº 5.194/66, dirige-se à Administração contratante, e não ao particular,
posicionamento que se assenta na premissa de que enquanto o orçamento elaborado pela
Administração demanda conhecimentos técnicos, servindo de baliza para a contratação, o orçamento
apresentado pelo particular é elaborado de acordo com condições de mercado.

Na mesma linha, parece ser o entendimento adotado pela AGU, conforme notícia extraída do site
do referido órgão:

A Advocacia-Geral da União (AGU) assegurou, na Justiça, a celebração de contrato para construção


do edifício de engenharia mecânica em campus da Universidade Federal de Goiás (UFG). Os
procuradores federais conseguiram reverter decisão de primeira instância que suspendeu o processo
administrativo de licitação e contratação da obra.

Inicialmente, a 6ª Vara Federal de Goiás deferiu liminar entendendo que a proposta vencedora da
empresa Cabeceira Construtora e Incorporadora Ltda., assinada apenas pelo seu sócio-proprietário,
não seria válida. Segundo o juízo, a Lei nº 5.194/1966, que regula o exercício das profissões de
engenheiro, arquiteto, e engenheiro agrônomo, exigiria a assinatura e número do registro profissional
do responsável técnico credenciado perante o Conselho que autoriza o exercício das profissões
(Crea), requisito que deveria ser observado pela UFG, mesmo sem previsão no edital de licitação.

No recurso, os procuradores federais alegaram que a Lei nº 5.194/66 não torna obrigatória a
assinatura do engenheiro na planilha orçamentária para fins de participação em licitações,
quando a empresa deve responsabilizar-se pelos preços propostos, que têm caráter comercial
ou mercantil, diferente do valor de referência da Administração, que deve ser atestado pelo
engenheiro encarregado da elaboração do orçamento-base, que demanda conhecimento
técnico.

Segundo a AGU, o Tribunal de Contas da União tem entendimento de que “aspectos meramente
formais como a ausência de assinatura do engenheiro não devem ser motivos para desclassificação
das licitantes”. Dessa forma, não acarreta qualquer prejuízo à proposta da empresa, que se trata
apenas da valoração da obra, do quanto a empresa pretende cobrar para a prestação dos seus
serviços, sendo que em nada acrescentaria a posição da assinatura do engenheiro.

Além disso, os procuradores defenderam que a vencedora da licitação não descumpriu o edital, que
não fazia qualquer exigência de que seria necessária a assinatura do profissional técnico credenciado
perante o Crea na planilha orçamentária. Destacaram que deveria ser permitido que a UFG pudesse
dar continuidade ao certame com a contratação da empresa, em observância aos princípios da

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vinculação ao instrumento convocatório e da busca da proposta mais vantajosa para a Administração.

O Tribunal Regional Federal da 1ª Região concordou com a defesa da AGU e suspendeu a liminar da
primeira instância. A decisão reconheceu que a desclassificação da vencedora pela simples
ausência da assinatura do responsável técnico na planilha orçamentária “afigura-se excesso de
rigor formal”, além de patente o risco de lesão aos interesses da UFG, diante da
impossibilidade de concluir a licitação e executar a obra dentro do cronograma.

Atuaram no caso a Procuradoria Federal em Goiás e a Procuradoria Federal junto à UFG, que são
unidades da Procuradoria-Geral Federal, órgão da AGU.

Ref.: Agravo de Instrumento nº 27279-39.2013.4.01.0000/GO - TRF1. (Grifamos). 1

O Superior Tribunal de Justiça também afastou o rigor formal da exigência em comento, conforme
o julgamento do Recurso Ordinário em Mandado de Segurança nº 18254/RS:

ADMINISTRATIVO. RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. RUBRICA DE


PERITO EM LAUDO TÉCNICO. SUPRIMENTO DOS EFEITOS DA ASSINATURA. INEXISTÊNCIA DE
IRREGULARIDADE LEGAL. PREVALÊNCIA DA SUBSTÂNCIA DO ATO EM DETRIMENTO DA
FORMA. NÃO OCORRÊNCIA DE LESÃO AOS PRINCÍPIOS DE LEGALIDADE, MORALIDADE,
PUBLICIDADE E TRANSPARÊNCIAS DOS ATOS PÚBLICOS. RECURSO ORDINÁRIO
DESPROVIDO.

1. Mandado de segurança com pedido de liminar impetrado por Encop Engenharia Ltda. contra ato do
Secretário da Administração e dos Recursos Humanos do Governo do Estado do Rio Grande do Sul.
Aduz a impetrante que foi declarada vencedora da licitação, em razão de ter a SD Consultoria e
Engenharia Ltda. apresentado orçamento e cronograma financeiro sem a assinatura do responsável
técnico legalmente habilitado. Posteriormente, retificando-se o ato de desclassificação a SD
Consultoria foi declarada vencedora. Informações da autoridade coatora relatando que seria rigor
formal excessivo a manutenção da desclassificação de licitante pela troca de assinatura por rubrica.
Contestação da SD Engenharia, defendendo a validade da rubrica aposta no documento, posto que a
desclassificação por tal motivo resultaria no prosseguimento de apenas uma licitante, a impetrante,
significando prejuízo muito maior ao objetivo da licitação, que é a obtenção da condição mais
vantajosa ao erário. Acórdão do TJRS denegando a segurança, por entender que o orçamento e o
cronograma financeiro não sofrem qualquer questionamento quanto a sua fidedignidade, ferindo o
objetivo do certame a desclassificação de licitante por mera aposição de rubrica no lugar de
assinatura. Recurso ordinário da Encop Engenharia, sustentando que as rubricas do responsável
técnico não foram reconhecidas em cartório, que o processo licitatório deve obedecer à forma estreita
e rigorosa traçada pelo edital e que a Lei Federal nº 5.194/66, que regula o exercício das profissões de
engenheiro, arquiteto e engenheiro-agrônomo, prevê a assinatura e o número do registro do
profissional, nos orçamentos que este apresentar. Contra-razões do Estado do Rio Grande do Sul e da
SD Consultoria pugnando pelo improvimento do recurso. Pareceres do Ministérios Públicos Estadual e
Federal pelo improvimento do recurso ordinário.

2. Mera particularidade formal na composição de documento, sequer classificada como


irregularidade, não possui o condão de prejudicar os pressupostos de legalidade do ato
administrativo praticado, dentre os quais cite-se a impessoalidade, moralidade, publicidade e
transparência.

3. Na espécie, restou sobejamente evidenciado que a aposição de rubrica e não de assinatura do


perito, no trabalho técnico produzido, não resultou em qualquer irregularidade no certame
licitatório, posto que ausente qualquer mácula nos procedimentos substanciais praticado pela
Administração Pública.

4. Recurso ordinário em mandado de segurança desprovido. (STJ, ROMS nº 18254/RS Rel. Min. José
Delgado, j. em 19.05.2005.) (Grifamos.)

De acordo com o entendimento do STJ no Mandado de Segurança nº 18254/RS, a ausência de


assinatura por engenheiro deve ser considerada falha meramente formal.

Diante dos precedentes citados, tanto o TCU quanto o STJ têm posicionamento mais flexível
quanto à necessidade de assinatura de engenheiro na proposta de orçamento, podendo tal omissão
ser considerada mera falha formal. E a falha, quando meramente formal, não enseja a desclassificação
da proposta, como decidiu o STF:

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Licitação: irregularidade formal na proposta vencedora que, por sua irrelevância, não gera nulidade.
(...) Verifica-se, pois, que o vício reconhecidamente praticado pela ora recorrida, embora reflita
desobediência ao edital, consubstancia tão-somente irregularidade formal, incapaz de conduzir à
desclassificação de sua proposta. Desta forma, se a irregularidade praticada pela licitante vencedora a
ela não trouxe vantagem, nem implicou desvantagem para as demais participantes, não resultando
assim em ofensa à igualdade; se o vício apontado não interfere no julgamento objetivo da proposta, e
se não se vislumbra ofensa aos demais princípios exigíveis na atuação da Administração Pública,
correta é a adjudicação do objeto da licitação à licitante que ofereceu a proposta mais vantajosa, em
prestígio do interesse público, escopo da atividade administrativa. (STF, ROMS nº 23.714-1/DF, Rel.
Min. Sepúlveda Pertence, j. em 05.09.2000.)

Assim, ao se considerar a ausência de assinatura de engenheiro na proposta de orçamento


somente uma irregularidade formal, na linha do entendimento adotado pelo TCU e pelo STJ, é cabível
facultar ao licitante o saneamento da irregularidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do exposto, conclui-se que, à luz da legislação do CREA, os editais de licitação para
contratação de obras e serviços de engenharia devem exigir que os orçamentos constantes das
propostas dos licitantes sejam assinados por profissional competente, na forma da Lei nº 5.194/66, o
qual poderá ou não ser o responsável técnico indicado pela proponente.

Entretanto, no caso de ausência de assinatura do engenheiro na proposta de orçamento, o


entendimento da jurisprudência caminha no sentido de considerar tal omissão como falha meramente
formal, passível, portanto, de saneamento.

Dentro desse contexto, a despeito da obrigatoriedade que se impõe à Administração de fazer


constar em seus editais a exigência de assinatura de engenheiro nas propostas de orçamentos, em
caso de omissão, poderá a Administração facultar ao licitante sanear a falha detectada.

REFERÊNCIA

JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à lei de licitações e contratos administrativos. 15. ed. São Paulo:
Dialética, 2012.

Como citar este texto:


Equipe Zênite. A exigência de assinatura por engenheiro no orçamento apresentado pelo licitante em
licitações para obras e serviços de engenharia. Revista Zênite – Informativo de Licitações e Contratos
(ILC), Curitiba: Zênite, n. 253, p. 272-276, mar. 2015.

1Disponível em: <http://www.agu.gov.br/page/content/detail/id_conteudo/246405>. Acesso em: 26 jan.


2015.

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