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DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO DO TJDFT

PROFESSOR LAURO ESCOBAR

AULA 13

DIREITO DAS SUCESSÕES

SUCESSÃO EM GERAL: LEGÍTIMA E TESTAMENTÁRIA

Itens específicos do edital que serão abordados nesta aula → 22


Direito das Sucessões. 2.1 Sucessão em geral. 22.2 Sucessão legítima. 22.3
Sucessão testamentária. 22.4 Inventário e partilha.

Legislação a ser consultada → Código Civil: Sucessão em geral (arts.


1.784 a 1.828). Sucessão Legítima (arts. 1.829 a 1.856). Sucessão Testamentária
(arts. 1.857 a 1.990). Inventário e Partilha (arts. 1.991 a 2.027). Lei n°
11.441/2007 (possibilita a realização de inventário e partilha por via
administrativa).

ÍNDICE

Conceito ......................................................................................... 03
Conteúdo ........................................................................................ 03
ABERTURA DA SUCESSÃO ............................................................... 04
Espécies de sucessão ..................................................................... 05
Herança .......................................................................................... 06
Transmissão da herança ................................................................. 07
Capacidade sucessória ................................................................... 08
Indignidade .................................................................................... 11
Aceitação e Renúncia ..................................................................... 13
Cessão ............................................................................................ 15
SUCESSÃO LEGÍTIMA ..................................................................... 17
Ordem de vocação hereditária ................................................... 19
Direito de representação ........................................................... 30
SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA .......................................................... 31
Espécies de testamentos ........................................................... 39
Inexecução testamentária ......................................................... 47
Legado ...................................................................................... 50
Substituições testamentárias .................................................... 51
Inventário ...................................................................................... 54

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Partilha .......................................................................................... 58
RESUMO DA AULA ........................................................................... 60
Bibliografia básica .......................................................................... 65
EXERCÍCIOS COMENTADOS ............................................................ 66

Meus Amigos e Alunos


Esta é a nossa última aula. Trata-se da etapa final de nossos estudos.
Recapitulando... nas primeiras aulas falamos sobre a Parte Geral do Código
Civil (Pessoas, Bens e Fatos/Atos Jurídicos). Passamos então pelo Direito das
Obrigações e os Contratos (Parte Geral e Contratos em Espécie). Depois
ingressamos Direito das Coisas. Na aula passada vimos o Direito de Família.
Hoje veremos o Direito das Sucessões, elencado no Livro V da Parte Especial
do Código Civil. Vamos abordar as Disposições Gerais e as Espécies de
Sucessão.

Avisos Importantes o Direito de Sucessões (a exemplo do Direito de


Família) mudou muito do Código Civil anterior para o atual. Portanto cuidado
ao estudar por algum livro antigo... ou fazer algum exercício antigo... estão
todos superados. Mas, como já disse, nossas aulas estão atualizadas,
inclusive quanto aos exercícios. Todos eles estão de acordo com o novo Código
Civil, bem como com a legislação complementar sobre o tema. Sempre que
uma lei nova altera algo da matéria, faço uma revisão geral das aulas. E em
especial nos testes, para que fiquem de acordo com as novas disposições
legais.
Outra coisa: este tema ficou agora mais complexo. Não diria difícil. Ficou
complexo. Principalmente em relação aos direitos do cônjuge sobrevivente e
do convivente (união estável). Darei muitos exemplos em aula. Mas é
interessante que todos observem os exemplos com lápis e papel na mão, para
poder acompanhar melhor a sequência do raciocínio, principalmente quanto à
divisão dos bens. Finalmente: Como sabemos, a presente aula foi dirigida
para exames e concursos públicos. Mas eu diria que ela pode ajudar a
esclarecer casos particulares que algum aluno possa ter em sua família ou com
algum amigo. Por isso ela é muito interessante e atual. Tenho certeza que
muitos alunos vão se identificar com alguns exemplos dados nesta aula e terão
esclarecidas muitas dúvidas pessoais sobre o assunto. Mas cuidado para não
se dispersar em detalhes que não têm importância para concursos.

Mais uma vez, aproveito a oportunidade para enviar a todos um grande


abraço, como se eu estivesse aí com vocês, desejando tudo de bom para
vocês. Muitas ALEGRIAS e SUCESSO nesta empreitada que vocês se
propuseram.

COMECEMOS ENTÃO...

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CONCEITO
Sucessão, de uma forma geral, significa transmissão de direitos e/ou
encargos respeitando-se determinadas normas (do latim sucedere = uns
depois dos outros). Na sucessão em geral uma pessoa assume o lugar de
outra, substituindo-a na titularidade de determinadas situações. Esta
transmissão pode se dar entre pessoas vivas (inter vivos) ou quando houver o
falecimento de alguém (causa mortis). No entanto, quando se fala em Direito
das Sucessões estamos nos referindo à transmissão em sentido estrito, ou
seja, decorrente do fator morte. Daí Sucessão hereditária. Isto é, todas as
regras que disciplinam as consequências derivadas do falecimento de certa
pessoa, seja quanto a seu patrimônio, seja quanto a outros fatos ligados ao
evento. O Direito Sucessório remonta à antiguidade, sempre ligado à ideia de
continuidade da religião e da família. Em Roma antiga o culto dos
antepassados se dava diante do altar doméstico e não havia castigo maior do
que falecer sem deixar alguém que lhe cultuasse a memória, de modo a ficar
seu túmulo abandonado.
Pela atual legislação podemos conceituar o Direito das Sucessões
como sendo o conjunto de normas que disciplinam a transferência do
patrimônio (ativo e passivo – ou seja, créditos e débitos) de alguém, depois
de sua morte, em virtude de lei (sucessão legítima) ou disposição de última
vontade (testamentária). Está regulado nos arts. 1.784 até 2.027 do Código
Civil. Além disso, o Código de Processo Civil também apresenta regas
referentes ao inventário e à partilha (arts. 982 até 1.045, CPC). E lembrem-se
que a Constituição Federal assegura o Direito de Herança (art. 5°, XXX); trata-
se, portanto, de uma garantia constitucional. E o seu fundamento repousa
na propriedade, conjugada ou não com o Direito de Família (art. 5°, XXII, CF).

CONTEÚDO
Pelo atual Código Civil podemos dividir o Direito das Sucessões em
quatro partes:
• Sucessão em Geral (arts. 1.784/1.828, CC) – trata das regras
gerais aplicáveis a todas as espécies de sucessões, para que possamos aplicar
os demais dispositivos (ex: momento de abertura da sucessão, capacidade
para suceder, aceitação e renúncia da herança, etc.).
• Sucessão Legítima (arts. 1.729/1.756, CC) – é a hipótese mais
comum em nossa vida prática; ocorre quando a pessoa morre sem deixar um
testamento ou quando este é julgado nulo ou ineficaz.
• Sucessão Testamentária (arts. 1.757/1.990, CC) – é a transmissão
segundo a manifestação de última vontade do falecido.
• Inventário e Partilha (arts. 1.991/2.027, CC) – esta parte envolve
questões processuais que devem ser analisadas em conjunto com o Código de
Processo Civil.
Após esta visão geral da matéria, vamos, desenvolver e analisar cada
um destes tópicos isoladamente, de uma forma lógica e sequencial.

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ABERTURA DA SUCESSÃO. REGRAS
A Abertura da Sucessão se dá no momento da constatação da morte
comprovada do “de cujus”. Esta é uma expressão latina abreviada da frase
‘de cujus successione agitur’ ou ‘de cujus hereditatis agitur’ – ou seja, aquele
de cuja sucessão se trata. O “de cujus” também é chamado de: autor da
herança (mais comum), sucedendo, falecido, antecessor, inventariado ou
finado. Nesta aula vamos usar muito a expressão “de cujus” para nos
referirmos à pessoa que faleceu. Já a Lei de Introdução ao Código Civil (vejam
o seu art. 10) usa a expressão “defunto” (pessoalmente - não sei explicar o
porquê - costumo evitar esta expressão... defunto... não me soa bem... prefiro
falar em de cujus... mas tecnicamente defunto não está errado).
O momento da morte precisa ser devidamente comprovado. No plano
biológico, pelos recursos empregados na medicina legal. No plano jurídico, pela
certidão passada pelo oficial do Registro Civil. A fixação deste momento é
muito importante, pois é a partir dele que se estabelece a abertura da
sucessão, suas regras, a transmissão da herança aos herdeiros legítimos e
testamentários, bem como se verifica a capacidade para suceder. No dizer de
Caio Mário “este é o fator genético da aquisição do direito pelos herdeiros”,
pois não existe herança de pessoa viva (viventis nulla hereditas). Neste
sentido, os pactos sucessórios são proibidos (reparem que o art. 426, CC
proíbe ser objeto de contrato a herança de pessoa viva). Trata-se de uma
norma de ordem pública.
Antes da morte biológica comprovada ou da morte presumida (com ou
sem declaração de ausência) não há direito à herança, mas somente uma
expectativa de recebê-la. Opera-se o direito somente com a morte.
Uma pessoa faleceu em determinado momento, mas o inventário
somente foi aberto posteriormente. Que lei deve se aplicada? Resposta: – A
vigente no momento da abertura da sucessão, ou seja, a vigente no
momento da morte do de cujus. Exemplo: Uma pessoa faleceu em meados de
dezembro de 2002. Porém o processo de inventário somente foi aberto em
fevereiro de 2.003 (quando o novo Código Civil já estava vigorando). Neste
caso a sucessão será regulada pelo Código anterior (de 1916), pois era esta a
lei vigente ao tempo da morte. É isto o que determina o art. 1.787, CC.
Portanto não devemos confundir abertura da sucessão (que se dá com a
morte do de cujus) com abertura do inventário (que se dá quando se
ingressa com o processo, a ação judicial propriamente dita).

O Princípio Básico do Direito das Sucessões é conhecido como Droit


de Saisine (trata-se de uma expressão francesa, que pronunciamos “druá dê
cesíni”). Saisine em francês significa posse de bens; deriva do verbo saisir,
que significa agarrar, prender, apoderar-se.
Trata-se do direito de posse imediata (também chamado de “saesina
juris”), ou seja, transmite-se automaticamente e imediatamente o domínio e a
posse da herança aos herdeiros legítimos e testamentários do de cujus, sem
solução de continuidade (ou seja, sem interrupção) e ainda que estes (os
herdeiros) ignorem tal fato. Trata-se da denominada posse indireta (a posse

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direta cabe a um administrador provisório). Na prática não necessita de
qualquer outro ato. No entanto, para se estabelecer a exata divisão dos bens,
deve-se proceder a um inventário (do qual falaremos mais adiante, ao final
desta aula, em tópico autônomo). Por meio deste processo, onde se efetua a
descrição dos bens da herança, iremos verificar o que exatamente foi deixado
pelo de cujus e o que será transmitido para os seus herdeiros. No entanto a lei
autoriza que os herdeiros do de cujus podem defender a posse dos bens da
herança, através de medidas protetivas, independentemente de abertura de
inventário.
Embora em uma aula preparatória para concursos públicos devemos
evitar as inúmeras citações de autores, ou fazer comparações com o direito de
outros países, ou mesmo fornecer a origem histórica de todos os institutos,
penso que aqui cabe uma exceção. Trata-se de uma importante curiosidade
cultural. O Princípio da Saisine surgiu na Idade Média como uma reação ao
sistema do regime feudal. Todas as terras pertenciam a um senhor feudal. E
este as arrendava a seus servos. Com a morte destes, a terra devia ser
devolvida ao senhor e os herdeiros do falecido deveriam pedir a imissão na
posse. Mas com isso deveria-se pagar mais uma “contribuição” (ou seja, um
imposto). Para se evitar este pagamento, passou-se a adotar a ficção de que o
falecido havia transmitido, no momento de sua morte, a posse de todos os
seus bens e direitos a seus herdeiros. Assim, os sucessores tomavam posse
dos bens sem qualquer formalidade (le serf mort saisit le vif, son hoir de plus
proche – o servo morto transmite a posse ao vivo, por ser seu herdeiro mais
próximo). O Brasil acolheu tal princípio no art. 1.784, CC:

“Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos


herdeiros legítimos e testamentários”.

Só se abre sucessão se o herdeiro sobrevive ao de cujus. Sobrevivendo,


ainda que por um só instante, herda os bens por ele deixados e os transmite
aos seus sucessores, mesmo que faleça logo em seguida. Daí a importância de
se nascer com vida, como vimos no início de nosso curso. No entanto há a
necessidade de apuração da capacidade sucessória, conforme veremos
adiante.
Comoriência. Presunção de simultaneidade de óbitos - art. 8°, CC: “Se
dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se podendo
averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros, presumir-se-ão
simultaneamente mortos”. A presunção é relativa (juris tantum), pois admite
prova em contrário. A regra é que um não herda do ao outro. Recomendo que
façam uma recordação desta matéria na aula sobre as Pessoas Naturais.

ESPÉCIES DE SUCESSÃO
Podemos classificar a sucessão em:
• Legítima (ou ab intestato) → decorre da lei; morrendo uma pessoa sem
testamento, transmite-se a herança aos herdeiros legítimos indicados pela
lei, conforme veremos mais adiante. Também será legítima se o testamento
for declarado nulo ou caducar. Esta última expressão será muito usada na

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aula de hoje. Por isso vamos defini-la agora, com as palavras de Sílvio
Rodrigues, como sendo “a perda, por razão superveniente, da razão de
existir de um ato determinado, que foi feito de maneira válida”. Exemplo:
testador deixa parte de seus bens para “A”; no entanto este falece antes do
testador → o testamento caducou.
• Testamentária → ocorre por disposição de última vontade
(testamento). Havendo herdeiros necessários (descendentes, ascendentes
ou cônjuge sobrevivente), o testador só poderá dispor de metade da
herança (art. 1.789, CC). A outra metade constitui a “legítima”, que é
assegurada aos herdeiros necessários (alguns autores chamam a legítima
de “quota reservatária”). Não havendo esta categoria de herdeiros, a
pessoa poderá deixar todos seus bens por testamento livremente. Neste
caso ela terá plena liberdade para testar. Se o de cujus for casado sob o
regime da comunhão universal de bens (art. 1.667, CC) o patrimônio do
casal será dividido em duas meações e a pessoa só poderá dispor da sua
meação. Explicaremos isto melhor mais adiante. Observem também que
havendo herdeiros necessários, a sucessão poderá ser mista: uma parte
por sucessão testamentária e a outra parte por sucessão legítima.

Como já sabemos, nosso ordenamento proíbe qualquer outra


forma de sucessão, especialmente a contratual. São proibidos os
pactos sucessórios, não podendo ser objeto de contrato a herança
de pessoa viva (art. 426, CC – chamamos isso de pacta corvina –
“acordo do corvo”). No entanto admite-se a cessão de direitos, como
veremos mais adiante.

• A título universal → o herdeiro é chamado para suceder a totalidade da


herança ou a fração ideal (parte) dela, assumindo também a
responsabilidade relativamente ao passivo. Pode ocorrer tanto na sucessão
legítima como na testamentária.
• A título singular → o testador deixa ao beneficiário uma coisa ou um
direito certo e determinado (legado). Neste caso o herdeiro não responde
por eventuais dívidas da herança.

O herdeiro sucede a título universal. Já o legatário (veremos


melhor esta expressão mais adiante) sucede a título singular.

HERANÇA
O objeto da sucessão causa mortis (em razão da morte) é a herança.
Com a abertura da sucessão (morte do autor da herança), transfere-se o
conjunto patrimonial do de cujus, aos seus herdeiros. Estes se sub-rogam nas
relações jurídicas do morto. Lembrando que as relações personalíssimas não se
transmitem e se extinguem com a morte.
A herança também é chamada de: espólio, monte, massa ou acervo
hereditário. Trata-se do conjunto patrimonial transmitido causa mortis, por

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isso ela se constitui em uma universalidade (de direito) de bens sem
personalidade jurídica (a doutrina costuma usar a seguinte expressão para se
referir a ela: “entidade de personalidade anômala”).
Trata-se de um patrimônio único (ficção da lei) até que se efetue a
partilha. É o conjunto de direitos (trata-se da parte ativa, dos bens, dos
créditos, etc.) e obrigações (trata-se da parte passiva, das dívidas, etc.),
representado pelo inventariante, até a homologação da partilha. Para os
efeitos legais a sucessão aberta é tida como um bem imóvel (art. 80, II, CC),
ainda que composta exclusivamente de bens móveis. Lembrem-se que existem
direitos que não são transmitidos pela sucessão (como os direitos
personalíssimos, o usufruto, etc.). No tocante às dívidas, os herdeiros só
respondem até os limites da herança.
A herança, considerada abstratamente, é indivisível (art. 1.791, caput e
parágrafo único, CC). Trata-se, portanto, de um “condomínio forçado”, que
somente é dissolvido com a sentença de partilha. Por isso qualquer um dos
herdeiros poderá reclamar a herança das mãos de quem injustamente possua.
Cada coerdeiro possui uma parte ideal da herança, exercendo os mesmo
direitos sobre o patrimônio do falecido. Após a partilha os herdeiros podem
manter ou não eventual indivisibilidade (passa a ser um condomínio
voluntário).
O coerdeiro não pode vender ou hipotecar parte determinada de coisa
comum ao espólio, mas pode ceder os direitos hereditários concernentes à
sua parte ideal (veremos isso melhor adiante). No entanto é necessária a
prévia autorização do Juiz da sucessão (art. 1.793, §3°, CC). Além disso, os
demais coerdeiros possuem direito de preferência.

TRANSMISSÃO DA HERANÇA
• Momento – como vimos, a transmissão ocorre com a abertura da
sucessão, ou seja, na data da morte física do de cujus (fixação do dia e
hora na certidão de óbito). É evidente que estamos falando da morte da
pessoa natural (ser humano) que tenha nascido com vida e não da pessoa
jurídica. É a partir deste momento que passa existir herança e esta se
transfere, mesmo que de forma abstrata, aos herdeiros. Estes, ainda que
não o saibam, já se tornam “donos” da herança, podendo defender estes
bens como se sempre tivessem sido proprietários. A doutrina costuma
citar três fases distintas: a) abertura da sucessão (morte do autor da
herança); b) delação (que é o momento em que se oferece o acervo aos
herdeiros, operando-se juntamente com a fase anterior); c) aceitação (o
fato jurídico do ingresso dos bens no patrimônio dos herdeiros). Assim, a
aquisição da herança não se dá quando da abertura do processo de
inventário, nem quando o Juiz homologa a partilha de bens, e nem
quando o respectivo formal é levado a registro, mas sim no momento da
morte (lembrem-se: Princípio da Saisine).
• Lugar (art. 1.785, CC) – é o último domicílio do falecido. É neste local
que deve ser proposto o processo de inventário. Na falta de domicílio
certo será o da situação dos bens ou do lugar do óbito. Se o falecido tinha

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mais de um domicílio, o inventário será feito em qualquer deles. O prazo é
de 30 dias a contar da morte do de cujus. Neste tópico as regras do
Direito Civil devem ser completadas com as normas processuais (art. 96,
do Código de Processo Civil).
• Inventariança – é um munus público, submetido ao controle e
fiscalização judicial, sendo função auxiliar da justiça. O inventariante é a
pessoa nomeada pelo Juiz a quem cabe a administração e a
representação da herança. Há uma ordem para sua nomeação,
prevista no art. 990, do Código de Processo Civil: cônjuge sobrevivente
casado sob o regime da comunhão, herdeiro que se ache na posse do
espólio, ou qualquer outro herdeiro. Pode ser até um estranho à sucessão,
desde que tenha a confiança do Juiz.
• Regras
a) na sucessão legítima são chamadas a suceder as pessoas já nascidas
e as já concebidas no momento da abertura da sucessão.
b) na sucessão testamentária, ainda podem ser nomeados como
herdeiros ou legatários: os filhos, ainda que não concebidos, de pessoas
indicadas pelo testador (prole eventual), desde que vivas estas quando da
abertura da sucessão; pessoas jurídicas; pessoas jurídicas cuja
organização for determinada pelo testador, sob forma de fundação, etc.

CAPACIDADE SUCESSÓRIA
Capacidade (ou legitimação) sucessória é a capacidade da pessoa
para receber os bens deixados pelo de cujus no tempo da abertura da
sucessão (art. 1.787, CC). Não confundir com a capacidade civil. Uma pessoa
menor de 16 anos é absolutamente incapaz de praticar pessoalmente os atos
da vida civil (art. 3°, CC); no entanto pode ter capacidade sucessória.
São pressupostos para haver capacidade sucessória: morte do autor da
herança, sobrevivência do sucessor (observada a capacidade sucessória do
nascituro) e herdeiro humano. A pessoa jurídica de direito privado não herda
ab intestato (sem testamento), mas tem capacidade para suceder por
testamento (art. 1.799, I, do CC).
O nascituro (aquele que está para nascer – revejam a matéria na aula
referente a Pessoas Físicas ou Naturais), apesar de ainda não ser pessoa física,
tem direito à herança. Ele tem uma expectativa de vida, portanto também
tem expectativa de direitos, que estão em estado potencial, sob condição
suspensiva; só terá eficácia se nascer com vida. Se isso ocorrer adquire a
posse e a propriedade da herança, como se já houvesse nascido desde o
momento da abertura da sucessão. Se nascer morto, deve ser considerado
“como se nunca tivesse existido” (e, juridicamente, não existiu mesmo).
Durante a gravidez pode ser nomeado um curador para zelar por seus
interesses (é chamado de “curador ao ventre” – normalmente a curatela é
exercida pela própria mãe). Mesmo que a mãe faleça antes do nascimento da
criança, esta terá legitimidade sucessória.

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É possível a sucessão condicional, subordinada a um evento futuro e
incerto (prole eventual), desde que tenha sido feita por disposição
testamentária.
Os herdeiros podem ser classificados em legítimos, necessários e
testamentários. Vejamos cada uma dessas classificações:
A) Legítimos → são aqueles que recebem uma herança de acordo com
uma ordem preferencial disposta pela lei (sucessão legítima). Podem ser
necessários ou facultativos (art. 1.829, CC). Analisaremos esta ordem, uma
a uma, com detalhes, logo adiante.
B) Testamentários → são os que foram contemplados ou nomeados
por um testamento, ainda que não façam parte do rol do art. 1.829, CC.
Pode ser a título universal (herdeiro – quando recebe uma parte da
totalidade da herança) ou a título singular (legatário – quando recebe um ou
vários bens determinados – veremos isso mais adiante também). Portanto,
uma pessoa sem qualquer relação de parentesco com o de cujus pode ser
instituída como herdeiro testamentário.
C) Necessários → são aqueles em que a lei lhes assegura uma quota
certa do monte hereditário. Pela atual legislação são os descendentes (filhos,
netos, bisnetos, etc.), os ascendentes (pais, avós, bisavós, etc.) e o cônjuge
sobrevivente (art. 1.845, CC). Os herdeiros necessários também são
chamados de herdeiros legitimários ou reservatários. Receberão,
necessariamente, pelo menos a metade dos bens do de cujus com
preferência excludente para os primeiros (ou seja, se houver descendentes e
ascendentes, os primeiros excluem os segundos – veremos isso melhor
adiante). Essa metade destinada aos herdeiros necessários é chamada de
legítima (ou quota reservatária). A lei assegura aos herdeiros necessários o
direito à legítima, ou seja, a metade dos bens do testador (salvo se ocorrer
a indignidade ou a deserdação). A outra parte, denominada parte
disponível, pode ser deixada livremente pelo testador. Se não houver
descendentes, ascendentes ou cônjuge o testador pode transmitir todo o seu
patrimônio livremente. Os demais herdeiros podem ser excluídos da
sucessão, sem maiores formalidades. Basta dispor do patrimônio sem
contemplá-los. Já os herdeiros necessários podem ser declarados indignos e
também deserdados (também veremos isso melhor logo adiante).
Indaga-se: um herdeiro necessário só pode receber a legítima? Ou pode
ser contemplado também com a parte disponível? Pelo art. 1.849, CC um
herdeiro necessário poderá receber a parte disponível, sem prejuízo de sua
parte na legítima.
Cálculo para a Legítima e a Parte Disponível. Para fazer este cálculo
devemos observar a seguintes regras referentes à pessoa que faleceu:
1) Inicialmente indagamos se o de cujus era casado. Se a resposta
for positiva e dependendo do regime de bens que vigorava entre o casal,
devemos separar a meação. Lembrem-se que a meação se refere ao Direito
de Família (aula anterior) e não ao Direito das Sucessões.

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Recordando: Na meação o fato gerador é o casamento. Leva-se em
consideração a escolha do regime de bens, mais a aquisição dos bens. Os bens
já pertencem ao cônjuge. Por isso a meação pode ser pedida em vida, com a
separação judicial ou o divórcio. Na herança o fato gerador é a morte. Os bens
pertenciam ao autor da herança. A herança só pode ser pedida após a morte.
Uma pessoa pode ser herdeira e meeira ao mesmo tempo? Sobre o tema
forneço, mais abaixo, uma tabela muito interessante analisando os Regimes de
Bens e os eventuais Direitos de Meação, Herança e Direito Real de Habitação.
Esta tabela será de grande valia. Principalmente para não confundir herança
com meação. Como já sabemos, a meação não entra na sucessão, pois o
cônjuge já tem esse direito, mesmo antes da morte do de cujus. Vejamos
algumas situações:
a) O de cujus, casado sob o regime da comunhão universal, tinha um
patrimônio de 100. Meação do cônjuge sobrevivente → 50. Herança do de
cujus a ser partilhada → 50.
b) O de cujus, casado sob o regime da comunhão parcial, tinha um
patrimônio de 100, sendo que todos os bens foram adquiridos na constância da
sociedade conjugal – situação idêntica acima.
c) O de cujus tinha um patrimônio de 100; era casado sob o regime da
comunhão parcial, sendo que 20 foi adquirido quando solteiro e 80 durante a
sociedade conjugal. Meação do cônjuge sobrevivente → 40 (metade de 80).
Herança do de cujus a ser partilhada → 60 (40+20).
d) O de cujus tinha um patrimônio de 100; era casado sob o regime da
separação total de bens. Herança do de cujus a ser partilhada → 100 (não há
meação).
2) Separada a meação (se for o caso), devemos abater do monte as
dívidas do de cujus e as despesas funerárias, que são chamadas de passivo
da herança.
3) A parte que sobrou é a herança propriamente dita. Mas ainda
devemos fazer outro procedimento: dividir este valor ao meio. Metade
chamamos de legítima (que necessariamente deve pertencer aos herdeiros
necessários, salvo se ocorrer uma deserdação, etc.). E a outra metade
chamamos de parte disponível. Exemplo: Vamos aproveitar a situação “a”
acima. Patrimônio de 100: meação de 50 e herança de 50. Se a pessoa quiser
elaborar um testamento, somente poderá dispor de 25 (metade da herança),
pois a outra parte (legítima) será dos herdeiros necessários (se houver).

Redução das Disposições Testamentárias. Se a quota disponível


deixada a terceiros ultrapassar o limite de 50%, afetando a legítima, poderão
os herdeiros necessários, por meio de ação própria, pleitear a redução das
disposições testamentárias e das doações feitas em vida. Chamamos de
doações inoficiosas as doações que à época de sua feitura excederam a
metade dos bens do testador, sendo nula apenas a parte que excedeu.
Observem: não se anula o testamento ou a doação, mas procede-se a uma
transferência de bens da quota disponível para a legítima, reintegrando-se o

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que foi desfalcado. Ou seja, haverá um reequilíbrio das doações
testamentárias. Isto será feito por meio da colação, que também veremos
mais adiante.
É interessante frisar que em relação às doações, o cálculo deve ser
realizado tendo-se em vista o momento da liberalidade. Exemplo: digamos
que uma pessoa seja muito rica, possuindo 20 imóveis e por isso resolve doar
um destes para uma amiga. No decorrer da vida, por algum motivo qualquer,
acabou perdendo toda a sua fortuna. Quando se abre a sucessão nota-se a
doação, mas neste caso a doação foi válida, pois na ocasião da doação foi
respeitada a parte disponível.
A doutrina suscita um problema: Qual o momento para se propor a Ação
de Redução? A resposta é controvertida! Não há uma disposição expressa na
lei! Por isso, parece-me que a posição adotada por Sílvio Rodrigues é a mais
coerente. Vejamos. Inicialmente ele distingue a ação de redução das doações
inoficiosas, da ação de redução das disposições testamentárias (ou seja:
devemos diferenciar doação e testamento). No caso de redução da
liberalidade testamentária excessiva a ação somente pode ser proposta
após a abertura da sucessão, uma vez que somente neste instante o
testamento é suscetível de ser cumprido. No caso de doação inoficiosa
(liberalidade feita em vida), a ação pode ser proposta desde logo, ainda em
vida do doador.

INDIGNIDADE (arts. 1.814/1.818, CC)


Trata-se de uma espécie de incapacidade sucessória que priva uma
pessoa de receber a herança. A pessoa é afastada, destituída da herança, por
não ser digna de recebê-la, por ter se portado mal em relação ao falecido. A
indignidade, na verdade é uma pena (ou sanção) civil, criada pelo legislador,
atingindo os herdeiros necessários, os legítimos e os testamentários.
Fundamenta-se esta pena em dois aspectos: a) subjetivo: presume-se
que o falecido não gostaria que seu patrimônio fosse transferido para quem o
tenha ofendido; b) objetivo: a indignidade ofende princípios referentes à
ordem pública, amparada pelo interesse social.
A pena de indignidade só alcança o indigno, sendo que ele será
representado por seus sucessores, como se morto fosse.
O art. 1.814, CC enumera três hipóteses taxativas (numerus clausus) de
indignidade. Somente estes casos previstos na lei autorizam a exclusão. Assim,
são excluídos por indignidade os herdeiros ou legatários que:
a) foram autores, coautores ou partícipes em crime de homicídio doloso
(quando há a intenção de matar), tentado ou consumado, contra a pessoa
de cuja sucessão se tratar, seu cônjuge, companheiro, ascendente ou
descendente. Não é hipótese de indignidade o homicídio culposo (quando
não há a intenção de matar, mas o evento morte ocorre por imprudência,
negligência ou imperícia). Dispensa-se a prévia condenação, mas é
imprescindível prova irrefutável do evento.

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b) acusaram caluniosamente em juízo o autor da herança (trata-se do
crime de denunciação caluniosa, previsto no art. 339, do Código Penal –
crime contra a administração da justiça), ou incorreram em crime contra
a honra (calúnia, difamação e injúria – arts. 138, 139 e 140, do Código
Penal), contra o autor da herança ou de seu cônjuge ou companheira(o).
c) empregaram violência ou meios fraudulentos, inibindo ou obstando o
autor da herança de livremente dispor dos seus bens por ato de última
vontade – visa preservar a liberdade de testar.

É importante notar que os efeitos da indignidade são pessoais.


Portanto não podem passar da pessoa do indigno. Isto quer dizer que se o
indigno tiver herdeiros, estes receberão a herança como se o indigno fosse
falecido (trata-se do direito de representação). Assim, uma vez declarada a
indignidade, afasta-se apenas indigno da sucessão. Porém os sucessores do
indigno não são afastados.
Exemplo: A possui dois filhos (B e C) e um acervo hereditário de 100.
Digamos que A declare C como indigno. C possui dois filhos. Quando A falecer
sua herança será dividida em duas partes. A primeira (50) irá para B. A outra
iria para o outro filho, C. Mas como este foi declarado indigno, a herança irá
para os filhos de C (que são netos de A: 25 para cada). Assim, para a
sucessão de A, é como se C (declarado indigno) estivesse morto, mas os
herdeiros do indigno recebem o acervo.

Chamamos de bens ereptícios os bens que o indigno deixou de receber


(do latim ereptus – eripire = tirar, tomar). A princípio a pessoa herda e retém
os bens (saisine); julgada a indignidade os bens são tomados do herdeiro que
se declara indigno. Em relação a estes bens o indigno não terá direito ao
usufruto nem à administração dos bens que seus filhos menores herdaram. E
mais: o indigno não poderá suceder quanto a estes bens. Exemplo: uma
pessoa foi considerada indigna; os bens irão para seu filho; este falece algum
tempo depois; os bens não podem retornar ao indigno.
É interessante acrescentar que se o indigno era herdeiro testamentário
ou legatário, os seus herdeiros (do indigno) nada receberão (não há direito de
representação em testamento), sendo que o bem retorna ao monte para ser
partilhado entre os herdeiros legítimos.
A exclusão do herdeiro, ou legatário, em qualquer desses casos de
indignidade, será declarada por sentença judicial em ação ordinária
autônoma (não pode ser declarada de forma incidental no inventário), movida
por quem tenha interesse na sucessão (art. 1.815, CC). O Ministério Público
não pode ingressar com esta ação. O prazo é de 04 (quatro) anos, sob pena de
decadência, contados da abertura da sucessão. Os efeitos da sentença
declaratória de indignidade retroagem (ex tunc) à data da abertura da
sucessão, considerando o indigno como pré-morto ao de cujus. O efeito
principal da indignidade é que o indigno deve devolver o que recebeu, tendo
direito apenas à indenização pela sua conservação.

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Reabilitação – O art. 1.818, CC permite ao ofendido reabilitar o
indigno, desde que o faça de forma expressa (não há perdão tácito) em
testamento ou outro documento autêntico (ex: escritura pública). Esta
reabilitação, na verdade, trata-se do perdão fornecido ao indigno.

Importante Não confundir


a) Incapacidade e Indignidade. No primeiro caso ocorre a falta de
aptidão de uma pessoa para adquirir direitos; no segundo caso a perda desta
aptidão ocorre por culpa do próprio beneficiário.
b) Indignidade e Deserdação. Veremos isso mais adiante em item
específico.

ACEITAÇÃO E RENÚNCIA DA HERANÇA – arts. 1.804 a 1.812, CC

A) ACEITAÇÃO OU ADIÇÃO
Ninguém pode ser herdeiro contra a vontade. Portanto, após a abertura
da sucessão é feita a delação, que é o oferecimento da herança. Aceitação é o
ato jurídico unilateral pelo qual o herdeiro (legítimo ou testamentário)
manifesta livremente o desejo de receber a herança que lhe é transmitida. A
aceitação consolida os direitos do herdeiro, tornando-se definitiva a
transmissão dos bens, desde a abertura da sucessão (art. 1.804, CC). Na
realidade não se pode afirmar que o momento da aquisição do patrimônio se
verifica com a aceitação. A aquisição se dá no momento da abertura da
sucessão (é automática). Já a aceitação é a confirmação da aquisição. Isto
porque os “direitos da herança” não nascem com a aceitação, mas sim
retroagem à data da morte. A aceitação produz um efeito retro-operante,
encerrando a situação de pendência criada com a abertura da sucessão.
Com a aceitação o herdeiro está assumindo também os encargos do de
cujus. Ou seja, para receber a parte ativa (o crédito), o herdeiro deve pagar o
passivo (as dívidas). No entanto isso somente ocorre até o limite das forças da
herança. Porém, nada impede que o herdeiro assuma todos os débitos do
falecido, ainda que superiores ao acervo hereditário.
A aceitação é indivisível e incondicional porque não se pode aceitar ou
renunciar a herança em parte. A aceitação também não pode ser feita sob
condição ou a termo. Isto para se preservar a segurança nas relações jurídicas.
Ela deve ser pura e simples. Também não pode haver retratação da
aceitação da herança. No entanto pode ser anulada e revogada, se após a sua
ocorrência se verificar que o aceitante não era herdeiro.
Podemos classificar a aceitação da seguinte forma (art. 1.805, CC):
• Expressa – é aquela em que há uma declaração escrita, pública ou
particular neste sentido (na prática é raro).
• Tácita – é aquela que ocorre quando se praticam atos compatíveis com
a aceitação da qualidade de herdeiro (ex: cobrança de dívidas
referentes ao espólio, pagamento de impostos atrasados, fazer-se
representar por advogado no processo de inventário, etc.).

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• Presumida – é aquela em que o herdeiro permanece silente, depois
que é notificado para que declare se aceita ou não a herança (o seu
silêncio, a sua omissão é interpretada como uma forma de aceitação).

Observação: Há atos que embora praticados pelo herdeiro não revelam a


intenção de aceitar a herança como os atos meramente conservatórios, o
funeral do de cujus, a guarda provisória dos bens e a cessão gratuita da
herança aos demais coerdeiros (art. 1.805, §1° e §2°, CC).

B) RENÚNCIA DA HERANÇA
Como vimos, uma pessoa não é obrigada a receber a herança, podendo
repudiar o que está sendo transmitido. Assim a renúncia consiste no ato
jurídico unilateral pelo qual o herdeiro declara expressamente que não
aceita a herança a que tem direito, abrindo mão de sua titularidade. Trata-se
de um ato solene, devendo ser feito por escritura pública (perante o
tabelião) ou por termo nos autos (perante o Juiz).
Se o herdeiro “renunciar em favor de outrem”, isto não se configura em
uma renúncia propriamente dita. Na verdade trata-se de uma aceitação com
uma imediata transmissão dos bens, havendo a incidência de tributação causa
mortis e também inter vivos. Esta hipótese também é chamada de renúncia
translativa. A renúncia válida e correta como tal é a abdicativa, isto é, a
cessão gratuita, pura e simples, sem indicar quem irá substituí-lo, ficando os
bens para quem a lei (sucessão legítima) ou o próprio de cujus determinar (no
caso de ter sido nomeado um substituto).
Requisitos da Renúncia
• Capacidade jurídica do renunciante. Os incapazes não podem renunciar,
senão por seu representante legal, devidamente autorizado pelo Juiz.
Entende-se que pode ser feita por mandatário com poderes especiais e
expressos para isso.
• Forma solene prescrita em lei; sempre por escrito (escritura pública ou
ato judicial); não existe a renúncia tácita nem a presumida. Não é
necessária a homologação judicial da renúncia.
• Impossibilidade de repúdio parcial da herança. Como a herança é
indivisível até a partilha, a renúncia (ou a aceitação) também será
indivisível: ou se renuncia tudo ou se aceita tudo.
• Respeito a direitos de eventuais credores. Se a renúncia prejudica
credores, estes podem aceitar a herança. Exemplo: “A” recebeu uma
herança; mas ele está muito endividado. Ele sabe que assim que receber
a sua parte na herança, seus credores irão ficar com seus bens. Desta
forma ele renuncia à herança (que poderá ir para seus filhos ou irmãos).
Esta conduta evidentemente prejudica seus credores. Por isso admite-se
que os próprios credores aceitem a herança em nome do renunciante,
com autorização judicial (art. 1.813, CC), evitando assim, fraudes e
simulações maliciosas. Após pagas as dívidas do renunciante,
prevalecerá a renúncia quanto aos bens remanescentes (se houver),
devendo ser devolvidos aos demais herdeiros.

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• Se o renunciante for casado, a renúncia depende de outorga (uxória ou
marital), exceto se foi adotado o regime da separação total de bens (art.
1.647, CC). Isto porque o direito à sucessão é considerado como sendo
um bem imóvel (art. 80, II, CC).

Efeitos da Renúncia
• O renunciante é tratado como se nunca tivesse sido chamado à
sucessão; seus efeitos retroagem à data da abertura da sucessão. É
interessante notar que a pessoa que repudia uma herança não está
impedida de aceitar um legado (e vice-versa).
• O quinhão hereditário do repudiante, na sucessão legítima, transmite-se
de imediato aos outros herdeiros da mesma classe (direito de acrescer).
Os descendentes do renunciante não herdam por representação. No
entanto se ele for o único da classe seus, filhos herdam por direito
próprio e por cabeça.
• O renunciante não perde o direito ao usufruto e nem a administração dos
bens que, pelo seu repúdio, foram transmitidos aos seus filhos menores.
• A renúncia da herança é irretratável e irrevogável (art. 1.812, CC).
No entanto pode ser anulável quando proveniente de vício de vontade
(dolo, coação, etc.), como todo e qualquer ato jurídico.

CESSÃO DE HERANÇA (art. 1793 e parágrafos, CC)


É a transferência que o herdeiro (legítimo ou testamentário) faz a
outrem do quinhão hereditário que lhe compete (no todo ou parte dele), após
a abertura da sucessão, ou seja, após a morte do autor da herança. Assim,
não pode haver cessão de herança de pessoa estiver viva. Até porque o art.
426, CC proíbe que a herança de pessoa viva seja objeto de contrato. Abrindo-
se a sucessão (morte) a herança transmite-se de imediato aos herdeiros,
permanecendo em estado de indivisão até a partilha final. Durante este
período (entre a abertura da sucessão e a partilha final) um herdeiro pode
ceder seus direitos hereditários a terceiros. A cessão de herança pode ser
gratuita ou onerosa. É necessária a prévia autorização do Juiz da sucessão.

Regras
• o cedente deve ter capacidade para alienar.
• a cessão somente terá validade após a abertura da sucessão e antes da
partilha.
• ato solene, formalizado por meio de uma escritura pública (1.793, CC)
posteriormente registrada no registro imobiliário.
• se o cedente for casado necessita a outorga conjugal, exceto se o regime
de bens for o da separação total de bens (como vimos a herança é bem
imóvel – art. 80, II, CC).
• há transferência da parte ideal da massa hereditária, não havendo
individualização dos bens (pois deve ser anterior à partilha).

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• o cessionário assume a mesma condição jurídica do cedente (1.793, §1°
CC).
• em regra o cedente não responde pela evicção (perda da propriedade em
virtude de sentença judicial e ato jurídico anterior), nem por eventual vício
redibitório (defeito oculto na coisa). Se for o caso, reveja a aula sobre
Contratos – Parte Geral, que melhor disciplina estes temas.
• o credor do espólio pode acionar o cedente.
• nos termos do art. 1.805, §2°, CC, não importa em aceitação a cessão
gratuita, pura e simples da herança aos demais coerdeiros.
• na cessão onerosa feita a estranhos, deve-se oferecer oportunidade aos
demais herdeiros para que estes exerçam o direito de preferência. O
preço será “tanto por tanto” (art. 1.794, CC), ou seja, o mesmo preço que
o terceiro iria pagar. Caso não seja dado conhecimento da cessão ao
coerdeiro, ele pode requerer ao Juiz, no prazo de até 180 dias após a
transmissão, depositando o preço e haver para si a quota cedida a
estranho (art. 1.795, CC).

HERDEIRO APARENTE E PETIÇÃO DE HERANÇA (arts. 1.824 a 1.828, CC)


Herdeiro aparente é aquele que embora não tenha tal condição, se
apresenta aos olhos de todos como se fosse herdeiro, criando a impressão de
ser o sucessor do de cujus. Exemplos em que isto pode ocorrer:
a) herdeiro testamentário que entrou na posse da herança, sendo que
posteriormente se descobriu um novo testamento, instituindo outro herdeiro.
b) testador deixa todos os seus bens a uma pessoa, sendo que
posteriormente se descobre que ele tinha um herdeiro necessário (ex: um filho
que teve fora do casamento).
c) herdeiro legítimo de todos os bens descobre posteriormente que o de
cujus deixou um testamento beneficiando, também uma terceira pessoa.
Teoria do Herdeiro Aparente
Pelo parágrafo único do art. 1.827, CC as alienações feitas, a título
oneroso, pelo herdeiro aparente a terceiro de boa-fé são eficazes. Nossa
legislação premia a boa-fé. Evidente que o herdeiro aparente beneficiado na
transação ficará responsável pelo valor dos bens alienados.
Petição de Herança
Se porventura for realizado um inventário e eventualmente um sucessor
foi deixado de fora, este herdeiro não perde seu direito sucessório. Ele pode
ingressar com Ação de Petição de Herança. Desta forma, petição de herança é
a ação pela qual um herdeiro esquecido ou desconhecido (situações descritas
acima) reclama sua parte da herança, antes ou depois da partilha (os bens já
estavam na posse de terceiros e deverão ser restituídos). Pode compreender
todos os bens hereditários. Deve ser instruída com prova da qualidade de
herdeiro. Pode haver cumulação com outras ações como: investigação de
paternidade, reconhecimento da condição de companheiro, etc.

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CAROS ALUNOS. Até aqui estamos falando sobre a Sucessão de uma forma
geral. As regras vistas até aqui se aplicam a qualquer espécie de sucessão.
Vamos agora fazer uma divisão neste tema entre: Sucessão Legítima e
Sucessão Testamentária. Vamos analisar cada uma delas, com suas regras e
particularidades. Comecemos...

SUCESSÃO LEGÍTIMA
(arts. 1.829 a 1.856, CC)

Sucessão Legítima é aquela em que o de cujus faleceu sem


testamento (ab intestato), ou o testamento deixado caducou, ou ainda foi
julgado ineficaz. Neste caso os bens serão distribuídos seguindo uma ordem
estabelecida pela lei. Baseia-se no vínculo de família (sangue e afinidade).
Embora a Sucessão Legítima seja mais comum no Brasil, na verdade a
Sucessão Testamentária é a principal. Isto porque a Sucessão Legítima é
subsidiária, somente sendo aplicada se não houver um testamento válido.
Há, também a possibilidade de ocorrerem as duas espécies de sucessão
(testamentária e legítima) de forma simultânea em relação a uma pessoa,
como a existência de um testamento para parte dos bens, ficando os demais a
cargo das regras da Sucessão Legítima.
Há uma relação preferencial prevista na lei das pessoas que são
chamadas a suceder o finado, como se esta fosse a sua última vontade. Se ele
deixou testamento, mas havia herdeiro necessário, é possível que ocorra uma
redução das disposições testamentárias para que seja respeitada a quota dos
mesmos, prevista em lei.
É importante reforçar que segundo o art. 2.041, CC (disposições finais e
transitórias), as disposições relativas à ordem de sucessão não se aplicam à
sucessão aberta antes de sua vigência (ou seja, se uma pessoa morreu antes
da vigência do atual Código, mesmo que o processo de inventário seja aberto
agora, as regras que serão aplicadas para a divisão dos bens será a do Código
Civil de 1916).

ORDEM DE SUCESSÃO LEGÍTIMA (art. 1.829, CC)


O chamamento dos sucessores é feito de acordo com uma sequência
denominada ordem de vocação hereditária, que é uma relação
preferencial, estabelecida pela lei, das pessoas que são chamadas para
suceder o de cujus. Trata-se de uma vontade presumida do falecido.
De início, vamos apenas fornecer a ordem estabelecida na lei (art. 1.829,
CC). Depois vamos analisar item por item desta ordem. Vejamos:
01) Descendentes (filhos, netos, bisnetos, etc.): em concorrência com o
cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da
comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens; ou se, no
regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens
particulares.

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02) Ascendentes (pai, avô, bisavô, etc.): também em concorrência com
eventual cônjuge sobrevivente.
03) Cônjuge Sobrevivente (ou cônjuge supérstite).
04) Colaterais (somente até o 4° grau).
Ordem Preferencial:
• irmãos: 2° grau
• sobrinhos: 3° grau
• tios: 3° grau
• sobrinhos-netos: 4° grau
• tios-avôs: 4° grau
• primos-irmãos: 4° grau

Observações Importantes
1. Não há limitação de grau na linha reta (descendentes e ascendentes).
Neste caso o grau de parentesco é “infinito”.
2. Uma classe só será chamada quando faltarem herdeiros da classe
precedente. os ascendentes só serão chamados na sucessão se não
houver descendentes; os colaterais somente serão chamados se não
houver descendentes, ascendentes e cônjuge, etc.
3. Dentro de uma classe, o grau mais próximo, em princípio, exclui o mais
remoto. Ex: o de cujus deixou um filho vivo e este, por sua vez, possui
dois filhos (que são netos do de cujus). Tanto o filho, como os netos
estão na mesma classe – são descendentes. No entanto, neste caso a
herança irá somente para o filho, pois embora estejam na mesma classe
(dos descendentes) o filho está no primeiro grau e os netos estão no
segundo grau (portanto os filhos estão mais próximos).
4. Os descendentes, os ascendentes e o cônjuge sobrevivente são
considerados herdeiros necessários; neste caso o testador só poderá
dispor por testamento de metade da herança. Isto é, metade de seus
bens (já descontada eventual meação do cônjuge) irá obrigatoriamente
para os herdeiros necessários (salvo alguma hipótese de deserdação).
5. Todos os filhos herdam em igualdade de condições (art. 227, §6°,
CF/88: “Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por
adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer
designações discriminatórias relativas à filiação”). Assim, um filho não
pode ser chamado de adulterino ou bastardo. São expressões
consideradas preconceituosas. Para efeitos sucessórios, tanto faz que o
filho seja proveniente de um casamento ou de uma relação
extraconjugal: é filho do mesmo jeito e terá direito a herança.
6. Se houver um testamento essa ordem pode não prevalecer exatamente
desta forma, ou seja, pode haver algumas modificações, conforme
veremos adiante.

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7. Notem que a Administração Pública (Município, Distrito Federal e União)
e o convivente não constam da relação do art. 1.829, CC, embora
tenham direitos sucessórios. Há regras especiais sobre eles que também
veremos adiante.
8. A afinidade (sogro/sogra, genro/nora, cunhada) não gera direitos
sucessórios. A simples dependência econômica de uma pessoa também
não gera direitos sucessórios.

A) SUCESSÃO DOS DESCENDENTES

Com a abertura da sucessão, os descendentes do de cujus são


chamados para receber a herança em primeiro lugar, adquirindo os bens por
direito próprio. Os filhos são chamados à sucessão do pai, recebendo cada um
(sucessão por cabeça – in capita) quota igual da herança (art. 1.834, CC),
excluindo-se os demais descendentes (embora possa haver o direito de
representação, conforme veremos adiante).

Reforçando: não se pode fazer qualquer distinção entre os


filhos, sejam eles havidos ou não durante o casamento, adotivos,
etc., sendo que todos eles possuem os mesmos direitos.

Se todos os descendentes estiverem no mesmo grau, a sucessão será


por direito próprio e por cabeça; a herança é dividida em tantas partes
iguais quantos forem os herdeiros. Exemplos: pessoa faleceu e deixou dois
filhos → a herança será dividida em duas partes iguais; pessoa faleceu e não
deixou filhos vivos (todos eles eram pré-mortos), porém deixou cinco netos →
o acervo será dividido em cinco partes iguais, não importando se eram filhos
do mesmo pai ou pais diferentes.
Se à herança concorrem descendentes de graus diferentes
(descendente de grau inferior – neto – concorrendo com o de grau superior -
filho) a sucessão se dá por cabeça e por representação (também chamada por
estirpe). Exemplo: o de cujus tinha dois filhos vivos e três netos, sendo que
estes são filhos de um terceiro filho pré-morto → neste caso a herança será
dividida em três partes iguais: as duas primeiras serão destinadas aos filhos
vivos e a terceira (que pertenceria ao outro filho) será destinada aos três netos
que dividirão o quinhão entre si – neste caso chamamos de sucessão por
representação ou por estirpe. Os netos (filhos do filho pré-morto) recebem
o que o pai (filho do de cujus) receberia. Falaremos mais sobre a
representação em um tópico específico, logo adiante.

IMPORTANTE
Havendo cônjuge sobrevivente, este, em algumas situações, pode
concorrer com seus descendentes. Mas em primeiro lugar este cônjuge não
pode estar separado judicialmente e nem separado de fato há mais de dois
anos do de cujus. Se estiver em alguma destas situações não terá direito à
herança. Até aí sem problemas. Não há dificuldades. Resolvida esta questão,
devemos saber agora qual o regime de bens que vigorava entre o casal.

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Segundo a lei o cônjuge concorrerá com o descendente se: a) não for casado
sob o regime da comunhão universal ou da separação obrigatória de bens; b)
haja bens particulares do de cujus, se casado sob o regime da comunhão
parcial.
É possível que a matéria agora tenha ficado um pouco confusa. Por isso
elaboramos um quadro que visa facilitar o estudo desta matéria. Tenho
certeza que depois de ser lido, a matéria ficará muito mais fácil. Ele serve, não
só para concursos, mas também em situações particulares, que pode ocorrer
com qualquer um de nós.

REGIME DE HÁ DIREITO À HÁ DIREITO À HÁ DIREITO


BENS MEAÇÃO? HERANÇA? REAL DE
HABITAÇÃO?

COMUNHÃO SIM NÃO SIM


UNIVERSAL
(TOTAL) DE
BENS
COMUNHÃO SIM SIM SIM
PARCIAL COM (sobre os bens
BENS particulares)
PARTICULARES
COMUNHÃO SIM NÃO SIM
PARCIAL SEM
BENS
PARTICULARES
PARTICIPAÇÃO SIM SIM SIM
FINAL NOS
AQUESTOS

SEPARAÇÃO NÃO SIM SIM


TOTAL
(CONVENCIO-
NAL)
SEPARAÇÃO NÃO NÃO SIM
OBRIGATÓRIA (SÚMULA 377
(LEGAL) DE STF = SIM)
BENS

Observem que o quadro também fala sobre o direito real de habitação.


Também falaremos sobre ele mais abaixo.

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Depois de analisar o quadro acima que informa em que hipóteses
(trata-se do “quando”) o cônjuge concorre com o descendente, há uma
outra indagação: qual a parte do cônjuge nesta herança (trata-se do
“quanto”)?
Segundo o atual Código Civil, o cônjuge sobrevivente terá direito a um
quinhão igual aos dos que sucederem por cabeça, não podendo sua quota ser
inferior à quarta parte (25%) da herança se for ascendente dos herdeiros com
que concorre (art. 1.832, CC). Isto também é um pouco confuso. Por isso é
interessante analisar diversas situações:

Situação 01 – Pessoa faleceu deixando cônjuge e um filho que teve com ele
(filho comum) → neste caso o cônjuge recebe metade da herança e o filho a
outra metade (notem que estamos falando somente da herança; a meação
já é um fato superado, que vai depender do regime de bens).
Situação 02 – Pessoa faleceu deixando cônjuge e dois filhos que teve com
ele (filhos comuns) → cônjuge recebe um terço, o primeiro filho um terço e o
outro filho o outro terço da herança.
Situação 03 – Pessoa faleceu deixando cônjuge e cinco filhos que teve com
ele (filhos comuns) → cônjuge recebe um quarto e os filhos repartirão os
outros três quartos da herança.
Situação 04 – Pessoa faleceu deixando cônjuge e dez filhos que teve com
ele (filhos comuns) → o cônjuge recebe o mesmo um quarto e os dez filhos
repartirão os outros três quartos da herança.
Situação 05 – Pessoa faleceu deixando cônjuge e três filhos tidos em outra
relação matrimonial (não são do cônjuge sobrevivente – filhos exclusivos) →
aplica-se a regra geral; divide-se a herança em quatro partes iguais.
Cônjuge e filhos terão direito à mesma porcentagem.
Situação 06 – Pessoa faleceu deixando cônjuge e nove filhos de outra
relação matrimonial (filhos exclusivos) → aplica-se a regra geral; divide-se a
herança em dez partes iguais. Cônjuge e filhos terão direito à mesma
porcentagem.
Não havendo cônjuge, mas um companheiro ou convivente (ou
seja, o de cujus não era casado, porém vivia em uma união estável) este
participará da sucessão apenas no que concerne aos bens adquiridos na
vigência da união estável. Se concorrer com filhos comuns, terá direito a uma
quota equivalente à que por lei for atribuída ao filho. Se concorrer com
descendentes só do autor da herança terá direito à metade do que couber a
cada um daqueles. Veremos isso melhor adiante.

B) SUCESSÃO DOS ASCENDENTES

Não havendo descendentes, serão chamados os ascendentes do de


cujus. Se houver cônjuge sobrevivente, estes também concorrerão com os
ascendentes. Novamente o grau mais próximo exclui o mais remoto.

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Exemplo: Se o de cujus deixou pai e mãe vivos (sem cônjuge), a herança
será entregue a eles em partes iguais (50% para o pai e 50% para a mãe).
Se apenas um dos genitores for vivo a ele será transmitida toda a
herança, ainda que sobrevivam os ascendentes do outro. Exemplo: o de cujus
deixou mãe e dois avós, que eram pais de seu pai. A herança toda irá para a
mãe, excluindo-se os avós paternos. Observem que os avós paternos não
herdam por representação.
Na falta de ambos os pais do autor da herança, herdarão os avós.
Exemplo: o de cujus deixou três avós – dois maternos e um paterno – a
herança será dividida em duas partes, metade para os avós maternos e a
outra metade para o avô paterno (neste caso a divisão da herança será feita
por linha e não por cabeça).
É muito importante reforçar que, diferentemente da sucessão dos
descendentes, em relação aos ascendentes não há direito de
representação. O ascendente de grau mais próximo afasta (exclui) o de grau
mais remoto (art. 1.836, §1°, CC).
Se o de cujus deixou ascendentes e cônjuge, a situação também
difere um pouco. Primeiramente porque nesta situação independe o regime
de bens. Ou seja, não havendo descendentes, qualquer que seja o regime de
bens o cônjuge sobrevivente tem o direito de receber a herança juntamente
com os ascendentes. O problema é saber o quanto fará jus. Vejamos:
Situação 01 – Pessoa faleceu deixando ascendentes de primeiro grau (pai e
mãe) e cônjuge → o pai terá direito a um terço da herança, a mãe terá
direito a um terço e o cônjuge o outro terço.
Situação 02 – Pessoa faleceu deixando mãe (somente um ascendente de
primeiro grau) e o cônjuge → a mãe terá direito a metade da herança e o
cônjuge a outra metade.
Situação 03 – Pessoa faleceu deixando ascendentes de segundo ou mais
graus (avós, bisavós) e cônjuge → os ascendentes terão direito à metade da
herança (que deverá ser partilhada entre todos os sobreviventes do mesmo
grau) e o cônjuge a outra metade.

C) SUCESSÃO DO CÔNJUGE SOBREVIVENTE (SUPÉRSTITE)


Como vimos no gráfico mais acima, se o regime de bens for o da
comunhão universal ou da comunhão parcial, o cônjuge terá metade dos bens
comuns do casal. Trata-se da meação, que (vamos reforçar) não pode ser
confundida com a herança. Na meação os bens comuns são divididos; a porção
ideal dos bens já lhe pertencia mesmo antes da morte do de cujus.
Chamamos de herança somente a parte de seu cônjuge falecido. Lembrando
que a pessoa é afastada da sucessão (herança) se estiver separada
judicialmente ou separada de fato há mais de dois anos (salvo prova de que
essa convivência se tornara impossível sem culpa do sobrevivente – art.
1.830, CC). A doutrina critica muito a parte referente à separação de fato, pois
esta situação não extingue a sociedade conjugal e, portanto, não deveria ser
causa de extinção dos direitos conjugais.

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Hipóteses Interessantes:
1) Homem está se separando de sua esposa e durante o processo ele
morre. Neste caso a mulher herda? Sim, porque no caso concreto ainda não
houve a decisão final com trânsito em julgado.
2) Uma pessoa casada de boa-fé (casamento putativo) que teve o
casamento anulado pode herdar? Depende... para herdar deveria ser cônjuge
ainda no tempo da morte do autor da herança. Se a anulação se deu após a
morte ela herda. Se a anulação se deu antes da morte ela não herdará.
Além da meação (que, repita-se já era dele, mesmo antes da morte do
de cujus), o cônjuge ainda terá direito à herança, que pode se dar:

1. Sucessão Testamentária (ou legitimária) – por ser herdeiro


necessário, tem direito à metade da herança, se não houver descendentes ou
ascendentes; o testador só poderá dispor de metade dos bens da herança.
Assim, além de receber a meação, se o de cujus não tiver descendentes ou
ascendentes, o cônjuge receberá a totalidade dos bens. Além disso, mesmo o
de cujus tendo outros herdeiros, o cônjuge sobrevivente ainda pode receber
mais alguma coisa por testamento.

2. Sucessão Legal ou Legítima


a) Em concorrência com descendentes: neste caso aplica-se o
art. 1.829, inciso I, CC. Convém reforçar a análise deste dispositivo. Vejamos
as situações: 1) Se o regime for da comunhão universal, o consorte não será
herdeiro em concorrência com os descendentes, mas tem assegurada a sua
meação (recebendo metade de tudo, o cônjuge não teria motivos para
concorrer à sucessão dos descendentes). 2) O mesmo ocorre se o casamento
se der sob o regime da comunhão parcial e o falecido não possuía bens
particulares (também neste caso o cônjuge sobrevivente terá direito à meação
de tudo). 3) Se o regime for da comunhão parcial, mas havendo patrimônio
particular, o cônjuge sobrevivente receberá sua meação, mais uma parcela
sobre todo o acervo hereditário. O cônjuge sobrevivente terá direito a um
quinhão igual aos dos que sucederem por cabeça, não podendo sua quota ser
inferior à quarta parte da herança se for ascendente dos herdeiros com que
concorre (art. 1.832, CC). Exemplo: A faleceu deixando esposa e cinco filhos
que não são do cônjuge sobrevivente; neste caso a herança será dividida em
seis partes iguais, cada um dos filhos e a esposa receberão um sexto da
herança. Se estes filhos forem também do cônjuge sobrevivo, a participação
deles ficará reduzida diante do limite da quota mínima estabelecida pela lei: o
cônjuge ficará com um quarto e os demais três quartos serão partilhados entre
os seus cinco filhos. 4) Se o cônjuge for casado sob o regime da participação
final nos aquestos também terá direito à herança (além de eventual meação)
em concorrência com os descendentes. 5) Se o cônjuge for casado sob o
regime da separação total (convencional) de bens não terá direito à meação,
mas fará jus à herança em concorrência com os descendentes. 6) Finalmente,
se o casamento for sob o regime da separação total (legal) de bens, não
haverá direito à herança, nem à meação (embora a Súmula 377 STF permita a
meação).

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b) Em concorrência com os ascendentes: neste tópico a lei não
faz qualquer distinção em relação ao regime de bens adotado pelo casal; o
cônjuge sobrevivente tem direito à concorrência, qualquer que seja o regime
adotado. Situações: 1) Reserva-se um terço da herança se concorrer com
pai e mãe do finado (ascendentes em primeiro grau), ficando estes com dois
terços. 2) Se concorrer com apenas um dos genitores, receberá metade da
herança. 3) Se concorrer com ascendentes de segundo grau (avós) ou graus
superiores, independentemente da quantidade, também lhe tocará metade da
herança (reparem que já analisamos esta situação mais acima).
c) Pura e simples: na falta de descendentes e ascendentes, será
chamado, por inteiro, o cônjuge sobrevivente, desde que ao tempo da morte
não estivesse separado judicialmente nem de fato há mais de dois anos.
Lembrando e reforçando que o cônjuge é herdeiro necessário, não podendo
mais ser afastado de uma sucessão por mero capricho do de cujus.
Anteriormente, não tendo descendentes e ascendentes, o testador poderia
deixar todos os seus bens a um terceiro. Agora tal situação não é mais
possível.
Mas agora surge um problema. Os herdeiros necessários somente
podem ser afastados da sucessão na hipótese de uma deserdação. Pergunta-
se: o cônjuge pode ser deserdado? A posição majoritária da doutrina tem
entendido que não pode! Isto porque os artigos que tratam do assunto (1.962
e 1.963 CC) mencionam apenas a deserdação de descendentes e ascendentes,
nada se referindo as causas de deserdação do cônjuge. E não é possível a
aplicação de analogia em matéria restritiva de direitos. Portanto o cônjuge,
mesmo sendo herdeiro necessário não pode ser deserdado, ao menos até que
a lei seja modificada. Foi um “cochilo” do legislador? Têm-se entendido que
não. Isto porque se a pessoa quisesse “deserdar” o cônjuge, bastaria se
separar judicialmente do mesmo.

3. Sucessão no Direito Real de Habitação – Direito Real de Habitação


é o direito que uma pessoa tem em relação ao imóvel destinado à residência,
se este for o único do gênero a inventariar. Na sucessão esse direito ocorre,
qualquer que seja o regime de bens adotado entre os cônjuges e sem
prejuízo da participação que lhe caiba na herança (art. 1.831, CC).
Exemplo: Pessoa morreu deixando um filho de outro casamento e a
atual esposa. Esta pessoa era casada pelo regime da separação parcial e
possuía apenas a casa onde moravam, sendo que a mesma foi comprada antes
do casamento (bem particular do de cujus). O filho (descendente) terá direito
à metade da casa e a esposa a outra metade (vejam o gráfico inicial). Porém,
além da propriedade de 50% da casa, o cônjuge sobrevivente ainda terá
direito real de habitação; isto é, terá o direito de morar nesta casa. Morrendo o
de cujus, transmite-se a nua propriedade do imóvel aos sucessores legítimos
de classe preferencial (no caso o descendente e o cônjuge), mas ao cônjuge
sobrevivente ainda outorga-se o direito real de habitação.
O direito real de habitação só existe enquanto viver o cônjuge
beneficiário, não sendo transmissível com sua morte. Mas há um problema: e
se este se casar novamente? O direito real de habitação permanece? O Código

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atual é omisso, daí parte da doutrina entender que o mesmo continua. Mas
outra corrente doutrinária pondera que este instituto tem um caráter
assistencial. E se o beneficiado se casou novamente, é inconveniente que o
imóvel permaneça gravado, onerando os herdeiros.

4. Sucessão no Usufruto – se o casamento foi com cônjuge


estrangeiro em regime que exclua a comunhão universal: terá direito à
quarta parte dos bens em usufruto se houver filhos brasileiros do casal ou do
outro consorte; metade dos bens em usufruto se não houver filhos (art. 17 do
Decreto-lei n° 3.200/41).

Observações
01) O regime da separação de bens e a existência de cláusula de
incomunicabilidade no pacto antenupcial não interferem na ordem de vocação
hereditária do cônjuge sobrevivente. Assim, mesmo casando pelo regime da
separação total de bens, o cônjuge tem direito à herança (ele pode não ter
direito à meação, mas terá direito à herança).
02) Não há mais o chamado direito ao usufruto vidual (que era o
concedido à pessoa que se tornava viúva). Antigamente o cônjuge não herdava
de forma concorrente com os descendentes ou ascendentes, por isso tinha
direito ao usufruto de uma parte dos bens do seu ex-marido. Como atualmente
o cônjuge é considerado como herdeiro necessário (concorrendo inclusive com
os filhos e recebendo a propriedade dos bens, além do direito real de
habitação), não faz mais sentido receber também o usufruto sobre estes bens.

D) DIREITOS DA(O) CONVIVENTE OU COMPANHEIRA(O)


O Código Civil anterior não contemplava a situação de companherismo
ou convivência. A Constituição Federal de 1988 reconheceu a união estável
entre o homem e a mulher (art. 226, §3° “Para efeito de proteção do Estado, é
reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade
familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento”). Mas somente
com a Lei n° 8.971/94 reconheceu-se o direito sucessório aos companheiros. E
a Lei n° 9.278/96 acrescentou outros direitos. Atualmente o Código Civil
tentou padronizar o assunto. Mas criou muita polêmica e retrocessos. A
principal crítica que se faz é que a lei distanciou muito o cônjuge do
convivente. Ampliou-se muito o direito dos cônjuges (o que é correto). Mas
quanto aos conviventes, além de não acompanhar os avanços em relação ao
cônjuge, retrocedeu em alguns aspectos. Prova disso é que o convivente
sequer consta da ordem de vocação hereditária do art. 1.829, CC.
O tema está previsto no art. 1.790, CC. Tratando-se de união estável
(ou concubinato puro) o convivente, além de eventual meação, participa
também da sucessão do de cujus, mas apenas quanto aos bens adquiridos
onerosamente na vigência do estado convivencial, nas seguintes
condições:
• Situação 01 – Se concorrer com filhos comuns, fará jus a uma quota
equivalente à que legalmente couber a eles.

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Exemplo: A tinha um patrimônio individual de 100; uniu-se com B, sendo que
durante a convivência os dois tiveram dois filhos e formaram um patrimônio de
mais 600. A morreu. B, portanto, tem direito à meação (300). A herança de B
será de 400 (100 individual e 300 em comum). O patrimônio individual (100)
será partilhado apenas entre seus dois filhos. Já a sua meação (300) será
dividida em 3 partes iguais: 1/3 para a convivente e 1/3 para cada um de seus
dois filhos. Portanto o convivente ainda terá direito a mais 100.
• Situação 02 – Se concorrer com descendentes só do de cujus, terá
direito à metade do que couber a cada um deles.
Exemplo: Aproveitando o exemplo acima, suponha-se que os filhos são
apenas de A com outra pessoa. O patrimônio particular (100) será partilhado
entre seus dois filhos (como na situação anterior). O convivente continuará
tendo a meação (300). Já a sua parte na herança (300 - meação do de cujus)
será dividida de forma que B receberá somente metade do valor dos filhos de
A (assim, dividimos 300 por 2,5 = 120; portanto cada filho receberá 120 e o
companheiro 60; total 300).
• Situação 03 – Se concorrer com outros parentes sucessíveis
(ascendentes ou colaterais) terá direito a 1/3 (um terço) da
totalidade da herança. Observem que nesta hipótese o companheiro
pode ser preterido inclusive pelos colaterais do de cujus (irmãos, sobrinhos,
tios e primos), o que em minha opinião é um absurdo!!
Exemplo: O de cujus deixou pais vivos. O convivente terá direito a sua
meação (300), mais um terço da totalidade da herança (um terço de 400 =
133,33). Lembrem-se que neste caso, para o cálculo da herança total, soma-
se a meação do de cujus com a parte que ele tinha antes de contrair a
convivência (patrimônio particular). A situação é a mesma se o de cujus não
deixou ascendente, porém deixou colaterais (irmãos, tios, sobrinhos, primos,
etc.).
• Situação 04 - Não havendo parentes sucessíveis, terá direito à
totalidade da herança. Ou seja, receberá 300 como meação e os outros
400 como herança.

Observações
01) Há uma crítica muito grande da doutrina a toda esta forma de se
calcular os direitos do convivente. Cita-se, como exemplo a seguinte situação:
Pessoa faleceu deixando filhos havidos antes da convivência e filhos tidos com
o convivente. Como realizar a divisão? Esta é uma conta que “não fecha”. É
impossível ao convivente receber parte igual à dos filhos comuns e metade da
parte que couber aos filhos só do falecido sem que haja um tratamento
desigual entre os filhos. Haverá uma notória desigualdade entre os filhos do de
cujus, transgredindo a previsão constitucional de que não pode haver
desigualdade entre qualquer espécie de filhos. E ainda pode ocorrer o
seguinte: o filho comum A recebe $ e o filho não-comum B também recebe $.
Agora, como pode o convivente receber o mesmo que o filho A ($) e a metade
de B ($/2)?? A sugestão, enquanto não houver alteração neste texto legal, é
de que o convivente receberá metade do que couber a qualquer um dos filhos.

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02) O concubinato impuro (também chamado de concubinato adulterino
ou relação extramatrimonial ou simplesmente de “amante”) não estabelece
qualquer direito hereditário entre os concubinos. No entanto, na prática,
nossos Tribunais reconhecem alguns direitos em determinadas situações
especiais. Exemplo: Uma pessoa é casada há 20 (vinte) anos, vivendo com
normalmente com sua esposa e tendo dois filhos. No entanto tem uma
“amante”. Prova-se que ele convive com ela há 10 (dez) anos, sendo que
inclusive compraram uma casa juntos. A “amante” tem direito à parte que
ajudou a comprar na vigência desta “relação” (ou seja, tem direito ao valor de
metade da casa comprada).
03) Percebe-se também que atualmente há uma grande desigualdade
no tratamento entre o cônjuge e o convivente sobrevivente (união estável),
sendo que este possui menos direitos que os outorgados ao cônjuge. Ou seja:
a legislação anterior equiparava o convivente (ou companheiro) ao cônjuge
casado em comunhão parcial. O atual Código estabeleceu novos e inúmeros
direitos ao cônjuge (mesmo que adotado o regime da separação total de bens)
e não os estendeu ao convivente. Exemplo disso é que atualmente o cônjuge
foi elevado à categoria de herdeiro necessário (e o convivente não possui esta
situação). Por outro lado o atual Código ainda reduziu os direitos do
convivente. Por isso, na prática, muitos juízes ainda conferem os mesmos
direitos que o convivente tinha antes da vigência do atual Código. Ou seja, os
juízes não estão conferindo ao convivente todos os novos direitos
estabelecidos em favor do cônjuge (exemplo: o convivente não foi elevado à
categoria de herdeiro necessário), mas, por outro lado não estão piorando a
sua situação em relação à legislação anterior. No entanto, alertamos que sobre
este tema, o aluno que se prepara visando um concurso público deve observar
o que está expresso na lei (e não a entendimentos doutrinários e
jurisprudenciais, a não ser quando expressamente consignado na questão). É
assim que vem caindo nas provas: o texto legal, principalmente em provas
objetivas. Quando a prova é dissertativa, aconselhamos após citar a lei,
apontar as lacunas e falhas desta. Mas “muita água ainda vai rolar” sobre este
assunto e com certeza o Código ainda vai mudar muito. O jeito, por ora, é
aguardar. Mas insisto: em relação a este assunto, o aluno deve se preocupar
mais com o texto legal.
04) Pergunta-se: O convivente tem direito real de habitação,
relativamente ao imóvel destinado à residência da família, enquanto viver ou
não constituir nova união ou casamento? Tal benefício foi inserido em nosso
ordenamento por força do art. 7°, parágrafo único da Lei n° 9.278/96. O atual
Código não traz previsão alguma sobre este tema. Por tal motivo tem-se
entendido que, por se tratar de uma norma especial que não foi revogada,
continua prevalecendo a aplicabilidade do dispositivo. Tal direito termina com a
morte do convivente ou da constituição de nova entidade familiar.

E) SUCESSÃO DOS COLATERAIS


Na falta de descendentes, ascendentes, cônjuge e de convivente, são
chamados a suceder, na totalidade, os colaterais até o quarto grau (art.
1.839, CC). Lembrem-se do princípio de que os mais próximos excluem os

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mais remotos (art. 1.840, CC). Exemplo: se o de cujus deixou apenas
irmãos e sobrinhos, herdam os irmãos que são colaterais em segundo grau,
enquanto os irmãos são colaterais em quarto grau. Se tiver alguma dúvida
sobre a contagem de graus, revejam a aula anterior.
Como regra, não há o direito de representação.
Mas... como sempre... há uma exceção. Ressalva-se o direito de
representação (ou por estirpe) apenas no caso de filhos de irmão falecido do
de cujus (ou seja, os sobrinhos), em concorrência com irmão vivo deste.
Exemplo: o de cujus deixou dois irmãos e dois sobrinhos, filhos de um
terceiro irmão pré-morto: a herança será dividida em três partes iguais (os
três irmãos), cabendo as duas primeiras aos irmãos sobreviventes e a terceira
aos sobrinhos, que a dividirão entre si a parte que caberia ao irmão pré-morto.
Os dois irmãos vivos recebem por direito próprio e os sobrinhos representam o
irmão morto. Se um dos filhos do irmão pré-morto também for falecido, o neto
do irmão pré-morto nada herdará, pois o art. 1.840, CC menciona o direito de
representação somente aos filhos do irmão pré-morto (sobrinhos), e não a
seus netos (que seriam os sobrinhos-neto do autor da herança). Falaremos
sobre a representação em tópico mais adiante.
Concorrendo à herança do falecido, irmãos bilaterais (também
chamados de irmãos germanos, ou seja, mesmo pai e mesma mãe) com
irmãos unilaterais (mesmo pai → irmãos consanguíneos; ou mesma mãe →
irmãos uterinos), cada um destes herdará metade do que cada um daqueles
herdar. Em outras palavras: os irmãos bilaterais herdam o dobro dos irmãos
unilaterais (art. 1.841, CC).
Ordem dos Colaterais – Na falta de irmãos (colateral em segundo
grau), os sobrinhos (terceiro grau) serão chamados à sucessão. Observem que
os tios também são colaterais em terceiro grau, mas a lei (art. 1.843, CC) dá
preferência aos sobrinhos. Após os tios são chamados, pela ordem: sobrinho-
neto, tio-avô e primo-irmão do autor da herança (embora todos estes
colaterais sejam de quarto grau).

F) SUCESSÃO DO MUNICÍPIO, DISTRITO FEDERAL E UNIÃO


Na verdade a Administração Pública não é herdeira propriamente dita;
não está na ordem de vocação hereditária do art. 1.829, CC. Desta forma, não
lhe é dado o direito de saisine, isto é, não se torna possuidora ou proprietária
dos bens da herança no momento da morte do de cujus, como acontece com
os demais herdeiros.
Quando o falecido não deixar testamento nem herdeiros conhecidos ou
quando estes repudiarem a herança, os bens irão para o Município ou para o
Distrito Federal (se localizados nas respectivas circunscrições) ou para a
União (se situados em Território Federal). Mas eles não vão de imediato. Há
um procedimento legal para tanto (arts. 1.819 a 1.823, CC). Vejamos:
1) Herança Jacente
Herança Jacente é aquela cujos herdeiros ainda não são conhecidos.
Falecendo uma pessoa nesta situação, seus bens são arrecadados. Juntam-se

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todos os bens do de cujus e nomeia-se uma pessoa (curador) para conservá-
los e administrá-los até a sua entrega a um sucessor devidamente habilitado
ou então até que se declare a vacância. É um procedimento cautelar que se
toma para evitar a dilapidação dos bens por parte de um terceiro oportunista.
Todos os atos do curador são supervisionados pelo Juiz.
A característica principal da herança jacente é a transitoriedade da
situação dos bens; a jacência é uma fase que visa a declaração posterior de
vacância da herança. Trata-se de uma universalidade de direito. A doutrina
a trata como sendo um “grupo despersonalizado” (ou com personificação
anômala), sendo um conjunto de direitos e obrigações sem personalidade
jurídica. Assim, são expedidos editais convocando eventuais sucessores. Após
a realização de todas as diligências, não aparecendo herdeiro e decorrido um
ano após o primeiro edital, haverá o pronunciamento judicial de vacância (art.
1.820, CC).
Há outra hipótese de jacência, em que os bens ficam sob a administração
de um curador. Trata do caso de herdeiro já concebido, mas ainda não nascido
(nascituro). Nascendo com vida adquire a personalidade e a capacidade para
ser titular de direitos, recebendo a herança, que perderá a condição de
jacente.
Segundo o art. 1.823, CC quando todos os chamados a suceder
renunciarem à herança, será esta desde logo declarada vacante.

2) Herança Vacante
Herança Vacante é aquela que não foi disputada com êxito por qualquer
herdeiro e que foi judicialmente proclamada como sendo “de ninguém”.
Superada aquela primeira fase, os bens passam, então, para a propriedade do
Estado (em sentido amplo). Mas ainda não é de forma plena. Trata-se da
propriedade resolúvel (lembrem-se do que falamos sobre a propriedade
resolúvel → é a que pode se “resolver”, ou seja, se extinguir). Somente após
05 (cinco) anos da abertura da sucessão (art. 1.822, CC) a propriedade
passa em definitivo para o domínio público (Município, Distrito Federal ou
União). Neste sentido, também o art. 1.844, CC. Se naquele período
comparecer um herdeiro, converte-se a arrecadação em inventário regular.
Interessante notar que os colaterais só podem se habilitar durante a jacência.
Já os descendentes, ascendentes e cônjuge podem se habilitar também
durante o prazo de vacância (art. 1.822, parágrafo único, CC).
Portanto o Poder Público, pelo atual Código, não consta mais do rol de
herdeiros apontados na ordem de vocação hereditária. Mas será considerado
como sucessor, desde que haja uma sentença declarando a vacância dos
bens.

Exceção à Ordem de Vocação Hereditária


O art. 5°, inciso XXXI, CF/88 estabelece uma exceção à ordem de
Vocação Hereditária: “A sucessão de bens de estrangeiros situados no País
será regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos
brasileiros, sempre que não lhe seja mais favorável a lei pessoal do de cujus”.

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Exemplo: Como vimos, no Brasil os ascendentes concorrem com o cônjuge.
Digamos que um estrangeiro se casa com uma brasileira e compra diversos
bens aqui. Esta pessoa possui pais vivos. Se esta pessoa falecer, pela lei
brasileira os pais dela (que são estrangeiros) herdarão em concorrência com a
esposa brasileira. Mas vamos supor que no País de origem, na vocação
hereditária, o cônjuge vem antes do ascendente, não havendo concorrência.
Neste caso aplica-se a lei estrangeira, isto porque é mais benéfica ao cônjuge
brasileiro.

DIREITO DE REPRESENTAÇÃO (ESTIRPE)


Dá-se o direito de representação quando a lei chama certos parentes do
falecido a suceder em todos os direitos, em que ele sucederia, se vivesse (art.
1.851, CC). Só tem aplicação na sucessão legítima. Observem o quadro
abaixo:
“de cujus”
A
100%

B C D E F
(pré-morto) (pré-morto) (pré-morto)
20% 20% 20% 20% 20%

G H I J K
10% 10% 20% 10% 10%

No exemplo acima, A faleceu deixando cinco filhos. Três deles (B, D e F)


já haviam falecido antes de A (o de cujus). B tinha dois filhos (G e H); D tinha
apenas um filho (I) e F também tinha dois filhos (J e K).
Nesta situação (levando em consideração que A já era viúvo e, portanto,
não haverá meação), cada um de seus filhos receberia 20% de todo seu
patrimônio. G e H irão representar seu pai (B) na herança de seu avô (A) e
irão dividir o quinhão que seu pai receberia; portanto cada um irá receber 10%
do total da herança. A mesma situação ocorrerá como J e K que irão
representar seu pai F. No entanto I é filho único e, portanto, irá receber a
totalidade que seu pai (D) receberia (20%). Notem que: a) os filhos herdam
por cabeça ou por direito próprio; b) já os netos herdam por direito de
representação ou estirpe.
Vamos imaginar outra situação, aproveitando o mesmo gráfico. Vamos
supor que todos os filhos de A já haviam falecido anteriormente (são pré-
mortos), concorrendo na herança somente os netos (todos eles são

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descendentes em segundo grau). Neste caso a sucessão não será mais por
representação (ou estirpe), mas sim por cabeça. Assim, como há cinco netos,
cada um herdará um quinto (20%) da totalidade da herança. Quando isso
ocorre chamamos estas quotas de avoengas, por serem transmitidas
diretamente do avô para os netos.

IMPORTANTE
01) O direito de representação se aplica ao herdeiro pré-falecido e
também ao excluído por indignidade ou deserdação.
02) Somente se verifica o direito de representação na linha reta
descendente (operando-se ad infinitum), nunca na linha ascendente (art.
1.852, CC). Já na linha colateral, só ocorrerá em favor dos filhos de
irmãos do falecido (sobrinhos), quando com irmão deste concorrerem (art.
1.853, CC). Não há representação quando houver renúncia, nem na
hipótese de herança testamentária, não se aplicando, também aos legados
(veremos esta expressão adiante).

SUCESSÃO TESTEMENTÁRIA
(arts. 1.857 a 1.990, CC)

Sucessão Testamentária é aquela em que a transmissão hereditária se


opera por ato de última vontade, revestido da solenidade requerida por lei. Em
outras palavras, é a sucessão que se faz por meio de um testamento. Permite
a instituição de herdeiro (sucessor a título universal) ou legatário (sucessor a
título singular). Como já vimos, tem certas limitações, pois deve respeitar a
legítima (ou quota reservatária - que é a parte que cabe aos herdeiros
necessários).
A sucessão testamentária rege-se pela:
• Lei vigente no momento da feitura do testamento, que regula a
capacidade testamentária ativa (capacidade para fazer testamento) e a
forma do ato de última vontade.
• Lei que vigorar ao tempo da abertura da sucessão, que rege a
capacidade testamentária passiva (capacidade para adquirir por
testamento) e a eficácia jurídica do conteúdo das disposições
testamentárias.

Testamento: ato personalíssimo, unilateral, solene e revogável


pelo qual alguém dispõe no todo ou em parte de seu patrimônio para
depois de sua morte, podendo também fazer outras disposições de
caráter não-patrimonial.

No dizer de Zeno Veloso, “o testamento encerra a voz, o desejo, a


vontade de uma pessoa, projetando este querer para um tempo em que o
declarante já é defunto. Paradoxalmente, o último suspiro do testador é o

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sopro vivificador que dá definitividade e eficácia ao testamento”. De fato! Com
a morte do testador, o testamento (que até então podia ser alterado ou
revogado) se torna ato definitivo e irrevogável, passando a produzir efeitos.
Mesmo que a pessoa tenha feito o seu testamento há trinta ou cinquenta anos.
O fato do testamento ter sido elaborado há muitos anos não o invalida.
O testamento serve também para a nomeação de tutores,
reconhecimento de filhos, deserdação de herdeiros, revogação de testamentos
anteriores e outras declarações de última vontade.

O testamento é ato unilateral e individual, não podendo ser feito em


conjunto com outra pessoa (art. 1.863, CC). É nulo o chamado testamento
conjuntivo (também chamado de “mão comum”), em que duas pessoas
dispõem de seus bens por meio de um só instrumento (um testamento). São
suas espécies (todas nulas de pleno direito):
a) testamento simultâneo: quando os testadores dispõem em
benefício de terceiros.
b) testamento recíproco: quando os instituidores se instituem um ao
outro, de modo que o sobrevivente recolhe a herança do outro.
c) testamento correspectivo: quando o benefício outorgado por um
dos testadores ao outro, retribui vantagem correspondente.

Observação: a doutrina entende que esta vedação legal não atinge quando
as disposições testamentárias sejam feitas em atos separados, autônomos e
independentes (dois testamentos), ainda que desses atos se depreenda
identidade ou correspondência entre as disposições testamentárias. Exemplo:
marido faz um testamento e deixa sua parte disponível a sua esposa; esta, por
sua vez, também faz um testamento com a mesma disposição. Neste caso as
disposições são válidas, pois foram feitos dois testamentos.
Proíbem-se, também, os pactos sucessórios, ou seja, estipulações
bilaterais, de feição contratual, em favor dos estipulantes ou de terceiros,
afastando-se a possibilidade de contratos que tenham por objeto herança de
pessoa viva (art. 426, CC – pacta corvina).
O testamento é ato personalíssimo (não pode haver testamento por
mandato, nem que a procuração tenha poderes especiais). O testamento pode
ser revogado (veremos este item mais adiante, de forma pormenorizada). No
entanto não pode ser revogado na parte em que há o reconhecimento de
paternidade (art. 1.609, III, CC).
O testamento, como todo negócio jurídico, requer para a sua validade os
elementos gerais previstos no art. 104, CC: agente capaz, objeto lícito e forma
prescrita ou não defesa em lei. Além disso, ainda exige uma série de
solenidades, visando garantir a certeza da vontade do testador. Portanto,
mesmo que realizado de forma espontânea, se não for respeitada a forma
imposta pela lei, esta declaração de vontade não terá eficácia para transferir a
propriedade do patrimônio do testador, sendo o ato considerado nulo
(conforme a regra geral do art. 166, incisos IV e V, CC). Lembrem-se que

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neste caso a nulidade pode ser reconhecida de ofício pelo Juiz (art. 168,
parágrafo único, CC).
Outra característica do testamento é que ele deve ser gratuito, ou seja,
não visa em troca qualquer contraprestação ou vantagem. No entanto, pode
haver a imposição de algum encargo (ex: dou-lhe um carro, mas você deve
pagar o IPVA atrasado). Também é necessária a análise da capacidade
testamentária ativa e passiva, como veremos abaixo.

CAPACIDADE TESTAMENTÁRIA

1) Capacidade Testamentária Ativa (arts. 1.860 e 1.861, CC)


A capacidade testamentária ativa é a capacidade para fazer o
testamento. O Código Civil estabelece como incapazes de testar (art.
1.860, CC): os menores de dezesseis anos, os desprovidos de discernimento
(ex: os que não estiverem em perfeito juízo, surdos-mudos, que não puderem
manifestar a sua vontade, etc.) e a Pessoa Jurídica (por analogia). Nosso
Código, de uma forma geral arrola as pessoas que não podem testar. Assim,
todos os que não estão incluídos na norma legal são capazes de testar.
A contrário senso, concluímos que podem testar: o cego, o analfabeto, o
pródigo, o falido, etc.
Importante: os maiores de 16 anos, mas menores de 18 anos, apesar
de relativamente incapazes, podem testar, mesmo sem a assistência de seus
representantes legais. Isto porque como o testamento é um ato
personalíssimo, não pode ficar o testador sujeito à assistência, autorização ou
anuência de quem quer que seja.
A capacidade para testar (ativa) deve existir no momento em que
o testamento é feito, pois a incapacidade superveniente não invalida o
testamento eficaz. Exemplo: pessoa faz seu testamento e posteriormente se
torna incapaz – o testamento valeu. Já o contrário não é verdadeiro, ou seja, o
testamento do incapaz não pode ser convalidado com a superveniência de sua
capacidade. Exemplo: rapaz com 15 anos fez seu testamento e morreu aos 70
anos – o testamento continua nulo, pois a nulidade (absoluta) não se
convalesce com o tempo. Uma pessoa de 90 anos pode fazer um testamento?
Como sabemos, a idade avançada não é prova de alienação mental. Por isso,
estando lúcida, tendo discernimento e compreendendo o ato que está
realizando não há um limite máximo de idade para testar, não podendo ser
impedida de realizar o ato.

2) Capacidade Testamentária Passiva


A capacidade testamentária passiva é a capacidade para adquirir por
testamento, que deve ser verificada no momento da abertura da
sucessão. Rege-se pela regra genérica de que são capazes todas as pessoas,
físicas ou jurídicas, nacionais ou estrangeiras, maiores ou menores, existentes
ou já concebidas ao tempo da morte do testador (art. 1.798, CC). A
capacidade é a regra; a incapacidade a exceção.

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Pelo art. 1.799, CC, também podem ser chamados a suceder:
1) Os filhos, mesmo que ainda não concebidos, de pessoas indicadas
pelo testador, desde que vivas estas ao abrir a sucessão. Trata-se da prole
eventual dessa pessoa. Exemplo: José pode deixar uma herança para os
filhos de João, que é casado com Maria. Ocorre que o casal ainda não tem
filhos. No momento da morte de José duas situações podem ocorrer: a) João e
Maria já têm um filho. Nesta hipótese o filho já terá a propriedade dos bens; b)
João e Maria ainda não têm filho. Nesta hipótese o prazo para que este
herdeiro seja concebido é de 02 (dois) anos após a abertura da sucessão
(morte do de cujus), momento em que os bens reservados passarão aos
herdeiros legítimos, salvo disposição em contrário do próprio testador (art.
1.800, §4°, CC). Observem uma sutileza: o prazo é de dois anos para a
concepção, mesmo que o nascimento se dê após o prazo estabelecido. Antes
do nascimento os bens serão administrados por um curador, que, não havendo
outra previsão será a pessoa cujo filho o testador esperava ter por herdeiro
(no nosso exemplo acima seria João) e, sucessivamente, as pessoas indicadas
no art. 1.775, CC. Se o filho esperado nascer com vida, será deferida a
sucessão, tendo direito aos frutos e rendimentos do quinhão testamentário a
partir da morte do testador (retroage).
Ponto controvertido: Segundo parte da doutrina (ex: Maria Helena
Diniz), deve ser excluída a filiação pela adoção. Isto porque uma pessoa, para
não perder a herança, poderia adotar uma pessoa, não levando em
consideração aspectos sentimentais, mas sim econômicos. Digamos que uma
pessoa deixou uma grande herança para o eventual filho de um casal.
Posteriormente descobre-se que um dos cônjuges é estéril; assim o casal
adota uma criança apenas com o intuito de “ficar com a herança”. Se não fosse
a herança, eles nunca teriam adotado a criança... No entanto outra corrente
doutrinária (ex: Sílvio de Salvo Venosa) entende que mesmo com a adoção
seria possível a transmissão da herança, uma vez que se assim não fosse
estaríamos fazendo uma distinção entre filhos adotivos e consanguíneos, sendo
que a Constituição Federal proíbe qualquer espécie de distinção (art. 227,
§6°), uma vez que igualou a posição dos filhos e vedou a discriminação.
2) As Pessoas Jurídicas cuja organização for determinada pelo testador
sob forma de Fundação. Neste caso os bens ficam provisoriamente nas mãos
da pessoa encarregada de constituí-la, passando ao domínio desta, com seus
acessórios, no momento do registro.

Não podem ser contemplados por testamento as coisas inanimadas,


os animais e as entidades místicas. Quem já não ouviu alguma estória de que
uma senhora deixou todos os seus bens para seu gatinho? Pois isso é proibido
em nosso direito. O que ela pode fazer é deixar seus bens para uma terceira
pessoa, desde que esta trate bem de seu animal de estimação.
Se o beneficiário do testamento já morreu (pré-morto), a cláusula é
considerada sem efeito.
São absolutamente incapazes para adquirir por testamento:

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• Os indivíduos não concebidos (o nascituro possui capacidade, pois já
foi concebido) até a morte do testador, salvo se a disposição deste se
referir à prole eventual de pessoas por ele designadas e existentes ao
abrir-se a sucessão (hipótese que analisamos acima).
• As pessoas jurídicas de direito público externo relativamente a imóveis
situados no Brasil
São relativamente incapazes para adquirir por testamento, proibindo que
se nomeiem herdeiros ou legatários:
• A pessoa que, a rogo, escreveu o testamento, seu cônjuge, seus
ascendentes, descendentes, e irmãos.
• As testemunhas do testamento – para evitar que estas exerçam
influência sobre o testador.
• O concubinário (“amante”) do testador casado, salvo se este, sem
culpa sua, estiver separado de fato do cônjuge há mais de 05 anos.
• O tabelião, civil ou militar, o comandante, ou escrivão, perante o qual
se fizer, assim como o que fizer, ou aprovar o testamento.

Interposta Pessoa
Às vezes, não podendo o testador beneficiar alguém, por incapacidade ou
ilegitimidade, utiliza terceiros para conseguir o feito. Trata-se do “testa de
ferro” ou interposta pessoa. Exemplo: um testador casado tem uma amante
há muitos anos e deseja lhe deixar alguns bens. Isto é proibido. Desta forma
ele doa os bens a uma terceira pessoa, sendo que esta, futuramente,
entregará os bens àquela pessoa inicialmente impedida. O art. 1.802, CC
impõe a nulidade das disposições testamentárias em favor de pessoas não
legitimadas a suceder, ainda quando simuladas ou feitas mediante interposta
pessoa. Ora, se a lei proíbe que se faça diretamente, também não vai permitir
que se alcance a finalidade por meio de subterfúgios maliciosos. Lembrem-se
que a Simulação (art. 167, CC) o torna nulo o negócio jurídico de pleno
direito. O art. 1.802, parágrafo único aponta as pessoas que se presumem
interpostas: ascendentes, ascendentes, irmãos, cônjuge ou companheiro do
não legitimado a suceder. Trata-se de uma presunção absoluta (juris et de
jure); dispensa-se a prova da interposição. Notem que interposição pode
ocorrer de pessoa que não esteja no rol acima (ex: um amigo comum do
herdeiro impedido e do testador). Neste caso, a nulidade depende de prova
cabal do fato.

Restrições
Como já visto anteriormente, não se pode dispor de mais da metade dos
bens havendo herdeiros necessários (descendentes, ascendentes e cônjuge
sobrevivente), salvo se os mesmo forem deserdados. As disposições que
excederem à metade disponível será reduzida ao limite dela. Reduzem-se
também as doações feitas em vida, que atingiram a legítima dos herdeiros
necessários (são chamadas doações inoficiosas).

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Um testamento pode ser revogado por outro (de qualquer espécie), total
ou parcialmente. Portanto não há uma hierarquia entre as modalidades de
testamentos (que veremos mais adiante).

DESERDAÇÃO (arts. 1.961 e seguintes, CC)


Deserdação é o ato unilateral pelo qual o de cujus exclui da sucessão,
mediante testamento (ato formal) com expressa declaração de causa,
herdeiro necessário, privando-o de sua legítima, por ter praticado alguma
conduta prevista na lei como causa.

Requisitos de Eficácia para a Deserdação:


A deserdação exige a concorrência dos seguintes requisitos:
• Existência de herdeiros necessários.
• Testamento válido (só pode haver deserdação por testamento,
sendo proibido por escritura pública, instrumento particular, cartas,
termo judicial ou codicilo – veremos este termo mais adiante). Se o
testamento for nulo ou se ele se romper não prevalecerá a
deserdação.
• Expressa declaração da causa prevista em lei (motivação).
• Propositura de ação ordinária (até quatro anos da abertura do
testamento) e sentença judicial.
Causas de Deserdação
São causas de deserdação todas as causas que autorizam a indignidade
(art. 1.814, CC), como já visto acima. Além disso, devem ser acrescentadas ao
rol as seguintes hipóteses:
a) Deserdação dos descendentes (em qualquer grau) por seus
ascendentes (art. 1.962, CC): ofensa física, injúria grave; relações ilícitas
com a madrasta ou padrasto; desamparo do ascendente, em alienação
mental ou grave enfermidade.
b) Deserdação dos ascendentes (em qualquer grau) pelos descendentes
(art. 1.963, CC): ofensa física; injúria grave; relações ilícitas com a mulher
ou companheira do filho ou a do neto com o marido ou companheiro da filha
ou o da neta; desamparo do filho ou do neto com deficiência mental ou
grave enfermidade.

Observações
01) As ofensas físicas precisam ser dolosas (com intenção), mas não é
necessária prévia condenação criminal para tanto.
02) Como vimos mais acima, o cônjuge, apesar de ser herdeiro
necessário, não pode ser deserdado, pois o Código é omisso quanto a ele. E,
tratando-se de uma sanção, deve ser interpretada de forma restritiva, não se
estendendo a hipóteses não previstas expressamente.

Efeitos da Deserdação

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Os efeitos da deserdação são pessoais. Isto é, atingem o herdeiro
excluído, como se ele morto fosse (da mesma forma que a indignidade).
Mas os seus descendentes herdam por representação, ante o caráter
personalíssimo da pena civil.
Não basta que o testador deserde o herdeiro. Cumpre aos outros
herdeiros promover, no prazo de 04 anos (contados da abertura do
testamento), ação de deserdação para confirmar a vontade do morto (ou
seja, a deserdação não é automática). É evidente que o deserdado terá direito
de defesa. Não se provando o motivo da deserdação (o ônus da prova é de
quem ingressa com a ação – princípio constitucional da presunção de
inocência), o testamento produzirá efeitos em tudo o que não prejudicar a
legítima do herdeiro necessário.
Mera reconciliação do testador com o deserdado não gera ineficácia
da deserdação. A revogação deve ser realizada por meio de um testamento
(trata-se, na verdade, da reabilitação ou perdão, também possível na
indignidade – art. 1.818, CC).

Não confundir Indignidade com Deserdação


1) A exclusão por indignidade decorre da lei e funda-se exclusivamente
(hipóteses taxativas) nos casos do art. 1.814, CC. A deserdação repousa na
vontade exclusiva do autor da herança (ato voluntário), desde que fundada
em motivo legal; abrange todas as causas de indignidade (art. 1.814, CC) e
ainda mais outras específicas (arts. 1962 e 1.963, CC).
2) A exclusão por indignidade se refere à sucessão legítima, somente se dá
por sentença e afasta da sucessão tanto os herdeiros legítimos, quanto os
testamentários, necessários ou não, inclusive o legatário. A deserdação se
refere à sucessão testamentária (é necessário um testamento), servindo
para privar da herança apenas os herdeiros necessários (descendentes,
ascendentes e cônjuge), inclusive quanto à parte legítima.
3) As causas de deserdação são anteriores ao testamento; as causas de
indignidade podem ser anteriores ou posteriores ao óbito.

Cuidado com outra diferença: Renúncia e Deserdação.

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HERDEIRO RENUNCIANTE

R$ 100 mil

DE CUJUS

Irmão
PEDRO
Renunciante
R$ 50 mil
R$ 50 mil

Filho do
Renunciante

HERDEIRO INDIGNO OU DESERDADO

R$ 100 mil

DE CUJUS

Irmão
PEDRO
Indigno
R$ 50 mil
R$ 50 mil

Filho do
Indigno

Observem que quando há renúncia (primeiro quadro), o renunciante é


“como se nunca tivesse existido” (para a lei é como se nunca tivesse sido
herdeiro), seus herdeiros (no caso, o filho do renunciante) não têm direito de
representação, sendo que a quota do renunciante irá acrescer a dos outros
herdeiros da mesma classe (no caso, o seu irmão). Já na hipótese da
deserdação ou indignidade (segundo quadro), o indigno é considerado “como
se morto fosse” (ou seja, é considerado pré-morto em relação ao de cujus),
por isso os seus filhos herdam por representação (ou estirpe).

Vejamos agora as modalidades de testamento e as suas


peculiaridades.

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ESPÉCIES DE TESTAMENTO
Costuma-se dizer que nosso ordenamento jurídico prevê duas espécies
de testamento: Comum e Especial. Adverte o art. 1.887, CC que não se
admitem outras espécies de testamentos especiais além dos contemplados no
Código. Primeiro forneceremos apenas um quadro geral e depois vamos
analisar cada espécie de testamento em separado.

1) TESTAMENTO ORDINÁRIO (OU COMUM)


a) Público
b) Cerrado
c) Particular
2) TESTAMENTO ESPECIAL
a) Marítimo
b) Aeronáutico
c) Militar

1) TESTAMENTO PÚBLICO (arts. 1.864 a 1.867, CC)


Testamento Público é o lavrado por tabelião em livro de notas, de
acordo com a declaração de vontade do testador, exarada verbalmente em
língua nacional, perante o oficial. Obedece-se ao Princípio da Oralidade, até
porque a sucessão testamentária (que é mais antiga que a legítima) teve
origem no Direito Romano e era realizado oralmente.
Lembrando alguns termos que usaremos muito:
• Tabelião ou notário, titular do serviço notarial, é o agente que exerce
em caráter privado e por delegação do Poder Público a função de
redigir, fiscalizar e instrumentar atos e negócios jurídicos, conferindo-
lhes autenticidade e fé pública. O art. 236, CF/88 menciona os serviços
notariais e de registro, sendo que este artigo foi regulamentado pela Lei
n° 8.935/94 (conhecida como Lei dos Notários e Registradores).
• Lavrar significa ordenar ou exarar por escrito, escrever.

O testamento público é a forma mais segura de se testar. Segundo


parte da doutrina tem o inconveniente de permitir que qualquer pessoa
conheça o seu teor (por ser público), mesmo antes de sua morte. Bastaria
pedir uma certidão do ato. No entanto, na prática não é bem assim. Nossas
leis nada tratam sobre o tema; não há uma previsão explícita. Entendo
(acompanhando a outra parte da doutrina) que o testamento é chamado de
“público”, porque é confeccionado perante um tabelião, em um livro de notas.
Mas isso não quer dizer que o testamento deva ficar ao alcance do todos.
Pessoalmente entendo que enquanto o testador viver não pode um terceiro ter
acesso ao mesmo (exceto se assim o desejar o próprio testador). E isso por
pelo menos por três motivos: primeiro porque no testamento podem
aparecer disposições não-patrimoniais, como reconhecimento de um filho,
confissão de um fato obscuro, esclarecimento de uma situação
constrangedora, etc., segundo porque a divisão patrimonial com testamento

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geralmente não agrada os herdeiros legítimos e a sua não-divulgação pode
evitar divergências familiares, e terceiro porque um testamento pode ser
revogado pelo testador a qualquer tempo, portanto pode criar expectativas e
divergências inúteis. É pouco provável que alguém vá a um Tabelionato e
consiga a cópia de um testamento de uma pessoa viva, somente com o
argumento de que ele é “público”. Geralmente o tabelião é orientado
(corretamente, digo eu) a fornecê-la somente ao próprio testador quando vivo,
ou depois de sua morte, desde que fornecida a certidão de óbito do testador.
Podem testar de forma pública: os analfabetos, os surdos (desde que
não sejam mudos). Só não podem assim testar os mudos e os surdos-mudos,
pois este testamento deve ser exarado verbalmente (princípio da oralidade).
Requisitos:
• Exarado verbalmente, de acordo com a vontade do testador. Admite-se
a entrega de minuta (um rascunho) previamente elaborada, mas mesmo
assim exige-se que a declaração seja verbal. Por isso os mudos e os
surdos-mudos não podem testar assim.
• Escrito por oficial público (atualmente é chamado de tabelião), em seu
livro de notas (embora a lei não exija expressamente, entende-se que
deve ser em língua nacional, por se tratar de um ato notarial). O autor
do testamento é o testador; o tabelião apenas formaliza o que quer e diz
o outorgante.
• Presenciado por 02 (duas) testemunhas idôneas, que assistiram a
todo o ato.
• Novamente lido (em voz alta e de forma inteligível).
• Ser assinado por todos (testador, testemunhas e tabelião).
• Menção de observância de todas as formalidades.
Com a abertura da sucessão, o traslado é apresentado em juízo. Depois
de lido e não tendo vícios o Juiz ordena o registro e cumprimento.

Observações
01) Se o testador não souber (analfabeto) ou não puder assinar
(quebrou a mão, sofre de “Parkinson”, etc.), o tabelião declara o fato e uma
das testemunhas assina pelo testador a seu rogo (art. 1.865, CC). Não
sabendo ler o tabelião designa alguém para ler na presença de duas
testemunhas.
02) Se o testador for surdo poderá testar, desde que não seja mudo
(art. 1.866, CC).
03) O cego só pode testar por testamento público. Seu testamento é lido
duas vezes: uma pelo tabelião e outra por uma das testemunhas por ele
designadas (art. 1.867, CC).

2) TESTAMENTO CERRADO (arts. 1.868 a 1.875, CC)

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Testamento Cerrado é o escrito em caráter sigiloso, feito e assinado
pelo testador ou por alguém a seu rogo, completado por instrumento de
aprovação lavrado por oficial público na presença de 02 (duas) testemunhas
idôneas. Também é chamado de testamento secreto ou místico.
O analfabeto e o cego não podem testar desta forma. O surdo-mudo só
poderá fazer esse testamento se souber ler e escrever. Ao entregá-lo ao oficial
deve escrever na face externa “que é seu testamento cuja aprovação lhe
pede”.
Contém quatro elementos:
a) Cédula (ou Carta) Testamentária – escrita pelo testador (ou
alguém a seu rogo, desde que não seja beneficiário), em caráter sigiloso.
As disposições testamentárias estão nesta cédula.
b) Auto de entrega – o testador (não se admite portadores) entrega a
cédula ao tabelião na presença das testemunhas, que não precisam
saber do teor do testamento.
c) Auto de aprovação – lavrado pelo tabelião para assegurar a
autenticidade do ato; todos (tabelião, testador, testemunhas) assinam o
instrumento.
d) Cerramento – o tabelião lacra o envelope com cera derretida,
costura a cédula com cinco pontos de retrós e lança pingos de lacre
sobre cada um. Após isso o tabelião entrega ao testador, lançando em
seu livro nota do lugar, ano, mês e dia em que o testamento foi
aprovado e entregue. Este é o único registro oficial da existência do
testamento cerrado, não trazendo, contudo, o seu teor.
Requisitos:
• Escrito (em língua nacional ou estrangeira, por não ser um ato notarial –
art. 1.871, CC) e assinado pelo testador; pode ser escrito
mecanicamente, desde que todas as páginas sejam numeradas e
autenticadas com sua assinatura (art. 1.868, parágrafo único, CC).
• Entregue ao oficial na presença de 02 (duas) testemunhas; estas
apenas presenciam a entrega do testamento ao tabelião (por isso são
chamadas de instrumentais).
• Oficial pergunta se este é o testamento e exara o auto de aprovação,
tendo-o por bom, firme e valioso.
• Leitura do auto de aprovação (e não do testamento).
• É cerrado (fechado e lacrado) e costurado (devem-se fazer os pontos ou
“nós de retrós”). É praxe notarial (e não uma exigência legal) o tabelião
colocar pingos de cera sobre os nós da linha que utilizaram para coser o
testamento.
• Depois de aprovado e cerrado, o tabelião entrega o testamento ao
testador; este deve guardá-lo ou de preferência entregá-lo a pessoa de
confiança.

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Morto o testador, deve o testamento cerrado ser apresentado ao Juiz para
as formalidades da abertura. O Juiz verifica se o documento se encontra
intacto (lacre inviolável, bem como qualquer outro vício), para depois abri-lo e
determinar que o escrivão proceda a leitura na presença de quem o entregou.
Ouve-se o representante do Ministério Público e depois o Juiz manda registrar,
inscrever (arquivar) e cumprir (arts. 1.125 e 1.126, CPC). Se o testamento
apresentar sinais de ter sido violado, o Juiz pode determinar uma perícia.

Observações
01) Estão proibidas de usar este testamento as pessoas que não saibam
ler (analfabetos e cegos).
02) As testemunhas, ao contrário do testamento público, não sabem quais
são as disposições testamentárias.
03) Vantagem → por ser cerrado ninguém conhece a vontade do testador
antes de sua morte.
04) Desvantagens → possui muitas formalidades, pode ser ocultado;
qualquer vício o invalida (ex: se o lacre estiver rompido) e a sucessão
será feita pela forma legítima (e não mais testamentária).

3) TESTAMENTO PARTICULAR (arts. 1.876 a 1.880, CC)


O Testamento Particular, também chamado de aberto, hológrafo (do
grego: holos – inteiro; graphiens – escrito) ou privado, é o escrito pelo
testador, no local onde estiver e lido em voz alta perante três testemunhas
idôneas, que também assinam. É a forma menos segura de se testar, porque,
não tendo registro em cartório, depende de confirmação do seu teor em juízo
pelas testemunhas. Além disso, é mais suscetível de extravio, substituição,
alteração ou destruição. Se este testamento se extraviar, mesmo que as
testemunhas afirmem que ele existia e atestem o seu conteúdo, ele não
poderá ser cumprido.
Por outro lado possui a vantagem de não necessitar da presença do
tabelião e ser gratuito. É permitido aos que sabem ler e escrever. Não pode ser
utilizado pelo cego, analfabeto e os incapacitados de escrever. Obs. Alguns
autores preferem usar a expressão “ológrafo” (sem o “H”), devido à grafia em
francês, olographe, uma vez que, com as características que possui
atualmente, teve origem no direito francês, introduzido pelo Código
Napoleônico de 1804, sendo que ainda é a forma mais usada na França.
Requisitos:
• Escrito de próprio punho pelo próprio testador (sob pena de
nulidade) ou mediante processo mecânico (art. 1.876, CC) – neste
caso não pode conter rasuras ou espaços em branco. Assinado pelo
testador. Dispensa-se a presença do tabelião. Pode ser feito em língua
estrangeira, desde que as testemunhas o compreendam.
• 03 (três) testemunhas.

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• Leitura do testamento pelo próprio testador. Após, assinado pelas
testemunhas. O testador o guarda onde quiser.
• Publicação, em juízo, após a morte do testador (confirmação judicial).
• Homologação do testamento pelo Juiz.
• Sobrevivência de pelo menos uma das testemunhas. Se as
testemunhas forem afirmativas (contestes) sobre o fato ou pelo menos
da leitura perante elas e reconheçam suas assinaturas o testamento
será confirmado. Se nenhuma das testemunhas comparecerem (já
faleceram ou estão em lugar ignorado), o testamento não poderá ser
cumprido. Porém, em casos excepcionais o testamento sem
testemunhas poderá ser confirmado pelo Juiz, desde que se convença
da sua veracidade (alguns doutrinadores chamam isso de testamento
particular excepcional).
Morto o testador, será publicado em juízo, com citação dos herdeiros
legítimos. Os apresentadores do testamento devem requerer a notificação das
pessoas a quem caberia a sucessão legítima, para assistirem a inquirição das
testemunhas que assinaram o testamento. Pelo menos uma das testemunhas
deve reconhecer sua autenticidade e afirmar que o testador estava em perfeito
juízo no momento em que testou. Após isso e ouvido o Ministério Público o Juiz
confirmará o testamento.
Sempre que uma pessoa deseja fazer um testamento particular, oriento
que o faça na presença de mais testemunhas do que o previsto pela lei. O art.
1.876, §1°, CC menciona “pelo menos três testemunhas”, portanto não proíbe
um número maior. Cautela e caldo de galinha... não fazem mal a ninguém...

Curiosidade – Como Juiz, há muito tempo, tive um caso muito interessante


(ainda vigorava o Código anterior). Uma mulher ingressou com uma ação de
inventário, pois seu companheiro havia falecido. Devido a idade do de cujus, o
casal não havia comprado nada na constância do casamento. Por isso, o
senhor, antes de falecer, elaborou um testamento particular, deixando alguns
bens para a sua convivente. Os filhos do de cujus (de seu casamento anterior)
desejavam os bens todos para eles (herdeiros necessários), excluindo-se,
portanto, a companheira da sucessão e impugnaram o testamento, alegando
um vício de formalidade (o testamento não teria sido lido em voz alta pelo
testador). Entendi que o testamento, apesar do defeito era válido e
determinei o seu cumprimento. Os herdeiros recorreram, sendo que o Tribunal
de Justiça, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) e até mesmo o Supremo
Tribunal Federal (STF) mantiveram a decisão. O que foi importante neste caso
é que a vontade do testador foi clara no sentido de dispor de uma pequena
parte de seu patrimônio a quem lhe deu carinho e estabilidade emocional
durante anos e, principalmente nos seus últimos momentos de vida (momento
em que precisou mais de atenção e cuidados), atenuando-se assim, o rigor de
uma forma legal que, no caso prático, seria injusto à companheira fiel de
tantos anos.

4) TESTAMENTOS ESPECIAIS (arts. 1.886/1.896, CC)

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São os que possuem caráter provisório, feitos em situações de
emergência. O atual Código prevê como formas especiais de testamento o
marítimo, o aeronáutico e o militar. Trata-se de um rol taxativo; não se
admite outras formas além dessas.
A) Testamento Marítimo e Aeronáutico
O testamento marítimo consiste na declaração feita a bordo de navio
nacional, de guerra ou mercante, em viagem de alto mar por pessoa que
receia morrer na viagem sem testamento (art. 1.888, CC). Deve ser lavrado
pelo comandante ou escrivão de bordo perante duas testemunhas idôneas.
Não valerá este testamento se ao tempo da feitura o navio estava em um
porto onde o testador pudesse desembarcar e testar de forma ordinária.
O testamento aeronáutico consiste na declaração de vontade feita a
bordo de aeronave de guerra ou comercial (art. 1.889, CC).
Ambos podem ser realizados pela forma que corresponda ao testamento
público (lavrado pelo comandante ou por pessoa por ele designada, perante
duas testemunhas) ou cerrado (o testador escreve o testamento e o apresenta
ao comandante ou pessoa por ele designada, na presença de duas
testemunhas, dizendo que aquele é seu testamento; o comandante certifica o
fato, data e assina com o testador e as testemunhas).

Atenção: Se o testador não morrer na viagem ou nos 90 dias subsequentes


após o desembarque, o testamento perde a validade. Trata-se da caducidade.

B) Testamento Militar
Testamento militar é a declaração de última vontade feita por militares
e demais pessoas a serviço do exército em campanha, dentro ou fora do país.
Deve ser escrito por autoridade militar, na presença de duas testemunhas.
Admite a modalidade pública e cerrada. Admite, também, a forma
nuncupativa, isto é, feita por pessoa ferida; neste caso, pode ser feito até de
viva voz (ou seja, verbal) na presença de duas testemunhas.
Em qualquer hipótese, se o testador não morrer na guerra ou nos 90 dias
subsequentes em lugar onde possa testar na forma ordinária, o testamento
caducará.
Registro, Arquivamento e Cumprimento
Após a morte do testador, o testamento deve ser apresentado ao Juiz
(confirmação judicial) que o mandará registrar, arquivar e cumprir, se não
houver vício externo que o torne suspeito de nulidade ou falsidade. Depois de
efetuado o registro, o mérito das disposições testamentárias será examinado
no inventário ou em ação ordinária própria.
Hierarquia
Pelo art. 1.858, CC o testador, a qualquer tempo, pode alterar ou
revogar o testamento. E o art. 1.969, CC prevê que o testamento pode ser
revogado pelo mesmo modo e forma como pode ser feito. Assim, só por
testamento se pode revogar expressamente um testamento anterior. No

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entanto não há hierarquia entre as formas testamentárias. Todas elas têm o
mesmo valor e importância.

CODICILO (arts. 1.881/1.885, CC)


É interessante citar a origem do termo codicilo. Deriva do latim codicilus
– que é o diminutivo de codex ou caudex. Estes termos significavam tronco de
árvore ou tábuas, pois em Roma antiga as leis eram escritas em tábuas (a
mais famosa é a chamada “Lei das XII Tábuas”). Depois significaram códigos
ou registros escritos. Logo, codicilo significa um pequeno código ou um
pequeno registro.
Codicilo é um ato simplificado de última vontade pelo qual o disponente
traça diretrizes sobre assuntos de caráter não-patrimonial ou patrimonial, mas
de pequeno valor, tais como despesas e disposições sobre enterro, dádivas
de pequeno valor, móveis, roupas, etc. Pode também nomear ou substituir o
testamenteiro, perdoar herdeiro indigno, etc. No entanto não é meio idôneo
para instituir herdeiros ou legatários, efetuar deserdações, fazer disposições de
imóveis, ou reconhecer filho havido fora do casamento.
O codicilo pode ser revogado por outro codicilo ou testamento posterior
que traga disposições que modifiquem as previstas. Porém o codicilo não
pode revogar o testamento; apenas o completa em pequenos pontos. Não
se exigem maiores formalidades; basta que o instrumento seja escrito, datado
e assinado pelo testador. Também é chamado de “pequeno testamento”.

Cláusulas Testamentárias
São as atribuições de bens feitas através de testamento. Podem ser pura
e simples ou submetidas a uma condição (evento futuro e incerto), um termo
(evento futuro e certo) ou um encargo (impõe um ônus ao beneficiário. Nestas
hipóteses, aplicam-se as regras gerais sobre este, dispostas nos arts. 121 a
137, CC). Uma cláusula nula não compromete todo o testamento. Não são
admitidas cláusulas em um testamento que impeçam o testador de revogá-las
posteriormente (a exceção é quanto ao reconhecimento de filhos). O prazo
decadencial para a declaração de nulidade ou anulabilidade de uma cláusula
testamentária é de 04 (quatro) anos.

Cláusula de Inalienabilidade (art. 1.848 e 1.911, CC)


A Cláusula de Inalienabilidade consiste em um meio de vincular, de
forma absoluta ou relativa, vitalícia (enquanto viver o beneficiário) ou
temporariamente, os bens deixados pelo testador aos herdeiros, que deles não
poderão dispor. Exemplo: O testador deixa alguns bens imóveis a seu filho,
mas sabendo que o mesmo tem algum desvio de personalidade, sendo
perdulário ao excesso, vincula estes bens com a cláusula. Desta forma seu
filho não poderá vender e muito menos doar estes imóveis. Ele somente
poderá usá-los ou retirar deles os seus frutos (alugar). Essa cláusula envolve a
impenhorabilidade (o bem não pode ser penhorado por dívidas) e a
incomunicabilidade (se a pessoa se casar o bem não se comunica ao cônjuge,
mesmo que se case pelo regime da comunhão universal de bens), salvo

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disposição em contrário (art. 1.911, CC). No entanto a cláusula não atinge os
frutos e rendimentos (ex: aluguéis).
O art. 1.848, CC determina que salvo se houver justa causa, declarada
no testamento, não pode o testador estabelecer cláusula de inalienabilidade,
impenhorabilidade e de incomunicabilidade, sobre os bens da legítima.
A cláusula extingue-se com o óbito do beneficiário (dura uma geração), a
não ser que este vincule, também, o seu herdeiro. Mesmo que o bem seja
gravado com esta cláusula ele poderá ser alienado mediante autorização
judicial (no caso de desapropriação ou por conveniência econômica), sendo
que o produto da venda será convertido em outros bens, sobre os quais
incidirão as mesmas restrições impostas aos primeiros.
Certa vez acompanhei um caso muito interessante em que se abriu uma
exceção à clausula de inalienabilidade. Uma pessoa era proprietário de vários
imóveis, todos eles gravados com a cláusula de inalienabilidade, instituída por
seu pai em testamento público. Posteriormente ele teve um filho (neto do
instituidor) com uma doença muito rara, sendo que necessitava de uma
operação e tratamento nos Estados Unidos. Legalmente ele não poderia vender
o imóvel por causa da cláusula, mas obviamente houve a autorização judicial
para a venda de um dos imóveis para o tratamento. Trata-se de uma hipótese
de estado de necessidade. Posteriormente o pai prestou contas de todo o
dinheiro gasto com o filho e o caso foi arquivado.
Convém salientar que embora o bem seja impenhorável, já há decisões
judiciais no sentido de que a cláusula não impede a penhora do bem por
débitos oriundos de tributos que incidem sobre o próprio imóvel (aplica-se, por
analogia, as regras referentes ao bem de família).

Testemunhas Testamentárias
As testemunhas testamentárias são chamadas de instrumentárias, pois
subscrevem o ato para o qual foram convocadas, tendo um dever de
fiscalização das solenidades do ato testamentário. Elas asseguram a
veracidade do ato que se quer provar, subscrevendo (assinando) o
documento (no caso o testamento). O atual Código Civil não trouxe regras
específicas sobre as testemunhas testamentárias. Por isso aplicam-se as
disposições gerais do art. 228, CC. Qualquer pessoa pode ser testemunha,
excluindo-se aquelas que a lei determinar de modo expresso. Na apreciação de
eventual incapacidade da testemunha, leva-se em conta o momento da
realização do ato; se a causa de incapacidade for superveniente (ex: a
testemunha ficou enferma mentalmente após o ato), este não perderá sua
validade.
São absolutamente incapazes de testemunhar: menores de 16 anos,
enfermos mentais, surdo, cego e analfabeto (até porque as testemunhas
devem ler e assinar o testamento). Efeito → nulidade de pleno direito do
testamento em si.
São relativamente incapazes de testemunhar: herdeiros (art. 1.801,
II, CC) e legatários instituídos, bem como os seus ascendentes, descendentes

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irmãos e cônjuge. Efeito → a doutrina entende que não há uma nulidade
textual nestes casos, pois o legislador não assume expressamente estas
nulidades. No dizer de Sílvio Venosa: “não há que se entender
irremediavelmente nulo um testamento simplesmente porque, por exemplo,
um parente do legatário participou do testamento como testemunha, sem
qualquer outra atividade no ato ou na vontade do testador” e conclui
afirmando que “tudo deve ser feito no sentido de que se evite a captação de
vontade do testador ou suspeita de que ocorra”. Assim, o ato é válido, porém
são nulas as disposições feitas em favor do incapaz.
O cego e o surdo podem ser testemunhas testamentárias? Embora não
haja uma previsão expressa a respeito, costuma-se dizer que não podem
(nulidade absoluta), pois devido à grande complexidade do ato e de suas
solenidades, requer-se, concomitantemente, o uso da visão e da audição para
se certificar de que todas as solenidades legais foram realmente cumpridas no
ato (art. 228, III, CC).
Não há proibição para ser testemunha (segundo a jurisprudência):
funcionários do cartório onde se lavrou o testamento, testamenteiro, tutores,
estrangeiros, amigos íntimos do testador, pessoas obrigadas a guardar
segredo profissional (médicos e advogados), representantes ou diretores de
pessoas jurídicas eventualmente contempladas, etc.

INEXECUÇÃO DO TESTAMENTO
Sendo o testamento um negócio jurídico, para que possa produzir efeitos
jurídicos, deverá satisfazer as condições genéricas (capacidade do testador,
objeto lícito e possível, forma solene e consentimento válido), sob pena de
nulidade e anulabilidade. Além disso, ainda existem outras causas que também
impedem o testamento de produzir seus efeitos jurídicos:
• Revogação
• Rompimento
• Caducidade
• Nulidade Absoluta ou Relativa

1. Revogação
Revogação é o ato pelo qual o testador, conscientemente, torna
ineficaz o testamento anterior, manifestando vontade contrária à que nele se
encontra expressa. Segundo o art. 1.969, CC, o testamento pode ser revogado
pelo mesmo modo e forma como pode ser feito. Assim, um testamento só
pode ser revogado por outro, mesmo que de modalidade diversa, não havendo
uma hierarquia entre eles (um testamento público pode revogar um cerrado;
um testamento particular pode revogar um cerrado, etc.). O importante é que
o novo testamento seja válido. No entanto é irrevogável o testamento na
parte em que o testador reconhece filho havido fora do casamento (art.
1.609, III e 1.610, ambos do CC).
O testamento revogado não se restaura pelo fato deste ter sido revogado
posteriormente (não há repristinação no testamento, exceto se houver
previsão expressa neste sentido).

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Um codicilo (disposição de última vontade para bens de pequeno valor)
não pode revogar um testamento, mas este pode revogar o codicilo.
A revogação, quanto a sua extensão, pode ser classificada em (art. 1.970,
CC):
a) Total → o testamento superveniente retira a eficácia de todas as
disposições testamentárias anteriores.
b) Parcial → o novo testamento retira a eficácia de algumas das
disposições anteriores, subsistindo as demais. No termos do parágrafo
único do art. 1.970, CC, se a revogação for parcial, ou se o testamento
posterior não contiver cláusula revogatória expressa, o anterior subsiste
em tudo que não for contrário ao posterior.
Já quanto à forma utilizada, a revogação pode ser classificada em:
a) Expressa (ou direta) → há uma declaração inequívoca, explícita do
testador; o novo testamento revoga o anterior (podendo ser de forma
total ou parcial).
b) Tácita (ou indireta) → quando o testador não declara que revoga o
anterior, mas há incompatibilidade entre as disposições deste e as do
novo testamento ou em caso de dilaceração ou abertura do testamento
cerrado, pelo testador, ou por outrem, com o seu consentimento, ou
quando o testado alienar voluntariamente a coisa legada.
2. Rompimento
Rompimento é a inutilização do testamento por perda de validade em
razão da ocorrência de certos fatos previstos em lei. Exemplo: quando houver
a superveniência de descendente sucessível ao testador, que não o tinha ou
não o conhecia quando testou ou quando o testamento foi feito na ignorância
de existirem outros herdeiros necessários. Outro exemplo é da hipótese de
reconhecimento de filho, voluntária ou judicialmente. O testador não teria
disposto de seus bens em testamento se soubesse da existência de algum
herdeiro necessário. Vejam o que diz o art. 1.973, CC. O rompimento também
é chamado de revogação presumida (o testamento é chamado de rupto).
Revogação X Rompimento
Estes institutos não devem ser confundidos. Enquanto a revogação
pressupõe a mudança da vontade do testador (pois não deseja mais que
prevaleçam as disposições testamentárias anteriores), o rompimento
independe da vontade do testador; é a lei que determina.
3. Caducidade
Não há uma unanimidade quanto a este termo. Alguns autores, de forma
geral, conceituam caducar como sendo “decair, perder a força, a eficácia,
enfraquecer”. Porém outros, de forma mais específica, definem a caducidade
quando as disposições testamentárias não prevalecem, embora válidas, pela
ocorrência de algum obstáculo superveniente. Exemplos: herdeiro morreu
antes do testador; herdeiro renuncia ou foi excluído; perecimento da coisa
legada, etc. Também é causa de caducidade o testamento marítimo e o militar,

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três meses após o momento em que o testador podia testar de forma ordinária
e não o fez.
4. Nulidade e Anulabilidade
Em alguns casos, os atos praticados pelas partes podem não produzir os
efeitos desejados, posto que realizados em desacordo com o ordenamento
jurídico. No entanto o grau de invalidade dos negócios em geral depende da
natureza da norma ofendida. A invalidade é o gênero do qual a nulidade e a
anulabilidade são as espécies. De uma forma geral o art. 166, CC trata da
nulidade e o art. 171, CC da anulabilidade dos negócios jurídicos. O
testamento, por ser um negócio jurídico, também pode ser invalidado se
contiver um defeito grave ou leve. Vejamos:
a) Hipóteses de Nulidade: incapacidade do testador; impossibilidade ou
ilicitude do objeto; inobservância das formas legais e nulidade das
disposições. Requerimento de qualquer interessado, do Ministério Público
ou de ofício pelo Juiz.
b) Hipóteses de Anulabilidade: erro substancial na designação da
pessoa do herdeiro, legatário ou da coisa legada; dolo; coação ou fraude.
Requerimento apenas do interessado, respeitando o prazo decadencial de
quatro anos.
O defeito pode atingir o testamento em sua totalidade (neste caso abre-
se a sucessão legítima) ou em parte (prevalece a parte válida do testamento,
abrindo-se sucessão legítima, apenas em relação ao que foi anulado).

Importante
1) Sabemos que um ato nulo é insuscetível de ratificação e não se
aperfeiçoa com o tempo (art. 169, CC). No entanto o art. 1.859, CC estabelece
que em 05 (cinco) anos extingue-se o direito de impugnar a validade do
testamento, contado do prazo da data de seu registro. Trata-se de um prazo
decadencial, que é uma exceção à teoria geral, pois mesmo sendo nulo o ato
pode se convalidar pelo decurso de tempo.
2) Se o vício for referente a erro, dolo e coação o prazo decadencial para
anular as disposições testamentárias é de 04 (quatro) anos, contados de
quando o interessado teve conhecimento do vício.

Captação de Vontade
Segundo Clóvis Bevilácqua é o emprego de artifícios para conquistar a
benevolência de alguém, no intuito de obter liberalidades de sua parte, em
favor do captante ou de terceiros. Segundo a doutrina não se trata de um vício
de consentimento (erro, dolo ou coação). Se alguém fazer-se estimar pelo
testador, despertando nele um sentimento de simpatia, de modo que venha a
ser contemplado em seu testamento, esse ato é considerado válido, pois não
foram usados recursos considerados ilícitos. Mesmo a conduta sendo
considerada moralmente incorreta, no campo do direito não é ilícita. É
necessário que esta afeição exagerada ou simulada venha acompanhada de
outras medidas fraudulentas para que o ato seja passível de anulação.

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TESTAMENTEIRO (arts. 1.976 a 1.990, CC)
Testamentaria é o conjunto de funções que são atribuídas pela lei e pelo
testador. Já Testamenteiro (ou executor testamentário) é a pessoa
encarregada de dar cumprimento às disposições de última vontade do autor da
herança (de cujus). Geralmente o próprio testador nomeia o testamenteiro (no
próprio testamento ou em codicilo). Qualquer pessoa física ou natural (não
pode ser pessoa jurídica), desde que capaz e idônea pode ser nomeada
testamenteira. No caso de omissão, o Juiz pode nomear uma pessoa da sua
confiança (dativo). O testador poderá nomear um ou vários testamentários que
podem ser sucessivos, conjuntos ou solidários.
O testamenteiro pode recusar a testamentaria sem alegar qualquer
motivo, pois no caso o interesse que prevalece é o particular (lembrem-se que
a tutela não pode ser recusada sem motivo, posto que há um interesse
público). Se o testamenteiro não for herdeiro ou legatário, recebe uma
remuneração chamada de vintena. Esta varia de 1% a 5% (sobre a herança
testamentária líquida) de acordo com importância da herança e dificuldade na
execução do testamento, arbitrado pelo Juiz.
O testamenteiro deve ser citado para o inventário e ouvido em todos os
atos e termos do processo.

LEGADO (arts. 1.912 a 1.940, CC)


Legado é a disposição testamentária a título singular, pela qual o
testador deixa a pessoa estranha ou não à sucessão legítima, um ou mais
objetos individualizados ou uma certa quantia em dinheiro. O legado é
típico da sucessão testamentária; só existe se houver um testamento. Recai
sobre uma coisa certa e determinada. Exemplos: embora tenha filhos, deixo
a meu sobrinho o meu anel de grau, pois o mesmo se formou em direito; deixo
a um amigo estudioso a minha biblioteca; deixo a minha cunhada o meu piano,
etc.
O legado, quanto ao objeto, pode incidir em: coisas corpóreas ou
incorpóreas, crédito ou de quitação de dívidas, alimentos, usufruto, imóvel,
dinheiro, renda ou pensão periódica.
Diferentemente da sucessão de uma forma geral, não se defere de
imediato a posse da coisa legada, nem pode o legatário entrar na posse por
autoridade própria (art. 1.923, §1°, CC). Não há o direito de saisine. Cabe ao
legatário solicitar e aos herdeiros o cumprimento da disposição testamentária.
Em regra, enquanto o Juiz não julgar a partilha, o legatário não se investe na
posse. Mas é possível que o próprio herdeiro lhe entregue a coisa antes da
partilha. Ressalte-se que com a abertura da sucessão (morte do de cujus) a
coisa certa existente no acervo pertence ao legatário, cabendo a ele os frutos
que a coisa produzir depois da morte do testador, salvo se o legado depender
de condição suspensiva ou termo inicial. Cabe ao legatário arcar com as
despesas e riscos da entrega da coisa legada, inclusive com os impostos de
transmissão causa mortis.

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O legatário não é obrigado a aceitar o legado, podendo renunciar tácita
ou expressamente. Os legados também podem caducar (art. 1.939, CC).
Exemplos: anulação do testamento; alienação, modificação ou perecimento da
coisa; falecimento do legatário antes do testador; revogação; indignidade do
legatário, etc.

DIREITO DE ACRESCER (arts. 1.941 a 1.946, CC)


Quando vários herdeiros ou legatários, pela mesma disposição
testamentária, forem conjuntamente chamados à herança em quinhões
determinados, e qualquer deles não puder (ex: pré-morte, indignidade,
renúncia, etc.) ou não quiser aceitá-la, a sua parte acrescerá à dos outros
coerdeiros ou colegatários (salvo direito do substituto, que será visto a seguir).
Exemplo: A deixa, por testamento, seus bens a B, C e D. Se um deles falecer
antes de A, sua parte retornará ao monte, acrescendo ao quinhão dos outros
dois. Mesmo que D tenha filhos estes não receberão os bens por
representação.

Atenção: não haverá direito de acrescer se a cédula testamentária for


declarada nula ou anulada, caso em que subsistirá a sucessão legítima (art.
1.788, CC). Também não haverá o direito de acrescer se o testador, já
prevendo algum problema, nomear um substituto (veremos isso logo adiante).
Requisitos
• Nomeação de coerdeiro ou colegatário, na mesma disposição
testamentária.
• Deixa dos mesmos bens ou da mesma porção de bens.
• Ausência de quotas hereditárias.

SUBSTITUIÇÕES (arts. 1.947 a 1.960, CC)


Substituição hereditária (do latim sub instituto – instituição em segundo
plano) é a disposição testamentária na qual o testador chama uma pessoa
para receber, no todo ou em parte, a herança ou o legado, na falta ou após o
herdeiro ou o legatário nomeado em primeiro lugar. O testador, prevendo a
hipótese de um herdeiro ou legatário não aceitar ou não poder aceitar a
herança, nomeia-lhe substitutos.
Pode ocorrer nas hipóteses de premoriência (o herdeiro morreu
primeiro), exclusão por indignidade, renúncia, não implemento de condição
imposta pelo testador, etc.
Espécies:
1) Vulgar ou Ordinária
a) Simples (ou singular)
b) Coletiva (ou plural)
c) Recíproca
2) Fideicomissária
3) Compendiosa

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1. Substituição Vulgar ou Ordinária (1.947 a 1.951 CC)
Ocorre a substituição vulgar quando o testador designa uma ou mais
pessoas para ocupar o lugar do herdeiro ou legatário que não quiser ou não
puder aceitar o benefício. Esta espécie de substituição somente ocorre se a
indicação inicial não se confirmar. A substituição fica condicionada a um evento
futuro e incerto. Estabelece-se, então, a vocação direta (é uma substituição
direta), pois o substituto herda diretamente do de cujus, e não do substituído.
A substituição vulgar pode ser subdividida em (art. 1.948, CC):
• Simples: quando é designado um só substituto ao herdeiro ou
legatário. Exemplo: deixo meus bens para “A”. Se ele não quiser (ou
não puder aceitar) os bens irão para “B”.
• Coletiva (ou plural): quando há mais de um substituto. Exemplo: deixo
meus bens para “A”. Se ele não quiser (ou não puder aceitar) estes
bens irão para “B”, “C” e “D”.
• Recíproca: quando o testador, ao instituir uma pluralidade de
herdeiros ou legatários, os declara substitutos uns dos outros, para o
caso de qualquer deles não querer ou não puder aceitar a liberalidade.
Admite-se também a nomeação de uma pessoa inicialmente estranha.
Exemplo: deixo meus bens para “A”, “B” ou “C”. Se qualquer deles não
quiser (ou não puder aceitar) a quota dele irá para os demais herdeiros
(ou também para uma outra pessoa, “D”).

Observação
No caso da substituição recíproca é necessário outro esclarecimento.
Duas situações podem ocorrer:
a) Se não for incluída mais nenhuma outra pessoa, entende-se que a
proporção atribuída na primeira disposição dos quinhões deve ser mantida
caso haja substituição. Exemplo: Foram nomeados herdeiros: “A” com 2/10 da
herança; “B” com 3/10 e “C” com 5/10, sendo substitutos entre si. Se “A” não
aceitar a herança, seu quinhão (2/10) será dividido em oito partes: três delas
irão para “B” e outros cinco para “C” (mantém-se a mesma proporção
anterior).
b) Se for incluída outra pessoa com as anteriormente nomeadas, o quinhão
vago pertencerá em partes iguais aos substitutos. Aproveitando o exemplo
anterior, digamos que foi inserido como substituto também “D”. Neste caso o
quinhão de “A” (2/10) será dividido em três partes iguais a ser distribuído a
“B”, “C” e “D”.

2. Substituição Fideicomissária (art. 1.951 a 1.960, CC)


O Fideicomisso teve sua origem no Direito Romano, baseado na
“fidúcia”, que é a confiança. Anteriormente não tinha força coercitiva;
contava-se com a confiança da pessoa que recebeu a herança para transmiti-la
a terceiro. Atualmente é uma forma de substituição indireta. Consiste a
substituição fideicomissária na instituição de herdeiro ou legatário com a
obrigação de, por sua morte, a certo tempo ou sob condição preestabelecida,

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transmitir a herança ou o legado a outra pessoa. O atual Código só permite
que esta “outra pessoa” seja quem ainda não foi sequer concebido quando da
morte do testador. Estabelece-se, assim, uma vocação dupla: direta (para o
herdeiro ou legatário instituído, que desfrutará do benefício por certo tempo
estipulado pelo de cujus) e indireta (ou oblíqua para o substituto). Portanto, há
dois beneficiários.
Melhor esclarecendo. No fideicomisso participam três pessoas. Observem o
nome das pessoas envolvidas neste instituto:
Fideicomitente: é o testador; é quem grava o bem; é a pessoa que
institui o fideicomisso.
Fiduciário (ou gravado): é a pessoa que é chamada a suceder em primeiro
lugar; é o titular da propriedade resolúvel (que é a que pode ser extinta) e
pode praticar todos os atos inerentes ao domínio. Com o acontecimento da
condição (nascimento do filho) deverá passar os bens para o fideicomissário
Fideicomissário: é o segundo destinatário e beneficiário final da herança
ou legado. Segundo o atual Código, o fideicomissário deve ser pessoa não
concebida ao tempo da abertura da sucessão. Caso o fideicomissário já
tenha nascido, não haverá fideicomisso, mas usufruto. O fideicomissário já
será o proprietário dos bens fideicomitidos e o fiduciário passará à condição de
usufrutuário, pelo tempo de duração que fora previsto originalmente. Se o
fideicomissário não nascer a propriedade plena se consolida nas mãos do
fiduciário.

Exemplo: “A” deixou sua fazenda para “B” (que é seu caseiro há muitos
anos), mas com a morte de “B” estes bens passarão a ser dos eventuais filhos
de “C” (que é irmão de “A”). Notem que neste caso “C” não é herdeiro
necessário do de cujus (pois é seu irmão – colateral). E seus filhos são seus
sobrinhos. Outro exemplo: “A” deixou sua fazenda para seu irmão “B”. No
entanto, com o eventual nascimento do filho de “B”, a propriedade será para
ele transmitida.
O fideicomisso só pode ser instituído sobre a metade disponível dos
bens do testador, não podendo comprometer a legítima. Possui três
modalidades:
• Vitalício: a substituição ocorre com a morte do fiduciário.
• A termo: a substituição ocorre no momento fixado pelo testador; este
marca um momento para a extinção do fideicomisso.
• Condicional: quando depende do cumprimento de uma condição
resolutiva.

3. Substituição Compendiosa
A substituição compendiosa constitui um misto de substituição vulgar e
substituição fideicomissária. Ou seja, havendo o fideicomisso o testador
fornece um substituto ao fiduciário ou ao fideicomissário, prevendo que caso
um ou outro não queira ou não possa aceitar a herança ou o legado, serão os

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bens entregues a outra pessoa. O testador inicialmente institui um
fideicomisso. E depois designa substitutos para as partes envolvidas.

Substituição Vulgar X Fideicomissária


Na substituição vulgar apenas uma pessoa se beneficia com a deixa
testamentária. Ou o herdeiro/legatário recebe a herança ou a mesma é
recebida pelo substituto. Já na substituição fideicomissária são dois os
beneficiários: primeiro o fiduciário e depois o fideicomissário.

Fideicomisso X Usufruto
Usufruto: é um direito real sobre coisa alheia, sendo que o domínio se
divide em duas partes, cada uma com seu titular (nu proprietário - direito de
dispor e reaver - e usufrutuário - direito de usar e fruir), que exercem seus
direitos simultaneamente. Fideicomisso: é espécie de substituição
testamentária em que as partes (fiduciário e fideicomissário) exercem a
propriedade plena, mas de forma sucessiva, permitindo que se beneficie prole
eventual.

INVENTÁRIO
(arts. 1.991/2.012, CC)
Inventário é vocábulo derivado de inventar (do latim invenire), que
genericamente significa encontrar, descobrir, achar. Com o falecimento do de
cujus ocorre a abertura da sucessão e estabelece-se entre os herdeiros um
estado de comunhão que cessará com a partilha, expedindo-se o respectivo
formal. Embora os herdeiros adquiram o domínio desde a abertura da sucessão
(princípio da saisine), somente após o registro do formal de partilha que seus
nomes passarão a figurar no Registro de Imóveis. No inventário não se inclui a
meação do cônjuge sobrevivente, visto que esta não constitui herança.
O inventário é um processo judicial (como regra), de caráter
contencioso, que visa relacionar, descrever, avaliar todos os bens
pertencentes ao de cujus ao tempo de sua morte, para distribuí-los entre seus
sucessores. Deve ser instaurado no último domicílio do autor da herança (art.
1.785, CC), no prazo de 60 (sessenta) dias, a contar do falecimento do de
cujus (que é momento em que se dá a abertura da sucessão), conforme o art.
1.796, CC. Se não for observado o prazo, o imposto será calculado com
acréscimo de 10% de multa. Se o atraso for além de 180 dias a multa será de
20%. O processo deve ser concluído dentro dos 12 (doze) meses
subsequentes. Mas o Juiz poderá dilatar o prazo, de ofício ou a requerimento
da parte. Observem, também, o art. 983, CPC. No processo de inventário não
se admitem discussão sobre “alta indagação”. Esta expressão é usada no
campo dos fatos (e não do direito), sendo aquelas que requerem prova e
contraprova. Se isso ocorrer o Juiz encaminha a questão para ser apurada no
juízo competente.
No inventário, apura-se o patrimônio do de cujus, cobram-se e pagam-se
as dívidas, avaliam-se os bens e pagam-se os legados e impostos. Após,
procede-se à partilha.

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A Lei n° 11.441/07, que alterou dispositivos no Código de Processo
Civil (arts. 982 e 983), estabelece que quando houver um testamento ou
algum interessado menor ou incapaz deve-se proceder ao inventário judicial.
No entanto, não havendo testamento, se todos os herdeiros forem maiores e
capazes e houver consenso entre eles, pode-se fazer o inventário e a partilha
por escritura pública, sem que haja homologação judicial. Trata-se da forma
administrativa ou extrajudicial. O tabelionato é de livre escolha dos
interessados (não se aplicam as regras de competência do Código de Processo
Civil). A escritura será o documento hábil para o registro imobiliário posterior.
Todos os interessados devem comparecer no Tabelionato, acompanhados de
advogado para o ato (um para todos ou cada um com o seu). Lembrando que
este procedimento é facultativo, ou seja, mesmo que todos os requisitos para
a sua realização estejam presentes, as partes ainda podem se socorrer à via
judicial.
Se ocorrer sucessão hereditária entre companheiros, inicialmente será
necessário o ajuizamento de ação judicial para o reconhecimento da união
estável. De posse desta declaração judicial a meação do convivente pode ser
reconhecida na escritura pública, desde que todos os herdeiros e interessados
na herança sejam absolutamente capazes e não haja divergências.
Pode requerer a abertura de inventário judicial quem estiver na posse e
administração da herança (art. 987, CPC). No entanto a legitimidade é
concorrente, pois se permite que outras pessoas requeiram a sua abertura:
cônjuge sobrevivente, qualquer herdeiro ou legatário, testamenteiro,
cessionário do herdeiro ou legatário, Ministério Público, havendo herdeiros
incapazes e a Fazenda Pública, quando houver interesse. O Juiz pode
determinar a abertura do inventário de ofício, se nenhuma das pessoas
mencionadas requerê-la dentro do prazo legal. Esta hipótese é uma exceção ao
princípio da inércia jurisdicional.

Inventariança
Requerido o inventário, o Juiz nomeará o inventariante, a quem caberá
a administração e representação (ativa e passiva) do espólio, em juízo ou fora
dele; ele deve impulsionar o inventário, desde a assinatura do compromisso
até a homologação da partilha. Só poderá haver um inventariante; é um
encargo pessoal, sujeito, entretanto, à fiscalização dos herdeiros, do Juiz e do
Ministério Público. Há uma ordem preferencial (art. 990, CPC):
• Cônjuge sobrevivente – desde que estivesse convivendo com o outro
ao tempo da morte deste e que o casamento tenha sido celebrado no
regime da comunhão universal ou parcial de bens. O companheiro
sobrevivente somente pode ser nomeado se houver prova a união estável.
• Na falta do cônjuge, será nomeado o herdeiro que se achar na posse e
administração dos bens da herança.
• Se ninguém preencher os requisitos acima, atribui-se a inventariança a
qualquer herdeiro, a critério do Juiz.

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• Na última hipótese o Juiz nomeia pessoa estranha, porém idônea, que
desempenhará todas as funções, exceto a de representar a herança
(inventariante dativo).
Processamento
Requer-se a abertura da sucessão, instruindo-se com a certidão de óbito
do de cujus e com procuração. O Juiz nomeia inventariante, que presta
compromisso, e em 20 dias apresenta as primeiras declarações. Se houver
testamento o Juiz determina que seja juntado ao processo. Costuma-se dizer
que as primeiras declarações são consideradas como “a peça-base” do
inventário. Deve conter: nome, estado, idade e domicílio do autor da herança,
bem como o dia e o lugar em que faleceu; informação se o de cujus deixou
testamento; nome, estado idade e domicílio dos herdeiros, bem como a
qualidade de cada um e o grau de parentesco com o de cujus; se houver a
qualificação completa do cônjuge, bem como o regime de bens e finalmente a
relação completa e individualizada de todos os bens deixados, com o valor
correspondente.
Após, o Juiz determina a citação dos interessados: cônjuge, herdeiros,
legatários, Fazenda Pública (em virtude dos impostos a serem pagos),
Ministério Público (se houver herdeiro incapaz ou ausente) e testamenteiro (se
houver testamento). Os bens serão avaliados pelo preço de mercado para
servir de base para cálculo do imposto de transmissão causa mortis e também
para a justa divisão a ser feita na partilha. As impugnações devem ser
apresentadas em 10 (dez) dias após a citação. Resolvidas eventuais questões
incidentais (impugnações, valor correto dos bens, etc.) lavra-se o termo de
últimas declarações, momento em que o inventariante poderá emendar,
aditar ou complementar as primeiras. Procede-se o cálculo do imposto,
homologa-se por sentença e são expedidas as guias para pagamento. As
partes são consultadas em prazo comum de cinco dias e os autos são
encaminhados à Fazenda Pública para verificação do pagamento de todos os
tributos. A seguir encerra-se o inventário. Falando assim... parece fácil e
rápido... porém na prática isso pode levar muito tempo...
Passa-se em seguida à fase da partilha. O Juiz faculta às partes a
formulação de pedido de quinhão e, após profere despacho de deliberação da
partilha.

ARROLAMENTO
O arrolamento é um processo de inventário simplificado, caracterizado
pela redução de atos formais ou de solenidades. É possível a sua realização
quando os herdeiros forem maiores e capazes e for conveniente fazer uma
partilha amigável, que é homologada pelo Juiz, mediante prova de quitação
de tributos. Se os herdeiros divergirem ou se algum deles for menor ou
incapaz a partilha será judicial.
Havendo um único herdeiro não se procede à partilha propriamente dita
(não há o que partilhar), mas simplesmente à adjudicação (transferência) dos
bens a este.

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Inventário Negativo
Embora não tenha sido previsto em nossa legislação, incorporou-se ao
nosso costume, sendo o mesmo usado para atestar que o falecido não deixou
bens. Na verdade, não se inventaria nada; segundo Sílvio Rodrigues, o que se
procura é obter uma sentença que diga, exatamente, que não há o que se
inventariar. É usado em duas situações: 01) O autor da herança deixou
credores e os herdeiros, por meio desse “inventário” procuram provar a
inexistência de bens para o pagamento das dívidas, pois as obrigações
assumidas pelo de cujus só responsabilizam os herdeiros até o limite da
herança recebida; como não receberam nada, nada devem pagar aos credores.
02) Quando o cônjuge sobrevivente pretende se casar novamente e deseja
provar que o de cujus não deixou bens a partilhar. Evita-se, assim, a
incidência de causa suspensiva matrimonial (art. 1.523, I, CC). Atualmente,
sendo atendido os requisitos legais, pode ser feito de forma extrajudicial
(Cartório de Notas).

SONEGADOS (arts. 1.992/1.996, CC)


É a ocultação dolosa de bens que deveriam ser inventariados ou levados
à colação, mas que foram desviados. Pode ser praticada pelo inventariante
(quando omite intencionalmente bens e valores ao prestar as primeira e as
últimas declarações) ou pelos herdeiros (que não indicam bens que estavam
em seu poder). A pena de sonegados tem caráter civil e consiste, para o
herdeiro, na perda do direito sobre o bem sonegado, que é devolvido ao
monte e partilhado aos outros herdeiros, como se o sonegador nunca tivesse
existido (ainda que a ação seja movida por um só herdeiro, aproveita a todos
os demais interessados). Se o bem não existir mais, será responsável por seu
valor, mais perdas e danos. Quando o sonegador for o inventariante a pena
limita-se à remoção da inventariança.
A ação de sonegados prescreve em 10 anos e deve ser ajuizada no foro
do inventário e pode ser proposta pelos herdeiros legítimos, testamentários e
credores. Lembrando que dependendo da hipótese, o autor da conduta ainda
pode responder pelo crime de apropriação indébita (art. 168, CP).

COLAÇÃO (arts. 2.002/2.012, CC)


Os herdeiros que foram agraciados com doações em vida deverão, no
prazo de 10 dias, apresentar esses bens, a fim de que se verifique se não
houve prejuízo à legítima dos herdeiros necessários.
Dá-se o nome de colação ao ato de retorno ao monte a ser partilhado
das liberalidades feitas pelo de cujus, antes de sua morte, a seus
descendentes. Seu fim é igualar a legítima destes herdeiros e do cônjuge
sobrevivente, havendo uma conferência dos bens. É dever imposto ao
herdeiro, pois, segundo a lei, a doação dos pais aos filhos importa em
adiantamento de legítima.
O doador pode dispensar o donatário da colação, desde que a doação
não haja ultrapassado a parte disponível (art. 2.005, CC). A dispensa deverá
constar do contrato de doação ou do próprio testamento. Também não serão

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trazidos à colação os gastos ordinários do ascendente em educação, estudos,
sustento, vestuário, tratamento de doenças, enxovais, etc. e as doações
remuneratórias de serviços feitos ao ascendente.

Pagamento de Dívidas (arts. 1.997/2.001, CC)


Como vimos, a própria herança responde pelas dívidas do falecido, e,
mesmo depois de a partilha ter sido realizada, os herdeiros só respondem
pelas dívidas do falecido até o limite das forças da herança e na mesma
proporção da parte que coube a cada um (art. 1.997, CC). Assim:

Antes da partilha, poderão os credores do espólio requerer ao juízo do


inventário o pagamento de dívidas. Só serão partilhados os bens e valores que
restarem depois de pagas as dívidas. A cobrança das dívidas faz-se, em regra,
pela habilitação do credor ao inventário. Não sendo impugnada a dívida
vencida e exigível, o Juiz declarará habilitado o credor e mandará que se faça a
separação do dinheiro ou bens, para o seu pagamento.

Depois de efetivada a partilha os credores devem cobrar seus créditos


não mais do espólio, mas dos próprios herdeiros, proporcionalmente.
lembrando, mais uma vez, que o herdeiro não pode responder por encargos
superiores às forças da herança.

Observação: determina o art. 1.998, CC que as despesas funerárias sairão


do monte da herança, haja ou não herdeiros legítimos. As despesas de
sufrágios por alma do falecido só obrigarão a herança quando ordenadas em
testamento ou codicilo.

PARTILHA
(arts. 2.013/2.027, CC)
A herança, até à partilha, é uma universalidade, legalmente indivisível.
A partilha é a divisão oficial do apurado durante o inventário entre os
sucessores do de cujus. Tem natureza meramente declaratória, sendo que a
sentença que a homologa retroage ao momento da abertura da sucessão
(efeito ex tunc).
Na verdade o Inventário e a Partilha constituem um único
procedimento, cindido em duas fases. Terminado o inventário, os bens são
partilhados entre os herdeiros, separando-se a meação do cônjuge
sobrevivente (se houver). Havendo um único herdeiro é feita a adjudicação dos
bens (não há o que partilhar).
A partilha pode ser amigável (acordo entre os interessados, desde que
maiores e capazes) ou judicial (realizada no processo de inventário quando
não houver acordo ou sempre que um dos herdeiros seja menor ou incapaz). A
partilha amigável é simplesmente homologada pelo Juiz. Mas a partilha judicial
deve ser julgada por sentença. Esta, transitando em julgado, faz com que o
herdeiro receba os bens que integram o seu quinhão, por meio do formal de
partilha, que pode ser substituído pela certidão de pagamento do quinhão

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hereditário, quando for de pequeno valor (não exceder cinco vezes o salário
mínimo).
Lembrando que se não houver testamento e os interessados forem todos
capazes e estiverem de acordo, o inventário e a partilha podem ser feitos por
meio de escritura pública.
Depois de realizada a partilha, se algum dos herdeiros vier a sofrer
desfalque em seu quinhão, por força de evicção (que é a perda da propriedade
em virtude de sentença judicial), todos os demais interessados devem
indenizá-lo do prejuízo, para restabelecer a igualdade.

Partilha de bens indivisíveis


Pode ocorrer que o bem a ser partilhado seja indivisível (ex: de cujus
deixou uma casa e três filhos). Neste caso inicialmente o bem pode ser
adjudicado a todos; isto é, forma-se um condomínio entre os herdeiros. No
entanto o testador não pode impor a seus herdeiros a obrigação de
permanecerem eternamente em condomínio. A determinação de indivisão não
pode ultrapassar o prazo de 05 (cinco) anos, conforme o art. 1.320, §2°, CC.
Neste caso, se não houver um acordo entre eles deve-se proceder a venda
judicial do bem para que o valor apurado seja dividido entre os interessados.
Há ainda a possibilidade de um dos herdeiros desejar adjudicar o bem,
ressarcindo os demais em dinheiro, após a avaliação do bem. Se mais de um
herdeiro desejar a adjudicação, o Juiz determinará uma licitação.

Formal de Partilha
Passado em julgado a sentença, receberão os herdeiros os bens que lhe
tocarem e um formal de partilha que será composto das seguintes peças:
• Termo de inventariante e título de herdeiros
• Avaliação dos bens que constituem o quinhão do herdeiro
• Pagamento do quinhão hereditário
• Quitação de impostos
• Sentença
Sobrepartilha
É uma nova partilha (partilha adicional) de bens que por certas e
determinadas razões não puderam ser divididos entre os herdeiros de
imediato. Hipóteses: a) quando parte da herança consistir em bens remotos
do lugar do inventário, litigiosos, ou de liquidação morosa ou difícil – neste
caso realiza-se a partilha dos bens livres e desembaraçados, reservando os
demais para a sobre partilha; b) quando houver bens sonegados e quaisquer
outros bens da herança que se descobrirem depois da partilha. Entende-se que
poderá haver a sobrepartilha extrajudicial (escritura pública), desde que
respeitados os requisitos da Lei no 11.441/07 (mesmo que a partilha tenha
sido feita de forma judicial).

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MEUS AMIGOS E ALUNOS. O tema desta nossa última aula foi sobre o
Direito das Sucessões. Como vimos, o novo Código introduziu inúmeras
alterações em relação ao regime anterior. Portanto, mais uma vez, alerto
para que tenham cuidado com livros e exercícios antigos, já superados.

Com esta aula posso dizer: MISSÃO CUMPRIDA! Mais uma vez,
Recebam todos um grande abraço, como se eu estivesse aí com vocês. Muitas
ALEGRIAS e SUCESSO nesta empreitada que vocês se propuseram.

RESUMO DA AULA
1. Conceito conjunto de normas que disciplinam a transferência do patrimônio de
alguém (bens, direitos e obrigações), depois de sua morte, em virtude de lei ou
testamento. Refere-se apenas às pessoas naturais (a extinção da pessoa jurídica não
está em seu âmbito). A sucessão é uma forma de aquisição da propriedade.
2. Conteúdo
• Sucessão em Geral (arts. 1.784/1.828, CC).
• Sucessão Legítima (arts. 1.729/1.756, CC).
• Sucessão Testamentária (arts. 1.757/1.990, CC).
• Inventário e Partilha (arts. 1.991/2.027, CC).
3. Sucessão em Geral
• Fonte: a lei é a sua única fonte. O testamento pode até indicar o destinatário
da sucessão. Mas ele não é pleno (há muitas restrições ao direito de testar) e
também não é causa geradora de novas disposições sucessórias.
• Abertura: ocorre com a morte do de cujus (real ou presumida). De cujus:
pessoa de cuja sucessão se trata. Lugar da abertura: último domicílio do
falecido (art. 1.785, CC).
• Transmissão (princípio da saisine) → posse imediata.
• Herança: é o patrimônio do de cujus. Trata-se de uma universalidade de
direito. Não é suscetível de divisão em partes materiais (indivisível até a
partilha) e é equiparada a um bem imóvel, enquanto permanecer como tal.
Compreende todos os direitos que não se extinguem com a morte. Integram-
na bens móveis e imóveis, direitos, obrigações e ações. Abrange coisas
futuras. Excluem-se as coisas que se não se desligam da pessoa (direito à
personalidade, tutela, curatela, obrigações intuitu personae, etc.).
• Sucessão X Herança. Sucessão mortis causa é o modo de transmitir a
herança. Herança é o conjunto de bens, direitos e obrigações que se
transmitem aos herdeiros e legatários. É considerada pelo Direito brasileiro
(em virtude de ficção legal) como um bem imóvel.
• Herdeiros: são os sucessores do de cujos. Dividem-se em a) legítimos:
instituídos pela lei e relacionados em uma ordem de preferência; b)
necessários: descendentes, ascendentes e cônjuge; c) testamentários:
designados pelo falecido em testamento.
• Capacidade Sucessória: capacidade para adquirir os bens no momento da
morte. Todas as pessoas concebidas ou já nascidas, no momento da abertura
da sucessão. Exceções:

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• Indignidade: incapacidade sucessória que priva alguém de receber a
herança (arts. 1.814/1.818, CC). Herdeiro que comete atos ofensivos à
pessoa ou à honra do de cujus, ou atentou contra sua liberdade de testar,
reconhecida em sentença judicial. Pode propor ação judicial quem tem
interesse na declaração da indignidade. Encontra fundamento na presumida
vontade do de cujus que excluiria o herdeiro se houvesse feito declaração de
última vontade.
• Aceitação ato unilateral, indivisível, incondicional, não havendo
retratação. Pode ser expressa (declaração escrita) ou tácita (herdeiro pratica
atos compatíveis com a sua condição hereditária). A aquisição da herança se
dá com a morte do de cujus; a aceitação apenas consolida esta aquisição,
retroagindo ao tempo da abertura da sucessão.
• Renúncia ato unilateral, indivisível e solene (não se presume; é expresso:
por escritura pública ou por termo nos autos) pelo qual o herdeiro declara
não aceitar a herança. Deve respeitar eventuais direitos de credores. É
irretratável, mas se admite a retração em casos de violência, erro ou dolo.
Só pode ocorrer após a abertura da sucessão. Tem efeito retroativo, pois é
como se o renunciante jamais fosse chamado à sucessão. A renúncia válida é
a abdicativa: cessão pura, simples e gratuita.
• Cessão transferência de parte ideal da herança a outrem (e não de um
bem determinado).
4. Espécies de Sucessão
a) Legítima: ocorre quando alguém morre sem deixar testamento (ab intestato).
Divisão dos bens de acordo com a determinação legal.
b) Testamentária: ocorre por ato de vontade. O testamento é o instrumento da
vontade, destinado a produzir as consequências jurídicas com a morte de
testador. Subdivide-se em: a título universal e a título singular (legado).
c) Sucessão por cabeça: ocorre quando todos os herdeiros são do mesmo grau.
Cada herdeiro do mesmo grau corresponde uma quota igual na herança. A
herança é dividida entre todos os herdeiros aos quais é deferida.
d) Sucessão por estirpe: concorrem, na sucessão, descendentes que tenham
com o de cujus graus de parentesco diferentes, ou quando a partilha, em vez de
se fazer igualmente entre pessoas, faz-se entre certos grupos de descendentes,
grupos constituídos pelos descendentes do herdeiro do grau mais próximo. A
sucessão por estirpe dá-se na linha reta descendente (filho representa o pai na
sucessão do avô); excepcionalmente na linha transversal (sobrinho representa o
pai na sucessão do irmão), mas nunca na linha reta ascendente.
5. SUCESSÃO LEGÍTIMA. Tem seu fundamento no Direito de Família.
Ordem de Vocação Hereditária
a) Descendentes (filhos, netos, bisnetos, etc.) – em concorrência com o
cônjuge sobrevivente (salvo se este for casado com o falecido no regime da
comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens; ou se, no regime
da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares).
A herança pode distribuir-se por cabeça ou por estirpe. Regra geral: os filhos
sucedem por direito próprio e por cabeça. O grau mais próximo exclui o mais
remoto.
b) Ascendentes (pais, avós, bisavós, etc.) – Não havendo ninguém na classe
dos descendentes, herdam os ascendentes, em concorrência com o cônjuge

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sobrevivente. O grau mais próximo exclui o mais remoto. A herança é dividida
por linha e graus. Não há direito de representação na linha ascendente.
c) Cônjuge sobrevivente (também chamado de supérstite). Não se aplica se
estiver separado judicialmente ou de fato há mais de dois anos. Direito do
cônjuge, qualquer que seja o regime de bens: direito real de habitação, desde
que se trate do único bem daquela natureza a inventariar. Os companheiros
também possuem direito sucessório, mas somente participarão quanto aos bens
adquiridos onerosamente na constância da união estável.
d) Colaterais até 4° grau – Ordem preferencial: irmão (2° grau); sobrinho (3°
grau); tio (3° grau); sobrinho-neto (4° grau); tio-avô (4° grau) e primo-irmão
(4° grau). O grau mais próximo exclui o mais remoto (se houver irmão e
sobrinhos, herdam os irmãos; se houver sobrinhos e primos, herdam os
sobrinhos). Caso especial: existência de um tio e de um sobrinho neste caso
todos dois são parentes de 3° grau, mas apenas o sobrinho herdará. Na
sucessão dos colaterais pode haver direito de representação no tocante aos
sobrinhos. Os irmãos unilaterais (só por parte de mãe ou de pai), concorrendo
com bilaterais (irmãos por parte de pai e de mãe) herdam a metade do que
couber a estes.
e) Municípios, Distrito Federal ou União. Não são herdeiros, não lhes
sendo dado o direito saisine (não haverá posse direta dos bens da herança no
momento da morte, como ocorre com os demais herdeiros). Há a necessidade de
declaração de herança jacente (herdeiros não são conhecidos ou são conhecidos,
mas renunciaram) e vacante (foi proclamada judicialmente como “de ninguém”).
6. Direito de Representação (ou estirpe) – a lei chama certos parentes do falecido
a suceder em todos os direitos, em que ele sucederia, se vivesse (art. 1.851, CC).
Ocorre apenas na sucessão legítima. Ocorre na linha reta descendente,
excepcionalmente na transversal ou colateral, mas nunca na ascendente.
7. SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA – a transmissão hereditária se opera por ato de
última vontade, revestido da solenidade requerida por lei. É limitada, pois deve-se
respeitar a legítima dos herdeiros necessários.
a) Testamento: é negócio jurídico personalíssimo, unilateral, solene e
revogável pelo qual alguém dispõe no todo ou em parte de seu patrimônio para
depois de sua morte. Permite a instituição de herdeiro (sucessor a título universal)
ou legatário (sucessor a título singular). Capacidade para testar: maiores de 16
anos. Não podem testar os incapazes e os que não tiverem o pleno discernimento.
A capacidade é avaliada no momento em que o testamento é elaborado (se o
testador ficar incapaz posteriormente, não se invalida o testamento). Exceções:
filhos ainda não concebidos, de pessoas indicadas pelo testador, desde que vivas
estas ao abrir a sucessão; fundações cuja criação foi determinada pelo de cujus
em testamento.
b) Deserdação: ato unilateral pelo qual o de cujus exclui da sucessão,
mediante testamento com expressa declaração de causa, herdeiro
necessário, privando-o de sua legítima, por ter praticado alguma conduta
prevista na lei como causa. Além do testamento é necessária a propositura de
ação judicial. Deserdação X Indignidade. Deserdação: motivo ocorrido em vida
do testador; refere-se somente a herdeiros necessários; feita por testamento, pela
própria pessoa de cuja sucessão se trata. Indignidade: pode ser declarada com
fundamento em atos posteriores ao falecimento do autor da herança; refere-se a
qualquer herdeiro legítimo ou testamentário, bem como ao legatário; ação

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proposta por um interessado mediante ação ordinária. Em ambas as situações
exige-se uma sentença judicial.
c) Formas de Testamento
1) Ordinário
a) Público: arts. 1.864 a 1.867, CC. Obs.: o cego somente pode
testar desta forma.
b) Cerrado: arts. 1.868 a 1.875, CC.
c) Particular: arts. 1.876 a 1.880, CC.
2) Especial
a) Marítimo ou Aeronáutico.
b) Militar.
Observação: testamento conjuntivo é aquele em que duas pessoas, em
um mesmo ato de última vontade, dispõem de seus bens. Ele é proibido, seja
simultâneo (ambos dispõem em benefício de terceiro); recíproco (os
testadores instituem um ao outro como beneficiário) ou correspectivo (quando
o benefício outorgado por um dos testadores, ao outro, retribui vantagem
correspondente).
d) Inexecução do testamento
1) Revogação: é o ato pelo qual o testador manifesta sua vontade de
modificar total ou parcialmente o testamento anterior.
2) Rompimento: quando sobrevêm descendentes ao testador que não
os tinha ou não os conhecia; quando o testador descobre a existência de
herdeiros necessários até então ignorados; no caso de reconhecimento de filho
(voluntária ou judicialmente).
3) Caducidade.
4) Nulidade e anulabilidade.
e) Codicilo: ato de última vontade, com menos solenidades (basta ser escrito
e assinado) pelo qual o disponente traça diretrizes sobre assuntos de pequeno
valor (pequenas doações, roupas, forma de enterro, etc.).
f) Legado: disposição testamentária a título singular em que o testador deixa
a pessoa estranha ou não à sucessão legítima um ou mais objetos individualizados
ou certa quantia em dinheiro integrantes da herança. O legatário precisa pedir ao
herdeiro a entrega da coisa legada e não responde pelas dívidas da herança. Nada
impede que o testador, ao atribuir o legado, estabeleça algumas condições.
g) Direito de Acrescer: vários herdeiros ou legatários, pela mesma
disposição testamentária, forem conjuntamente chamados à herança em quinhões
determinados, e qualquer deles não puder (faleceu) ou não quiser aceitá-la
(renunciou), sua parte acrescerá à dos outros coerdeiros ou colegatários (salvo
se o testador nomear um substituto: neste caso não haverá direito de acrescer).
h) Substituição. É o direito que o testador tem de escolher substituto para o
herdeiro ou o legatário de primeiro grau. Espécies:
1) Vulgar ou Ordinária: o testador indica outra pessoa no lugar do
herdeiro ou do legatário nomeado, caso um ou outro não possa ou não queira
receber a herança ou o legado. Espécies: a) singular (quando se nomeia um
só substituto ao herdeiro ou legatário); b) plural (quando são vários os
substitutos simultâneos); c) recíproca (quando o testador ao instituir uma
pluralidade de herdeiros, os declara substitutos uns dos outros).

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2) Fideicomissária: o testador impõe a um herdeiro ou legatário
(chamado fiduciário) a obrigação de, por sua morte, a certo tempo ou sob
certa condição, transmitir a outro (chamado fideicomissário), a herança ou o
legado. Há dois beneficiários: inicialmente o fiduciário; depois, por algum
motivo previsto, há a transmissão ao fideicomissário.
3) Compendiosa: é um misto de substituição vulgar com a
fideicomissária. O testador dá substituto ao fiduciário ou ao fideicomissário,
prevendo que um ou outro não queira ou não possa aceitar a herança.

INVENTÁRIO
1. Conceito. É um processo judicial, de caráter contencioso, que visa
relacionar, descrever, avaliar todos os bens pertencentes ao de cujus ao tempo de sua
morte, para distribuí-los entre seus sucessores. Se houver um testamento ou algum
interessado incapaz deve-se proceder ao inventário judicial. No entanto, se todos
forem capazes e houver consenso entre eles, pode-se fazer o inventário e a partilha
por escritura pública. Esta será o documento hábil para o registro imobiliário
posterior. Todos os interessados devem comparecer no Tabelionato, acompanhados
de advogado (um para todos ou cada um com o seu).
2. Inventariança: Juiz nomeia um inventariante, a quem caberá a
administração e representação (ativa e passiva) do espólio. Só pode haver um
inventariante; é um encargo pessoal, sujeito, entretanto, à fiscalização dos herdeiros,
do Juiz e do Ministério Público. Há uma ordem preferencial para sua escolha.
3. Arrolamento: é um processo de inventário simplificado, caracterizado pela
redução de atos formais ou de solenidades. É possível a sua realização quando os
herdeiros forem maiores e capazes e for conveniente fazer uma partilha amigável, que
é homologada pelo Juiz, mediante prova de quitação de tributos.
4. Sonegados: é a ocultação dolosa de bens que devem ser inventariados ou
levados à colação. Pode ser praticada pelo inventariante (quando omite
intencionalmente bens e valores ao prestar as primeira e as últimas declarações) ou
pelos herdeiros (que não indicam bens em seu poder). Pena perda do direito sobre o
bem sonegado, que é devolvido ao monte e partilhado aos outros herdeiros, como se
o sonegador nunca tivesse existido. Prescrição – 10 anos e deve ser ajuizada no foro
do inventário e pode ser proposta pelos herdeiros legítimos, testamentários e
credores.
5. Colação: Os herdeiros que foram agraciados com doações em vida, deverão,
no prazo de 10 dias, apresentar esses bens, a fim de que se verifique se não houve
prejuízo à legítima dos herdeiros necessários. Dá-se o nome de colação ao ato de
retorno ao monte a ser partilhado das liberalidades feitas pelo de cujus, antes de sua
morte, a seus descendentes. Seu fim é igualar a legítima destes herdeiros, havendo
uma conferência dos bens. É dever imposto ao herdeiro, pois, segundo a lei, a doação
dos pais aos filhos importa em adiantamento de legítima.

6. Pagamento de Dívidas: antes da partilha, poderão os credores do espólio


requerer ao juízo do inventário o pagamento de dívidas. Só serão partilhados os bens
e valores que restarem depois de pagas as dívidas. A cobrança das dívidas faz-se, em
regra, pela habilitação do credor ao inventário. Não sendo impugnada a dívida vencida
e exigível, o Juiz declarará habilitado o credor e mandará que se faça a separação do
dinheiro ou bens, para o seu pagamento.
PARTILHA

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1. Conceito. A herança, até à partilha, é uma universalidade, legalmente
indivisível. A partilha é a divisão oficial do apurado durante o inventário entre os
sucessores do de cujus. Tem natureza meramente declaratória. A partilha pode ser
judicial (realizada no processo de inventário quando não houver acordo ou sempre
que um dos herdeiros seja menor ou incapaz) ou amigável (acordo entre os
interessados, desde que maiores e capazes). A partilha amigável é homologada e a
judicial julgada por sentença. A partilha pode ser feita também por escritura pública
(se todos os interessados forem capazes e estiverem de acordo).
2. Formal de Partilha: passado em julgado a sentença, receberão os
herdeiros os bens que lhe tocarem e um formal de partilha que um documento para
ser levado a registros composto de diversas peças.
3. Sobrepartilha: é uma nova partilha (partilha adicional) de bens que por
determinadas razões não puderam ser divididos entre os herdeiros, como exemplo:
quando parte da herança consistir em bens remotos do lugar do inventário, litigiosos,
ou de liquidação morosa ou difícil; ou quando houver bens sonegados e quaisquer
outros bens da herança que se descobrirem depois da partilha.

BIBLIOGRAFIA-BASE
Para a elaboração desta aula foram consultadas as seguintes obras:
DINIZ, Maria Helena – Curso de Direito Civil Brasileiro. Ed. Saraiva.
DINIZ, Maria Helena – Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro
Interpretada. Ed. Saraiva.
GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA, Rodolfo Filho – Novo Curso de
Direito Civil. Ed Saraiva.
GOMES, Orlando – Direito Civil. Ed Forense.
GONÇALVES, Carlos Roberto – Direito Civil Brasileiro. Ed. Saraiva.
MAXIMILIANO, Carlos – Hermenêutica e Aplicação do Direito. Ed. Freitas
Bastos.
MONTEIRO, Washington de Barros – Curso de Direito Civil. Ed. Saraiva.
NERY, Nelson Jr. e Rosa Maria de Andrade – Código Civil Comentado. Ed.
Revista dos Tribunais.
PEREIRA, Caio Mário da Silva – Instituições de Direito Civil. Ed. Forense.
RODRIGUES, Silvio – Direito Civil. Ed. Saraiva.
SERPA LOPES, Miguel Maria de – Curso de Direito Civil. Ed. Freitas Bastos.
SILVA, De Plácido e – Vocabulário Jurídico. Ed. Forense.
VENOSA, Silvio de Salvo – Direito Civil. Ed Atlas.

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EXERCÍCIOS COMENTADOS

As questões adiante seguem o padrão da CESPE/UnB, julgando


as assertivas e colocando CERTO ou ERRADO.

QUESTÃO 01 (CESPE/UnB – DPE/TO – Defensor Público – 2013)


Acerca das sucessões, julgue os itens a seguir.
a) A sucessão abre-se no lugar da morte do falecido.
b) A sucessão dá-se por lei ou por disposição de última vontade, conforme
seja legítima ou testamentária, e, havendo herdeiros necessários, o testador
só poderá dispor da metade da herança.
c) A companheira ou o companheiro, na sucessão do outro, quanto aos bens
adquiridos na vigência da união estável, concorre com descendentes só do
autor da herança, tendo direito a uma quota equivalente à que por lei for
atribuída a cada um deles.
d) Legitimam-se a suceder apenas as pessoas já nascidas no momento da
abertura da sucessão, não havendo direitos sucessórios do nascituro.
COMENTÁRIOS
a) Errado. Nos termos do art. 1.785, CC, a sucessão abre-se no lugar do
último domicílio do falecido.
b) Certo. De acordo com o art. 1.786, CC, a sucessão dá-se por lei ou por
disposição de última vontade. E estabelece o art. 1.789, CC que havendo
herdeiros necessários, o testador só poderá dispor da metade da herança.
c) Errado. Estabelece o art. 1.790, CC, que a companheira ou o companheiro
participará da sucessão do outro, quanto aos bens adquiridos onerosamente na
vigência da união estável, nas condições seguintes: I. se concorrer com filhos
comuns, terá direito a uma quota equivalente à que por lei for atribuída ao
filho; II. se concorrer com descendentes só do autor da herança, tocar-lhe-á a
metade do que couber a cada um daqueles; III. se concorrer com outros
parentes sucessíveis, terá direito a um terço da herança; IV. não havendo
parentes sucessíveis, terá direito à totalidade da herança.

d) Errado. Segundo o art. 1.798, CC, legitimam-se a suceder as pessoas


nascidas ou já concebidas (trata-se do nascituro) no momento da abertura da
sucessão.

QUESTÃO 02 (CESPE/UnB – DPE/RO – Defensor Público – 2012)


Acerca do direito de sucessão, julgue a seguinte assertiva
a) Aberta a sucessão, a propriedade dos bens do de cujus transmite-se,
desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários.
COMENTÁRIOS

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a) Errado. Segundo o art. 1.784, CC, Aberta a sucessão, a herança transmite-
se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários. O dispositivo não fala
em propriedade, mas sim em herança.

QUESTÃO 03 (CESPE/UnB – TRT/10ª Região/DF/TO – Analista


Judiciário – Execução de Mandados – 2013) No que concerne à
sucessão no Direito Civil, julgue os itens subsequentes.
a) A ofensa física é uma das causas que autorizam a deserdação, não sendo
necessário que haja condenação criminal ou que a lesão corporal seja grave
ou gravíssima.
b) No caso de legado alternativo, se o legatário falecer antes de ter
realizado a opção, o exercício desse direito passará aos seus herdeiros.
c) Caso ocorra a premoriência do legatário, o legado deverá ser transmitido
aos seus herdeiros.
d) Considere a seguinte situação hipotética. Jorge, filho de Paulo, este
recém-falecido, providenciou o velório, tendo cuidado de toda a parte
burocrática para a realização do enterro de seu pai. Nessa situação
hipotética, os atos praticados por Jorge caracterizaram a sua aceitação da
herança dos bens de seu pai.
COMENTÁRIOS
a) Certo. A ofensa física, nos termos do art. 1.963, CC é uma das causas que
autorizam a deserdação e é indiferente que esta ofensa seja leve, grave ou
gravíssima. Não há na lei previsão quanto à obrigatoriedade da condenação
criminal, tendo-se em vista a independências das esferas civil e criminal
prevista no art. 935, CC. No entanto é necessário que haja a prova deste fato.
b) Certo. Nos termos do art. 1.933, CC, se o herdeiro ou legatário a quem
couber a opção falecer antes de exercê-la, passará este poder aos seus
herdeiros.
c) Errado. Segundo o art. 1.939, V, CC. Caducará o legado se o legatário
falecer antes do testador.
d) Errado. Segundo o art. 1.805, §1°, CC não exprimem aceitação de herança
os atos oficiosos, como o funeral do finado, os meramente conservatórios, ou
os de administração e guarda provisória.

QUESTÃO 04 (CESPE/UnB – TRE/RJ – Analista Judiciário – 2012) Com


relação ao direito das sucessões, julgue o item a seguir.
a) Como a capacidade testamentária é mensurada no momento da redação
do testamento, o testamento de pessoa idosa só é válido se redigido antes
que ela atinja sessenta anos de idade.
COMENTÁRIOS
a) Errado. Capacidade testamentária ativa é a capacidade para fazer o
testamento. De fato ela é avaliada no momento em que o testamento é
elaborado. O Código Civil estabelece como incapazes de testar (art. 1.860,

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CC): os menores de dezesseis anos, os desprovidos de discernimento (ex: os
que não estiverem em perfeito juízo, surdos-mudos, que não puderem
manifestar a sua vontade, etc.) e a pessoa jurídica. Todos os que não estão
incluídos na norma legal são capazes de testar. Portanto o maior de 60 anos
pode testar normalmente, desde que tenha discernimento, compreendendo o
ato que está realizando.

QUESTÃO 05 (CESPE/UnB – TJ/AC – Analista Judiciário – 2012) No que


se refere ao direito das sucessões, julgue os itens a seguir.
a) Caso um indivíduo com dívidas faleça e não deixe bens a inventariar, não
é possível a abertura de inventário.
COMENTÁRIOS
a) Errado. Embora não tenha sido previsto em nossa legislação, é possível a
utilização do chamado “inventário negativo”, para atestar que o falecido não
deixou bens.

QUESTÃO 06 (IESES – TJ/RO – Titular de Serviços de Notas e Registros


– 2012) Em relação à sucessão em geral, julgue as assertivas abaixo:
a) Se o herdeiro renunciar a herança, e depois sobrevier bem que este
desconhecia, pode retratar-se e receber ao menos os direitos hereditários
sobre este bem.
b) Não se admite renúncia parcial, no entanto um herdeiro, a quem se
testarem legados, pode aceitá-los, repudiando a herança, ou aceitar a
herança e renunciar os legados.
c) Se um herdeiro renuncia a herança, não é possível que ninguém suceda
representando o renunciante.
d) O herdeiro renunciante deve indicar quem se beneficiará com sua
renúncia.
COMENTÁRIOS
a) Errado. Nos termos do art. 1.812, CC, são irrevogáveis os atos de
aceitação ou renúncia da herança.
b) Certo. De acordo com o art. 1808 e seu §1°, CC: Não se pode aceitar ou
renunciar a herança em parte, sob condição ou a termo. O herdeiro, a quem se
testarem legados, pode aceitá-los, renunciando a herança; ou, aceitando-a,
repudiá-los.
c) Certo. Estabelece o art. 1.811, CC que ninguém pode suceder
representando o herdeiro renunciante. No entanto, se ele for o único legítimo
da sua classe, ou se todos os outros da mesma classe renunciarem a herança,
poderão os filhos vir à sucessão, por direito próprio, e por cabeça.
d) Errado. Segundo o art. 1.810, CC, na sucessão legítima, a parte do
renunciante acresce a dos outros herdeiros da mesma classe e, sendo ele o
único desta, devolve-se aos da subsequente.

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QUESTÃO 07 (IESES – TJ/RO – Titular de Serviços de Notas e Registros
– 2012) Toda pessoa capaz pode elaborar testamento, como
disposição de ultima vontade. Sobre este assunto, julgue as seguintes
assertivas.
a) Aquele que possui herdeiros necessários pode dispor apenas de metade
de seu patrimônio.
b) Se o testamento ultrapassar a parte disponível, será rompido na sua
totalidade.
c) É sempre necessário que no testamento seja individualizado quem são os
herdeiros, e quais bens específicos receberão.
d) Caso um herdeiro nomeado por testamento seja pré-morto, os seus
descendentes poderão representar a sua parte na sucessão.
COMENTÁRIOS.
a) Certo. Nos termos do art. 1.789, CC, havendo herdeiros necessários, o
testador só poderá dispor da metade da herança.
b) Errado. Na hipótese não é caso de rompimento, mas sim redução da
disposição excedente (art. 1.967, CC).
c) Errado. Nem sempre a pessoa designada como herdeiro deve ser
individualizada. O art. 1901, I, CC permite que uma disposição testamentária
seja feita à pessoa incerta.
d) Errado. A afirmação trata do direito de representação, previsto nos arts.
1.851 a 1566, CC. Observem que este instituto está inserido no Código Civil no
capítulo referente à sucessão legítima. Portanto, como na questão o herdeiro
pré-morto foi nomeado por testamento, é caso de sucessão testamentária (e
não legítima), não se aplicando a representação. Ou seja, os descendentes do
herdeiro pré-morto não representarão seu pai na sucessão.

QUESTÃO 08 (CESPE/UnB – TRT/10ª Região/DF/TO – Analista


Judiciário – Execução de Mandados – 2012) No tocante aos direitos
das sucessões, julgue o próximo item.
a) O direito de representação pode se dar na linha reta ascendente.
COMENTÁRIOS
a) Errado. Essa questão não teve gabarito oficial, pois “a prova foi
desconsiderada pelo CESPE em decorrência de problemas de infraestrutura que
ocorreram em um dos locais de aplicação das provas”. Resposta do professor:
o art. 1.852, CC prevê que o direito de representação dá-se na linha reta
descendente, mas nunca na reta ascendente.

QUESTÃO 09 (CESPE/UnB – Superior Tribunal de Justiça – Analista


Judiciário 2012) De acordo com o entendimento do STJ, julgue o
próximo item, acerca do direito do cônjuge sobrevivente na sucessão.
a) Se o casamento tiver sido celebrado mediante o regime de comunhão
parcial de bens, o cônjuge sobrevivente concorrerá com os descendentes em
relação aos bens integrantes da meação do falecido.

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COMENTÁRIOS
a) Errado. A posição jurisprudencial é exatamente contrária. Vejamos um
exemplo: STJ – REsp n° 974.241 – DF – 4ª Turma – Rel. Min. Honildo Amaral
de Mello Castro – Rel. para o acórdão Min. Maria Isabel Gallotti – DJ
05.10.2011. EMENTA - CIVIL. SUCESSÃO. CÔNJUGE SOBREVIVENTE E FILHA
DO FALECIDO. CONCORRÊNCIA. CASAMENTO. COMUNHÃO PARCIAL DE BENS.
BENS PARTICULARES. CÓDIGO CIVIL, ART. 1829, INC. I. DISSÍDIO NÃO
CONFIGURADO. 1. No regime da comunhão parcial de bens, o cônjuge
sobrevivente não concorre com os descendentes em relação aos bens
integrantes da meação do falecido. Interpretação do art. 1829, inc. I, do
Código Civil. 2. Tendo em vista as circunstâncias da causa, restaura-se a
decisão que determinou a partilha, entre o cônjuge sobrevivente e a
descendente, apenas dos bens particulares do falecido. 3. Recurso especial
conhecido em parte e, nesta parte, provido.

QUESTÃO 10 (CESPE/UnB – TJ/ES – Analista em Direito – 2011) Com


referência a sucessão, julgue o próximo item.
a) No que tange à capacidade para suceder, é correto afirmar que, com a
abertura da sucessão, a herança se transmite imediatamente aos herdeiros,
que passam a ser titulares de direitos adquiridos, aplicando-se a lei vigente
à época da morte do autor da herança.
COMENTÁRIOS
a) Certo. Capacidade (ou legitimação) sucessória é a capacidade da pessoa
para receber os bens deixados pelo de cujus. Dispõe o art. 1.784, CC que
aberta a sucessão (que se dá com a morte do de cujus) a herança transmite-
se de imediato aos herdeiros (princípio da saisine). A lei aplicável é a vigente à
época da morte do autor da herança (abertura da sucessão), nos termos do
art. 1.787, CC.

QUESTÃO 11 (CESPE/UnB – Defensor Público/AM) Cíntia foi nomeada,


por testamento público, herdeira de Clóvis. Como ela faleceu antes do
testador, Clóvis revogou parcialmente o testamento, por instrumento
particular, nomeando as filhas de Cíntia suas herdeiras. Diante dessa
situação hipotética, julgue os itens a seguir.
a) A capacidade para adquirir por testamento pressupõe a existência do
herdeiro, ou legatário, à época da morte do testador. Tendo falecido antes o
herdeiro, perde validade a cédula testamentária.
b) A revogação parcial do testamento, como efetivada na hipótese, visando
a substituição da herdeira anteriormente nomeada e já falecida, é nula de
pleno direito.
COMENTÁRIOS
a) Certo. Capacidade (ou legitimação) sucessória é a capacidade da pessoa
para receber os bens deixados pelo de cujus no tempo da abertura da
sucessão (art. 1.787, CC). São seus pressupostos: morte do autor da herança,

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sobrevivência do sucessor (no caso a sucessora, Cíntia, morreu antes) e
herdeiro humano.
b) Certo. Pois a revogação do testamento somente poderia ser feita por meio
de outro testamento e nunca por instrumento particular. Não se respeitando a
forma prevista em lei, o ato é nulo.

QUESTÃO 12 (CESPE/UnB – Defensor Público/AM) No que concerne ao


Direito das Sucessões, julgue os itens a seguir.
a) Aberta a sucessão pela morte, o acervo hereditário é transmitido, desde
logo, aos herdeiros legítimos e testamentários, que passam a exercer, por
direito próprio, a posse e o domínio sobre os bens deixados, em regime de
condomínio universal com os demais sucessores, até que ocorra a partilha.
b) A mulher casada em regime de comunhão universal de bens não concorre
com os filhos em relação à herança do marido, cabendo-lhe a meação dos
bens deixados por este.
c) Falecendo uma pessoa casada sob o regime da separação de bens, na
falta de descendentes ou ascendentes, a sucessão será deferida ao cônjuge
sobrevivente se não estava separado judicialmente ou de fato por mais de
dois anos.
COMENTÁRIOS
a) Certo. É o que determina os artigos 1.784 e 1.791, ambos do CC.
b) Certo. Se o regime for da comunhão universal, o cônjuge não será herdeiro
em concorrência com os descendentes, mas tem assegurada a sua meação
(art. 1.929, CC).
c) Certo. É o que determina os arts. 1.830 e 1.838, ambos do CC.

QUESTÃO 13 (UnB/CESPE – TJ/SE – Juiz de Direito – 2007) Acerca do


direito das sucessões, julgue os itens a seguir.
a) Nas disposições testamentárias, o testador pode exigir um encargo para
que o contemplado possa receber o legado ou a herança, sendo que esse
ônus não deve ser superior à liberalidade.
b) Se o legatário vier a falecer antes do testador, a cláusula testamentária
que o beneficia, independentemente de qualquer declaração quanto à
eventual substituição do legatário, é automaticamente transferida a seus
herdeiros.
c) O companheiro sobrevivente é herdeiro necessário e participa da
sucessão do outro quanto aos bens adquiridos onerosamente na vigência da
união estável. Esse companheiro concorre com os filhos comuns do de cujus
e com os ascendentes desse e, na inexistência de todos eles, tem direito à
totalidade da herança.
COMENTÁRIOS

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a) Certo. O testador pode instituir condições, termos e encargos ao
beneficiário (art. 1.897, CC). No caso trata-se do encargo ou modo. As regras
aplicáveis são as da parte geral do Código (arts. 121 a 137).
b) Errado. Segundo o art. 1.939, inciso V, CC, se o legatário falecer antes do
testador haverá a caducidade do legado. Isto porque presume-se que o
testador deseja beneficiar uma determinada pessoa e não os seus herdeiros.
Além do mais, não cabe direito de representação quanto aos legados. No
entanto a cláusula pode não caducar se o testador consignar expressamente
no testamento, dispondo que os bens irão aos herdeiros do legatário se este
morrer antes. Neste caso o testador estará instituindo substitutos para o
legatário.
c) Errado. De fato o companheiro pode concorrer com os filhos comuns do de
cujus e com os ascendentes deste, quanto aos bens adquiridos onerosamente
na vigência da união estável (art. 1.790, I e II, CC). No entanto, na falta de
descendentes e ascendentes, o companheiro concorrerá com os outros
parentes sucessíveis. Somente se não houver parentes sucessíveis, terá direito
à totalidade da herança (art. 1.790, III e IV, CC).

QUESTÃO 14 (CESPE/UnB – Ordem dos Advogados do Brasil – 2007)


Em relação ao tema Sucessões (legítima e testamentária), julgue os
itens que se seguem.
a) A renúncia a herança é um ato irrevogável, por isso, se todos os
herdeiros, de qualquer classe, renunciarem à herança, esta será, desde logo,
declarada vacante.
b) O herdeiro necessário é deserdado por seu ascendente quando o testador
deixa de contemplá-lo em seu testamento.
c) Ocorre a sucessão por cabeça quando outra pessoa é chamada a suceder
em lugar do herdeiro, em virtude de pré-morte, deserdação ou indignidade.
d) Codicilo é negócio jurídico unilateral mortis causa, escrito, mediante o
qual o autor da herança dispõe de bens de pouco valor ou de particular valor
sentimental, de forma menos solene e, portanto, mais singela que o
testamento.
e) Desde a abertura da sucessão, pertence ao legatário a coisa certa,
existente no acervo, salvo se o legado estiver sob condição suspensiva, não
se deferindo de imediato a posse da coisa legada nem podendo o legatário
nela entrar por autoridade própria.
COMENTÁRIOS
a) Certo. Renúncia é um ato jurídico unilateral pelo qual o herdeiro declara
expressamente que não aceita a herança a que tem direito, abrindo mão de
sua titularidade. Ela é irrevogável, nos termos do art. 1.812, CC. Acrescenta o
art. 1.823, CC que quando todos os chamados a suceder renunciarem à
herança, será esta desde logo declarada vacante.
b) Errado. Nos termos do art. 1.964, CC, somente com expressa declaração
de causa pode a deserdação ser ordenada em testamento. Principalmente no

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tocante aos herdeiros necessários. Já para excluir da sucessão os herdeiros
colaterais, basta que o testador disponha de seu patrimônio sem os
contemplar (nem é necessária a deserdação em si).
c) Errado. Ocorre a sucessão por cabeça quando todos os herdeiros estão no
mesmo grau (ex.: pessoa morre deixando três filhos; pessoa morre deixando
apenas cinco netos, etc.). A herança é dividida entre todos os herdeiros de
forma igual. Quando outra pessoa é chamada a suceder em lugar do herdeiro,
em virtude de pré-morte, deserdação ou indignidade é chamado de
substituição hereditária.
d) Certo. Trata-se do conceito do codicilo, regulado pelos arts. 1.881/1.885,
CC.
e) Certo. Nos termos do art. 1.923, CC.

QUESTÃO 15 (CESPE/UnB) Quanto ao direito sucessório, julgue os


itens abaixo.
a) Com a morte, os bens do falecido transmitem-se imediatamente aos seus
herdeiros, extinguindo-se os direitos personalíssimos e transmitindo-se os
demais aos herdeiros e legatários.
b) O legatário detém legitimidade para requerer em juízo a sucessão
provisória do ausente.
c) Na hipótese de comoriência dos cônjuges, sem descendentes, o
patrimônio de cada um dos comorientes deverá ser recebido pelos seus
respectivos herdeiros.
d) Na hipótese de morrer o avô e renunciando à sua sucessão um dos seus
três filhos, os netos do de cujus e filhos do renunciante receberão a herança
que a este caberia, invocando o direito de representação.
e) A partilha decorrente de inventário por morte não pode ser amigável se
algum dos herdeiros for incapaz.
COMENTÁRIOS
a) Certo. Art. 1.784, CC.
b) Certo. Nos termos dos arts. 26 e 27, II, CC. Art. 26. Decorrido um ano da
arrecadação dos bens do ausente, ou, se ele deixou representante ou
procurador, em se passando três anos, poderão os interessados requerer que
se declare a ausência e se abra provisoriamente a sucessão. Art. 27. Para o
efeito previsto no artigo anterior, somente se consideram interessados: (...) II
- os herdeiros presumidos, legítimos ou testamentários. Assim, o legatário,
considerado “interessado”, por ser um herdeiro testamentário, tem
legitimidade par requerer a sucessão provisória.
c) Certo. Interpretação do art. 8°, CC.
d) Errado. Se o filho renunciar, sua quota se transmite aos outros herdeiros
da mesma classe, no caso os seus irmãos (os outros filhos do de cujus). Trata-
se do direito de acrescer. Portanto, os descendentes do renunciante não
herdam por representação.

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e) Certo. Interpretação do art. 2.015, CC, a contrário senso.

LISTA DE EXERCÍCIOS SEM COMENTÁRIOS

QUESTÃO 01 (CESPE/UnB – DPE/TO – Defensor Público – 2013)


Acerca das sucessões, julgue os itens a seguir.
a) A sucessão abre-se no lugar da morte do falecido.
b) A sucessão dá-se por lei ou por disposição de última vontade, conforme
seja legítima ou testamentária, e, havendo herdeiros necessários, o testador
só poderá dispor da metade da herança.
c) A companheira ou o companheiro, na sucessão do outro, quanto aos bens
adquiridos na vigência da união estável, concorre com descendentes só do
autor da herança, tendo direito a uma quota equivalente à que por lei for
atribuída a cada um deles.
d) Legitimam-se a suceder apenas as pessoas já nascidas no momento da
abertura da sucessão, não havendo direitos sucessórios do nascituro.

QUESTÃO 02 (CESPE/UnB – DPE/RO – Defensor Público – 2012)


Acerca do direito de sucessão, julgue a seguinte assertiva
a) Aberta a sucessão, a propriedade dos bens do de cujus transmite-se, desde
logo, aos herdeiros legítimos e testamentários.

QUESTÃO 03 (CESPE/UnB – TRT/10ª Região/DF/TO – Analista


Judiciário – Execução de Mandados – 2013) No que concerne à
sucessão no Direito Civil, julgue os itens subsequentes.
a) A ofensa física é uma das causas que autorizam a deserdação, não sendo
necessário que haja condenação criminal ou que a lesão corporal seja grave ou
gravíssima.
b) No caso de legado alternativo, se o legatário falecer antes de ter realizado a
opção, o exercício desse direito passará aos seus herdeiros.
c) Caso ocorra a premoriência do legatário, o legado deverá ser transmitido
aos seus herdeiros.
d) Considere a seguinte situação hipotética. Jorge, filho de Paulo, este recém-
falecido, providenciou o velório, tendo cuidado de toda a parte burocrática para
a realização do enterro de seu pai. Nessa situação hipotética, os atos
praticados por Jorge caracterizaram a sua aceitação da herança dos bens de
seu pai.

QUESTÃO 04 (CESPE/UnB – TRE/RJ – Analista Judiciário – 2012) Com


relação ao direito das sucessões, julgue o item a seguir.
a) Como a capacidade testamentária é mensurada no momento da redação do
testamento, o testamento de pessoa idosa só é válido se redigido antes que
ela atinja sessenta anos de idade.

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QUESTÃO 05 (CESPE/UnB – TJ/AC – Analista Judiciário – 2012) No que
se refere ao direito das sucessões, julgue os itens a seguir.
a) Caso um indivíduo com dívidas faleça e não deixe bens a inventariar, não é
possível a abertura de inventário.

QUESTÃO 06 (IESES – TJ/RO – Titular de Serviços de Notas e Registros


– 2012) Em relação à sucessão em geral, julgue as assertivas abaixo:
a) Se o herdeiro renunciar a herança, e depois sobrevier bem que este
desconhecia, pode retratar-se e receber ao menos os direitos hereditários
sobre este bem.
b) Não se admite renúncia parcial, no entanto um herdeiro, a quem se
testarem legados, pode aceitá-los, repudiando a herança, ou aceitar a herança
e renunciar os legados.
c) Se um herdeiro renuncia a herança, não é possível que ninguém suceda
representando o renunciante.
d) O herdeiro renunciante deve indicar quem se beneficiará com sua renúncia.

QUESTÃO 07 (IESES – TJ/RO – Titular de Serviços de Notas e Registros


– 2012) Toda pessoa capaz pode elaborar testamento, como
disposição de ultima vontade. Sobre este assunto, julgue as seguintes
assertivas.
a) Aquele que possui herdeiros necessários pode dispor apenas de metade de
seu patrimônio.
b) Se o testamento ultrapassar a parte disponível, será rompido na sua
totalidade.
c) É sempre necessário que no testamento seja individualizado quem são os
herdeiros, e quais bens específicos receberão.
d) Caso um herdeiro nomeado por testamento seja pré-morto, os seus
descendentes poderão representar a sua parte na sucessão.

QUESTÃO 08 (CESPE/UnB – TRT/10ª Região/DF/TO – Analista


Judiciário – Execução de Mandados – 2012) No tocante aos direitos
das sucessões, julgue o próximo item.
a) O direito de representação pode se dar na linha reta ascendente.

QUESTÃO 09 (CESPE/UnB – Superior Tribunal de Justiça – Analista


Judiciário 2012) De acordo com o entendimento do STJ, julgue o
próximo item, acerca do direito do cônjuge sobrevivente na sucessão.
a) Se o casamento tiver sido celebrado mediante o regime de comunhão
parcial de bens, o cônjuge sobrevivente concorrerá com os descendentes em
relação aos bens integrantes da meação do falecido.

QUESTÃO 10 (CESPE/UnB – TJ/ES – Analista em Direito – 2011) Com


referência a sucessão, julgue o próximo item.

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a) No que tange à capacidade para suceder, é correto afirmar que, com a
abertura da sucessão, a herança se transmite imediatamente aos herdeiros,
que passam a ser titulares de direitos adquiridos, aplicando-se a lei vigente à
época da morte do autor da herança.

QUESTÃO 11 (CESPE/UnB – Defensor Público/AM) Cíntia foi nomeada,


por testamento público, herdeira de Clóvis. Como ela faleceu antes do
testador, Clóvis revogou parcialmente o testamento, por instrumento
particular, nomeando as filhas de Cíntia suas herdeiras. Diante dessa
situação hipotética, julgue os itens a seguir.
a) A capacidade para adquirir por testamento pressupõe a existência do
herdeiro, ou legatário, à época da morte do testador. Tendo falecido antes o
herdeiro, perde validade a cédula testamentária.
b) A revogação parcial do testamento, como efetivada na hipótese, visando a
substituição da herdeira anteriormente nomeada e já falecida, é nula de pleno
direito.

QUESTÃO 12 (CESPE/UnB – Defensor Público/AM) No que concerne ao


Direito das Sucessões, julgue os itens a seguir.
a) Aberta a sucessão pela morte, o acervo hereditário é transmitido, desde
logo, aos herdeiros legítimos e testamentários, que passam a exercer, por
direito próprio, a posse e o domínio sobre os bens deixados, em regime de
condomínio universal com os demais sucessores, até que ocorra a partilha.
b) A mulher casada em regime de comunhão universal de bens não concorre
com os filhos em relação à herança do marido, cabendo-lhe a meação dos bens
deixados por este.
c) Falecendo uma pessoa casada sob o regime da separação de bens, na falta
de descendentes ou ascendentes, a sucessão será deferida ao cônjuge
sobrevivente se não estava separado judicialmente ou de fato por mais de dois
anos.

QUESTÃO 13 (UnB/CESPE – TJ/SE – Juiz de Direito – 2007) Acerca do


direito das sucessões, julgue os itens a seguir.
a) Nas disposições testamentárias, o testador pode exigir um encargo para
que o contemplado possa receber o legado ou a herança, sendo que esse ônus
não deve ser superior à liberalidade.
b) Se o legatário vier a falecer antes do testador, a cláusula testamentária que
o beneficia, independentemente de qualquer declaração quanto à eventual
substituição do legatário, é automaticamente transferida a seus herdeiros.
c) O companheiro sobrevivente é herdeiro necessário e participa da sucessão
do outro quanto aos bens adquiridos onerosamente na vigência da união
estável. Esse companheiro concorre com os filhos comuns do de cujus e com
os ascendentes desse e, na inexistência de todos eles, tem direito à totalidade
da herança.

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QUESTÃO 14 (CESPE/UnB – Ordem dos Advogados do Brasil – 2007)
Em relação ao tema Sucessões (legítima e testamentária), julgue os
itens que se seguem.
a) A renúncia a herança é um ato irrevogável, por isso, se todos os herdeiros,
de qualquer classe, renunciarem à herança, esta será, desde logo, declarada
vacante.
b) O herdeiro necessário é deserdado por seu ascendente quando o testador
deixa de contemplá-lo em seu testamento.
c) Ocorre a sucessão por cabeça quando outra pessoa é chamada a suceder
em lugar do herdeiro, em virtude de pré-morte, deserdação ou indignidade.
d) Codicilo é negócio jurídico unilateral mortis causa, escrito, mediante o qual
o autor da herança dispõe de bens de pouco valor ou de particular valor
sentimental, de forma menos solene e, portanto, mais singela que o
testamento.
e) Desde a abertura da sucessão, pertence ao legatário a coisa certa, existente
no acervo, salvo se o legado estiver sob condição suspensiva, não se deferindo
de imediato a posse da coisa legada nem podendo o legatário nela entrar por
autoridade própria.

QUESTÃO 15 (CESPE/UnB) Quanto ao direito sucessório, julgue os


itens abaixo.
a) Com a morte, os bens do falecido transmitem-se imediatamente aos seus
herdeiros, extinguindo-se os direitos personalíssimos e transmitindo-se os
demais aos herdeiros e legatários.
b) O legatário detém legitimidade para requerer em juízo a sucessão
provisória do ausente.
c) Na hipótese de comoriência dos cônjuges, sem descendentes, o patrimônio
de cada um dos comorientes deverá ser recebido pelos seus respectivos
herdeiros.
d) Na hipótese de morrer o avô e renunciando à sua sucessão um dos seus
três filhos, os netos do de cujus e filhos do renunciante receberão a herança
que a este caberia, invocando o direito de representação.
e) A partilha decorrente de inventário por morte não pode ser amigável se
algum dos herdeiros for incapaz.

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GABARITO “SECO”
CESPE/UnB (Mais Atuais)

Questão 01 Questão 09
a) Errado a) Errado
b) Certo Questão 10
c) Errado a) Certo
d) Errado
Questão 11
Questão 02 a) Certo
a) Errado b) Certo
Questão 03 Questão 12
a) Certo a) Certo
b) Certo b) Certo
c) Errado c) Certo
d) Errado
Questão 13
Questão 04 a) Certo
a) Errado b) Errado
Questão 05 c) Errado
a) Errado Questão 14
Questão 06 a) Certo
a) Errado b) Certo
b) Certo c) Errado
c) Certo d) Errado
d) Errado e) Certo
Questão 07 Questão 15
a) Certo a) Certo
b) Errado b) Certo
c) Errado c) Certo
d) Errado d) Errado
e) Certo
Questão 08
a) Errado

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