Você está na página 1de 71

SEBENTA DE TEORIA GERAL

DO DIREITO CIVIL

SEBENTA DA AUTORIA DE:


- BENEDITA SEQUEIRA
- SOFIA PAIS
- JÚLIO SAMPAIO VENTURA
- PEDRO DUARTE MARQUES
Caros colegas,

Com esta sebenta pretendemos facilitar o vosso trabalho realizando assim uma síntese
daquilo que é o essencial da cadeira de Teoria Geral do Direito Civil.
Gostaríamos, no entanto, de acrescentar que a leitura da presente sebenta não substitui
o estudo pelos manuais recomendados pelos professores.
Deixamos aqui expressos desde já os nossos votos de sucesso académico para o qual
esperamos que esta sebenta possa contribuir.
Bom trabalho!

Aula:26/09/17

1
Teoria da parte geral do direito civil, aquilo que será comum aos vários ramos do
direito civil, onde se pode discutir se verdadeiramente o legislador elegeu como comum
tratar da parte geral ou não se é comum, o critério poderá ou não ser discutível. Iremos
centrar-nos naquelas matérias que o legislador elegeu como sendo aspetos comuns às
vários ramos do direito civil e que os autonomizou numa parte geral do código.
Consecutivamente surge o conceito da sistematização alemã de Savigny que foi adotado
pelo código civil de 1900. Esta sistematização autonomizou a chamada parte geral. O
nosso código civil por influencia do alemão adotou esta parte na sua sistematização.

1º nota: esta sistematização adoptada é apenas uma das sistematizações possíveis


2º nota: o código francês tem uma outra sistematização, adotando o plano de gaio, que se
divide em três partes: pessoas, obrigações e contratos, sendo que em termos de conteúdo
pode não ser tão diferente, mas em termos de sistematização é.
Consecutivamente surge os conceitos de conteúdo de sistema interno que corresponde ao
conteúdo e às soluções e do sistema externo que corresponde à parte arrumação da
matéria, consecutiva sistematização).

O nosso código, apresenta diferentes relações jurídicas arrumadas de acordo com o


critério do nosso legislador—> ideia de sistematização presente no conteúdo de sistema
externo.
A estratificação do nosso código ao longo de cinco livro é a seguinte:
- Parte geral (o que é comum e que não é repetido a cada momento, vamos antecipar
num primeiro momento livre, que serve no fundo como introdução/ prefácio aos outros
manuais/direitos).
- Direito das obrigações (matérias que tem a haver com o direito de crédito: relações
jurídicas creditícias em que alguém se obriga a realizar uma prestação, a deixar de
fazer algo ou a dar alguma coisa).
- Direito das coisas (relações sociais que assentam na propriedade, no usufruto, nas
servidões e direito reais limitados, em que o que esta em causa é a titularidade de um
conjunto de poderes relativamente a um determinado bem/coisa. Alguém tem, assim,
um conjunto de poderes sobre um bem e isso significa que os demais indivíduos não
poderão perturbar esses poderes pertencentes à pessoa titular do bem— ex: sou
proprietária do código civil, ninguém poderá perturbar essa propriedade sob pena de
haver responsabilidade).
- Direito da família (relações derivadas do casamento, do parentesco, da afinidade e
adoção)
- Direito das sucessões (transmissão de bens de “mortis causa”).

Percebemos assim que o que está em causa são as relações jurídicas (relações sociais
juridicamente relevantes, que o direito reconhece como importância). Isto leva-nos para a
razão de ser do direito. A necessidade de viver em sociedade justifica a necessidade de
existir direito, devido ao conflito, uma vez que os bens são escassos. Consecutivamente é
necessário resolver-se esses conflitos, em que surge o direito a dirimir esses mesmo
conflitos. Ainda assim podemos distinguir de forma empírica que o direito se manifesta
de duas formas: de uma forma impositiva (algo que é imposto de cima para baixo) ou de

2
uma forma horizontal, enquanto um conjunto de poderes ou faculdades que todos
possuímos no sentido de que “todos temos direitos”.
Em suma, este direito imposto corresponde ao direito público, sendo que esta perspetiva
enquanto direito permissivo corresponde ao direito civil, ao direito privado. O direito
publico é essencialmente composto por comandos, enquanto que o privado é de liberdade
e aquisição.
--> Orlando carvalho dizia “a amizade é um bem escasso, o amor é um bem escasso”.
Como se resolvem esses conflitos? Através da ação direta (numa sociedade menos
desenvolvida) ou do Direito (numa sociedade desenvolvida).

Distinção entre direito privado e direito publico, critérios:

Nas relações jurídico-privadas o espaço que é deixado aos sujeitos nos conflitos de
interesses, são em grande parte dirimidos e composto através do encontro de interesses
entre particulares, os sujeitos é que compõem esses interesses da forma que lhes é
apetecível, embora com algumas balizas impostas pelo direito público, estamos num
campo de auto-concertação de interesses, falamos na auto-criação de regras. (Podemos
falar na criação de direito para as suas relações, mas que tem em vista o respeito pelo
direito publico, pois esse é a sua baliza principal)
— EX: Contrato: é um “regulamento” privado, em que as partes vão criar a sua própria
lei de forma a coincidir os seus interesses divergentes numa relação, embora esta relação
não seja totalmente livre, em que por exemplo a lei proíbe as cláusulas penais excessivas.

Falamos assim na distinção entre direito publico e privado de três critérios:


— dos interesses: no direito público prosseguem-se interesses públicos, no privado
direito, interesses privados. A disposição do CC que impõe ao devedor pagar ao credor
também tem um interesse público das leis serem cumpridas. Assim, o que começa por ser
um interesse público, é também privado. É um critério pouco nítido, e a sua correção deu-
se com o acrescento de um advérbio “predominantemente”. No entanto, é um critério
impraticável. Exemplo: vacinação – qual o interesse? Crítica: em última instância o
interesse público está sempre presente.

— da posição dos sujeitos: paridade e autonomia (direito privado) vs subordinação


(direito público— legalidade e tipicidade). Assim, quando os sujeitos estão numa posição
de igualdade e paridade estamos no âmbito do direito privado; quando os sujeitos estão
numa posição desigual estamos a falar de direito público.
Crítica: o direito público também tem situações em que os sujeitos estão em igualdade:
a) na relação entre pais e filhos é âmbito do direito privado, mas em vez de uma relação
horizontal / de paridade, temos uma relação de subordinação, em que os pais tem
poderes funcionais relativamente ao filho.
b) Na relação das autarquias, na medida em que na relação entre estas não vigora o
principio da autoridade pública, pois aos olhos da legislação vigora o principio da
paridade.

3
— da qualidade dos sujeitos – um sujeito é dotado de ius imperium nas relações do
direito público (um sujeito que atua de acordo com esses poderes), mas este poder não
existe nas relações do direito privado (nenhum sujeito tem o poder de império
relativamente ao outro). É o critério adotado. Assim no direito público: temos uma
relação vertical e em que os sujeitos de acordo com a posição dos sujeitos nas relações
jurídicas têm o ius imperium. Já no Direito privado temos uma relação horizontal, em que
cumpre disciplinar as relações jurídicas em que os sujeitos (que também pode ser o
estado, ou outro ente público) se encontram em posição de paridade, igualdade. Assim,
nas relações de direito privado nenhum dos sujeitos possui “ius imperium”, mesmo que
as relações sejam desiguais.

Não devemos ficar com uma divisão estanque, porque por vezes o mesmo facto
jurídico determina a aplicação de regras de direito publico e regras de direito privado. Ex:
imposto sucessório em que alguém morre, os seus bens são transmitidos por “mortis
causa”, em que o estado vai cobrar o imposto sucessório em que é devido uma quantia ao
estado. Nós para sabermos quem é devedor de imposto temos de resolver o direito das
sucessões, em que há regras imperativas e supletivas. Primeiro temos que, com base nas
regras de direito privado vamos ter que saber quem é o herdeiro, resolvida esta questão de
direito privado, vamos passar ao pagamento do imposto que é de direito público. Outro
exemplo: atropelamento, vamos saber primeiro se foram violadas as regras do código da
estrada que pertence ao direito público em que define a conduta das pessoas na estrada,
para seguidamente para efeitos punitivos sabermos o que definir perante o condutor que
cometeu o atropelamento, sendo que assim a solução civilista de responsabilidade
depende do cumprimento das normas publicas do código da estrada. Em suma, o
facto jurídico pode ser o mesmo, mas primeiramente temos de saber definir e
distinguir as relações privadas e públicas, para além de uma questão de
intelectualidade tem um interesse prático, para saber quais são as vias judiciais
concretas e aplicativas, pois os tribunais não são todos os mesmos (administrativos e
judiciais— comarca, relação e de competência especializada), uma vez que se o
litígio em causa é um litígio de direito público serão os tribunais administrativos ou
fiscais (no caso de competências fiscais) a tratar. Se o litígio em causa é um litígio de
direito privado serão os tribunais judiciais competentes (1ª instância – tribunal de
comarca e tribunais de competência especializada; 2ª instância – tribunal da
relação; e depois - supremo tribunal de justiça).
Assim na definição de responsabilidade civil isto é, na obrigação de indemnizar
os prejuízos sofridos, decorrente de uma atividade de órgãos, agentes ou representantes
do Estado está sujeita a um regime diverso, consoante os danos são causados no exercício
de uma atividade de gestão pública ou de uma atividade de gestão privada por parte do
Estado. Caso os danos resultem de uma atividade de gestão publica, os pedidos de
indemnização são apreciados pelos Tribunais Administrativos e existe lei própria (lei
67/2007), mas se estivermos perante uma atividade de gestão privada do Estado já
serão os Tribunais Judiciais e encontramos solução no CC, art.501º (responsabilidade
civil do estado naqueles casos em que o estado provoca danos, mas não está a atuar com
o seu poder de império).

4
Em contexto de conclusão: o direito privado rege-se por uma ideia de maior liberdade, já
que “tudo o que não é proibido é permitido” e em que existe a possibilidade de conferir
poderes para se auto-regular, e em contrapartida no direito público “tudo o que não é
permitido é proibido”.
— no direito privado os sujeitos podem actuar livremente com exceção de regras
imperativas que condicionam a atuação;
— no direito público a competência dos órgãos administrativos é aquela que estiver
ditada pela lei, sendo que só é licito o que for permitido, isto depois acaba por se
repercutir no tipo de normas que cada divisão de direito inclui. No direito publico há mais
regras de caracter imperativo ao contrário do direito privado, havendo mais regras de
carácter supletivo.

Quando contrapomos direito privado e publico, eles não surgem em simultâneo, em que
por exemplo surge primeiramente o direito privado, em que por regras as relações
jurídicas são reguladas pelo direito privado, surge como exceção as relações em que
intervém o estado como autoridade publica e faz uso das suas pregorrativas. Há uma
tendência de o direito privado regular todas as relações sociais. Ex: responsabilidade civil
do estado (art. 1304º CC).
Assim quando as regras de direito publico regulam a propriedade do estado não regulam
em termos exclusivos, apenas em termos especiais, pois o direito privado regula o regime
base.

Dentro do direito provado, o direito civil é direito privado comum, sendo que o direito
civil não se coloca na mesma posição dos outros ramos de direito, porque este é direito
privado comum, o que significa que em tudo o que não estiver especialmente previsto
pelos direitos privados especiais vão se aplicar as regras do direito civil, ou seja, ele surge
como o topo, pois os especiais não esgotam o regulamento das relações que tratam, sendo
que a base está no direito civil.—> Direitos privados especiais:
Direito comercial (primeiro a autonomizar-se porque as relações comerciais exigiam um
tratamento especial, uma maior celeridade) (Código Comercial - são atos
comerciais os previstos na lei comercial e os atos praticados por
comerciantes, a menos que o ato seja de natureza civil ex: um comerciante
casar-se, um comerciante adotar uma criança. Quem e comerciante? Os
comerciantes em nome individual e as sociedades comerciais). Aos atos
comerciais independentemente do sujeito aplicamos a lei comercial; aos atos
praticados por sujeitos comerciais que não sejam de natureza civil aplicamos
a lei comercial. Temos então soluções próprias que diferem das soluções do
direito civil. Antes de aplicarmos o direito civil temos de excluir a
possibilidade da relação ser tratada pelo direito comercial. Na lei comercial
vale a regra da solidariedade entre os devedores – art.6º código comercial; CC
art.513º.
Direito Laboral – dentro do direito do trabalho há uma parte privada e outra publica.
Contrato de trabalho aparece definido no CC – art.1152, mas ver art.1153º
que remete para a legislação especial. No direito do trabalho temos lei própria
(código do trabalho), lei processual própria e tribunais próprios. Tudo e
tratado a parte. No direito comercial apenas temos legislação própria.

5
O direito civil é direito privado e não é o único ramo de direito privado. Existem outros
ramos de direito privado que se autonomizaram historicamente: direito comercial e
direito do trabalho, direito do consumo, direito social, direitos de autor. Não temos
coincidência entre direito privado e direito civil. Ainda assim, o direito civil não se
encontra no mesmo patamar que os outros ramos de direito privado. O direito civil,
dentro do direito privado, assume uma posição especial. É direito privado comum:
significa que quando estes ramos de direito privado se foram autonomizando a
preocupação do legislador foi precisamente prever um conjunto de regras que se entendeu
que deveriam ser distintas daquelas previstas no código civil, preocupação em regular de
forma diferente aquilo que o merecia. Mas o legislador não voltou a repetir nestes
complexos de regras (código do trabalho, comercial, etc.) aquilo que esta previsto no
código civil e é comum a estes ramos de direito privado. O interesse do direito civil
extravasa o âmbito do próprio direito civil porque é aplicável a todas as relações de
direito privado, desde que não reguladas por legislação especial.
Num patamar diferente encontra-se o direito internacional privado: é direito privado,
mas também não se encontra no mesmo plano que o direito civil ou os direitos privados
especiais. Não regula em concreto as soluções, dá-nos as regras de conflito que nos dizem
qual é o direito que naquele caso deverá ser aplicado. Só depois da reposta do DIP é que
iremos aplicar a ordem jurídica e saberemos a solução final. A partir do artigo 25º até ao
65º do código civil encontram-se normas de DIP.
O direito civil encerra a disciplina das relações de convivência em sociedade dos sujeitos,
regula os conflitos que se geram na vida social, na interação com os outros sujeitos,
assenta em grande medida na autonomia da pessoa e na igualdade dos sujeitos, é um
instrumento privilegiado no desenvolvimento da personalidade.

Aula: 02/10/17

O direito civil é direito privado, mas não é o único ramo de direito privado. Existem
outros ramos de direito privado que se autonomizaram do direito civil concretamente o
direito comercial e o direito de trabalho. Um exemplo de outro ramo é o direito do
consumo, em que existe uma série de legislação avulsa dotada às relações entre partes e o
consumidor, por isso se entende merecer uma analise distinta do código civil. (ex.
Contratos de compra e venda, concessão de crédito); direitos de autor e o direito bancário
que se autonomizou do direito comercial.

O que importa focar é que hoje não temos coincidência entre o que é direito privado e o
direito civil. Mas ainda assim, embora o direito civil seja direito privado já que se
encontra no seio de direito em sentido subjectivo, pois o direito civil disciplina as
relações de convivência em sociedade e atividade e conflitos dos sujeitos que se geram na
vida social e na interação. Assim, assenta na autonomia e na igualdade do sujeitos, o
direito civil não se encontra no mesmo patamar que os outros ramos de direito privado,
sendo que o direito civil dentro do direito privado assume uma posição especial, é
direito privado “pulo”. Isto significa que quando estes ramos se foram autonomizando a
preocupação do legislador foi precisamente prever um conjunto de regras que se entendeu

6
que deviam de ser distintas daquelas previstas no CC. Mas o legislador não voltou a
repetir nestes complexos de regras e nas diversas legislações aquilo que está previsto no
CC e que é comum a esses ramos de direito privado, o que apenas se regulou foram
aqueles aspetos que se devia dar tratamento distinto. O interesse do direito civil extravasa
o próprio direito civil, uma vez que é aplicado a todo o direito privado, a menos que
exista regra especial prevista para essas relações.
O direito civil é a base de regulamentação de todas as relações do direito privado,
mesmo aquelas que são ramos de direito privado autónomo. Assim, tudo o que não
estiver previsto pelos direito privados especiais vão-se aplicar as regras de direito civil
geral.

Noutro patamar enquanto direito privado autónomo é o direito internacional privado, mas
também não se encontra no mesmo plano que o direito civil e os outros direitos privados
especial. A razão deve-se ao facto de: os elementos das relações terem origens jurídicas
distintas. (ex. Casamento entre pessoas de países diferentes e pretendem divorciar-se)—
ou seja, antes de termos a solução final para um problema em concreto nós temos um
problema prévio é de saber que direito é que se aplica. Isto leva a que esta solução seja
nos dada pelo direito internacional privado, mas não regula nem dá as soluções
concretas para o problema, ele dá nos é as regras de conflito que nos dizem que qual
é o direito que se deve aplicar naquele caso. Assim só depois da resposta por parte do
direito internacional privado é que vamos saber a resposta para o problema. O direito
internacional privado surge nos primeiros capítulos , precisamente a partir do artigo 25º
até ao 65º.

Fontes do direito civil: não no sentido filosófico (como surge), mas interessa sim
onde é que está o direito, ou seja onde vamos buscar as regras de aplicação.
— Lei
— Normas corporativas, embora não exista uma leitura uniforme, pois hoje em dia
fazemos uma leitura destas normas de acordo com o quadro constitucional que temos.

Onde encontramos as fontes do TGDC:

— CRP: os princípios constitucionais que nos interessam são as normas relativas a DLG
(artigos 24º e seguintes); artigo 36º relativo à família, casamento e filiação; direito à livre
iniciativa económica (artigo 61º); garantia de propriedade (art. 62º) ; e o principio da
igualdade que é o principio base onde vamos buscar a essência do direito civl no artigo
13º;
— CC: adotado em 1966, seguindo a raiz germânica e a sistematização pandectista de
Savigny, sendo que apresenta a divisão externa em cinco livros, quatro divisões da parte
geral que contem a teoria do normativo, as regras de direito privado e a teoria geral do
DC. No artigo 1.º do CC vemos que nos é dito que são fontes de Direito a Lei e as
normas corporativas. No que diz respeito às normas corporativas (NC) não há uma leitura
uniforme, pois hoje em dia fazemos uma leitura destas normas de acordo com o quadro
constitucional que temos.
Entendemos por NC, as normas de auto-regulação das corporações, por exemplo, as

7
normas que a Ordem dos Advogados produz para auto-regulação dos advogados. Para
que haja força vinculativa dessas disposições é necessária intervenção da chancela dos
órgãos legislativos, ou seja, têm de ser aprovadas mais tarde por DL ou L. Mas existem
outros mecanismos de auto-regulação profissionais, ou seja, disposições que se destinam
a assegurar boas práticas dentro das corporações e que produzem efeitos de D. As NC
têm um papel despiciendo neste domínio, o que nos cinge à Lei. Existem algumas
manifestações dos usos no art. 3.º, não contrários à boa-fé, mas estes também não são por
si vinculantes, tendo de ter intermediação da lei, pois carecem de força legal.
O CC tem ainda em conta a equidade, decisão “ex aequo et bono”, mas de acordo com o
artigo 4º.
O costume e a jurisprudência não são reconhecidos enquanto fonte de direito.
A lei é a fonte mais importante.
Como é que a Teoria Geral recebe estas fontes?
No topo da hierarquia das normas, temos a constituição: o código civil não pode
contrariar a constituição e é hierarquicamente superior. Logo, o primeiro diploma
a considerar é a CRP. É longa, complexa e muito abrangente, portanto a parte que
mais diz respeito à TGDC é a parte relativa aos princípios da conformação do
Direito Civil (DC), a começar pelos Direitos, Liberdades e Garantias (DLG),
nomeadamente, a parte dos Direitos das pessoas. Temos como exemplos do art.
13.º, que formula o princípio da igualdade, cada vez mais trabalhado e elaborado
em todo o D Privado e também o art. 36.º na medida em que estabelece os
princípios fundamentais da Família, Casamento e filiação, bem como o artigo
respeitante à propriedade.
A lei ordinária, que tem como assento fundamental o CC;
Uma série de diplomas avulsos, que têm completado, desenvolvido ou inovado o
conteúdo de D do CC.
O código civil de 1966 continha uma série de regras que estavam em conflito direto com
a constituição de 1976. Quando esta surgiu provocou uma revolução no direito civil e o
código foi alterado em 1977. Princípios constitucionais: normas de direitos fundamentais
nos artigos 24º e seguintes. Artigo 36º da CRP: levo a alterações profundas no CC porque
o homem era considerado superior à mulher, os filhos de “fora” não eram considerados
iguais. Princípio da igualdade é o princípio basilar do direito civil.
O código civil não é a primeira compilação de direito civil, tivemos as ordenações no
século XV. O nosso código não é o primeiro código nem a primeira codificação: tivemos
o código de Seabra (1º Código Civil português, de 1867, elaborado pelo 1º Visconde de
Seabra) marcadamente influenciado pelo liberalismo, tinha uma sistematização diferente
– 4 partes, a capacidade civil, aquisição de direitos, o direito de propriedade e ofensa aos
direitos e sua proteção, organização original que não foi continuada pelo código de 1966.
É aprovado em 1977 e entra em vigor em 1978, acabou por sofrer alterações que não
foram inseridas no código, surgiu legislação avulsa.

8
Teoria Geral do direito civil
Aula: 03/09

Na aula anterior falamos das fontes do directo civil, hoje vamos falar do processo e plano
de sistematização do nosso CC, do ponto de vista externo e do ponto de vista interno.

— O código civil é onde esta contido o direito civil de grosso modo.


— O código segue o plano de Savigny, sendo de raiz germânica, apresentando um plano
de sistema externo (plano de exposição das normas do direito civil) com o plano
interno do direito civil (princípios que norteiam o direito civil relativamente às
conexões materiais entre as diferentes matérias, podendo ser indecente da
ordenação das matérias), já que o sistema interno apresenta-se como um “espelho fiel
da realidade normativa em si mesma”. É de salientar que o sistema externo padece de
uma incoerência de critérios, já que mistura um critério institucional com um critério
estrutural.E quanto à opção do legislador português pela sistematizar germânica e,
designadamente, pela parte geral, recordamos que o CC de 1966 remonta o processo de
aceitação, pela generalidade da doutrina e pela ação do sistema das pandectas. Contudo
isto não significa que com a adoção desse sistema tenham igualmente sido aceites teses e
soluções da “jurisprudência dos conceitos”. Pelo contrario importa sublinhar que é
bastante positivo o balanço relativo ao sistema interno no código civl português de 1966 e
pela autonomização pelo CC de uma parte geral, já que justifica e reforça a existência de
uma disciplina que a tome como objecto de analise, facilitando o conhecimento e a
compreensão da lei e por conseguinte a sua aplicação na prática.
Consecutivamente, é igualmente legítimo utilizar como critério de exposição e
sistematização do direito a noção de relação jurídica que envolve o conceito de direito em
sentido subjectivo, sendo que é este conceito que está na base da sistematização do nosso
atual código civil : Parte Geral; Direito das Obrigações; Direito das Coisas; Direito da
Família e Direito das Sucessões. Assim estabelece-se uma parte geral que engloba os
temas relativos aos elementos comuns às outras partes e estas, por sua vez, correspondem
ao direito aplicável a quatro espécies ou modalidades diversas de relações jurídicas.
Acresce que na sistematização da parte geral, o Título II do Livro I se refere
expressamente às relações jurídicas e contem uma regulamentação dividida em quatro
subtítulos cada um dos quais referente a um dos elementos da relação jurídica.

Esta nossa sistematização deve-se a duas razões:


— uma razão de índole teórica baseada na alteridade do direito que consiste na ideia
em que o direito visa regular a vida de relação, distribuição de recursos e conflitos entre
pessoas
— uma razão de direito positivo baseada na sistematização da sua parte geral no
esquema da relação jurídica, já que segundo Orlando de Carvalho, ainda que relação e
situação sejam ideias entre si insubstituíveis, “toda a relação é estatisticamente situação e
toda a situação é dinamicamente até relação”. A outra razão de que se adequa melhor a
palavra relação é o facto de pessoalidade lateralidade serem noções que se recobrem
mutuamente, sendo que a conflitualidade é a marca mesma do jurídico, sendo que o
termo relação é a marca que se explicita isso mesmo.

9
Tal com vimos o nosso CC assenta na sistematização nas relações jurídicas de direito
privado (obrigações, direitos reais, direitos da família e direitos sucessórios), que é feita
preceder de uma parte geral. Nesta parte geral atende-se, ainda além das normas sobre as
leis, sua aplicação e interpretação e aplicação à disciplina das relações jurídicas em geral,
mediante uma disciplina separada de cada um dos elementos da relação jurídica (sujeito,
objeto, facto jurídico e garantia)

1- Parte Geral: conjunto de normas do artigo 66º a 397º, contendo dois títulos: das
leis, sua interpretação e aplicação (art.1º a 66º) e das relações jurídicas (66º a 397º)
2- Direito das Obrigações: conjunto de regras das obrigações, dividindo-se em duas
partes: das obrigações em geral (iniciando se no artigo 397º a 873º), e a parte dos
contratos em especial iniciando-se no artigo 874º (sendo o primeiro contrato especial) até
ao artigo 1250º.
3- Direito das Coisas/reais: subdivide-se em seis títulos: na posse (1251º a 1302º), na
propriedade (1302º a 1438º ), no usufruto, uso e habitação (1439º), no uso (1484º nº1), na
habitação(1484º nº2) e enfiteuse (1491º a 1523º), no direito de superfície (1524º a 1542º)
e servidores prediais (1543º a 1575º).
4- Direito da Família: ela também tem uma parte geral (do artigo 1576º a 1586º) e
depois as partes especiais que são e estão divididas em quatro: casamento (1587º a 1759º
D), filiação (1796º a 1972º), adoção (1973º a 2002º) e alimentos (2003º a 2023º), ou seja
tudo o que é necessário à sobrevivência do sujeito do ponto de vista material e imaterial,
sendo isto um conceito dinâmico porque depende da sociedade em que o indivíduo se
insere.
5- Direito das Sucessões: inicia-se com uma parte geral (2024º a 2130º) e depois divide-
se em três títulos que começa pelas sucessões legítimas (2131º a 2154º) , legitimária
(2155º a 2177º) e testamentária (2178º a 2334º)

Livro I: inclui-se a interpretação e integração e tem a teoria da relação jurídica.

Livro II: Direito das Obrigações— a sua noção está no artigo 397º, que define que as
obrigações são um vinculo pelo qual uma pessoa foca adstrita para com a outra à
realização de uma prestação. Os sujeitos desta relação são o credor (sujeito ativo que
pode exigir a prestação) e o devedor (o que tem o dever de prestar- o sujeito passivo). O
exemplo disto é o caso do dever do comprador pagar o preço, do dever de pagar o aluguer
ou a renda e por parte do locatário, de entregar a coisa vendida por parte do vendedor,
etc… É de salientar que numa relação de compra e venda, que nesta relação termos dois
credores e dois devedores, assumem assim ao mesmo tempo a posição passiva e ativa na
relação jurídica.

Livro III: Direito das Coisas/Reais— há relações em que um sujeito tem um poder
genérico e imediato sobre uma coisa, isso significa que nestas relações jurídicas o
sujeito ativo será aquele que tem o poder sobre a coisa, e os sujeitos passivos são os
demais sujeitos, ou seja, todos aqueles que estão obrigados a não reprovar o uso da
coisa pelo titular do direito/sujeito ativo. Dentro dos direitos reais podemos fazer 3
distinções:

10
— direitos de gozo: incidem sobre uma coisa alheia, sendo que estes direitos conferem
ao titular o uso e a fruição de uma coisa. São os direitos de propriedade (1302º a 1438º),
de usufruto (1439º a 1483º), de superfície (1524º a 1542º) e de servidão (1543º a 1575º)
— direitos de garantia: direitos que se destinam a garantir uma obrigação, mas não se
encontram propriamente no livro das coisas, ou seja são considerados direitos
instrumentais que visam garantir uma relação de crédito, tais como a consignação de
rendimentos (656º a 665º); o penhor (666º a 685º); a hipoteca (686º a 732º) , os
privilégios creditórios (733º a 753) e o direito de retenção (754º a 761º).
— direitos de aquisição: direitos que asseguram preferencialmente ao titular o ingresso
na titularidade de um direitos real de gozo— são os direitos de preferência no artigo 421º
e 1410º e o contrato promessa de eficácia real.

Livro IV: Direito da família: disciplina as relações emergente do casamento, do


parentesco, da filiação e da adoção. Inicia-se no artigo 1576º e termina no artigo 2023º.
O direito da família é mais vulnerável às alterações sociais do que os restantes direitos.
— casamento: 1577º
— parentesco: 1578º
— filiação: 1584º
— adoção: 1586º

Ex. O sujeito A teve dois filhos B e D, consecutivamente estes tiveram os filhos C e E,


que são primos e são netos de A. Seguidamente D contraiu matrimónio com X. Quais são
os graus de parentesco entre os sujeitos?
Entre A e B: é uma linha recta de parentesco, de primeiro grau.
Entre B e C é uma linha recta de segundo grau, já que segundo o artigo 1581º nº1 em
caso de linha reta conta-se os graus de acordo quantas pessoas formam a linha de
parentesco, excluindo o progenitor.
Entre B e D, sendo irmãos é uma linha colateral, de segundo grau, segundo o artigo
1581º nº2, já que na linha colateral contam-se pela mesma forma que a linha reta, mas
subindo por um dos ramos e descendo pelo o outro, sem contar o progenitor que é o
sujeito A.
Entre C e E, que são primos, é uma linha colateral de 4º grau
Entre B e E ou C e D que são tio e sobrinho é uma linha colateral de terceiro grau.
Relativamente ao sujeito X, ele é afim dos parentes de D, segundo o artigo 1584º que
nos dá a definição de afinidade. Relativamente aos graus, utiliza-se o artigo 1585º, em
que os graus são definidos conforme as regras usadas nos artigos 1580º e 1581º.

Assim:
— linha reta: um dos parentes descende do outro (1580º nº1)
— linha colateral: nenhum dos parentes descende do outro, ambos procedem de um
progenitor comum (ex: irmãos, primos,…)
— na linha reta há tantos graus quantas as pessoas que formam a linha de parentesco,
excluindo o progenitor (art. 1581º nº1)
— na linha colateral os graus contam-se pela mesma forma, subindo por um dos ramos

11
ou descendo pelo outro, mas sem contar o progenitor comum (art. 1581º nº2).

O DF (ART. 1576 ao 1585 CC) disciplina as relações do Casamento, Parentesco, Filiação


e Adoção. O Casamento não gera parentesco.
A noção de casamento foi sofrendo evolução ao longo dos anos. Em 2000 (?) foi
suprimida a expressão “de sexo diferente”. 1977 desapareceu “que pretendem constituir
LEGITIMAMENTE família”
Existem dois tipos de parentesco: ou uma descende da outra ou duas opções sucedem de
um progenitor comum – ART. 1580 diz que é parentesco em linha reta em relação ao pai
e filho, filho e neto; em linha colateral em relação aos irmãos e aos primos, uma vez que
não há descendência.
Noção de afinidade: já tem a ver com o casamento – relação que liga um dos conjugues
aos parentes dos outros conjugues.
Noção de adoção: art.1586º. e um vinculo entre duas pessoas que pretende ser
semelhante a filiação natural, mas que se estabelece de acordo com a lei
independentemente dos laços de sangue.
O direito da família é muito mais permeável a alterações sociais, tem sido muito mais
alterado ao longo dos tempos do que o direito das obrigações ou mesmo os direitos reais.

Livro V: Direito das sucessões— regula as relações jurídicas que operam por
transmissão dos bens de mortis causa. (definição = art. 2024º). A sucessão pode ser
feita:
— pode ser afastada da vontade do seu autor, de acordo com o artigo 2027º
tratando-se da sucessão legítima. Na sucessão legítima, o sujeito é o “de cujos” e
sucessível é o que se pode suceder, o que já sucedeu é o sucessor. As classes de
sucessíveis está prevista no artigo 2133º.
— é imposto de forma forcada, sendo imperativa de forma fiscal, porque reserva
parte do património da sucessão a certos sucessores, que estão previstos anteriormente e
legalmente pelo sucessor (não podem ser afastados dessa herança), concretamente de
acordo com o artigo 2157º em que faz parte da sucessão legal, uma vez que a legítima
surge da legitimária, já que de acordo com o artigo 2156º, a legítima corresponde à
porção de bens de que o testador não pode dispor por ser legalmente destinada aos
herdeiros legitimários. Assim a parte do património do sujeito “de cujos” está
reservada por lei aos sucessíveis (cônjuge, ascendentes e descendentes) segundo o
artigo 2157º.
— por vontade/ voluntariamente pelo sujeito sucessor: a sucessão testamentária
(artigo 2179º - o testamento é um negocio jurídico unilateral e revogável pelo qual uma
pessoa dispõe para depois da morte, de todos os seus bens ou parte deles)

Sucessão testamentária: o testamento embora seja um contrato, apenas temos uma


única declaração de contrato, é assim um único negócio jurídico.
VS
Sucessão contratual: temos sempre pelo menos duas declarações.
Razão: embora a sucessão contratual resulte de um efeito de mortis causa, a lei não
permite contratos com efeitos mortis causa, existe assim apenas sucessão

12
testamenteira, de acordo com o artigo 2028º nº2.

Síntese: A sucessão legal pode ser legítima ou legitimária e a voluntária pode ser
contratual ou testamental.
Sucessão legitimária: aquela é que é forçada, imperativa, que a lei impõe, porque
reserva parte do património a certas pessoas – quota indisponível, concretamente de
acordo com o ART. 2157. Quando alguém morre e deixa o cônjuge, os filhos que deixa
são obrigatoriamente seus herdeiros e o cônjuge não os pode afastar; há uma parte do
património que não pode ser tocada, chamada de parte legítima - ART. 2158 – alguém
morre, tem um cônjuge, não tem ascendentes nem descendentes, então a parte legítima é
metade; se deixar cônjuges e filhos, a legitima é 2/3 da herança; se só houver
descendentes, a legítima é metade ou 2/3, consoante exista 1 só filho ou dois ou mais)
Sucessão legítima: pode ser afastada por vontade do autor (caso faça um
testamento) – ART 2131º e seguintes. Se nada se fizer relativamente a toda a herança, a
lei estabelece um conjunto de regras que se aplicam à quota disponível (o restante) e que
se chama sucessão legítima, as tais regras supletivas (se não houver nada dito em sentido
contrário, se não houver um testamento) – ART. 2131 (herdeiros legítimos: cônjuges,
parentes e o Estado), ART. 2133 (ordem pela qual são chamados os herdeiros, sempre
que nada seja disposto em sentido contrário). Os 2/3 são dados aos forçados e o 1/3 aos
herdeiros legítimos. Se alguém morre e deixa mulher e dois filhos, primeiro temos a
questão da sucessão legitimária, que nos diz que o cônjuge e os filhos têm direito a 2/3 da
herança; e sobram 1/3, que era disponível, mas ele não dispôs (isto é, não fez testamento),
valendo as regras supletivas, que é a sucessão legítima, que diz que na primeira classe de
herdeiros legítimos está o cônjuge e os descendentes (assim recebem tudo, mas recebem a
títulos diferentes), sendo que a segunda classe são o conjugue e os ascendentes, depois
irmãos e seus descendentes. Depois outros colaterais até ao 4º grau, e, por fim o 1/3 vai
para o Estado (caso se esgotem as possibilidades anteriores).
A outra possibilidade é a sucessão voluntária, manifestação voluntária “post mortem” –
temos duas hipóteses: a sucessão testamentária (por testamento) e a sucessão contratual
(por contrato – art.2028º). Tanto o testamento como o contrato são negócios, sendo que
no testamento temos apenas aquela forma de contrato (quando eu morrer eu quero que os
meus bens sejam assim distribuídos), ao contrário do contrato em que há duas
declarações (a declaração que dá e a declaração que aceita). Esta distinção é muito
importante, porque a sucessão contratual, que resulta de um contrato com efeitos mortis
causa, é em regra proibida – os contratos só podem ser feitos em vida, o legislador
duvida de contratos com essa causa. Quando é que ele é admitido? A lei admite os factos
sucessórios nas convenções inter-nupciais – antes do casamento, com vista ao casamento.
Pode-se formar um contrato com efeitos sucessórios e o Estado pode assumir como um
testamento. A vontade do autor da sucessão é manifestada através do testamento, portanto
- remissão para o ART. 946º nº2 = Leva a que estes pactos sejam automaticamente
(sempre que possível) transformados em declarações testamentárias – se a forma de
testamento estiver lá, transforma se automaticamente num testamento.
Conclusão: pela apresentação e rigor de sistematização diríamos que o CC é perfeito, pela
sua longevidade, pelo facto de não ter tido qualquer remodelação particularmente crítica
e de continuar com capacidade de prover às necessidade públicas. Esta estrutura não é

13
consensual do ponto de vista da sistematização jurídica. —> contudo, quais são as
debilidades?

Críticas à sistematização (sistema externo) do código:


Vários livros do código não são autonomizados com base no mesmo critério (no direito
das obrigações está em causa a estrutura, já no direito da família tem a ver com a
fonte da relação jurídica). É sobretudo criticável atendendo à forma como a
pandectística (base do nosso CC) se apresenta enquanto sistema perfeito. Por
outro lado, há campos que deveriam ser autonomizados. Mereciam uma sede
própria, um tratamento autónomo e isso até nos levaria a uma crítica de caráter
mais filosófico: CC está estruturado com base no conceito operativo de relação
jurídica que pode ser dissecada em sujeito, objeto e facto jurídico e a pessoa
aparece como um elemento ao lado do objeto e do facto jurídico (pouca
importância da pessoa).—> A incoerência - porque o critério de partição dos
livros do código não é uniforme, pois há dois que são definidos pela estrutura da
RJ que regulamentam (caso do direito das obrigações e no direito das coisas) e
outros dois que são isolados através da fonte da relação jurídica e não pela sua
estrutura (direito da família e das sucessões).É um crítica lógica, mas que acaba
por não ter grande repercussão na valia do código, pois o sistema externo do CC
não compromete a eficácia do sistema interno
Despersonalização do direito civil: olhando apenas a sistematização do código, não
percebemos a posição fundamental da pessoa no direito civil (a pessoa aparece
apenas como um elemento da sistematização jurídica, aparece como o objeto, não
há nenhum destaque para a pessoa). Esta importância da pessoa humana não é
revelada pela sistemática do código. No sistema interno, a pessoa é colocada
como personagem principal do direito Civil. Existe assim quem afirme que o CC
é despersonalizado, porque a sua estrutura baseia-se na RJ, sendo o método
técnico utilizado para alinhar sistema externo e interno do CC.
Referência à técnica legislativa utilizada no código: formulação de conceitos gerais e
abstratos com um elevado grau de segurança – utiliza simultaneamente cláusulas
gerais (bons costumes, ordem publica – o que permite uma maior adaptação às
vicissitudes e mantém as soluções legais atualizadas) e conceitos indeterminadas
(diligencias do bom pai de família – adaptação e constante atualização) (ver a
diferença em ID*). Esta é técnica adoptada pelo nosso legislador, mas não e a
única possível: há ordenamentos em que há uma taxatividade de todas as
situações possíveis.
Linguagem utilizada pelo legislador é uma linguagem técnica, com um caráter
especializado (vantagem da sua precisão) – o nosso código civil não se destina a
ser lido por não juristas. Os juristas inter-medeiam: norma e beneficiário da
norma no direito civil. Falamos assim de um apuro de linguagem técnica que em

14
termos de aplicação permite soluções muito mais certeiras e sem margens para
grandes duvidas – introdução a uma linguagem cifrada é o que se faz em TGDC.

Aula: 09/10/17

Direito constitucional e Direito Civil:


As normas de direito civil estão fundamentalmente contidas no CC. Ainda assim,
existem alguns diplomas avulsos que regulam, igualmente, matérias do direito privado
comum, ex: algumas normas dos Códigos do Notariado, do Registo Predial e do Registo
Civil.
Porém, existem problemas de direito civil que podem encontrar a sua solução noma
norma de direito constitucional. A CRP contém uma “força geradora” de direito privado.
As suas normas não são meras diretivas programáticas de caráter indicativo, mas normas
vinculativas que devem ser acatadas pelo legislador (como decorre do princípio da
constitucionalidade – ART 3º, nº 2 e 3 da CRP), pelo juiz e demais órgãos estaduais.
As normas constitucionais, designadamente as que reconhecem direitos fundamentais,
têm, também, eficácia no domínio das relações jurídico-privadas - ART. 18º, nº1 CRP: as
normas têm eficácia imediata nas relações com particulares. Todas as entidades privadas
estão sujeitas a um dever geral de respeito e não perturbação destes DLG elencados na
CRP– todos os negócios jurídicos que contrariem estas regras relativas a DLG
necessariamente não poderão ser válidos e serão suscetíveis de desencadear
responsabilidade civil. Ex: se contrariar o que está previsto no ART. 27 da CRP –a e b
celebram um contrato, em que B prende A e paga-lhe X por ano (A sujeita-se a estar
preso para B lhe pagar) – este negocio é nulo porque contraria o direito a liberdade). Por
outro lado, também se alguém se obriga, por exemplo, a se tornar partidário de um certo
partido politico mediante contrato, esse contrato será nulo, visto que a CRP diz-nos que
existe uma liberdade politica – ART.51º CRP, logo, esta matéria não poderá ser objeto de
um contrato.
A aplicação das normas constitucionais à atividade privada faz-se:
1. Em alguns casos acontece que temos quase uma repetição das regras
constitucionais no CC – nomeadamente em sede de direitos de personalidade
– ex: ART. 72º CC e ART. 26º CRP.
2. Receção das normas constitucionais através das cláusulas gerais e conceitos
indeterminados do CC – esta é a utilização mais frequente. Estas clausulas
gerais e conceitos indeterminados permitem esta constante atualização do CC
relativamente as regras constitucionais - papel importante do ART. 280º
quando se refere a ordem pública e ART. 70º do CC.
3. Em casos absolutamente excecionais, quando no direito civil não encontramos
norma paralela à CRP socorrer-nos-emos diretamente à norma constitucional,
ex: ART. 35º CRP sobre a utilização da informática, não encontramos no CC
algo tão especifico sobre a utilização da informática.

15
Nas relações jurídico-privadas a proteção dos direitos constitucionais é feita
através de instrumentos próprios do direito privado, concretamente: a invalidade
dos negócios em causa e a responsabilidade civil (possibilidade de ser ressarcido
o dano). Estes institutos permitem assegurar a efetividade dos direitos
constitucionais.
A nulidade decorre da contrariedade a uma norma do CC, sendo que não é na
CRP que encontramos as soluções para estes contratos - não há qualquer alusão
à nulidade ou a responsabilidade civil. É o CC que nos dá as consequências para
estas violações. No caso da nulidade – ART. 280 CC – cláusula geral em matéria
de requisitos do objeto dos negócios – é nulo o negocio contrário à ordem
publica – esta cláusula é integrada pelos princípios constitucionais. Quando no
CC no ART. 280º apelamos à ordem pública e dizemos que a ordem pública é
um limite àquilo que pode ser objeto de um contrato, através desta cláusula
rececionamos os princípios constitucionais relativos a DLG. Assim, por
exemplo, é nulo um contrato ou uma cláusula contratual pela qual alguém se
obrigue a professar ou a abandonar certa religião. Esta estipulação contraria o
preceito constitucional sobre liberdade religiosa, cuja doutrina não pode deixar
de entrar no preenchimento do conteúdo da cláusula geral da “ordem pública” –
ART 280º, nº2, desencadeando assim uma consequência jurídica.
Em termos de responsabilidade civil teríamos a sua consequência através de
outra clausula geral – ART. 70º CC- tutela geral da personalidade.
Princípio da igualdade – ART 13º CRP – este principio levou a alterações ao CC em 77
nomeadamente em direito da família, ex: não discriminação dos filhos nascidos
fora do casamento.
De que forma e o que o principio da igualdade se articula com o principio
da liberdade contratual? Diz-nos que temos liberdade de contratar quem
quisermos, mas a decisão de contratar ou não, não pode ser discriminatória.
No entanto, os preceitos constitucionais na sua aplicação às relações jurídicas de
direito privado não podem aspirar as uma consideração rígida, devendo, pelo
contrário, conciliar o seu alcance com o de certos princípios fundamentais do
direito privado – eles próprios conformes à CRP.
Ex: Ninguém pode invocar o princípio da igualdade para impugnar um
testamento e, que o testador beneficie um ou alguns filhos relativamente a
outros.
Ex: Ninguém pode invocar o princípio da igualdade quando num contrate se
estabelece a existência de deveres de segredo e fidelidade, limitadores da
expressão de pensamento.
O principio da igualdade vincula o próprio legislador e também os próprios particulares.
Proibição da discriminação como limite à liberdade contratual. Se contrariarmos este
principio teremos como consequência jurídica a invalidade dos negócios e a
responsabilidade civil.

16
Quando não se cumprem estas regras temos legislação especifica, lei 93/2017 23 agosto
“regime jurídico de prevenção, proibição e de combate a discriminação” - ART. 14º. O
ónus da prova recai sobre quem impede alguém de aceder a certos locais pub ou bens, ou
seja, até se presume a descriminação – inversão do ónus da prova (A tem que provar que
não descriminou).
Questão que esta a ser debatida na UE: geoblocking – impedir alguém de celebrar
contratos nomeadamente na internet em função do país em que está situado. A UE está a
trabalhar sobre isto para impedir o bloqueio de acesso a determinadas pessoas em função
do seu território de origem.
*Lei nº14/2008, de 12 de março

Aula: 10/09/17

Princípios fundamentais do direito civil

Estes princípios formam a ossatura do direito civil, sustentando as normas que os


desenvolvem e dando-lhes um sentido e uma função. Têm o valor de fundamentos
impregnadores do sentido e da função das normas que os acolhem e desenvolvem.
Trata-se de um produto histórico, em cuja gestação concorrem opções fundamentais
sobre a organização económica e social e mesmo sobre a conceção do Homem. Assim,
apesar de os conhecermos hoje sob determinada cristalização não quer dizer que amanhã
não se apresentem de forma diferente.
— reconhecimento da pessoa e dos seus direitos de personalidade: a pessoa é a
própria razão de ser da existência do direito civil. A proteção da pessoa e da sua
personalidade é a própria razão de ser do direito civil. Temos a pessoa como uma
“primus” relativamente à ideia de direito. O direito só é possível na medida em que
regula as relações jurídicas que se estabelecem entre os indivíduos. Ser pessoa é a
suscetibilidade de ser titular de direitos, de ter direitos e deveres jurídicos, ou seja, de
encabeçar a esfera jurídica – conjunto de relações jurídicas que são encabeçadas por um
determinado sujeito (na minha esfera jurídica estão todas as relações jurídicas de que eu
sou sujeito, ativo ou passivo). Não há uma sobreposição exata da noção de pessoa em
sentido jurídico e da noção de ser humano: já houve momentos na história em que
determinadas pessoas não eram consideradas pessoas para o direito (escravidão – as
pessoas eram vistas como coisas). Hoje isto é inconcebível. Por outro lado, temos pessoas
em sentido jurídico que não são seres, logo, estas noções continuam a não serem
sobrepostas, ex: pessoas coletivas – grupos de pessoas com uma personalidade jurídica
própria (associações e sociedades). Temos também massas de bens às quais são
conferidas personalidade jurídica (fundações). A noção de pessoa de direito é mais ampla
do que a noção de pessoa humana.

O nosso código diz no artigo 66º nº1 “a personalidade jurídica adquire-se no momento do
nascimento completo e com vida”— para o direito o conceito de personalidade jurídica
surge desde o momento do nascimento concretamente quando ha separação do corpo do
filho do copo da mãe. A lei reconhece direitos ao nascituro que já esta concebido mas

17
ainda não nasceu.
Ser sujeito para o direito = sujeito de direitos, ou seja todo o sujeito para o direito é
sujeito de direitos o que quer dizer que não existem esferas jurídicas vazias, a partir
do momento em que alguém nasce, nesse esta momento é automaticamente sujeito
de um conjunto de direitos que são inatos (não são adquiridos) e que constituem
espessura mínima da esfera jurídica.—> direitos de personalidade (são direitos que
são inatos, absolutos que se impõe aos demais sujeitos e que integram a esfera jurídica do
indivíduo desde o seu nascimento. Estes direitos parecem estipulados desde o artigo 70º e
seguintes— ex. vida, integridade física, honra, liberdade, o nome, a imagem, a reserva da
vida privada , entre outros aspetos. São direitos que merecem tutela do direito em que
alguns casos de violação mais grave desencadeia uma reação da ordem penal.
Independentemente dessas reacções penais qualquer violação dos direitos de
personalidade desencadeia uma reacção civil . A violação de direito de personalidade será
sempre ilícita dando lugar desde logo a responsabilidade civil traduzindo se na
compensação de danos sofridos (não se fala em indemnização, porque estamos a falar de
bens jurídica que não têm caracter patrimonial). Para além desta responsabilidade que se
refere o artigo 70º nº2 do cc, há lugar das providencias adequadas às evidencias do caso:
medidas preventivas, de evitar a consumação da ameaça ou atenuação das ofensas. Estas
providencias assumem até por vezes um caracter mais amplo que a compensação.

Os direitos de personalidade são irrenunciáveis. Não podemos renunciar ao nosso direito


à vida, logo, o suicídio é ilícito. O auxilio ao suicídio é crime. São direitos irrenunciáveis
ainda que em alguns casos a lei admita limitações. É possível limitar através do
consentimento. Ex: direito à integridade física – são permitidos desportos violentos, já a
automutilação não. (É claro que a vida não tem limitações!). Ex: é admissível o
consentimento, livre e informado, para uma cirurgia estética. Alguém que consente numa
limitação ao seu direito de personalidade pode, se mudar de opinião, esse direito pode ser
revogado – ART 81º, nº2 CC. A autolimitação dos direitos de personalidade tem sempre
como fronteira máxima a ordem pública - ART 81º, nº1 – dado os prejuízos irremediáveis
que resultariam para a pessoa em causa, logo, a mutilação, a eutanásia, o auxílio ao
suicídio, são factos ilícitos, mesmo quando a vítima neles consentiu.

— princípio da autonomia privada e da liberdade contratual: se o reconhecimento da


personalidade não é uma ideia que justifica a apropria existência do direito civl, podemos
dizer que a liberdade contratual é o princípio que traduz a autonomia do CC— art. 405º
do CC em que o direito revela-se nas relações privadas através da auto-composição dos
interesses. Na base desta ideia esta o princípio da autonomia privada (possibilidade de
actuar livremente de acordo com os interesses em jogo e obter a protecção do direito de
forma a auto-regular os seus interesses e perspetiva). O negócio jurídico é o instrumento
que o direito coloca a nossa disposição para prosseguir com esta composição de
interesses de acordo com a nossa vontade. Este principio da autonomia privada articula-
se com o artigo 61º da CRP que se refere ao princípio da livre iniciativa económica
privada. A nossa autonomia privada manifesta-se através da possibilidade de celebrar
negócios jurídicos mas também da possibilidade de exercer ou não certos direitos. Esta
autonomia privada está na essência do direito civl, contudo não aparece em todo o

18
domínio do direito civil, surge apenas na área de modelação da vida social, pois há uma
zona em que não encontramos autonomia privada que é na zona de tutela de direitos
constituídos.— ex. Faço um contado de compra e venda (ao abrigo da minha autonomia
privada — plano da modelação da vida social) o vendedor dá me bens e eu depois não
quero pagar, isto não é possível porque existe a tutela dos direito adquiridos.

Os negócios jurídicos— são factos jurídicos voluntários derivados da vontade individual


constituídos por declarações de vontade. O critério de distinção é numa perspectiva
estrutural (número e direção das declarações de vontade):

Unilateral – composto apenas por uma declaração de vontade, ou até pode ser por mais
que uma, mas todas no mm sentido. Ex: testamento, ato de instituição de
uma fundação, revogação de um mandato, repudio de uma herança.
Bilateral – composto por pelo menos duas declarações de vontade em sentido oposto,
mas convergente (no resultado que é pretendido por ambas as partes – ex:
contrato e compra e venda - uma diz “eu vendo” e a outra diz “eu
compro”). Chamamos Contrato (é uma modalidade de negocio jurídico).
Podemos ainda distinguir: segundo as obrigações assumidas pelas partes
Bilaterais – obrigações para ambas as partes. Ex: compra e venda – um tem que pagar o
preço o outro tem que dar as coisas.
Unilaterais – obrigações apenas para uma das partes. Ex: doação- o donatário não tem
obrigações, mas o doador não tem.

A autonomia privada é um principio que está subjacente a todo o direito civl no entanto
não há dúvidas que esta autonomia tem muito mais expressão no âmbito dos contratos do
que no âmbito dos negócios jurídicos.
—>No âmbito dos negócios jurídicos, a liberdade é muito mais restrita, já que prevalece
o principio da tipicidade que esta presente no artigo 457º. Os negócios jurídicos
unilaterais constitutivos de obrigações são apenas os que estão previstos na lei, não há
margem para imaginação dos intervenientes no sentido de criar. Nesses casos, porém, em
que a lei atribui eficácia vinculativa a um negócio unilateral, a parte respetiva tem o
poder de fixar livremente o conteúdo da promessa e, nessa medida, reaparece a
autonomia da vontade.
—>No âmbito dos contratos a lei diz que as partes podem celebrar contratos previstos na
lei ou não - contratos novos, existindo, assim, uma grande margem. No momento da
celebração do contrato há margem de liberdade, artigo 405º CC. No entanto, o contrato só
pode ser modificado havendo mútuo consentimento valendo o principio da pontualidade
do pacta sunt servanda, artigo 406º CC.
Artigo 405º CC: refere-se expressamente à liberdade de modelação do conteúdo do
contrato. O legislador não se refere expressamente à liberdade de celebrar contratos, mas
isto está pressuposto no artigo. Dentro do princípio da liberdade contratual distinguimos

19
estas duas dimensões:

— 1ª liberdade de celebração do contrato: liberdade de contratar ou não contratar, em


que ninguém pode ser imposto a um contrato contra a sua vontade, nem ninguém pode
ser sancionado por se recusar a contratar, mas também ninguém pode forçar a não
contratar . No entanto verifica-se que exista um dever jurídico de contratar, que é
implícito a alguém contratar, no caso das prestações de serviços médicos que é imposto
pelas regras medicas em caso das urgências, o médico não pode recusar prestar o serviço
de urgência a alguém ou no caso dos seguros obrigatórios sempre que a lei impõe alguém
a contratar (ex. Seguro automóvel). Um outro exemplo é a celebração de um contrato que
decorre de um contrato-promessa (alguém se obriga a celebrar um contrato, que pode ser
de compra e venda, arrendamento, de casamento), sendo que a declaração de vontade do
segundo contrato é o objeto do primeiro, sendo que depois de celebrado o contrato-
promessa, as partes já têm obrigações de celebrar o contrato prometido, já restringiram a
sua vontade contratual, sendo que o dever jurídico advém ainda de uma manifestação de
liberdade de celebração.
Consecutivamente o artigo 13º surge como um limite à liberdade contratual.
Outras limitações :
— proibição de contratar com determinado pessoas ou em determinadas
circunstâncias:
- artigo 579º: ação em que se discute a titularidade de um bem, a lei proíbe que
sobre essa coisa sejam celebrados negócios com juízes, advogados, etc., desde que o
processo esteja a decorrer na área em que estas pessoas exercem funções.
- artigo 877º— Proibição de compra e venda de pais a filhos – ART 877º CC.
Porquê? O legislador constatou que as vendas de pais a filhos e avós a netos são
frequentemente doações simuladas de compra e venda. As doações são contabilizadas
para efeitos sucessórios. Se o pai doa ao filho em vida e depois morre, os filhos são
herdeiros. Esta doação vai ser chamada à colação. É como se contasse as doações para
efeitos de partilha - se já recebeu em vida isso será descontado depois para efeitos mortis
causa.
- artigo 953º: limites às doações:Artigo 953ª CC refere-se aos limites impostos às
doações, remetendo para o artigo 2192º CC + 2196º CC nulidade da doação

Aula: 16/10/17

- Liberdade de celebração de contratos:


- casos de obrigação de contratar
- casos de proibição de contratar
- casos de autorização de outrem para contratar: no caso do artigo 953º, são listadas,
por exemplo, algumas situações que constituem de alguma forma limitações à liberdade
de celebração de contratos. E há ainda outros casos em que para contratar são necessárias
autorizações publicas.
Contudo, ainda existe uma especialidade face a isto que é no caso em que não há
liberdade de modelação do contrato, que é nas relações de casamento, em que nos artigos
1682º e 1682º A do CC, é nos dito que a celebração de contratos cujo o objecto pertence
a ambos os cônjuges só é válido, caso exista autorização de ambos, mesmo que se trate de

20
um imóvel próprio. As pessoas quando se casam, escolhem ou não um regime de bens.
Consecutivamente, a lei prevê um regime supletivo sempre que não há escolha de regime
de bens, aplica-se o regime supletivo que é o de comunhão de bens adquiridos, em que os
outros são os de comunhão geral de bens ou de separação de bens.
Assim, no regime de comunhão geral de bens, tudo é dos dois de grosso modo; na
comunhão de bens adquiridos é um “mix”, em que tudo o que é novo depois do
casamento é dos dois, sendo uma comunhão de bens adquiridos depois do casamento; e
no regime de separação todo o património é separado. Assim os negócios sobre imóveis
ou de interesse geral tem de ser autorizados por ambos.
O outro aspeto é o do nº2 do artigo 1682º A, em que independentemente do regime
de bens os negócios sobre imóveis ou estabelecimento comercial é sempre necessário o
consentimento de ambos os cônjuges. Mesmo o arrendamento precisa do consentimento
de ambos, é uma proteção especial relativamente à casa de morada de família sendo que
este consentimento vai diferindo consoante o regime de bens e o facto de os bens
serem móveis ou imóveis e conforme e a sua utilização.

Contudo há situações de que pessoas que precisam de consentimento de alguém


para a realização de certos negócios, correspondendo a uma incapacidade de exercício de
direitos, mais concretamente uma inabilitação em que esta pode surgir por via do artigo
152º, por anomalia psíquica, cegueira, surdez, abuso de bebidas alcóolicas ou drogas ou
por via do artigo 153º, em que os curadores podem celebrar certos contratos e para os
celebrar necessitam de autorizações do tribunal para a celebração desses mesmos
contratos de acordo com o artigo 1889º e 1938º. É do interesse do incapaz que o tribunal
avalie o que o incapaz pode celebrar. A lei não dá carta branca aos representantes que
façam o que quiserem, celebrem os contratos que querem, em nome dos representados –
atuação dos pais em nome dos filhos. A liberdade de celebração do contrato comporta
limitações também a este nível, sendo que é necessária a autorização para a prática de
determinados atos.

- 2ª Liberdade de modelação do conteúdo dos contratos: prevista no artigo 405º— as


partes têm a possibilidade de celebrar contractos de conteúdo previstos na lei (fala-se
em cardápio de contratos fornecidos pela lei, que recebem o nome de contratos
típicos, sendo que o legislador prevê o seu regime).—> as partes podem assim
escolher o contrato que pretendem celebrar.
—> As partes podem:
Realizar contratos com as características dos contratos previstos e regulados na lei. Ex:
compra e venda, doação, sociedade, alocação, comodato, mutuo mandato,
depósito, empreitada – contratos típicos – porque está tipificado na lei, é
um tipo legal, o legislador prevê o seu regime.
São em regra nominados – para desencadear a produção dos respetivos
efeitos, basta indicar o respetivo nomem iuris (ex: venda, arrendamento),
sem necessidade de convencionar a regulamentação correspondente. Mas
ser típico e nominado não é a mesma coisa, por exemplo: contrato de
hospedagem é um contrato nominado em matéria de arrendamento, mas o

21
regime da hospedagem não está previsto na lei, por isso, é nominado mas
não é típico.
Um outro conceito é o conceito da tipicidade social – negócios que são
socialmente típicos, cujo regime é pacífico e aceite por todos, mas que não
está previsto na lei – não é legalmente típico.
Quando se refere contratos previstos na lei, não se cinge apenas a contratos
previstos no CC, porque há outras leis especiais que surgiram depois do
CC, mas que são legalmente típicos – o contrato de agência, por exemplo.

Celebrar contratos típicos aos quais acrescentam as cláusulas que lhes aprouver.
No contrato típico, pode juntar-se uma cláusula diferente – por exemplo,
uma condição, uma situação futura e incerta que subordina o contrato. Um
pai doa a um filho um automóvel na condição de ele passar a TGDC –
temos um contrato típico no qual se insere uma cláusula que faz subordinar
os efeitos do contrato a uma situação futura e incerta (a passagem a
TGDC). Por acaso, esta cláusula é também uma cláusula típica, também
está prevista na lei, mas também existem cláusulas atípicas.
Concluir contratos diferentes dos contratos expressamente disciplinados na lei.
Para além dos contratos existentes, pode-se inventar contratos atípicos, uma
vez que não existe o princípio da taxatividade – a lei tipifica o que acha
necessário, mas deixa margem aos sujeitos para inventarem contratos que
satisfazem os seus interesses.
Dentro dos contratos atípicos, surgem os contratos atípicos em sentido
estrito e os contratos mistos – junta elementos dos contratos típicos, mas
essa mistura não está prevista na lei. Muitas vezes, essa junção leva ao
surgimento de contratos típicos (ex: leasing = compra e venda + locação).
Restrições/limitações à liberdade de modelação do conteúdo do contrato
Relativamente ao objeto do contrato: ART. 280 do CC – o objeto do negócio não pode
ser contrário à lei, à ordem pública e aos bons costumes.
No ART. 282 – os negócios usurários – consagram um limite.
No ART. 762 e 437 – o princípio da boa fé como limitação.
Há alguns contratos normativos que se impõem mesmo contra a vontade dos sujeitos, que
dizem respeito a determinadas categorias económicas ou profissionais,
contendo normas a que os contratos individuais, celebrados entre pessoas
pertencentes às referidas categorias, têm de obedecer; como é o caso das
chamadas convenções coletivas de trabalho – ART 531º CC.
Algumas normas de caráter imperativo que podem ser importantes:
ART. 1146º – a lei impõe um limite aos juros cobrados num contrato;

22
ART. 1025º – determinação do tempo limite de locação (o arrendamento é
uma locação, mas este prazo tem haver com o prazo inicial do tratado; um
contrato de locação pode ser celebrado durante 5 anos e depois ser
renovado por mais 15 anos, por exemplo; o prazo de celebração é que não
pode ser superior ao disposto na lei, depois renova-se);
ART. 800º Nº2 – cláusulas de limitação da responsabilidade.
 ART. 942
– doação não pode abranger coisas futuras, uma coisa que ainda não é sua
ou que ainda não existe.

Aula:17/10/17

Em continuação do que estávamos a estudar relativamente aos limites que se impõe à


liberdade contratual e relativamente à modelação de contratos, iremos falar nesta aula
sobre os contratos de adesão, que consistem em contratos em que uma das partes não
tem qualquer possibilidade real de negociar com a outra parte sobre o conteúdo do
contrato. São assim contrate quotidianos que são conformados por alguém e não se
discutem, apenas se limitam a aderir ou não. Uma das partes está de facto não de direito,
pois encontra.-se impedida de se pronunciar em relação ao contudo contratual.

Contratos de adesão (decreto-lei nº 446/85 de 25 de outubro)

Contratos de adesão- conjunto de clausulas pré concebidas perante as quais o


destinatário pode aderir ou não. Uma das partes no contrato fixa previamente e de forma
unilateral o programa contratual e as clausulas do contrato e a outra parte limita-se a
aderir a esse programa contratual, sem ter a possibilidade prática de modificar alguma das
clausulas. A liberdade de modelação do conteúdo do contrato está muito limitada.
Falamos destes contratos também em casos de fornecimento de bens e serviços, em
que temos uma limitação à própria liberdade de celebrar ou não contratos, já que não
existem alternativas viáveis.
— parte dominante = predisponente
— parte destinatária = destinatário
Vantagem: Estes contratos proporcionam vantagens para quem os elabora, porque
permitem racionalizar a sua actuação, mas também tem vantagens para os consumidores
pois essa normativização permite conhecer de antemão os encargos e condições que
resultam da aquisição dos bens e serviços relativamente à outra parte.
Desvantagem: Contudo surge o risco de em alguns casos termos a grande
possibilidade de existirem contratos desequilibrados, já que uma das partes submete a
outras a um formulário relativamente ao qual o contraente não pode dizer mais. Assim o
legislador achou necessário intervir sobre esta realidade no sentido de tentar equilibrar e
introduzir um equilíbrio nestes contratos. A motivação do legislador foi no sentido de
reconhecer a inevitabilidade desta realidade introduzindo algum equilíbrio, sendo que
essa intervenção surgiu com o decreto de lei nº 446/85, em que o legislador pela primeira
vez antecipou-se às diretivas da UE relativamente aos contratos de adesão, que só
surgiram em 1995.

23
O que iremos ver é quais são as regras deste decreto e em que medida em que ele tenta
introduzir o equilíbrio nos contratos. MAS porque não proibir estes contratos? Isto é
irrealista, porque a celeridade, que se impõe a celebração de contratos, sobretudo, quando
estão em causa milhares de pessoas. Alem disso, quando temos contratos todos iguais a
gestão destes contratos é muito mais fácil, o que leva a uma diminuição de ustos, o que
em ultima instancia favorece o aderente (ex: se uma entidade fornecedora de
comunicações celebrasse contratos diferentes com cada pessoa, em termos de gestão
destes contratos, isso iria acarretar custos altíssimos, que, ao fim ao cabo, seriam pagos
pelo aderente, devido à personalização do contrato).

Decreto lei nº 446/85 = cláusulas contratuais gerais


O decreto-lei nº 446/85 prevê um conjunto de normas:
Normas materiais
1. Controlo de inclusão
2. Controlo de conteúdo
Normas processuais
1. Controlo incidental
2. Controlo abstrato
Decreto-lei nº446/ 85 aplica-se aquilo que é designado por lei como cláusulas contratuais
gerais e aos contratos individualizados de adesão.
Contratos celebrados mediante cláusulas contratuais gerais – no artigo 1º nº1
consideram-se que as cláusulas que foram elaboradas sem prévia negociação ou inseridas
em contratos individualizados, mas cujo conteúdo elaborado o destinatário não possa
influenciar, o que se traduz em duas situações: são generalizados, não há excepções e a
parte destinatária não pode influenciar.

Contratos individualizados de adesão – pensados para uma única pessoa, mas que essa
pessoa não tenha a possibilidade de modificar. No artigo 1º nº2 prevê-se os contratos
individualizados com importação das clausulas contratuais gerais, sendo que estas
proporcionam abusos.
Por isto, o regime das clausulas contratuais gerais estabelece um sistema de controlo e
mecanismo de protecção do destinatário, através de normas materiais, em que se controla
o que pode ou não ser incluído num contrato de adesão e a extensão da sua
admissibilidade (de inclusão e de conteúdo) e o sistema de protecção derivado de
procedimentos- normas processuais através de um controlo incidental e um controlo
abstrato.

1. Controlo de inclusão, os mecanismos são:


- ónus da comunicação (art. 5º e 8º alínea a)—aquele que utiliza as cláusulas contratuais

24
gerais tem o ónus de as comunicar, já que não é o contraente que tem de provar a
existência e inclusão da clausula adequada, mas o predisponente, sendo o encargo
probatório sobre este muito grave, pois se houver dúvidas quanto à natureza da
cláusula esse ónus recai sobre o predisponente. Estas cláusulas para além de serem
comunicadas devem ser explicadas, em que só as clausulas comunicadas integram o
contrato.
- Dever de informação (art. 6º e 8º alínea b)— para além de comunicadas, as cláusulas
devem ser explicadas, dever de informação. São excluídas as cláusulas relativamente
às quais não seja cumprido o dever de informação, sendo proibidas as cláusulas
surpresas ou disfarçadas.
- Proibição de clausulas surpresas (art. 8 alínea c) e alínea d)
- Redução automática do contrato (art. 9º)— o artigo 8º prevê os casos em que são
excluídas cláusulas dos contratos singulares, sendo que os contratos singulares, de
acordo com o artigo 9º mantém-se em vigor, sendo que na parte afectada vigoram as
normas supletivas aplicáveis, sendo que na falta destas ultimas recorre-se às regras de
integração dos negócios jurídicos.

2. Controlo da Interpretação:
- Regra Geral: relativamente ao controlo da interpretação de forma a resolver as lacunas
na lei, exerce-se a remissão para as regras previstas no artigo 10º.
- Cláusulas ambíguas: são objeto do artigo 11º, sendo que na dúvida prevalece o sentido
mais favorável ao aderente , segundo o nº2 do artigo 11º— em caso de duvida
prevalece o sentido mais favorável ao aderente, isto é uma preocupação de proteção de
uma das partes, que se estende mesmo à interpretação das clausulas. Este diploma faz
parte daquilo que é a intervenção legislativa de parte, em que se legisla a favor de uma
das partes. (exceção: ações inibitórias).

3. Controlo do conteúdo:
O legislador preocupa-se com o que é dito no contrato. Quando vamos analisar o
conteúdo dos contratos, o nosso critério é: principio da boa fé (em sentido objetivo –
enquanto principio geral, regra de conduta)- ART 15º e teremos que proibir tudo o que e
contrario. Mas não se basta com este principio geral, o legislador vem autonomizar
alguma clausulas consideradas contrarias a boa fé – fez-se essa recolha e estabeleceu-se
um catálogo de proibições: em função das partes no contrato e em função da gravidade da
proibição: ARTS 17º - 22º.
A nossa lei de cláusulas contratuais gerais não é uma lei exclusivamente de
proteção do consumidor. Contrariamente ao que acontece com uma diretiva comunitária.
Legislador faz uma lista em função de quem é o aderente.

Relações entre empresários:


Cláusulas absolutamente proibidas (são mesmo proibidas em qualquer situação – são
nulas) – ART 18º
Cláusulas relativamente proibidas (podem ser nulas ou não: depende do quadro negocial
padronizado. Faz-se um juízo dentro daquele setor de contratos, não se

25
atende àquele contrato especifico) - ART 19º.

Relações entre consumidores:


Cláusulas absolutamente proibidas – ART 21º
Cláusulas relativamente proibidas – ART 22º + ART 20º
Também são proibidas as que estão elencadas nas relações entre empresários
(absolutamente proibidas (ART 18º) e relativamente proibidas (ART 19º)).
Poderão existir cláusulas que não estão elencadas nestas listas, mas que o tribunal
considera que violam o principio da boa fé. Estas cláusulas são exemplificativas e
não taxativas.

4. Formas de controlo em relação a regras processuais

- Controlo incidental: apreciação da validade das CCG no contexto de um conflito


instalado entre um predisponente e um aderente quando o aderente se dá conta da
cláusula que constava no contrato. Diz respeito àquele contrato, à relação que dele
emergiu, sendo o alcance da sentença apenas no contrato a que diz respeito que possui
a cláusula nula.

- Controlo abstrato:

A) Ação inibitória (art. 25º)- tem por objeto impedir que no contrato sejam incluídas as
cláusulas contratuais gerais que contrariem as disposições da lei, previstas nos artigos
15º, 16º,18º,19º,21º e 22º.
B) Legitimidade (art. 26º + art. 27º + art.13º da lei nº24/96)— entidades que possuem
legitimidade para intentar uma ação inibitória de forma a condenar o desrespeito por
uma clausula contratual geral.
C) Condenação (art. 28º)- A ação inibitória é , assim, aplicada por decisão judicial do
tribunal da comarca onde se localiza o centro da atividade principal do demandado ou
da sua residência ou sede, segundo o artigo
D) Sanção pecuniária (art. 33º + art. 829º A)- é aplicada uma sanção pecuniária
compulsória de forma a garantir que o demandado vencido por ação inibitória, não
aplique cláusulas contratuais gerias que foram proibidas ou que este foi obrigado a
abster-se.
E) Nulidade da cláusula contratual geral proibida (art. 12º)- na sequência da ação
inibitória da cláusula contratual geral e sua mesma proibição, é determinada a
nulidade dessa mesma cláusula, tal como o previsto pelo artigo 12º.

5. Registo de cláusulas proibidas:


— Serviço de registo de cláusulas proibidas – ART 34º
— Site do dgsi.

26
TGDC
Aula: 23/10/17

A liberdade contratual apresenta incidências diferentes em diferentes domínios do direito


civil, em que verificamos que não se apresenta a mesma intensidade nos campos todos do
DC, ela manifesta-se aprofundamente no campo dos contratos obrigacionais. No domínio
dos contratos que criam, modificam ou extinguem direitos reais assistimos a mais
restrições que os direitos obrigacionais sofrem, pois limitamo-nos aos direitos reais
consagrados. Os direitos reais obedece a um principio da taxatividade. Já nos contratos de
família distinguimos entre contratos familiares com efeitos patrimoniais (a lei confere
alguma liberdade de modelação destes contratos) e outros com índole familiar/efeitos
pessoais (sendo estes contratos são alvo de mais restrições).
Relativamente à matéria sucessória é definida a proibição de contratos e de pactos
sucessórios, estando a excepção prevista no artigo 1700º do CC.

Iremos falar agora, para além do que vimos sobre o princípio de reconhecimento da
pessoa humana e dos seus direitos de personalidade e do princípio dos limites que a
liberdade contratual pode ser alvo, iremos falar do terceiro princípio que é o princípio da
responsabilidade civil.

Princípio da responsabilidade civil: é a figura mais importante que assume após os


contratos, sendo que a vida em sociedade leva à ocorrência de danos e sendo que em
determinado contratos não é cumprida a parte de alguém. Levanta-se a questão de quem é
que responde por estes danos e arredaca com os prejuízos? Por exemplo: uma pessoa é
agredida, carros esbatem ou credor que não vê o seu crédito satisfeito, sobre quem é que
recai a obrigação de os reparar?
Normalmente a palavra dano fica na esfera jurídica de quem sofre ou seja sobre o
lesado, mas em alguns casos verifica-se a transferência desse dano para um responsável
através da responsabilidade civil.
—> art 483º do CC: define o que é a responsabilidade civil, sendo que surge como
a imposição de indemnizar, colocar o lesado ou ofendido na situação em que estaria se
não tivesse ocorrido o facto que o lesou.
—> art. 562º: princípio geral da obrigação de indemnização

Existem duas formas de reintegração social e de levar a que a situação social volte
parcialmente à normalidade:
— Princípio da reconstituição natural: embora a lei privilegie a reconstituição
natural, isto pode não ser possível ou porque a reconstituição natural não é suficiente ou
porque é excessivamente morosa. Assim surge a solução da indemnização em dinheiro.
— Indemnização: art.566ºnº1

Quase sempre a responsabilidade civil vai ser atribuída na obrigação de indemnizar,


porque dada a complexidade da nossa organização social nem sempre o lesado pode
proceder à reconstituição natural.

Pressupostos para que haja responsabilidade civil:

27
1. Facto: tem que haver um facto voluntário (ligação do facto à vontade do agente);

1. Ilícito: desconforme ao direito.

1. Culposo: juízo de censura e de reprovação relativamente à conduta (em regra –


porque ART 483, nº2).

O que é o dano? Consiste numa perda, sofrida pelo lesado e, consequência de um facto
danoso, da destruição ou subtracção de um determinado bem, material ou não.
Os danos podem ser:
— Dano patrimoniais: reflexo que o dano patrimonial tem no património do
lesado, sendo que estas duas noções estão interligadas, mas são distintas.
- danos emergentes: prejuízo causado no bem ou direito já existente na
titularidade do lesado ou ofendido;
- lucros cessantes: benefícios que um lesado deixou de obter por causa de
facto lesivo, mas esses benefícios ainda não estavam na esfera jurídica, mas porque
intercede a conduta lesiva, deixou de os obter, ou seja sai benefícios que o lesado ainda
não possuía até à data da lesão.

— Danos não patrimoniais: são danos que não são susceptíveis de avaliação em
dinheiro, sendo danos morais (ex.vida, liberdade, reputação…), são bens que não
integram o património do lesado, sendo difíceis de quantificar a lesão dos sofridos.—
art.496º fala-se em compensação e não em indemnização.

Tal como vimos para existir responsabilidade civil, terá de haver dano, em que o lesado
pode ser ele próprio a suportar os danos ou poderá ser um terceiro. Para haver dano terá
existir um facto lesivo e um conexo de causalidade que provoca aquele dano. Temos
de ter a ilicitude do facto, em que há uma desconformidade deste facto com a lei e temos
que ter em regra a culpa, ou seja, o juízo de censura e de reprovação relativamente à
conduta (de reprovação), já que segundo o artigo 483º o facto tem ser ilícito onde existia
reprovação pela conduta do agente.

Verificados estes pressupostos temos a ação em que o lesado será indemnizado e


será aplicado o princípio de responsabilidade civil.

Culpa: reveste duas formas distintas: dolo e negligência


Dolo: é a modalidade mais grave da culpa em que o juízo de censura é maior, em
que há uma ligação mais estreita entre o facto lesivo e a vontade, sendo que a vontade do
agente está dirigida para a produção de resultados.
3 formas de dolo:
a) dolo direto: é produzido porque o agente quer que se produza isso
independentemente desse facto ser ilícito e do agente conhecer as consequências do
mesmo.
b) dolo necessário: o agente vê o efeito como necessário, natural ou seguro
para a sua conduta, sendo que o agente não quer directamente a consequência, mas sabe o

28
mesmo resultado da sua ação.
c) dolo eventual: o agente tem menor adesão ao resultado, sendo que a
consequência é possível e isto não persuade o agente.

Negligência: o agente limita-se a omitir o comportamento de diligente que lhe era


exigível, assim o grau de reprovação é menor, em que há uma menor ligação entre o facto
e a vontade, embora o agente devera ter cuidado na sua actuação, não tem esse mesmo
cuidado.
— consciente: quando o agente prevê a produção do facto como possível, mas
acredita que não se verificará.
— inconsciente: o agente não chega nunca a representar a produção do efeito como
possível, não põe em hipótese haver alguém nas redondezas.

A responsabilidade civil é diferente da responsabilidade criminal/penal, em que o


mesmo facto lesivo pode dar lugar a estas duas responsabilidades. Na responsabilidade
civil, o grande objectivo é colocar o lesado na posição em que estaria se não tivesse
sofrido a lesão, estão em causa os interesses do lesado, ou seja a função da
responsabilidade civil é a reparação, já que o montante indemnizatório não é fixado com
critério de punição ou retribuição, mas sim de reparação . Já na responsabilidade criminal
os interesses que estão em causa são gerais e fundamentais para a sociedade. Assumem
objectivos diferentes: na responsabilidade criminal tem um objectivo de repreensão, de
prevenção geral e de prevenção especial, em que a responsabilidade criminal tem por
finalidade a reintegração dos interesses fundamentais.

Modalidades da responsabilidade civil:

— responsabilidade objectiva: assume a ideia de responsabilidade sem culpa , sendo que


a lei só excepcionalmente admite esta responsabilidade.—> ideia de responsabilidade
pelo risco. Surge no âmbito laboral com os acidentes de trabalho, presente nos artigos nº
500º, 501º, 502º e 503º
— responsabilidade subjetiva: baseia-se na culpa, em que permite uma responsabilização
dos indivíduos pelos seus atos.

A responsabilidade objectiva e a responsabilidade subjectiva surgem como exceções à


responsabilidade civil, prevista no artigo 483º, sendo que ainda existe a responsabilidade
por factos lícitos, já que nem sempre a ilícitude é um pressuposto para a responsabilidade
civil. O ato poder licito, mas ser agressor da esfera jurídica de outrem e nessa medida
pode justificar que não obstante da licitude haja lugar para sua reparação. — ex. 1367º +
art. 339º nº2.
Quanto à origem:
Responsabilidade extracontratual – ART 483º CC
Responsabilidade contratual – ART 798º CC
Proteção da propriedade enquanto princípio fundamental do Direito Civil. A
propriedade aparece protegida no CC – ART 1305º - também tem
princípios limitativos: ART 334º (proibição do abuso do direito). É o
principal direito real. Aqui a propriedade aparece de forma diferente do que

29
estava no Seabra. O direito de propriedade é protegido constitucionalmente,
ART 62º, nº1. No direito civil o direito de propriedade surge como direito
subjetivo, de natureza patrimonial, que encerra um conjunto de poderes e
um conjunto de obrigações. Constitui, assim, missão fundamental do
Direito organizar, segundo os valores jurídicos, os poderes dos homens
sobre as coisas e o conteúdo das relações entre os homens a respeito das
coisas. Um proprietário: tem poderes indeterminados (não se limitam os
poderes do proprietário senão através das concretas restrições impostas pela
lei); o direito de propriedade é elástico (extinto um direito real que limite a
propriedade da coisa, reconstitui-se a plenitude da propriedade sobre ela);
direito perpétuo (imediatamente implica não poder extinguir-se pelo não
uso).
Família: é protegida pelo Direito Civil, obviamente neste momento é diferente do que
falávamos no século XIX. A família surge como um grupo social, tendo
por base já não exclusivamente o casamento. A família como produto
social pode ou não ser baseada no casamento (esse que evoluiu). Direito de
constituir família – ART 36º, nº1, primeira parte CRP.

Aula: 24/10/17

Estudo da Teoria Geral da Relação Jurídica

As relações jurídicas, são quaisquer relações da vida social, que em sentido amplo, são
tuteladas pelo direito e são juridicamente relevantes, são produtoras de efeitos jurídicos
Relações jurídicas em sentido amplo: toda a relação da vida social relevante para o
Direito, isto é, produtiva de efeitos jurídicos e, portanto, disciplinada pelo Direito.
Relações jurídicas em sentido restrito: ex - um credor e um devedor. Relação da vida
social disciplinada pelo Direito mediante atribuição a uma pessoa de um
direito subjetivo e a imposição a outra pessoa de um dever jurídico ou de
uma sujeição
Cabem as aparentes posições solitárias em que cada uma das pessoas se encontra numa
posição, concretamente a posição do credor ou devedor, que formam
situações jurídicas isoladas de cada um dos sujeitos.
A relação jurídica e a situação jurídica são duas faces da mesma moeda. Quando falo
em relação jurídica em sentido amplo, estou a abranger estas situações.
Partir do estudo da relação jurídica corresponde a uma opção, outras opções seriam
possíveis como a situação jurídica isolada.
Cada relação pressupõe várias posições e a existência de posições jurídicas isoladas
não e negada pelo estudo da relação jurídica.
Tradicionalmente este estudo da relação jurídica parte de um critério

30
estrutural/anatómico, na medida em que vão ser estudados os elementos da relação
jurídica – aparece-nos a relação jurídica, já em sentido estrito, disciplinada pelo
direito, em que a um sujeito é atribuído um direito subjetivo e ao outro sujeito é
imposto um dever jurídico ou uma sujeição. Podemos ainda fazer uma distinção:
Relação jurídica abstrata – reporta uma relação jurídica hipotética, um modelo que a lei
nos dá. Ex: relação jurídica que decorre da celebração da compra e venda.
Relação jurídica em sentido concreto – que se estabelece entre A e B e que utiliza o
modelo abstrato de relação jurídica dado pela lei, concretizando-se na
prática.
Instituto Jurídico (diferente de relação jurídica): conjunto de normas que disciplina uma
determinada relação jurídica em sentido abstrato. É a regulamentação da relação jurídica.
Ex: instituto do casamento, da compra e venda, das relações parentais.
Relação jurídica em sentido funcional, atendendo aos interesses e já não à estrutura.
Pressupõe uma intervenção do direito sobre a relação jurídica. A um sujeito é atribuído
um direito e a outro é imposto um dever – porque é que a um é imposto um direito e a
outro um dever? (perspetiva funcional). Reconhece-se a uma pessoa um interesse e
reconhece-se que esse interesse deverá prevalecer sobre o interesse de outros, interesses
esses que são contrapostos, por isso, deverá então o direito civil regulá-los/autoconcertá-
los. Esta relação social em que há interesses contrapostos, em que tem de se fazer
prevalecer um interesse sobre o interesse de outrem, é necessária a intervenção do direito,
que é feita através da atribuição àquele que tem um interesse prevalecente de um direito
subjetivo, e através da atribuição à outra parte de um dever jurídico ou de uma sujeição.
Nesta perspetiva, temos uma relação social em que há interesses contrapostos e estamos
num campo em que a lei permite a autocomposição de interesses, e nesse âmbito, deverá
prevalecer o interesse de um sobre o outro. Como? Como é que na pratica um interesse
vai prevalecer sobre o outro? Aquele que tem um interesse que se entenda que deve
prevalecer vai ser titular de um direito subjetivo – titularidade do direito. Sobre a outra
parte irá recair um dever jurídico ou uma sujeição.
Esta perspetiva terá que estar sempre latente para percebermos o porque da existência do
direito subjetivo e da respetiva imposição de deveres.
Estrutura da Relação Jurídica
Elementos da Relação Jurídica
Sujeitos: sujeito ativo (é atribuído um dever) e sujeito passivo (a quem é imposto um
dever). São os titulares do direito subjetivo e das posições passivas
correspondentes (dever jurídico ou sujeitção). Podem ser pessoas singulares ou
coletivas.
Objeto: a relação jurídica incide sobre um determinado objeto – aquilo sobre que
incidem os poderes do titular ativo da relação. Vamos estudar aquilo que poderá
ser objeto (ex: coisas, próprios direitos, a pessoa de outrem – exceto penalmente,
prestações).

31
Facto jurídico: elemento causal da relação jurídica, que dá origem à relação jurídica. Ex:
um contrato. A relação pode ser uma relação que se consome quase
instantaneamente (ex: compra e venda) ou relações jurídicas que se prolonguem
no tempo (ex: relação jurídica paterno-filiar – o facto que a gerou foi o
nascimento).
Garantia: a relação é jurídica porque existe uma garantia. Para que o poder jurídico, que
é atribuído ao sujeito ativo, se imponha ao sujeito passivo é necessário que a
ordem jurídica ponha à disposição do sujeito ativo meios coercitivos para que ele
possa exercer o seu poder, nomeadamente, a possibilidade de recurso aos
tribunais. É este elemento que dá juridicidade à relação.
Núcleo da relação jurídica
Ao definirmos a relação jurídica considerámo-la integrada por um direito subjetivo e por
um dever jurídico ou por uma sujeição. São eles que constituem a estrutura interna, o
conteúdo da relação.
Direito subjetivo. O exercício do direito subjetivo é posto na dependência do seu titular,
logo, o direito subjetivo é um instrumento de autodeterminação do sujeito, de
autonomia privada do sujeito. O exercício do direito é um ato de autonomia, é
uma opção do titular (o titular pode não exercer).
A norma que atribui o direito subjetivo é como que apropriada pelo seu titular,
estando na sua propriedade utilizá-la ou não.
Direito subjetivo enquanto poder: traduz-se no poder de intervir autonomamente da
esfera jurídica de outrem. Poder de exigir ou pretender de outrem, um
comportamento positivo (ação) ou negativo (omissão), de produzir efeitos
jurídicos que se impõe inevitavelmente a outra pessoa. Ou o poder de só
per si, ou através de um ato de uma autoridade produzir efeitos jurídicos
que se irão impor inevitavelmente na esfera do outro.
Direito subjetivo enquanto interesse juridicamente tutelado – Ihering – relação jurídica
em sentido funcional. O interesse é certamente o fim a prosseguir pelo
direito subjetivo. Não há verdadeiramente uma identidade entre um
direito subjetivo e um interesse juridicamente tutelado, uma vez que nem
todos os interesses juridicamente tutelados são tutelados mediante a
atribuição de um direito subjetivo (ex: …). Falamos aqui de poderes-
deveres – poder paternal, em que o poder jurídico está ao serviço do
interesse de outrem.
O exercício de um direito subjetivo não está circunscrito a esse interesse.
Uma vez reconhecido um direito subjetivo a determinada pessoa, ela
poderá exercê-lo, sem que esteja vinculada à prossecução dos interesses
que originaram esse acontecimento.
*Poderá haver uma fiscalização desses interesses por parte do direito –
abuso do direito.
Duas modalidades do direito subjetivo em sentido amplo:

32
Stricto sensu: poder de exigir ou pretender de outrem um comportamento positivo (uma
ação) ou negativo (uma omissão). Aquele a quem é exigido um
comportamento será titular de um dever jurídico – necessidade de adotar
um certo comportamento correspondente ao direito subjetivo.
Corresponde a um dever jurídico da contraparte – um dever de facere ou
non facere.
 
 Na maioria dos casos, o titular do direito subjetivo tem à
sua disposição providencias coercitivas/coativas/aplicação de sanções,
com vista à satisfação dos seus interesses. Há um conjunto de meios
coercitivos que são postos à disposição do titular do direito com vista a
satisfação dos seus interesses. Geralmente, traduz-se na capacidade de
exigir um comportamento da contraparte. Fala-se dos casos de poder
exigir.
Nas situações mais raras, o titular do direito subjetivo não tem qualquer
meio para reagir nos casos em que o sujeito passivo opta por não cumprir
a obrigação que lhe é imposta. Falamos nas situações de poder pretender.
Nestes casos, o sujeito passivo adota espontaneamente o comportamento
que o titular do direito subjetivo pretende ou se não adota
espontaneamente esse comportamento, o titular do direito, ou seja, o
sujeito ativo não tem meios de exigir a sua adoção – domínio das
obrigações naturais, recai sobre o sujeito passivo uma obrigação natural.
Aparecem-nos no CC nos ARTS 402º e seguintes. Parece que falha a
garantia, no entanto, temos aqui um aspeto que confere o carater jurídico
desta relação: decorre do artigo 403º - (garantia) principio da não
repetição do indevido (não repetição = não devolução) – consagra o
direito do credor a reter o que foi pago e exclui, consequentemente, o
direito do devedor a reaver o que pagou (espontaneamente).

Hipótese de obrigação natural:


- Prestação prescrita: ART 303º CC. Tribunal não pode suprir
oficiosamente a prescrição, sendo que esta deve ser invocada. Ex: A
tem uma dívida perante B. Passou algum tempo e a dívida prescreveu
(o prazo geral ordinário é 20 anos, na prestação de serviços essenciais,
prescrevem num prazo muito mais curto por exemplo). O credor veio
exigir judicialmente o pagamento do devedor. O devedor terá que
invocar a prescrição. O tribunal oficiosamente não pode dizer que
divida prescreveu sem o beneficiário da prescrição a invocar. Se o
beneficiário não invocar a prescrição, este terá de pagar a dívida,
porque o tribunal não o pode fazer sem a invocação. Para proteger a
posição do credor que é titular de um direito subjetivo, o devedor não
pode exigir de volta o que pagou, segundo o principio da não
repetição do indevido – ART 403º CC, estando aqui a garantia das
obrigações naturais + 304º CC (a ignorância da prescrição não é
proveito para exigir de volta o que foi devido espontaneamente).
Outro exemplo: hipótese do artigo 1245º CC- contratos de jogo e

33
aposta, que normalmente são nulos, quando são lícitos são fontes de
obrigações naturais.

Direito Potestativo: já não está em causa o exigir de um comportamento, trata-se de


produzir diretamente na esfera jurídica de outrem determinados efeitos
jurídicos. São poderes jurídicos de, por um ato de livre vontade, só de per
si ou integrado por uma decisão judicial, produzir efeitos jurídicos que
inevitavelmente se impõem à contraparte. Os efeitos do exercício do
poder do titular do direito subjetivo são: constituição, modificação ou
extinção da norma. Corresponde a uma sujeição da outra parte.

Direito subjetivo enquanto poder arbitrário, no sentido de ser um poder de


autodeterminação da pessoa. Questiona-se:
Saber se essa ideia não é posta em causa pela admissão da existência de limites ao
exercício de poder?

Aula: 30/11
Limites internos ao exercício do direito subjetivo
Há doutrina que considera que o exercício do direito subjetivo deverá obedecer a uma
norma implícita de correção de lealdade, de honestidade, de moralidade (como que
obedecer a uma lei que estaria até acima da lei). Estes casos seriam os casos de abuso de
direito.
Crítica: Esta ideia de que a existência do direito está sujeita a limites deste género
introduziria aqui uma certa relativização do direito subjetivo, tornando-o vulnerável a
intromissões que, no fundo, em nome de uma correção, iriam limitar uma liberdade
individual, acarretando uma certa administração da vida cívica (justiça de afetos). Ex: ao
senhor A é concedido determinado direito e ele exerce-o, esse direito pode ser
condicionado por um tribunal que entenda que o exercício daquele direito naquele caso é
clamorosamente injusto – então, o direito subjetivo já não é aquele poder de
autodeterminação com as características que apontamos. O senhor A fica na dependência
da conceção que aquele tribunal tiver relativamente a justiça ou injustiça do exercício do
direito. Mas não é isso que os tribunais fazem? Sim, mas aqui dissemos que o senhor A
tinha um direito – os tribunais aplicam a lei. Princípio da separação de poderes – o poder
legislativo e o judicial não se confundem – se o tribunal perante um direito consagrado
diz que um certo direito não existe, esta a modificar a lei, esta a chamar a si o poder de
legislar. Esta opção introduz uma relativização dos nossos direitos.
—> ex. Ao senhor A é lhe apresentado um direito, sendo que este direito pode ser
limitado por um tribunal que entenda que o exercício desse direito é injusto
(clamorosamente injusto). Afinal o direito subjectivo já não é de auto-determinação, pois
é lhe imposto um limite que o coloca na dependência na concessão do poder pelo tribunal
que tiver relativamente à justiça e ao exercício desse mesmo direito. Embora o tribunal

34
defina os direitos que os sujeitos possuem ao aplicar a lei no direito, aqui o senhor A tem
o direito. Assim se o tribunal perante um direito consagrado diz que o direito não existe,
então está a transformar a lei, está assim a chamar a si o poder de legislar quando o seu
poder é de aplicar o direito. Um coisa diferente é dizer que este poder de auto-
regulamentação que está na base do direito subjectivo não pode dizer que se não observa
limites, pois ele tem limites.

Concluindo, existe uma ligação entre direito subjectivo e interesse, sendo que o interesse
é o fim que o reconhecimento do direito subjectivo reconhece, é a sua razão de ser,
contudo não é inerente à estrutura do direito, na medida em que o interesse não tem de
entrar na estrutura do direito subjectivo para perceber o seu funcionamento, o interesse
fica antes é a causa. É inconveniente afirmar que todo o direito subjectivo corresponde a
um interesse, já que há interesses que não se consubstanciam em direitos subjectivo
(interesses legalmente protegidos, referidos no artigo 483º no âmbito da
responsabilidade), sendo que há interesses às quais não correspondem direitos
subjectivos, mas a todos os direitos subjectivos correspondem interesses.

1º patamar: violação da lei— quando vamos apreciar a lealdade de um poder de


autodeterminação de interesses, um primeiro limite a observar é a própria lei, sendo que
há que interpretar a lei para a poder aplicar convenientemente. No caso dos incapazes, a
lei relativamente à interdição permite que determinadas pessoas proponham uma ação
para a restituição dessa capacidade, mas só o cônjuge, o curador e qualquer pessoa do
MP, porque só estas pessoas asseguram a protecção dos seus interesses. Exceção prevista
no artigo 141º CC.

2º patamar: princípios da boa-fé e dos bons costumes (como princípios regulativos):


o exercício de um direito subjectivo não poderá atentar contra a boa fé e contra os bons
costumes, já que estamos perante normas em branco, sendo cláusulas gerais que tem que
ser preenchidas pelo julgador. Estamos a apelar a princípios éticos, normalmente, a boa fé
que apela ao comportamento leal, honesto e concreto e os bons costumes que apela aos
ditames da moral publica que são todos como prevalecentes numa determinada
sinceridade num determinado momento e funcionam como um limite à liberdade de cada
um e valem como lei na medida em que não sejam revogados pela própria lei. A boa-fé
pressupõe uma relação inter-subjetiva, em que ninguém esta de boa ou má fé sozinha,
atua em concreto a alguém. Quanto aos bons costumes é diferente, pois pode ser à própria
sociedade. A atuação é contraria aos bons costumes conduz sempre à irrelevância do
exercito do directo, não produzindo efeitos, sendo nulos. Quanto à boa fé será a
responsabilidade de factos ilícitos e a consequente indemnização sem no entanto se por
em causa a procedência do direito.

3º patamar: o abuso do/de direito: aqui já estamos num plano diferente em que todos
concordam ser o ultimo patamar/ a última ratio do sistema, sendo que o que está em
causa é a imagem estruturalmente correta do direito subjectivo e a missão que foi
funcionalmente atribuída ou assinada a esse direito. Para chegarmos a esta figura temos
que fazer apelo à perspetiva funcional da relação jurídica que apela ao plano dos

35
interesses, não podendo ficar na perspetiva estrutural que pressupunha a intervenção do
direito e que fazia prevalecer o interesse de um relativamente ao outro com o
reconhecimento de um direito subjectivo. Ex. Alguém titular de direito subjectivo,
reconhecido na lei a exercer esse direito, mas exerce esse direito para alem contra os
interesses de que levaram num primeiro momento a fazer prevalecer o seu poder de auto-
revelação relativamente aos interesses dos demais. (relação entre direito subjetivo vs
interesses). Uma vez prevalecendo interesses comuns sobre os demais, o legislador
atribui um cheque em branco permitindo que o titular do direito o exerça
cumulativamente, não existindo fiscalização quanto aos interesses prosseguidos, pois
alguém que produz na pratica um direito , não era possível existir essa fiscalização
constante, pois era um próprio atentando à liberdade inerente ao direito subjectivo.
Muitas vezes, a atribuição de um direito subjetivo, fazendo prevalecer os interesses de
um nega os interesses de outro, sendo que prejudica o outro, não havendo abuso nenhum
de direito, pois isso está inerente— ex. Senhorio pode resolver o contrato caso o morador
faca do seu apartamento local para atos ilícitos, os interesses do senhorio sobrepõem se
acima do morador, sendo que daqui sai prejudicado o arrendatário. Fala-se assim em
situações limites, em que só em exceções é que os tribunais são chamados, sendo os
limites: o exercício do poder de auto-regulamentação para além dos interesses que
estiveram na origem do directo subjectivo. Os interesses inerentes a um contrato não são
fiscalizados, mas imaginemos que é detetado que a pessoa detentora do direito subjectivo
esses seus interesses pretendem unicamente prejudicar o outro, aí sim existe fiscalização.
Assim X pode alegar que o arrendatário exerceu o seu direito para prejudicar unicamente
os seus interesses, existindo um abuso de direito em que um tribunal pode dizer que
estruturalmente o direito está lá, mas o arrendatário exerceu o direito sem o interesse
inerente ao mesmo.
A ideia de abuso de direito é utilizada numa perspetiva ética e isso não pode ser
admissível, porque perante um exercício de um direito vem se apreciar se aquele
exercício é clamorosamente injusto ou não, existe assim uma base de direitos que nos são
consagrados e que não é admissível que alguém venha afirmar que esses direitos estão lá
mas ao mesmo tempo não estão lá.
Em suma adotamos uma conceção objetiva de abuso de direito, que muitas vezes
noa é seguida pela nossa jurisprudência que adota uma concepção subjetivista, sendo que
segundo a professora é um pouco perigosa de seguir.

TGDC
Aula: 31/10/17

Ao contrario do que acontece noutras ordens jurídicas o nosso legislador optou por
expressamente consagrar no CC a figura do abuso de direito, sendo que noutras ordens
jurídicas fala-se em casos de ilícitude. —> O abuso de direito está consagrado no artigo
334º.
Os problemas que se levantam são casos mais do que os que ele resolve, onde existe uma
desconformidade entre o texto e a epígrafe, sendo que ou o legislador não disse tudo na

36
epígrafe ou no texto mistura uma série de realidades.
— Um exercício de direito contrario à boa fé é ilícito, não precisamos do artigo 334º; É
licito um exercício de direito contrário aos bons costumes. Assim, o abuso de direito não
deverá ser a soma destas várias hipóteses, uma vez que cada uma delas por si já configura
a ilicitude de um abuso de direito, não sendo necessário recorrer-se ao artigo 334º de
forma a acrescentar algo. Assim a melhor interpretação deste artigo será de considerar
que de facto o legislador diz menos do que o devia dizer, o legislador leva a casos de
ilicitude através do exercício do direito. O artigo refere-se assim também à própria
desconformidade com a boa fé, aos bons costumes e na medida em que o legislador se
quer referir ao abuso do direito, o fim social ou económico seria o abuso de direito, talvez
seja assim essa a interpretação que melhor se adapta ao que o artigo refere e a hipótese de
abuso de direito seria só aquela que aparece aludida em terceiro lugar. De forma alguma
se podia interpretar que o abuso de direito seria a soma das 3 hipóteses pois cada uma
delas já tem ilicitude, logo não acrescentaria nada.

Assim qual será a importância deste artigo? Para percebemos quais as consequências do
abuso do direito. O exercício do direito é ilegítimo, sendo que a sanção para o abuso de
direito é em primeiro lugar a ilegitimidade e a irrelevância do exercício abusivo do
direito. De seguida o abuso do direito pressupõe sempre prejuízo para a contraparte,
sendo que a esse prejuízo junta-se a responsabilidade do titular do direito. Assim,
tratando-se de uma conduta ilícita, essa mesma conduta dá origem à responsabilidade por
facto ilícito e há irrelevância na actuação do sujeito.

Estrutura do direito subjetivo e posições jurídicas ativas e passivas

Direito subjetivo em sentido amplo enquanto poder de exigir ou pretender de outrem um


comportamento positivo ou negativo e direito de se poder constituir um ato de autoridade
que pode produzir efeitos jurídicos que inevitavelmente se impõem à outra parte. Dentro
desta definição de direito subjectivo em sentido amplo, podemos dividi-la em duas
partes: direito subjectivo em sentido estrito e direitos potestativos.

Direito subjetivo em sentido estrito: poder de exigir ou pretender de outra pessoa um


comportamento positivo ou negativo- a ação (facere) ou não ação (non facere).
Por exemplo, se A pode exigir de B um comportamento significa que Tem um dever
jurídico de agir ou de se abster de qualquer atividade.
Na maioria dos casos o titular do direito pode, se a parte contratante não cumprir, recorrer
aos tribunais para que hajam providencias e sanções cativas, falamos de poder de exigir.
No entanto a parte pode apenas pretender, o que significa que há menor intensidade de
efectivação do seu direito subjectivo, sendo que neste caso o titular do direito subjectivo
em causa não tem meio de reagir contra a outra parte se ela decidir não cumprir a
obrigação que lhe cabe. (ex. Obrigações naturais).— execuções às obrigações naturais:
art. 402 (em que se o devedor mudar de ideias ele não pode vir mais tarde a dizer que a
obrigação não era civil , mas sim natural e que quer de volta o que pagou + art. 403º (em
que não há lugar à repetição do indevido). Assim as obrigações naturais estão sujeitas aos
regime das obrigações civis em tudo o que não se relacione com a realizar coativa da

37
prestação.

Direito potestivo- é aquele em que a garantia é mais eficaz, sendo um direito que produz
efeito intervindo na relação jurídica de forma necessária, não existe reacção, é uma
garantia total. Consiste num direito que se reflete no poder de, por um ato libre e de
vontade, per si ou internado por decisão judicial, produzir efeitos que se impõem à
contraparte. Assim, no âmbito do direito potestativo temos uma situação de sujeição,
enquanto que no Direito subjectivo temos meramente um dever jurídico. O direito
potestativo abrange três modalidades:
— constitutivos: produzem a constituição de uma relação jurídica através de um ato
unilateral do direito do titular, não existindo reacção passiva do sujeito que é submisso
nessa relação jurídica. (1550º- servidão de passagem)- O direito potestativo refere-se à
constituição da servidão, em que A está submisso ao direito de passagem, sendo que o
direito de circular é um direito subjectivo, pois A assume o deve jurídico de deixar
passar. O direito de preferencia é um direito real de aquisição, mas por vexes pode ser
potestativo.

— modificativos: exemplo da separação judicial de pessoas e bens: a possibilidade que a


lei permite aos cônjuges no artigo 1794º da separação de pessoas e bens à qual se aplica a
regra depois do divorcio. O que acontece aqui é que aquele que tem a possibilidade de
pedir um divorcio, pode pedir a separação jurídica de bens, sendo que esta separação não
dissolver o casamento, mantendo-se a relação mas sendo modificada. Outro exemplo é a
hipótese de alteração da servidão de passagem (1568º).

— extintivos: direito à extinção de uma relação jurídica existente, é a hipótese mais


frequente de direito potestativos, sendo exercidos mediante a declaração do titular.
Exemplo: a possibilidade da resolução do contrato (1083º- casos no contexto do contrato
de arrendamento; a possibilidade de denuncia do contrato no artigo 1101º; a extinção da
servidão legal de passagem em caso de necessidade, no artigo 1569º; rescisão do contrato
de trabalho por justa causa)

Os direitos são exercidos e o sujeito passivo assiste ao exercício do direito e não pode
obstacular esse mesmo exercício, estando a contraparte numa situação de sujeição.
Temos assim vindo a falar da importância que o interesse tem na compreensão do DS e
até sendo uma espécie da sua confirmação, sendo que o abuso de direito é exatamente
uma fartura entre DS e o interesse que lhe esta subjacente. Contudo existem outros casos
em que existe essa mesma fartura entre o interesse e o direito subjetivo.

Poderes-deveres ou poderes funcionais: posição jurídica ativa que integra também uma
posição jurídica passiva que alguns equiparam aos poderes discricionários da
administração publica e consideram que já não estariam perante direitos subjetivos. A
posição a adotar vai no sentido de que estes poderes ainda cabem estruturalmente dentro
do direito subjetivo, são hipóteses de direito subjectivo Ou seja são posições jurídicas em
que existe um, por exemplo, responsabilidades parentais, poder que é conferido a alguém
para tutelar os interesses de outra pessoa. Verdadeiramente a sua especialidade face aos

38
direito subjectivos é que temos a intermediação de alguém entre o poder e o interesse,
porque o poder jurídico que aqui é conferido para a tutela de um interesse não existe na
titularidade do interessado, mas sim na titularidade da outra pessoa . O titular do direito
subjectivo será a pessoa a quem esse poder foi reconhecido. Nos poderes deveres ou
funcionais, o titular do poder jurídico não é a pessoa em cujo o interesse e o poder vai ser
exercido, o interessado é o outro, ou seja o direito é reconhecido a uma pessoa diferente
que é o interessado no seu exercício por parte do sujeito que detém o poder (o pai é que
tem o poder e o filho é que tem o interesse).
No fundo não ha uma separação radical porque os interesses daquele porque é exercido
são ao mesmo tempo interesses do titular do direito—> exemplo: o pai exerce os seus
direitos enquanto que a lei lhe confere como pai, ou seja poderes paternais, o interesse do
filho é do próprio interesse do pai, porque há interesse do pai no interesse do filho, sendo
que a melhor pessoa é aquela que prossegue o interesse da outra, ou seja os interesses do
principal são também os interesses de outrem. O titular deste direito subjectivo nestes
casos ainda gere a sua esfera de interesses, por exemplo os interesses do filho ainda estão
na esfera dos interesses do pai. Outro caso é os poderes do tutor, os poderes do
administrador (art.89º) e os poderes na administração legal na ausência ou na
inabilitação, no artigo 154º.

Faculdades jurídicas

Os direitos potestativos são faculdades, mas atribuídas a pessoas especificas e


pressupõem uma relação jurídica pré existente, não se confundem direitos potestativos
com faculdades.
As Faculdades jurídicas correspondem a momentos posteriores ou subsequentes, sendo
assim poderes em que se desdobra o poder de autodeterminação, permitindo a alguém
tornar-se sujeito de uma determinada relação jurídica.

—> Primárias: são poderes que são anteriores a uma relação jurídica (antes de uma
relação jurídica) e no fundo são emanações do poder de autodeterminação. Ex. Tenho o
poder de vender, de casar, de testar, de representar outrem ou de contratar em geral. São
emanações da minha autodeterminação.

—> Secundárias: contrapõem-se ao direito subjectivo na medida em que são poderes que
decorrem desse direito subjectivo, pois por mais simples que seja a posição jurídica
positiva de um sujeito, essa posição jurídica será sempre um conjunto de poderes,
nomeadamente o titular do direito de crédito (direito subjectivo), encerra o poder de
interpelar o outro para cumprir, poder de exigir juros de mora pelo não cumprimento
monetário, o poder de exigir judicialmente o cumprimento, o poder de requer a execução
especifica. Encerra um feixe de poderes, a esse conjunto de poderes chamamos
faculdades jurídicas secundarias, em que pressupomos a existência de um direito
subjectivo.

Em suma, as primarias potenciam a criação da relação jurídica, estão antes do direito


subjectivo. As faculdades secundárias são sempre posteriores aos direitos subjectivos,
serão irradiações do direito subjectivo anteriormente constituído. Podemos encarar as

39
faculdades jurídicas como irradiação de um direito subjectivo de personalidade, o direito
de personalidade à liberdade contem uma série de poderes: de casar, vender, comprar.
Nesta perspetiva já não seriam faculdades primárias, mas sim secundarias, pois estas
figuras acabam por aparecer interligadas e misturadas num momento posterior.

Expectativas:

O direito subjectivo distingue-se daquelas situações em que ainda não são situações de
prevalência. As expectativas são antecâmaras de direito subjetivos, sendo protegidas pelo
ordenamento jurídico. Exemplo: quando falta algum dos elementos que depende o
surgimento do direito, mas temos já um embrião do direito que irá surgir, existe uma
situação intermediária mais ou menos consistente que não produz os seus efeitos normais
mas que ja é regida pelo direito, aguardando a produção da totalidade dos seus efeitos,
isso corresponde às expectativas.
São vistas como direitos em formação.

Ex. Posição do herdeiro antes do recebimento da herança previsto no artigo 2047º, em


que não ha ainda nomeadamente direito de propriedade, no entanto já pode exercer o
direito subjectivo que caberia antes só ao proprietário.
Usufruto sucessivo no artigo 441º- é uma situação muito frequente em que os pais
reservam determinados bens para os filhos, mas reservam para si o usufruto e reservam-
no sucessivamente para que o usufruto persista ao longo da vida de ambos.
Sucessivamente significa que o primeiro o usufruto é de A e depois é de B, mas a posição
jurídica de B não é indiferente para o D, porque tem expectativa a vir a ser proprietário.
Não devemos confundir as expectativas jurídicas com as simples expectativas, que são
menos que as expectativas jurídicas, são aquelas esperanças de adquirir um direito, sendo
longínquas e fortuitas (ex. Esperança de um filho herdar algo do pai). Não são
juridicamente protegidas, mas excecionalmente o legislador protege as simples
expectativas, sendo o exemplo do artigo 877º (acautela as simples expectativas).
Posições intermédias que merecem tutela do legislador, em que temos varias posições
intermédias de formação quanto a esta tutela. Alguns entendem que estamos numa
posição intermédia de formação do direito, temos um embrião de um direito. Outros
entendem que temos direito formado completo, só lhe falta um titular, ou seja falta-lhe o
sujeito.— posição jurídica dos nascituros: aquele que já está concebido, mas ainda não
nasceu. Exemplo: doação a nascituro, sendo que só pode existir quando ele nascer, pois
só ai existe direito de propriedade.

Classificação dos Direitos subjetivos:


—> Direitos inatos e não inatos: a distinção é feita pela ligação intrínseca entre o direito e
a pessoa, já que quase todos os direitos de personalidade são inatos, mas ainda existem
direitos de personalidade que são adquiridos nos marcos da vida social (ex. O direito ao
nome é só obtido depois do nascimento e de registo civil; o direito de autor é só obtido
com o lançamento da obra).

—> Direitos essenciais e não essenciais: atende ao estado em que a pessoa se encontra.

40
São direito essências aqueles de que a pessoa não se pode privar sem se privar de certas
condições essências e de direitos que lhes são inerentes (ex. Pessoa casada, sendo que os
direitos de personalidade são direitos essenciais e não se pode prescindir deles sem
prescindi do estado de pessoa).

—> Direito de natureza pessoal e direitos patrimoniais: a distinção é feita de acordo com
a natureza dos bens jurídicos em jogo. O direito de autor tem uma vertente pessoal e tem
uma verte patrimonial, na esfera de explorar o valor da sua obra. Os direitos pessoais são
os direitos de personalidade e família.

—> Direitos absolutos e relativos: classificação que atende aos titulares passivos dos
sujeitos dos direitos, ou seja, às pessoas a que os mesmos se impõem. Os direitos
absolutos são aqueles que se impõem erga omnes, à generalidade das pessoas, e são
relativos os direitos que se impõem a certas e determinadas pessoas, embora esta
distinção seja criticada por alguma doutrina. Dizem que quando se impõem erga omnes,
verdadeiramente qual é o grupo de pessoas a quem o comportamento passivo é imposto?
Ex: A vendeu uma coisa B. A tem o direito de credito sobre o preço. O direito de A
impõe-se a B - direito relativo. Em virtude deste contrato compra e venda, B tornou-se
proprietário. O seu direito de propriedade impõe-se a quem? Impõe-se erga omnes a
todos aqueles que estão numa situação que poderia perturbar a propriedade de B, esses
estão obrigados a um comportamento omissivo, no sentido de não perturbar o direito de
propriedade. Aqui entram as criticas: quem são as pessoas a quem é imposto o
comportamento passivo? Onde acaba a delimitação do grupo de pessoas que eta sujeito a
estes comportamentos omissivos? São apenas aqueles que estão em condições de
perturbar o direito.
São absolutos os direitos de personalidade, os direitos sobre pessoa de outrem e os
direitos reais. São relativos os direitos de crédito.

—> Direitos disponíveis e indisponíveis: se o titular de DS pode desligar da titularidade,


o DS é disponível, caso contrário é indisponível. O direito à imagem é disponível e o
direito à vida é indisponível, sendo que os direitos patrimoniais tendem a ser disponíveis
e os direitos de personalidade tendem a ser indisponíveis.

Aula: 06/11

Direitos disponíveis e indisponíveis: se pretendem o com facto do titular se poder


desligar ou não da titularidade desse direito.
Existem graus de disponibilidade que podem ser direitos mais ou menos disponíveis.
Como regra os direitos de natureza patrimonial são direitos disponíveis e os pessoais
tendem a ser indisponíveis.

Direitos subjectivos numa perspectiva estrutural- dois tipos de direitos subjectivos:


direitos subjectivos em sentido estrito (o titular do direito tem o poder de exigir esse
mesmo direito) e direitos potestativos (inevitabilidade dos efeitos na esfera jurídica do
sujeito)

41
Em sentido estrito:
— Direitos de personalidade: direitos da pessoa sobre si própria, incidem sobre o próprio
titular do direito. Do lado passivo destas relações jurídicas em que a posição ativa é o
direito de personalidade não temos o mero dever geral de abstenção. Apesar de serem
direitos absolutos, os sujeitos passivos não estão apenas obrigados a nada fazer para
perturbarem o direito de personalidade. Pode existir a necessidade de adotarmos um
dever de auxilio. (aos sujeitos passivos pode ser imposto um dever de auxilio de socorro,
por exemplo passo na rua por algum caído inconsciente, eu mesmo sendo sujeito passivo
eu sou obrigado a prestar auxilio, não assumo uma obrigação passiva de não perturbar o
indivíduo, eu assumo o dever de intervir)
— Direitos de crédito: enquanto direitos que se traduzem na necessidade de morar um
determinado comportamento positivo ou negativo. São direitos que se impõem a certas e
determinadas e pessoas, são direitos que não se impõem de forma geral á comunidade, e
o sujeito passivo está obrigado a realizar a prestação correspondente, são direitos
imediatos.
— Direitos reais: são poderes directos e mediatos sobre uma pessoa, para o seu exercício
não é necessária a intermediação de ninguém.
— Direito sobre a pessoa de outrem, em que existe a hipótese de o objecto de direito ser
de outra pessoa.— são situações excepcionais que a lei prevê, concretamente nas
responsabilidades parentais, artigo 1887º e aplicado ao sistema do tutor no artigo 1935º.

Se analisarmos os direitos subjetivo de acordo com o critério funcional atendendo aos


interesses temos os:

Direitos da pessoa:
- direitos de personalidade e direitos potestativos- artigo 81º nº2;
- direitos de crédito- art. 72º;
- direitos reais

Direitos de obrigações:
- Direitos de crédito
- Direitos potestativos
- Direitos reais de garantia

Direitos das coisas:


- Direito reais de gozo, aquisição
- Direitos potestativos
- Direitos a indemnizações

Direitos da família:
- Direitos sobre a pessoa de outrem
- Direitos potestativos (direito de separação judicial de bens)
- Direitos de crédito (entre os cônjuges)
- Direitos reais (a propósito do regime de bens do casamento)

Direitos das sucessões:

42
- Direitos potestativos (herança)
- Direito de crédito (dívidas- 1068º e 2097º
- Direitos reais (propriedade dos bens de herança)

Dever jurídico vs sujeição:

O dever jurídico corresponde a um dever de adoptar um determinado comportamentos,


sendo imposto a um sujeito. Nesta hipótese, a pessoa sobre quem recai esse dever pode
ou não adotar esse comportamento jurídico. A ordem jurídica põe à disposição do titular
do direito subjetivo mecanismos de garantia para prosseguir os seus interesses,
nomeadamente, a disposição de recorrer a vias judiciais a que esse comportamento seja
adotado.

Caso da sujeição: neste caso o sujeito passivo não tem que adotar qualquer
comportamento, porque os efeitos jurídicos que se produzem ocorrem sem ele intervir, é
um mero espectador relativamente ao exercício do direito potestativo. É assim a
necessidade de aceitar sofrer as consequências do exercício do direito potestativo, que
produz os seus efeitos. Assim a opção de escolha do exercício desse mesmo direito, em
cumprir ou não esse mesmo direito, está fora da esfera do sujeito, sendo que vigora a
necessidade de aceitar sofrer as consequências do exercício do DP, que assume a
característica de produzir os seus efeitos assim que é exercido e que se repercutem
imediatamente na esfera da contratante, de quem tem a sujeição. Assim, tal com vimos
não há nada que o obrigado possa fazer , não podendo escolher não cumprir ou não se
sujeitar, porque essa possibilidade está fora do âmbito da sua esfera. É verdade que em
alguns casos podemos ter dúvidas em relação às situações de incumprimento, mas
relativamente à sujeição nunca há hipótese de incumprimento— ex. Estabelecimento de
servidões prediais, pode perturbar o dever correspondente ao direito de passagem, mas
não a situação de obrigação graças à situação de sujeição, porque fico logo onerado com
essa servidão que o sujeito cumprindo o seu dever jurídico pode ou não permitir
passagem e executar esse mesmo direito. Já quando cumpre ou assume um estado de
sujeição ele não tem possibilidade de escolher o que pretende, sofrendo as consequências
que advém o exercício do direito potestativo em causa.

ÓNUS
O ónus traduz se na necessidade de adotar um comportamento com vista à satisfação de
um determinado interesse, diferente com o que acontece com o poder jurídico, no caso do
ónus a não adoção do comportamento, não é um comportamento anti-jurídico ou seja,
não é ilícito acontecer, ele assim adota ou não o comportamento, uma vez que
relativamente à adoção do comportamento está associada uma vantagem. Já a adopção do
dever jurídico acarreta sanções.
— exemplo: Se a pessoa cumpre o ónus de comunicação, nas cláusulas contratuais gerais,
essas mesma clausulas são aplicadas.

Classificação das relações jurídicas:

43
—> relação entre contrato e relação jurídica: os contratos não são relações jurídicas,
sendo que o contrato é um elemento da relação jurídica. A relação jurídica possui,
sujeitos, um objeto, a garantia e o facto jurídico, que é o facto jurídico relevante que dá
origem à relação (ex. contrato, morte…). O Contrato é que gere a relação jurídica, não
é uma relação jurídica, é apenas um elemento da relação jurídica.

— singulares ou plurais: consoante temos uma única ou mais pessoa(s) a ocupar o lugar
sujeito ativo ou passivo (ex. Obrigação solidária, artigo 512º)
— bilaterais ou plurilaterais: termos só dois ou mais feitos de interesse na relação (ex.
Relação jurídica que surge com um contrato de compra e venda, temos a posição do
comprador e a do vendedor. Temos dois sujeitos ativos e dois sujeitos passivos, temos
dois interesses). Mas se pensarmos numa relação jurídica que insistiu uma sociedade
comercial por quotas, temos presente vários feixes de interesse.
— instantâneas ou duradouras: que tem a haver com o tempo, tenso relações jurídicas
que se esgotam e outras que se prolongam por um período de tempo indeterminado. (ex.
Contrato de compra e venda- é uma relação do momento, é instantânea, mas no caso do
direito de propriedade sobre esse bem é uma relação jurídica duradoura; se no contrato de
compra e venda o preço fosse pago em meses a relação é duradoura, sendo este o
exemplo dos contratos de garantia dos carros; ex. Casamento é uma relação que tende a
ser duradoura). A contrariedade dos contratos duradouros é muda-se o tempo muda-se as
vontades.
— simples ou complexas: as relações jurídicas por norma não são relações simples, em
que temos um linear de posições. Na generalidade do caso, as relações jurídicas são
complexas, mesmo no caso de compra e venda.

As relações jurídicas podem aparecer combinadas entre elas (combinação entre as RJ):
— pode ser numa relação de acessoriedade: uma relação jurídica é instrumental em
relação a outra, uma depende da outra (ex: garantias relativamente aos créditos, ex:
penhor, hipoteca – esta relação depende de uma relação creditícia anterior, ou seja, se o
credito se extingue a garantia também se vai extinguir, ou se a relação de credito não e
valida a constituição da garantia também não e válida. Ex: art 627º, 730º, a))

— pode ser numa relação de pertinência: temos uma relação deste género quando temos
uma convergência de relações jurídicas no mesmo ponto comum que pode ser para o
mesmo sujeito. As relações jurídicas estão combinadas num critério pertinente, a isto dá
se o nome de esfera jurídica que consiste num combinação de relações jurídicas que
pertence ao mesmo sujeito.

Património é um conjunto de de relações jurídica de caracter patrimonial, sendo no fundo


uma sub-esfera ou um conjunto dentro da esfera jurídica. Pode ser:
— líquido
— autonomo ou separado

Aula: 07/11
Sucessos fundamentais na vida da relação jurídica (no plano do direito subjetivo):
Constituição e aquisição de direitos.

44
Constituição de direito- podemos ter um direito que se constitui, mas não adquire
imediatamente esfera jurídica do sujeito, não se adquire já se encontra constituído- ex.
Nascituro (direitos de personalidade). Assim a constituição de direito é o surgimento do
direito em questão pela primeira vez na ordem jurídica.

Aquisição de direito - a maior parte dos casos de aquisição de direitos não corresponde
simultaneamente a uma constituição de direitos que se tratam de direitos que já existiam
na ordem jurídica nomeadamente noutro titular e que se transfere para um novo sujeito.
Distinguimos dois tipos de aquisição: derivada (depende de direito jurídico anterior) ou
originária (não depende de direito anterior)

A. Aquisição originária de direitos, nomeadamente na ocupação de coisas móveis


no artigo 1318º —ocupação de uma coisa móvel ou animal, o direito adquirido que
depende do facto aquisitivo que é a ocupação, não depende de direito anterior. Pode ter
existido direito anterior que abandonou o objecto em si, mas isso não significa nada
porque o direito adquirido não estabelece qualquer relação com o direito anterior); + art.
1324º (descoberta de tesouro) e + usucapião previsto no artigo 1287º — a posse do
direito de propriedade durante um determinado tempo leva à aquisição desse direito, o
direito de propriedade não está dependente de qualquer direito anterior, forma-se de
novo, uma vez que a posse pelo decurso do tempo não depende do direto anterior, aliás o
direito até se pode adquirir por contraposição ao direito anterior.

B. Aquisição derivada (direitos que depende de direito anteriores juridicamente),


divide-se em três modalidades: constitutiva, translativa e restitutiva:

Em suma a principal diferença entre aquisição originária e a aquisição derivada é o facto


de nesta o direito adquirido depender quanto à sua génese e extensão do direito anterior,
ou seja, o direito adquirido é condicionado na sua existência e validade por um direito
anterior, ao passo que na aquisição originária, o condicionamento é inexistente, o direito
depende apenas do facto aquisitivo.

— constitutiva: o direito adquirido filia-se no direito anterior, mas não é tão amplo
como o direito anterior, o direito adquirido tem um conteúdo que é diferente e absorvível
pelo direito anterior —ex. usufruto: é um direito real de gozo, em que o usufrutuário tem
o direito real de usar a coisa durante determinado período de tempo, mas não é
proprietário da mesma, segundo o artigo 1439º. Sendo que o conjunto de poderes que o
usufrutuário adquire pertenciam anteriormente ao proprietário. O conteúdo do usufruto já
existia dentro do direito de propriedade, sendo que o direito de propriedade vai ser
comprimido, que dá origem ao fenómeno comum de direitos reais limitados + o exemplo
do artigo 1060º que se refere aos contratos de sub-arrendamento.

45
— translativa: o direito adquirido coincide com o direito anterior, tem a mesma
amplitude e o mesmo conteúdo que o anterior, apenas circula de um sujeito para outro
sujeito - ex. Contrato de compra e venda, doação e sucessão mortis causa. Podemos
também ter casos de aquisição derivada translativa em que não é transmitido todo o
direito, apenas uma parte por exemplo 50%).— transmite-se de um para o outro o bem
em causa. (ex. Quando A vende o seu carro a B, o direito de propriedade transita da
esfera jurídica de A para a esfera jurídica de B, mas se for no caso de usufruto, o direito
não transita integralmente, porque há partes dos poderes do trasmitente que ficam
reservados para ele, ele só transmite o usufruto.

— restitutiva: na restitutiva temos o fenómeno inverso ao da constitutiva,


imaginemos que o usufruto de B era durante 5 anos, ao fim de 5 anos extinguiu-se. O
que acontece ao direito real? O que acontece é que esse direito real de gozo que ele
usufruía, expande-se voltando à sua dimensão inicial, em que A passa a exercer todos os
direitos de novo, ou seja voltam os direitos ao sujeito inicial, deixando de existir o
fenómeno comum de direitos reais limitados.

Consecutivamente, a aquisição derivada relaciona-se com sucessão, mas só há sucessão


quando há um sub-ingresso nas relações jurídicas de uma pessoa noutra pessoa,
falaríamos assim de aquisição translativa, sendo que sucessão é um termo mais amplo,
porque há um sub-ingresso também nas posições jurídicas ativas e passivas, daí não
dizermos adquirir dívidas, mas sim suceder dividas, herdar… Quer a constituição,
aquisição quer a sucessão são dinâmicas, ou seja, transitam de esfera jurídica em esfera
jurídica.

A aquisição derivada obedece a uma regra que é imprescindível —> Principio do nemo
plus iuris: não se pode transmitir mais direitos do aquilo que se tem, ou seja, o
comprador só adquire os bens do vendedor, se estes lhe pertencerem verdadeiramente.

— 2 exceções:
A) decorre das regras do registo predial— proteção de terceiros para efeitos de
registos: o registo predial existe para dar publicidade dos negócios de determinados
móveis. (Além deste temos o registo de automóveis, embarcações, aeronaves…). A
finalidade do registo é dar publicidade à situação jurídica dos bens, existindo apenas
sobre determinados bens que pelo seu valor se torna necessário conhecer a sua
situação jurídica e quem são os titulares dos mesmos, o registo primeiramente se
assume como dar a conhecer a situação jurídica desses bens móveis. O direito é
adquirido em virtude de um determinado título e depois o registo publicita essa
mesma aquisição, mas esse registo não interfere com essa aquisição, não sendo causa
dessa aquisição. O registo também não tem a haver com a forma do contrato— ex.
Escritura pública de contrato de compra e venda, em que B torna-se proprietário do
bem e depois o direito de propriedade é escrito no registo predial, dizendo que B se
torna proprietário, sendo que B não adquire só quando é registado, mas sim logo
quando o contrato é celebrado.—> funciona o princípio do trato sucessivo em que
tem que haver um registo sucessivo, pois só se consegue registar, se o anterior tiver

46
registado esses bens em seu nome, terá de haver uma transparência de registo, em que
B só consegue registar esse bem em seu nome, se A o tiver anteriormente registado
em seu nome. (art. 34º do Código do registo predial). O registo não é assim um meio
de aquisição do direito, uma vez que por exemplo, se A vende a B um imóvel, e se B
não o registar ele não tem o seu direito invalidado por causa disso. O registo é apenas
um ónus do adquirente, içai é um requisito de validade do direito, apenas dá
publicidade e conhecimento a esse direito, permitindo ao adquirente beneficiar de
alguns benefícios por via desse registo. É assim uma mera condição de eficácia da
aquisição.— Porque é que o resgato pode ser tão importante para o afastamento da
regra do Nemo Plus iuris? Em casos em que temos terceiros para efeitos de registo,
que consistem em sujeitos que recebem direitos total ou parcialmente incompatíveis
ou conflitantes sobre o mesmo objecto: ex. A vende o mesmo prédio a B e depois a C,
se não tomarmos em linha do registo, segundo o principio do Nemo Plus iuris, quem
é possuidor do bem imóvel é B que adquiriu primeiro. Assim as coisas alteram-se ou
podem se alterar por efeito do registo, porque se A vende a B e B não regista ele não
pode opor o seu direito a terceiros e se C vai registar, ele adquire na aquisição uma
protecção e que pode opor a B, sendo que embora C veja prevalecer a sua aquisição,
B tem o direito a ser indemnizado pela decadência do seu direito. Estes casos de
desvio à regra só se verificam se o único vicio for de que o padecer de transmissão for
a ilegitimidade do trasmitente, se houver outros vícios como o caso em que o próprio
vendedor é alvo de alguma ilegalidade já se analisa outro vicio na aquisição.

A) Necessidade da proteção de terceiros que estejam de boa fé— os terceiros para


efeitos de registo são aqueles que do mesmo transmitente adquiram direitos
parcialmente ou totalmente conflitantes sobre o imóvel. Imaginemos A vende
validamente a B em 2016, e em 2017 vende a C. De quem é o imóvel ? É de B. Assim
entre A e C existem uma venda de bens alheios, 892º, sendo nula. Assistimos a duas
aquisições derivadas translativas. C depende de direito de A, mas A transmitiu o
direito B, mas se tiver registo a favor de A temos uma presunção que pode ser
afastada e o direito é de B. Imaginemos que B regista, C não consegue registar, mas
se B não regista , C regista o que acontece? Aqui entra o efeito central de registo, em
que o negócio apesar de valido com B, B como não regista não pode opor o seu
direito face a terceiros que é C que regista, C está de boa-fé. C adquire o direito de
propriedade e o de B extingue-se, porque o legislador quer que os adquirentes
registem. Assim se terá de estar de boa fé sendo afectado por uma invalidade anterior
ao negócio que toma parte, em que existe uma invalidade do direito anterior. Aqui
trata-se de um registo obrigatório, não sendo um declarativo ou meramente formal.
Suponhamos agora que este negocio para além de ser nulo por ser uma venda de bens
alheios, era nulo por outra razão qualquer que conduz à nulidade. Assim não é
indiferente entre A e C, porque não é indiferente a validade substancial pois esse
negócio se fosse susceptível de vícios, o registo predial não apaga esses mesmo
vícios. (se for um vicio de forma não ha registo ; se for um vicio de titularidade em
que não houve registo no caso de B, C consegue registar). Outro exemplo: A vende a
B que não regista, A morreu e o seu herdeiro vai à conservatória e vê que no processo
normal de sucessão pede o registo em seu nome os bens que estavam em nome do pai

47
registando esses mesmo bens ©. Adquire o terreno de B, sendo que as transmissões
não se adquirem em bens por sucessão, só apenas por efeitos mortis causa e em
função do registo, uma vez que o pai em vida não pode transmitir por não ser
proprietário, sendo que C só adquire o terreno por via do registo em efeito de
sucessão hereditária, sendo que o direito de B decai ou extingue-se por decadência
pela superveniência de um direito incompatível, sendo que quem adquire o direito de
propriedade por registo é C. — A boa fé por parte de terceiro está prevista no artigo
291º nº3 em que se considera terceiro de boa fé, o terceiro adquirente que no
momento da aquisição desconhecia, sem culpa o vicio do negocio nulo ou anulável,
existindo assim no nosso código civil duas situações em que existe a protecção da boa
fé: art. 243º nº1 e 291º, porque se aplicássemos, sem qualquer restrição o disposto no
artigo 289, assumindo essa mesma declaração de invalidado carácter retroativo, isso
faria com que se uma das relações é invalidada todos os efeitos para troas
desapareciam, não podendo mesmo o sujeito de boa fé e desconhecendo essas
invalidado registar o bem imóvel em questão. Por isso existem estes dois artigos, que
se aplicam intrinsecamente ao previsto pelo artigo 289º, de forma a proteger terceiros,
com vista a evitar ser efeito destrutivo em cadeia provocado pela invalidada do
negocio e conferir ao comércio jurídico confiança. A boa fé é assim um mecanismo
de ignorância da simulação ao tempo em que foram constituídos os direitos, sendo
desconhecido para o terceiro no momento da aquisição.

Aula: 13/11

Na aula passada falamos do princípio da aquisição derivada, falamos da primeira


excepção hoje iremos falar do segundo que é a total da boa fé.

2ª exceção: proteção da boa fé


Há simulação quando alguém emite por acordo uma declaração que não corresponde à
sua vontade com intuito de enganar terceiros, segundo o artigo 240º.— o negocio
simulado é nulo (240º nº2)

—> duas situações em que a protecção da boa fé se concretiza, sendo excepção ao


princípio do “Nemo Plus iuris” na medida em que este princípio de boa fé difere do
sentido para efeitos no registo predial, pois esta duas situações/exceções referem-se a
casos em que visam proteger as pessoas que por força da invalidade, vêem o seu direito
em risco, porque o seu causaste ou autor, em virtude dela, carecia de legitimidade para o
transmitir ou constituir:
art. 243º— simulação (art. 240º)
art. 291º— inoponibilidade da nulidade e da anulação- é aplicado a qualquer hipótese de
nulidade ou anulabilidade, sendo mais amplo do que o previsto no artigo 243º. Aqui é
uma norma mais rígida, sendo uma protecção efetuada através de um conjunto de
requisitos, sendo que o regime do artigo 243º assume caracter geral de aplicação. O
regime disposto no art. 291º embora assuma o sentido subjectivo de boa fé terá se
assumir uma ignorância sem culpa, e não uma ignorância da situação, tal como o previsto
no artigo 243º, ele assim deve assumir uma atitude mais adequada e diligente ao
terceiro—> este não pode ignorar, porque não se deu ao trabalho de conferir, de indagar,

48
tem de ignorar sem culpa. Outro requisito é que esta norma só se aplica se estiverem em
causa bens imóveis ou bens móveis sujeitos a registo, tratamento diferente dos bens que
exigem registo, assim se ele não regista não terá direito, assume um sentido lateral de
efeitos de registo. Outro requisito é o registo de aquisição, em que deve ser uma
aquisição onerosa relativamente a bens onerosos, que terá que ser anterior ao registo de
ação de invalidade que venha tratar-lhe da invalidade do negócio anterior, ou seja, se há
uma ação com vista à invalidade e se já se encontra registada, o que acontece aqui é que
não há proteção de terceiros, pois quando chego ao Registo Predial já se encontra lá
registada uma ação de invalidade e eu consecutivamente conheço essa mesma ação.

—> Sentido da boa-fé: a boa fé em sentido objectivo é quando a necessidade é adoptada


de algo correto, sendo um dos limites aos direitos subjetivos, sendo uma norma de
conduta. A boa fé nestes casos é num sentido subjetivo, sendo um estado psicológico do
sujeito, em que tem a haver com o que ele conhece ou não. É assim definida no artigo
243º nº2.

Aula: 14/11

Modificação de direitos e obrigações e a extinção de direitos


Mudança de direitos e do objeto
Há uma modificação de direitos quando o direito se mantém, mas surge uma
alteração subjetiva (sujeito) ou objetiva (conteúdo ou objeto do direito).

Modificação subjetiva:
Substituição – quando a um sujeito ativo substituiu outro. Ex: numa compra e venda,
quando o sujeito A compra um direito a B. o direito de A é o mesmo que
circula para B, o direito é o mesmo, o sujeito é que é diferente. / Se A morre e
sucede o seu filho o seu único herdeiro, B, B passa a ser titular do mesmo
direito
Multiplicação: onde tínhamos apenas um sujeito vamos passar a ter mais do que um
sujeito por motivos de sucessão mortis causa (A morre e herdam B e C) ou A
vende a B e C.
Adjunção: há uma multiplicação, mas o primitivo titular de direito mantém-se titular do
direito agregando um novo sujeito àquele direito. Ex: A vende ½ da
propriedade a B
Concentração: fenómeno simétrico da multiplicação, quando existiam vários sujeitos e
passamos a ter um único titular de direito: Ex: A e B vendem um terreno a C
(passamos do regime de compropriedade para o regime de propriedade).

Modificação objetiva
Alteração do conteúdo: quando os poderes que integram o direito se alteram por qualquer
razão. Ex: 1470º do CC (consoante o objeto do usufruto, o proprietário tem a
faculdade de exigir do usufrutuário, sob pena do bem sofrer de prejuízos – o
titular em vez de usar plenamente a coisa está sujeito a que o proprietário
modifique o seu direito, o conteúdo do mesmo direito vai alterar-se) e 1482º
do CC (a lei confere proteção ao proprietário, não extingue o usufruto, mas o

49
proprietário pode exigir que o bem lhe seja entregue, mais uma vez, o
conteúdo do direito de usufruto fica alterado).
Alteração do objeto: trata-se de uma alteração relativamente ao próprio objeto sobre o
qual incide o direito. Ex: 701º do CC (direito de hipoteca – direito real de
garantia, permite a um credor ser ressarcido do seu crédito sob o valor de um
imóvel. É o único caso em que o registo é constitutivo de direitos. O credor
tem a faculdade de exigir do hipotecado, uma nova hipoteca de modo a
garantir o direito real de garantia. O conteúdo do direito do sujeito mantém-se,
só se altera o seu objeto); 1325º e seguintes do CC (acessão –suponhamos que
A é proprietário do prédio rústico C, e B é proprietário do prédio rústico D,
prédios confinantes, ocorre um período de precipitação avultante, a terra de B
junta-se ao leito do rio e junta-se ao prédio rústico de A – o conteúdo do
direito é o mesmo, o objeto é que se modifica).

Modificação na obrigação
As modificações que incidem no lado passivo da relação, são sempre
modificações subjetivas.
Distingue-se:
Substituição: sempre que há uma modificação do devedor, passa a haver uma
modificação de garantia do credor porque a garantia geral do credor é o
património geral do devedor. Pode haver substituição inter vivos (transmissão
singular da divida – 595º do CC -, só é possível na medida em que haja uma
declaração expressa do credor). Quando ocorre mortis causa o património é o
mesmo, a garantia do credor continua a ser a mesmo, apesar do mesmo
património ter sido alvo de sucessão.
Multiplicação:
o Sucessão: se ao devedor sucederem dois herdeiros, por exemplo, existem mais
devedores, apesar do património ser o mesmo, o património alvo da divida
é o património do de cuis e não o património total dos herdeiros.
o Adjunção: assunção cumulativa da divida (transmissão singular da divida sem
declaração expressa do credor à mantém o devedor primitivo e soma-se o
segundo devedor – art. 595º/2 do CC). Quando temos devedores
solidários, como neste caso, o credor pode exigir a totalidade da divida a
ambos os codevedores.
Concentração: fenómeno inverso da multiplicação. Teremos concentração sempre que a
obrigação que recaia sobre vários devedores passa a concentrar-se num único
devedor. Ex: A e B, casados, contraem uma divida, morrem durante um acidente
de viação, a divida recai sobre o seu único herdeiro, C.

Extinção de direitos
O direito deixa de existir na esfera jurídica do titular, desliga-se do titular.
Distinguem-se:
Subjetiva: o direito apenas se extingue na esfera jurídica do titular, continua a existir,
apenas muda de titular através de uma aquisição derivada translativa e com a
sucessão:
o Por vontade do titular: A vende a B

50
o Sem a sua vontade: acontece se A morrer e não tiver feito testamento, as
regras sucessórias dizem que o herdeiro será o filho – sucessão intestada
o Contra a sua vontade: pode fazer um testamento a X, mas este tem um filho,
logo a parte relativa à legitima faz-se contra a sua vontade; expropriação;
execução de bens; sucessão legitimária.
Objetiva: o direito deixa de existir, não há transmissão ou aquisição derivada translativa.
o Destruição do objeto: se o objeto é destruído, o direito extingue-se. Ex: o
direito de propriedade sobre uma casa ardida extingue-se
o Abandono do objeto: coisas móveis abandonadas podem ser adquiridas por
ocupação (aquisição originária)
o Não exercício do direito
o Decadência: o direito extingue-se por formação de um direito incompatível
que sobre ele prevalece. Ex: usucapião (A é proprietário de alguma coisa e
não a usa por um lapso de tempo considerável, B ocupa a propriedade de
A por um lapso de tem considerável, B adquire o direito de usucapião e o
direito de propriedade de A, extingue-se por decadência), resultado da
aquisição de terceiros de boa fé e de terceiros para efeitos de registo

Não exercício de direitos


Não uso: os direitos reais limitados os que se constituem comprimindo o direito de
propriedade extinguem-se pelo não uso. (Ex: artgs. 1476/1, c); 1490º e 1569º do
CC). A propriedade, direito real absoluto, é uma exceção a esta regra.
Renúncia: os direitos extinguem-se por abandono da situação de prevalência (renúncia
abdicativa): arts. 265º/1; 302º - só admite renúncia à prescrição antes do término
da prescrição. 867º - renúncia às garantias da obrigação; 1476º/ 1, e); 2057º/1 –
renúncia da herança; 2170º do CC – matéria sucessória, as liberalidades, doações
entre vivos, o autor da sucessão não pode renunciar ao direito de elas serem
admitidas na herança. Nota: há direitos irrenunciáveis: direitos de personalidade
(art. 69º do CC), de família
Prescrição: extinção de direitos pelo decurso do tempo (direitos de crédito). Os direitos
deixam de ser judicialmente exigíveis, as obrigações civis passam a obrigações
naturais, mas mantém o principio da não repetição do individuo (não acontece na
caducidade): art. 304º do CC. O prazo geral de prescrição é de 20 anos. Grosso
modo, a prescrição aplica-se a direitos de crédito, mas não é absolutamente
rigoroso.
Caducidade: extinção de direitos pelo decurso de tempo (essencialmente refere-se ao
direito de acionar). Por exemplo, a anulabilidade, a lei estabelece um prazo para a
arguição da anulabilidade, geralmente um ano, cessação do vício. Os atos
praticados por menores são anuláveis a contar do prazo em que o negócio se
conheceu anulável: artgs. 125º, 287º do CC

AULA: 20/11

Acontecimentos acidentais da vida da relação jurídica


Nas relações jurídicas podemos considerar as vicissitudes que sofrem as relações
jurídicas.

51
As vicissitudes podem ser:
— pendência: quando uma relação jurídica não pode funcionar plenamente porque o
sujeito ainda não existe ou não está determinado- exemplo aquisição derivada
consecutiva sujeita a uma termo ou a condição por exemplo num usufruto, é uma relação
jurídica nova ainda que filiada a um direito anterior, nunca funcionou e que ainda não
está a funcionar e que só funciona até que se verifique aquele acontecimento futuro.

— quiescência: dá se quando a relação ja funcionou, já produziu os seus efeitos mas por


qualquer obstáculo deixa de ter um funcionamento normal, é como se hibernasse ou
estivesse adormecida. — exemplo doação a um nascituro, em que se A doa algo a
nascituro, o que acontece à relação jurídica é que ela não pode funcionar relativamente a
este novo sujeito, ficando numa situação de paralização momentânea até ao surgimento
de um novo sujeito.

— revivescência: dá-se quando a relação torna a viver, se nas situações anteriores


aparece um obstáculo, aqui deixa de haver obstáculo à produção dos efeitos normais da
relação jurídica, passa assim a produzir novamente os seus efeitos jurídicos de forma
normal e sem problemas— exemplo num direito de usufruto sujeito a uma condição a
situação se verifica, a situação de pendência deixa de existir e a situação volta ao normal.

Elementos da relação jurídica:


- Sujeitos da relação jurídica
- Objecto
- Facto jurídico
- Garantia

Garantia:
A garantia confere juridicidade à relação, o que permite distinguir esta relação das
relações sociais, no fundo traduz-se no conjunto de providências coercivas a tornar
efetivos os poderes do titular do direito subjetivo, sendo estes meios coercivos anotados
pelo estado através dos tribunais. + Responsabilidade civil: a lei privilegia a condição
natural do lesado. No âmbito dos direitos de personalidade, no artigo 70º nº2 o lesado
poderá prover de outras providências para evitar a lesão que sofre. Sanção pencunária
compulsória artigo 829º A que surge como meio que constrange o devedor a cumprir o
pagamento, sendo uma forma de incentivar o devedor a cumprir.
Todos estes meios são meios de heterotutela de direitos, que o estado põe à disposto
do sujeito ativo a prossecução dos seus interesses.
Contudo há situações excepcionais que a lei prevê em que é possível recorrer a
meios de auto-tutela de direitos, que são situações pontuais: a lei permite isto nos casos
de ação direta (336º) e legítima defesa (337º). Assim ainda que o agente provoque danos
a outrem, a sua relação é licita sendo que ele não responde pelos danos causados.—>
recurso à força como recurso aos meios institutivos juridicionais, não podendo exceder-
se, existe a ideia de proporcionalidade. Na legitima defesa é um meio preventivo que
afasta uma agressão iminente ou já indiciada e que ainda não se consumou, sendo esta a
diferença entre ação direta e legitima defesa, pois na primeira o direito já foi lesado e na

52
segunda o direito ainda vai ser lesado.

Teoria dos sujeitos da relação jurídica

Aquele que é sujeito para o direito necessariamente é sujeito de direitos , sendo que
a personalidade jurídica surge como condição para ser titular das relações jurídicas, ser
titular de direitos.

Capacidade jurídica /capacidade de gozo: aparece-nos no artigo 67º em que não se pode
ter personalidade jurídica e senão se tiver capacidade jurídica, a capacidade jurídica está
inerente à personalidade jurídica.

Capacidade de exercício de direitos: que consiste na idoneidade do sujeito para exercer


direitos ou cumprir obrigações. Esta capacidade de exercício não é consideração
necessária, na medida em que a capacidade de exercício é mais restrita que a capacidade
gozo, porque o indivíduo de per si pode não ter condições naturalísticas necessárias para,
por si, ter direitos ou cumprir obrigações, exemplo no caso da menoridade e nos casos de
interdição prevista no artigo 139º e de inabilitação no artigo 152º.

Relativamente ao exercício das pessoas coletivas esta advém da relação orgânica da


pessoa coletiva e das pessoas que agem em seu nome, ou seja a pessoa coletiva nunca é
afetada por uma incapacidade de exercício ou de gozo.

—> Esta relação estreita que existe entre a personalidade e a capacidade leva-nos à
questão de saber se é possível ter direitos que não sejam/existam na esfera jurídica do
indivíduo. Ou seja há possibilidade de termos direitos sem sujeitos? Há autores mais
recuados que negam a possibilidade lógica de direitos sem sujeito, dizendo que se o
directo subjectivo é uma situação de poder, o poder tem de estar ligado a alguém não
pode ser um poder vazio. Já outros autores admitem a figura de gritos sem sujeito,
embora como uma situação transitória ou uma fase de transição, como que uma situação
de pendência que verdadeiramente só adquire plena eficácia com a existência do sujeito,
sendo esta a pisoa atual dominante.

Aula: 21/11/17

Essencialidade: A personalidade jurídica é o espelho da personalidade humana, sendo


que terá que cumprir certas reivindicações que lhe são feitas pela personalidade humana,
não poderá existir um desfazamento entre personalidade humana e personalidade jurídica,
sendo que a jurídica tem de estar interligado à personalidade humana.

53
Inseparabilidade: a personalidade jurídica é irrecusável(ninguém se pode recusar a ter
personalidade jurídica), é expropriável (ninguém pode ser expropriado da sua
personalidade jurídica), é indisponível (a personalidade jurídica é indisponível), e a
inabilidade (em que no momento em que surge a personalidade humana surge a
personalidade jurídica); e ilimitável (ou seja a personalidade jurídica não pode estar
sujeita a uma tutela restrita, não é possível haver um elenco de direitos sujeitos a numeros
clausus, tem de ser uma tutela tão ampla (clausula geral da pessoa e rejeita um numero
clausus de direitos de personalidade) como a personalidade e que acolhe o caracter
evolutiva da personalidade— exemplo: art. 70º.

Início da personalidade: art. 66º nº1 (nascimento completo e com vida)— 2 requisitos
que correspondem ao momento da separação do feto relativamente ao corpo da mãe,
exclui da personalidade jurídica os nados mortos ou aqueles que morrem durante o
trabalho de parto. O nº2 confere protecção aos nascituros, embora a lei proteja os
nascituros determinados direitos depende do nascimento do nascituro, mas também
confere protecção aos concepturo em que lhes é facultada a possibilidade de doação
segundo o artigo 952º.
A lei também prevê capacidade sucessória aos nascituros nos termos do artigo 2033º. Na
sucessão testamenteira contratual, tem capacidades os nascituros não concebidos.—> Art.
1798º: a fixação do momento da concepção, que nos permite a distinção entre nascitudos
e concepturo (se for dentro de 120 dias dos 300 é a um nascituro, se for além desses 300
dias antes do nascimento é a um concepturo).

Esta protecção não implica que se reconheça uma personalidade anterior ao nascimento.
Neste domínio há varias psicose: há quem defenda uma personalidade fica ou provisória,
outros referem-se a uma retroatividade da personalidade, outros admitem a existência de
um direito que ainda não tem um sujeito. Este surgimento não invalida que o pedido
anterior ao macilento seja também protegido, obviamente que também o é. A pessoa que
surge no conhecido direito protegido pelo mesmo. A pessoa tem direito a nascer enquanto
resultado de um nascimento sadio e sem interferências. A pessoa poderá ser indemnizada
por um dano causado antes do nascimento que será consumado no momento do
nascimento. Se a pessoa não chega a nascer não podemos falar em dano, estes atos
dependem do nascimento. O problema que se coloca é se se pode defender que o próprio
venha a assinar ações, quando existem malformações no nascimento, contra médicos que
não detectaram e não alertaram os pais para os problemas que o nascituro veio a sofrer já
com vida, a vida surge assim como um dano (podemos falar de um direito a não nascer?).

Fim da personalidade: A personalidade jurídica cessa com a morte, de acordo com o


artigo 68º, fazendo extinguir os direitos de natureza pessoal e transmitir para os
sucessores os direitos de natureza patrimonial. No entanto há determinados aspetos da
personalidade que vão continuar a ter protecção após a morte, sem implicar um desvio à
regra do termo da personalidade com a morte, nos termos do artigo 71º nº1, a lei indica
assim quais são as pessoas que tem interesse nessa protecção, onde está explicito no
artigo 71º nº2, devendo assim existir um respeito pela memória do indivíduo.
Há autores que defendem direitos de personalidade depois da morte, por via do artigo
68º, em que o autor Varela Antunes define que existe uma extensão da personalidade para

54
além da morte.

Quer a vida quer a morte estão sujeitas a registo civil.— art. 1º do registo civil
(obrigatório).+ arts. 193º, 194º, 202º do CRC (código do registo civil).

—> Possibilidade de morte conjunta de varias pessoas: art. 68º nº2


Varias pessoas morrem no mesmo acontecimento e não se sabe quem morreu primeiro, o
que pode levantar problemas sucessórios- art. 68º nº2 presunção de comoriência,
presume-se que morreram em simultâneo, não há devoluções sucessórias, presunção
relativa, iuris tantum, é assim a solução mais simples de aplicar.

Desaparecimento da personalidade- art. 68º nº3


O desaparecimento é uma morte real, mas pode-se dar em circunstâncias em que não é
possível reconhecer o cadáver ou recupera-lo- ex. Atentados e naufrágios. O
desaparecimento dá origem a um assento de morte real, mas é possível haver erros e que
aquilo que se dava como certo não aconteceu. A morte pode não ter ocorrido ou ter
ocorrido em data diversa, não vai continuar juridicamente morto, o MP ou qualquer
interessado pode requerer a invalidação ou retificação do assento da morte. Assim, os
juridicamente mortos têm direito a ressuscitar e mesmo antes disso já têm os seus direitos
de personalidade, desde que retomam a sua autonomia.

—> Diferente do desaparecimento é a ausência: quando se ignora o paradeiro


de uma pessoa, sendo que poderá ser necessária diversas diligências para a administração
dos seus bens. A lei estabelece varias medidas para suprir a ausência, tal como a morte
presumida e a curadoria provisória e a definitiva.
— curadoria provisória: é uma forma de suprimento da ausência, presente no artigo 89º
e os requisitos de nomeação são: a ausência, a necessidade de proceder à administração
dos seus bens e a inexistência de um representante da pessoa.
— curadoria definitiva: art. 99º a lei define a justificação da ausência através de
declaração judicial da ausência e surgirá decorridos dois anos sem saber do ausente ou 5
anos se ele tiver deixado representante, quem pode recorrer é o MP ou algum dos
interessados: cônjuge e herdeiros. São assim abertos os testamentos e os bens só são
entregues se no entanto estes são ouvidos como curadores definitos nos termos do artigo
104º.
— morte presumida: artigo 114º e seguintes, só pode ocorrer passados 10 anos sobre as
últimas noticias ou 5 anos se entretanto o ausente completou 80 anos. Se for um menor
que desaparece, por exemplo, com 5 anos, o que acontece é que a morte presumida não
pode ser presumida antes da maioridade e após dessa maioridade terem passado 5 anos. A
morte presumida assume os efeitos da morte, no entanto é que o casamento não se
dissolve com morte presumida, mas pode contrair novo casamento e se o ausente
regressar o que se verifica é bigamia. + art. 118 e 119º

AULA: 27/11

Na aula anterior vimos as três hipóteses que a lei prevê relativamente à ausência de uma
pessoa.

55
Em forma de conclusão é que não existe uma consecutividade destas três medidas, na
medida em que para termos uma curadoria definitiva não temos que ter antes uma
curadoria provisória, não há passos sequenciais.

Hoje iremos falar dos direitos de personalidade:

A tutela dos direitos de personalidade está consagrada na constituição da república


portuguesa (direitos fundamentais), no código civil (direitos de personalidade) e no
código do trabalho (direitos de personalidade).

CRP: art. 24º, 25º, 26º, 27º, 34º, 35º, 37º, 42º

—> CC: art. 70º— Clausula geral de tutela de personalidade, que surge pela primeira vez
no CC de 1966 sendo que o código Seabra apenas definia no artigo 359º que existiam
direitos originários que resultavam da própria natureza do Homem.
A proteção da personalidade esta sujeita a condicionamentos que resultam da vida social,
existido limites de adequação social.
O objecto da personalidade é a própria pessoa, estamos a falar de um direito subjectivo da
pessoa sobre si própria.— aspetos parcelares presentes no CC: integridade física e moral,
nome, pseudónimo, cartas missivas confidenciais, memorais familiares e outros escritos
confidenciais, imagem, honra e reserva sobre a intimidade da vida privada. No código do
trabalho, artigos 14º a 22º, o legislador entende regular os direitos de personalidade no
âmbito da liberdade de expressão e de opinião, reserva da intimidade da vida privada,
proteção de dados pessoais, testes e exames médicos, meios de vigilância à distancia e
confidencialidade de mensagens e acesso a informação, esta proteção é de ambas as
partes na relação laboral, quer do trabalhador quer do empregador e não apenas do
trabalhador.

Direitos especiais de personalidade: (Orlando de Carvalho)

A) direito à vida
B) Direito à integridade Física
C) Direito à liberdade
D) Direito à inviolabilidade pessoal: direito à imagem, direito à palavra, direito à
intimidade da vida privada e direito à honra
E) Direito à identidade pessoal
F) Direito à criação pessoal

Caraterizam-se por serem direitos inatos, sendo que o direito ao nome e à moral de autor
são direitos adquiridos.

Direito à vida:
- surge na lei como direito à conservação da vida e não como direito à obtenção da vida
- Beneficia de uma tutela civil, constitucional (art. 24º) e penal (131º e seguintes:
homicídio), pois é um direito que contende com a pessoa ou a existência da pessoa,

56
sendo portanto um direito totalmente indisponível, na medida em que proíbe o homizio
a pedido das vitima, proÍbe-se o incitamento ao homizio e o auxilio ao suicídio: artigos
134º e 135º do CP
- A Lei 25/2012 é a lei do testamento vital, em que a pessoa ma infesta a sua libre
vontade quanto aos cuidados de saúde que pode ou não vir a usufruir caso dê por si
numa situação em que não pode declarar a sua vontade- art. 2º nº2.
- Prevê-se de forma especial a compensação por danos não patrimoniais em caso de
violação do direito, no artigo 496º nº2 e 3—> a própria vida pode surgir como dano?
Não, embora em alguns casos se questione em aberto se em determinados casos a vida
não é um fardo tão grande que seria melhor não ter acontecido.

Direito à integridade física:


- abrange a integridade físico-psíquica, incluindo a integridade e sanidade mental, sendo
que no DC esta se vê como que se possuiria se não tivesse ocorrido a lesão, possui
tutela penal, constitucional e civil qualquer agressão é em princípio ilícita. Este, tal
como o anterior, possui tutela penal, constitucional e civil (art. 143º e seguintes do CP
e art. 25º CRP)

Direito à liberdade:
- é o direito da pessoa se conformar pessoalmente no respeito de outra ordem jurídica,
havendo liberdades físicas (deslocação, sexual…) e morais (religiosa, política…).
- A liberdade pode ser positiva: abrange o poder da pessoa de se auto-conformar, dentro
dos limites impostos pelo respeito dos direitos dos outros, da ordem publica e dos bons
costumes; ou negativa: em que compreende a possibilidade de recusa de um determinado
comportamento, mesmo que juridicamente imposto (sujeitando-se às sanções
correspondentes), sendo que esta impede a execução especifica das limitações aos
direitos de personalidade.

Aula: 28/11/17

Direito à inviolabilidade pessoal:


A) direito à imagem - art. 79º: direito a controlar a captação e divulgação do retrato;
abrange captações mecânicas do retrato e de outra formas de captações; a forma de
agressão mais grave é constituída pela divulgação da imagem, embora a simples
captação já seja uma violação; consiste num direito disponível e auto-limitável pelo
seu titular e a sua justificação apresenta-se no nº2, sendo por razões subjectivas
(notoriedade e cargo desempenhado) ou por razões objectivas (exigência de policia e
de justiça, finalidades cientificas —> limite da Honra, estando estas razões presentes
no nº3: a honra surge como limite, sendo que a honra se sobrepõe aos limites e às
próprias hipóteses de consentimento do titular, mesmo que o direito à honra seja um
direito não disponível.
B) Direito à palavra: é alvo de uma tutela idêntica à imagem, pudendo ser falado a
propósito do artigo 79º, já que podemos aplicar analogamente o regime do direito à
imagem, distinguindo-se do direito de autor, porque este direito à palavra pode ser
violado através da captação, audição e imitação.

57
C) Projeção vital da personalidade: direito ao caracter (implica que ninguém possa ser
sujeito a meios de avaliação de caracter sem seu consentimento, embora possa ser
limitado por razões de justiça- ex. ser imputável ou inimputável). Contudo assistimos
hoje a avaliações de caracter não autorizado que, muitas vezes são imperceptíveis,
através de por exemplo os comportamentos online: conta de correio electrónico,
youtube, google, Amazon, eBay e redes sociais. + direito à historia pessoal (surge
como sentido de não divulgação da própria história que deveremos conservar para nós
sendo apenas divulgada mediante nosso consentimento- exemplo é violado nos casos
de publicação de Biografias não autorizadas, sendo que se essa biografia não
corresponder à realidade temos simultaneamente uma violação do direito à historia
pessoal e do direito à verdade, é limitado pelo próprio titular).
D) Direito à intimidade da vida privada: art. 80º- inclui o direito à solidão, consiste no
direito a estabelecer limites à entrada dos outros, sendo um direito que incide sobre a
informação do outro, inclui três esferas: esfera privada (abrange aspetos pessoais e
ligados à pessoa- onde vive, o estado civil e aspetos privado não pessoais, tais como
vida domestica, animais, sociais frequentados, bem como aspetos relativos à pessoa
que não do domínio publico); esfera pessoal (muito mais reservada, em que se
acentua o espaço de reserva da pessoa, o que afeta os conviventes e o cônjuge, é uma
esfera mais restrita, gostos e preferências e relações amorosas); e esfera de segredo
(dados secretos, diários, contas, médico ou advogado).
E) Direito à verdade profunda: é o direito de administrar a apropria verdade, o direito a
uma realização negativa, a negar a verdade de fundo. Liberdade de gerir a nossa
própria imagem face aos outros, direito à confidencialidade.
F) Direito à honra: art. 79º nº3 + art. 484º- consiste no direito à reputação e à imagem
que os outros têm da pessoa, independentemente da sua corresponderia com a
verdade. O que está aqui em causa não é a verdade pessoal, mas sim a reputação
externa da pessoa, independentemente da sua vontade. “todos temos direitos à
reputação, os outros devem respeitar-nos sem ser necessária a nossa intervenção”,
embora este direito possa ser violado pela divulgação de factos verdadeiros sobre a
pessoa, no caso de se divulgar uma noticia que viola a honra de alguém se essa
noticia for falsa temos violação da honra e da verdade, mas se essa noticia que coloca
em causa a reputação de alguém, mas é verdadeira, apenas é violada a reputação.
Assume tutela penal no âmbito dos artigos 180º (difamação) e 181º (injúria) do CP.
As esferas de honra dividem-se em duas camadas: a 1º é uma esfera de honra
invariável que diz respeito à honestidade e retidão no âmbito da honra familiar e
pessoal, sendo um círculo invariável, caraterizando-se por ser um direito indisponível,
à execução do decoro (aspeto mais disponível da honra); e a 2º conjunto de círculos
variáveis que são distintos de pessoas para pessoas: profissional ou deontológica
(bom nome e reputação), económica (direito ao crédito) e decoro (formas de vestir,
hábitos sociais). Os círculos variáveis permitem-nos avaliar a gravidade da agressão e
determinar a disponibilidade do direito pelo seu titular (a honra propriamente dita é
indisponível)—> o direito à honra pode ser limitado lei direito à informação, uma vez
que sempre que exista direito ao esclarecimento, não devendo confundir com o direito
à curiosidade mórbida do publico. (ex. Eleições, dever e direito do cidadão ser
informado pelo carácter dos candidatos que compõem a lista de votação). Um outro
limite é os limites da honra vs os limites da liberdade de expressão, em que a honra

58
deverá prevalecer dizendo que não se podem ultrapassar determinados limites, é uma
forma de garantia e protecção da honra e considera que esta liberdade poderá ser
exercida, mas sem afetar a honra. A liberdade de expressão deverá ser protegida mas
na medida em que não ponha em causa a honra.

Direito à identidade pessoal: direito inato, de identificação da pessoa sendo o que está
em causa é o direito em que uma pessoa não seja confundida com outra pessoa—> direito
ao nome (art. 72º, onde se permite a homonímia, mas o titular não pode utilizar o nome
de modo a prejudicar outrem) + direito ao pseudónimo (art. 74º só nos casos em que
tenha notoriedade, deve ser protegido nos mesmo termos que o direito ao nome.
Carateriza-se por ser mais amplo que o direito ano nome, que é uma irradiação deste,
embora este ultimo abrange outros elementos para alem do direito ao nome; + direito à
verdade pessoal: direito a que não se deforme a verdade através de informações falsas.

Direito à criação pessoal: é um direito inato, onde cabe o direito moral de alguém,
sendo violado quando é limitada a liberdade artística ou cientifica de alguém. Quando se
concretiza este direito passa-se a ser protegido como tal, através de um direito moral de
autor e patrimonial associado à exploração da obra (para falarmos em obra, os requisitos
indispensáveis são a sua originalidade e a sua objetividade). Contudo no que toca ao
direito moral de autor este já é um direito adquirido.
A lei protege:
- Direito à paternidade da obra (autoria da obra)
- Direito ao inédito (contolo da divulgação)
- Direito à intangibilidade da obra (não deformação da obra)
- Dignidade da obra (manutenção do seu sentido objetivo)
- Direito de sequência (direito do autor participar mas valorizações extraordinárias da
obra).

AULA: 04/12

Consentimento do ofendido

O consentimento do ofendido não tem por efeito extinguir o direito de personalidade, tem
como limite superior o direito à vida (ex. Doação do coração) e por outro lado, tem como
limite inferior as exigências da vida em sociedade, que excluem o próprio facto (ex.
“calcadela” no autocarro) e tem de se conformar com os princípios da ordem publica e
dos bons costumes.— artigo 340 nº2.—> o consentimento legitima comportamentos que
de outra forma seriam lesões desses mesmo direitos, pois o que o consentimento do
ofendido faz é paralisar temporariamente e de forma parcial o direito de personalidade
em questão.

Alguns direito de personalidade podem ser limitados, mas em que condições?


—> Exemplo: Se o consentimento for dado num conceito de um negocio jurídico, o
negócio jurídico estará sujeito ao disposto no artigo 280º; em sede de direito de

59
personalidade surge no artigo 81º nº2 que se refere à possibilidade de haver
consentimento do lesado.

Quando falamos em consentimento do lesado, referimo-nos a diferentes modalidades,


existem requisitos do consentimento e a própria capacidade do lesado para prestar esse
consentimento—> 3 formas de consentimento:

— consentimento vinculante: é dado no contexto de um negócio jurídico com um


objeto de negócio oneroso, normalmente um contrato (ex. Se alguém contrata uma sessão
fotografia para ser republicado num revista, está a dispor e a limitar o seu direito à
imagem. Contudo nem todos os direitos de personalidade admitem essa forma de
consentimento, pois contraria os bons costumes, pois, por exemplo, não pode ser objeto
de contrato a disposição de orgãos)— ex. Direito à imagem, modelos e atrizes, contratos
de imagem relativos a desportistas. O consentimento é revogável, mesmo que numa
cláusula contratual numa alínea isso seja proibido, apenas existe uma indemnização no
sentido do que saiu lesado pela revogabilidade do consentimento.

— consentimento autorizante: já não há declaração negocial, existe um acordo com


natureza jurídica, não é um contrato, o que existe é uma atribuição a outrem de um poder
de facto, que se traduz numa agressão (poder fáctico de agressão). Em caso de revogação
terá de indemnizar o outro tendo em conta as expectativas que criou em outrem, ao
contrário da vinculação anterior que revoga o contrato— exemplo: se A doa um rim a B,
está a dispor da sua integridade física de forma intensiva, em que existe uma agressão da
sua integridade. (artigo 81º nº2)

— consentimento tolerante: aqui não se confere o poder de agressão, trata-se apenas de


uma justificação de uma ação, presente no artigo 340º nº3. Este artigo 340º define que se
não for possível de recolher este consentimento ele pode ser presumido, que é diferente
de achar que é sempre presumido. Este consentimento é presumido em situações que o
sujeito não tem condições para presumir esse consentimento, a lei define que presume-se
o consentimento, mas terá de ter em conta se existe algo prévio que proíbe esse mesmo
consentimento.

Capacidade: o regime destas formas de consentimento é variável:


- no caso do consentimento vinculante há que ter capacidade de exercício, em que só
podem celebrar contratos as pessoas que têm capacidade de exercício para tal, tais
como os menores através de representação legal.
- no caso do consentimento autorizante dificilmente podemos entender esse
consentimento como suprível, pois os pais não podem decidir pelos filhos que vão por
exemplo doar o seu rim a outrem, se é assim tem-se entendido que o consentimento
autorizante exige a manifestação de vontade do menor, desde que ele tenha capacidade
de querer e entender os efeitos e consequências dessa prestação. É por isso que nos
tratamentos cirúrgicos se exige para além da autorização do representante haja a
manifestação da vontade de menor (art. 38º).
- no caso do consentimento tolerante não está em causa a capacidade, por isso o

60
consentimento já pode ser prestado pelo menor desde que ele tenha discernimento para
tal.
- —> Em suma no caso do consentimento vinculante o representante legal, nos termos
gerais da incapacidade, acompanhado pelo menor no caso de ele já ter entendimento
suficiente para o consentimento, segue-se o mesmo para o autorizante, já no tolerante o
menor pode validamente prestar a sua concordância para a limitação do direito de
personalidade.

Revogabilidade: o consentimento é revogável a todo o tempo e é sempre aula não é


possível gorjetas os seus efeitos para o futuro, terá de ser o mais próximo possível do
acontecimento lesivo, existindo um dever de esclarecimento e de informação o mais
detalhado possível.
— vinculante: se o lesante muda de ideias e resolve não consentir a limitação do seu
direito, ele é livre de o fazer, porque o consentimento é sempre revogável, no entanto ele
sujeita-se às consequências que advém do incumprimento contratual, não se aplica o
disposto no artigo 432º nº2.
— autorizante: a contratante pode ter formado expectativas, por isso apesar de ser
livremente revogável, pode dar lugar à indemnização dos prejuízos causado com a
frustração das expectativas criadas pelo levante ao outrem, aplicando-se o disposto no
artigo 81º nº2
— tolerante: artigo 340º em que se pode produzir o interesse do lesado, em por exemplo
num caso em que um inconsciente entra no hospital com necessidade de intervenção
cirúrgica , as equipas médicas presumem o consentimento do paciente para essa mesma
intervenção.—> verificar lei 25/2012 “lei do testamento vital” ; lei 12/93 que se refere ao
princípio da gravidade em que é proibido o comercio de órgãos e transplantes e lei
274/99 que se refere quanto à colheita mortis causa, em que a nossa lei estipula que são
potenciais dadores todos aqueles que não manifestem vontade contrária, existindo um
registo nacional de não dadores.

Aula: 05/12/17

Consentimento – Procedimentos médicos


Lei 32/2006 – veio regular as técnicas da procriação medicamente assistida que nos
aparecem reguladas no mesmo diplomo no seu artigo 2º. Na primeira versão não
previa a gestação de substituição, foi uma alteração recente, a atual lei já admite
esta gestação de substituição. É um método subsidiário de procriação.
É uma lei de mulheres, esta maternidade de substituição deixa de ser proibida, a
lei admite o negócio da maternidade de substituição com natureza jurídica, existe
um contrato de gestação de substituição que tem como objeto a gestação por conta
de outrem.
É uma prestação de serviços gratuita, não pode ser onerosa, não pode impor
restrições ao comportamento da gestante (art. 8º, nº 11 da Lei 32/2006).
Os filhos havidos através de gestação de substituição são filhos dos beneficiários
(pais da criança), neste caso, as mulheres, os homens não podem recorrer a elas. O
que a Lei não nos dias é o que é que acontece quando estes contratos são nulos

61
(são nulos sempre que não respeitem os requisitos previstos na Lei,
nomeadamente, sempre que for estabelecida uma compensação ou se faltar a
forma – contrato necessariamente escrito, intervenção de várias entidades -). Se o
contrato é nulo, a Lei não estabelece quem será o progenitor da criança,
anteriormente, atribuía-se a maternidade à mãe gestante, a professora continua a
concordar com este entendimento, sob pena da criança ficar ao abandono.
Pelo menos um dos beneficiários tem que fornecer material genético para a
gestante, a criança não pode ser filho de outras pessoas sem que não seja de, pelo
menos, de um dos beneficiários. Se for uma mulher sozinha ou um casal
homossexual feminino tem que recorrer a um banco de esperma, caso seja um
casal heterossexual, o homem deve fornecer o seu esperma para a conceção do
embrião.
Para efeitos de declaração da parental idade, os dadores de sémen não são
relevantes. A Lei proíbe a compra e venda de material genético (art. 18º) e da
inseminação post mortem (art. 22º, com a exceção do número 3).

Capacidade
Capacidade de gozo – capacidade de ser titular de um dado circulo de relações jurídicas
Capacidade de exercício – capacidade de agir por ato próprio ou mediante um
representante.

Se passarmos para um circulo negocial, temos a aptidão para ser parte de um conjunto
de relações jurídicas e a capacidade negocial de exercer determinados direitos.
Já a incapacidade de exercício de direitos conduzirá a anulabilidade do negócio
jurídicos. Pode ser suprida através do instituto da representação legal e da assistência.
No caso da representação legal, o representante subsistiu-se ao incapaz e atua em
nome dele. O representante legal distingue-se sido representante voluntário, no primeiro é
a lei que determina em que situações é que o incapaz necessita de representação, não é
escolhido pelo incapaz porque este não tem capacidade negocial. Coisa diferente, seria a
possibilidade de um capaz escolher um representante, por exemplo, para eventos
médicos, contudo a lei civil só permite representação nos termos da lei e não por vontade
do representando mesmo que fosse capaz de escolher o representante. A representação é
utilizada em casos mais graves.
A representação surge para menores e para interditos
Na assistência, o assistente o que vai fazer é atuar ao lado do incapaz, neste sentido,
ele irá autorizar os atos que o incapaz não possa realizar por si. Neste caso, a iniciativa
negocial é do incapaz, não obstante não atua sozinho, atua mediante a intervenção do
assistente. A assistência é utilizada em casos menos graves porque permite a coadjuvação
do incapaz na atividade do assistente. A assistência é utilizada para inabilitados.
Quando existe uma situação de incapacidade de gozo esta conduz à nulidade dos
negócios jurídicos. Esta incapacidade é insuprível.
A lei prevê algumas hipóteses de incapacidade de gozo:
Incapacidades nupciais (1601º do CC)
Incapacidades de testar (2189º do CC)
Incapacidade para perfilhar (1850º do CC)
Estes casos não se confundem com as indisponibilidades relativas (art. 953º do CC).

62
Estes casos não se tratam de situações de incapacidade de gozo porque em nenhum
dos casos está em causa a proteção daquele a quem se veda a realização do negócio. O
que a lei pretende sempre é proteger o incapaz de si mesmo, protegê-lo relativamente à
sua falta de discernimento que é o que não se verifica em situações de
indisponibilidades relativas.
Relativamente às pessoas coletivas, a sua personalidade é instrumental e nestes
casos, a capacidade corresponde à personalidade, têm capacidade, na medida em que
prosseguem os seus fins, no caso das pessoas coletivas não á situações de
incapacidade de exercício, uma vez que há uma coincidência entre incapacidade de
gozo e de exercício.

Incapacidade de exercício dos menores


A regra é a incapacidade para o exercício de direitos, salvo disposição em contrário.
Dentro destas disposições em contrário, interessa ver as hipóteses do art. 127º CC,
hipóteses em que, excecionalmente, o menor tem capacidade de exercício: - atos de
administração ou gestão de bens que o maior de 16 anos tenha adquirido através do
trabalho:
Atos de administração ou gestão de bens que o maior de 16 anos tenha adquirido através
do trabalho
Negócios relacionados com o exercício da profissão
Negócios jurídicos próprios da vida corrente do menor que estejam ao alcance da sua
capacidade natural (variável de caso para caso) e que impliquem despesas de
pequena importância. A Lei vai permitindo mais à medida que o menor vai tendo
mais capacidade. Depende também da capacidade socioeconómica do menor.
Os menores com idade superior a 16 anos podem contrair casamento (1601o do CC),
as idades núbeis são iguais para ambos os sexos. A oposição dos pais ao casamento é
considerada um impedimento impediente ao casamento de acordo com o artigo 1604º
do CC, não obstante se não houver autorização dos pais o casamento é válido
conforme decorrer do regime do casamento constante no artigo 1627º do CC. Caso
não haja autorização, os pais do menor continuam a ser administrados pelos
representantes e em caso algum podem ser administrados pelo cônjuge. O artigo 132º
do CC prevê a emancipação por via do casamento com a exceção do artigo 1649º do
mesmo Código nos termos do artigo 133º do CC.
Se o casamento não for autorizado, o menor casa validamente, no entanto, não tem
o efeito de atribuir emancipação de capacidades, até perfazer 18 anos e adquirir
capacidade de exercício de direitos (art. 129º CC). Pode ainda ocorrer uma ação com
vista à inabilitação a ser proposta no último ano da menoridade, para que os efeitos se
produzam logo que o menor atinja a maioridade (art. 131º e 138º, n.º 2 CC). Atingida
a maioridade não se adquire a capacidade de exercício.
Qual é a consequência da atuação do menor em cas o de incapacidade?
A consequência é a anulabilidade do negócio, há um regime próprio para este tipo de
anulabilidade (art. 125º do CC). O prazo começa a contar-se a partir do
momento em que tem conhecimento do negócio até que o menor atinja a
maioridade, tendo um ano para arguir a anulabilidade do negócio, caso o
menor atinga a menoridade num prazo inferior a um ano é nesse prazo que os
representantes têm para arguir a anulabilidade.

63
Se o menor morrer, os seus herdeiros têm a possibilidade de vir a arguir a anulabilidade
dentro do próprio prazo que o menor tinha para arguir a anulabilidade, o prazo
é um ano a contar da morte, os herdeiros não têm só o prazo que o menor
ainda tinha.
A anulabilidade tem sempre um prazo, normalmente um ano, mas se as prestações não
estiverem a ser cumpridas, pode vir a qualquer momento. A arguição da
anulabilidade é sempre uma exceção. Numa ação que lhe é proposta com vista
ao pagamento, o individuo pode invocar a anulabilidade, nestes casos, já não
se aplica o artigo 125º do CC.
Exclui-se da anulabilidade o disposto no artigo 126º, não é dolo apenas dizer que é maior,
ele teve que usar artifícios de se fazer passar por maior (por exemplo, a
exibição de um documento falsificado). Há uma censura da lei relativamente a
este comportamento contraditório (fazer de tudo para a realização do negócio
e depois querer anulá-lo), a lei considera que o menor não é tão merecedor de
tutela
Em nenhuma hipótese a Lei permite a arguição da anulabilidade pela contraparte, apenas
os responsáveis legais e o menor podem arguir a anulabilidade.
O artigo 126º do CC deixa em aberto a possibilidade de arguição da anulabilidade por
parte dos representantes ou herdeiros. A tendência é que, relativamente aos
herdeiros, não têm também a possibilidade de arguir a anulabilidade porque se
baseia na mesma possibilidade do menor arguir a anulabilidade.
Em nenhuma hipótese a Lei vem permitir a arguição da anulabilidade pela
contra-parte, apenas os responsáveis legais e o menor podem arguir a
anulabilidade. O art. 126º CC deixa em aberto a possibilidade de arguição da
anulabilidade por parte dos representantes ou herdeiros. A tendência é que,
relativamente aos herdeiros, não têm também a possibilidade de arguir a
anulabilidade, porque se baseia na mesma possibilidade do menor arguir a
anulabilidade. Relativamente aos representantes legais, há quem entenda que
também os representantes legais não deverão ter essa possibilidade em caso de
dolo, mas também há quem entende diferentemente, uma vez que o papel dos
representantes legais é o de corrigir a atuação dos menores, o que lhes devia
dar a possibilidade de arguir a anulabilidade quando os menores agem com
dolo.
A incapacidade de menores é suprida mediante representação legal (124º do CC)
concretamente o poder parental (arts. 1877º e seguintes), compete aos pais exercer
atividades parentais no interesse dos filhos, tem um conteúdo patrimonial e pessoal.

Aula:11/12

Incapacidades de exercício
Menores
Responsabilidades parentais: arts. 1877º ss CC. O Código agora refere-se a
responsabilidades parentais, quando antes se referia a poderes paternais, para afastar a
ideia de poder.
Temos uma vertente pessoal (arts. 1885º a 1887º CC) e uma vertente patrimonial (arts.
1888º a 1900º CC), o dever de alimentos é recíproco entre pais e filhos, para os filhos

64
impõe-se após a maioridade dos filhos e na velhice dos pais.
Do art. 1888º CC exclui uma série de atos da administração dos pais, estes não podem
tudo.
O art. 1889º CC sujeita a autorização de tribunal de alguns atos dos pais.
O não cumprimento destas regras conduz à anulabilidade dos atos nos termos do art.
1893º CC.

Tutela: art. 1921º CC


A Lei dá preferência aos pais no exercício das responsabilidades parentais. Surge
ainda no n.º 3 a possibilidade do apadrinhamento civil, Lei n.º 102/2009, de 11 de
setembro, regulado pelo D-L 121/2010, a Lei dá preferência ao apadrinhamento civil em
relação à tutela. O apadrinhamento civil não termina com a maioridade do menor,
mantém-se para a vida se não for revogado, ao contrário da tutela. A tutela cessa com a
maioridade.
O apadrinhamento civil não rompe os laços com a família originária, a paternidade
mantém-se com os pais, a ligação pode até manter-se em visitas regulares.
O apadrinhamento civil não tem efeitos sucessórios entre os padrinhos e os
apadrinhados civilmente.

Ou temos as responsabilidades parentais, no caso de não ser possível, a Lei dá


preferência ao apadrinhamento civil, caso este não seja possível, temos a tutela, temos um
tutor.
O tutor representa o menor, a Lei permite ao tutor menos do que permite aos pais. Há
uma série de atos que o tutor não pode praticar (art. 1937º CC).
O incumprimento destas regras aparece no art. 1939º CC, este artigo e o art. 1940º CC
preveem uma invalidade mista, que não se reconduz nem ao regime da nulidade, nem ao
regime de anulabilidade, embora a Lei lhe chame nulidade. Mas porque há pessoas que
não a podem invocar e esta nulidade pode ser sanável por confirmação, algo que,
normalmente, a nulidade não pode (ser sanável por confirmação).
O legislador não confia tanto nos tutores como nos pais, logo, permite-se mais aos pais
em termos de representação, há maiores limites em relação ao que os pais podem fazer.

Interdição
Segundo instituto de incapacidade de exercício. Tal como a menoridade, é uma
incapacidade geral, mas refere-se a maiores (diferentemente da menoridade). Também
diferentemente da menoridade, pressupõe um processo judicial, surge no culminar de um
processo judicial que avalia a incapacidade da pessoa em causa, a menoridade não
depende de um processo judicial, verifica-se com o facto naturalístico da idade, a menos
que seja emancipado pelo casamento antes dos 18 anos (aos 16 anos).
Tem que haver uma iniciativa processual e com motivos específicos (art. 138º CC). Os
regimes deste artigo vão ser mudados a breve prazo, o fundamento da interdição,
sobretudo relativo à surdez/mudez e à cegueira, que é considerado a nível europeu quase
pré-histórico, mas permanece a anomalia psíquica, ainda que também esta esteja a
contrair algumas convenções internacionais, nomeadamente a Convenção de Nova
Iorque, a tendência será de um aligeiramento muito grande do regime de interdição.
A incapacidade é geral, o indivíduo não pode praticar qualquer ato negocial, com

65
exceção dos previstos no art. 127º CC, aplica-se o regime da menoridade por analogia
(art. 139º CC). O legislador remete para o regime da menoridade, são em tudo
semelhantes, as únicas exceções são as previstas no art. 127º CC e os atos praticados são
anuláveis nos termos do art. 125º CC. O regime da menoridade é um regime regra para as
incapacidades gerais, que se aplica no caso das interdições.
Os fundamentos do art. 138º CC devem ser revistos brevemente, de todo modo, o
que está em causa são situações atuais, não são situações previsíveis ou passadas, exige-
se que sejam duradouros, ainda que possa haver intervalos de lucidez.
A sentença de interdição deverá ser registada (arts. 1920º-B e 1920º-C CC), ver
Código do Registo Civil, para publicitar a condição daquele incapaz. Relativamente aos
menores, a incapacidade é denotada pelo aspeto físico. Relativamente a maiores, adultos,
entendeu-se que seria necessário publicitar a situação de incapaz e isso é feito através do
registo da sentença.
Os interditos por anomalia psíquica são incapazes, mas a Lei faz distinções em relação
aos fundamentos. É mais incapacitante nos casos em que o fundamento é a anomalia
psíquica, os interditos não podem casar (art. 1601º CC) perfilhar (art. 1850º CC) 1913 e
1914 2189. A incapacidade das pessoas não varia conforme a sentença e é isto que vai ser
alterado com a Lei. O juiz define apenas se é interdito ou não, o juiz não tem qualquer
poder de afeiçoar às pessoas, não pode definir os atos interditos, define apenas se é ou
não e depois o regime aplicável é o da menoridade.
A Lei estabelece preferências sobre quem é tutor (art. 143º CC). Se recair sobre os
pais (art. 144º CC), as regras que se irão aplicar neste caso serão os arts. 1878º ss CC, as
regras das responsabilidades parentais e não as regras da tutela.
Um aspeto a ter em consideração prende-se com a validade dos atos. O regime de
interdição só se aplica no fim de um processo judicial e a Lei não se basta com a
sentença, para se aplicar o regime de interdição, só após o registo da interdição é que se
considera interdito. Então, o que se aplica antes da publicação da interdição? Depois do
registo da sentença, o negócio é anulável (art. 148º CC) e aplica-se o regime do art. 125º
CC quanto aos prazos e ao regime da interdição, por remissão do art. 139º CC.
Mas, na pendência da ação, há vários interesses em conflito, porque há um maior
perfeitamente capaz, ainda não se sabe qual o desfecho da sentença, logo, não pode ficar
privado da sua capacidade de agir, podemos estar a falar de alguém que, findo o processo,
que é perfeitamente capaz. Na pendência da ação aplica-se o art. 149º CC, é preciso
sentença e o registo da sentença, os negócios celebrados serão anuláveis, desde que se
verifiquem cumulativamente dois requisitos:
- interdição venha a ser verificada;
- e se mostre que o negócio provocou prejuízo ao interdito.
Este prejuízo reporta-se ao momento da celebração do negócio, desvalorizações
posteriores não podem ser consideradas. Por exemplo, se o interdito faz uma doação, é
gratuito, causa sempre prejuízo. Mas se for uma compra e venda por um preço justo é
válida, não causa prejuízo, ainda que venha a ser considerado interdito, os dois requisitos
têm que ser verificados.
No momento em que o negócio é celebrado não se consegue dizer se o negócio é
válido ou inválido, é necessário esperar pelo desfecho da ação, é um negócio que fica
numa expectativa, sem se saber se vai produzir os seus efeitos ou não.
Antes da interdição, estamos perante alguém perfeitamente capaz, em regra, o negócio é

66
válido e o único instrumento à disposição para proteger a pessoa são as regras gerais
aplicadas a qualquer pessoa, nomeadamente, o art. 257º CC, por remissão do art. 150º
CC. O art. 257º CC já não é uma regra de incapacidade de exercício, é aplicável a
qualquer pessoa capaz. O negócio será anulável se a pessoa não o livre exercício da sua
vontade e o facto é notório, a outra parte teria podido notar, ou, não sendo notório, é
conhecido da contraparte (aqui não precisa ser notório). Logo, alguém que disfarce muito
bem, o negócio é válido. Aqui, os requisitos já têm em conta os interesses da contraparte,
diferentemente do art. 149º CC. O art. 150º CC considera que a contraparte não pode ser
surpreendida por algo que não poderia saber, alguém maior, em plena capacidade de
exercício e cuja incapacidade não seria percetível. Incapacidade acidental
Este artigo da incapacidade acidental aplica-se em qualquer situação em que
alguém capaz se encontra acidentalmente incapaz ou é naturalmente incapaz, há uma
incapacidade de facto e não de direito. Assim sendo, apesar da Lei não o dizer, ele
também será aplicável na pendência da ação, logo, um negócio praticado na pendência da
ação, em que a pessoa relativamente à qual a ação está pendente, não sofre qualquer
prejuízo (um dos requisitos), mas a pessoa era notoriamente incapaz quando celebrou o
negócio, este não será anulável por via do regime do art. 149º CC, mas será por via do
regime do art. 257º CC. Também poderá ser aplicável nos casos excecionais em que o
interdito tem capacidade.
Nas hipóteses do art. 127º CC, excecionalmente, o interdito tem capacidade. Apesar
destes negócios, excecionalmente, serem válidos, se há uma incapacidade notória, os
negócios terão que ser anuláveis, também se aplica o art. 257º CC, mas só nos espaços
ínfimos de capacidade que o incapaz tem, casos muitos pontuais.

Aula: 12/12

Incapacidade (continuação)
Interdição
A ação judicial pode recusar a interdição de alguém, mas o juiz pode avaliar a
situação em causa e a sentença mais adequada ser a inabilitação ou vice-versa. O juiz não
está condicionado ao pedido inicial.
O que é avaliado pelo juiz é capacidade da pessoa atuar no campo negocial. A
interdição só pode ser requerida nos termos do artigo 141º, nº 1 do CC, tem que ser
alguém que esteja numa posição mais próxima da pessoa. É preciso ter atenção ao nº 2, se
a pessoa em causa estiver sujeita a poder paternal só os pais ou o MP podem interpor a
ação de interdição. Ainda há a hipótese que no último ano da menoridade se possa
interpor esta ação e que esta produza efeitos para a maioridade.
A interdição que está sujeita a sentença judicial, o seu levantamento também está
dependente da sentença nos termos do artigo 151º do CC e têm legitimidade para esse
levantamento as pessoas requerentes nos termos do artigo 141º, nº 1 e o próprio interdito.

Inabilitação
Fonte de incapacidade, também, resulta de uma decisão judicial
É uma hipótese menos grave quanto aos fundamentos, as situações que conduzem há

67
inabilitação são menos graves, o regime também é mais leve e não tão
incapacitante como na interdição.
Tem como fundamento dois grupos de causas:
o Art. 152º do CC – são fundamentos comuns da interdição e da
inabilitação, a única diferença é uma questão de grau. Avalia-se estes
fundamentos por perícias médicas porque se tratam de questões
patológicas.
o Art. 152º do CC - O abuso de estupefacientes, álcool e por isto não
consiga reger o seu património. Na interdição seria uma incapacidade
para gerir a própria pessoa e so seus bens. As situações de
prodigalidade são situações em que o sujeito esbanja o seu património
para além das suas possibilidades, é uma deficiência de caráter não é
considerada uma simples extravagância.
A sentença de inabilitação tem a possibilidade de adaptar o regime de inabilitação às
características próprias do inabilitado. A lei poderá ser alterada de forma a que
estes regimes mais favoráveis sejam alterados.
A Lei distingue:
o Atos de disposição de bens – na inabilitação apenas abrange atos de
disposição de bens deixando o inabilitado fazer a mera administração
dos seus bens. Se a sentença seguir um modelo previsto na Lei o
inabilitado não pode dispor dos seus bens, mas sim administrá-lo. Os
atos de disposição são atos que afetam a raiz, o cerne do património.
o Mera administração de bens – têm que ver com gestão do património. À
partida o inabilitado pode celebrá-los livremente a menos que a
sentença diga o contrário.
Conforme resulta dos artigos 153º e 154º o inabilitado tem que ser assistido pelo curador
para os atos de disposição e todos os demais previstos na sentença. Quanto à
administração do património esta cabe ao inabilitado nos termos do art. 154º,
nº 1 a contrario.
O artigo 156º do CC diz-nos que em tudo o que não esteja previsto no regime da
inabilitação se irá aplicar aquilo que está previsto no regime da interdição com
as necessárias adaptações. Quanto às pessoas que têm legitimidade para
propor a inabilitação, a matéria da legitimidade e prazos para arguir a
anulabilidade aplica-se o regime da interdição.
O levantamento da inabilitação está previsto no artigo 155º do CC. Para efeitos de
levantamento, a lei distingue consoante os fundamentos da inabilitação.
Relativamente à anomalia psíquica, surdez, mudez ou cegueira, a lei não
impõe qualquer restrição e se esse fundamento não se verificar não há prazo
para o levantamento, pode proceder-se ao mesmo sem mais; quanto à
prodigalidade, abuso de bebidas alcoólicas e consumo de estupefacientes o
legislador exige que um prazo “probatório” de 5 anos.
1850º do CC – o inabilitado por anomalia psíquica pode perfilhar desde que não esteja
completamente demente.

Os factos dos regimes de inabilitação ou interdição visarem proteger o


inabilitado/-interditado faz com que a contraparte não possa arguir a anulabilidade do

68
negócio, na media em que só têm legitimidade as pessoas a quem as incapacidades
aproveitas (os próprios através da representação e ou assistência ou os próprios quando
atingirem a maioridade).
Estes regimes distinguem-se das ilegitimidades conjugais (1682ºA e 1682ºB e
1683º do CC) como restrições ao principio da liberdade contratual que tinham que ver
com o facto de a pessoa ser casado, o facto de ser casado leva a que não se possa dispor
de bens de livre vontade e sem consulta do cônjuge. Existem atos que necessitam sempre
de autorização do cônjuge mesmo que o regime de casamento seja de separação geral de
bens, por exemplo, a questão do arrendamento da casa da família. Há outros atos que
dependem do consentimento de ambos os cônjuges em regimes de comunhão, sendo este
regime mais exaustivo do que os de separação.
Os negócios que violem esta regra são anuláveis a requerimento do cônjuge que não deu
consentimento ou os seus herdeiros se ele entretanto morrer. No entanto, há uma
especialidade quanto ao prazo, há um prazo especial nos termos do nº 2 do artigo 1687º
do CC. E um dos poucos casos em que existem dois prazos a correr em simultâneo –
prazo de 6 meses e 3 anos, respetivamente). Após estes três anos o cônjuge não pode
arguir a anulabilidade de forma alguma, o negócio fica consolidado.

Regras do domicilio (artgs. 82º e seguintes)


Tem relevância positiva no que fiz respeito ao Direito Processual Civil para efeitos de
determinação da comarca, do casamento (determinação da conservatória do
registo civil), no Direito das Obrigações, o credor deverá cobrar a prestação no
domicilio do devedor (art. 782º do CC), se for uma sanção pecuniária nos termos
do artigo 774º do CC o local da recolha é também o domicílio, quanto ao Direito
das Sucessões artigo 2032º do CC.
Relevância negativa: quando se vê que a pessoa não está no seu domicilio, há uma
situação de ausência.
É o ponto de contacto das pessoas para efeito de comunicações, notificações e envio de
interpelações e, também, o domicilio digital.
O conceito de domicilio voluntário geral é o local de residência habitual (82º do CC), este
local não se confunde com paradeiro (a pessoa pode estar momentaneamente
deslocada, mas mantém a sua residência habitual num determinado sitio). Se não
houver residência habitual recorre-se a uma residência temporária.
A lei refere-se a um domicilio profissional que e o local onde a profissão é exercida (83º
do CC)
Relativamente aos menores, fala-se em domicilio legal, o menor tem domicilio da
residência da família.
Domicilio legal dos empregados públicos, quando haja lugar próprio para o exercício das
suas funções.

* Introdução à matéria das Pessoas Coletivas (não é objeto de avaliação no 1º


semestre)
Para além da pessoa humana, há outras pessoas que têm personalidade jurídica, a
Lei atribui personalidade a pessoas coletivas que sejam titulares de direitos e sujeitas a
obrigações que tenham um património próprio e distingo dos seus titulares.
Só se podem constituir as pessoas coletivas admitidas por títulos legais. Com base

69
nisto, existem duas modalidades de pessoas coletivas:
Pessoas coletivas de substrato pessoal (cooperações) – ter um substrato pessoa significa
que estas pessoas coletivas se constituem por um grupo de pessoas organizadas.
Pessoas coletivas de substrato patrimonial (fundações) – traduzem-se num conjunto de
bens organizado.
As pessoas coletivas são essenciais no tráfego negocial, a ideia aqui e potencia a ação
das pessoas humanas e permitir ás pessoas humanas ir mais alem do que aquilo que els
podiam ir por si só – as pessoas coletivas são meramente instrumentais, servem apenas de
auxilio ao Homem
Para que existam pessoas coletivas é sempre necessário o substrato, e a esse
substrato tem que se o unir um elemento de direito que é o reconhecimento so substrato,
dito de outra forma é atribuição de personalidade jurídica ao substrato.
O substrato tem que obedecer a determinadas características:
Elemento pessoal ou patrimonial, tem que haver sempre um conjunto de pessoas ou um
conjunto de bens.
Elemento teleológico – fim que pretende seguir. Pode ter um fim egoístico ou altruístico
(cooperação), contudo nas fundações o fim tem que ser sempre altruístico, a Lei
define que as fundações só podem ter um fim social.
O fim tem que ser um fim comum ou coletivo relativamente aos seus membros,
todos os membros devem prosseguir o mesmo fim.
Elemento intencional - animus personficandi. Um conjunto de pessoas tem que querer
criar a pessoa coletiva.
Elemento organizatório – a pessoas coletiva é dotada de órgãos que procedem
organização interna, esta organização interna obedece a estatutos.
Reconhecimento (elemento de Direito) – é o que dá personalidade à pessoa coletiva.
Distinguem-se dois:
o Reconhecimento normativo – a Lei estabelece determinados requisitos para
que uma modalidade de pessoas coletivas de possa formar e preenchidos
esses requisitos a personalidade jurídica adquire-se. Pode ser
incondicionado (basta o preenchimento dos requisitos seja preenchido para
ter personalidade jurídica) e condicionado (a Lei estabelece pressupostos
para além do concretizado)
o Reconhecimento de concessão – o reconhecimento é feito, caso a caso, pela
AP.
Art. 5º do Código das Sociedades Comerciais – adquire-se personalidade jurídica da
sociedade comercial.

70

Você também pode gostar