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1. Da Comissão
A COMISSÃO ESPECIAL DE INQUÉRITO, instituída pelo Ato de
Nomeação nº. 01 de 24 de março de 2020, na pessoa dos vereadores Jorge Luiz
Ribeiro, Diego José da Silva e Marcelo Cássio de Paula vêm, a presença de
Vossa Excelência, apresentar RELATÓRIO FINAL, nos termos que segue:
A presente Comissão Especial de Inquérito fora instaurada nos termos do
Art. 61 do Regimento Interno, para investigar supostas irregularidades no
procedimento licitatório, contratação e prestação de serviços do Transporte
Escolar do município de Lagoinha.
A CEI reuniu um conjunto robusto de documentos, além de depoimentos
de testemunhas que evidenciaram as irregularidades cometidas, desde o
processo licitatório até os pagamentos feitos para a empresa contratada para o
serviço, conforme restou demonstrado no Parecer desta Comissão, lido em
sessão ordinária em 08 de junho de 2020 e posteriormente apreciado e aprovado
pelo Plenário, por 6 votos favoráveis e 2 contrários, em sessão ordinária
realizada no dia 22 de junho de 2020.
A partir da aprovação da denúncia pelo Plenário, foi aberto prazo de 10
(dez) dias para que o denunciado, o Sr. Prefeito Tiago Magno de Oliveira,
apresentasse sua defesa prévia nos termos do Regimento Interno da Câmara.
Tendo sido o mesmo devidamente notificado, apresentou tempestivamente em
03 de julho de 2020 a sua defesa prévia, devidamente analisada por esta
Comissão conforme segue.
2. Da análise da defesa
2.1 Das questões preliminares
O denunciado, ao início de sua peça de defesa, impugna as acusações
apresentadas e amplamente investigadas pela Comissão, questiona ainda a
forma de notificação e os autos do relatório, requerendo a declaração de
nulidade dos atos.
As questões preliminarmente trazidas pelo denunciado são afastadas de
plano, bem como a pretensão requerida de declarar a nulidade dos atos,
considerando que os documentos que orientaram a denúncia são todos
documentos oficiais fornecidos pela própria administração municipal, os
procedimentos observaram o previsto no Art. 61 do Regimento Interno, com
ampla transparência e com a aprovação de maioria absoluta do plenário.
2.2 Do mérito
2.2.1. Da homologação por elevado valor
O Sr. Prefeito Tiago Magno de Oliveira, traz em sua defesa prévia um
histórico com valores praticados em contratos emergenciais anteriores e é este
o ponto de partida de sua defesa para justificar o valor homologado na licitação
investigada por essa comissão.
Não prospera qualquer tentativa de se apoiar nesses dados para justificar
a homologação, tendo em vista que o ponto central da denúncia nesse aspecto
é a disparidade do valor homologado na licitação em relação ao valor estimado
no próprio edital do certame.
Os valores estimados constantes do edital se mostraram plenamente
praticáveis e condizentes com a realidade de mercado, portanto, o valor da
proposta homologada indiscutivelmente se mostrou elevado, inclusive tendo sido
comparado à licitação realizada no município de São Luiz do Paraitinga, em
situações bastante similares.
O procedimento licitatório deve ser regido e vinculado exclusivamente ao
seu instrumento convocatório e é baseado nessa prerrogativa que a Comissão
constatou a irregularidade referente à homologação no valor em questão. A
homologação em valor 33% superior ao estimado implicou em prejuízo ao erário,
conforme amplamente demonstrado no relatório da denúncia.
A defesa avança para o parecer jurídico do processo licitatório, sugerindo
uma nova interpretação do documento e indicando que o Prefeito tomou sua
decisão alinhado com o que recomendara o parecer.
Não prospera tal tentativa do Chefe do Poder Executivo de alinhar sua
decisão de homologar o pregão em valor elevado com o parecer técnico exarado
pelo procurador municipal, conforme restou demonstrado no cuidadoso
desdobramento feito por esta Comissão ainda no relatório de denúncia, ficando
evidente que a homologação do pregão contrariou os termos e fundamentos do
parecer técnico exarado pelo setor jurídico da Prefeitura e em sua defesa o
Prefeito Tiago Magno de Oliveira não traz nenhum elemento capaz de modificar
o entendimento já firmado, apenas reforça a tese já balizada por esta Comissão.
2.2.2 Da assinatura do contrato sem cumprimento das exigências
Em sua defesa prévia, o denunciado alega não existir nenhuma
irregularidade quanto ao cumprimento das exigências de documentação para a
assinatura do contrato. Tal alegação não é minimamente capaz de se sustentar,
considerando a completa análise feita por esta Comissão e que demonstrou um
conjunto de irregularidades, tais como: documentos em desacordo com o
estabelecido, não exigência de documentos obrigatórios, documentos de
autenticidade e validade duvidosas, dentre outros.
O relatório apresentado por esta Comissão já analisou cuidadosamente
esses itens e o Prefeito em sua defesa não traz nenhum elemento capaz de dar
nova interpretação ou, em última medida, justificar a não observância dos
requisitos para a assinatura.
Apela, ainda, o denunciado de que não caberia à administração municipal
garantir a autenticidade dos documentos, orientada pelo princípio da boa-fé e de
que caberia à esta comissão provar a falsidade dos documentos. É inaceitável
que a municipalidade não tenha condições razoáveis de garantir que os
documentos recebidos em procedimentos ordinários sejam minimamente
verificados.
O prefeito, também, parece não ter compreendido que esta Comissão
cobra dele e da Administração Municipal o cumprimento do que estabelece o
próprio edital, pois não apenas foram recebidos documentos com validade
questionável, como principalmente documentos obrigatórios deixaram de ser
exigidos, como a autorização do órgão estadual por exemplo, descumprindo
expressamente os dispositivos legais.
A defesa apresentada pelo Prefeito se esforçou em apenas esquivar de
suas responsabilidades em garantir o cumprimento das exigências previstas no
edital para a assinatura do contrato e as próprias cláusulas do mesmo.
No que se refere às investigações e responsabilizações cíveis e criminais
das práticas denunciadas relativas às supostas falsificações ou fraudes,
importante aqui registrar que serão matéria de propositura de inquérito civil e
criminal, quando os autos desta investigação parlamentar forem encaminhados
ao Ministério Público do Estado de São Paulo, conforme já formalmente
requerido no parecer da Comissão. Deste modo, as solicitações feitas neste
sentido, na peça de defesa, pelo denunciado, serão alcançadas no momento
oportuno e pela autoridade competente.
5. Conclusão
A Comissão Especial de Inquérito, instituída pelo Ato de Nomeação nº. 01
de 24 de março de 2020, por intermédio de seus membros, pelos fatos e razões
ampla e cuidadosamente analisados nesta investigação e, por fim, a defesa
prévia apresentada nos termos do Art. 61, § 5º do Regimento Interno desta Casa
de Leis e devidamente apreciada por seus integrantes, emite o presente
PARECER FINAL PELA PROCEDÊNCIA DAS DENÚNCIAS INVESTIGADAS,
COM A DEVIDA CONSTITUIÇÃO DE COMISSÃO PROCESSANTE E
ABERTURA DO PROCESSO DE CASSAÇÃO DO PREFEITO TIAGO MAGNO
DE OLIVEIRA,
A medida seguirá previsão do Artigo 5º do Decreto-Lei nº 201, de 27 de
fevereiro de 1967, em alinhamento com as disposições da Lei Orgânica do
Município e do Regimento Interno desta Casa de Leis.
As práticas apuradas, conforme indicado nos enquadramentos (item 3),
afrontam expressamente o Art. 37, § 4º da Constituição Federal de 1988, o Art.
10, Incisos I, II, V, VII e XII da Lei nº 8.429, de 2 de junho de 1992 e o Art. 4º,
Incisos VII e VII do Decreto-Lei nº 201 de 27 de fevereiro de1967, além dos
dispositivos já enquadrados da Lei nº 8.666/93, da Lei nº 10.520/2002 e da Lei
Orgânica do Municípios de Lagoinha.
Seja expedida Resolução compondo a Comissão Processante e
indicando a abertura do Processo de Cassação do Prefeito, sendo submetida à
imediata apreciação do plenário.
Seja o denunciado intimado pessoalmente e seja procedida as etapas
processuais nos exatos termos do Decreto-Lei nº 201, de 27 de fevereiro de
1967.
É o relatório.
Lagoinha, 06 de julho de 2020.