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LISBOA
2020
GIOVANNA DA LUZ GOMES
LISBOA
2020
AGRADECIMENTOS
Dedico a Deus e a minha família, principalmente aos meus pais que nunca deixaram
de acreditar em mim, enfim a todos que contribuíram para esse momento de vitória,
muitíssimo obrigada.
``A propriedade é o suporte de toda a
organização do domínio´´
INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................... 6
2. Usucapião .......................................................................................................................................... 46
4.3 - Qual a relação existente entre a presunção de legal e o ónus da prova ...................................... 81
5.2- Analise das vantagens e desvantagens da justificação notarial com base nas duas teses. ........... 94
5.3 - A impugnação do registo com base na justificação notarial e 3º para efeitos do registo ............ 96
INTRODUÇÃO
1. JUSTIFICAÇÃO NOTARIAL
1
Esta prespectiva parece ser confirmada pelo comentário feito na lei hipotecária. Antonio Augusto
Ferreira De Melo. Commentario critico explicativo á lei hypothecaria portugueza de 1 de julho
de 1863: regulamento respectivo e leis posteriores precedido de uma introdução. Porto: Typographia
de Antonio Augusto Leal, 1864. P. 99, 104, 156-158.
2
Excmo. Sr. Ministro De García y Justicia. Proyecto de ley hipotecaria: Con la esposicion de sus
motivos y fundamentos; redactado por la comision de codificacion y presentado á las córtes. Madrid:
imprenta de la revista de legislacion, 1860, p. 125-127.
9
facto da prescrição poder dar direito a quem não o tinha ou embora tivesse titulo não
tivesse recebido de ninguém acrescendo o requisito a boa-fé ao decurso do tempo.3
Conjugando os artigos 389.º e 390.º determinavam o prazo de um ano a contar da
entrada em vigor desta lei para que os interessados pudesse fazer o registro desde
que antes da publicação da lei tivessem adquirido o direito ou o bem e ainda não se
encontrasse registrado desde que já tivesse decorrido 90 dias ou mais ficando
isentos de pagar direito hipotecários e multas que podiam ter lugar e pagariam
apenas metade dos onerários ao conservador. A justificação estava regulada nos
artigos 397.º a 410.º.
O artigo 397.º determinava que o proprietário que não tivesse o título do
domínio tinha que recorrer a justificação da posse para poder registar, cabendo
apenas a este a legitimidade. A justificação era feita perante o juiz de 1ª instância do
lugar onde estava situada o bem e ouvido o promotor fiscal. Caso os bens
estivessem situados na cidade ou termo onde não existia juiz de 1ª instância nesse
caso caberia ao juiz de paz e neste caso era ouvido o Administrador da prefeitura
nos casos que caberiam ao juiz de 1ª instância. No artigo 398.º referia-se as
informações que deviam constar da justificação, como o nome e apelido de quem
adquiriu o bem, as circunstâncias de título não existir ou se existindo não ser fácil
obtê-lo, o tempo da posse, entre outros. As informações prestados pelo proprietário,
seriam confirmadas por dois ou três testemunhas que fossem proprietários vizinhos
ou termo onde estivessem situados os bens, artigo 399.º. As testemunhas limitavam
as suas declarações ao facto do justificante ter os bens em nome próprio e o tempo
da sua duração, ficando responsáveis pelos prejuízos das declarações que fossem
inexatas, artigo 400.º, teria ser apresentado o recibo de pagamento do ultimo
trimestre de contribuição territorial, mas se não tivesse pago nenhum por ser
aquisição recente, nesse caso era dado conhecimento da justificação a quem lhe
transmitiu o bem ou seus herdeiros a fim de se verificar se opunham ao registo. Se
herdeiro fosse o justificante apresentaria o recibo de pagamento da contribuição do
falecido possuidor, artigo 401.º. Mas se existisse alguém que entendesse que o
direito a ser justificado lhe pertencia poderia alega-lo perante o juiz competente em
julgamento ordinário, ao interpor esta ação e a sua inscrição no registo faria
3
D. José M. Pantoja; D. Antonio M. Floret. Ley hipotecaria: comentada y explicada, concordada con
las leyes y códigos extranjeros, comparada con las disposiciones de la legislacion española que han
servido de precedente para redactarla: precedida de una introduccion histórica y de la exposicion de
sus motivos y fundamentos. Vol.1, 1861. P. 236-239.
10
4
D. José M. Pantoja; D. Antonio M. Floret. Ley hipotecaria: comentada y explicada, concordada con
las leyes y códigos extranjeros, comparada con las disposiciones de la legislacion española que han
servido de precedente para redactarla: precedida de una introduccion histórica y de la exposicion de
sus motivos y fundamentos. Vol. 2, 1862. P. 241-244, 259-288.
11
5
F. A. F. da S. Ferrão. O cadastro e a propriedade predial ou sobre a questão se a organização do
cadastro pode ter logar de fórma que não só fique sendo o tombo da propriedade predial...: relatorio
annotado. Lisboa: Na Imprensa Nacional, 1849. P. 6 nota 1, 13-15, 30.
12
6
Sobre esta parte falaremos no terceiro capítulo.
7
Mónica Jardim, A Evolução Histórica da Justificação de Direitos de Particulares para Fins do Registo
Predial e a Figura da Justificação na Actualidade. In: Escritos de Direito Notarial e Direito Registal.
Coimbra: Almedina, 2015. P. 392.
8
Diário do Governo n.º 157/1918, 1ª série, p. 1259-1261, disponível: Arquivo Nacional de torre do
tombo.
13
9
Mónica Jardim, A Evolução Histórica…, op. cit., p. 392.
10
Diário do Governo n.º 220/1922, 1ª série, p. 1198-1211, sítio: https://dret.pt/web/guest/pesquisa-
avancada. Acesso: 08/02/2020.
11
Diário do Governo n.º 145/1926, 1ª série, p. 729-731, sítio: https://dret.pt/web/guest/pesquisa-
avancada. Acesso: 14/08/2020.
14
20
Essa missão de acordo com o artigo 22.º da lei 2:049, em cada conselho era nomeada pelo
Ministro da Justiça e constituída, por um inspetor ou conservador do registo predial e pelo pessoal
auxiliar que fosse necessário.
21
Mónica Jardim, A Evolução Histórica…, op. cit., p. 401, nota 30 e 31.
22
Vicente J. Monteiro. Desjudicialização da Justificação de Direitos sobre Imoveis, p. 5 Sítio:
https://cenor.fd.uc.pt/site/ . Acesso: 26 jun. 2018.
23
Exposição de motivos, na nota 5 do decreto-lei n.º 40 603, 18 de Maio de 1956.
24
Diário do Governo n.º 102/1956, 1ª série, p. 535-542, sítio: https://dret.pt/web/guest/pesquisa-
avancada. Acesso: 08/02/2020.
25
Trata-se de uma série de medidas que vão faze-lo funcionar como condição de disponibilidade, por
negócios jurídicos inter vivos, dos direitos que deveriam constituir o seu objeto- nota 6 da exposição
de motivos.
26
Exposição de motivos, na nota 6 do decreto-lei.
17
Este decreto é importante pois com ele surgiu a justificação notarial. Na nota
7 da exposição de motivos, encontramos as principais razões da sua criação,
primeiro ao contrário do que acontecia com a justificação extrajudicial o artigo 27.º,
da Lei n.º 2:049 que se aplicava apenas ao regime do registo obrigatório, a
justificação notarial era mais abrangente permitindo que além deste, fosse possível
recorrer no âmbito do registo facultativo (artigo 20.º, § 5.º DL n.º 40 603), aplicando-
se a propriedades perfeitas e imperfeitas. Esta justificação se aplicava além dos
casos de 1ª inscrição (artigo 20.º) como já acontecia nas demais justificações
anteriores, neste passou pela primeira vez aplicar aos casos de reatamento do trato
sucessivo27 (artigo 22.º, § 1.º). Este último caso representava uma grande inovação
e com certeza um progresso já que com esta medida previa-se resolver o problema
do preenchimento do trato sucessivo ao prever no artigo 22.º o suprimento da falta
de intervenção do titular inscrito quando já existia inscrição de transmissão, domínio,
posse do prédio, isto porque o registo encontrava-se muitas vezes com informação
desatualizada e estando o prédio em nome de quem já não era o seu atual
proprietário, previa-se que o justificante teria que identificar os sujeitos e as causas
das suas aquisições que tivessem ocorrido, apresentando os respetivos
documentos, mas devido as enumeras transmissões intermédias tornava-se difícil
fazer o encadeamento de todas as transmissões desde o titular inscrito até a sua,
ainda mais se fossem decorrência de factos sucessórios, por o proprietário atual não
possuir os documentos dessas transmissões intermédias. Noutras situações a
justificação notarial vinha suprir a falta de documentos que muitos proprietários não
possuíam para comprovar o seu próprio direito e aceder ao registo.
Deste modo prometia na exposição de motivos que a justificação
relativamente ao reatamento do trato sucessivo no artigo 22.º, seria mais económico
e expedito na resolução dessas situações, para tentar dessa forma evitar a
desvalorização da propriedade imobiliária e conseguir que acedesse aos serviços de
registo.
Mas de forma a evitar que alguns pudessem de alguma forma fugir aos meios
normais e recorrer a esta figura, limitou o acesso a mesma apenas aos direitos que
tivessem sido adquiridos até a publicação desse diploma, artigo 20.º, 1ª parte e 22.º
ultima parte.
27
Mónica Jardim, A Evolução Histórica…, op. cit., p. 403.
18
28
Diário do Governo n.º 231/1959 1ª série, p.1263-1300, sítio: https://dret.pt/web/guest/pesquisa-
avancada. Acesso: 08/02/2020.
29
Mónica Jardim, A Evolução Histórica…, op. cit., p. 406.
20
30
Nota 6 da exposição de motivos desse decreto.
31
Sobre a presunção do registo será tratado no terceiro capítulo.
21
32
Diário do Governo n.º 92/1960, 1ª série, p. 933-974, sítio: https://dret.pt/web/guest/pesquisa-
avancada. Acesso: 08/02/2020.
33
Diário do Governo n.º 273/1935, 1ª série, p.1799-1830, sítio: https://dret.pt/web/guest/pesquisa-
avancada. Acesso: 08/02/2020.
22
34
Nota 2 da exposição de motivos.
35
Aprovado pelo decreto-lei n.º 47 611, 28 de Março de 1967, Diário do Governo n.º 74/1967, 1ª
série, p. 623-656, sítio: https://dret.pt/web/guest/pesquisa-avancada. Acesso: 08/02/2020.
36
Nota 3 da exposição de motivos.
37
Aprovado pelo decreto-lei n.º 47 619, 31 de Março de 1967, Diário do Governo n.º 77/1967, 1ª
série, p. 665-697, sítio: https://dret.pt/web/guest/pesquisa-avancada. Acesso: 08/02/2020.
23
38
Diário do Governo n.º 295/1979, 1ª série, p. 3334 (76) – 3334 (82), sítio:
https://dret.pt/web/guest/pesquisa-avancada. Acesso: 08/02/2020.
39
Diário do Governo n.º 155/1984, 1ª série, p. 2052 (1) – 2052 (40), sítio:
https://dret.pt/web/guest/pesquisa-avancada. Acesso: 08/02/2020.
40
Nota 4 da exposição de motivos.
24
41
Diário do Governo n.º 195/1984, 1ª série, p. 2592 - 2596, sítio: https://dret.pt/web/guest/pesquisa-
avancada. Acesso: 08/02/2020.
25
42
Diário do Governo n.º 187/1995, 1ª série-A, p. 5047-5080, sítio: https://dret.pt/web/guest/pesquisa-
avancada. Acesso: 08/02/2020.
43
Diário do Governo n.º 238/2001, 1ª série-A, p. 6477-6490, sítio: https://dret.pt/web/guest/pesquisa-
avancada. Acesso: 08/02/2020.
26
44
Diário do Governo n.º 140/2007, 1ª série, p. 4666 (8) - 4666 (10), sítio:
https://dret.pt/web/guest/pesquisa-avancada. Acesso: 08/08/2020.
45
Diário do Governo n.º 251/2008 1ª série, p. 9187-9192, sítio: https://dret.pt/web/guest/pesquisa-
avancada. Acesso: 08/08/2020.
46
Diário do Governo n.º 158/2017, 1ª série, p. 4773-4778, sítio: https://dret.pt/web/guest/pesquisa-
avancada. Acesso: 08/08/2020.
47
Artigo 1.º da presente lei.
27
48
diretos de medição ou de forma indireta. O BUPi é um balcão físico e virtual que
agrega informação registal, matricial e georreferencia relacionada com os prédios.49
No entanto aplicação dessa lei tinha um âmbito de aplicação territorial reduzida,
como projeto-piloto (artigo 31.º). A lei n.º 65/2019 de 23 de agosto50 passou aplicar o
procedimento especial de registo aos prédios rústicos e mistos em todo território
nacional (artigo 1.º, n.º 1 alínea b), criou um procedimento especial de justificação de
prédio rustico e misto omisso que é aplicável a todo território nacional (artigo 2.º).
Passamos a poder consultar online a informação do prédio, desde que este
esteja informatizado ou até solicitar o registo online.
48
Artigo 5.º.
49
Artigo 22.º, n.º 1.
50
Diário do Governo n.º 161/2019, 1ª série, p. 2-7, sítio: https://dret.pt/web/guest/pesquisa-avancada.
Acesso: 08/08/2020.
28
está omisso no registo e por isso irá ser inscrito no registo pela primeira vez.
O interessado que pretenda registar e não tiver documento ou título que
comprove aquisição do seu direito, deve declarar perante o notário que o
direito lhe pertence com exclusão de outrem, indicando a causa da sua
aquisição. Neste último caso, traduz em dizer se adquiriu por compra e venda,
doação, sucessão ou de outra forma. No entanto não basta indicar a causa,
deve também indicar a razão de apesar de ter adquirido dessa forma não
poder comprovar pelos meios normais, trata-se aqui de indicar se o
documento se perdeu, não sabe onde está, se foi destruído por algum
incendio, ou se extraviou, ou não se chegou a formalizar.
Se o interessado ao recorrer a justificação para 1ª inscrição alegar
aquisição pela via da usucapião baseada na posse não titulada, o que ao fim
cabo quer dizer não teve na base qualquer transmissão por abandono do
titular ou tendo existido essa transmissão seja por o contrato, doação a
mesma foi verbal. Nesse caso torna-se necessário que, aquele indique
expressamente as circunstâncias de facto que levaram o início da posse51.
Indicar as circunstâncias que consubstanciam e caraterizam a posse geradora
da usucapião, não se trata aqui indicar termos jurídicos mas sim de indicar os
atos praticados que levam a concluir que efetivamente exerceu a posse52,
como no caso de prédios rústicos, que plantou, limpou o mato, colheu frutos a
vista de toda gente e sem oposição de ninguém, sendo um prédio urbano,
que realizou obras na casa, obteve licença de construção, deu festas, fez
jantares convidando amigos e familiares na convicção de ser dono e não
lesando direito alheio.
2- Justificação para reatamento do trato sucessivo – vem regulado no artigo
116.º, n.º 2, 1ª parte CRegP e artigo 90.º CN. Neste caso o registo já se
encontra em nome de outro titular, por inscrição de aquisição,
51
Segundo parecer técnico pode ser invocado como início da posse uma venda ou doação verbal.
Proc. Nº R.P. 347/2002 DSJ-CT, publicado no II Caderno do BRN n.º 3/2004, p. 3. Sítio:
https://www.irn.mj.pt/IRN/sections/irn/legislacao/publicacao-de-brn/boletins-dos-registos-e/ . Acesso:
16/01/2019. No mesmo sentido Dr.ª Mónica Jardim. A Evolução Histórica…, op. cit., p. 422-423.
52
Nesse sentido pode se verificar no parecer técnico que os atos materiais de posse devem ser de
acordo com utilidade da coisa. Sítio: Proc. Nº R.P. 347/2002 DSJ-CT…, op. cit., p. 4. Tem que se
concretizar os atos matérias praticados em nome do justificante e indicar o início da posse sob pena
de ser considerado título manifestamente insuficiente. Sítio: Proc. Nº R.P. 83/98 DSJ-CT, publicado
no II Caderno do BRN n.º 2/1999, p.11-12. Sítio:
https://www.irn.mj.pt/IRN/sections/irn/legislacao/publicacao-de-brn/boletins-dos-registos-e/ . Acesso:
16/01/2019.
29
53
José da Fonseca e Silva. A nova política registal: Incidências no notariado. Revista do notariado,
Associação Portuguesa dos Notários, Lisboa, p.38, Jan./Mar. 1985. Trimestral.
54
A. M. Borges De Araújo. Da justificação. In: Prática Notarial. 4.ª Ed. Coimbra: Almedina, 2003.
Cap. 3, p. 353. Colaboração: Albino Matos.
55
Proc. Nº R.P. 143/2000 DSJ-CT, publicado no II Caderno do BRN n.º 3/2001, p. 6-7. Sítio:
https://www.irn.mj.pt/IRN/sections/irn/legislacao/publicacao-de-brn/boletins-dos-registos-e/ . Acesso:
16/01/2019.
30
56
A. M. Borges De Araújo. Da justificação…, op. cit., p. 353.
57
Orlando Carvalho. Introdução à posse. In: Direito das coisas p. 290. Colaboração: Francisco
Liberal Fernandes, Maria raquel Guimarães, Maria Regina Redinha.
31
62
Arménio Ferreira. A Escritura De Justificação Notarial. 1984. P. 28. Dissertação (Mestrado) -
Curso de Curso de Mestrado em Ciências Jurídicas, Área Cientifica dos Registos e Notariado,
Faculdade de Direito de Lisboa, Lisboa, 1985.
33
63
Proc. Nº R.P. 347/2002 DSJ-CT…, op. cit., p. 3.
64
José da Fonseca e Silva. A nova política…, op. cit., p. 35-36.
34
declarações previstas nos artigos anteriores (artigo 89.º,90.º, 91.º CN). O artigo 9.º,
n.º 3 CRegP exceciona os casos de justificação simultânea, permitindo que seja
titulada a transmissão apesar de não estar registado em nome do transmitente. A
justificação simultânea só faz sentido se no momento da venda o
vendedor/transmitente não tem o registo em seu nome e não tem o título que
comprove a sua titularidade e aproveita que vai vender e faz a justificação ficando
titulada a transmissão.
66
O Dr. José Fonseca e Silva entendia que o conjugue na ausência prolongada do esposo podia no
âmbito de administração dos bens recorrer e justificar como bem conjunto do casal. In: José da
Fonseca e Silva. Justificação para fins de registo predial. Algumas questões. Revista do Notariado,
Lisboa, Ano VI n. 24, p. p.203-204, 2 abr./Jun. 1986. Trimestral. No entanto no parecer técnico
entendesse que com DL n.º 273/2001 de 13 de outubro, que se verificou uma ampliação da
legitimidade de outorgar a justificação, pondo de parte o problema do consentimento conjugal para
obtenção título para registo de bens comuns, por a legitimidade não se esgotar na titularidade do
bem, ver: Parecer do CT de 30-06-2011, Proc. Nº R.P. 39/2011 SJC-CT, p. 6, nota 9. Sítio:
https://www.irn.mj.pt/IRN/sections/irn/doutrina/pareceres/Pareceres-Conselho-Tecnico/ . Acesso:
22/01/2019. O Dr. Fernando Neto Ferreirinha entende que na doutrina oficial a justificação não é
considerado um mero ato de administração e citando uma sentença proferia em 16-02-2004 pelo
tribunal de circulo do funchal, vara mista, onde atribui legitimidade ao cabeça de casal para por si só,
justificar a favor e em benefício de todos demais titulares. Ver: Fernando Neto Ferreirinha.
Justificação. In: Manual de Direito Notarial, teoria e prática. Coimbra: Almedina, 2016, p. 555.
67
No entanto tem que ficar na mesma a indicação do regime de bens e se o bem é próprio de um ou
se é comum, tal como estabelece artigo 93.º, n.º 1 alínea e) CRegP (ex.- vi artigo 44.º, n.º 1 alínea a)
36
do mesmo código) quando casado, sendo solteiro tem ser indicado se maior ou menor de idade. Ver:
Joaquim de Seabra Lopes. Direito dos Registos e do Notariado. 9.ª Ed., Coimbra: Almedina, 2018,
p. 454.
68
Mas apenas se pode admitir que este tenha legitimidade na medida que ao recorrer a justificação o
faça no interesse do dono do negócio, artigo 468.º, n.º 1 CC. Ex: se o gestor pretende vender um
prédio que pertence A, tem que se encontrar registado em nome de A. E caso não exista documento
ou não sabe onde se encontra poder recorrer a justificação notarial. Pois se pode registar ainda que
provisório por natureza pode por maioria de razão justificar, artigo 92.º, n.º 1, alínea f) do CRegP.
Mesmo posse pode ser adquirida por gestor de negócios, ver: José da Fonseca e Silva.
Justificação…, op. cit., p.192.
69
José da Fonseca e Silva. Justificação…, op. cit., p. 198; Abel Augusto Veiga da Gama Vieira.
Código do registo predial, anotações, registo comercial e de automóveis. 3.ª Ed., Coimbra,
1967. P. 199.
70
A. M. Borges De Araújo. Da justificação…, op. cit., p. 352
71
José da Fonseca e Silva. A nova política…, op. cit., p. 36. Arménio Ferreira. A Escritura..., op. cit.,
p.31. D. M. Lopes de Figueiredo. Código do Notariado (actualizado) com algumas notas e
comentários. Coimbra: Almedina, 1991. P. 319; Fernando Neto Ferreirinha. Justificação…, op. cit., p.
547.
72
José da Fonseca e Silva. A nova política…, op. cit., p. 36.
37
se recorda qual foi o cartório que outorgou a escritura ou que ela se perdeu
não seriam razões credíveis, e que quando se invocar que a mesma teria
sido destruída por um incendio, inundação ou outra situação de calamidade,
devia ser apurado se essa situação de facto se verificou. Por outro lado
quando se tratar de algumas das aquisições intermédias já se deveria ter
mais tolerância, pois se nesse caso não se pudesse localizar a escritura ou
se uma dessas aquisições fosse verbal apesar de os intervenientes estarem
vivos e possíveis de localizar, já seria compreensível até devido ao lapso de
tempo decorrido até a aquisição do justificante73. No entanto refere que se o
justificante invoca que o contrato ao qual interveio foi verbal e não pode
recorrer aos meios normais por que entretanto faleceu ou esta ausente por
parte incerta o transmitente, essa sim já seria uma razão plausível.74
73
I José da Fonseca e Silva. A nova política…, op. cit., p. 39.
74
Ibidem, p. 36.
75
Estes não podem ser representados, tem intervir pessoalmente. In: José Marques de Almeida.
Justificações Notariais. Coimbra. 1963. P. 47.
76
``testemunhas, aqui, acentua-se já, instrumentárias, como lhes chama o art. 81.º, ou seja,
testemunhas do instrumento, não dos factos, isto é, do próprio documento, não da situação
documentada´´. Ver: Albino Matos. Justificação - Registo predial - Compra e venda - Usucapião. In:
MATOS, Albino. Temas de Direito Notarial, Doutrina-Jurisprudência-Práctica. Coimbra: Almedina,
1992. P. 440 nota 5. Tomo I.
77
D. M. Lopes de Figueiredo. Código do Notariado..., op. cit., p. 308 e 328. Referia que aos
familiares do autor da herança não se aplica restrição e mais a frente remete dos declarantes da
justificação notarial para o que disse nessa parte.
38
Advertência das falsas declarações – o artigo 97.º CN, como sabemos, foi
declarado inconstitucional com força obrigatória geral por violação da alínea
c), do n.º 1 do artigo 165.º CRP (Acórdão do TC n.º 96/2015, de 03-03). No
entanto parece-nos que ainda assim deve ser advertido o justificante e os
declarantes sobre as falsas declarações, visto ser uma decorrência legal, que
nem precisava ser referido no CN, visto já resultar do código penal, artigo
348.º-A CP conjugado com o artigo 153.º, n.º 2 CRegP. Até porque o
desconhecimento da lei, não faz com que a mesma não exista, pelo contrário
78
Arménio Ferreira. A Escritura …, op. cit., p. 34.
39
79
No mesmo sentido o voto de vencido no acórdão indicado da Juíza Maria Fátima Mata-Mouros que
diz ``A uma advertência sem sanção (criminal) deverá seguir-se uma sanção criminal sem prévia
advertência´´.
80
Entendimento que também é confirmado pelo parecer técnico que entende que a norma é
imperativa e por isso o notário deve recusar a realização da escritura se não se encontrar inscrito na
matriz em nome do justificante. Ver: Proc. Nº R.P. 253/2002 DSJ-CT, publicado no II Caderno do
BRN n.º 11/2003, p. 9. Sítio: https://www.irn.mj.pt/IRN/sections/irn/legislacao/publicacao-de-
brn/boletins-dos-registos-e/ . Acesso: 16/01/2019. Proc. Nº R.P. 107/2003 DSJ-CT, publicado no II
Caderno do BRN n.º 11/2003, p. 13-14. Sítio:
https://www.irn.mj.pt/IRN/sections/irn/legislacao/publicacao-de-brn/boletins-dos-registos-e/ . Acesso:
16/01/2019. Fernando Neto Ferreirinha. Justificação…, op. cit., p. 560.
81
José da Fonseca e Silva. Justificação…, op. cit., p. 206.
82
Proc. Nº R.P. 107/2003 DSJ-CT…, cit., p. 13.
83
Fernando Neto Ferreirinha. Justificação…, op. cit., p. 560.
40
84
A. M. Borges De Araújo. Da justificação…, op. cit., p. 358-359.
85
Fernando Neto Ferreirinha. Justificação…, op. cit., p. 562. Nesse sentido o parecer técnico, Proc.
Nº R.P. 83/98 DSJ-CT…, op. cit., p. 12. Noutro parecer também acrescenta que fazendo prova da
existência do alvará ou de que dela está dispensada mas desde que o prédio não tenha sofrido
alterações. Ver: Parecer do CT de 23-09-2010, Proc. Nº R.P. 39/2010 SJC-CT, p. 15. Sítio:
https://www.irn.mj.pt/IRN/sections/irn/doutrina/pareceres/Pareceres-Conselho-Tecnico/ . Acesso:
22/01/2019. Sendo ainda referenciado noutro parecer que a licença de utilização é aplicado a todas
as modalidades de justificação de direito embora não exista unanimidade, ver: Parecer do CT de 26-
05-2009, Proc. Nº R.P. 254/2008 SJC-CT, p. 15. Sítio:
https://www.irn.mj.pt/IRN/sections/irn/doutrina/pareceres/Pareceres-Conselho-Tecnico/ . Acesso:
22/01/2019. Existe um voto de vencido que entende que no caso da invocação da usucapião esta
licença não se deve aplicar. Ver: Proc. Nº R.P. 27/2000 DSJ-CT, publicado no II Caderno do BRN n.º
6/2002, p. 6. Sítio: https://www.irn.mj.pt/IRN/sections/irn/legislacao/publicacao-de-brn/boletins-dos-
registos-e/ . Acesso: 16/01/2019.
41
86
Segundo o parecer técnico, se a notificação ao titular inscrito, não tiver sido feita da forma exigida,
sendo feita notificação edital quando se conhecia a morada do titular, tem se por não efetuada a
notificação, considerando como titulo manifestamente insuficiente para prova do facto, para se
proceder o registo e se este se vier a se verificar o registo é nulo. Ver: Parecer do CT de 16-12-2010,
Proc. Nº R.P. 129/2010 SJC-CT, p. 9, 11-12. Sítio:
https://www.irn.mj.pt/IRN/sections/irn/doutrina/pareceres/Pareceres-Conselho-Tecnico/ . Acesso:
22/01/2019. Não vale como notificação, a certidão do processo judicial da ação declarativa proposta
contra os réus (os titulares inscritos) a fim de reconhecerem o direito do justificante e por isso só se
podia fazer o registo provisório por dúvidas, entendimento diferente no voto de vencido do Vogal
António Manuel Fernandes Lopes, que entendeu que deveria ser recusado o registo pois desta ação
não resulta um efetivo conhecimento de vir a existir a justificação que se verifica quando é feita a
notificação, ver: Parecer do CT de 16-11-2011, Proc. Nº R.P. 136/2011 SJC-CT, p. 4-9. Sítio:
https://www.irn.mj.pt/IRN/sections/irn/doutrina/pareceres/Pareceres-Conselho-Tecnico/ . Acesso:
22/01/2019.
87
Entende o autor, Fernando Neto Ferreirinha. Justificação notarial para fins do registo predial. In:
Anexo BRN n.º 01/2004, p. 8. Sítio: https://www.irn.mj.pt/IRN/sections/irn/legislacao/publicacao-de-
brn/boletins-dos-registos-e/ . Acesso: 16/01/2019, que se o titular inscrito se prontifique a aparecer
como declarante já não é necessário a sua notificação.
42
88
A. M. Borges De Araújo. Da justificação…, op. cit., p. 361.
89
José da Fonseca e Silva. Justificação…, op. cit., p. 212.
90
A falta de notificação do titular inscrito determina que a justificação seja um título manifestamente
insuficiente para a prova legal do facto para ser feito o registo, e como tal deve ser recusado pelo
conservador. Ver: Fernando Neto Ferreirinha. Justificação…, op. cit., p. 581-582.
91
O autor Vicente J. Monteiro. Desjudicialização da Justificação …, op. cit., p.18, parece ter uma
posição semelhante, pois entende que não havendo inscrição no processo de justificação, não haverá
citação antes a decisão final embora possa haver outros interessados.
43
92
A definir na portaria do membro do Governo responsável pela área da justiça: portaria 621/2008, de
18 de julho (com alterações da portaria n.º 283/2013, de 30/08). No artigo 7.º dessa portaria, diz que
as notificações editais e decisão de processo de justificação é feito no sítio: www.predialonline.mj.pt.
93
A. M. Borges De Araújo. Da justificação…, op. cit., p. 365.
44
94
Dr. Neto ferreirinha entende que ainda a lugar ao pagamento €24,94 do artigo 14.º da anterior
tabela emolumentar. In: Fernando Neto Ferreirinha. Justificação…, op. cit., p.587.
95
Verifique que assim que é feito a justificação é devido o valor desse imposto ainda que o
justificante venha mudar de ideias e optar por outro meio, como referência vamos indicar alguns
acórdãos: Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo de 12.10.2016, Processo: 0718/15, Relator:
Francisco Rothes. Sítio: http://www.dgsi.pt. Acesso: 21 março. 2020; Acórdão do Supremo Tribunal
Administrativo de 29.03.2017, Processo: 01372/16, Relator: Fonseca Carvalho. Sítio:
http://www.dgsi.pt. Acesso: 21 março. 2020; Acórdão do Tribunal central Administrativo sul de
09.03.2017, Processo: 06842/13, Relator: Fonseca Carvalho. Sítio: http://www.dgsi.pt. Acesso: 21
março. 2020.
96
Fernando Neto Ferreirinha. Justificação…, op. cit., p. 587-588
97
Diário da República n.º 90/2004, série I-B de 2004-04-16, sítio: https://dre.pt/web/guest/pesquisa-
avancada. Acesso: 08/08/2020.
98
Diário da República n.º 128/2008, série I de 2008-07-04, sítio: https://dre.pt/web/guest/pesquisa-
avancada. Acesso: 08/08/2020.
99
José Marques de Almeida. Justificações Notariais. Coimbra. 1963, p. 49.
45
geral dos Registos e do notariado que possa ter lugar. No entanto o notário não
pode recusar no caso dos atos anuláveis e ineficazes apenas pode advertir os
interessados e consignar no instrumento essa advertência que o fez (artigo 174.º).
Todos os documentos devem ficar arquivados na escritura, com exceção da
caderneta que apenas é apresentada ao notário.100
Os meios de prova que devem ser apresentados para a realização da
justificação são as provas documentais e testemunhais.101
100
António Magro Borges De Araújo; João Mota Pereira De Campos. Justificação Notarial e
Registo Obrigatório: Decreto-lei n.º 40.603, Portaria n.° 16.036, Despachos Ministeriais, Fórmulas e
ligeiros comentários. Braga: Petrony, 1958. Colecção «Serviços Do Notariado», p. 44.
101
José Luís Bonifácio Ramos. O registo predial. In: Manual de Direitos reais. Lisboa: AAFDL, 2017,
p. 235.
46
2. Usucapião
Neste capítulo vamos centrar apenas sobre bens imoveis e tentando ser o mais
objetivos possíveis direcionando essencialmente a parte que tem interesse no
presente tema. A usucapião é relevante incluir na análise que são os possuidores
que tem maior interesse em recorrer a justificação notarial.
2.1- Requisitos
1- A posse – para que possa existir a usucapião primeiramente tem que existir
posse103, mas não uma qualquer posse e sim aquela que de facto possa levar
a aquisição do direito cuja posse traduz104. Mas vamos por partes, como diz o
ditado a pressa é inimiga da perfeição.
A posse é o resultado da junção de dois elementos o corpus e o
animus105. O corpus é o comportamento do possuidor perante a coisa
possuída ou seja é a prática de atos materiais num imóvel ou móvel que se
traduz num comportamento próprio de quem age como dono do mesmo, que
pode ser feito diretamente ou por intermédio de alguém em seu interesse. Já
o animus é a intenção que traduz a vontade de agir como dono através dos
atos que pratica que de facto é dono do imóvel ou ainda que espiritualizado
quando exercido esses atos por intermedio de outra pessoa.106
102
Durval Ferreira. Usucapião. In: Posse e Usucapião. Coimbra: Almedina, 2002. P.437 e 448; Abílio
Vassalo Abreu. A «relação de coexistência» entre usucapião e o registo predial no sistema jurídico
português. In: Estudos em homenagem ao Prof. Doutor Manuel Henrique Mesquita. Vol. I,
Coimbra: Coimbra editora, 2009. P. 44.
103
José Puig Brutau. Conceptos generales. In: Caducidad, prescripción extintiva y usucapión. 1.ª
Ed., Barcelona: Bosch, casa editorial, S.A.,1988. P. 11, 14.
104
Durval Ferreira. Posse. In: Posse e Usucapião. Coimbra: Almedina, 2002. P.55.
105
Abílio Vassalo Abreu. A «relação de coexistência» …, op. cit., p.70. Manuel Rodrigues. A posse,
estudos de direito civil português. 4.ª Ed., Coimbra: Almedina, 1996. P. 182.
106
Orlando Carvalho. Introdução à posse…, in op. cit., p. 262 e 267; Manuel Rodrigues. A posse…,
op. cit., p. 191. J. Dias Marques. Prescrição aquisitiva. Lisboa. Vol. I, 1960. P. 29-30,32.
47
107
Entendia DR. Orlando Carvalho que nesta noção se podia encontra o corpus (exercício de poderes
de facto) e animus (em termos de um direito real). Ver: Orlando Carvalho. Introdução à posse…, op.
cit., p. 268.
108
Em anotação ao artigo 1251.º CC: Pires de Lima; Antunes Varela. Código civil anotado. 2.ª Ed.,
Vol. III (artigos 1251.º a 1575.º), Coimbra: Coimbra editora, 1987, p. 5.
109
Não se trata de uma investigação exaustiva, visto que o objetivo deste trabalho não é centrar na
usucapião. Entre eles: Orlando Carvalho. Introdução à posse…, op. cit., p. 269; J. Dias Marques.
Prescrição aquisitiva…, cit., p. 8 e 12; Inocêncio Galvão Telles. Condição ou modo e usucapião.
Separata da revista «O Direito». Lisboa, A. 121º, N.º 3, p. 652, 1989.
110
Orlando Carvalho. Introdução à posse…, op. cit., p. 269; Em anotação ao artigo 1251.º CC: Pires
de Lima, VARELA, Antunes. Código civil anotado…, op. cit., p. 1.
111
Orlando Carvalho. Introdução à posse…, in op. cit., p. 269.
112
J. Dias Marques. Prescrição aquisitiva…, in op. cit., p.15; José Puig Brutau. Conceptos
generales…, op. cit., p. 10 e 14.
48
2- Capacidade para adquirir – diz o n.º 1 do artigo 1289.º CC que todos que
puderem adquirir irão beneficiar da usucapião. Adquirir o quê? Direito.
Aqueles que adquiriram posse podem vir a adquirir por via da usucapião e por
isso os requisitos para adquirir a posse são indiretamente requisitos para a
usucapião. O artigo 1266.º CC que determina que só podem adquirir posse os
que tem uso da razão, não o tendo, por representantes, artigo 1252.º n.º 1
CC), salvo se for coisas suscetíveis de ocupação (coisas moveis, artigo
1318.º CC) que pode adquirir por si mesmo sem precisar de ter o uso da
razão. Tem entendido a doutrina, que aquele que tem o uso da razão, não é
aquele que tem capacidade de exercício basta que tenha a capacidade
natural, de entender e querer115. Seguindo a posição do Dr. Penha Gonçalves
entende que artigo 1289.º, n.º 1 CC, tem manifesta correspondência com o
princípio da capacidade jurídica que se encontra regulado no artigo 67.º CC
em que podem ser titulares de direitos adquiridos pela via usucapião tanto os
capazes como os incapazes116. Mas sendo assim nos estamos a falar de
capacidade de gozo ou de exercício?117 Dr. Durval Ferreira entende que no
n.º 1 do artigo 1289.º CC teríamos capacidade de gozo mas no n.º 2
capacidade de exercício118.
113
Augusto da Penha Gonçalves. Posse. In: Curso de Direitos Reais. 1.ª Ed., Lisboa: Universidade
lusíada, 1992. P. 270.
114
Orlando Carvalho. Introdução à posse…, op. cit., p. 310.
115
Ibidem, p. 274-275; Em anotação ao artigo 1266.º CC: Pires de Lima, Antunes Varela. Código civil
anotado…, op. cit., p. 31. J. Dias Marques. Prescrição aquisitiva…, op. cit., p. 121, 125; José Puig
Brutau. Conceptos generales…, op. cit., p. 8. O uso da razão seria a forma de capacidade jurídica:
Durval Ferreira. Posse…, op. cit., p. 47, 241. Durval Ferreira. Usucapião…, op. cit., p. 448. Manuel
Rodrigues. A posse..., op. cit., p. 193; Isabel Ferreira Quelhas Geraldes, Olga Maria Barreto
Gomes. Justificação relativa ao trato sucessivo. Coimbra: Almedina, 2017. P. 34.
116
Augusto da Penha Gonçalves. Posse…, op. cit., p. 296.
117
Parece no entanto que tem diferente posição Dr. José Luís Bonifácio Ramos. O registo predial. In:
RAMOS, José Luís Bonifácio. Manual de Direitos reais. Lisboa: AAFDL, 2017, p. 208, quando diz ``
… na importância das regras de capacidade para adquirir, em linha com as relativas à capacidade de
exercício.´´; Orlando Carvalho. Introdução à posse…, op. cit., p. 276 – entende que a capacidade de
adquirir pela via da usucapião é mais ampla que a posse.
118
Durval Ferreira. Usucapião…, op. cit., p. 448.
49
usucapivel.119 Tem que tratar-se de uma coisa que esteja dentro do comércio
(artigo 202.º CC). As coisas consideradas dentro do comércio são as
pertencentes ao domínio privado, que sejam suscetíveis de apropriação
individual, incluindo um bem privado do estado, neste ultimo caso se exige o
acréscimo de mais de metade do prazo normal (artigo 1.º na Lei n.º 54, de 16
de julho de 1913 por força da remissão do artigo 1304.º CC). Estão excluídos
as coisas do domínio público, e as coisas do domínio privado indisponível.120
Para se poder apropriar individualmente de uma coisa, ela deve ser atual e
determinada121.
4- Tem que ser a posse de uma coisa do qual resulta o surgimento de um direito
de propriedade ou de outros direitos reais de gozo122 (artigo 1287.º CC) –
exclui automaticamente quaisquer outros direitos reais que pudessem de
alguma forma ser invocado para esse efeito. Os direitos reais de gozo são: o
direito de propriedade, usufruto, propriedade horizontal, direito de superfície,
servidões prediais, direito de uso e habitação. Mas nem todos são
usucapíveis como determina o artigo 1293.º CC (estão excluídos as servidões
prediais não aparentes e direito de uso e habitação).123 Entende Mestre
Vassalo Abreu que a exclusão das servidões prediais não aparentes se tratou
de uma escolha discricionária do legislador124 e enquanto aos direitos de uso
e habitação tem a ver com natureza intuitu personae, sendo exercido pelo
titular e sua família, que de outra forma teríamos um resultado contrário ao
que a lei pretende.125 No presente trabalho o que interessa é apenas o direito
de propriedade e a propriedade horizontal. Mas os restantes direitos reais de
gozo para os registar por aquisição pela via usucapião, na falta de
119
J. Dias Marques. Prescrição aquisitiva…, op. cit., p. 139, 145-146.
120
Durval Ferreira. Usucapião…, op. cit., p. 444; J. Dias Marques. Prescrição aquisitiva…, op. cit.,
p. 146-148; em anotação ao artigo 1296.º CC: Pires de Lima, Antunes Varela. Código civil
anotado…, op. cit., p. 77. António Menezes Cordeiro. Da usucapião de imoveis em Macau. Separata
da revista da Ordem dos Advogados, Lisboa, A. 53, n.º 1, p. 39.1993; José Puig Brutau. Conceptos
generales…, op. cit., p. 9.
121
J. Dias Marques. Prescrição aquisitiva…, op. cit., p. 157, 161. Augusto da Penha Gonçalves.
Traços característicos dos direitos reais, em geral. In: Curso de Direitos Reais. 1.ª Ed., Lisboa:
Universidade lusíada, 1992. P. 79.
122
Abílio Vassalo Abreu. A «relação de coexistência» …, op. cit., p. 44.
123
J. Dias Marques. Prescrição aquisitiva…, op. cit., p. 145-146; José Puig Brutau. Conceptos
generales…, op. cit., p. 10.
124
Abílio Vassalo Abreu. A «relação de coexistência» …, op. cit., p. 60.Mas está posição não é
unanime, contra por exemplo: Augusto da Penha Gonçalves. Posse…, op. cit., p. 293.
125
Abílio Vassalo Abreu. A «relação de coexistência» …, op., cit., p. 54-55.
50
5- Tem que ser uma posse pública e pacifica – tem que existir a posse a vista de
toda a gente de forma a permitir ser conhecida dos interessados126 e sem que
estes se oponham a ela. Se a posse for oculta ou violenta127, embora exista
posse, enquanto estes não cessarem, o prazo para aquisição pela via da
usucapião não corre128, a não ser no momento em que a situação altere e a
posse torne pública e pacífica, (artigo 1267.º, n.º 2 CC). A posse é violenta
nos casos de coação física ou moral desde que no início da posse, é
considerada de má-fé mesmo que titulada (presunção iuris et iure) ainda que
a posse venha a se tornar pacifica a mesma se mantém de má-fé (artigos
1261.º, n.º 2, 1260.º, n.º 3 CC). A publicidade que decorre da posse como
entendia o Dr. Orlando Carvalho129, é a cognoscibilidade de ser conhecido e
não o efetivo conhecimento, por isso se existe a possibilidade dos
interessados terem conhecimento, a posse é pública ainda que na prática não
o tenham efetivamente (artigo 1297.º CC).
126
Manuel Rodrigues. A posse..., op. cit., p. 189.
127
Como entendia Doutor Orlando de Carvalho, o que releva é a violência que tenha sido praticada
com consciência de provocar um determinado comportamento e com o mesmo se conformar. Orlando
Carvalho. Introdução à posse…, op. cit., p. 284. José Puig Brutau. Conceptos generales…, op. cit., p.
15.
128
Armando Triunfante. A usucapião e seus efeitos: fixação temporal do efeito retroativo da
usucapião, usucapião e normas imperativas. Edição comemorativa do cinquentenário do Código
civil. Lisboa: Universidade Católica Editora, p. 485, 2017; Durval Ferreira. Posse…, op. cit., p. 280.
129
Orlando Carvalho. Introdução à posse…, op. cit.,. 287.
51
130
Todas as presunções indicadas a partir daqui são iuris tantum.
131
Durval Ferreira. Posse…, op. cit., p. 278. Aliás este autor defende que se fosse defendido uma
boa-fé ética seria fazer uma interpretação muito restritiva; Em anotação ao artigo 1260.º CC: Pires de
Lima, Antunes Varela. Código civil anotado…, op. cit., p. 20; Orlando Carvalho. Introdução à posse…,
op. cit., p. 282; Defende boa-fé ética: José A.R.L. González. Usucapião e fracionamento de prédios
rústicos. Revista do Ministério Público, Lisboa, Ano 37 n. 148, p. 12, out./dez. 2016. Trimestral;
Manuel Rodrigues. A posse..., op. cit., p. 340-341.
132
António Menezes Cordeiro. Classificações da posse. In: A posse: perspectivas dogmáticas
actuais. 3.ª Reimpressão da 3.ª edição de outubro/2000, Coimbra: Almedina, 2014. P. 95-96.
133
Orlando Carvalho. Introdução à posse…, op. cit., p. 276 e 282; Em sentido contrario: José Puig
Brutau. Conceptos generales…, op. cit., p. 11.
134
Orlando Carvalho. Introdução à posse…, op. cit., p. 277-278, 280. José A.R.L. González.
Usucapião e fracionamento…, op. cit., p. 12; Fernando Pereira Rodrigues. Usucapião, constituição
originária de direitos através da posse. Coimbra: Almedina, 2008. P.58.
135
Em anotação ao artigo 1259.º CC: Pires de Lima, VARELA, Antunes. Código civil anotado…, op.
cit., p. 18-19. Este autor entende que pode ter posse titulada em caso de coação, até de simulação
absoluta, exceto naqueles casos em que não haja posse e por isso nem se poe a questão ser
titulada.
52
comprador não haverá posse por falta de animus, quando muito haveria
detenção). Quando existe uma situação de falta de vontade como na
simulação absoluta136 e na reserva mental (quando esta é do conhecimento
do declaratário), não podemos falar de posse137 e muito menos se é titulada
ou não, a não ser que estejamos perante uma inversão do título da posse, já
que aquele tem mera detenção. No caso simulação relativa, a dissimulação
resulta a vontade transferir e adquirir negócio diferente do declarado (por ex.:
uma doação ao em vez de compra e venda), temos posse e se tiver
preenchido a forma necessária é titulada. Ao passo que a posse não titulada
se verifica quando a falta de forma, ou quando a posse tenha sido adquirida
de forma originária138 (pratica de atos materiais de forma reiterada
correspondente ao exercício de um direito, por inversão do título da posse
mas quando não tenha intervindo um ato de terceiro pois caso contrário seria
titulada artigo 1263.º CC, esbulho)139. Quando falamos de posse titulada ou
não, temos de ter presente que é de posse formal que se trata e não causal.
A lei estabelece que o título não se presume mas têm que ser provado, por
isso aquele que alega que possui um título tem que dar provas da sua
existência, artigo 1259.º, n.º 2 CC.140
Não iremos nos referir a mera posse por não ser relevante para objeto
do nosso estudo. No que se refere aos prazos para a aquisição da usucapião
de imoveis: Se houver titulo e registo estando de boa-fé é de 10 anos, se for
de má-fé são de 15 anos, contando o prazo desde da data do registo (artigo
1294.º CC). Não havendo registo, sendo ou não titulada, estando de boa-fé o
prazo é de 15 anos, estando de má-fé é de 20 anos (1296.º).
7- A posse tem que ser mantida por certo lapso de tempo (artigo 1287.º CC) –
se tem entendido e muito bem que não se trata de uma posse efetiva mas
basta a possibilidade de a poder continuar141. Até porque a aquisição da
136
Manuel Rodrigues. A posse..., op. cit., p. 227; José Puuiig Brutau. Conceptos generales…, op. cit.,
p. 12.
137
Orlando Carvalho. Introdução à posse…, op. cit., p. 262, 278; Durval Ferreira. Posse…, op. cit., p.
272.
138
Ibidem, p. 290 e seg.
139
José A.R.L. González. Usucapião e fracionamento, op. cit., p.12.
140
Durval Ferreira. Posse…, op. cit., p. 296; José Puig Brutau. Conceptos generales…, op. cit., p. 13.
141
Em anotação ao artigo 1257.º CC: Pires de Lima, Antunes Varela. Código civil anotado…, in op.
cit., p.15-16; Durval Ferreira. Posse…, op. cit., p. 233, 262, 264; António Menezes Cordeiro. Da
53
usucapião…, op. cit., p. 37; posição diferente: José A.R.L. González. Usucapião e fracionamento…,
op. cit., p. 11.
142
J. Dias Marques. Prescrição aquisitiva…, op. cit., p. 38-39.
143
Em anotação ao artigo 1263.º CC: Pires de Lima, Antunes Varela. Código civil anotado…, op. cit.,
p. 26.
144
Manuel Rodrigues. A posse…, op. cit., p. 183.
145
Durval Ferreira. Posse…, op. cit., p. 261; Em anotação ao artigo 1252.º CC: Pires de Lima,
Antunes Varela. Código civil anotado…, op. cit., p. 8.
54
prova que entretanto adquiriu a posse por inversão do título da posse ou por
transferência do anterior possuidor.146
A lei estabelece que se existir a posse de alguém em dois momentos
distintos, então aquele também o possuiu no tempo intermédio (artigo 1254.º,
n.º 1 CC).147 A posse considera-se mantida enquanto o exercício traduzir
atuação como proprietário ou enquanto for possível continuar (artigo 1257.º,
n.º 1 CC). Para se adquirir pela via da usucapião deve a posse se manter por
determinado lapso de tempo, o manter traduz então em atuar como
proprietário ou tenha a possibilidade de poder continuar (artigos 1257.º e
1287.º CC) e por isso não pode ter ocorrido a perda da posse por mais de um
ano (artigo 1267.º CC). Por exemplo em caso de esbulho (durante esse prazo
o que praticou esbulho tem a posse mas isso não faz perder a posse do
esbulhado, existe uma mera aparência de existência de duas posses em
simultâneo)148, ou no caso da inversão do titulo da posse (em que o possuidor
em nome de outrem opõe-se aquele em nome do qual possuía), durante um
ano apos estes ocorrerem pode se ainda recorrer a ação de restituição da
posse artigo (1278.º n.º 2 CC),
146
Augusto da Penha Gonçalves. Posse…, op. cit., p. 283-284.
147
Em anotação ao artigo 1254.º CC: Pires de Lima, Antunes Varela. Código civil anotado…, op. cit.,
p. 11.
148
Orlando Carvalho. Introdução à posse…, op. cit., p. 311; Durval Ferreira. Posse…, op. cit., p. 280.
149
Durval Ferreira. Usucapião…, op. cit., p. 437 e 440; José A.R.L. González. Usucapião e
fracionamento…, op. cit., p. 11; Armando Triunfante. A usucapião e seus efeitos…, op. cit., p. 486.
55
9- Por fim, tem que ser invocado a usucapião extrajudicial ou judicial para poder
dela beneficiar – pode o possuidor invocar a usucapião sem necessidade de
qualquer tipo de formalização, valendo a liberdade de forma (artigo 219.º CC),
pode no entanto optar por formalizar através da justificação notarial ou pelo
processo de justificação151 (relembrando que assim será, se apenas se faltar
documento ou embora possuindo seja insuficiente) caso pretenda registar.
Pode ocorrer que durante a ação venha a invocar como exceção a aquisição
pela via da usucapião152, no primeiro caso extrajudicial e no segundo judicial,
no entanto no presente trabalho só o primeiro caso interessa. Essa invocação
pode ser expressa ou tácita, artigo 303.º CC (ex.- vi artigo 1292.º CC)153. Ao
fazer essa invocação tem efeitos retroativos até o início da posse154. O início
da posse só pode ser a posse em nome próprio155 e por maioria de razão
quando a mesma seja pública e pacífica. Já que se a posse for oculta e
violenta o prazo não corre para aquisição pela via da usucapião, também não
deve ser contabilizado esse período de tempo quando se deva atender ao
início da posse (artigo 1267.º, n.º 2 e 1297.º CC).156
Aquele que quer valer da usucapião e pretende registar, pode recorrer a escritura
de justificação notarial e o problema que se pode colocar é se depois de o fazer, for
150
José de Oliveira Ascensão. Constituição. In: Direitos Reais. 2.ª Ed. ( reprodução da edição de
1971), Lisboa, 1973, p. 338. António Menezes Cordeiro. Da usucapião…, op. cit., p. 38; Mónica
Jardim, A Evolução Histórica…, op. cit., p. 448.
151
José A.R.L. González. Usucapião e fracionamento…, op. cit., p. 14-15; Abílio Vassalo Abreu. A
«relação de coexistência» …, op. cit., p. 80.
152
José Puig Brutau. Conceptos generales…, op. cit., p. 28, 30-31.
153
Abílio Vassalo Abreu. A «relação de coexistência» …, op. cit., p. 80.
154
José A.R.L. González. Usucapião e fracionamento…, op. cit., p. 15.
155
Armando Triunfante. A usucapião e seus efeitos…, op. cit., p. 485.
156
Diferente entendimento: Armando Triunfante. A usucapião e seus efeitos…, op. cit., p. 487.
56
157
José Puig Brutau. Conceptos generales…, op. cit., p. 6.
57
deve atender a todo o tempo desde o início da posse até a citação para a ação158, já
de outro lado TRG deve-se atender apenas ao momento em que é feito a invocação
na usucapião, pois se tratando de impugnação da escritura de justificação notarial, é
esse período que está em causa159.
Para encurtar o prazo para aquisição pela via da usucapião pode o possuidor
recorrer a acessão da posse (artigo 1256.º CC) e dessa forma juntar a sua posse, a
do seu antecessor e adquirir pela via da usucapião. Para assim suceder deve haver
uma aquisição derivada diversa da sucessão (ex.: venda, doação, etc.), por isso
estão excluídas as situações por faltar o ato de transmissão. Aquele que pretende
invocar a usucapião na escritura de justificação notarial mas ainda não tenha
completado o prazo suficiente, desde que tenha adquirido a posse derivadamente
pode juntar sua posse, a do seu antecessor e pode invocar a usucapião com base
na acessão. Se as posses tiverem natureza diferente, acessão só se dará dentro
dos limites do menor âmbito, o quer dizer se uma for posse de direito de propriedade
e outra de usufruto, será de usufruto, se for uma de boa-fé e outra de má-fé, então
será de má-fé.160
158
``Nos actos de posse a ter em conta para efeitos de prescrição aquisitiva haverá que considerar
todo o período temporal que decorreu desde o início da posse até, eventualmente, a data da
propositura da acção impugnativa da escritura de justificação, caso na data em que esta se realizou
ainda não tenha decorrido o período temporal adequado para operar a prescrição aquisitiva.´´
Acórdão do Tribunal da Relação de Évora de 03.03.2011, Processo: 399/1999.E1, Relator: Mata
Ribeiro. Sítio: http://www.dgsi.pt. Acesso: 26 jun. 2018. Parece ir nesse mesmo sentido o Acórdão do
Tribunal da Relação de Évora de 21.04.2010, Processo: 94/1997.E1, Relator: Tavares De Paiva.
Sítio: http://www.dgsi.pt. Acesso: 26 jun. 2018.
159
``Pretende-se pôr em causa o acto justificado, é a justificação em si que é posto em causa.
Portanto, é reportada a essa data que têm que estar reunidos os pressupostos da usucapião.´´
Acórdão do Tribunal da Relação de Guimarães de 24.04.2014, Processo: 129/11.0TCGMR.G1,
Relator: Helena Melo. Sítio: http://www.dgsi.pt. Acesso: 26 jun. 2018.
160
Abílio Vassalo Abreu. A «relação de coexistência» …, op. cit., p. 160-163; Augusto Da Penha
Gonçalves. Posse. In: Curso de Direitos Reais. 1.ª Ed., Lisboa: Universidade lusíada, 1992. P. 280-
281.
58
(artigo 5.º, n.º 2 CRegP). Como defende Dr. Oliveira Ascensão161 a usucapião é
base da nossa ordem imobiliária, que deve ser complementada com palavras de Dr.
Vassalo abreu162, entre o registo e a usucapião existe uma relação de coexistência e
não de exclusão. Mas é importante referir que invocar a usucapião na justificação
notarial e depois fazer o registo não faz encurtar o prazo para aquisição da
usucapião pois pressupõe que a mesma já esteja preenchida.
Só se pode recorrer a justificação notarial quando existe a falta de um
documento para proceder ao registo, relembrado que a usucapião pode resultar de
posse por aquisição originária e posse por aquisição derivada, o primeiro não
levanta problema pois não existe um título que se possa registar como no caso da
prática reiterada, o esbulho, a inversão do título da posse. Diferentemente quando
se trata de aquisição derivada posse por exemplo através do constituto possessório,
por tradição material ou simbólica da coisa efetuada pelo anterior possuidor, nestes
casos existe uma transmissão, por isso só tem sentido recorrer a justificação
notarial, se de facto se perdeu o documento, não sabe onde está, foi celebrado sem
forma ou documento é insuficiente para fazer o registo, nesse caso pode recorrer a
justificação notarial e invocar nele a usucapião.
C arrenda o imóvel a D, que inverte o título da posse, nesse caso passa a ter
posse a partir desse momento mas não titulada e de má-fé, pois falta o título idóneo
para transferir o direito e estamos perante aquisição originária da posse adquirindo
pela via da usucapião neste caso se recorrerá a justificação para estabelecimento de
novo trato sucessivo.
A celebra com B um contrato por escritura publica, entregando-lhe as chaves
da casa, decorrido 15 anos B precisa vender a propriedade, tendo que registar para
conseguir vender apercebe que perdeu o contrato e não sabendo como encontrar A,
recorre a justificação notarial para suprir a falta do documento e invoca a usucapião
pois já tem preenchido os requisitos, além da aquisição derivada, e como bem
estava registado em nome de A, a justificação será para reatamento do trato
sucessivo, pois caso não tivesse perdido o documento tinha o titulo que comprovava
a existência de uma venda que justifica o porque de B ter a posse dessa
propriedade e ter adquirido pela via da usucapião, e permitiria fazer o registo.
161
José De Oliveira Ascensão. O Registo Predial. In: Direito Civil: Reais. Coimbra, 5.ª Ed., 1932, p.
382.
162
Abílio Vassalo Abreu. A «relação de coexistência» …, op. cit., p. 43.
59
3. Registo predial
163
José Alberto Vieira. Os princípios de direitos reais. In: Direitos Reais. 2.ª Ed., Coimbra: Almedina,
2018, p. 218-226; Orlando Carvalho. Princípios constitucionais do direito das coisas. In: Direito das
coisas. Coimbra, 2012. P. 200-222. Colaboração: Francisco Liberal Fernandes, Maria Raquel
Guimarães, Maria Regina Redinha.
60
1- O pedido do registo só pode ser feito: pessoalmente, por correio remetido por
carta registada e via eletrónica, artigo 41.º-B CRegP. Entende Dr. José Vieira,
que o pedido deve constar no modelo oficial aprovado168 que vai de encontro
o que estabelece o artigo 66.º, n.º 1, alínea d).
164
Defende a prevalência da posse sobre o registo mesmo que tenham a mesma antiguidade, só
prevalecendo o registo se for anterior a posse, Dr. José Luís Bonifácio Ramos. O artigo 1316.º do
Código Civil…, op. cit., p. 553-554.
165
José de Oliveira Ascensão. O Registo…, op. cit., p. 369-370.
166
No entanto não é unanime na doutrina que do mesmo decorra um efeito aquisitivo. Contra, ver:
José Luís Bonifácio Ramos. O artigo 1316.º do Código Civil…, op. cit., p. 570. A favor do efeito
atributivo do artigo 5.º CRegP ver: José De Oliveira Ascensão. O Registo…, op. cit., p. 368,372-374,
entre outros.
167
Podemos encontrar os requisitos enumerados e explicados por Dr. Manuel da Nazaré Ribeiro. Do
Registo Predial. Revista da Ordem de Advogados, Lisboa, Ano 12, n.ºs 1 e 2, p. 299 a 310, 1952;
também se encontra a enumeração dos requisitos no âmbito do princípio da legalidade. - Ver: Luís A.
Carvalho Fernandes. Publicidade registal. In: Lições de Direitos Reais. Lisboa: Quid Juris,
Sociedade Editora, 2003, p. 113. E ainda: Luís Manuel Teles de Menezes Leitão. A publicidade dos
direitos reais. Direitos reais. 7.ª Ed., Coimbra: Almedina, 2018, p. 257-258.
168
José Alberto Vieira. A publicidade registal. In: Direitos Reais. 2.ª Ed., Coimbra: Almedina, 2018, p.
255.
61
4- Os fatos jurídicos têm que estar sujeitos a registo – são os que vêm
elencados nos artigos 2.º, n.º 1, e 3.º, todos do CRegP. Como se tem
entendido na doutrina169 são factos jurídicos que estão sujeitos a registos e
não direitos. Ex: compra e venda170, doação, etc. Para o nosso tema
interessa-nos o artigo 2.º, n.º 1, alínea a) e b) que se refere ao direito de
propriedade e propriedade horizontal.
169
José De Oliveira Ascensão. O Registo…, op. cit., p. 340. José Luís Bonifácio Ramos. O registo
predial. In: Manual de Direitos reais. Lisboa: AAFDL, 2017. P. 221-222. Rui Paulo Coutinho de
Mascarenhas Ataíde. Estudos de Registo Predial: Noções fundamentais, efeitos substantivos do
Registo Predial. Lisboa: AAFDL, 2017. P. 15.
170
Este exemplo e outros dados por Também Dr. José Alberto Vieira. A publicidade registal…, op.
cit., p. 248-249.
171
Joaquim de Seabra Lopes. Direito dos Registos e do Notariado. 9. ª Ed., Coimbra: Almedina,
2018, p. 446.
62
8- Prazo para o registo – tem o registo de ser feito no prazo de 2 meses, que é
contado da data em que foi titulado os factos (artigo 8.º-C, n.º 1 do CRegP),
salvo os prazos que se verificam nos outros números do mesmo artigo. Caso
172
José González. Qualificação de actos registáveis com intervenção notarial (Duplo controlo de
legalidade). In: Anexo BRN I/2004. P. 2-3. Sítio:
https://www.irn.mj.pt/IRN/sections/irn/legislacao/publicacao-de-brn/boletins-dos-registos-e/. Acesso:
16/01/2019.
173
Joaquim de Seabra Lopes. Direito dos Registos..., op. cit., p. 440.
63
9- Tem que ser feita prova da inscrição na matriz (artigo 31.º, n.º 1 do CRegP)
cujo documento comprovativo de teor da inscrição tem de ser emitida no
prazo não superior a um ano (artigo 44.º, n.º 2). No caso da justificação, já
constará do mesmo já que é um dos requisitos para poder a ela recorrer175.
174
Podemos encontrar a referência a sanção pecuniária como sendo essa a sanção resultante do
artigo 8.°-D, n.º 1 CRegP, no mesmo sentido ver: José Luís Bonifácio Ramos. O registo…, op. cit., p.
226.
175
No entanto no parecer técnico, entendeu-se que se a justificação for feita sem que consta na
matriz o nome do justificante e apesar disso tiver sido feita a justificação o mesmo padecerá de mera
irregularidade e não de nulidade, sendo que o registo é feito provisório por dúvidas. Proc. Nº R.P.
253/2002 DSJ-CT…, op. cit., p. 9-11. No entanto nem sempre foi esse o entendimento, pois existiu
64
12- Pagamento das quantias devidas – quando é feito o pedido deve ser
entregue o valor que possivelmente seja o total da conta (artigo 151.º, n.º 1
CRegP). Sendo responsável pelo pagamento dos emolumentos os sujeitos
ativos (n.º 2).
pareceres que foi considerado causa de nulidade, ver: Proc. Nº. 45/96 R.P.4, publicado no II Caderno
do BRN nº 11/1996, p. 4. Sítio: https://www.irn.mj.pt/IRN/sections/irn/legislacao/publicacao-de-
brn/boletins-dos-registos-e/ . Acesso: 16/01/2019; Proc. Nº. 46/96 R.P.4, publicado no II Caderno do
BRN nº 11/1996, p. 6. Sítio: https://www.irn.mj.pt/IRN/sections/irn/legislacao/publicacao-de-
brn/boletins-dos-registos-e/ . Acesso: 16/01/2019.
176
Neste ponto remete-se para o que se disse no ponto quatro e nota 62 dos requisitos da
justificação.
177
Ver: Manuel da Nazaré Ribeiro. Do Registo…, op. cit., p. 283. No mesmo sentido: Luís Abreu
Coutinho. O registo predial como incentivo ao investimento imobiliário - virtudes e deficiências
práticas nos países lusófonos. Vida Judiciária. Nº 201, pp.42,maio/jun., 2017, Revista Bimestral.
178
Assim regulava esse artigo `` O registo definitivo de qualquer direito predial a favor de uma pessoa
constitue presumpção juridica de que o mesmo direito lhe pertence, emquanto não fôr cancelado o
registo por virtude de sentença proferida em acção intentada para esse efeito, ou não houver legitima
transmissão do direito registado´´.
65
comentário179 a esse artigo entendeu-se que foi corrigida a inexatidão que ali se
encontrava já que o cancelamento pode provir de um título que demonstre que a
obrigação está extinta e por outro lado a transmissão do direito só tem efeito perante
terceiros após registo. Com o decreto-lei n.º 42 565 de 08 de outubro de 1959 passa
a incorporar a presunção do registo pela primeira vez a presunção de existência do
direito180, que vinha regulado no seu artigo 8.º.
Atualmente a presunção decorrente do registo encontra-se regulado no artigo
7.º CRegP, que presume que aquele cujo nome se encontra o registo, tem o direito e
este existe mas apenas nos precisos termos em que o registo o define. Se nota que
cria confiança daquele que adquire de quem tem o registo em seu nome já que em
princípio181 é o verdadeiro titular desse direito. Mas como sabemos tratar-se apenas
de uma presunção, não existe garantia que assim suceda na realidade substantiva.
A presunção decorrente desse artigo é uma presunção legal, e é uma presunção
iuris tantum, que falaremos no quarto capítulo.
Na doutrina, salvo melhor opinião, parece haver uma divisão, pois de um lado
a quem entenda que do artigo 7.º CRegP resulta duas presunções182, de outro a
quem entenda que exista apenas uma única presunção183. Dr. Monteiro Guerreiro184
entende que resulta duas presunções, uma presunção de verdade e outra
presunção de exatidão. De acordo com a divisão da norma, feito pelo mesmo, a
presunção de verdade encontra-se na parte `` O registo definitivo constitui
presunção de que o direito existe e pertence ao titular inscrito´´, já a presunção de
exatidão onde diz `` nos precisos termos em que o registo o define´´. Basicamente a
vírgula determinaria a divisão segundo nos parece das duas presunções. Dr.
179
Adolpho De Azevedo Souto. Codigo do registo predial: colecção de legislação sobre o registo
predial e respectivos serviços com anotações ao regulamento vigente de 20 de janeiro de 1898.
Lisboa: empresa Lusitana editora, 1917. P. 289.
180
Nota 5 da exposição de motivos do decreto acima indicado.
181
Sublinhamos para reforçar a ideia.
182
José Augusto Guimarães Mouteira Guerreiro. Publicidade e princípios do registo. In: Temas de
registos e de notariado, CIJE. Coimbra: Almedina, 2010 P. 40; Luís A. Carvalho Fernandes.
Publicidade…, op. cit., p. 122-123; Isabel Ferreira Quelhas Geraldes, Olga Maria Barreto
Gomes. Justificação relativa ao trato sucessivo. Coimbra: Almedina, 2017, p. 167; Luís Manuel
Teles de Menezes Leitão. A publicidade dos direitos…, op. cit., p. 259; A. Santos Justo. Registo.
Direitos Reais. 3.ª Ed., Coimbra, 2011, p. 64.
183
José De Oliveira Ascensão. O Registo…, op. cit., p. 351; Isabel Pereira Mendes. Código do
Registo Predial: Anotado e Comentado e Diplomas Conexos. 17.ª Ed. Coimbra: Almedina, 2009, p.
178; José Luís Bonifácio Ramos. O artigo 1316.º do Código Civil…, op. cit. p. 553; Rui Paulo Coutinho
de Mascarenhas Ataíde. Estudos de Registo…, op. cit., p. 41; José Alberto Vieira. A publicidade
registal…, op. cit., p. 263; Alfredo António Proença. Direitos reais, alguns dos seus aspectos no
Registo Predial. Revista da Ordem dos Advogados, Lisboa, Ano 20, p. 63, 1960. Trimestral.
184
José Augusto Guimarães Mouteira Guerreiro. Publicidade e princípios…, op. cit., p. 40-41.
66
185
Luís A. Carvalho Fernandes. Publicidade…, op. cit., p.123. No mesmo sentido com formulação
idêntica, Dr. Luís Manuel Teles de Menezes Leitão. A publicidade dos direitos…, op. cit., p. 259.
186
Carlos Ferreira de Almeida. Publicidade e teoria dos registos. Coimbra: Almedina. 1966, p. 304.
187
José Luís Bonifácio Ramos. O registo…, op. cit., p. 228. No mesmo sentido, indica que não se
inclui no âmbito desta presunção a área e as confrontações. – Ver: Joaquim de Seabra Lopes.
Direito dos Registos…, op. cit., p. 380; José Alberto Vieira. A publicidade registal…, op. cit., p. 262.
188
José De Oliveira Ascensão. O Registo…, op. cit., p. 354; Guilherme Alves Moreira. Instituições
do Direito Civil português. Vol. 1, parte geral, Coimbra, 1907, p. 552.
189
José Augusto Guimarães Mouteira Guerreiro. Publicidade e princípios…, op. cit., p. 42.
190
Enumera os 5 efeitos do registo entre eles, o efeito presuntivo.- Ver: José Alberto Vieira. A
publicidade registal…, op. cit., p. 263.
67
191
Luís A. Carvalho Fernandes. Publicidade…, op. cit., p. 124. Neste mesmo sentido e entendendo
que estamos perante um princípio fundamental da publicidade, uma vez que do conteúdo decorre de
certeza e verdade. – Ver: José Augusto Guimarães Mouteira Guerreiro. Publicidade e princípios…,
op. cit., p. 41.
192
No entanto o registo não pode garantir que os títulos que estiveram na base do registo sejam
validos ou que o negócio que esteja na sua base não sofra de nenhum vício, nesse sentido ver: Luís
A. Carvalho Fernandes. Publicidade…, op. cit., p. 139.
193
Nesse sentido ver: Paulo Coutinho de Mascarenhas Ataíde. Estudos de Registo …, op. cit., p.
41.
194
José Alberto González. Publicidade - Registo Predial. In: Direitos Reais e Direito Registal
Imobiliário. 4.ª Ed., Lisboa: Quid Juris Sociedade Editora, 2009, p. 247.
195
José Alberto Vieira. A publicidade registal…, op. cit., p. 253.
196
Luís Manuel Teles de Menezes Leitão. A publicidade dos direitos…, op. cit., p. 251.
68
Como defende Dr. González, não conseguimos garantir que o que está no
registo corresponde a realidade, dai que da realização do registo só pode resultar
uma presunção197. Não pode o conservador ter a absoluta certeza que o facto existe
e é valido, pois caso assim fosse exigido seria muito difícil lavrar o registo198.
Para que os terceiros não se sintam defraudados na confiança que
depositaram na fé pública decorrente do registo e que nessa base adquiriram um
imóvel, a lei permite em certos casos excecionais a aquisição pelo registo,
prevalecendo o registo sobre a realidade substantiva199.
197
José Alberto González. Publicidade – Registo…, op. cit., p. 226.
198
Ibidem, p. 239 e 247.
199
Sendo no entanto a exceção e não a regra, ver: José de Oliveira Ascensão. O Registo…, op. cit.,
p. 369-370.
69
A justificação quando usada para os fins a que foi pensado, traduz num meio
útil e valioso para aquele que a ele pode recorrer e um reforço de segurança e
credibilidade para o registo e publicidade para eventuais interessados.
A justificação permite reduzir os casos em que o registo transmite uma
publicidade desatualizada, pois apesar de encontrar registado, a pessoa a quem o
registo se encontra já não é a atual titular pois já foi transmitido a outra pessoa ou
permite que o prédio deixe de estar omisso no registo. Por isso a justificação permite
atualizar a informação decorrente do registo, permitindo que o mesmo esteja mais
próximo da atual situação do prédio.
Não se quer com isso dizer que não possa ocorrer situações em que possa
ser aproveitado por um fim que não foi previsto, mas como se teve oportunidade de
confirmar existe um duplo controlo, primeiro pelo notário e outro pelo conservador,
que caso se apercebam que aquele que pretende recorrer a justificação ou com
base neste fazer o registo, na verdade não tem o direito que se arroga, devem negar
que tal possa fazer e no último caso o conservador deve recusar fazer o registo.
70
200
Fernando Pereira Rodrigues. O ónus da prova. In: Os meios de prova em processo civil.
Coimbra: Almedina, 2015, p. 34.
201
Ibidem, p. 40
202
Adriano Paes da Silva Vaz Serra. Provas (Direito probatório material). Boletim do Ministério da
Ivstiça, n.º 110, p. 112 e 121, nov. 1961. Michele Taruffo. Presunzioni, inversioni, prova del fatto.
Rivista Trimestrale di Diritto e Procedura Civile, Milano, Anno XLVI, n. 3, p. 738, set. 1992.
Trimestrale. Pedro Ferreira Múrias. Distinção e discrepâncias entre ónus de alegação e ónus da
prova. In: Por uma distribuição fundamentada do ónus da prova. Lisboa: LEX, 2000, p. 36.
71
ónus de alegação, logo aquele que alega um facto vai ser diferente daquele que o
deve provar.203
O ónus de alegação é um encargo que tem de ser cumprido no prazo
estabelecido no processo e que vem antes da prova, o autor quando propõe a ação
deve apresentar nos articulados204 e nele deve constar aquilo que pretende que seja
discutido no tribunal, como diz o artigo 552.º, n.º 1 alínea d) CPC `` na petição, com
que propõe a ação, deve o autor expor os factos essenciais que constituem a causa
de pedir e as razões de direito que servem de fundamento à ação´´. Por exemplo
invocar que o réu deve determinada soma de dinheiro, que não cumpriu o contrato,
pedir uma indemnização, etc. Alegar é dizer aquilo que quer. O réu também por
norma tem que fazer alegações nos articulados de forma a afastar essa pretensão
afirmando o contrário do requerido pelo autor (artigos 569.º, n.º 1, 572.º, alínea b)
CPC). Neste último artigo se diz `` na contestação deve o réu expor as razões de
facto e de direito por que se opõe à pretensão do autor´´.205 O tribunal só pode
analisar aquilo que lhe é trazido pelas partes, princípio do dispositivo artigo 5.º, n.º 1
CPC, a não ser que se verifique uma das situações do n.º 2. Só pode ser provado o
que foi alegado, mas não necessariamente pela mesma parte206. Na ação de
simples apreciação negativa o autor na alegação limita a indicar aquilo que o réu
207
afirma como factos constitutivos do seu direito enquanto ao reu cabe alegar os
factos constitutivos do seu direito.
Ter um ónus da prova é ter por assim dizer um encargo de trazer ao processo
tudo que demonstra necessário para defesa da sua pretensão, embora não seja
obrigado a tal, deve faze-lo se quiser ter êxito.
203
Em comentário ao artigo 344º CC por Dr. José Lebre Freitas. In: Ana Prata (coord.). Código civil
anotado. Vol. I (artigos 1.º a 1250.º). Coimbra: Almedina, 2017.
P.428. Pedro Ferreira Múrias. Distinção e discrepâncias…, op. cit., p.38. Em comentário pela Dra.
Rita Lynce de Faria ao Artigo 343.º CC in: Luís Carvalho Fernandes, coord. II; PROENÇA, José
Brandão, coord. Comentário ao Código civil: parte geral. Lisboa: Universidade Católica Editora,
2014. P.815.
204
Pedro Ferreira Múrias. Distinção e discrepâncias…, op. cit., p.35. José Lebre Freitas. Código civil
Anotado…, op. cit., p. 428.
205
Leo Rosenberg. Concepto y significado de la carga de la prueba. In: La carga de la prueba. 2ª
ed., Editorial BDEF, Buenos aires, 2002. P. 74-75, 198. Traducción de: Ernesto Krotoschin.
206
Fernando Pereira Rodrigues. O ónus da prova…, op. cit., p. 33-34; Manuel Tomé Soares Gomes.
Os factos objeto da prova. In: Um olhar sobre a prova em demanda da verdade no processo civil.
Revista do CEJ n.º 3, 3.º semestre, p. 143, 2005.
207
Em comentário ao Artigo 343.º CC por Dr. José Lebre Freitas. In: Ana Prata (coord.). Código civil
anotado…, op. cit., p. 424-425.
72
208
Manuel A. Domingues Andrade. Ónus da prova. In: Noções elementares de processo civil.
Coimbra. 1979. P.197. Com colaboração professor Antunes Varela, revista e atualizada Dr. Herculano
Esteves
209
Nuno Manuel Pinto Oliveira. Tópicos sobre o ónus da Prova. Revista Jurídica da Universidade
de Santiago, Assomada, Ano 2 n.º 2, p.417, Jan./Dez. 2014.
210
Manuel A. Domingues Andrade. Ónus…, op. cit., p.197-199; Maria Gabriela A. L. da Cunha
Rodrigues. Poderes de iniciativa do juiz em processo civil e ónus da prova. Revista do CEJ, Lisboa,
N.º 1, 1.º Semestre, p. 47 e 53, 2016; Em comentário ao artigo 342.º CC pela Dra. Rita Lynce de
Faria, in: Luís Carvalho Fernandes, coord. II; PROENÇA, José Brandão, coord. Comentário ao
Código civil…, op. cit., p. 811-812; Nuno Manuel Pinto Oliveira. Tópicos sobre o ónus…, op. cit., p.
417.
211
Antunes Varela, J. Miguel Bezerra, Sampaio Nora. O problema do ónus da prova. In: Manual de
processo civil. 2ª Ed., Coimbra editora, 1985. P. 447; Leo Rosenberg. Concepto y significado…, op.
cit., p. 23-24, 61; Gabriela A. L. da Cunha Rodrigues. Poderes de iniciativa do juiz…, op. cit., p. 58 e
61.
73
não sabe a forma que adquiriu? Quem adquire o direito não terá dificuldade de dizer
como adquiriu mas sim em provar, esse é o mais complicado.
Do outro lado está a pessoa a qual compete provar que o direito nunca existiu
na titularidade daquele que invoca o direito, ou seja invoca um facto impeditivo, que
impede o nascimento do direito. Ou embora tenha existido agora já não existe mais
na esfera daquele, o que quer dizer que entretanto surgiu um facto extintivo e o
mesmo deixou de pertencer a aquele que o invoca. Por fim ainda pode ter surgido
um facto modificativo que tenha alterado a situação. Por isso a esta parte cabe
demonstrar que aquele já não tem o direito como afirma.
Ora a estrutura deste artigo leva doutrina a defender que o ónus é distribuído
de forma abstrata212 e não havendo propriamente uma determinação o que é do
autor e o que é do réu mas em função daquilo que cada um se arroga213, se invoca
direito tem ónus constitutivo, se invoca que esse direito não existe tem ónus
extintivo. A melhor posição é a do Dr. Soares Gomes que entende caber em
princípio ao autor alegar e provar os factos constitutivos e ao reu os factos extintivos,
modificativos e impeditivos.214 A natureza desse facto é determinada em função do
efeito jurídico pretendido pelo autor.215
Considera-se que as regras sobre ónus da prova seriam regras de
julgamento.216
212
Maria Gabriela A. L. da Cunha Rodrigues. Poderes de iniciativa…, op. cit., p. 46; Adriano Paes da
Silva Vaz Serra. Provas (Direito probatório material) …, op. cit., p. 132.
213
Comentário ao Artigo 344º CC por Dr. José Lebre Freitas. In: Ana Prata (coord.). Código civil
anotado…, op. cit., p. 428.
214
Manuel Tomé Soares Gomes. Os factos objeto da prova. In: Um olhar sobre a prova em demanda
da verdade no processo civil. Revista do CEJ, n.º 3, 3.º semestre, p.143, 2005. Nesse sentido
também: José Carlos Barbosa Moreira. As presunções e a prova. In: Temas de direito processual.
São Paulo: Saraiva, 1977. P. 60
215
Manuel Tomé Soares Gomes. Os factos objeto da prova…, op. cit., p. 143
216
José Carlos Barbosa Moreira. As presunções e a prova..., op. cit., p. 61.
74
Depois de referirmos a regra geral, cabe agora referir um dos casos especiais
que vem regulado no artigo 343.º, n.º 1 CC, e apenas este iremos tratar por ter
interesse na nossa análise.
Esta ação vem regulada no artigo 10.º, n.º 3 alínea a) CPC, que estabelece
que apenas pode recorrer a esta quando se trata de declaração de existência ou
inexistência de um direito ou de um facto.
Embora parecendo simples, ainda assim este tipo de ação contempla um
conjunto de pressupostos:
1- Interesse em agir – aquele que pretende propor a ação de simples
apreciação tem de ``visar com a mesma afastar um estado de incerteza
objetivo ou seja uma incerteza que esteja a por em causa o direito, desde
que não seja meramente subjetivo ou uma mera suspeita e nem se trate
de uma mera expectativa´´. 217
2- Âmbito de aplicação – no âmbito das ações de simples apreciação está
incluído ``todas as relações jurídicas que sejam ou não analisáveis em
prestação, excluindo os direitos potestativos insuscetíveis de exercício
extrajudicial´´.218
3- Objeto – nessa ação pretende-se pedir ``a declaração da inexistência de
um direito ou de um facto tal como é invocado pelo reu. No entanto não
pode ser qualquer facto mas de um facto que esteja intimamente ligada a
uma determinada relação jurídica e que a incerteza incida
desfavoravelmente nessa relação.219 Apenas podem ser considerados os
elementos concretos que tenham uma ligação real com o direito afetado
na sua negociabilidade.220 Deve constar do objeto a causa de pedir e o
pedido, em que este deve ser individualizado, incidindo sobre factos que
sejam juridicamente relevantes em abstrato mas que em concreto sejam
suscetíveis de constituir uma situação que seja legalmente tutelada para
217
Artur Anselmo De Castro. As ações de simples apreciação ou meramente declarativa. In: Lições
de processo civil. Coimbra: Almedina,1964, p. 207-208. Coligidas e publicadas por Abílio Neto.
218
Ibidem, p. 206
219
Ibidem, p. 209
220
Artur Anselmo de Castro. As ações de simples…, op. cit., p. 209
75
221
Miguel Teixeira de Sousa. Acções de simples apreciação (objecto: conceito; ónus da prova;
legitimidade). Separata: Revista de direito e de estudos sociais. Coimbra, A. 25, n.ºs 1-2
(Jan./Mar.), p. 138-143, 1980.
222
João de Castro Mendes. Direito processual civil. Lisboa: AAFDL, vol. I, 1978, p. 282.
Apontamentos das lições dadas pelo professor em 1978-79, redigidos com colaboração de um grupo
de assistentes; Luís Carvalho Fernandes, coord. II; PROENÇA, José Brandão, coord. Comentário ao
Código civil…, op. cit., p. 814; Adriano Paes da Silva Vaz Serra. Provas (Direito probatório material)
…, op. cit., p. 135.
223
Artur Anselmo de Castro. As ações de simples…, op. cit., p. 220-222.
224
Luís Carvalho Fernandes, coord. II; PROENÇA, José Brandão, coord. Comentário ao Código
civil …, op. cit., p. 814.
225
Antunes Varela, J. Miguel Bezerra, Sampaio Nora. O problema do ónus da prova…, op. cit., p.
460, 465; José Carlos Barbosa Moreira. As presunções e a prova…, op. cit., p. 60; Comentário ao
artigo 343.º CC: Pires de Lima, Antunes Varela. Código civil anotado. 4.ª Ed., Coimbra: Coimbra
editora, 1987. P. 307. Com colaboração M. Henrique Mesquita.
226
Rita Lynce De Faria. A inversão do ónus da prova no direito civil português. P. 42 e 43.
Relatório de mestrado de direito processual civil, Universidade Católica Portuguesa, Lisboa: LEX,
2001; Antunes Varela, J. Miguel Bezerra, Sampaio Nora. O problema do ónus da prova…, op. cit., p.
461; Comentário ao artigo 343.º CC: Abílio Neto. Código civil anotado. 9.ª Ed., Lisboa: Ediforum
edições jurídicas, Lda. 2013, p. 321; Manuel Tomé Soares Gomes. Os factos objeto da prova…, op.
cit., p.143, 2005; Luís Carvalho Fernandes, coord. II; PROENÇA, José Brandão, coord. Comentário
76
4.2.1 - Pressupostos
ao Código civil…, op. cit., p. 814; Adriano Paes da Silva Vaz Serra. Provas (Direito probatório
material) …, op. cit., p. 154.
227
Miguel Teixeira De Sousa. Ónus da prova. In: As partes, o objecto e a prova na acção
declarativa. Lisboa: LEX. P. 220, 1995.
228
Miguel Teixeira De Sousa. Ónus da prova…, op. cit., p. 220-221.
229
Abílio Neto. Código civil anotado…, op. cit., p. 321; Ana Prata (coord.). Código civil anotado…,
op. cit., p. 425; Isabel Ferreira Quelhas Geraldes, Olga Maria Barreto Gomes. Justificação
relativa…, op. cit., p. 171-172; Acórdão do Tribunal da Relação de Guimarães de 04.12.2014,
Processo: 1605/10.7TBFAF.G1, Relator: Conceição Bucho. Sítio: http://www.dgsi.pt. Acesso: 26 jun.
2018.
77
É uma presunção que decorre da lei, por isso essa presunção e a sua força
probatória230 é estabelecida de forma abstrata pelo legislador, ficando o juiz limitado
na sua livre apreciação231, permitindo que quem dele beneficia vê dessa forma
facilitada a prova que vai produzir, não tendo que provar o facto presumido mas sim
a base da presunção, cabendo a outra parte a prova da sua não verificação.232
Estabelece o artigo 349.º CC que a presunção legal é a ilação que a lei a
partir de um facto conhecido presume a existência de um facto desconhecido.233 A
doutrina designa o primeiro como base da presunção234 e o segundo como facto
presumido235.
A base da presunção é o facto que se conhece e aquele que usufrui da
presunção, tem que a alegar e provar para que possa dela se valer, pois provando a
existência desta é como se tivesse sido provado o facto presumido, desde que
também tenha alegado este último236. Pois parte-se do princípio que existindo a
primeira é bem provável que o segundo deva ter ocorrido.237 Por exemplo, se
alguém faz o registo definitivo, resulta do artigo 7.º CRegP a presunção da
existência do direito. A base da presunção será a existência do registo definitivo, o
230
Manuel A. Domingues Andrade. Ónus da prova…, op. cit., p. 209; Nuno Manuel Pinto Oliveira.
Tópicos sobre o ónus da Prova…, op. cit., p. 431; Rui Manuel de Freitas Rangel. O ónus da prova e
as presunções jurídicas. In: O ónus da prova no processo civil. 3.ª Ed. Coimbra: Almedina, 2006, p.
229.
231
Manuel A. Domingues Andrade. Ónus da prova…, op. cit., p. 215; Antunes Varela, J. Miguel
Bezerra, Sampaio Nora. O problema do ónus da prova…, op. cit., p.502; Luís Filipe Pires de Sousa.
Presunção de direito. In: Prova por presunção no Direito civil. Coimbra: Almeida, 2012, p. 103-104;
Rui Manuel de Freitas Rangel. O ónus da prova e as presunções jurídicas…, op. cit., p. 229; Rita
Lynce de Faria. A inversão do ónus da prova no direito…, op. cit., p. 35; Adriano Paes da Silva
Vaz Serra. Provas (Direito probatório material) …, op. cit., p. 71-72, 183.
232
Manuel A. Domingues Andrade. Ónus da prova…, op. cit., p. 216. Adriano Vaz Serra. Anotação ao
acórdão. Revista de legislação e jurisprudência. Ano 106, 1973-1974, n.º 3489-3513, Coimbra, p.
393, 1974; Antunes Varela. Anotação ao acórdão de 8 de novembro 1984. Revista de legislação e
de jurisprudência. Coimbra: Coimbra editora, Ano 122.º, 1989-1990, n.º 3778-3789, p. 216-
217,1990; Miguel Teixeira de Sousa. Ónus da prova…, op. cit., p. 224-225; Comentário ao artigo
344.º CC pela Dra. Rita Lynce de Faria, in: Luís Carvalho Fernandes, coord. II; PROENÇA, José
Brandão, coord. Comentário ao Código civil …, op. cit., p. 817. José Carlos Barbosa Moreira. As
presunções e a prova…, op. cit., p. 60. Adriano Paes da Silva Vaz Serra. Provas (Direito probatório
material) …, op. cit., p. 187; Ana Prata (coord.). Código civil anotado…, op. cit., p. 426 e 435. Luís
Filipe Pires de Sousa. Presunção de direito…, op. cit., p. 104.
233
Antunes Varela, J. Miguel Bezerra, Sampaio Nora. O problema do ónus da prova…, op. cit., p.
500.
234
Ibidem, p. 501.
235
Manuel A. Domingues Andrade. Ónus da prova…, op. cit., p. 215.
236
Antunes Varela. Anotação ao acórdão…, op. cit., p.217. Comentário ao artigo 349.º CC: Pires de
Lima, Antunes Varela. Código civil anotado…, op. cit., p. 312. Luís Filipe Pires de Sousa. Presunção
de direito…, op. cit., p. 103. Rui Manuel de Freitas Rangel. O ónus da prova e as presunções
jurídicas…, op. cit., p. 230.
237
Rui Manuel de Freitas Rangel. O ónus da prova e as presunções jurídicas…, op. cit., p. 228. Rita
Lynce de Faria. A inversão do ónus da prova …, op. cit., p. 34.
78
facto desconhecido a existência do direito238, isso quer dizer que basta provar que o
registo está feito definitivamente para ter-se como provado a existência do direito.
Isso não quer dizer que se prova que realmente o direito existe, mas presume-se
que assim seja.
Assim sendo de acordo com o artigo 350.º, n.º 1 CC tendo sido alegado e
provado a base da presunção e alegado o facto presumido tem se por preenchido o
requisito que permite beneficiar da presunção, não tendo que provar o facto
presumido pois pressupõe-se que o mesmo em princípio exista. Passa a caber a
outra parte afastar e caso o faça com sucesso, terá o beneficiário da presunção de
rebater recorrendo a contraprova.239
Verificando-se um conflito de presunções legais pode acontecer que uma
acabe por afastar a outra, prevalecendo uma delas.240
As presunções legais distinguem-se das presunções judiciais, estas estão
reguladas no artigo 351.º CC, são ilações do próprio julgador, tendo na base a
experiencia e são determinadas em concreto, caso a caso241, tendo no entanto como
limite de apenas se poder recorrer a elas na medida que seja admissível a prova
testemunhal.242
As presunções legais dividem-se em presunções iuris tantum aqueles que
admitem prova em contrário243 e as presunções iuris et iure que não o admitem.244
No entanto a lei estabelece no n.º 2, do artigo 350.º CC que as primeiras são a regra
ou seja por norma as presunções legais podem ser ilididas, só havendo lugar as
últimas quando a lei expressamente o disser.245
Importante referir que a prova por presunção apesar de se encontrar regulado
no código civil como se fosse um meio de prova (a doutrina considera como não
238
Luís Filipe Pires de Sousa. Presunção de direito…, op. cit., p. 103.
239
Antunes Varela. Anotação ao acórdão…, op. cit., p. 217-218. Rui Manuel de Freitas Rangel. O
ónus da prova e as presunções jurídicas…, op. cit., p. 230.
240
Luís Filipe Pires de Sousa. Presunção de direito…, op. cit., p. 104
241
Manuel A. Domingues Andrade. Ónus da prova…, op. cit., p.215-216. Antunes Varela, J. Miguel
Bezerra, Sampaio Nora. O problema do ónus da prova…, op. cit., p. 502. Rui Manuel de Freitas
Rangel. O ónus da prova e as presunções jurídicas…, op. cit., p. 232.
242
Antunes Varela. Anotação ao acórdão…, op. cit., p.218.
243
Manuel Tomé Soares Gomes. Os factos objeto da prova…, op. cit., p. 161. Antunes Varela, J.
Miguel Bezerra, Sampaio Nora. O problema do ónus da prova…, op. cit., p. 502.
244
Manuel A. Domingues Andrade. Ónus da prova…, op. cit., p. 216; Nuno Manuel Pinto Oliveira.
Tópicos sobre o ónus da Prova…, op. cit., p. 431; José Carlos Barbosa Moreira. As presunções e a
prova…, op. cit., p. 55; Adriano Paes da Silva Vaz Serra. Provas (Direito probatório material) …, op.
cit., p. 181; Comentário ao artigo 350.º CC: Pires de Lima, Antunes Varela. Código civil anotado…,
op. cit., p. 312-313.
245
Adriano Paes da Silva Vaz Serra. Provas (Direito probatório material) …, op. cit., p. 184-185.
79
sendo um verdadeiro meio prova mais sim inversão do ónus da prova246 247) não tem
correspondência no código processo civil ao qual não tem autonomia, reconduzindo
a outros meios de prova248. Por isso a prova da base da presunção é feita por
qualquer procedimento probatório regulado no âmbito processual, como
documentos, perícias, testemunhas, inspeção judicial.249
246
Adriano Paes da Silva Vaz Serra. Provas (Direito probatório material) …, op. cit., p. 153.
247
Rita Lynce de Faria. A inversão do ónus da prova …, op. cit., p. 35.
248
Manuel A. Domingues Andrade. Ónus da prova…, op. cit., p. 217. Antunes Varela, J. Miguel
Bezerra, Sampaio Nora. O problema do ónus da prova…, op. cit., p. 501.
249
Rui Manuel de Freitas Rangel. O ónus da prova e as presunções jurídicas…, op. cit., p. 236.
250
Adriano Vaz Serra. Anotação ao acórdão. Revista de legislação e jurisprudência. Ano 106,
1973-1974 n.º 3489-3513, Coimbra: Coimbra editora p. 393, 1974.
251
Luís Carvalho Fernandes, coord. II; PROENÇA, José Brandão, coord. Comentário ao Código
civil…, op. cit., p 817. Rita Lynce de Faria. A inversão do ónus da prova…, op. cit., p. 34.
252
Antunes Varela, J. Miguel Bezerra, Sampaio Nora. O problema do ónus da prova…, op. cit., p.
503. José Carlos Barbosa Moreira. As presunções e a prova…, op. cit., p. 60-61. Rui Manuel de
Freitas Rangel. O ónus da prova e as presunções jurídicas…, op. cit., p. 236-237.
80
Serra, existe a inversão do ónus da prova justamente por que aquele que tem a seu
favor a presunção legal fica dispensado de provar o facto presumido para provar a
base da presunção, cabendo a outra parte a prova do contrário.253 Por sua vez Dr.
Barbosa Moreira, indica que se transfere para a outra parte o ónus da prova que não
lhe caberia de acordo com as regras gerais de distribuição do ónus da prova.254
Embora se entenda que haja uma inversão do ónus da prova, não quer dizer
que a parte onerada ao beneficiar da presunção não tenha nada a provar, tem sim,
tem que provar a base da presunção. O ónus continua a caber a ela mas agora
facilitada e assim cabendo a outra parte o ónus de afastar essa presunção ou de
provar não ser verdadeiro a sua verificação.
Existindo uma presunção legal a mesma só pode ser afastada por prova do
contrário artigo 347.º CC255, tem que se convencer o juiz que o facto não se
verificou, que a base da presunção embora exista, o mesmo não acontece com o
facto presumido e que o direito não pertence a parte que beneficia da presunção ou
que a base da presunção não chegou a verificar-se256. Ao contrário da presunção
judicial em que basta a contraprova (artigo 346.º CC), sendo suficiente criar a dúvida
no espirito do juiz para cair por terra a presunção257, na presunção legal não é
suficiente, tem que convencer mediante prova da falsidade ou da não verificação da
situação invocada pela outra parte258. Uma presunção judicial seria insuficiente para
afastar uma presunção legal.
253
Adriano Paes da Silva Vaz Serra. Provas (Direito probatório material) …, op. cit., p. 188.
254
José Carlos Barbosa Moreira. As presunções e a prova…, op. cit., p. 67.
255
Manuel A. Domingues Andrade. Ónus da prova…, op. cit., p. 212. 255 Fernando Pereira Rodrigues.
O ónus da prova…, op. cit., p. 47 e 48.
256
Comentário ao artigo 346.º CC: Abílio Neto. Código civil anotado…, cit., p. 323. Pires de Lima,
Antunes Varela. Código civil anotado…, op. cit., p. 310.
257
Fernando Pereira Rodrigues. O ónus da prova…, op. cit., p.48. Pires de Lima, Antunes Varela.
Código civil anotado…, op. cit., p. 310. Adriano Paes da Silva Vaz Serra. Provas (Direito probatório
material) …, op. cit., p. 168.
258
Manuel A. Domingues Andrade. Ónus da prova…, op. cit., p. 208, 216. Nuno Manuel Pinto
Oliveira. Tópicos sobre o ónus da Prova…, op. cit., p. 435. Adriano Paes da Silva Vaz Serra. Provas
(Direito probatório material) …, op. cit., p. 168.
81
259
Abílio Neto. Código civil anotado …., op. cit., p. 323.
260
Ibidem, p. 326 (comentário ao artigo 350 CC).
82
escritura de justificação que foi registada, porque a presunção diz claramente que
abrange apenas e unicamente nos termos que se encontra registado.
83
261
Os argumentos a favor e contra atribuição da presunção são aqui indicados na sua grande maioria
nas palavras utilizadas pelos seus autores.
262
Acórdão do Tribunal da Relação de Guimarães de 07.06.2018, Processo: 309/16.1T8VRL.G1,
Relator: Maria Amália Santos. Sítio: http://www.dgsi.pt. Acesso: 26 jun. 2018; Acórdão do Tribunal da
Relação de Guimarães de 01.02.2018, Processo: 663/11.1.T8BBRG.G1, Relator: Sandra Melo. Sítio:
http://www.dgsi.pt. Acesso: 26 jun. 2018.
263
Acórdão do Tribunal da Relação de Guimarães de 12.03.2015, Processo: 169/12.1TBVPA.G1,
Relator: Manuel Bargado. Sítio: http://www.dgsi.pt. Acesso: 26 jun. 2018.
264
Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa de 24.06.2010, Processo: 101/04.6TBSRQ.L1-2,
Relator: Maria José Mouro. Sítio: http://www.dgsi.pt. Acesso: 26 jun. 2018; Acórdão de Uniformização
de Jurisprudência n.º 1/2008 do Supremo Tribunal de Justiça – acórdão de 04.12.07,
Processo:JSTJ000, Relator: Azevedo Ramos, p.1873. Sítio: http://www.dgsi.pt. Acesso:07/07/2018.
265
Acórdão do Tribunal da Relação de Guimarães de 05.02.2009, Processo: 2473/08-1, Relator:
Gomes Da Silva. Sítio: http://www.dgsi.pt. Acesso: 26 jun. 2018.
266
Acórdão do Tribunal da Relação do Porto de 26.05.2015, Processo: 8423/06.5TBMTS.P1, Relator:
Manuel Domingos Fernandes. Sítio: http://www.dgsi.pt. Acesso: 26 jun. 2018.
84
267
Acórdão do Tribunal da Relação de Guimarães de 07.06.2018…, op. cit., na nota de rodapé 262;
Acórdão de Uniformização de Jurisprudência n.º 1/2008 do Supremo Tribunal de Justiça – acórdão de
04.12.07…, op. cit., p. 1871-1879.
268
Acórdão do Tribunal da Relação de Guimarães de 07.06.2018…, op. cit., na nota de rodapé 262.
269
Idem.
270
Idem.
271
Idem.
272
Acórdão de Uniformização de Jurisprudência n.º 1/2008 do Supremo Tribunal de Justiça – acórdão
de 04.12.07…, op. cit., p. 1874.
273
Isabel Pereira Mendes. Código do Registo Predial…, op. cit., p. 182.
274
Acórdão do Tribunal da Relação de Guimarães de 07.06.2018…, op. cit., na nota de rodapé 262;
Acórdão de Uniformização de Jurisprudência n.º 1/2008 do Supremo Tribunal de Justiça – acórdão de
04.12.07…, op. cit., p.1874; Isabel Pereira Mendes. Código do Registo Predial: Anotado e
Comentado e Diplomas Conexos. 17.ª Ed., Coimbra: Almedina, 2009. P. 182.
275
Maria Clara Sottomayor. O papel da jurisprudência nos efeitos do registo predial. In: Estudos em
Homenagem ao Professor Doutor Heinrich Ewald Hörster. Coimbra: Almedina, 2012, p. 403.
85
276
Maria Clara Sottomayor. O papel da jurisprudência…, op. cit., p. 407.
277
Ibidem, p. 406.
278
José Alberto Vieira. Registo de Usucapião titulada por escritura de justificação notarial e
presunção de titularidade do direito. Cadernos de Direito Privado, Braga, n. 24, p. 39, Out./Dez.
2008. Trimestral.
279
Isabel Ferreira Quelhas Geraldes, Olga Maria Barreto Gomes. Justificação relativa…, op. cit., p.
171.
280
Ibidem, p. 168-169.
281
Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 05.11.2002, Processo: 02A900, Relator: Reis
Figueira. Sítio: http://www.dgsi.pt. Acesso: 22 mar. 2020.
282
Isabel Ferreira Quelhas Geraldes, Olga Maria Barreto Gomes. Justificação relativa…, op. cit., p.
170.
86
notarial beneficia dessa presunção até ser declarada a nulidade do facto registado
com base na escritura de justificação.283 Tanto a escritura pública no caso de
compra e venda como a escritura de justificação têm um papel semelhante por isso
a presunção após registo deve valer para ambas as situações.284 A escritura de
justificação notarial é apenas um documento que permite aceder ao registo mas não
é um ato translativo pressupondo que o direito já exista285 e a presunção do registo
tem por base um grau de probabilidade elevada mediante critérios empíricos de
normalidade da existência de uma ligação concreta do facto que constitui base da
presunção (estar inscrito no registo) e o facto presumido (a causa da aquisição do
direito que estará no documento que é utilizado para aceder ao registo).286
Entende-se que a escritura de justificação como processo de justificação têm
uma função social importante pois permite suprir a falta de documento para 1ª
inscrição, reatamento e novo trato sucessivo, permite diminuir os prédios omissos,
atualização da informação registal e reforçar o princípio de que a base do nosso
sistema jurídico está na usucapião e não no registo e contribui para tornar mais
razoável a possibilidade de vir a adquirir a propriedade.287
Impugnada a justificação notarial através da ação de simples apreciação
negativa cabe o ónus da prova ao réu a não ser que já tenha registado, pois neste
caso passa a beneficiar da presunção que inverte o ónus da prova, não existindo
nenhuma indicação na lei que exceciona aplicação com base no documento que se
utilizou para aceder ao registo.288
Existe uma forte ligação entre os artigos 7.º e 68.º do CRegP em que o
conservador antes de efetuar o registo deve garantir que esteja a ser cumprida o
princípio da legalidade, não se limitando a apenas efetuar o registo e por isso a
atribuição da força probatória.289 O registo é feito com base num dos factos
presentes no artigo 2.º CRegP, cujo direito dele resultante se presume a existência
283
José Alberto Vieira. Registo de Usucapião titulada por escritura de justificação, op. cit., p. 40;
Isabel Ferreira Quelhas Geraldes, Olga Maria Barreto Gomes. Justificação relativa…, op. cit., p.
179.
284
Maria Clara Sottomayor. O papel da jurisprudência…, op. cit., p. 403.
285
Isabel Ferreira Quelhas Geraldes, Olga Maria Barreto Gomes. Justificação relativa…, op. cit.,
180.
286
José Lebre De Freitas. Justificação notarial…, op. cit., p. 253-254.
287
Maria Clara Sottomayor. O papel da jurisprudência…, op. cit., p. 407.
288
Isabel Ferreira Quelhas Geraldes, Olga Maria Barreto Gomes. Justificação relativa…, op. cit., p.
172-173; José Lebre De Freitas. Justificação notarial…, op. cit., p. 254.
289
Isabel Ferreira Quelhas Geraldes, Olga Maria Barreto Gomes. Justificação relativa…, op. cit., p.
169.
87
do facto e do direito de acordo com o artigo 7.º e pertença ao titular inscrito. Nos
mesmos termos se insere as causas e a circunstâncias que constam da inscrição e
do documento que serviu de base para o registo. 290 Aquele que tem inscrição a seu
favor beneficia da presunção e por isso não tem que provar nem alegar a existência,
a validade e eficácia do direito e nem que o mesmo lhe pertence resultando da
conjugação do princípio da legitimação (artigo 9.º CRegP) e o princípio do trato
sucessivo (artigo 34.º do mesmo código).291 Ao recorrer a ela o que falta em
princípio é o documento pois o direito pressupõe que exista, mas se este não existir,
não será com a justificação notarial que passará a existir, esta apenas permite
aproximar a informação do registo com a realidade substantiva.292 O proprietário
recorre a justificação notarial para ter um documento para aceder ao registo, ao
registar o facto jurídico, a escritura de justificação esgota a sua utilidade e passa a
ter importância apenas o direito que resulta do facto jurídico.293
A única interpretação que está mais conforme com a proteção de terceiro é
aquela que lhe atribui a presunção de registo ainda que tenha adquirido do
justificante, pois dessa maneira pode invoca-la, verificando deste modo a tutela do
registo naquele que confiou na informação nele exaurada. Mesmo que o justificante
não tenha transmitido a propriedade a um terceiro pode na mesma beneficiar da
presunção registal por já ter decorrido o prazo de 30 dias ao qual não houve
impugnação e acedeu ao registo, embora não possa invocar a fé pública.294 Uma
interpretação que seja diversa a esta acaba por prejudicar aqueles que têm posse
não titulada que terão de apresentar provas do início da posse, que em princípio
serão apenas testemunhas que devido a grande distância temporal que haverá entre
aquele e a data em que é prestada o testemunho na ação de impugnação serão
consideradas de pouca fiabilidade.295
O facto de ser o estado que promove a organização do registo predial, deve
este aos olhos dos cidadãos transmitir confiança para a circulação do comércio
imobiliário.296 Ao negar o benefício da presunção ao registo com base na escritura
290
José Lebre De Freitas. Justificação notarial…, op. cit., p. 253.
291
Isabel Ferreira Quelhas Geraldes, Olga Maria Barreto Gomes. Justificação relativa…, op. cit., p.
167-168.
292
Ibidem, p. 177.
293
Ibidem, p. 173.
294
José Lebre De Freitas. Justificação notarial…, op. cit., p. 254.
295
Maria Clara Sottomayor. O papel da jurisprudência…, op. cit., p. 400.
296
José Alberto Vieira. Registo de Usucapião titulada por escritura de justificação…, op. cit., p. p.36-
37.
88
de justificação faz com que fique prejudicada a fé publica registal, uma vez que fica
afetado a informação contida no registo com base nesse, como consequência afeta
os interesses social e pública e a confiança naquela informação.297 É pressuposto
que a informação que consta no registo sobre o imóvel seja atual e estável.298
A prova negativa de qualquer facto constitutivo da posse que conduza a
usucapião numa primeira impressão traduz-se numa prova diabólica que não pode
ser exigida ao impugnante da justificação299, devido ao período de tempo entre tanto
decorrido o impugnante terá uma dificuldade apreciável para demonstrar que não
houve atos de posse mas torna-se mais difícil a sua prova se não constar da
escritura de justificação os atos concretos integrantes da posse300 por isso apenas
não se pode beneficiar da presunção do registo quando se limita a invocar o direito
na escritura de justificação sem resultar factos que baseiam a posse, que foi
afirmado a sua existência durante todo o período de tempo necessário para
aquisição pela via da usucapião.301 A descrição do prédio seja através das formas
de formalização ditas normais ou a escritura de justificação deve constar a causa de
aquisição, constituição, modificação do direito (artigos 95.º, n.º 1 do CRegP e 89.º,
n.º 1 e 90.º, n.º 2 do CN). Quando invocada a usucapião deve constar além da causa
da aquisição, também as circunstâncias que determinaram o início da posse e a
caraterizam, artigo 89.º, n.º 2 CN302, devendo indicar atos materiais ao em vez de
basear em conceitos jurídicos.303 A presunção do registo liberta, aquele que invocou
a usucapião e o registou, do ónus da prova dos factos que concretamente tenha
invocado na escritura de justificação que determinaram o início da posse, que o
caraterizam e do decurso do prazo para a invocação da usucapião304.
O entendimento que afasta a presunção tende a demonstrar que os tribunais
que assim o fazem tendem a olhar de forma desconfiada para este procedimento
que foi criada pelo legislador, que disponibilizou aos possuidores que adquirem pela
via da usucapião, poder dessa forma proceder ao registo. Esse entendimento tem
297
Maria Clara Sottomayor. O papel da jurisprudência…, op. cit., p. 407.
298
Isabel Ferreira Quelhas Geraldes, Olga Maria Barreto Gomes. Justificação relativa…, op. cit.,
p.168.
299
Maria Clara Sottomayor. O papel da jurisprudência…, op. cit., p. 407.
300
José Lebre De Freitas. Justificação notarial: Nulidade e registo. In: Estudos Comemorativos dos
10 anos da Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa. Vol. 2. Coimbra: Almedina,
2008, p. 252.
301
José Lebre De Freitas. Justificação notarial…, op. cit., p. 255.
302
Ibidem, p. 252.
303
Maria Clara Sottomayor. O papel da jurisprudência…, op. cit., p. 405.
304
José Lebre De Freitas. Justificação notarial…, op. cit., p. 253.
89
como provável que aqueles que não disponham do título, tenderão a recorrer aos
tribunais para dar prova do seu direito num processo mais moroso e dispendioso
para através de uma ação obter a declaração do direito de propriedade com base na
usucapião e desse modo poderem beneficiar da presunção apos o registo.305
O papel da justificação notarial é apenas suprir a falta de documento para o
registo obrigatório. Ela está no mesmo nível de outras formas de celebração de
negócio sobre imóvel, deste modo não pode ser diminuído por se considerar que
possa vir a ser usado de forma fraudulenta.306 Essa menor segurança que se invoca
tem em contrapartida o cumprimento de algumas diligências e exigências. Alguns
desses cuidados que se tem na escritura de justificação não se verificam nos demais
documentos.307 A avaliação negativa não pode ser feita no plano constituído mas no
plano político legislativo.308 A justificação notarial não se limita a declaração feita
pelo justificante e confirmação dos declarantes, existe determinados cuidados que é
rodeado e garantias especiais para o titular que se encontrar inscrito.309 Ela é útil
uma vez que permite aceder ao registo situações que de outra forma não era
possível, diminuindo o número de imóveis não registados e ao faze-lo aproxima a
informação do registo com a realidade substantiva, permitindo que a informação que
está no registo esteja atualizada, contribuindo para a segurança jurídica e circulação
dos bens.310 A escritura de justificação como outras formas de formalizar tem o
mesmo nível na ordem jurídica portuguesa.311 Os cidadãos beneficiam da presunção
de boa-fé e não como fraudulentos. Não podendo haver uma sobreposição do
judicial sobre o legislativo, até porque este ponderou entre os benefícios e prejuízos
que podiam causar ainda assim entendeu que aqueles eram superiores e pode ser
confirmado pelo contexto histórico. Aquela interpretação que afasta a presunção não
só não está de acordo com a lei, como não é socialmente adequado. Tende a ser
uma valoração negativa e até preconceituosa com esta figura que tende a
generalizar a desconfiança em relação a todos os cidadãos que a ele possam
recorrer para efetuar o registo diminuindo a credibilidade da justificação notarial na
305
Maria Clara Sottomayor. O papel da jurisprudência…, op. cit., p. 402 e 408-409.
306
Isabel Ferreira Quelhas Geraldes, Olga Maria Barreto Gomes. Justificação relativa…, op. cit., p.
175.
307
Ibidem, p.177.
308
Ibidem, p.178.
309
Maria Clara Sottomayor. O papel da jurisprudência…, op. cit., p. 405.
310
Ibidem, p. 408.
311
Isabel Ferreira Quelhas Geraldes, Olga Maria Barreto Gomes. Justificação relativa…, op. cit., p.
176 - 177.
90
312
Maria Clara Sottomayor. O papel da jurisprudência…, op. cit., p. 402-403.
313
Acórdão de Uniformização de Jurisprudência n.º 1/2008 do Supremo Tribunal de Justiça – acórdão
de 04.12.07…, op. cit., p. 1879 (voto vencido do conselheiro João Camilo).
314
Idem.
315
Acórdão de Uniformização de Jurisprudência n.º 1/2008 do Supremo Tribunal de Justiça – acórdão
de 04.12.07…, op. cit., p. 1877 (voto de vencido do conselheiro Salvador da Costa).
316
Augusto Guimarães Mouteira Guerreiro. Notas sobre as justificações…, op. cit., p. 100; Maria
Clara Sottomayor. O papel da jurisprudência…, op. cit., p. 405.
317
Isabel Ferreira Quelhas Geraldes, Olga Maria Barreto Gomes. Justificação relativa…, op. cit., p.
176.
318
Maria Clara Sottomayor. O papel da jurisprudência…, op. cit., p. 403 e 405;
91
319
Maria Clara Sottomayor. O papel da jurisprudência…, op. cit., p. 409.
320
Ibidem, p. 404.
321
Idem.
322
Ibidem, p. 406 - 407.
323
Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 19.02.2013, Processo: 367/2002.P1.S, Relator:
Moreira Alves. Sítio: http://www.dgsi.pt. Acesso: 26 jun. 2018.
324
Acórdão de Uniformização de Jurisprudência n.º 1/2008 do Supremo Tribunal de Justiça – acórdão
de 04.12.07…, op. cit., p. 1878. (voto de vencido do conselheiro Salvador da Costa)
325
Idem (voto de vencido do conselheiro Alves Velho).
326
Ibidem, p. 1879 (voto de vencido do conselheiro João Camilo).
327
Acórdão de Uniformização de Jurisprudência n.º 1/2008 do Supremo Tribunal de Justiça – acórdão
de 04.12.07…, op. cit., p. 1879; Isabel Ferreira Quelhas Geraldes, Olga Maria Barreto
Gomes. Justificação relativa…, op. cit., p. 173.
92
328
que relembrar que é uma presunção iuris tantum , e a não atribuição do benefício
da presunção implica que o ónus da prova continue a caber ao réu, como
consequência a negação da presunção.329
A oponibilidade do artigo 5.º CRegP se efetiva com a presunção do artigo 7.º
do mesmo código.330 Em todas as situações quando existe impugnação deve ser
afastada a presunção do registo por afetar a credibilidade do registo, pois de outra
forma limitaria a escritura de justificação levando a quebra da homogeneidade.331
Não se percebe o motivo do afastamento já que aquele que impugna é quem deve
afastar a presunção.332
As objeções para impedirem o benefício da presunção sem que esta seja
ilidida, correspondem a uma análise restritiva que não tem qualquer autorização na
letra e no espirito da lei, presunção esta que visa acautelar a fé pública registal.333 O
afastamento da presunção tende a ir contra o artigo 9.º n.ºs 1 e 3 CC, os critérios
hermenêuticos da interpretação uma vez que não leva em conta o pensamento
legislativo e unidade da ordem jurídica e o pressuposto que o legislador consagrou a
solução mais adequada e exprimiu o seu pensamento de forma clara. A presunção
deve abranger o registo com base na justificação notarial que só ficará sem efeito
presuntivo mediante ação que declara a nulidade com transito em julgado e
determinar o seu cancelamento, pensamento em contrário infringe uma quebra da
334
unidade do sistema jurídico regulado nos artigos 13.º, 16 e 17 n.º 1 CRegP. O
intérprete não pode dar a entender ser outro, o pensamento do legislador por não ter
correspondência no mínimo com a letra da lei ainda que imperfeitamente expressa,
artigo 9.º, n.º 2 CC.335 Ao se ter limitado o âmbito de aplicação não ficou demostrado
328
Acórdão de Uniformização de Jurisprudência n.º 1/2008 do Supremo Tribunal de Justiça – acórdão
de 04.12.07…,op. cit., p.1879; Isabel Ferreira Quelhas Geraldes, Olga Maria Barreto
Gomes. Justificação relativa…, op. cit., p.167.
329
Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 19.03.2002, Processo: 02A197, Relator: Ribeiro
Coelho. Sítio: http://www.dgsi.pt. Acesso: 22 mar. 2020.
330
Isabel Ferreira Quelhas Geraldes, Olga Maria Barreto Gomes. Justificação relativa…, op. cit., p.
168.
331
Ibidem, p. 170 – cita José Alberto Vieira
332
Ibidem, p. 170-171;
333
Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 19.03.2002…, cit., na nota 329.
334
Maria Clara Sottomayor. O papel da jurisprudência…, op. cit., p. 408 e 409. Isabel Ferreira
Quelhas Geraldes, Olga Maria Barreto Gomes. Justificação relativa…, op. cit., P. 173.
335
Ibidem, p.171.
93
que o legislador disse mais do que queria dizer através de elementos extra literais,
elemento sistemático e teleológico.336
A interpretação feita pelos acórdãos dos tribunais STJ que defenderam
atribuição do benefício da presunção ao registo com base na escritura de
justificação notarial encontravam-se mais conforme com os preceitos na lei, indo ao
encontro das preocupações práticas por eles invocadas.337 Ao ser aberto uma
exceção para não aplicação da presunção, abala a fé pública registal e faz diminuir o
valor probatório da escritura de justificação. Esta permite que factos jurídicos que
estão previstos sejam titulados.338
Quando existe uma venda ou doação em que seja nula por falta de legitimidade,
ela é declarada a todo o tempo acontecendo o mesmo com a justificação notarial
(artigo 892.º e 956.º, n.º 1 do CC).339 A justificação notarial de factos jurídicos que
incida sobre a situação jurídico real de um prédio fica no mesmo patamar de
qualquer outro modo legítimo de titulação na ordem jurídica portuguesa.340 Tanto a
justificação notarial como uma compra e venda ou doação podem ser impugnados
em qualquer momento seja antes ou depois do registo.341 A valoração negativa deve
ser feita pelo legislador pois constitui um instituto consagrado por força de lei e que
visa a substituição do documento em falta e vai-se colocar ao lado de qualquer
modo de celebração de negócio jurídico sobre imóveis no nosso ordenamento
jurídico. A razão de poder ser utilizado de forma fraudulenta não pode justificar a que
342
seja desvalorizado ou diminuído no seu valor. Com o surgimento da lei n.º
116/2008 que determina a obrigatoriedade do registo, a atribuição do benefício da
presunção ao registo com base na justificação notarial é mais conforme com
aquela.343 O afastamento da presunção ao registo com base na escritura de
justificação faz com que o conteúdo do artigo 7.º do CRegP fique mais limitado e
tende a ser um ataque direto a justificação, visto em nenhum outro caso existe essa
limitação.344 Tendo em conta a origem legal, este afastamento cria o risco de haver
sobreposição judicial sobre o que está na lei, traduz-se consequentemente em afetar
336
Rui Paulo Coutinho De Mascarenhas Ataíde. Estudos de Registo Predial: Noções fundamentais,
efeitos substantivos do Registo Predial. Lisboa: AAFDL, 2017. P. 42.
337
José Lebre De Freitas. Justificação notarial…, op. cit., p. 254.
338
Maria Clara Sottomayor. O papel da jurisprudência…, op. cit., p. 402.
339
José Alberto Vieira. Registo de Usucapião titulada por escritura de justificação, op. cit., p. 41.
340
Ibidem, op. cit., p. 40-41.
341
José Alberto Vieira. Registo de Usucapião titulada por escritura de justificação, op. cit., p. 41.
342
Idem.
343
Maria Clara Sottomayor. O papel da jurisprudência…, op. cit., p. 408.
344
José Alberto Vieira. Registo de Usucapião titulada por escritura de justificação, op. cit., p. 40.
94
345
José Alberto Vieira. Registo de Usucapião titulada por escritura de justificação, op. cit., p. 40.
346
Idem.
347
Ibidem, p. 41.
348
Ibidem, p. 42.
95
349
Mónica Jardim, A Evolução Histórica…, op. cit., p.448-451.
350
Mónica Jardim. Revisitando o art. 291.º do Código civil. Boletim da Faculdade de Direito.
Coimbra, Vol.63, Tomo 1, p. 167, 2017. Semestral; Comentário no artigo 291.º CC pela Juíza Maria
Clara Sottomayor, in: Luís Carvalho Fernandes, coord. II; José Brandão Proença, coord. Comentário
ao Código civil…, op. cit., p. 726. Luís M. Couto Gonçalves. A aplicação do artigo 291.º do Código
Civil á terceiro para efeitos de registo: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 19.2.2004, Proc.
4369/03 Anotado. Caderno privado, Braga, n.º 9. P. 52, Jan./Mar. 2005. Trimestral.
97
351
Mónica Jardim, A Evolução Histórica…, op. cit., p. 453-454.
352
Paulo Ferreira Da Cunha. Justificação (ou legitimidade) da filosofia e justificação do direito. In:
CUNHA, Paulo Ferreira Da. Filosofia do direito: Fundamentos, metodologia e teoria geral do direito.
2.ª Ed. Coimbra: Almedina, 2013. P. 74.
353
José Alberto Vieira. Os princípios de direitos..., op. cit., p. 275.
98
Chegado aqui depois deste percurso, para podermos ter uma posição tem de
haver fundamentação. No acórdão de uniformização de jurisprudência, o STJ
entendeu que a justificação notarial não devia beneficiar da presunção do registo. O
Dr. Rui Ataíde354 entende que o tribunal fez uma interpretação restrita mas sem
demostrar que o legislador disse mais do que queria dizer. Partindo da base dessa
análise do autor que faremos a interpretação da lei. Não iremos ater numa
354
Rui Paulo Coutinho de Mascarenhas Ataíde. Estudos de Registo Predial…, op. cit., p. 42.
99
355
Para aprofundamento deste ponto vamos sugerir uma bibliografia que não é taxativa: Miguel
Teixeira De Sousa. Interpretação da lei. In: Introdução ao direito. Coimbra: Almedina. 2017. P. 337-
381. 4.ª Reimpressão. ; António Pedro Ferreira. A determinação da solução jurídica. In: Pedro Trovão
Rosário et al. Introdução ao direito. Coimbra: Almedina, 2016. P. 275-324; Inocêncio Galvão Telles.
Interpretação e integração da lei. In: Introdução ao estudo do direito. 11.ª Ed (Reimpressão),
Coimbra, 2001. P. 235-273. Volume 1; Luís Cabral De Moncada. Interpretação das leis; conceito e
objecto da interpretação; sentido da lei (mens legis). In: Lições de Direito civil: parte geral. 4.ª Ed
revista. Coimbra: Almedina, 1995. P. 140-161; José de Oliveira Ascensão. Interpretação. In: O
direito: introdução e teoria geral. 13.ª Ed. (refundida, 5.ª Reimpressão), 2011. P. 391-431. Marcelo
Rebelo De Sousa; Sofia Galvão. A interpretação da lei. In: Introdução ao estudo do direito. 5.ª Ed.
Lisboa: LEX, 2000. P. 55-75. Eduardo Vera-Cruz Pinto. Interpretar o artigo 9.º do código civil pela
lição da iurisprudentia romana: algumas considerações preliminares (parte I). In: Interpretatio
Prudentium: direito romano e tradição romanista em revista, Lisboa, Ano 2, N.º 1, p. 289-303, 2017.
Germano Marques Da Silva. A interpretação das leis. In: Introdução ao estudo do direito. Lisboa:
Universidade Católica Editora, 2006, p. 225-246.
356
Miguel Teixeira De Sousa. Interpretação da lei..., op. cit., p. 347-381, 2017.
357
Ibidem, p. 349.
358
Inocêncio Galvão Telles. Interpretação…, op. cit., p. 238; Germano Marques Da Silva. A
interpretação das leis…, op. cit., p. 226.
359
Miguel Teixeira De Sousa. Interpretação da lei..., op. cit., p. 356.
100
360
José da Fonseca e Silva. Justificação para fins de registo predial…, op. cit., p. 200. – Neste artigo
autor referiu ter aparecido no cartório, interessados que pretendiam recorrer a justificação para
reatamento do trato sucessivo mas existia uma lacuna registal. Aqueles limitaram a indicar o elo
faltoso sem dar elementos concretos para ser preenchido. Tendo que ``então o notário dar uma
explicação jurídica coerente, muitas vezes ``inventar´´, ``forjando uma inócua mentirola´´. Depois
indica que encaminhou os interessados para outro cartório por não se sentir ``a vontade de assumir a
responsabilidade da sua outorga´´.
103
poder efetuar o registo definitivo. Estes artigos têm objetivo que o registo
seja feito o quanto antes e por quem por princípio tenha o direito para
garantir que a presunção do registo esteja o mais próximo da realidade. O
artigo 10.º estabelece que os efeitos de registo cessam por transferência
mediante novo registo ou extinção, este pode ser por caducidade ou
cancelamento. Quando se verifica uma impugnação, a lei presume o
pedido de cancelamento do registo (artigo 8.º), e se apenas presume, não
pode abalar a presunção que só se verifica com efetivo cancelamento do
registo e este se verifica com transito em julgado de uma decisão judicial
(artigo 13.º). A principal função do registo é a publicidade e existindo um
registo definitivo, dele vai decorrer a notícia da situação do prédio tal como
encontra-se registado e se alguém pensa adquirir um imóvel tem
obrigatoriamente de consultar o registo para garantir que a sua aquisição
seja titulada e para que possa aceder ao registo. O conservador para
registar primeiro vai verificar se de facto não existe dúvida que direito
pertence aquele que pretende registar, ou seja que a grande probabilidade
o direito lhe pertence, mas não pode garantir que assim seja. O registo
definitivo faz automaticamente surgir a presunção do registo que é um
efeito do registo que apenas deixa de se verificar quando há transmissão
que tenha sido registada ou tenha extinguido por caducidade ou
cancelamento (artigo 10.º CRegP). No caso da justificação notarial
havendo impugnação não afasta a presunção, já que no artigo 8.º CRegP
indica que a impugnação faz presumir o cancelamento do registo e não
que o mesmo é cancelado. O efeito do registo, no caso a presunção do
registo, só é afetado quando haja o efetivo cancelamento que só se
verifica quando haja trânsito em julgado da decisão judicial (artigo 13.º
CRegP). De acordo com esta sistematização o mais conforme com
unidade do sistema jurídico é atribuição da presunção do registo. Vamos
passar ao contexto vertical, quanto ao direito europeu, Portugal é membro
da associação europeia de registos prediais (ELRA) o objetivo é a
compreensão e o desenvolvimento do papel do registo predial nos
mercados imobiliário362 mas quanto a matéria de registo é regulado pelas
362
Registos prediais a nível europeu. Sítio: https://e-
105
tem o registo nos termos que se encontra no registo, mas nenhuma ação
contraditória pode ser exercida sem previamente ser pedido ao mesmo
tempo um pedido de nulidade ou cancelamento, mas este pedido de
nulidade só pode basear em causas que estejam expressamente previstas
na lei quando deva causar prejuízo a terceiros.367 Embora Portugal e
Espanha sejam países com realidades diferentes, a questão é se deixou
ser necessário em Espanha e em Portugal continua a vigorar é um sinal
positivo dessa figura que continua a ser útil e necessário.
iii. Elemento teleológico - determinar qual a finalidade da lei. Procurar o
propósito que justifica a vigência da lei. Tem o intérprete que descobrir a
ratio legis da lei. Vem consagrado no artigo 9.º, n.º 1 CC ``condições
específicas do tempo em que é aplicada´´. Para poder determinar as
situações em que pode dar resposta tem que se compreender a lei.
Temos que levar em conta a estatuição em três pontos: 1º o que a lei
permite – que aquele que tenha o registo definitivo beneficia da presunção
do registo, 2º proíbe- que aquele que não tem o direito tente aceder ao
registo de forma a fraudar a informação que dai decorre, 3º obriga – que
seja feita o registo dos factos jurídicos que a ele estão sujeitos e que o
conservador tudo tenha feito para garantir que a informação do registo
esteja o mais próximo da realidade do imóvel. O elemento teleológico
deve ser considerado na prespectiva atualista e objetivista ou seja deve
ser dado o significado que corresponde a finalidade que a lei tem no
momento da interpretação. Deve-se atender as circunstâncias políticas,
culturais, sociais e económicas existentes no momento da interpretação e
determinar a finalidade que tem perante fatores que lhe são estranhas
como também os fatores jurídicos. Dentro do elemento teleológico, temos
fatores sistemáticos em que se determina o princípio formal ou material,
mas tem de ser o princípio que melhor se adequa aos interesses que essa
lei visa proteger.368 Neste caso em concreto parece nos que visa proteger
a credibilidade do registo e a publicidade que decorre e a fé pública
registal, dai fazer todo o sentido que seja o princípio da publicidade
367
Entendendo haver ai uma presunção iuris et iure, Sítio: https://e-
justice.europa.eu/content_land_registers_in_member_states-109-es-pt.do?member=1. Acesso:
18/08/2020.
368
Miguel Teixeira De Sousa. Interpretação da lei..., op. cit., p. 366-369.
107
forma a aumentar a confiança por parte daqueles que a elaboram, registam como
daqueles que não tendo outro meio recorrem a ela. Ao longo do nosso trabalho
fomos referindo os pontos que devem ser melhorados dai não fazer sentido nos
repetirmos nesta parte final. No entanto queremos por fim acrescentar que deve
haver um meio-termo, o registo com base na justificação notarial deve beneficiar da
presunção desde que resulte da mesma toda informação e prova necessária que
permite demonstrar a existência do direito e não uma mera afirmação sendo sempre
analisado no caso concreto.
110
6- Considerações Finais
relevante para este tema. Uma análise com base em dados estatísticos de forma a
confirmar o impacto que tem na prática com certeza seria um bom tema para uma
futura dissertação.
113
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