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1ª frequência

Titulo I – Introdução

Objeto da Teoria Geral do Direito Civil

Princípios, Enquanto Direito


valores, conceitos Privado comum

Direito Público
Património comum
do Direito Privado Direito Privado Especial:
-D.to do consumo
-D.to do Trabalho

Teoria Geral do Ordenamento Jurídico


− Princípios fundamentais de Direito Civil
(p. ex., principio da dignidade da pessoa humana, , principio da boa fé, principio da confiança, entre
outros)
− Fontes das normas jurídico-civis.

Parte Geral

Parte aplicável às relações jurídico-obrigacionais


Livro I- Parte Geral
Livro II- Direito das Obrigações
Código Civil Parte aplicável às relações jurídico-reais Livro III- Direito das Coisas
Livro IV- Direito da Família
Livro V- Direito das Sucessões
Parte aplicável às relações jurídico-familiares

Parte aplicável às relações jurídico-sucessórias


O conceito de relação jurídica tem sido utilizado como forma de sistematização do código civil. Este é o
plano de Savigny ou sistematização germânica.
Diferente é o plano de Gaio ou sistematização romano-francesa adotado pelo CC francês: -Pessoas
-Coisas
-Ações ou modos de agir
Crítica a esta sistematização: “veredito-humanista”

Relega ser humano para o estatuto de


sujeito da relação jurídica.

Direito Público e Direito Privado


(Genericamente)

Respeita às relações estabelecidas entre Respeita às relações entre particulares,


os particulares e o Estado ou outros fundadas na igualdade jurídica, na
entes públicos, sendo igualmente o liberdade ou autonomia.
direito interno do Estado, da sua
orgânica, em que são dominantes os
interesses públicos, e que se fundam em
relações de autoridade, de disparidade e
de heteronomia.

Critérios distintivos
1. Critério ou teoria dos interesses
Serão normas de Direito Público as Serão normas de Direito Privado
normas que tutelam ou prosseguem um aquelas que visam tutelar ou satisfazer
interesse público. interesses individuais.

Crítica:
Todo o direito, público e privado, visa proteger simultaneamente interesses públicos e interesses
particulares. E para alem disso, não podemos adotar este critério como nota tendencial, ou seja, que o
direito publico prossegue maioritariamente interesses públicos, e o direito privado predominantemente
interesses privados, porquanto, existem normas que, de acordo com a sua sistematização, são normas de
direito privado e, no entanto, prosseguem sobretudo interesses públicos, e o inverso também se verifica.
Ex.s de normas de Direito Publico que regulam relações de igualdade: relação entre municípios.

2. Critério da posição de supra-ordenação (supremacia) e infra-ordenação (subordinação)

Direito Público disciplinaria as relações Direito Privado regularia as relações


entre entidades que estão numa posição de entre entidades numa posição relativa de
supremacia e subordinação, ou seja, tratar- igualdade ou equivalência, ou seja, as
se-ia das normas dirigidas ao Estado ou a normas que visassem os particulares.
outras pessoas a ele equiparadas.
Crítica:
Por vezes, o Direito Público regula relações entre entidades numa relação de equivalência ou igualdade;
por outra via, o Direito Privado regula situações onde existem posições relativas de supra-ordenação e
infra-ordenação.

3. Critério ou teoria dos sujeitos ou da qualidade dos sujeitos da relação jurídica


O Direito Público é constituído pelas Direito Privado é o que regula as relações
normas que estruturam o Estado ou outros estabelecidas entre particulares ou entre
entes públicos dotadas de prerrogativas de particulares e o Estado ou outros entes
autoridade ou disciplinam as relações públicos, mas intervindo o Estado ou outros
desses entes munidos de ius imperii entre entes públicos em veste de particular, isto
si ou com os particulares. é, desprovidos de ius imperii, de poder
soberano ou poder de autoridade.

Mas qual o interesse prático da distinção entre Direito Público e Direito Privado?
➢ Interesse de ordem científica na sistematização e no lógico agrupamento de normas jurídicas
➢ Interesse no próprio plano da aplicação do direito; por exemplo:
Em determinadas situações, determina as vias judiciais a que o particular lesado pelo Estado deve
recorrer ou vice-versa, isto é, determina o tribunal competente, em razão da matéria, para apreciar
a lide (tribunais judiciais/tribunais administrativos).
Por outro lado, a responsabilidade civil decorrente de uma atividade de órgãos, agentes ou
representantes do Estado está sujeita a um regime diverso, consoante os danos sejam causados
no exercício de uma atividade de gestão pública ou de uma atividade de gestão privada. Se os
danos resultam de uma atividade de gestão pública, os pedidos de indemnização são apreciados
por um tribunal administrativo e o regime de responsabilidade está previsto em lei especial (Lei
n.º 67/2007, de 31 de Dezembro, alterada). Se os danos resultarem de uma atividade de gestão
privada, será o pedido apresentado nos tribunais judiciais e o regime está previsto nos arts. 501.º
e 500.º do CC.

Art.º 1142º Contexto


A Contrato de mútuo
B
credor 50.000E
devedor A emprestou 50.000E ao B e, após o
empréstimo, A morreu sem herdeiros
Sem herdeiros Contribuinte, tem
divida tributária
Estado cifrada em 50.000E

Estado/ autoridade Não havendo herdeiros, o


Direito das tributária credora Estado fica com o património
Sucessões do falecido. Estado atua
Direito Tributário como particular
Direito Civil como Direito Privado Comum
Direito Privado Comum Direito Privado Especial
ou Geral

Direito Civil Direito Comercial Direito do Trabalho


Tutela os interesses dos Disciplina, tal como determina o Disciplina diretamente o
homens em relações com art. 1º do Código Comercial, os trabalho subordinado prestado
outros homens nos vários atos de comércio, sejam ou não a outrem. Este trabalho ou
planos da vida onde ocorrem comerciantes as pessoas que atividade laboral é executado
tais relações, estatuindo as neles intervêm. por força de um contrato de
normas a respeitar, numa trabalho, “pelo qual uma
perspetiva de autonomia da pessoa se obriga, mediante
pessoa no desenvolvimento da Regula atos de comercio e retribuição, a prestar a sua
sua personalidade. atividades comerciais atividade intelectual ou manual
a outra pessoa, sob a
Objetivos: estão previstos no autoridade e direção desta”
código comercial e em (cfr. art. 1152º CC). O art. 1153º
legislação que o desenvolva ou estatui que o contrato de
substitui (p.ex.: CSC, lei dos trabalho se encontra regulado
seguros, lei do cont. de em legislação especial, que,
agencias, etc.) atualmente, será o Código do
Subjetivos: atos praticados por Trabalho e a Regulamentação
comerciantes, que não tenham do Código do Trabalho.
natureza exclusivamente civil
(p.ex.: o casamento que tem
natureza civil)

Titulo II - Teoria Geral do Ordenamento Jurídico Civil

Fontes do Direito Civil Português


1. Formas de surgimento das normas jurídicas civis
a) Lei
b) Normas corporativas – As normas corporativas eram normas criadas por organismos
corporativos previstos na Constituição de 1933 que hoje não existem e, que por conseguinte, Mota
Pinto não as reconhece como fonte de direito; no entanto, Oliveira Ascenção preconiza que estas
normas são as normas emanadas por profissionais.
c) Assentos
d) Usos
e) Equidade

NOTA
De acordo com Mota Pinto apenas a lei constitui fonte de normas jurídico-civis, muito embora
reconheça a importância do caracter dimensificador da atividade jurisprudencial, sobretudo
quando o juiz aplica normas com clausulas gerais (p.ex.: boa fé) ou conceitos indeterminados (p.ex:
bom pai de família).
2. Diplomas Fundamentais do Direito Civil Português
a) CRP (cfr., v. g., arts. 18º, 24.º e ss., 36.º, 61.º, 62.º, 13.º)
b) Direito Europeu – Legislação avulsa equivale às fontes que, versando sobre a matéria tratada no
código civil, não se incluem no seu texto. Exs. lei das clausulas gerais, código dos direitos de autor,
lei tutelar cível.
c) Código Civil Português
d) Legislação extravagante ou avulsa
e) Diplomas complementares

3. As normas aplicáveis às relações de Direito Civil. Direito Civil e Direito Constitucional. Aplicação
de normas constitucionais às relações entre particulares.

As normas constitucionais, nomeadamente, as que reconhecem direitos fundamentais, também se


impõem no domínio das relações entre os particulares. Esta possibilidade resulta do disposto no
art.º18º da CRP, que consagra a doutrina da eficácia externa da Constituição, ou seja, em relação
a terceiros.

Assim, são protegidos nas relações jurídicas privadas os seguintes princípios:

a) Respeito pelos direitos fundamentais:


• A liberdade de consciência, religião e culto (cfr. art. 41.º CRP);
• Liberdade de expressão e informação (cfr. art. 37.º CRP);
• Direito de escolha de profissão ou género de trabalho (cfr. art. 47.º CRP);
• Direito à vida, integridade pessoal moral e física (cfr. arts 24.º e 25.º CRP).

b) Princípio da igualdade dos cidadãos perante a lei, proibindo-se os privilégios, benefícios ou


prejuízos em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções
políticas ou ideológicas (cfr.art. 13.º CRP) ex. artº70º, n1, CC;

c) Direito de constituir família e contrair casamento (cfr. Art.º35º e 36.º CRP);

d) Reconhecimento da constituição e garantia da proteção da família atual (cfr. art. 67.º CRP).

Por vezes normas constitucionais colidem com normas do código civil. Por exemplo:
colisão
Principio da igualdade contratual – art.º 13º CRP Principio da liberdade contratual – art.º405 CC

Não discriminação em Liberdade de escolhas do


razão de… processo contratual

O alcance dos princípios constitucionais deve ser conciliado com certos princípios fundamentais de
direito privado. Para determinar a extensão com que os princípios constitucionais vigoram na esfera
do direito privado, é necessário considera-los à luz da função e do sentido de certos princípios de
certos princípios direito privado que entrariam em conflito com aqueles princípios constitucionais.
Se eles se quisessem impor no tráfico entre particulares. Assim, por exemplo, o principio da
igualdade (art.º13º CRP) não pode sobrepor-se ao principio da liberdade contratual (art.º 405º CC),
salvo se o tratamento desigual implicar a violação do direito de liberdade de outrem.
Também a liberdade de expressão (art.º37º, CRP) não pode prevalecer sobre o dever de segredo
ou de fidelidade que corresponde a uma exigência de boa fé na execução dos contratos (art.º 762º,
n2, CC).

A tutela destes valores no domínio do direito privado opera mediante meios de proteção próprios
deste ramo do direito, a saber:

a) Nulidade da cláusula que viole tais direitos, por contrariedade à ordem pública (cfr. art.280.º do CC);
b) Direito de indemnização por violação de um direito de personalidade (cfr. arts. 70.º e ss. do CC);

A aplicação das normas constitucionais ao domínio privado faz-se:

a) Através de normas de direito privado que reproduzem o seu conteúdo; tal é o caso do direito ao
nome, previsto no art. 72.º do CC e no art. 26.º da CRP;

b) Através de cláusulas gerais e conceitos indeterminados, cujo conteúdo é integrado por valores
constitucionalmente consagrados; tal é o caso do conceito de ordem pública previsto no art. 280.º,
n.º2, do CC;

c) Quando não exista cláusula geral ou conceito indeterminado, pode excecionalmente aplicar-se
diretamente uma norma constitucional reconhecedora de um direito fundamental,
independentemente, portanto, da mediação de uma regra de direito privado;

Não pode olvidar-se que certos princípios constitucionais têm, por vezes, que ceder perante
determinados princípios fundamentais de direito civil, desde que conformes com a Constituição.

O Código Civil de 1966: sistema externo e características do tipo de


formulações legais utilizado
O Código Civil divide-se em cinco parte, seguindo a sistematização germânica ou plano de
Savigny:

I. Parte Geral Diferente do plano de Gaio ou romano-


II. Direito das Obrigações francês, que divide o Código Civil em:
III. Direito das Coisas
IV. Direito da Família I. Pessoas
V. Direito das Sucessões II. Coisas
III. Ações ou modos de adquirir

Quanto ao tipo de formulações legais utilizado, podemos distinguir:


a) Tipo de formulação casuístico
Corresponde à emissão de normas prevendo situações (…) descritas com todas as suas particularidades.
Art.º204º CC

b) Tipo de formulação de conceitos gerais-abstratos


O legislador elabora os tipos de situações de vida mediante conceitos claramente definidos e recortados
aos quais o juiz deve subsumir (encaixar) as situações e decidir as soluções respetivas.

c) Tipo de formulação de simples diretivas


O legislador elabora linhas gerais de orientação que fornece ao juiz (clausulas gerais) ou formula
conceitos fluídos e maleáveis marcados pela indeterminação. Art.º205º CC

O nosso CC adota o tipo de formulação dos conceitos gerais-abstratos, temperado com cláusulas
gerais e com conceitos indeterminados.

Exemplos de clausulas gerais:


Exemplos de conceitos indeterminados:
Ordem publica (art.º 280, n2); boa fé
(art.º227º e 762º); bons costumes Diligencias de bom pai de família (art.º
(art.º280º); conceito de equidade (art.º 4º; 487º); conceito de gravidade (art.º496º)
389º)

Princípios Fundamentais do Direito Civil Português


1. O reconhecimento da pessoa e dos direitos de personalidade.
Ser humano Pessoa Jurídica

Sujeitos de relação jurídica

Aptidão para ser titular de relação jurídica

Personalidade Jurídica

2. O princípio da liberdade contratual.


3. Princípio da boa fé.
4. Princípio da confiança.
5. A responsabilidade civil.
6. A concessão da personalidade jurídica às pessoas coletivas.
7. A propriedade privada.
8. A família.
9. O fenómeno sucessório.

1. O reconhecimento da pessoa e dos direitos de personalidade


• O ser humano é a figura central de todo o direito.
• O art. 1º da CRP afirma a “dignidade da pessoa humana” como base da soberania do Estado.
• O art. 6º da DUDH prescreve que “todos os indivíduos têm direito ao reconhecimento em todos os
lugares da sua personalidade”.
• O art. 66º do Código Civil reconhece personalidade jurídica a todo o ser humano a partir do
nascimento completo e com vida. No entanto, o conceito de ser humano não se confunde com o
conceito de pessoa para efeitos jurídicos, dado que:
i) Historicamente, os seres humanos nem sempre foram considerados pessoas jurídicas;
escravos não eram dotados de personalidade jurídica; no domínio nazi e no apartheid
identificamos gradações de personalidade
ii) As pessoas em sentido jurídico não são necessariamente pessoas humanas, porquanto,
também são pessoas jurídicas as pessoas coletivas. Art.º 157º e ss.
• O facto de toda a pessoa ter personalidade ou ser sujeito de direito implica que toda e qualquer
pessoa é sujeito de direitos, direitos esses que incidem sobre os vários modos de ser físicos ou morais
da sua personalidade e a que chamamos direitos de personalidade.
• O direito vai tutelar os diversos modos de ser físicos e morais da personalidade, de forma que a
violação desses direitos pode constituir:

Ilícito criminal Ilícito civil

• Nesse caso, o lesado tem direito a:


i) ser indemnizado pelo infrator pelos prejuízos causados (cfr. art. 70.º, n.º2, 1ª parte);
ii) requerer as providências não especificadas e adequadas às circunstâncias do caso, por forma a
evitar a consumação de uma ameaça ou diminuir os efeitos da ofensa já verificada (cfr. art. 70.º,
n.º2, 2ª parte)
• Os direitos de personalidade são:
i) Irrenunciáveis
ii) podem ser objeto de limitações voluntárias (art. 81.º do CC)

2. Princípio da autonomia privada e princípio da liberdade contratual


• O princípio da autonomia da vontade traduz-se no poder reconhecido aos particulares de auto
conformarem os seus interesses, de auto regulamentarem a sua esfera jurídica, o conjunto das
relações jurídicas de que uma pessoa é titular.
• Este princípio está vertido no art. 405.º do CC, tendo o seu fundamento constitucional nos arts. 26.º,
n.º 1, e 61.º da CRP.
• A autonomia privada exercita-se:
i) Principalmente, na celebração de negócios jurídicos;
ii) Mas também, no poder de livre exercício dos seus direitos ou de livre gozo dos seus bens pelos
particulares, ou seja, na realização de direitos subjetivos.
• A autonomia privada está presente no domínio em que o Direito Civil assume a função de modelação
e disciplina positiva da vida social, e não já no domínio em que o direito civil tem a função de
proteção ou defesa dos direitos constituídos (responsabilidade civil)
• Nas palavras de Pedro Pais Vasconcelos, a autonomia, em sentido amplo, “é o poder que as pessoas
têm de ser dar leis a si próprias e de se reger por elas”, em sentido restrito, “a autonomia privada
pressupõe um espaço de liberdade em que as pessoas comuns podem reger os seus interesses entre
si, como entendem, através de negócios jurídicos”.
• O negócio jurídico é um importante meio de atuação da autonomia privada. Quanto à classificação,
podem ser, entre outros:
→ Negócios jurídicos unilaterais
Englobam uma só declaração de vontade ou várias declarações no mesmo sentido.
Ex.: testamento; constituição de uma fundação; procuração.
→ Negócios jurídicos bilaterais ou contratos
São constituídos por duas ou mais declarações de vontade de conteúdo oposto mas convergente
destinadas à produção de um mesmo efeito jurídico.
Proposta
Declarações negociais do negocio bilateral
Aceitação
Por exemplo, veja-se o testamento e o cumprimento de regras imperativas mormente:
i) Respeito pela legitima ou quota indisponível (art.º 2166º)
ii) Tratamento não pode contrariar a ordem publica (art.º 2186º)
iii) Estipulação a favor de medico ou enfermeiro que tratou do testador ser o testamento for
feito durante a doença ou o seu autor vier a falecer dela (art.º 2194º)
• O Princípio da Liberdade Contratual é um corolário da Autonomia Privada, sendo esta mais ampla
do que aquele, e como a própria designação anuncia, reporta-se aos contratos, considerados fonte
de obrigações, tendo a autonomia privada a sua plena extensão neste domínio. Já quanto aos
negócios jurídicos unilaterais, a autonomia privada é mais restrita neste âmbito.

Princípio da liberdade contratual

Princípio da liberdade contratual (art. 405º CC)

Liberdade de celebração de Liberdade de escolha do parceiro Liberdade de modelação do


contratos contratual conteúdo contratual
Esta celebração de contratos consiste na Consiste na possibilidade de o contraente
faculdade de realizar livremente ou escolher livremente com quem pretende
recusar a sua celebração, ou seja, a contratar
ninguém pode ser sancionado por não
querer contratar, ou ainda, ser imposta a
abstenção de contratar

Restrições: Restrições: Restrições:


os - “Limites da lei” (arts. 280º, 282º
- Dever jurídico de contratar. - Pacto de preferência (art 414 e ss.
- Proibição de celebrar contratos. P. CC) : direito obrigacional de 762º, n.º2, do CC).
ex., pais e avos não podem vender preferência. - Contratos normativos.
bens a filhos ou netos sem o - Direitos de preferência (reais): - Normas imperativas.
consentimento dos outros filhos ou -arrendatário (artº1091º) - Cláusulas contratuais gerais.
netos. Art.º 877º. -comproprietário (art.º 1409º e
- Necessidade de consentimento, 1410º)
assentimento ou autorização. P. ex., é -terrenos confiantes (art.º 1380º e
necessário o consentimento do 1381º)
cônjuge para vender casa de família. -prédio encravado (art.º 1555º)
- Renovação do contrato imposta a -venda ou doação do hereditário
um dos contraentes. Art.º 1054º, (art.º 2130º)
1056º.

As partes podem :

i) Realizar contratos com as características dos contratos previstos e regulados na lei: contratos
típicos ou nominados. Ex.: cont. compra e venda (art.º 874º e ss. CC). Basta indicar “nomen iuris”
para ser aplicada automaticamente o regime legal.

ii) Celebrar contratos típicos, incluindo-lhes as clausulas que lhes aprouver (p. ex. aditando um termo
inicial e um termo final – cont. de trabalho tem inicio no dia 1/01/23 e cerro a 30/06/23, ou
conjugando dois ou mais contratos designados contratos mistos (p. ex. locação de casa mobilada e
um arrendamento e aluguer; porteira de prédio que presta serviços e em contra partida usa e frui de
uma das frações).

iii) Concluir contratos diferentes dos previstos na lei, designados contratos atípicos ou inominados
(p. ex. contratos de “franchising” ou de “merchandising”.
Clausulas Contratuais Gerais
Surgem no contexto das modernas sociedades técnicas caracterizadas por um tráfego negocial de
massas. Uma figura de algum poder económico que, por razões de racionalização, maior eficácia,
celeridade e planificação, formula unilateralmente as cláusulas negociais, incluindo-as num impresso
ou formulário, e apresentando-as à outra parte contratual, que se limitará a aderir às mesmas, sem
a possibilidade de alterar o seu conteúdo, ou a rejeitá-las. Contratos de adesão

Acentuada restrição ao princípio da liberdade contratual

• Liberdade de estipulação é posta em causa, dado que o consumidor do bem ou serviço se limita a
aceitar ou recusar os esquemas que lhe são propostos, não podendo apresentar contrapropostas;
• Liberdade de celebração é puramente teórica, pois os contraentes são livres de rejeitar a proposta
pré-elaborada, mas isso significa que não vão satisfazer as suas necessidades.

➢ Razões da existência da CCG: necessidades de racionalização, planeamento e eficácia da atividade


da empresa; contratação para um número indeterminado, etc.
➢ Perigos de abuso da figura: restrição da liberdade factual do particular; favorecimento do
emitente ao alterar regras equilibradas; cláusulas leoninas; desconhecimento de cláusulas por
não participação na sua elaboração, etc.
Exs.: Existência de clausulas com conteúdo extenso e linguagem técnica com caracteres de
dimensão reduzida; Interpretação tendenciosa ou até enganosa favorecedora de parte com
algum poder económico.

Art.º 10º -> 236º e ss.

Art.º 18º e 19º - Relações entre empresários ou entidades equiparáveis


Proibidos em 19
circunstancias

Clausulas Clausulas
Podem ser permitidos ou proibidos
absolutamente relativamente
consoante o quadro negocial
proibidas proibidas

Art.º 21º e 22º - Relações com consumidores finais

Sistema de controlo das cláusulas contratuais gerais

a) Plano substantivo

1. Controlo da inclusão
1.1. Aceitação das CCG – artigo 4.o
1.2. Comunicação: feita de forma adequada, na íntegra e com a antecedência necessária. Critério de
aferição destes conceitos indeterminados: o critério do “homem médio”. O ónus da prova cabe ao
proponente das cláusulas.
1.3. Dever de informação – artigo 6.o
1.4. Proibição de cláusulas surpresa (artigo 8.o, al. c))
Sanção para a inobservância destes requisitos: exclusão da cláusula (artigo 8.o)

2. Ao nível da interpretação
- Interpretação individual – artigo 10.o
- Cláusulas ambíguas – a regra do contra proferentem (artigo 11.o)
3. Ao nível do conteúdo
- Princípio da boa fé (artigo 15.o) em articulação com o catálogo de proibições (artigos 18.o, 19.o,
21.o e 22.o)
- As cláusulas proibidas são nulas (artigo 12.o).

b) Plano processual

1. controlo incidental (artigo 24.o) = Controlo realizado a 1 clausula que, inserida num contrato de
adesão, pretendendo o aderente invocar a nulidade de uma ou várias clausulas.

2. controlo abstrato – a ação inibitória (artigo 25.o) = Neste caso, clausulas que contrariem o disposto
nesta lei, mesmo que ainda não inseridas num contrato já firmado podem ser objeto de um contrato
abstrato retirando-se essas clausulas do mercado.

Domínio principal de aplicação da liberdade contratual: os contratos obrigacionais

a) Contratos obrigacionais – contratos cuja eficácia constitutiva, modificativa ou extintiva situa-se


no domínio das obrigações em sentido técnico ou direitos de crédito.
Ampla liberdade de conclusão ou celebração dos contratos; São reduzidas as limitações à liberdade
de modelação do seu conteúdo; Salvas as limitações as partes podem produzir os efeitos
obrigacionais que lhes aprouver.

b) Contratos com eficácia real – contratos constitutivos, modificativos ou extintivos de direitos reais.
Existe liberdade de celebração dos contratos; Forte restrição da liberdade de fixação do conteúdo
contratual, pois os contraentes apenas podem constituir os direitos reais legalmente previstos, dado
esta matéria se reger pelo princípio da tipicidade ou numerus clausus dos direitos reais, previsto no
art. 1306º, nº1.

c) Contratos familiares – contratos com eficácia no domínio das relações de família

Há liberdade de concluir ou não o contrato; Exclusão da liberdade de fixação do conteúdo contratual


nos contratos familiares pessoais; Existe liberdade de modelação do conteúdo contratual nos
negócios familiares patrimoniais, embora limitada

d) Contratos sucessórios destinam-se a regular a sucessão por morte de uma pessoa. Estes contratos
são admitidos muito restritamente, proibindo-se em regra os pactos sucessórios (cfr. art. 2028.o, n.o
2); apenas são admitidos nos casos legalmente previstos, nomeadamente quando estatuída em
convenções antenupciais (cfr. art. 1700o, n.o1, als. a) e b).

3. O princípio da boa fé
Noção: é um princípio de Direito Natural e pode exprimir-se pelo mandamento de que cada um
fique vinculado em fé da palavra dada, que a confiança não deve ser frustrada nem abusada e que
cada um se deve comportar como é de esperar de uma pessoa honrada.

Boa fé subjetiva
Boa fé objetiva - Estado de ignorância do sujeito
→ Mero desconhecimento ou ignorância de
- Remete para princípios, regras ou
certos factos (arts. 119º, nº 3, 243º, nº 2,
ditames ou simplesmente para um
1260.º, nº 1)
modo de atuação dito de “boa fé”
→ Desconhecimento sem culpa ou ignorância
desculpável (arts. 291.º, n.º 3, e 1648.º, n.º1)
→ Consciência de determinados factos (art.
612.º, n.º2)
4. O princípio da confiança
Noção: princípio segundo o qual deve relevar juridicamente o comportamento de alguém que, por
ação ou omissão, criar noutra pessoa fundadas e legítimas expectativas

pode levar a atribuir, nuns casos, efeitos pode traduzir-se no dever de indemnizar as
jurídicos correspondentes a efeitos que não expectativas criadas
existem

A confiança depositada pelas pessoas merece, efetivamente, tutela jurídica.


Quando uma pessoa atua ou celebra certo ato, negócio ou contrato, tendo confiado na atitude, na
sinceridade, ou nas promessas de outrem, ou confiado na estabilidade de certas qualidades das
pessoas ou das coisas, ou das circunstâncias envolventes, o Direito não pode ficar indiferente à
eventual frustração dessa confiança.

Se assim não fosse, haveria uma tal insegurança na vida jurídica que necessariamente a viria a
paralisar ou a dificultar extremamente.

A tutela da confiança no Direito Civil Português efetua-se por duas vias:


- Através de disposições legais específicas

- Através de institutos gerais que surgem associados a uma regra objetiva de boa fé.

Proprietário/ A passou uma procuração a B para


vendedor A vender o imóvel X. Posteriormente
Procuração
revogou a procuração, no entanto, B
Art.º 172º e ss.
celebrou o negócio com C não dando
Compra e venda
B C importância ao facto de já não ter esse
Imóvel X
Procurador Comprador poder. O negocio é legitimo por
proteção a C que confiou. Art.º 266º.

5. A responsabilidade civil
A responsabilidade civil é o princípio que obriga à reparação dos danos causados (obrigação de
indemnização)

a) Reparação natural ou em espécie (art.ºs 483º e 562º)

b) Reparação em dinheiro o por equivalente (arts. 483o e 566o)

- Danos patrimoniais (art.º 563º) = São os danos suscetíveis de avaliação pecuniária que o sujeito não
teria sofrido se não fosse a lesão.

• Dano emergente (art.º 564º) = Prejuízo imediato pelo lesado

• Lucro cessante (art.º 564º) = Vantagens que o lesado deixou de ter em virtude da lesão

- Danos não patrimoniais (art.º 496º)


Ex.: Na colisão com um táxi, será dano emergente os danos causados ou mesmo os danos à
integridade física. O lucro cessante será o que o taxista deixará de ganhar por não poder trabalhar
em virtude de ficar sem o veículo ou de ficar com uma perna partida, etc.

Responsabilidade pré-contratual - decorre da violação culposa da boa fé nos preliminares ou na


formação dos contratos (culpa in contrahendo)

Responsabilidade contratual - decorre da violação de um direito de crédito, cujo respeito se impõe


apenas à parte vinculada à obrigação de cumprir: o devedor.
Modalidades

É, grosso modo, a que resulta da violação de um contrato ou negócio unilateral, por não
cumprimento, cumprimento defeituoso ou cumprimento fora do tempo de um negócio jurídico.
Neste âmbito, existe a presunção de culpa do devedor (cfr. art. 798.o do CC)
Vide arts. 798.o e ss. do CC

Responsabilidade extracontratual - resulta da violação de um dever geral de abstenção, contraposto


a um direito absoluto, maxime, um direito real, ou um direito de personalidade
Neste âmbito, o lesado tem que provar a culpa do lesante (cfr. art. 487.o do CC).
Vide arts. 483.o e ss. do CC

subjetiva objetiva

I - Responsabilidade por II – Responsabilidade III - Responsabilidade por


factos ilícitos pelo risco. factos lícitos
- assenta no princípio da culpa - Independente de culpa
do agente - Vide arts. 499.o e ss.
- Vide arts. 483.o e ss.

Lado ativo Lado passivo

D.tos de personalidade Dever geral de


Absolutos abstenção
D.tos reais
D.to Subjetivo
Propriamente dito
Relativos D.to de crédito Dever jurídico do devedor

Contratos
Violação deste dever

Responsabilidade contratual
I - Responsabilidade por factos ilícitos ou subjetiva
Pressupostos:

a) Facto voluntário = forma de conduta humana dominável/controlável pela vontade; portanto,


estão de fora os factos de força maior (ex.: descarga elétrica, projeção de algo…)

b) Facto ilícito = violação de direitos subjetivos ou interesses alheios tutelados por uma norma legal.
V. Causas de exclusão de ilicitude (arts. 336.o e ss. do CC)

c) Facto culposo = isto é, passível de censura ético-jurídica que pode assumir a forma de: dolo, que
consiste na intenção de causar o dano; ou na forma de negligencia ou mera culpa, ou seja, omitem-
se os deveres de diligência ou cuidado exigíveis para evitar o dano. Art.º 494º.

d) Dano

e) Nexo de causalidade = nem todos os danos sobrevindos ao facto ilícito são incluídos na
responsabilidade, mas apenas nos resultantes do facto.

Vide arts. 483 e ss.

II - Responsabilidade pelo risco – corresponde a situações em que o homem atua, auferindo


benefícios ou vantagens para si próprio e, ao mesmo tempo, potencia o surgimento de riscos para
os demais homens (ubi commoda, ibi incommoda).

Vide arts. 499.o e ss.

A responsabilidade pelo risco está prevista quanto a:


• danos causados pelos comissários, a cargo do comitente (art. 500o);
• responsabilidade do Estado e demais pessoas coletivas públicas (art. 501o);
• danos causados por animais (art. 502o);
• acidentes causados por veículos de circulação terrestre (art. 503o);
• danos causados por instalações de energia elétrica ou gás (art. 509o);
• responsabilidade objetiva do Produtor;
• danos causados por arma de fogo no exercício da caça;
• acidentes de trabalho;
• danos causados no ambiente.

Mobilidade pelo risco ou objetiva

Mesmo que não exista culpa do agente

Remissões:

Art.º 483º -> 798º e 799º


-> 483º e ss.; 494º
-> 499º e ss.
-> 339º; 1322º; 1347º; 1348º; 1349º; 1367º

III - Responsabilidade por factos lícitos – Embora aparentemente seja contraditório considerar um
ato lícito e, ao mesmo tempo, gerar esse ato obrigação de indemnização, assim não sucede, pois
pretende-se compensar o sacrifício de um interesse, cuja prevalência absoluta seria injusta.
A responsabilidade por factos lícitos está prevista, por exemplo, nas seguintes situações:
• Estado de necessidade (cfr. art. 339.o)
• Art. 1322.o
• Instalações prejudiciais (cfr. art. 1347.o, n.o2 e n.o3)
• Escavações (cfr. art. 1348.o, n.o2)
• Passagem forçada momentânea (cfr. art. 1349.o, n.o3)
• Art. 1367.o

Diferenças entre responsabilidade civil contratual e extracontratual

Responsabilidade contratual Responsabilidade extracontratual


Ónus da prova É o devedor que tem de provar que É ao lesado que cumpre a prova –
não tem culpa – art. 799º (regras art. 487º, n.º 1
gerais)

Prescrição Não há prazo especial. Funciona o 3 anos (art. 498º)


prazo geral de 20 anos (art. 309º)

Capacidade Regras gerais (exigem a São regras menos exigentes (art.


maioridade) 488º; 487º, n.º 1)

Regime das obrigações Regime regra, salvo estipulação Vigora a regra da solidariedade (art.
497º)

Responsabilidade civil e responsabilidade penal


Reparação e
compensação
Aplica-se sanção que visa Aplica-se uma pena ao infrator, que visa tutelar interesses
não privados da pessoa ofendida mas da coletividade.
Privativa de liberdade
Tutela interesses do particular
Funções: Não privativa de liberdade
a) retributiva – retribuir mal causado à sociedade
b) prevenção geral – intimidar elementos da sociedade, impedindo-os
de cometer mais crimes
c) prevenção especial – impedir infrator de cometer novas infrações.

Nota: No que tange à circulação terrestre de veículos e aos acidentes daí decorrentes, aplica-se o
regime da responsabilidade por factos lícitos no caso de ser passível apurar a culpa do agente; no
caso de não ser possível apurar a culpa e como esta atividade trás vantagens a quem dela usufrui:
mas que implica riscos de danos para terceiros aplica-se de modo residual o regime da
responsabilidade pelo risco.

6. A concessão da personalidade jurídica às pessoas coletivas


• Generalidades
Pessoas coletivas são coletividades de pessoas ou complexos patrimoniais organizados para a
prossecução de um fim comum, às quais a ordem jurídica atribui a suscetibilidade de ser titulares de
direitos e obrigações
• Características

Associações
Modalidades Sociedades
Fundações

A concessão de personalidade jurídica às pessoas coletivas traduz-se num mecanismo jurídico que
permite maior facilidade e eficiência na realização dos interesses coletivos e duradouros que as
mesmas prosseguem.

7. A propriedade privada
O domínio e uso das coisas permite ao homem talhar para si um espaço, maior ou menor, de
liberdade. Impõe-se ao Direito regular, segundo certos valores, os poderes dos homens sobre as
coisas e o conteúdo das suas relações com essas coisas, ou seja, quais os poderes que integram cada
direito.
Características do direito de propriedade no nosso sistema jurídico:
• O direito de propriedade privada está consagrado constitucionalmente no art.º 62º, nº 1, e no art.
61º, ambos da CRP – reconhecimento da iniciativa privada (direito de propriedade em sentido
amplo)
• Pode haver lugar à expropriação por utilidade pública, mediante o pagamento de uma justa
indemnização (cfr. art. 62º, nº 2 e Código das Expropriações).
• Embora não definido, dispõe o Código Civil, no seu art. 1305º, que “o proprietário goza de modo
pleno e exclusivo dos direitos de uso, fruição e disposição das coisas que lhe pertencem, dentro
dos limites da lei e com a observância das restrições por ela impostas” (direito da propriedade em
sentido estrito).

Notas caracterizadoras da propriedade:

• Os poderes do proprietário são indeterminados, apenas restringidos por disposições legais


• O direito de propriedade é dotado de uma certa elasticidade
• É um direito perpétuo, no sentido que não pode extinguir-se pelo não uso

Formas especiais de propriedade

• Compropriedade (arts. 1403.o e ss.)


• Propriedade horizontal (arts. 1414.o e ss.)

Direitos reais de gozo Direitos reais de garantia Direitos reais de aquisição


Conferem ao seu titular o poder de utilização Conferem ao seu titular (credor) o poder obter o Conferem ao seu titular a possibilidade de
total ou parcial de uma coisa e, por vezes, o pagamento do seu crédito, pelo valor de uma coisa ou se apropriar da coisa, de adquiri-la.
poder de aquele se apropriar dos seus frutos. seus frutos, com preferência sobre os demais credores.

•Propriedade (direito real ilimitado) - arts. 1302o •Penhor – arts. 666o e ss. •Direito real de preferência (arts. 1091º 1380º e
e ss. •Hipoteca – arts. 686o e ss. 1381º, 1409º e 1410º, 1423º, 1535º, 1555º,
•Usufruto, uso e habitação – arts. 1439o e ss. •Privilégios creditórios – arts. 733o e ss. 2130º do CC)
•Superfície – arts. 1524o e ss. •Direito de retenção – arts. 754o e ss.
•Servidões – arts. 1543o e ss. •Consignação de rendimentos – arts. 656o e ss.
8. A família
Características do Direito da Família:

• Grande parte das suas normas tem caráter imperativo.


• É influenciável pelas estruturas económicas, políticas, sociais e religiosas.

Tutela assegurada pelos preceitos constitucionais (arts. 36º e 67º a 69º):

• Direito à celebração do casamento é reconhecido a todos (arts. 67º, nº 1 e 36º, nº 1)


• Direito de constituir família sem dependência do casamento (art. 36º, nº 1 e 4)
• Igualdade dos cônjuges, nas relações entre si, e dos progenitores, nas relações com os filhos
(art.36º, nº 3)
• Não discriminação dos filhos nascidos no e fora do casamento (art 36º, n.º 4)

Fontes das relações familiares (art. 1576º do CC)

• Casamento (arts. 1577º, 1587º e ss. do CC)


• Parentesco (arts. 1578º a 1582º do CC)
• Afinidade (arts. 1584º e 1585º do CC)
• Adoção (arts. 1586º e 1973º e ss. do CC)

9. O fenómeno sucessório

Legitimária – atribui a certos familiares do de cuius - sucessores


legitimários – o direito a uma parte da herança (legítima ou quota
indisponível), sem o falecido poder limitar esse direito. V. art. 2157.o
Legal do CC.
Legítima – tem lugar quando o autor da herança não dispôs
validamente de toda a herança ou de parte da quota disponível.
Nesse caso, a lei estabelece vários grupos de sucessíveis, para serem
chamados à herança. V. art. 2133.o do CC.
Sucessões
Testamentária – resulta do testamento, pelo qual uma pessoa
dispõe, para além da sua morte, de todos os seus bens ou de parte
deles. V. art. 2179.o, n.o1, CC.
Voluntária Contratual – funda-se num contrato feito em vida do futuro de cuius.
A sucessão contratual é, em regra, proibida. O pacto sucessório em
Chamamento de uma ou mais sentido restrito é o pacto pelo qual se realizam disposições mortis
pessoas à titularidade das relações causa, sendo válido apenas quando inserido em convenções
patrimoniais do falecido ou de antenupciais. V. arts. 1701.o e 2028.o, n.o2, do CC.
cuius, devolvendo-se os bens que
lhe pertenciam (art. 2024º)
Título III – Teoria Geral da Relação Jurídica
Relação jurídica simples ou
Relação jurídica – sentidos da expressão singular – comporta somente
o direito subjetivo
propriamente dito atribuído a
uma pessoa e o correspetivo
dever jurídico que recai sobre
outra ou o direito potestativo
Relação jurídica em sentido e a correspondente sujeição.
Relação jurídica abstrata –
amplo – é toda a relação da expressão com referência a um
vida social relevante para o modelo, paradigma ou
direito, ou seja, que produz esquema contido na lei. Relação jurídica complexa ou
efeitos jurídicos. Relação jurídica em sentido múltipla – comporta um conjunto
estrito – é toda a relação da de direitos subjetivos e deveres ou
vida social regulada pelo sujeições, que se relacionam entre
Direito, mediante a atribuição si por um qualquer aspeto, por
a uma pessoa de um direito exemplo derivarem do mesmo
subjetivo e a imposição a outra facto jurídico, designadamente de
de um dever jurídico ou de Relação jurídica concreta – derivarem, por exemplo, de um
uma sujeição. expressão com referência a mesmo contrato.
uma relação jurídica
existente, entre pessoas
determinadas, sobre um – deveres principais
objeto determinado.
– deveres acessórios de conduta
Relação Jurídica – deveres laterais
– direitos potestativos; ónus e
Lado passivo Lado ativo expectativas

Direito subjetivo propriamente dito traduz-se no poder de exigir ou pretender de outrem um


determinado comportamento positivo ou negativo. Contrapõe-se-lhe um dever jurídico da
contraparte, de facere ou non facere.

• Direitos de crédito – o dever jurídico impende sobre pessoas


determinadas – daí que lhes chamem direitos relativos
Direito subjetivo • Direitos reais e direitos de personalidade – contrapõe-se-lhes uma
em sentido amplo obrigação passiva universal ou dever geral de abstenção que recai sobre
todas as outras pessoas – daí que se denominem direitos absolutos
Depende unicamente
da vontade do titular Direitos potestativos são os poderes jurídicos de por um ato de livre vontade, só de per si ou
desse direito integrado numa decisão judicial, produzir efeitos jurídicos que se impõem necessariamente à outra
parte. Corresponde-lhe a sujeição, a situação em que está a contraparte de ver produzir-se
Não são direitos necessariamente uma consequência na sua esfera jurídica em virtude do mero exercício de um
subjetivos os poderes- direito pelo seu titular.
deveres ou poderes
- Constitutivos, Modificativos e Extintivos
funcionais, nem as
faculdades
Relação jurídica simples e relação jurídica complexa
a) Simples ou Singular: Comporta somente o direito subjetivo propriamente dito atribuído a uma
pessoa e o correspetivo dever jurídico que recai sobre outra ou o direito potestativo e a
correspondente sujeição (dever de prestar e dever de exigir nos direitos de crédito).
b) Complexa ou múltipla: Comporta um conjunto de direitos subjetivos e deveres ou sujeições, que
se relacionam entre si por um qualquer aspeto, por exemplo derivarem do mesmo facto jurídico,
designadamente de derivarem, por exemplo, de um mesmo contrato.

• Deveres principais
• Deveres acessórios ou de conduta
• Deveres laterais (deveres a que as partes estão adstritas, para além do texto escrito do contrato,
deveres esses que decorrem do princípio da boa fé)
• Direitos potestativos
• Ónus (necessidade de adotar determinado comportamento para realizar um interesse próprio)
• Expectativas (traduzem a situação ativa em que existe a possibilidade, juridicamente tutelada, de
aquisição futura de um direito, tendo ocorrido já parte da factualidade constitutiva desse direito).

Exemplos de ónus
• Ónus da prova (342º do CC)
• Ónus de denúncia da desconformidade do bem dentro de certo prazo, sob pena de caducidade.
Ver arts. 916º, 917º do CC e arts. 5º e 5º-A do DL nº 67/2003, de 8 de abril (Lei das garantias)
• Ónus de impugnação dos factos que constituem a causa de pedir, sob pena de se considerarem
provados (art. 574º do CPC)

Elementos da relação jurídica


I. Sujeito
II. Objeto (divergência entre Escola de Coimbra e Escola de Lisboa)
III. Facto jurídico
IV. Garantia

Personalidade, capacidade de gozo e capacidade de exercício de direitos


Sujeitos de direito são os entes suscetíveis de serem titulares de direitos e obrigações
Personalidade jurídica traduz-se na aptidão para ser titular autónomo, ser sujeito, de relações
jurídicas. qualidade
Capacidade de Gozo de Direitos é a capacidade de ser titular de direitos (cfr. art. 67º). Ex.: um menor
tem capacidade de gozo do direito de propriedade embora não o possa exercer em certos casos
como a compra e venda de imoveis. Menores de 16 anos não possuem capacidade de gozo do direito
a casar.
Capacidade de Exercício de Direitos = A pessoa que tem capacidade de exercício atua pessoalmente
dado que não tem de ser substituída por um representante legal. Por exemplo, i menor não atua
pessoalmente, quem atua é o representante legal.
Atua autonomamente na medida em que não precisa do assentimento de outra pessoa. Por
exemplo, no caso dos maiores acompanhados, o maior poderá precisar do consentimento do
acompanhante. Ou o cônjuge poderá precisar do consentimento do outro cônjuge para
determinados atos.
O problema dos direitos sem sujeito
Podem surgir casos em que, numa relação jurídica, falte o sujeito ativo ou o sujeito passivo, sem a
relação se extinguir.
Nestes casos, há autores que defendem a figura de direitos sem sujeito. Outros (Manuel de Andrade)
não admitem tal possibilidade e consideram que se tratam de estados de vinculações de certos bens,
em vista do surgimento futuro de uma pessoa com direito sobre eles.
Outros, ainda, admitem a existência de direitos sem sujeito, apenas provisoriamente, enquanto a
relação está imperfeita ou o sujeito está transitoriamente indeterminado.

Começo e fim da personalidade


Começo da personalidade jurídica
As pessoas singulares adquirem personalidade jurídica a partir do momento do nascimento completo
e com vida (art. 66º, nº 1, do CC)

Condição jurídica dos nascituros


Há personalidade jurídica pré-natal?
Quanto aos nascituros concebidos ou não concebidos, o legislador civilista veio estabelecer as
seguintes previsões: arts. 952º; 2033º, nº 1 e nº 2; 1878º, nº1; 1847º, 1854º e 1855º; 496º, nº2, do
CC.
Mas, tais direitos dependem do nascimento do nascituro, completo e com vida (art. 66º, nº 2).

Termo da personalidade jurídica


A personalidade jurídica cessa com a morte (art. 68º, nº 1, do CC), sendo esta a morte cerebral (art.
2º Lei nº 141/99, de 28 de Agosto).
Questão do art. 71º do CC

Começo da personalidade jurídica (cont.): Apontamento doutrinal


1ª questão: quando ocorre o nascimento “completo”?
Alguma doutrina entende que o nascimento completo ocorre com a separação da criança do corpo
da mãe, ou seja, com o corte do cordão umbilical (José Alberto González, Geraldo Rocha Ribeiro).
No entanto, há quem defenda (Pedro Pais de Vasconcelos e Carvalho Fernandes) que não tem
necessariamente de assim ser. Para tanto, invocam o artigo 2.o do DL n.º 44128, de 28/12/61 nos
termos do qual:
“Considera-se nascimento de criança viva a expulsão ou extração completa, relativamente ao corpo
materno e independentemente da duração da gravidez, do produto da fecundação que, após esta
separação, respire ou manifeste quaisquer outros sinais de vida, tais como pulsações do coração ou
do cordão umbilical ou contração efetiva de qualquer músculo sujeito à ação da vontade, quer o
cordão umbilical tenha sido cortado, quer não, e quer a placenta esteja ou não retida.”

2ª questão: deve continuar a negar-se a personalidade jurídica aos nascituros stricto sensu?
A questão do reconhecimento da personalidade jurídica a nascituros é atualmente muito discutida
na doutrina. A questão coloca-se devido a vários fatores:
O artigo 24.o da CRP reconhece a todos os seres humanos o direito à vida; As modernas técnicas de
ecografia permitem afirmar a existência de vida intra-uterina; Criminalização do aborto (em
determinadas circunstâncias); A permissão de perfilhação antes do nascimento; O artigo 1878.o CC
diz que compete aos pais representar os filhos, ainda que nascituros; Razões éticas e morais.

Presunção de comoriência
Quando certo efeito jurídico depender da sobrevivência de uma a outra pessoa, presume-se, em
caso de dúvida, que uma e outra faleceram ao mesmo tempo (morte simultânea). V. art. 68º, nº 2,
do CC.
Desaparecimento de pessoa
Se o cadáver da pessoa não for encontrado ou reconhecido, a lei considera a pessoa falecida
quando o desaparecimento se deu em circunstâncias que não permitam duvidar dela. (art. 68º,
nº3, do CC).
Morte presumida, que traduz uma mera ausência, um desaparecimento prolongado sem
notícias e sem certeza de morte (arts. 89º e ss, mormente arts. 114º e ss.).
Situação jurídica do cadáver
Cessando a personalidade jurídica das pessoas singulares com a morte, o cadáver passa a ser uma
coisa, ainda que se trate de uma coisa extra comercium (cfr. art. 202º, nº2).
V. Decreto-Lei n.o274/99, de 22 de Julho

Direitos de personalidade
Noção: os direitos de personalidade correspondem a um conjunto de direitos subjetivos que incidem
sobre a própria pessoa ou sobre alguns fundamentais modos de ser, físicos ou morais, dessa
personalidade, e de que são titulares todas as pessoas humanas desde o momento do nascimento.
Características dos direitos de personalidade:
• Absolutos
• Gerais
• Extrapatrimoniais ou pessoais
• Irrenunciáveis ou indisponíveis
• Inalienáveis ou intransmissíveis
• Da sua lesão podem resultar danos patrimoniais e danos não patrimoniais

Direito geral de personalidade e direitos especiais de personalidade

Art. 70º, nº 1 Arts. 72º e ss.

a) Direito à vida é inviolável a) Direito ao nome – abrange o uso exclusivo


b) Direito à integridade física e psíquica do nome
c) Direito à saúde, ao repouso, à tranquilidade, b) Direito ao pseudónimo
ao sono e à qualidade de vida é uma c) Direito à imagem
manifestação do direito à integridade física d) Direito à reserva sobre a intimidade da vida
d) Direito à inviolabilidade moral privada
e) Direito à honra e) Direito a escritos confidenciais
f) Direito à liberdade

Consentimento do lesado (Arts. 81.o, n.o1, 280.o, n.o2, e 286.o)


- limites - o caso das intervenções cirúrgicas
- modos de consentir (artigo 217º) - o caso dos transplantes (Lei n.º 12/93, de 22/4)

Incapacidade de gozo de direitos


Incapacidade de gozo absoluta

Noção: se falta a aptidão para ser titular de direitos e de estar adstrito a vinculações, estamos
perante uma incapacidade de gozo de direitos.

Regra: por inerência ao conceito de personalidade, todas as pessoas podem ser sujeitos de quaisquer
relações jurídicas (art. 67º)

Exceções:
1. Incapacidades nupciais (arts. 1601º e 1602º)
2. Incapacidades de testar (art. 2189º)
3. Incapacidade para perfilhar (art. 1850º)
4. Incapacidade dos menores, quando não emancipados, e dos interditos e inabilitados, que não o
sejam por anomalia psíquica, para representar os seus filhos e administrar os seus bens no âmbito
do exercício das responsabilidades parentais (art. 1913º, nº 2)

Quando um dos sujeitos intervenientes no negócio sofre de uma incapacidade negocial de gozo,
esse negócio é nulo, sendo que essa nulidade é insuprível. Mas v. arts. 1631º, al. a), e 1861º.

Incapacidade de exercício de direitos


Noção: se a aptidão para atuar juridicamente, exercendo direitos e cumprindo deveres, adquirindo
direitos ou assumindo vinculações, por si, pessoal e livremente faltar, estamos perante uma
incapacidade de exercício de direitos.

Regra: todas as pessoas têm capacidade de exercício de direitos, tal decorre do facto de, em
princípio, quando se atinge os 18 anos de idade ou se verifica a emancipação se adquirir plena
capacidade de exercício de direitos (arts. 130º e 133º)

Exceções:
1. Menoridade (arts. 123º e ss.)
2. Maior Acompanhado (arts. 138º e ss.)
3. Casamento (arts. 1678º e 1682º e ss.)
4. Situação do insolvente (CIRE);
5. Incapacidade natural acidental (art. 257º) – Mota Pinto entende que é vício da vontade

Quando um dos sujeitos intervenientes no negócio sofre de uma incapacidade negocial de exercício,
esse negócio que celebrou é anulável, e a anulabilidade é suprível, por meio de:

a) Representação legal

b) Assistência

Incapacidade dos menores (arts. 122.o e ss)


Quem é menor? Ver art. 122º

Regra geral: o menor carece de incapacidade de exercício de direitos (art. 123º). V também art. 131º

Exceções:
1. Praticar os atos previstos no art. 127º;
2. Contrair validamente casamento (arts. 1601º e 1604º)
3. Fazer testamentos, quando emancipados (art. 2189º)
4. Perfilhar, quando tiverem mais de 16 anos (art. 1850º)

Termo da incapacidade (art. 139º). Ver também art. 131º

Efeitos da incapacidade
• Anulabilidade (arts. 125º, nº 1; 287º)
• Legitimidade e prazos (art. 125º, nº 1)
• Sanação (art. 125º, nº 2) e seus efeitos (art. 288º)

Dolo do menor (art. 126º)

Suprimento da incapacidade dos menores

Representação legal (art. 124º)

1. Responsabilidades parentais – arts. 1878º e ss.

2. Tutela (subsidiariamente) – arts. 1921º e 1927º e ss.

3. Administração de bens (eventualmente) – arts. 1922º e 1967º e ss.

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