Você está na página 1de 9

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL RELATOR DA TURMA RECURSAL

DO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 1ª REGIÃO

Processo nº 1031375-65.2022.4.01.0000
RECORRENTE-AGRAVADO: RITA MOREIRA MAIA
RECORRIDA-AGRAVANTE: CAIXA ECONOMICA FEDERAL - CEF

CAIXA ECONÔMICA FEDERAL - CEF, já devidamente qualificada


nos autos do processo em epígrafe, neste ato representada pelo advogado ora
subscritor, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, em face da r.
decisão monocrática de 2º grau, interpor AGRAVO INTERNO com fundamento
no artigo 1.021 do Código de Processo Civil, pelas razões de fato e de direito a
seguir expostas.

A r. decisão agravada teve o seguinte dispositivo:

“Pelo exposto, dou provimento ao Agravo de


Instrumento interposto para reconhecer a
legitimidade da Caixa Econômica Federal para
figurar no pólo passivo da demanda e determinar o
regular processamento do feito pelo Juízo da 4ª
Vara Federal da Seção Judiciária do Distrito
Federal.”

Com efeito, há alguns equívocos na r. decisão agravada, como


se verificará a seguir, e que merecem a devida reforma.

QUESTÕES PRELIMINARES

1. DA NECESSIDADE DE CONCESSÃO DE EFEITO SUSPENSIVO

Indispensável à garantia do resultado do presente recurso lhe


1

Rua Boaventura da Silva, 1338, Bairro Umarizal, CEP 66.060-060, Belém/PA.


Fone/fax: (91) 3222-4153. e-mail: reisbrandaoadv@gmail.com
seja deferido IMEDIATO efeito suspensivo. A relevância da fundamentação
surge manifesta do confronto da decisão recorrida com as razões a seguir
expostas.
É cediço que as liminares são deferidas “com base no juízo de
probabilidade de que a afirmação provada não será demonstrada em
contrário pelo réu” (Marinoni, Luiz Guilherme, in A Antecipação de Tutela, 8ª ed.,
Malheiros, 2004, p.34).

Assim, resta manifesto a irregularidade da concessão da


medida, uma vez que, para além da não demonstração da probabilidade do
direito, se trata de tutela com EFEITO SATISFATIVO, que esgotaria no todo o
objeto da ação, tendo em vista que anteciparia não somente as efeitos da
sentença, mas a resultado da própria prestação jurisdicional.

Os perigo ao resultado útil do processo está, ao contratário do


que o Autor, ora agravante, tentou mostrar, na concessão da medida ao
arrepio da legislação vigente sobre o tema, tornando seus efeitos danosos e
desprestigiantes da normatização criada pelo órgão da administração
competente.

Destarte, indispensável à garantia do resultado do presente


recurso lhe seja deferido o efeito suspensivo, o que desde já se requer.

2. DAS RAZÕES PARA REFORMA DA R. DECISÃO RECORRIDA

No caso em exame, deve ser reformada a r. decisão agravada


que deferiu a tutela de urgência, pelas razões que se passa a expor.

2.1 DA ILEGITIMIDADE PASSIVA DA CAIXA

Impende esclarecer que, no âmbito do PMCMV-faixa I, não há


contratação de seguro específico para DFI e MIP (nem mesmo FGHAb), a

Rua Boaventura da Silva, 1338, Bairro Umarizal, CEP 66.060-060, Belém/PA.


Fone/fax: (91) 3222-4153. e-mail: reisbrandaoadv@gmail.com
exemplo do que ocorre nos contratos tipicamente de mercado, dentre os quais
se incluem PMCMV-faixa 1,5, 2 e 3. E, apesar de o próprio Fundo responsabilizar-
se, contratualmente, pela cobertura de alguns danos físicos no imóvel, não
subsiste previsão contratual para hipóteses decorrentes de vícios de construção,
cabendo à construtora a integral responsabilidade pela construção do
empreendimento.
No mesmo contrato, no Parágrafo Terceiro consta que: “A
responsabilidade técnica para execução dos contratos de construção do
empreendimento não é passível de subcontratação sendo sempre da
CONSTRUTORA contratada pela CEF e de seus responsáveis técnicos, a qual
inclui as seguintes ações:
- inerentes das atribuições profissionais de engenheiro civil ou
arquiteto e que possibilitem a condução, supervisão e
coordenação de todos os projetos e obras necessários para a
boa execução do objeto contratado;
- relativas ao controle tecnológico e de qualidade;
- a condução, acompanhamento e fiscalização de obras e
serviços;
- a fiscalização e acompanhamento dos serviços e obras
subcontratadas;
- a interlocução técnica com o poder público, os contratantes e
fornecedores contratados.”.
A Cláusula Quinta - Relatório de Andamento de Obras e
parágrafos dispõe que:
“A CONSTRUTORA obriga-se a apresentar, mensalmente, Planilha
de Levantamento de Serviços, conforme modelo disponibilizado
pela CEF, como forma de subsidiar o acompanhamento técnico
das obras.
Parágrafo Primeiro - Para acompanhar a execução das obras, a
CEF designará um profissional engenheiro/arquiteto, a quem
caberá vistoriar e proceder à mensuração das etapas
efetivamente executadas, para fins de pagamento das

Rua Boaventura da Silva, 1338, Bairro Umarizal, CEP 66.060-060, Belém/PA.


Fone/fax: (91) 3222-4153. e-mail: reisbrandaoadv@gmail.com
parcelas, até a emissão do laudo final, expedição do “habitese”
e averbação das construções perante o Registro Imobiliário
correspondente.
Parágrafo Segundo - Fica entendido que a vistoria será feita
exclusivamente para para efeito de liberação da parcela de
pagamento, sem qualquer responsabilidade da CEF ou do
profissional por ela designado para as vistorias e mensurações
das obras, pela construção, segurança, solidez e término da
obra.”.
Na Cláusula Sétima - Das Obrigações da Construtora: “Em
decorrência do presente ajuste a CONSTRUTORA, sem prejuízo
dos encargos previsto neste instrumento, se obriga a:
d) executar as obras mencionadas de acordo como o projeto
apresentado, parte integrante do presente contrato;
e) responder pela segurança e solidez da construção, bem
como pelos requisitos técnicos indispensáveis ao bom
andamento das obras;
f) responder de maneira plena, absoluta, exclusiva e inescusável,
pela direção das obras e pelo seu perfeito cumprimento,
promovendo às suas expensas as substituições ou reforma que se
fizerem necessárias;
g) sem prejuízo das obrigações impostas pela legislação cível,
atender prontamente quaisquer reclamações da CEF,
decorrentes de vícios de construção devidamente
comprovados, sob pena de, sem prejuízo de outras sanções
contratuais, penais, civis e administrativas, ser considerada
inidônea para firmar novos contratos com a CEF;
A Construtora DIRECIONAL ENGENHARIA LTDA assumiu também
perante o CREA – Conselho Regional de Engenharia e Agronomia a
responsabilidade técnica pela elaboração de todos os projetos e execução
das obras, conforme respectivas ART – Anotação de Responsabilidade Técnica
subscrita por profissionais de engenharia contratados pela Construtora.
O art. 618 do Código Civil, Lei 10.406/2002, dispõe que “nos
4

Rua Boaventura da Silva, 1338, Bairro Umarizal, CEP 66.060-060, Belém/PA.


Fone/fax: (91) 3222-4153. e-mail: reisbrandaoadv@gmail.com
contratos de empreitada de edifícios ou outras construções consideráveis, o
empreiteiro de materiais e execução responderá, durante o prazo irredutível de
cinco anos, pela solidez e segurança do trabalho, assim em razão dos materiais,
como do solo”.
A Lei 11.977/2009, alterada pela Lei 12.424/2011, em seu art. 9º,
dispõe (com grifos nossos) que: “A gestão operacional dos recursos destinados
à concessão da subvenção do PNHU de que trata o inciso I do art. 2º desta Lei
será efetuada pela Caixa Econômica Federal - CEF”.
Portanto não cabe à CAIXA a gestão técnica das construções,
mas tão somente o que está determinado no referido diploma legal, a gestão
operacional dos recursos financeiros, e para assim fazê-lo, procede vistorias
mensais aos empreendimentos, durante a execução das obras, por profissionais
de engenharia e arquitetura, para mensurarem os serviços executados,
verificando se os mesmos foram executados de acordo com o projeto
aprovado de arquitetura e de acordo com as especificações de acabamento
contratada com a Construtora.
Ante ao aqui exposto, cai por terra a alegação de que “As Leis
n. 11.977/09 e 12.424/2011, que regulamentam o Programa Minha Casa Minha
Vida (PMCMV), deixam claro a responsabilidade da empresa pública pela
execução, garantia e entrega dos empreendimentos imobiliários”, como
também não encontra nenhum respaldo a alegação que “Como agente
operadora do referido programa governamental, incumbe a CEF a fiscalização
da obra ...”, pois aqui se confunde, de forma pueril, o conceito de mensurar
mensalmente uma obra para fins de liberação de recursos financeiros, com a
sua efetiva fiscalização, querendo imputar à CAIXA uma responsabilidade que
não encontra arrimo na legislação, conforme acima demonstrado, pois a
responsabilidade técnica pela execução das obras, por óbvio, é de quem as
executa e de quem assume tal responsabilidade perante os órgãos da
administração pública, Prefeitura Municipal e CREA.
Nesse sentido, o TRF5 já reconheceu a ilegitimidade da CAIXA

Rua Boaventura da Silva, 1338, Bairro Umarizal, CEP 66.060-060, Belém/PA.


Fone/fax: (91) 3222-4153. e-mail: reisbrandaoadv@gmail.com
(FAR), no âmbito do PMCMV-faixa1 (recursos FAR):
Processual Civil e Administrativo. Agravo de instrumento
movimentado contra decisão, proferida em sede de ação
ordinária, que não acolheu as alegações de ilegitimidade
passiva da Caixa Econômica Federal, de inépcia da inicial, de
prescrição da pretensão e da decadência do direito
perseguido, determinando, ainda, que os honorários periciais
devem ser divididos entre a aludida instituição bancária e a
empresa Método Incorporações.
1. No caso dos autos, os autores, ora agravados, alegam que o
imóvel adquirido pelo Fundo de Arrendamento Residencial [FAR]
apresentou, após a entrega, uma série de problemas estruturais
(rachaduras, infiltrações, defeitos no acabamento, etc.).
2. O FAR foi criado pela Caixa Econômica Federal, por
determinação constante no caput, do art. 2º, da Lei 10.188, de
12 de fevereiro de 2001, assumindo a instituição bancária o
papel de arrendadora no programa do Governo Federal para
habitação popular, com opção de compra do imóvel, ao final
do contrato.
3. De acordo com os documentos acostados, os contratantes,
ora agravados, adquiriram um imóvel residencial, através do
Contrato por instrumento particular de venda e compra direta
de imóvel residencial com parcelamento e alienação fiduciária
no Programa Minha Casa Minha Vida - PMCMV - Recursos FAR,
no qual figura como vendedor/credor o Fundo de
Arrendamento Residencial [FAR], representado no ato pela
Caixa Econômica Federal, figurando a instituição bancária, no
dito contrato, também como anuente, na condição de
proprietária fiduciária.
3. A responsabilidade da Caixa Econômica Federal, como
representante do FAR, está prevista no parágrafo primeiro, da
cláusula décima oitava, do aludido instrumento contratual,
durante a vigência do contrato, restringindo-se ao danos físicos

Rua Boaventura da Silva, 1338, Bairro Umarizal, CEP 66.060-060, Belém/PA.


Fone/fax: (91) 3222-4153. e-mail: reisbrandaoadv@gmail.com
no imóvel decorrentes de: I - Incêndio ou explosão; II -
Inundação e alagamentos ocorridos quando um rio ou canal
transbordar e a água atingir o imóvel ou alagamentos causados
por agentes externos ao imóvel, tais como: chuva ou ruptura de
canalizações não pertencentes ao imóvel segurado; III -
Desmoronamento total, desde que causado por forças ou
agentes externos; IV - Desmoronamento parcial, assim entendida
a destruição ou desabamento de paredes, vigas, ou outro
elemento estrutural, desde que causado por forças ou
agentes externos e, V - Reposição de telhados, em caso de
prejuízos causados por ventos fortes ou granizos.
4. Verifica-se que a responsabilidade contratual do FAR, e da
Caixa Econômica Federal, limita-se aos danos causados por
agentes externos, o que não é o caso dos autos, uma vez que os
autores/agravados indicam na inicial a existência de vícios de
construção.
5. No mesmo contrato, em sua cláusula vigésima, é possível
observar que a responsabilidade por danos físicos no imóvel,
decorrentes de vícios de construção, são das empresas
responsáveis pela construção do imóvel.
6. Preliminar de ilegitimidade passiva da Caixa Econômica
Federal acolhida, diante da inexistência de responsabilidade
contratual da agravante pelos danos existentes [vícios de
construção].
7. Provimento ao agravo de instrumento, para reconhecer a
ilegitimidade da Caixa Econômica Federal, e à míngua de outro
ente federal na lide, declarar a incompetência do juízo federal.
(TRF5, PROCESSO: 08001599820184050000, AG - Agravo de
Instrumento - DESEMBARGADOR FEDERAL VLADIMIR CARVALHO,
2ª Turma, JULGAMENTO: 16/08/2018)

Considerando-se que, no contrato firmado entre o beneficiário


e o Fundo, não há previsão de cobertura pelo Fundo de danos oriundos de

Rua Boaventura da Silva, 1338, Bairro Umarizal, CEP 66.060-060, Belém/PA.


Fone/fax: (91) 3222-4153. e-mail: reisbrandaoadv@gmail.com
vícios de construção e que, pelas disposições contratuais e legais (art. 618 CC),
é a Construtora que tem a responsabilidade pelo implemento da obra, bem
como pelo atendimento dos requisitos técnicos à sua efetivação, certo é que
esta deve integrar a lide, para responder por estes danos.
Com efeito, no contrato, há cláusula expressa quanto as suas
obrigações em relação aos vícios de construção devidamente comprovados.
Assim, cabe a Construtora a responsabilidade pela solidez do
imóvel e não desta empresa pública, quer na qualidade de agente operador
ou gestor do PMCMV. Portanto, certo é que deve ser reconhecido o
litisconsórcio passivo necessário da Construtora e do respectivo responsável
técnico, cognoscível de ofício, por se tratar de matéria de ordem pública.
Torna-se premente, pois, a integração destes à lide ab initio, nos moldes do que
dispõe o art. 114 do CPC.
Diante disto, a CAIXA (FAR) pugna pelo não conhecimento do
presente agravo e que se mantenha, na integralidade, a decisão proferida pelo
juízo a quo, estando essa, acertadamente, em consonância com a legislação
vigente, com jurisprudência dominante pelo tema e nos moldes das previsões
contratuais firmadas.

3. DO(S) REQUERIMENTO(S)

Ante o exposto, requer esta Empresa Pública seja conhecido e


provido o presente AGRAVO INTERNO, reformando-se a r. decisão recorrida
para declarar a ilegimidade da CAIXA para figurar no polo passivo.

Termos em que,
pede deferimento.

Brasília/DF, 2 de junho de 2023.

Rua Boaventura da Silva, 1338, Bairro Umarizal, CEP 66.060-060, Belém/PA.


Fone/fax: (91) 3222-4153. e-mail: reisbrandaoadv@gmail.com
FABRÍCIO DOS REIS BRANDAO
OAB/PA 11.471
OAB/DF 56.450

Rua Boaventura da Silva, 1338, Bairro Umarizal, CEP 66.060-060, Belém/PA.


Fone/fax: (91) 3222-4153. e-mail: reisbrandaoadv@gmail.com

Você também pode gostar