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FACULDADE DE DIREITO UNIVERSIDADE DE LISBOA - FDUL

MESTRADO EM DIREITO E PRÁTICA JURIDICA – CIÊNCIAS JURIDICO-


FORENSES

GIOVANNA DA LUZ GOMES

A PROBLEMÁTICA DA JUSTIFICAÇÃO NOTARIAL EM TORNO DA


PRESUNÇÃO DO ARTIGO 7.° CRegP

LISBOA
2020
GIOVANNA DA LUZ GOMES

A PROBLEMÁTICA DA JUSTIFICAÇÃO NOTARIAL EM TORNO DA


PRESUNÇÃO DO ARTIGO 7.º CRegP

Dissertação apresentada á Faculdade de Direito


Universidade de Lisboa- FDUL como requisito
parcial para obtenção do Titulo de Mestre em
Mestrado em Direito e Prática Jurídica, Ciências
Jurídico-Forenses.

Orientador: José Luís Bonifácio Ramos, Doutor

LISBOA
2020
AGRADECIMENTOS

Dedico a Deus e a minha família, principalmente aos meus pais que nunca deixaram
de acreditar em mim, enfim a todos que contribuíram para esse momento de vitória,
muitíssimo obrigada.
``A propriedade é o suporte de toda a
organização do domínio´´

(Orlando de Carvalho p.120)


LISTA DE ABREVIATURAS

BRN- Boletim dos Registos e do Notariado


CC- Código Civil
CN- Código Notarial
CP- Código penal
CRegP- Código Registo Predial
CRP- Constituição da República Portuguesa
DL- Decreto-Lei
SS.- Seguintes
STJ- Supremo Tribunal de Justiça
TC- Tribunal Constitucional
TRC- Tribunal da Relação de Coimbra
TRE- Tribunal da Relação de Évora
TRG- Tribunal da Relação de Guimarães
TRL- Tribunal da Relação de Lisboa
TRP- Tribunal da Relação de Porto
Índice

INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................... 6

1. JUSTIFICAÇÃO NOTARIAL ................................................................................................................ 8

1.1- Breve perspectiva histórica .............................................................................................................. 8

1.2- Os tipos de justificação notarial ..................................................................................................... 27

1.3 - Os requisitos da justificação.......................................................................................................... 35

2. Usucapião .......................................................................................................................................... 46

2.1- Requisitos ....................................................................................................................................... 46

2.2 - A problemática de saber se o preenchimento do prazo para invocação da usucapião a atender é


até a data que foi lavrada a escritura de justificação ou da citação para ação. ................................... 55

2.3 - A importância da Justificação notarial para usucapião................................................................. 57

3. Registo predial ................................................................................................................................... 59

3.1 - A importância do registo ............................................................................................................... 59

3.2 - Os requisitos necessários a feitura do registo .............................................................................. 60

3.3- Surgimento da presunção do registo e a sua importância ............................................................ 64

3.4 - Qual o papel da justificação notarial para o registo ..................................................................... 68

4. Ónus da prova e a presunção legal ou de direito .............................................................................. 70

4.1- Ónus da prova ................................................................................................................................ 70

4.1.1- Regra geral .................................................................................................................................. 70

4.1.2 - Ação de simples apreciação negativa ........................................................................................ 73

4.2- Presunção legal ou de direito ........................................................................................................ 76

4.2.1 - Pressupostos .............................................................................................................................. 76

4.2.3 - Inversão do ónus da prova ......................................................................................................... 79

4.2.3- Prova em contrário ..................................................................................................................... 80

4.3 - Qual a relação existente entre a presunção de legal e o ónus da prova ...................................... 81

4.4 - Aplicação desta análise na nossa questão em concreto ............................................................... 81

5. Justificação notarial e a presunção decorrente do registo predial ................................................... 83


5.1- Confronto entre os argumentos da doutrina e jurisprudência: os pros e contras sobre atribuição
do benefício da presunção ao registo feito com base na justificação notarial. .................................... 83

5.2- Analise das vantagens e desvantagens da justificação notarial com base nas duas teses. ........... 94

5.3 - A impugnação do registo com base na justificação notarial e 3º para efeitos do registo ............ 96

5.5- A interpretação do artigo 7.º do CRegP e a posição adotada ........................................................ 98

6- Considerações Finais ....................................................................................................................... 110

Referência ........................................................................................................................................... 113

Jurisprudência ..................................................................................................................................... 122

Boletim dos Registos e do Notariado .................................................................................................. 124

Pareceres do Conselho Técnico .......................................................................................................... 126


6

INTRODUÇÃO

A justificação notarial é o meio de permitir o acesso ao registo suprindo a falta


do documento necessário para esse efeito. Ao fazer o registo do facto utilizando este
meio, tem surgido na doutrina e na jurisprudência a controvérsia de saber se deve
este beneficiar da presunção decorrente do registo. Atualmente esta controvérsia foi
se apaziguando na jurisprudência devido ao acórdão de uniformização. Como
teremos oportunidade de demonstrar este tema está longe de ser pacífico. Assim
sendo, surge-nos a questão de saber, qual a interpretação mais conforme com
espirito da lei, ou a intenção do legislador, é de atribuir ou afastar a presunção?
Estaremos perante uma omissão do legislador que não terá ponderado ou mesmo
questionado as consequências dessa presunção do registo para justificação
notarial? Ou pelo contrário estaremos perante uma decisão consciente?
Entende a jurisprudência atual e parte da doutrina que a justificação não deve
beneficiar da presunção pois é grande a probabilidade de que seja usado como fim
fraudulento, no entanto adotar esse caminho não resolve o problema, devemos olhar
antes disso, ver nos requisitos se existem aspetos que possam ser aperfeiçoados.
Começaremos por fazer uma abordagem histórica da justificação para
podermos compreender como chegamos a justificação notarial que conhecemos
hoje, depois a usucapião, visto ser uma das principais razões de recurso a
justificação seja por aquela ser invocada diretamente ou indiretamente mas ao qual
não tem documento que o comprove ou o tendo este não é suficiente. Analisaremos
de seguida o registo predial, já que o recurso a justificação notarial é justamente
para quem queira fazer o registo mas não tenha o documento que o permita fazer e
tendo em conta que ao fazer o registo dai decorre uma presunção que tem influencia
sobre o ónus da prova fazendo decorrer a partida a inversão do ónus da prova
temos que de seguida os analisar para uma melhor compreensão. Uma vez feito
este percurso, já estaremos em condições de analisar a questão central da
dissertação, fazendo não só análise da abordagem doutrinária e jurisprudente desta
questão mas também a nossa própria análise para poder dar resposta a questão se
deve a justificação beneficiar da presunção do registo.
7

Com este trabalho visamos aprofundar mais, os conhecimentos até então


adquiridos, de forma a tentar alcançar um novo prisma, da mesma realidade ou
quem sabe uma terceira via.
8

1. JUSTIFICAÇÃO NOTARIAL

1.1- Breve perspectiva histórica

Tudo aponta que o legislador português tenha importado a figura da


justificação da posse do sistema espanhol1. No projeto da lei hipotecária espanhola
de 1860, na parte de exposição motivos apresenta a nova forma de titulação, a
justificação que vinha resolver a situação da falta de documento (essa situação
verificou-se devido: a guerras civis e estrangeiras, incêndios e ruinas que ao longo
dos seculos teve lugar, o pouco cuidado na conservação dos arquivos e descuido
dos proprietários), por este ter um impacto negativo na propriedade. Apesar do papel
daquela, entendia-se que esta não estaria ao mesmo nível que os títulos verdadeiros
quanto confiança transmitida e eficácia, que apenas ficava resolvida quando tivesse
adquirido pela via da usucapião. Tentou-se com esta figura evitar surpresas e que os
direitos legítimos não fossem afastados por direitos bastardos, tomando todas as
precauções possíveis.2 A lei hipotecária surgiu em 1861, no seu artigo 34.º protegia
o terceiro de nulidades anteriores do transmitente ou direitos não registados com
exceção dos casos de justificação previsto no artigo 397.º a não ser que tivesse
decorrido o prazo para prescrição e aquisição do direito. A razão dessa exceção,
encontra-se em comentário a aquele artigo, onde se refere que o recurso a
justificação é devido a inexistência do título e em relação aos terceiros a inscrição da
posse não tornava valido os atos nulos, que só acontecia com o decurso do prazo
para aquisição do direito, tendo a partir desse momento efeito sequencial sobre as
aquisições posteriores, entendimento esse reforçado pelo artigo 409.º que
determinava que a inscrição da posse não poderia prevalecer sobre quem tivesse
melhor direito ainda que não estivesse registado. Os terceiros só eram prejudicados
com a existência do registro e a prescrição só começava a correr apos registro,
verificado, aquele o título seria qualificado e o tempo contado de acordo com a
legislação comum (artigo 35.º). Em comentário a esse artigo, existe referência ao

1
Esta prespectiva parece ser confirmada pelo comentário feito na lei hipotecária. Antonio Augusto
Ferreira De Melo. Commentario critico explicativo á lei hypothecaria portugueza de 1 de julho
de 1863: regulamento respectivo e leis posteriores precedido de uma introdução. Porto: Typographia
de Antonio Augusto Leal, 1864. P. 99, 104, 156-158.
2
Excmo. Sr. Ministro De García y Justicia. Proyecto de ley hipotecaria: Con la esposicion de sus
motivos y fundamentos; redactado por la comision de codificacion y presentado á las córtes. Madrid:
imprenta de la revista de legislacion, 1860, p. 125-127.
9

facto da prescrição poder dar direito a quem não o tinha ou embora tivesse titulo não
tivesse recebido de ninguém acrescendo o requisito a boa-fé ao decurso do tempo.3
Conjugando os artigos 389.º e 390.º determinavam o prazo de um ano a contar da
entrada em vigor desta lei para que os interessados pudesse fazer o registro desde
que antes da publicação da lei tivessem adquirido o direito ou o bem e ainda não se
encontrasse registrado desde que já tivesse decorrido 90 dias ou mais ficando
isentos de pagar direito hipotecários e multas que podiam ter lugar e pagariam
apenas metade dos onerários ao conservador. A justificação estava regulada nos
artigos 397.º a 410.º.
O artigo 397.º determinava que o proprietário que não tivesse o título do
domínio tinha que recorrer a justificação da posse para poder registar, cabendo
apenas a este a legitimidade. A justificação era feita perante o juiz de 1ª instância do
lugar onde estava situada o bem e ouvido o promotor fiscal. Caso os bens
estivessem situados na cidade ou termo onde não existia juiz de 1ª instância nesse
caso caberia ao juiz de paz e neste caso era ouvido o Administrador da prefeitura
nos casos que caberiam ao juiz de 1ª instância. No artigo 398.º referia-se as
informações que deviam constar da justificação, como o nome e apelido de quem
adquiriu o bem, as circunstâncias de título não existir ou se existindo não ser fácil
obtê-lo, o tempo da posse, entre outros. As informações prestados pelo proprietário,
seriam confirmadas por dois ou três testemunhas que fossem proprietários vizinhos
ou termo onde estivessem situados os bens, artigo 399.º. As testemunhas limitavam
as suas declarações ao facto do justificante ter os bens em nome próprio e o tempo
da sua duração, ficando responsáveis pelos prejuízos das declarações que fossem
inexatas, artigo 400.º, teria ser apresentado o recibo de pagamento do ultimo
trimestre de contribuição territorial, mas se não tivesse pago nenhum por ser
aquisição recente, nesse caso era dado conhecimento da justificação a quem lhe
transmitiu o bem ou seus herdeiros a fim de se verificar se opunham ao registo. Se
herdeiro fosse o justificante apresentaria o recibo de pagamento da contribuição do
falecido possuidor, artigo 401.º. Mas se existisse alguém que entendesse que o
direito a ser justificado lhe pertencia poderia alega-lo perante o juiz competente em
julgamento ordinário, ao interpor esta ação e a sua inscrição no registo faria

3
D. José M. Pantoja; D. Antonio M. Floret. Ley hipotecaria: comentada y explicada, concordada con
las leyes y códigos extranjeros, comparada con las disposiciones de la legislacion española que han
servido de precedente para redactarla: precedida de una introduccion histórica y de la exposicion de
sus motivos y fundamentos. Vol.1, 1861. P. 236-239.
10

suspender o curso do expediente de informação (justificação) ou a inscrição se já


estivesse concluído e aprovado, artigo 403.º. Se fosse suficiente a informação
referida nas situações anteriores e não houvesse oposição ou existindo foi rejeitado,
o juiz aprovava o expediente e mandava fazer o registro mas sem prejuízo para
terceiro que tivesse melhor direito (artigo 404.º) e com esse documento o possuidor
faria o registo (artigo 405.º). No artigo 406.º fazia remissão para o artigo 398.º que
referia a necessidade de constar no registo as circunstâncias ali inscritas, além disso
os nomes das testemunhas, o resultado das declarações, as diligências praticadas
no expediente, a opinião do ministério publico. O conservador antes de fazer o
registro da justificação tinha que verificar cuidadosamente se existia já registado
algum assento que com inscrição poderia ficar total ou parcialmente cancelado. Se o
conservador verificasse que existia um assento de aquisição do direito de
propriedade em contradição com o facto justificado, devia suspender o registo e
fazer uma anotação preventiva depois enviava uma cópia do assento ao juiz que
aprovou a justificação. Este daria a conhecer a pessoa cujo assento diz respeito a
existência da justificação e com audição da mesma iria decidir se revogava o auto
de aprovação ou não, de qualquer maneira sempre teria de informar ao conservador
que mediante isso fizesse a inscrição ou cancelasse a anotação preventiva (artigo
407.º). A inscrição que se fizesse através da justificação da posse apenas podia
favorecer ou prejudicar terceiro apos registro e mesmo assim apenas os efeitos que
a lei reconhecesse a mera posse (artigo 408.º). Mas aquele que tivesse melhor
direito não sairia prejudicado mesmo que não tivesse o seu título inscrito, a não ser
que tivesse aquele adquirido deste pois nesse caso os efeitos da posse entre as
parte, produzia logo que devia produzir de acordo com direito comum (artigo 409.º).
A justificação não se aplicava no caso de direito hipotecário (artigo 410).4
No sistema português primeiro visou a implementação do cadastro, a
comissão foi atribuído os trabalhos preparatórios, subsequente o relatório n.º 108 de
9 de maio de 1849 foi publicado no diário do governo. Visava essencialmente a
contribuição predial e referente ao domínio da propriedade resolver questões
referente ao passado e impedir para futuro que surgissem, conseguido dessa forma
uma base segura para estabelecimento do sistema hipotecário e do crédito predial.

4
D. José M. Pantoja; D. Antonio M. Floret. Ley hipotecaria: comentada y explicada, concordada con
las leyes y códigos extranjeros, comparada con las disposiciones de la legislacion española que han
servido de precedente para redactarla: precedida de una introduccion histórica y de la exposicion de
sus motivos y fundamentos. Vol. 2, 1862. P. 241-244, 259-288.
11

Em comentário ao relatório, o autor salienta a falta de documento da maior parte dos


proprietários, em que grande parte provem da posse ou da prescrição, que muitas
vezes a posse tem na base a ocupação. O cadastro só poderia ser consignado os
factos e que pelos títulos que os interessados tivessem por virtude de contratos,
transmissões ou disposições do reino é que resultaria o direito.5
Surge a lei hipotecária de 1 de julho de 1863, que é complementada com o
regulamento geral da lei hipotecária aprovada pelo decreto de 4 de agosto de 1864.
Para poder alegar em tribunal a posse como prova da propriedade primeiro teria que
ser feito o registo da posse, mas apos o registo o seu começo para efeitos legais era
feito de acordo com a legislação civil (artigo 38.º). No entanto se tivesse sido feito
registro de um título translativo de propriedade ao qual não se verificava nenhuma
condição suspensiva implicava a transferência da posse automaticamente (artigo
39.º). Para ser reconhecido a posse de uma transmissão de propriedade por título
oneroso ou gratuito, esta tinha de estar registado (artigos 41.º e 33.º, n.º 5). Em
comentário ao artigo 41.º, o autor aponta para o facto de que verificando a situação
do artigo 39.º, não haveria a possibilidade de invocar a posse em contrário, nem
mesmo de justificar nem inscrever a posse. No que se refere a justificação ela vem
regulada no segundo diploma nos artigos 137 a 148, cujo título é do serviço de
registo predial com relação especial á posse e sua justificação quando não titulada.
No artigo 139.º do regulamento geral da lei hipotecária (RGLH) remete para artigo
33.º, n.º 6 da lei hipotecária, que determinava que a justificação era judicial e
comprovava-se dessa forma a posse, mas antes era feito a citação edital das
pessoas incertas por 30 dias, a publicação do anúncio era feito no periódico da
cabeça da comarca, na falta deste no periódico oficial do governo e com intervenção
do ministério público. A legitimidade para justificação cabia apenas titular do direito
que devido a falta de documento apenas podia justificar a mera posse. Aparecendo
quem se opusesse a justificação da posse ou mesmo se o ministério público a
impugnasse, ficaria contenciosa até o trânsito em julgado da sentença. A
impugnação era deduzida por embargo (artigo 141.º RGLH) mas só teria lugar apos
ser feita a justificação por testemunhas e documentos que demonstrassem atos
possessórios (artigo 142.º). No entanto ficava afastada a possibilidade de recurso a

5
F. A. F. da S. Ferrão. O cadastro e a propriedade predial ou sobre a questão se a organização do
cadastro pode ter logar de fórma que não só fique sendo o tombo da propriedade predial...: relatorio
annotado. Lisboa: Na Imprensa Nacional, 1849. P. 6 nota 1, 13-15, 30.
12

justificação ficasse provado que no imóvel já existia um caso de mera detenção ou


possuidor em nome alheio, ou existia inscrição de propriedade no mesmo imóvel em
nome de outra pessoa (artigo 143.º). Da justificação era dado vista por 5 dias
improrrogáveis ao advogado do oponente e em ultimo lugar ao ministério público
querendo deduzisse o embargo (artigo 145.º). Se houvesse lugar a embargos, o
justificante faria a contestação, seguida da audiência de julgamento e poderia haver
necessidade de questionar novamente as testemunhas ou outras que tivessem sido
apresentadas antes da audiência e entregue no cartório do escrivão (artigo 146.º).
Já as custas judiciais cabiam ao justificante, ao qual acrescia os embargos, não
sendo assim se a justificação fosse julgada procedente por sentença nesse caso
caberiam aos embargantes o valor dos últimos exceto se o embargante fosse o
ministério público.
O decreto de 14 de maio de 1868 aprovou o regulamento do registo predial,
nos artigos 171.º a 173.º que regulava a justificação judicial da posse, uma das
mudanças era que não sendo possível publicação no anúncio no periódico da
cabeça de comarca por não existir era feita na gazeta da respetiva relação, com
intervenção do ministério público, sendo competente o juiz da respetiva localidade.
Deixava de haver possibilidade de recurso a justificação da posse se fosse provado
detenção de uso, usufruto, consignação, simples arrendamento, mandato, mera
administração, favor ou qualquer título precário, ou se existisse uma inscrição de
propriedade sobre mesmo objeto em nome de outra pessoa (artigo 173.º). Sujeito a
registo determinado facto (artigo 174.º), este só produzia efeito perante terceiro apos
registo, se fosse registado definitivamente, os efeitos do registo apenas deixam de
subsistir quando fosse cancelado (artigo 175.º).
Depois do surgimento da presunção de registo em 18706, foi criada a
justificação de domínio7 (artigo 2.º do Decreto n.º 4619, 13 de julho de 19188), que
era uma justificação judicial em que atribuído com o registo o direito a propriedade
plena (continuando a existir justificação de mera posse, § 2.º), mas apenas para 1ª
inscrição (já que no artigo 1.º determinava que se existisse registo em nome de
alguém, não podia haver nova inscrição sem intervenção do titular inscrito ou das

6
Sobre esta parte falaremos no terceiro capítulo.
7
Mónica Jardim, A Evolução Histórica da Justificação de Direitos de Particulares para Fins do Registo
Predial e a Figura da Justificação na Actualidade. In: Escritos de Direito Notarial e Direito Registal.
Coimbra: Almedina, 2015. P. 392.
8
Diário do Governo n.º 157/1918, 1ª série, p. 1259-1261, disponível: Arquivo Nacional de torre do
tombo.
13

pessoas que constassem do registo como sendo possuidores). A legitimidade para


requere a justificação cabia ao proprietário e desde que não houvesse interessado
certo que devia ser demandado, era requerida ao juiz da situação do prédio usando
o processo especial dos artigos 595 e 596 CPC (artigo 2.º, § 1.º) mas que sofria
algumas modificações: depois da citação e do termo do prazo dos editos, começava
a correr o prazo para a contestação; o autor tinha que petição inicial apresentar o rol
de cinco testemunhas que tinham de ser residentes a mais de 10 anos e gozar de
reconhecido crédito perante os vinte maiores proprietários da freguesia onde estava
o prédio situado; se não fosse impugnado a justificação e após terminado o prazo
para a contestação era enviado o processo com vista ao ministério público (MP),
este pronunciaria após 8 dias sobre a idoneidade das testemunhas, feita a inquirição
das testemunhas o processo era logo concluso em sentença que era proferida em
15 dias.
Vigorava nessa altura o registo facultativo, o que ao fim ao cabo não
representava um real incentivo a sua feitura.9 Por isso a tentativa do legislador
aproximar a realidade registal da substantiva não terá sido bem-sucedida.
Surge decreto n.º 8:437 de 21 de outubro de 192210 que apresenta algumas
alterações, no artigo 103.º, n.º 2 a credibilidade das testemunhas passa a caber aos
proprietários residentes na freguesia onde estava situado o prédio e ai residido por
mais de 10 anos. A idoneidade das testemunhas continua ser apreciada pelo
Ministério Público (n.º 3). Continuava-se a exigir a intervenção das pessoas inscritas
ou seus possuidores constantes do registo para que pudesse haver nova inscrição
(artigos 145.º e 152.º, n.º 9). Não havendo qualquer ressalva para a justificação,
estando o prédio já registado, sem a intervenção daquele que tinha o registo em seu
nome a justificação seria insuficiente para realização do registo ou até não se podia
a ela recorrer, uma vez que no artigo 82.º só são admissíveis a registo os
documentos legais e suficientes. Disto podemos retirar que mantém a justificação
apenas para 1ª inscrição, embora tal não estivesse de forma expressa.
Com o decreto-lei 11:859 de 2 de julho 192611 autorizou que o governo
através instituto geográfico e cadastral procedesse à organização do cadastro

9
Mónica Jardim, A Evolução Histórica…, op. cit., p. 392.
10
Diário do Governo n.º 220/1922, 1ª série, p. 1198-1211, sítio: https://dret.pt/web/guest/pesquisa-
avancada. Acesso: 08/02/2020.
11
Diário do Governo n.º 145/1926, 1ª série, p. 729-731, sítio: https://dret.pt/web/guest/pesquisa-
avancada. Acesso: 14/08/2020.
14

geométrico da propriedade rustica do continente e das ilhas, decreto-lei 12:451 de 9


de outubro de 192612 permitia dotar esse instituto com os elementos necessários
para levantamento do mapa parcelar e era determinado as formalidades para ser
executado e decreto-lei 14:162 de 25 de abril de 192713 vinha permitir proceder a
organização de serviços de avaliação da propriedade rustica.
Surgiu depois o decreto-lei n.º 15:986 de 29 de setembro de 1928 que
promulga o CRegP14. No artigo 213.º, n.º 1 passou-se a exigir a apresentação do
documento como o prédio estava inscrito na matriz predial e o rendimento coletável
ou a certidão de que tinha sido feito a participação quando não estivesse inscrito. No
que refere as testemunhas agora passa a ser necessário que residam na freguesia
da situação do prédio a mais de 30 anos (n.º 3) e a redução do número de
testemunhas para no mínimo três. O artigo 213.º, n.º 4, § 1.º, determina que o
registo fosse feito com base na carta de sentença transitado em julgado que atribuía
ao requerente o direito a propriedade plena sobre o prédio. Continua-se a exigir a
intervenção da pessoa que tem registo em seu nome ou o possuidor registado sob
pena de não o fazendo ser recusado nova inscrição (artigos 254.º, n.º 8 e 273.º) mas
agora trazendo uma novidade no artigo 254.º, n.º 8, § 3.º, que permitia o registo
provisório e que depois convertia em definitivo se dentro do prazo fosse apresentado
os documentos das transmissões intermédias, mas tendo em conta que a principal
razão do recurso a justificação é falta de documentos mantém a situação do recurso
a justificação apenas para 1ª inscrição.
Com o decreto 17;070 de 4 de julho de 192915 que vem regulado CRegP, no
artigo 209.º, n.º 3, deixou de referir a necessidade das testemunhas residirem no
lugar onde se encontra o prédio, bem como de ter credibilidade perante os
proprietários residentes e da idoneidade das mesmas serem apreciadas pelo
Ministério público. O registo era feito com base na carta ou certidão da sentença
(artigo 209.º, n.º 4, § 1.º). Situações que a princípio poderiam parecer uma omissão
veem clarificada no § 2.º, quando refere que essas modificações são aplicáveis a
justificação de mera posse, o que quer dizer que o legislador entendeu que
12
Diário do Governo n.º 225/1928, 1ª série, p. 1499-1504, sítio: https://dret.pt/web/guest/pesquisa-
avancada. Acesso: 14/08/2020.
13
Diário do Governo n.º 186/1927, 1ª série, p. 1703-1715, sítio: https://dret.pt/web/guest/pesquisa-
avancada. Acesso: 14/08/2020.
14
Diário do Governo n.º 225/1928, 1ª série, p. 1987-2015, sítio: https://dret.pt/web/guest/pesquisa-
avancada. Acesso: 08/02/2020.
15
Diário do Governo n.º 150/1929, 1ª série, p. 1633-1664, sítio: https://dret.pt/web/guest/pesquisa-
avancada. Acesso: 08/02/2020.
15

determinadas situações deveriam ser simplificadas. No entanto neste novo código


não tem nada semelhante ao § 3.º, do n.º 8, do artigo 254.º do CRegP 1928. Nos
artigos 250.º, n.º 9 e 269.º continua a determinar a recusa do registo na falta da
intervenção do titular inscrito, por isso continua a ser a mesma para 1ª inscrição.
Surgiu depois com o decreto n.º 34:565, de 2 de maio de 194516 que regulava
a justificação de domínio dos prédios que apesar de pertencerem ao estado não se
encontravam registados (artigo 3.º). Na exposição de motivos desse decreto, no seu
ponto 3 se justificou na necessidade de evitar que o estado pudesse representar um
mau exemplo tendo prédios que inquestionavelmente lhe pertenciam sem registar. O
procedimento a ser aplicado para essa situação não se compaginava com os meios
normais tendo a necessidade de ser um procedimento mais simples e célere, já que
em princípio não haveria qualquer conflito quanto a esses prédios pertencerem ao
estado. Tratava-se de um procedimento administrativo que se processava nas
repartições das finanças17, para suprir a falta de documento e poder fazer o registo.
Mas tarde surgiu o registo obrigatório com o decreto n.º 36 505, de 11 de
setembro de 194718 visou-se a sua implementação nos concelhos onde já tinha ou
passava a ter organizado o cadastro geométrico da propriedade rústica, como se
pode verificar no artigo 2.º na parte de exposição de motivos.
A lei n.º 2049, de 6 de agosto de 195119 estabelecia no artigo 18.º a execução
do registo obrigatório do decreto anterior. Era obrigatório registar todos os atos e
factos admissíveis a registo que incidissem sobre prédios compreendidas nas
matrizes organizadas e aplicável também aos prédios urbanos (artigo 19.º, § 1.º). A
obrigatoriedade do registo predial entraria em vigor em cada conselho sujeito ao
regime cadastral a partir do momento que fosse fixada por decreto assinada pelo
Ministro da Justiça e das finanças (artigo 20.º). Os prédios eram lavrados
oficiosamente e sem encargos para os interessados (artigo 21.º).
No artigo 27.º pela primeira vez regula uma justificação extrajudicial de
direitos reais para aqueles que tendo os direitos inscritos na matriz não pudessem
comprova-los por documento que fosse suficiente. A justificação de domínio era
16
Diário do Governo n.º 95/1945, 1ª série, p. 334-335, sítio: https://dret.pt/web/guest/pesquisa-
avancada. Acesso: 08/02/2020.
17
José Augusto Guimarães Mouteira Guerreiro. Notas sobre as justificações. In: Temas de registos
e de notariado, CIJE. Coimbra: Almedina, p. 98, 2010.
18
Diário do Governo n.º 211/1947, 1ª série, p. 861-869, sítio: https://dret.pt/web/guest/pesquisa-
avancada. Acesso: 08/02/2020.
19
Diário do Governo n.º 165/1951, 1ª série, p. 664-691, sítio: https://dret.pt/web/guest/pesquisa-
avancada. Acesso: 08/02/2020.
16

mediante declaração do proprietário sob juramento e com confirmação de três


testemunhas que eram reconhecidamente idóneas, em auto lavrado perante um
chefe da missão20 (§ 1.º). Se fosse a justificação dos outros direitos (propriedades
imperfeitas) era feita mediante declaração conjunta do proprietário e dos titulares
desses direitos que eram prestadas da mesma forma do anterior (§ 2). O registo feito
com base nesta justificação era provisório e caso durante o 1º ano não fosse
impugnado convertia em definitivo (§ 3.º). Para que o público tivesse conhecimento,
a publicidade era feita por meio de editais e anúncios na imprensa, sendo notificados
pessoalmente o Ministério Público e os interessados certos (§ 4.º). No que diz
respeito a impugnação era feito de 2 formas de acordo com § 5.º: 1ª pela
apresentação de documento autêntico que ilidisse a presunção resultante do registo
provisório ou 2ª pela apresentação a registo provisório, nos termos do artigo 201.º
do CRegP 1929 este registo era feito presença de certidão que demonstrasse que a
respetiva ação ou justificação estava distribuída em juízo contencioso e convertia-se
em definitivo em vista da carta ou certidão de sentença passado em julgado, a ação
intentada para efeitos do artigo 995.º do CC. Está justificação apenas aplicável ao
regime do registo obrigatório, mas a margem da intervenção notarial (artigo 27.º)21.
Segundo Conservador Vicente J. Monteiro22 estava regulado de forma muito
rudimentar.
No entanto a lei anterior se mostrou na prática difícil concretização entre
outros motivos, principalmente a de condicionar a vigência da obrigatoriedade do
registo à antecipada conjugação oficiosa do registro predial com o cadastro23, tendo
a necessidade de criar o decreto-lei n.º 40 603, 18 de Maio de 195624, que pudesse
por em prática a obrigatoriedade do registo, deixando do condicionar as situações
anteriores e a executar através de meios indiretos25 e caso esses se mostrassem
inviáveis através de sanções.26

20
Essa missão de acordo com o artigo 22.º da lei 2:049, em cada conselho era nomeada pelo
Ministro da Justiça e constituída, por um inspetor ou conservador do registo predial e pelo pessoal
auxiliar que fosse necessário.
21
Mónica Jardim, A Evolução Histórica…, op. cit., p. 401, nota 30 e 31.
22
Vicente J. Monteiro. Desjudicialização da Justificação de Direitos sobre Imoveis, p. 5 Sítio:
https://cenor.fd.uc.pt/site/ . Acesso: 26 jun. 2018.
23
Exposição de motivos, na nota 5 do decreto-lei n.º 40 603, 18 de Maio de 1956.
24
Diário do Governo n.º 102/1956, 1ª série, p. 535-542, sítio: https://dret.pt/web/guest/pesquisa-
avancada. Acesso: 08/02/2020.
25
Trata-se de uma série de medidas que vão faze-lo funcionar como condição de disponibilidade, por
negócios jurídicos inter vivos, dos direitos que deveriam constituir o seu objeto- nota 6 da exposição
de motivos.
26
Exposição de motivos, na nota 6 do decreto-lei.
17

Este decreto é importante pois com ele surgiu a justificação notarial. Na nota
7 da exposição de motivos, encontramos as principais razões da sua criação,
primeiro ao contrário do que acontecia com a justificação extrajudicial o artigo 27.º,
da Lei n.º 2:049 que se aplicava apenas ao regime do registo obrigatório, a
justificação notarial era mais abrangente permitindo que além deste, fosse possível
recorrer no âmbito do registo facultativo (artigo 20.º, § 5.º DL n.º 40 603), aplicando-
se a propriedades perfeitas e imperfeitas. Esta justificação se aplicava além dos
casos de 1ª inscrição (artigo 20.º) como já acontecia nas demais justificações
anteriores, neste passou pela primeira vez aplicar aos casos de reatamento do trato
sucessivo27 (artigo 22.º, § 1.º). Este último caso representava uma grande inovação
e com certeza um progresso já que com esta medida previa-se resolver o problema
do preenchimento do trato sucessivo ao prever no artigo 22.º o suprimento da falta
de intervenção do titular inscrito quando já existia inscrição de transmissão, domínio,
posse do prédio, isto porque o registo encontrava-se muitas vezes com informação
desatualizada e estando o prédio em nome de quem já não era o seu atual
proprietário, previa-se que o justificante teria que identificar os sujeitos e as causas
das suas aquisições que tivessem ocorrido, apresentando os respetivos
documentos, mas devido as enumeras transmissões intermédias tornava-se difícil
fazer o encadeamento de todas as transmissões desde o titular inscrito até a sua,
ainda mais se fossem decorrência de factos sucessórios, por o proprietário atual não
possuir os documentos dessas transmissões intermédias. Noutras situações a
justificação notarial vinha suprir a falta de documentos que muitos proprietários não
possuíam para comprovar o seu próprio direito e aceder ao registo.
Deste modo prometia na exposição de motivos que a justificação
relativamente ao reatamento do trato sucessivo no artigo 22.º, seria mais económico
e expedito na resolução dessas situações, para tentar dessa forma evitar a
desvalorização da propriedade imobiliária e conseguir que acedesse aos serviços de
registo.
Mas de forma a evitar que alguns pudessem de alguma forma fugir aos meios
normais e recorrer a esta figura, limitou o acesso a mesma apenas aos direitos que
tivessem sido adquiridos até a publicação desse diploma, artigo 20.º, 1ª parte e 22.º
ultima parte.

27
Mónica Jardim, A Evolução Histórica…, op. cit., p. 403.
18

Para recorrer a justificação notarial para 1ª inscrição, o titular do direito teria


que se fazer acompanhar por três testemunhas para confirmar a sua declaração que
o direito o pertencia com exclusão de outrem, a idoneidade das testemunhas agora
reconhecidas pelo notário (artigo 20.º § 1.º), tendo ainda o justificante de especificar
a causa da sua aquisição.
A justificação para reatamento do trato sucessivo mais do que suprimir a falta
do documento, também suprimia a intervenção do titular inscrito (artigo 22.º). Os
interessados tinham através das declarações prestadas na escritura e confirmadas
por três declarantes, fazer encadeamento das transmissões ocorridas desde o titular
inscrito, devendo especificar as causa, identificar os sujeitos e documentos
comprovativos das transmissões aos quais não tivessem alegado impossibilidade de
obterem (§ 2.º). Não se aplicando o juramento do justificante como se verificava na
anterior justificação extrajudicial.
A justificação notarial podia ser celebrada por escritura pública ou caso o
prédio tivesse um valor fiscal igual ou inferior a 5000 escudos (artigos 20.º, § 4.º,
22.º, § 3.º), podia optar pelo instrumento notarial avulso, ou seja instrumento lavrado
fora das notas.
O registo com base nesta justificação era provisório e após um ano convertia-
se em definitivo se não tivesse havido impugnação (artigos 20.º, § 7.º, 22.º, § 3.º).
Durante o período em se verificava o registo provisório, os que lhe seguissem
seriam igualmente provisórios, o quer dizer que tornando-se posteriormente
definitivo teria um efeito em cadeia tornado os registos posteriores definitivos.
O registo feito com base na justificação notarial era dado conhecimento,
através editais afixados na sede da freguesia da localização do prédio e sendo
certos os interessados, eram notificados pessoalmente por carta registada com
aviso receção (artigos 20.º,§ 8.º, 22.º, § 3.º). Dessa forma aquele que tinha o registo
em seu nome, se não tivesse de acordo podia intervir através da impugnação do
registo provisório efetuado de acordo com § 9.º deste último artigo.
A impugnação podia ser feita de dois modos, apresentando um documento
autêntico que ilidisse a presunção do registo provisório ou mediante o registo
provisório de certidão em que comprova-se que estava a ser instaurada uma ação
destinada ao cancelamento do registo, que tinha sido feito com falsidade ou
indevidamente (artigos 20.º, § 9.º, 22.º, § 3.º do DL). O registo da impugnação
mantinha como provisória até a decisão da ação e mediante o resultado este
19

convertia-se em definitivo ou era cancelado mediante a certidão da respetiva ação


com transito em julgado, por outras palavras só apos o registo do resultado da ação
é que determinaria a manutenção da justificação ou não (artigos 20.º, §10.º, 22.º, §
3.º do DL).
Não podiam servir como declarantes aqueles que não pudessem ser
testemunhas instrumentárias e nem podiam os parentes sucessíveis dos
interessados ou de seus cônjuges. Sendo advertidos das falsas declarações. Tal
como já acontecia com justificação extrajudicial do artigo 27.º da lei n.º 2049, a
justificação notarial também não exigia que os declarantes residissem no lugar da
situação do prédio, nem credibilidade perante os proprietários residentes (artigos
20.º, § 3.º, § 11.º. e 22.º, § 3.º).
No entanto é importante destacar que no artigo 23.º apenas se determinava o
prazo de 30 para requerer o registo no âmbito dos registos obrigatórios.
Mais tarde surge o decreto-lei n.º 42 565 de 08 de outubro de 195928 que
aprovou o novo Código de Registo Predial e trás consigo grandes inovações. Na
nota 7 da exposição de motivo, passa a regular tanto a justificação judicial como o
notarial num único diploma, podendo o justificante optar por um deles. De modo a
melhorar a eficiência e eficácia da justificação judicial, teve-se em vista torná-lo mais
acessível em termos económicos e simples. Outra novidade é que esta ultima deixa
de se aplicar apenas aos casos de primeira inscrição e pela primeira vez passa a
aplicar aos casos de reatamento do trato sucessivo29, que até agora só se verificava
para a justificação notarial. Verifica-se também alargamento dos casos a que se
pode recorrer a justificação notarial visto que deixa de haver a limitação no tempo de
quando se verificou a aquisição do prédio, havendo apenas como limite a inscrição
na matriz predial em nome do justificante mas não importando quando esse registo
teve lugar. Nos casos em que por falta de documentos existissem prédios com
encargos já extintos, teriam a possibilidade de recurso a justificação judicial para
delas libertar (artigo 220.º e seguintes).
Com este código visou-se um reforço a função publicitária do registo,
tentando evitar implicações devido a falta de correspondência dos factos registados
e a realidade jurídica. Embora o princípio da legalidade tivesse já consagrado no

28
Diário do Governo n.º 231/1959 1ª série, p.1263-1300, sítio: https://dret.pt/web/guest/pesquisa-
avancada. Acesso: 08/02/2020.
29
Mónica Jardim, A Evolução Histórica…, op. cit., p. 406.
20

sistema, com este código se pretendia corrigir os inconvenientes deste princípio


mediante o recurso ao registo provisório e limitando os casos de recusas do registo
definitivo que não tivessem taxativamente regulados (nota 10 da exposição de
motivos).
Existe um reforço ao trato sucessivo em que se passou a exigir registo dos
bens em nome do transmitente ou de quem onera os bens, para estes poderem ser
registados em nome de quem os adquiriu ou a favor de quem foram onerados. O
princípio do trato sucessivo passou a ser regulado no artigo 13.º desse diploma,
destaque que anteriormente não se verifica de forma tão expressa.30
No título 3 do capítulo 1 na parte que fala das justificações, referia-se que
esse capítulo era sobre os meios de garantir a concordância entre o registo e a
realidade jurídica. Ainda o artigo 197.º deste código dizia que a harmonia entre o
registo e a realidade se efetivava quando era feita a primeira inscrição ou
reatamento do trato sucessivo e quando era expurgado dos ónus e encargos ainda
não cancelados mas já extintos. É relevante essa referência pois faz nos ver que o
legislador via na justificação uma via para aproximar o registo da realidade, numa
altura que em que passou a prever na presunção da existência do direito.31
A obrigatoriedade do registo passou a ser regulado no artigo 14.º e seguintes,
prevendo no artigo 19.º o registo gratuito não só nos casos de obrigatoriedade do
registo mas também para os casos em que se mostrassem necessários a
harmonizar o registo predial com as menções existentes na matriz (n.º 1 desse
artigo).
O artigo 108.º, n.º 4 determinava que sendo necessário a retificação dos
títulos e das descrições nele lavradas mas não podendo obter pelos meios normais
poderia essa retificação ser feita através da justificação notarial com as necessárias
adaptações.
A justificação notarial vem regulada a partir artigo 197.º e seguintes, nos
casos de 1ª inscrição nos artigos 199.º e seguintes a justificação judicial e nos
artigos 209.º e seguintes a justificação notarial, o reatamento do trato sucessivo, a
justificação judicial vem nos artigos 216.º e seguintes e a justificação notarial artigo
218.º.

30
Nota 6 da exposição de motivos desse decreto.
31
Sobre a presunção do registo será tratado no terceiro capítulo.
21

As principais alterações que se verificam quando a justificação notarial são: 1-


deixa de haver referência ao instrumento notarial avulso, ou seja instrumento lavrado
fora das notas; 2- A legitimidade para recorrer a justificação passou a ser do titular
inscrito na matriz, seus representantes legais e quem tivesse adquirido por contrato
ou sucessão, o direito alegado (artigo 210.º, n.º 2); 3- a idoneidade dos declarantes
passava a ser reconhecida pelo notário; 4- os prédios têm que ser devidamente
identificados na escritura de justificação, em face das cadernetas prediais que tem
de estar atualizadas ou a certidão de teor da inscrição matricial, no nome dos
titulares, passado a menos de 30 dias (artigo 210.º,n.º 3); 5- a escritura passa a ser
publicada num dos jornais mais lidos do concelho, na sua falta num dos jornais mais
lidos da região, publicado pelo notário a expensas dos interessados, artigo 212.º; 6-
o interessado em impugnar o direito justificado, tinha de ir a juízo propor ação de
impugnação do direito justificado e devia requerer ao juiz que desse conhecimento
ao notário da pendência dessa oposição, tendo este conhecimento não podia extrair
qualquer certidão (artigo 213.º, n.º 1); 7- o notário só podia extrair certidão depois de
ter decorrido 30 dias da data do numero do jornal que foi publicada o extrato da
escritura e desde que não se tivesse verificado comunicação de qualquer oposição
(artigo 213.º, n.º 2); 8- no caso do reatamento do trato sucessivo nada refere quanto
a notificação do titular inscrito para justificação notarial, já que no artigo 218.º, n.º 2
faz remissão para a maioria dos n.ºs do artigo 216.º deixando de fora o numero 2
que fala da citação do titular inscrito e tendo este revogado o decreto anterior, leva
concluir que o titular inscrito ou interessados apenas tinham conhecimento com
publicação no jornal da escritura; 9- o registo era efetuado mediante a certidão da
escritura de justificação e registada como definitiva mesmo que não se mostrassem
assegurados ou pagos os direitos ao fisco, desde que esses direitos estivessem
inscritos na matriz em nome do justificante (artigos 84.º, 207.º, n.º 2 e 214.º, n.ºs 1,
2).
O decreto-lei n.º 42 933 de 20 de abril de 196032 referia-se que havia
necessidade de criar um novo código do notariado por o código anterior (decreto-lei
n.º 26:118, 24 de novembro de 193533) ter sofrido alguns aditamento e uma delas foi
feita pelo decreto-lei n.º 40:603 de 18 de maio de 1956 referente ao registro predial

32
Diário do Governo n.º 92/1960, 1ª série, p. 933-974, sítio: https://dret.pt/web/guest/pesquisa-
avancada. Acesso: 08/02/2020.
33
Diário do Governo n.º 273/1935, 1ª série, p.1799-1830, sítio: https://dret.pt/web/guest/pesquisa-
avancada. Acesso: 08/02/2020.
22

obrigatório e escritura de justificação notarial. Fala também do carater fragmentário


da legislação notarial sendo necessário uma reforma do código vigente34. Este é o
primeiro código notarial que vem regular diretamente a justificação notarial, artigos
99.º a 108.º, embora ainda estivesse regulado ao mesmo tempo no CRegP. No
artigo 100.º, n.º 3 do CN, passa a ser consignado expressamente no texto da
escritura de justificação as declarações dos interessados sobre o desconhecimento
do titulo ou impossibilidade de o ter quanto as transmissões intermédias. Os notários
passam a poder recusar os declarantes que considerasse não serem dignos de
crédito, n.º 2 do artigo 103.º.
Com CRegP 196735 surge a justificação para reatamento do trato sucessivo
em registo comercial36, mas vem regulado apenas no código notarial do mesmo ano
no artigo 108.º.
No artigo 20.º o registo dos factos é efetuado gratuitamente se os mesmos
constassem da matriz e se já encontrassem titulados na data a que era referido no
artigo 14.º, ou se era necessário para harmonizar o registo e a matriz. Neste código
referia num único artigo que a justificação notarial ou a judicial se aplicam a 1ª
inscrição, artigo 204.º, n.º 1 ou reatamento artigo 218.º, n.º 1, além destes apenas
tinha 3 artigos referentes a justificação notarial, o artigo 215.º referia a admissão da
justificação notarial naqueles casos que fosse necessário a inscrição na matriz a
mesma estivesse efetuada. O artigo 217.º dizia que o registo do direito justificado
devia ser feito com a certidão da escritura de justificação, devendo o notário
certificar a publicação do extrato e a inexistência de oposição judicial que tivesse
sido comunicada. No entanto no artigo 216.º havia uma remissão para a lei notarial
quanto a justificação notarial ser lavrada em escritura nos termos daquele.
Outro ponto deixa de referir a justificação notarial para retificação dos
registos.
O código Notarial 196737 além do que referimos atrás, passa a caber ao
notário decidir se as causas invocadas pelo justificante eram mesmo de
impossibilidade seja em primeira inscrição referente a sua aquisição e bem como as
circunstâncias que impossibilitavam de comprovar pelos meios normais as

34
Nota 2 da exposição de motivos.
35
Aprovado pelo decreto-lei n.º 47 611, 28 de Março de 1967, Diário do Governo n.º 74/1967, 1ª
série, p. 623-656, sítio: https://dret.pt/web/guest/pesquisa-avancada. Acesso: 08/02/2020.
36
Nota 3 da exposição de motivos.
37
Aprovado pelo decreto-lei n.º 47 619, 31 de Março de 1967, Diário do Governo n.º 77/1967, 1ª
série, p. 665-697, sítio: https://dret.pt/web/guest/pesquisa-avancada. Acesso: 08/02/2020.
23

sucessivas transmissões intermédias referente ao reatamento do trato sucessivo


(artigo 100.º, n.º 2, 101.º,n.ºs 2 e 4). Estando o prédio situado onde vigorava o
registo obrigatório as certidões da conservatória e matriz podiam ser substituídas
pela caderneta predial atualizada (artigo 105.º, n.º 3).
Passava a ser necessário o documento comprovativo de estar assegurado ou
efetuado o pagamento dos impostos derivados de factos justificados (artigo 106.º,
n.º 2).
O artigo 109.º,n.º 2 remete para artigo 98.º, n.º 2 em que determina que se
tivesse havido impugnação a certidão só seria emitida depois do averbamento da
sentença.
O prazo para extrair a escritura de justificação para que pudesse ser
publicada era de 15 dias sendo esse prazo contado da data em que foi outorgada e
feita as expensas do interessado (artigo 108.º, n.º 1).
Com o decreto-lei n.º 513-F/79 de 24 de dezembro38 altera alguns artigos do
CN de 1967, entre eles, o artigo 108.º, n.º 1 em que o prazo passa a ser de 8 dias.
O decreto-lei n.º 224/84, 6 de julho de 198439 aprovou o novo CRegP que
previa a expurgação de regulamentações estranhas ao registo entre elas, o
processo da justificação judicial que passaria a constar de um documento avulso e
que depois integraria para futuro no código processo civil, bem como a parte da
justificação notarial que se mantinha no CRegP.40
Surge a justificação do novo trato sucessivo no caso de invocação de
usucapião quando já exista inscrição de aquisição, reconhecimento ou mera posse
(artigo 116.º, n.º 3) seja para justificação judicial ou notarial.
Quanto a regularidade fiscal no caso de 1ª inscrição se o direito estivesse
inscrito na matriz em nome do justificante ela se presumia, no caso do reatamento
do trato sucessivo, se houvesse impossibilidade de comprovar a regularidade
referente a transmissão justificada, mas fosse certificada pela repartição de finanças
ficava dispensada a apreciação da sua regularidade (artigo 117.º).

38
Diário do Governo n.º 295/1979, 1ª série, p. 3334 (76) – 3334 (82), sítio:
https://dret.pt/web/guest/pesquisa-avancada. Acesso: 08/02/2020.
39
Diário do Governo n.º 155/1984, 1ª série, p. 2052 (1) – 2052 (40), sítio:
https://dret.pt/web/guest/pesquisa-avancada. Acesso: 08/02/2020.
40
Nota 4 da exposição de motivos.
24

O decreto-lei n.º 286/84 de 23 de agosto41 alterou alguns artigos do CN 1967,


entre eles, os artigos de 100.º a 109.º que se referiam a justificação notarial. Aos
pontos mais relevantes dessas alterações são: 1- Acréscimo do artigo 101.º-A que
passava a regular a justificação notarial do novo trato sucessivo, nele o interessado
afirmava as circunstâncias que tiveram na base a aquisição originária fazendo a
dedução das transmissões antecedentes e subsequentes. 2- Tanto no reatamento
como também o estabelecimento de novo trato passou-se a fazer a reconstituição
das sucessivas transmissões especificado as causas e identificando os respetivos
sujeitos, mas caso não fosse possível obter um título deveria ser indicado as razões
dessa impossibilidade (artigos 101.º, n.ºs 2 e 3, 101.º-A, n.º 2). Como se pode
verificar desapareceu a palavra intermédia, o que leva presumir que passava a se
aplicar a falta de documento referente a aquisição do justificante. 3- Acréscimo do
artigo 102.º-A surge a justificação simultânea. 4- Voltou a se exigir que os
declarantes residissem na freguesia da situação do prédio (artigo 105.º, n.º 2), mas
sem referência ao período de tempo, deixando ao critério do notário determinar
quanto em termos de tempo se podia dizer que já tinha residência. 5- No artigo 108.º
passa a regular a notificação do titular inscrito, nesta nova legislação passou a existir
a prévia notificação judicial avulsa. Essa notificação tinha lugar quando faltava o
título da intervenção do titular inscrito sendo promovida pelo interessado, não
poderia a escritura ser lavrada antes disso aplicável a justificação para reatamento e
estabelecimento de novo trato. No mesmo despacho têm o juiz de ordenar a
notificação do titular e em simultâneo a notificação edital do titular inscrito ou dos
herdeiros, independente da habilitação, no caso de este último no caso de sua
ausência ou falecimento. Deve constar da escritura a menção que a notificação foi
efetuada. 6- A publicação passava a ser por meio de editais, que seriam extraídos
no prazo de 8 dias e enviadas para a conservatória competente e a freguesia da
situação do prédio para ser afixados por um prazo de 30 dias, depois eram
devolvidas com essa certificação, artigo 109.º, n.ºs 1 e 2. 7- Só poderiam ser
extraídas certidões da escritura de justificação após ter sido devolvidos os editais e
caso não tenha havido impugnação. Tendo este lugar só poderia ser passada após
averbada na escritura a decisão definitiva da ação, sendo esta regra aplicável a
justificação simultânea, artigos 109.º-A, n.ºs 2,3.

41
Diário do Governo n.º 195/1984, 1ª série, p. 2592 - 2596, sítio: https://dret.pt/web/guest/pesquisa-
avancada. Acesso: 08/02/2020.
25

O decreto-lei n.º 207/95 de 14 de agosto42 vem aprovar o novo CN, cabia ao


notário avaliar as razões de impossibilidade invocada dos interessados de não
poderem recorrer aos meios normais artigo 95.º, deixava de ser novamente exigido
que os declarantes residissem no lugar da situação do prédio, o extrato do conteúdo
da escritura de justificação para publicação passa a ser passada no prazo de 5 dias,
a publicação volta a ser feito num dos jornais mais lidos do concelho da situação do
prédio, não havendo era num dos jornais mais lido da região (artigo 100.º).
Pela primeira vez dentro do período de 30 em que o extrato foi publicado ou
tenha havido impugnação é possível passar certidões mas apenas para efeitos de
impugnação, devendo constar expressamente da mesma essa menção (artigo 101.º,
n.º 3).
Mais tarde surge o decreto-lei 273/2001 de 13 de outubro43, que altera o
CRegP 84 e o CN 95, que entretanto já tinham sofrido outras alterações mas que
para este contexto não tem interesse.
Na exposição de motivos deste decreto no 3.º parágrafo estipula a
transferência do processo de justificação judicial para o conservador, mas
continuando a caber ao tribunal quando esteja em causa a retificação do registo
irregular em virtude da existência de dúvidas quanto a identidade da pessoa (4.º
parágrafo). Com isto foi alterado o artigo 116.º CRegP passando a referir ao
processo de justificação (desaparecendo a palavra judicial) e aditado novos artigos
que passam a regular o processo de justificação artigo 117.º-A a 117.º-P no CRegP.
É importante referir ao artigo 117.º-A, n.º 1, determina que só podem recorrer
a justificação referente os direitos que devem constar da matriz se lá estiverem
inscritos, podem no entanto a ele recorrer se na data da instauração do processo de
justificação tiver sido pedido a inscrição na matriz.
No n.º 2 temos um alargamento da legitimidade que passou a caber a quem
tinha legitimo interesse no registo do facto aquisitivo, incluindo os credores do titular
do direito justificado.
Quanto ao CN referente a justificação notarial os artigos que sofreram
alterações foram os artigos 92.º e 99.º.

42
Diário do Governo n.º 187/1995, 1ª série-A, p. 5047-5080, sítio: https://dret.pt/web/guest/pesquisa-
avancada. Acesso: 08/02/2020.
43
Diário do Governo n.º 238/2001, 1ª série-A, p. 6477-6490, sítio: https://dret.pt/web/guest/pesquisa-
avancada. Acesso: 08/02/2020.
26

Quanto ao artigo 92.º n.º 1, ao contrário do artigo acima, só pode recorrer a


justificação notarial se o direito que deva constar na matriz esteja de facto inscrito no
momento em que é requerido.
No n.º 2 a regra da legitimidade é igual ao que vem regulado no artigo 117.º
A, n.º 2 CRegP e para lá remetemos.
O artigo 99.º a notificação prévia ao titular inscrito passou a ser feito pelo
notário a pedido do interessado, podendo ser verbal ou por escrito, no primeiro caso
é lavrado auto. A notificação é feita ao titular inscrito antes de ser lavrada a escritura
de justificação e constará da escritura a menção de ter sido feita. No despacho o
notário faz constar duas notificações, a principal que é a notificação por escrito ao
titular inscrito, e a secundária a notificação edital do titular inscrito ou herdeiros ainda
que não habilitados. Esta só terá lugar se o titular tiver ausente ou falecido.
Portaria n.º 794-B/2007 de 23 de julho44 vem regular os procedimentos
especiais de aquisição, oneração e registo de imóveis, que é chamado procedimento
casa pronta.
O decreto-lei n.º 116/2008, de 4 de julho aditou um novo artigo 6.º-A ao
decreto-lei n.º 519-F2/79, de 29 de dezembro passam a poder ser os atos de registo
predial bem como as respetivas provas em qualquer conservatória independente do
lugar onde se situa o imóvel.
Com a portaria n.º 1535/2008 de 30 de dezembro45 (alterado pela portaria n.º
283/2013 de 30 de agosto) veio permitir a consulta via eletrónica gratuita (artigo
17.º).
A lei n.º 78/2017, de 17 de agosto46 vem criar um sistema de informação
cadastral simplificada e para efeitos daquele criou-se um procedimento de
representação gráfica georreferenciado, o procedimento especial de registo de
prédio rustico e misto omisso, o procedimento de identificação, inscrição e registo de
prédio sem dono conhecido. Esta lei ainda criou o banco único do prédio (BUPi).47 A
representação gráfica georreferenciada constitui a configuração geométrica dos
prédios que é efetuada através da delimitação do prédio que é obtida por processos

44
Diário do Governo n.º 140/2007, 1ª série, p. 4666 (8) - 4666 (10), sítio:
https://dret.pt/web/guest/pesquisa-avancada. Acesso: 08/08/2020.
45
Diário do Governo n.º 251/2008 1ª série, p. 9187-9192, sítio: https://dret.pt/web/guest/pesquisa-
avancada. Acesso: 08/08/2020.
46
Diário do Governo n.º 158/2017, 1ª série, p. 4773-4778, sítio: https://dret.pt/web/guest/pesquisa-
avancada. Acesso: 08/08/2020.
47
Artigo 1.º da presente lei.
27

48
diretos de medição ou de forma indireta. O BUPi é um balcão físico e virtual que
agrega informação registal, matricial e georreferencia relacionada com os prédios.49
No entanto aplicação dessa lei tinha um âmbito de aplicação territorial reduzida,
como projeto-piloto (artigo 31.º). A lei n.º 65/2019 de 23 de agosto50 passou aplicar o
procedimento especial de registo aos prédios rústicos e mistos em todo território
nacional (artigo 1.º, n.º 1 alínea b), criou um procedimento especial de justificação de
prédio rustico e misto omisso que é aplicável a todo território nacional (artigo 2.º).
Passamos a poder consultar online a informação do prédio, desde que este
esteja informatizado ou até solicitar o registo online.

1.2- Os tipos de justificação notarial

É importante referir que existe hoje a escritura de justificação notarial e o


processo de justificação, além destes os que se encontram regulado no artigo 118.º
CRegP e artigo 1.º, n.º 2 da lei n.º 65/2019 de 23 de agosto, mas como ficou assente
só do primeiro iremos tratar, relembrando que em qualquer dos tipos de justificação,
implica sempre que não haja qualquer litígio.
A justificação notarial é outorgada através da escritura pública, alínea a), do
n.º 2 do artigo 80.º CN, podendo também chamar-se de escritura de justificação
notarial. Esta encontra-se dividida em três tipos de trato sucessivo: a justificação
para estabelecimento do trato sucessivo ou de 1ª inscrição, a justificação para
reatamento do trato sucessivo e a justificação para o estabelecimento do novo trato
sucessivo. Vamos falar de cada um individualmente tal como se encontra
atualmente regulado no código atual:
1- Justificação para estabelecimento do trato sucessivo ou de 1ª inscrição – este
tipo de suprimento encontra-se regulado no artigo 116.º, n.º 1, 1ª parte
CRegP e artigo 89.º CN. O recurso a este tipo de justificação justifica-se
quando o prédio não se encontra descrito ou quando descrito não exista
inscrição de aquisição, de reconhecimento ou mera posse, o quer dizer que

48
Artigo 5.º.
49
Artigo 22.º, n.º 1.
50
Diário do Governo n.º 161/2019, 1ª série, p. 2-7, sítio: https://dret.pt/web/guest/pesquisa-avancada.
Acesso: 08/08/2020.
28

está omisso no registo e por isso irá ser inscrito no registo pela primeira vez.
O interessado que pretenda registar e não tiver documento ou título que
comprove aquisição do seu direito, deve declarar perante o notário que o
direito lhe pertence com exclusão de outrem, indicando a causa da sua
aquisição. Neste último caso, traduz em dizer se adquiriu por compra e venda,
doação, sucessão ou de outra forma. No entanto não basta indicar a causa,
deve também indicar a razão de apesar de ter adquirido dessa forma não
poder comprovar pelos meios normais, trata-se aqui de indicar se o
documento se perdeu, não sabe onde está, se foi destruído por algum
incendio, ou se extraviou, ou não se chegou a formalizar.
Se o interessado ao recorrer a justificação para 1ª inscrição alegar
aquisição pela via da usucapião baseada na posse não titulada, o que ao fim
cabo quer dizer não teve na base qualquer transmissão por abandono do
titular ou tendo existido essa transmissão seja por o contrato, doação a
mesma foi verbal. Nesse caso torna-se necessário que, aquele indique
expressamente as circunstâncias de facto que levaram o início da posse51.
Indicar as circunstâncias que consubstanciam e caraterizam a posse geradora
da usucapião, não se trata aqui indicar termos jurídicos mas sim de indicar os
atos praticados que levam a concluir que efetivamente exerceu a posse52,
como no caso de prédios rústicos, que plantou, limpou o mato, colheu frutos a
vista de toda gente e sem oposição de ninguém, sendo um prédio urbano,
que realizou obras na casa, obteve licença de construção, deu festas, fez
jantares convidando amigos e familiares na convicção de ser dono e não
lesando direito alheio.
2- Justificação para reatamento do trato sucessivo – vem regulado no artigo
116.º, n.º 2, 1ª parte CRegP e artigo 90.º CN. Neste caso o registo já se
encontra em nome de outro titular, por inscrição de aquisição,

51
Segundo parecer técnico pode ser invocado como início da posse uma venda ou doação verbal.
Proc. Nº R.P. 347/2002 DSJ-CT, publicado no II Caderno do BRN n.º 3/2004, p. 3. Sítio:
https://www.irn.mj.pt/IRN/sections/irn/legislacao/publicacao-de-brn/boletins-dos-registos-e/ . Acesso:
16/01/2019. No mesmo sentido Dr.ª Mónica Jardim. A Evolução Histórica…, op. cit., p. 422-423.
52
Nesse sentido pode se verificar no parecer técnico que os atos materiais de posse devem ser de
acordo com utilidade da coisa. Sítio: Proc. Nº R.P. 347/2002 DSJ-CT…, op. cit., p. 4. Tem que se
concretizar os atos matérias praticados em nome do justificante e indicar o início da posse sob pena
de ser considerado título manifestamente insuficiente. Sítio: Proc. Nº R.P. 83/98 DSJ-CT, publicado
no II Caderno do BRN n.º 2/1999, p.11-12. Sítio:
https://www.irn.mj.pt/IRN/sections/irn/legislacao/publicacao-de-brn/boletins-dos-registos-e/ . Acesso:
16/01/2019.
29

reconhecimento ou mera posse. O primeiro artigo faz remissão para o artigo


34.º, n.º 2 CRegP, este último contempla o princípio do trato sucessivo, que
estabelece que se alguém pretende fazer o registo da sua aquisição, o
mesmo tem que estar registado em nome de quem o transmitiu, ou não
estando, aquele que pretende registar o seu direito tenha apresentado um
documento que comprove a existência do direito em nome do transmitente.
No entanto está regra do registo prévio em nome do transmitente pode ser
suprida através do recurso a escritura de justificação notarial.
O interessado deve nesta justificação, fazer mediante declarações, a
dedução do trato sucessivo a partir do titular inscrito, fazendo reconstituição
das sucessivas transmissões ocorridas indicando as causas e especificando
os sujeitos, trata-se basicamente de fazer encadeamento das transmissões
ocorridas até a sua aquisição53, quando os houver, pois pode muito bem ter
acontecido que o justificante tenha adquirido do titular inscrito mas já não o
documento e não poder por alguma razão fazer uma nova escritura, nesse
caso só tem que justificar a sua.
As transmissões ao qual o justificante alega ser impossível obter os
respetivos documentos que comprove as respetivas aquisições deve indicar
as razões da mesma. Existe uma linha de continuidade, estamos perante uma
situação em que a transferência de direito do titular inscrito para novo titular
ou de sucessivas transmissões desde do titular inscrito até ao justificante. No
artigo 116.º, n.º 3 CRegP54 se diz que numa situação de reatamento de trato
sucessivo que se invoca a usucapião, implica que se recorra ao
estabelecimento de novo trato. Mas a verdade é que, ao se recorrer a este
tipo de justificação e invocar uma causa de aquisição (compra venda, doação,
etc.) nada impede que se possa invocar a usucapião ainda que de forma
indireta. Mas este entendimento é recusado pelo parecer técnico55 que
entende que se torna supérfluo invocar a usucapião quando já se encontrar
justificado pela cadeia das aquisições derivadas. Nesse sentido, diz-se no

53
José da Fonseca e Silva. A nova política registal: Incidências no notariado. Revista do notariado,
Associação Portuguesa dos Notários, Lisboa, p.38, Jan./Mar. 1985. Trimestral.
54
A. M. Borges De Araújo. Da justificação. In: Prática Notarial. 4.ª Ed. Coimbra: Almedina, 2003.
Cap. 3, p. 353. Colaboração: Albino Matos.
55
Proc. Nº R.P. 143/2000 DSJ-CT, publicado no II Caderno do BRN n.º 3/2001, p. 6-7. Sítio:
https://www.irn.mj.pt/IRN/sections/irn/legislacao/publicacao-de-brn/boletins-dos-registos-e/ . Acesso:
16/01/2019.
30

parecer, a invocação da usucapião faz sentido apenas quando a uma quebra


dessa cadeia, devendo recorrer a justificação para estabelecimento de novo
trato sucessivo, mas apenas se pode recorrer a este, caso não se consiga
fazer o reatamento do trato sucessivo.
Entendemos no entanto que não existe qualquer inconveniente na
invocação da usucapião, pois um não invalida o outro, primeiro porque nem
sempre a usucapião tem na base a quebra da cadeia de transmissões e o
facto de se invocar a aquisição por compra e venda não impede que se possa
invocar a usucapião por estar na posse do bem, desde que preenchidos os
respetivos requisitos, não são em si contraditórios, pois não anulam-se um ao
outro, pelo contrário até se podem complementar, pois ambos vão no mesmo
sentido de dizer que o direito pertence a essa pessoa. Pode-se perguntar mas
se ele tem o direito o que vai adquirir com a usucapião? Um reforço de
segurança. É verdade que aquele que tem a posse e o direito, tem posse
causal mas se existir alguma causa de nulidade que não se tenha apercebido,
o justificante tem apenas posse formal e caso venha a ser impugnada a
justificação e nela tiver invocada a usucapião pode dela valer, já que a
presunção abrange nos termos que está registado.
3- Justificação para o estabelecimento do novo trato sucessivo – encontra-se
regulado nos artigos 116.º, n.º 3 CRegP e artigo 91.º CN. Nesta situação se
tem entendido que existe uma quebra do trato sucessivo e o nascimento de
um novo, este surge independente daquela, retius apesar daquela e contra
aquela, já que a partida não existiria uma transferência propriamente dita da
vontade do titular para novo titular, pois em princípio se verificou um
abandono por parte do titular inscrito. Aplicando-se no caso da usucapião
artigo 116.º, n.º 3 CRegP56 (ex.- vi artigo 91.º, n.º 1 CN, se refere a aquisição
originária). Só que isso na prática pode não ocorrer e estar no início da posse
uma venda verbal. Temos dois tipos de posse que dão origem a usucapião a
posse derivada e a posse originária57. `` Aquisição originária da posse é
aquela em que a posse do adquirente surge ex novo na esfera de
disponibilidade empírica do sujeito, porque não depende geneticamente de

56
A. M. Borges De Araújo. Da justificação…, op. cit., p. 353.
57
Orlando Carvalho. Introdução à posse. In: Direito das coisas p. 290. Colaboração: Francisco
Liberal Fernandes, Maria raquel Guimarães, Maria Regina Redinha.
31

uma posse anterior (nem quanto ao âmbito ou conteúdo, nem quanto a


extensão ou área de incidência); depende apenas do facto aquisitivo (que
integram, como se sabe, um corpus e um animus). Mesmo que uma posse
anterior tenha existido (como acontece em todos os casos de usurpação), a
posse do adquirente não provém dela, não tem causa nela, mas adquire-se
contra ela ou apesar dela.´´58 Por outro lado ``aquisição derivada da posse é
aquela em que a posse do adquirente depende geneticamente de uma posse
anterior, quer quanto a existência, quer quanto a natureza, âmbito ou
conteúdo, quer quanto a extensão ou área de incidência. Por outra via, a nova
posse pressupõe uma posse anterior, fundando-se e filiando-se nela. Está
ultima extingue-se ou limita-se para, simultaneamente, dar lugar à nova
posse, havendo entre os dois fenómenos um nexo de derivação, e não
apenas cronológico, ao invés do que pode suceder na aquisição originaria.´´59
Não se pode dizer com absoluta certeza e sem sombra de dúvida que a
usucapião é uma aquisição que leva que haja quebra das cadeias de
transmissões pois isso pode não suceder. Como defendia Dr. Orlando
Carvalho, não devemos olhar posse com os olhos que vemos o direito se não
corremos o risco de trilhar um caminho diverso daquele que procuramos60.
Desde logo basta notar a posição defendida por Dr. José Ramos de que a
usucapião pertence a uma terceira via sendo um tertium genus aquisitivo61.
Quando existe uma aquisição derivada da posse pressupõe a
transferência da posse de quem o tem para o possuidor adquirente, como no
caso da tradição material ou simbólica resultante por exemplo de uma
58
Orlando Carvalho. Introdução à posse…, p. 290-291. Nele podemos encontrar a enumeração dos
casos de posse de aquisição originária que são: ``a ocupação; a acessão; a usurpação: a) a prática
reiterada ou aquisição paulatina (artigo 1263.º, a)); b) a inversão do título da posse (artigos 1263.º, d),
e 1265.º): 1- por oposição (explícita ou implícita); 2- por acto de terceiro; c) o esbulho.´´
59
Abílio Vassalo Abreu. Uma relectio sobre acessão da posse (artigo 1256.º do código civil). In: Nos
20 anos do código das sociedades comerciais, vol. II, Coimbra: Coimbra editora, 2007. P. 137.
Aqui encontramos a enumeração dos casos de posse de aquisição derivada, temos na `` tradição
real´´ ``todas as formas de aquisição derivada da posse excluída a sucessão mortis causa, ao qual a
nosso ver, é um caso de traditio ficta (…) dentro da tradição real, há que distinguir também entre
tradição explícita e implícita. (…) A tradição explicita abrange a tradição material (directa; e à
distancia: «traditio longa manu»), a tradição simbólica (por entrega das chaves: «traditio clavium»; e
documental: «traditio per chartam») e ainda, o que pode designar-se por «imissão na posse».
Por seu turno, a tradição implícita abarca a «traditio brevi manu» e o constituto possessório (bilateral
ou trilateral).´´ ``A «traditio brevi manu» não é expressamente referida na lei, mas nem por isso é
menos indiscutível.´´ P. 146-147.
60
Orlando Carvalho. Introdução à posse…, op. cit., p. 270.
61
José Luís Bonifácio Ramos. O artigo 1316.º do Código Civil e o tertium genus aquisitivo: Em
especial, a usucapião e o registo. O Direito, Lisboa, Ano 149.º, n. 3, p. 550, 2017. Quatro Números
Anuais.
32

doação, isso implica que haja a transferência da posse mediante a entrega


direta ou indireta e por isso não há o abandono nem inércia por parte do
proprietário/possuidor, existe pelo contrário uma transferência consciente da
posse dele para novo possuidor. Se o possuidor não for o proprietário ao
vender o bem ou sendo proprietário a venda é verbal existe transferência da
posse, mas não há uma transferência do direito verificando aquisição
derivada da posse formal, neste caso pode acontecer uma de duas situações
ou não está registado e é de 1ª inscrição, ou é estabelecimento de novo trato
sucessivo convém no entanto que invoque a usucapião estando preenchidos
todos os requisitos. Para melhor se entender esta última parte vamos dar um
exemplo: B se apossa de um prédio que é de A depois de algum tempo vende
com escritura pública a C, transferindo-lhe a posse, embora C adquira
derivadamente a posse, a posse anterior de B é originária. Tendo passado
tempo necessário e preenchidos os requisitos, C está em condições para
invocar a usucapião, quando vai fazer o registo do bem verifica que está
nome de A, há portanto uma quebra na cadeia de transmissões, por isso C
tem recorrer a justificação para estabelecimento de novo trato sucessivo para
conseguir fazer o registo, mas se aquele que transferiu realmente é o titular
inscrito mas a venda tenha sido verbal embora caiba dentro estabelecimento
de um novo trato, não houve quebra, apenas não tem o documento que
comprove essa continuidade e por isso é não titulada.
No caso de o negócio sofrer de alguma invalidade substantiva em que não
tenha sido transferido o direito mas ainda assim transferiu a posse, a mesma
é derivada, se houve forma é titulada caso contrário é não titulada. No entanto
nessas situações em que não houve a transferência do direito, convém que já
tenha preenchido os requisitos e decorrido o prazo para a invocação da
usucapião.
Necessário também apurar o início da posse, o mesmo presume se tiver
título ou se tiver existido, sendo a data do título62, mas tem de provar a
existência do título ainda que já não o tenha pois este não se presume, mas
no caso de não ter existido, tem indicar o início da posse. Mas a que

62
Arménio Ferreira. A Escritura De Justificação Notarial. 1984. P. 28. Dissertação (Mestrado) -
Curso de Curso de Mestrado em Ciências Jurídicas, Área Cientifica dos Registos e Notariado,
Faculdade de Direito de Lisboa, Lisboa, 1985.
33

relembrar que a posse não se transmite pela formalização do negócio, mas


pela entrega seja direta ou indireta ou ainda que espiritualizada. Se a posse é
não titulada deve ser indicado as circunstâncias que determinaram o início da
posse, artigo 89.º, n.º 2 CN (ex.- vi artigo 91.º, n.º 2 CN).
No parecer técnico63 o entendimento é que a falta desse documento não
pode ter por base uma venda ou doação verbal mas sim apesar de ter
existido título, este ter sido extraviado, destruído ou mesmo não se saber
onde foi lavrado, no entanto Dr. José da Fonseca e Silva entendia que mesmo
sendo uma venda verbal tal como nos outros casos em que se alega como a
perda documento, ou ter sido destruído resulta sempre o mesmo a falta de um
documento.64 Nos concordamos e entendemos que a questão não é se a
razão da falta de documento é devido ao facto de não ter chegado a ser
formalizado, se perdeu ou se foi destruído devido uma calamidade mas sim
se o motivo da falta de documento está em não haver possibilidade de a
formalizar agora. Entendimento que tem tudo a ver com a história e
consagração desta figura. Sendo a compra e venda verbal não impede que
possa ser provada de outra forma que essa venda existiu e que ocorreu a
transferência da posse. Porque apesar de a venda ser nula por falta de forma
deixa de haver causa do direito mas continua a haver posse que é formal.
Decorrido o prazo e o preenchimento dos restantes requisitos a uma
aquisição da usucapião que não pode ser designada originária porque
dependeu da posse ter sido transferida, então pode sim invocar a compra e
venda verbal complementado com a invocação da aquisição pela via da
usucapião na justificação. O direito tem na base a posse que foi invocada
através da usucapião.
Mas será de aplicar quando se verifica a inversão do título da posse (artigo
1265.º CC) ou numa situação de esbulho em que não tenha havido qualquer
ação por parte do titular/possuidor? Tornando a posse boa para usucapir
pode justificar o início da posse deste modo ou melhor dizendo, que não
tenha havido a ação para defesa da posse, a partir do momento que exerça
uma posse boa para usucapir, pode recorrer a este tipo de justificação? A
resposta é afirmativa já que a lei não faz descriminação e apenas refere a

63
Proc. Nº R.P. 347/2002 DSJ-CT…, op. cit., p. 3.
64
José da Fonseca e Silva. A nova política…, op. cit., p. 35-36.
34

usucapião, enquanto aquisição originária. Nesses casos se adquirem não por


abandono do titular que já não quer o bem e se desinteressa mas contra a
vontade do titular, e por isso o prazo só pode começar a correr, apenas se
não a uma reação do titular para defender a posse, há por tanto uma
aceitação seja expressa ou seja tácita nesse sentido. Só a partir do momento
que é do conhecimento do titular essa situação e este não reage, existe posse
boa para usucapir e por isso, começa a contar o prazo para aquisição pela
usucapião ainda que tenha um ano para reagir na ação de defesa da posse,
artigo 1282.º CC, salvo se essa posse é oculta ou violenta.
O interessando que venha a adquirir pela via da usucapião pode recorrer a
esta justificação, devendo por declaração afirmar quais as circunstâncias que
baseou essa aquisição, devendo fazer a dedução das transmissões
antecedentes e subsequentes se as houver.
O artigo 91.º, n.º 2 CN remete 89.º, n.º 2, do mesmo código, quando se
trate da usucapião tendo por base posse não titulada, deve ser indicada as
circunstância que determinaram o início da posse. Titulado ou não tem de
indicar as circunstâncias que consubstanciaram e caraterizaram o início da
posse geradora da usucapião.
O mesmo artigo faz também remissão para o artigo 90.º, n.ºs 2, 3 do
mesmo código, a necessidade de indicar, quanto as sucessivas
transmissões as causas e identificar os sujeitos e aquelas que não lhe seja
possível obter o título, indicar a causa dessa impossibilidade.
Referente a este tipo de justificação deve o notário verificar se já
passou o decurso do tempo necessário para aquisição pela usucapião e
materialização dos atos da posse65.
Existe também a justificação para fins do registo comercial, mas não
vamos tratar dele devido economia deste trabalho.

Justificação simultânea – Esta justificação não é um tipo de justificação


notarial nem é um requisito. Simplesmente permite que quem vai transmitir o bem e
não tenha registo em seu nome poder no próprio título da venda (por exemplo na
escritura de compra e venda) ser feita a justificação, artigo 93.º CN. Caso o negócio
jurídico seja alienação, exige o mesmo artigo que o alienante tem de fazer as
65
Proc. Nº R.P. 83/98 DSJ-CT…, cit., p. 11-12.
35

declarações previstas nos artigos anteriores (artigo 89.º,90.º, 91.º CN). O artigo 9.º,
n.º 3 CRegP exceciona os casos de justificação simultânea, permitindo que seja
titulada a transmissão apesar de não estar registado em nome do transmitente. A
justificação simultânea só faz sentido se no momento da venda o
vendedor/transmitente não tem o registo em seu nome e não tem o título que
comprove a sua titularidade e aproveita que vai vender e faz a justificação ficando
titulada a transmissão.

1.3 - Os requisitos da justificação

Para outorga da justificação notarial tem que se preencher determinados


requisitos:
 Legitimidade – só pode recorrer a justificação quem tenha um real interesse
que o registo seja feito, e não qualquer pessoa. A lei estabelece quem pode
faze-lo no artigo 92.º, n.º 2 CN, em primeiro o titular do direito, já que esse
tem todo interesse que esteja em seu nome até pela publicidade após o
registo, dando conhecimento a eventuais terceiros, ou na eventualidade de
querer vende-lo ou outra situação; qualquer interessado que demonstre um
legítimo interesse no respetivo facto aquisitivo, como os credores. Parece-
nos que quando se refere a qualquer interessado com legitimo interesse,
pode se falar no representante legal com poderes, cônjuge sozinho pode
recorrer e justificar como bem conjunto do casal66 ou próprio de um deles67

66
O Dr. José Fonseca e Silva entendia que o conjugue na ausência prolongada do esposo podia no
âmbito de administração dos bens recorrer e justificar como bem conjunto do casal. In: José da
Fonseca e Silva. Justificação para fins de registo predial. Algumas questões. Revista do Notariado,
Lisboa, Ano VI n. 24, p. p.203-204, 2 abr./Jun. 1986. Trimestral. No entanto no parecer técnico
entendesse que com DL n.º 273/2001 de 13 de outubro, que se verificou uma ampliação da
legitimidade de outorgar a justificação, pondo de parte o problema do consentimento conjugal para
obtenção título para registo de bens comuns, por a legitimidade não se esgotar na titularidade do
bem, ver: Parecer do CT de 30-06-2011, Proc. Nº R.P. 39/2011 SJC-CT, p. 6, nota 9. Sítio:
https://www.irn.mj.pt/IRN/sections/irn/doutrina/pareceres/Pareceres-Conselho-Tecnico/ . Acesso:
22/01/2019. O Dr. Fernando Neto Ferreirinha entende que na doutrina oficial a justificação não é
considerado um mero ato de administração e citando uma sentença proferia em 16-02-2004 pelo
tribunal de circulo do funchal, vara mista, onde atribui legitimidade ao cabeça de casal para por si só,
justificar a favor e em benefício de todos demais titulares. Ver: Fernando Neto Ferreirinha.
Justificação. In: Manual de Direito Notarial, teoria e prática. Coimbra: Almedina, 2016, p. 555.
67
No entanto tem que ficar na mesma a indicação do regime de bens e se o bem é próprio de um ou
se é comum, tal como estabelece artigo 93.º, n.º 1 alínea e) CRegP (ex.- vi artigo 44.º, n.º 1 alínea a)
36

ou gestor de negócios68, ou seja todo aquele que tenha um interesse digno


de crédito que o mesmo seja registado.

 Causa de aquisição – deve indicar o facto jurídico do qual resulta a aquisição


do direito. Com isso queremos dizer, que tem de ser indicado se foi por
compra e venda, doação, mesmo tenha sido verbal69. Invocada a usucapião,
essa é a causa da aquisição do direito, neste caso tem que indicar as
circunstâncias que determinaram o início da posse, se a mesma for não
titulada. A invocação da usucapião implica que deva ficar demonstrado na
escritura o preenchimento dos pressupostos, bem como da verificação do
prazo necessário para sua invocação70, tendo que indicar os atos matérias, e
não termos jurídicos, que os demonstre.

 As causas de impossibilidade de não poder comprovar o facto que pretende


justificar pelos meios extrajudiciais normais - deve o notário analisar as
razões invocadas pelo interessado dessa mesma impossibilidade, artigo 95.º
CN, de forma a determinar se faz sentido os motivos ou razões invocadas, se
tem um mínimo de credibilidade71. Trata-se no fundo de verificar se de facto
não se pode fazer pelos meios normais e só se realmente verificar que, são
de facto razões de impossibilidade, poder então aceitar que se possa assim
justificar a existência do seu direito. Entendia o notário Fonseca e Oliveira72
que, as razões invocadas pelo justificante quanto a sua aquisição de que não

do mesmo código) quando casado, sendo solteiro tem ser indicado se maior ou menor de idade. Ver:
Joaquim de Seabra Lopes. Direito dos Registos e do Notariado. 9.ª Ed., Coimbra: Almedina, 2018,
p. 454.
68
Mas apenas se pode admitir que este tenha legitimidade na medida que ao recorrer a justificação o
faça no interesse do dono do negócio, artigo 468.º, n.º 1 CC. Ex: se o gestor pretende vender um
prédio que pertence A, tem que se encontrar registado em nome de A. E caso não exista documento
ou não sabe onde se encontra poder recorrer a justificação notarial. Pois se pode registar ainda que
provisório por natureza pode por maioria de razão justificar, artigo 92.º, n.º 1, alínea f) do CRegP.
Mesmo posse pode ser adquirida por gestor de negócios, ver: José da Fonseca e Silva.
Justificação…, op. cit., p.192.
69
José da Fonseca e Silva. Justificação…, op. cit., p. 198; Abel Augusto Veiga da Gama Vieira.
Código do registo predial, anotações, registo comercial e de automóveis. 3.ª Ed., Coimbra,
1967. P. 199.
70
A. M. Borges De Araújo. Da justificação…, op. cit., p. 352
71
José da Fonseca e Silva. A nova política…, op. cit., p. 36. Arménio Ferreira. A Escritura..., op. cit.,
p.31. D. M. Lopes de Figueiredo. Código do Notariado (actualizado) com algumas notas e
comentários. Coimbra: Almedina, 1991. P. 319; Fernando Neto Ferreirinha. Justificação…, op. cit., p.
547.
72
José da Fonseca e Silva. A nova política…, op. cit., p. 36.
37

se recorda qual foi o cartório que outorgou a escritura ou que ela se perdeu
não seriam razões credíveis, e que quando se invocar que a mesma teria
sido destruída por um incendio, inundação ou outra situação de calamidade,
devia ser apurado se essa situação de facto se verificou. Por outro lado
quando se tratar de algumas das aquisições intermédias já se deveria ter
mais tolerância, pois se nesse caso não se pudesse localizar a escritura ou
se uma dessas aquisições fosse verbal apesar de os intervenientes estarem
vivos e possíveis de localizar, já seria compreensível até devido ao lapso de
tempo decorrido até a aquisição do justificante73. No entanto refere que se o
justificante invoca que o contrato ao qual interveio foi verbal e não pode
recorrer aos meios normais por que entretanto faleceu ou esta ausente por
parte incerta o transmitente, essa sim já seria uma razão plausível.74

 Confirmação das declarações do justificante – a declaração prestada pelo


justificante tem que ser confirmada por três declarantes75 (artigo 96.º, n.º 1
CN), que no entanto tem que obedecer a alguns critérios para que possam
ser aceitas como tal, artigo 84.º CN (ex.- vi artigo 96.º, n.º 2 CN):
- Só podem ser declarantes, aquelas que poderem ser testemunhas
76
instrumentárias - No artigo 67.º existe os casos que intervém essas
testemunhas e são também aplicáveis os que veem regulado no artigo 68.º,
casos de incapacidade e inabilidade.
- Não pode ser testemunha quem for parente sucessível do justificante, nem
o cônjuge de qualquer um deles. Mas se for familiar ou cônjuge do titular
inscrito no registo seja no caso reatamento ou estabelecimento de novo trato,
parece já não haver inconveniente. 77

73
I José da Fonseca e Silva. A nova política…, op. cit., p. 39.
74
Ibidem, p. 36.
75
Estes não podem ser representados, tem intervir pessoalmente. In: José Marques de Almeida.
Justificações Notariais. Coimbra. 1963. P. 47.
76
``testemunhas, aqui, acentua-se já, instrumentárias, como lhes chama o art. 81.º, ou seja,
testemunhas do instrumento, não dos factos, isto é, do próprio documento, não da situação
documentada´´. Ver: Albino Matos. Justificação - Registo predial - Compra e venda - Usucapião. In:
MATOS, Albino. Temas de Direito Notarial, Doutrina-Jurisprudência-Práctica. Coimbra: Almedina,
1992. P. 440 nota 5. Tomo I.
77
D. M. Lopes de Figueiredo. Código do Notariado..., op. cit., p. 308 e 328. Referia que aos
familiares do autor da herança não se aplica restrição e mais a frente remete dos declarantes da
justificação notarial para o que disse nessa parte.
38

- Deixou de existir a exigência dos declarantes residirem no lugar onde se


encontra prédio – pensamos que deveria esse requisito se manter, mas
adequada a situação em concreto, pois o facto dos declarantes residirem no
lugar da situação do prédio ou ali tivessem residido a quando da aquisição,
terá mais proximidade com os factos, principalmente se o justificante invocar
a usucapião. Como vai o declarante confirmar que aquele agia como dono,
que plantava, limpava matos no caso do prédio rustico a vista de toda a
gente sem que tenha presenciado? Não havendo qualquer limitação nesse
sentido, podia acontecer que por exemplo alguém que sempre residiu no
estrangeiro, vindo numa situação de férias podia ir como testemunha ao
notário confirmar as declarações do justificante, ou alguém que sempre viveu
nos açores confirmar as declarações do justificante em Viseu. Dito isto, não
estamos a dizer que, os declarantes desse modo estariam a mentir, mas o
que provavelmente iam confirmar era com base no que foi dito pelo
justificante a eles e não a sua real perceção, tem que ter um conhecimento
pessoal ou decorrência de conhecimento público. O Mestre Arménio Ferreira
na sua dissertação dizia que quando houvesse um negócio que tenha sido
feito num lugar diferente da situação do prédio se justifica que a testemunha
fosse aquela que tenha presenciado o negócio, ainda que não residisse no
lugar da situação do prédio e que este último só fazia sentido apenas quando
se fala de posse 78.

 Advertência das falsas declarações – o artigo 97.º CN, como sabemos, foi
declarado inconstitucional com força obrigatória geral por violação da alínea
c), do n.º 1 do artigo 165.º CRP (Acórdão do TC n.º 96/2015, de 03-03). No
entanto parece-nos que ainda assim deve ser advertido o justificante e os
declarantes sobre as falsas declarações, visto ser uma decorrência legal, que
nem precisava ser referido no CN, visto já resultar do código penal, artigo
348.º-A CP conjugado com o artigo 153.º, n.º 2 CRegP. Até porque o
desconhecimento da lei, não faz com que a mesma não exista, pelo contrário

78
Arménio Ferreira. A Escritura …, op. cit., p. 34.
39

continua a se aplicar mesmo que não haja referência no código do


notariado.79
 Inscrição na matriz – o interessado que pretende justificar um direito, que de
acordo com a lei fiscal deva constar da matriz (artigo 92.º, n.º 1 CN), deve o
mesmo ser, primeiro inscrito na matriz80, devendo posteriormente ser
apresentado para feitura da escritura de justificação a certidão de teor que
comprove essa inscrição (artigo 98.º, n.º 1, alínea b) CN). No entanto o
interessado, só o pode solicitar com uma antecedência máxima de 3 meses,
(n.º 2). Diferente deste, no processo de justificação pode-se recorrer a
justificação antes de a inscrição estar feita desde que na data da instauração
do processo, já estiver pedido a sua inscrição na matriz (artigo 117.º-A, n.º 2
CRegP). No entanto a quem entenda que se pode fazer uma aplicação
analógica e dessa forma também na justificação notarial bastar-se com a
participação na matriz81, mas não é este o entendimento mas conforme com a
lei e do parecer técnico.82 O Dr. Neto ferreirinha alerta para o facto de que o
DL n.º 273/2001, de 13 de Outubro que modificou o artigo 117.º-A CRegP ao
qual no processo de justificação permitiu a simples participação na matriz é o
mesmo que alterou o artigo 92.º, n.º 1 CN exigindo a inscrição na matriz para
poder recorrer a justificação notarial.83
A inscrição na matriz em caso de 1ª inscrição faz presumir o cumprimento das
obrigações fiscais se estiver em nome do justificante ou nome de quem é feito
a justificação, já no caso do reatamento do trato sucessivo e estabelecimento
de novo trato, se não se poder comprovar que foram pagos os impostos no
que se refere as transmissões justificadas, bastará a certificação pela

79
No mesmo sentido o voto de vencido no acórdão indicado da Juíza Maria Fátima Mata-Mouros que
diz ``A uma advertência sem sanção (criminal) deverá seguir-se uma sanção criminal sem prévia
advertência´´.
80
Entendimento que também é confirmado pelo parecer técnico que entende que a norma é
imperativa e por isso o notário deve recusar a realização da escritura se não se encontrar inscrito na
matriz em nome do justificante. Ver: Proc. Nº R.P. 253/2002 DSJ-CT, publicado no II Caderno do
BRN n.º 11/2003, p. 9. Sítio: https://www.irn.mj.pt/IRN/sections/irn/legislacao/publicacao-de-
brn/boletins-dos-registos-e/ . Acesso: 16/01/2019. Proc. Nº R.P. 107/2003 DSJ-CT, publicado no II
Caderno do BRN n.º 11/2003, p. 13-14. Sítio:
https://www.irn.mj.pt/IRN/sections/irn/legislacao/publicacao-de-brn/boletins-dos-registos-e/ . Acesso:
16/01/2019. Fernando Neto Ferreirinha. Justificação…, op. cit., p. 560.
81
José da Fonseca e Silva. Justificação…, op. cit., p. 206.
82
Proc. Nº R.P. 107/2003 DSJ-CT…, cit., p. 13.
83
Fernando Neto Ferreirinha. Justificação…, op. cit., p. 560.
40

repartição de finanças para que seja dispensada a apreciação da sua


regularidade fiscal, artigo 117.º CRegP.

 Licença de utilização84- sendo prédio urbano que o interessado visa justificar,


é necessário ainda licença de utilização. O artigo 4.º do DL n.º 281/99 de 26
de julho dispõe que se aplica a justificação do trato sucessivo que está
regulado no artigo 116.º, do CRegP no que lhe for aplicável. O artigo 1.º, do
mesmo DL (com nova redação dada a este artigo, pelo artigo 6.º do DL n.º
116/2008, de 04 de julho, alterado pelo DL n.º 99/2010, de 02 de setembro)
tem que se fazer prova da autorização de utilização perante a entidade que
celebra a escritura. No entanto caso se comprove que o prédio foi construído
ou inscrito na matriz antes 07-08-51 ou seja antes da entrada em vigor do
regulamento geral das edificações urbanas, encontra-se dela dispensada.85

 Documento comprovativo das transmissões antecedentes e subsequentes -


apresentar os documentos relativos as transmissões ocorridas anteriores,
quer subsequentes ao facto que o interessado pretenda justificar mas que
não tenha invocado impossibilidade de obter esses documentos, artigo 98.º,
n.º 3 CN.

 Documentos necessários a instrução da escritura de justificação para fins de


registo predial - Deve o interessado na justificação no caso de
estabelecimento do trato sucessivo, apresentar a certidão de que o prédio se
encontra omisso no registo predial ou estando descrito mas sem que haja
inscrição é necessário a certidão dessa descrição. Tratando do reatamento do

84
A. M. Borges De Araújo. Da justificação…, op. cit., p. 358-359.
85
Fernando Neto Ferreirinha. Justificação…, op. cit., p. 562. Nesse sentido o parecer técnico, Proc.
Nº R.P. 83/98 DSJ-CT…, op. cit., p. 12. Noutro parecer também acrescenta que fazendo prova da
existência do alvará ou de que dela está dispensada mas desde que o prédio não tenha sofrido
alterações. Ver: Parecer do CT de 23-09-2010, Proc. Nº R.P. 39/2010 SJC-CT, p. 15. Sítio:
https://www.irn.mj.pt/IRN/sections/irn/doutrina/pareceres/Pareceres-Conselho-Tecnico/ . Acesso:
22/01/2019. Sendo ainda referenciado noutro parecer que a licença de utilização é aplicado a todas
as modalidades de justificação de direito embora não exista unanimidade, ver: Parecer do CT de 26-
05-2009, Proc. Nº R.P. 254/2008 SJC-CT, p. 15. Sítio:
https://www.irn.mj.pt/IRN/sections/irn/doutrina/pareceres/Pareceres-Conselho-Tecnico/ . Acesso:
22/01/2019. Existe um voto de vencido que entende que no caso da invocação da usucapião esta
licença não se deve aplicar. Ver: Proc. Nº R.P. 27/2000 DSJ-CT, publicado no II Caderno do BRN n.º
6/2002, p. 6. Sítio: https://www.irn.mj.pt/IRN/sections/irn/legislacao/publicacao-de-brn/boletins-dos-
registos-e/ . Acesso: 16/01/2019.
41

trato sucessivo ou no caso estabelecimento do novo trato sucessivo, nesse


caso por o prédio se encontrar descrito e já existir inscrição em nome de
alguém, é necessário a certidão de teor dessa descrição e todas as inscrições
em vigor, n.º 1, do artigo 98.º CN. Estas certidões sendo de teor desde que
com mesmo período de tempo máximo de antecedência e validade podem
ser substituídas pela apresentação da caderneta predial e pela exibição do
título de registo, n.º 2, do mesmo artigo.

 Notificação prévia do titular inscrito - quando não tenha comprovado a


intervenção do titular inscrito, no caso de reatamento do trato sucessivo e do
estabelecimento de novo trato sucessivo, deve o mesmo ser notificado86 de
forma que, aquele seja informado, que irá ser feito uma justificação, para caso
de não concordar poder opor a feitura desta e consequentemente evitar o seu
registo87. No entanto vale aqui o princípio do dispositivo, o notário não pode
proactivamente fazer a notificação sem que para tal seja solicitado pelo
interessado. O interessado deve requerer por escrito ou se optar verbalmente,
mas neste caso tem que ser reduzido a auto, para que o notário faça a
notificação ao titular inscrito artigo 99.º, n.ºs 1, 2 CN. Sabendo onde se
encontra o titular inscrito, o notário ordena a notificação pessoal daquele por
despacho. Sendo aplicada a notificação, as regras do processo civil com
devidas adaptações (ex.- vi. n.º 5 do artigo 99.º CN) artigo 224.º n.º 1 CPC
deve ser notificado sendo pessoa singular onde ele se encontrar, na sua
residência ou local de trabalho, por carta registada artigo 249.º n.º 1 CPC.

86
Segundo o parecer técnico, se a notificação ao titular inscrito, não tiver sido feita da forma exigida,
sendo feita notificação edital quando se conhecia a morada do titular, tem se por não efetuada a
notificação, considerando como titulo manifestamente insuficiente para prova do facto, para se
proceder o registo e se este se vier a se verificar o registo é nulo. Ver: Parecer do CT de 16-12-2010,
Proc. Nº R.P. 129/2010 SJC-CT, p. 9, 11-12. Sítio:
https://www.irn.mj.pt/IRN/sections/irn/doutrina/pareceres/Pareceres-Conselho-Tecnico/ . Acesso:
22/01/2019. Não vale como notificação, a certidão do processo judicial da ação declarativa proposta
contra os réus (os titulares inscritos) a fim de reconhecerem o direito do justificante e por isso só se
podia fazer o registo provisório por dúvidas, entendimento diferente no voto de vencido do Vogal
António Manuel Fernandes Lopes, que entendeu que deveria ser recusado o registo pois desta ação
não resulta um efetivo conhecimento de vir a existir a justificação que se verifica quando é feita a
notificação, ver: Parecer do CT de 16-11-2011, Proc. Nº R.P. 136/2011 SJC-CT, p. 4-9. Sítio:
https://www.irn.mj.pt/IRN/sections/irn/doutrina/pareceres/Pareceres-Conselho-Tecnico/ . Acesso:
22/01/2019.
87
Entende o autor, Fernando Neto Ferreirinha. Justificação notarial para fins do registo predial. In:
Anexo BRN n.º 01/2004, p. 8. Sítio: https://www.irn.mj.pt/IRN/sections/irn/legislacao/publicacao-de-
brn/boletins-dos-registos-e/ . Acesso: 16/01/2019, que se o titular inscrito se prontifique a aparecer
como declarante já não é necessário a sua notificação.
42

Se o titular inscrito se encontrar ausente ou falecido deve-se fazer a


notificação edital dele ou dos herdeiros ainda que não habilitados. No entanto
parece-nos que deva ser feito uma aplicação extensiva da notificação pessoal
aos herdeiros quando se souber a sua residência exata de forma a garantir
que eles tenham conhecimento e possam intervir atempadamente se for o
caso. Pois, não tem sentido, haver notificação edital neste caso, salvo o
devido respeito e melhor opinião, devendo fazer uma diferenciação da
notificação dos herdeiros quando estiverem ausentes/falecidos ou se souber
a localização exata88. O Dr. José da Fonseca e Silva entendia que devia ser
identificado na notificação edital os herdeiros quando se soubesse quem
eram. 89
A notificação edital é feita pela afixação de editais na conservatória
competente para o registo, na sede da junta de freguesia da situação do
prédio ou da sede da sociedade (artigo 99.º, n.ºs 4 e 7 CN), se justificar
também podem ser afixados editais na sede da freguesia da última residência
conhecida do ausente ou do falecido. Devendo constar da escritura a menção
que essa notificação foi efetuada (n.º 10).90
Uma questão que se pode levantar é porque no estabelecimento de
trato sucessivo não é feito a notificação daquele que, o justificante diz ter
adquirido a propriedade ou dos seus herdeiros se aquele tiver falecido?91
Podia-se argumentar que estando registado visa-se proteger aquele que
confiou no registo e tem a presunção ao seu favor, o que é perfeitamente
válida. Na 1ª inscrição, não existe ainda registo a favor de alguém, mas sendo
feito a notificação a aquele que o justificante diz ser o transmitente ou dos
seus herdeiros caso tenha falecido, vai no sentido de confirmar a fiabilidade
das suas declarações ou em alternativa apresentar o documento que
comprove a existência do direito em nome do transmitente. O interessado
apenas vai justificar o seu direito, pois essa necessidade de notificar aquele

88
A. M. Borges De Araújo. Da justificação…, op. cit., p. 361.
89
José da Fonseca e Silva. Justificação…, op. cit., p. 212.
90
A falta de notificação do titular inscrito determina que a justificação seja um título manifestamente
insuficiente para a prova legal do facto para ser feito o registo, e como tal deve ser recusado pelo
conservador. Ver: Fernando Neto Ferreirinha. Justificação…, op. cit., p. 581-582.
91
O autor Vicente J. Monteiro. Desjudicialização da Justificação …, op. cit., p.18, parece ter uma
posição semelhante, pois entende que não havendo inscrição no processo de justificação, não haverá
citação antes a decisão final embora possa haver outros interessados.
43

(o suposto transmitente) aumenta a probabilidade de quem está a recorrer a


justificação de facto tenha o direito.

 Publicidade - Deve ser publicado o extrato do respetivo conteúdo da escritura


de justificação, num dos jornais mais lidos do concelho da situação do prédio
ou da sociedade, mas no caso de não existir, é publicado em um dos jornais
mais lidos nessa região. Esse extrato é passado em 5 dias, a contar da data
da feitura da escritura (artigo 100.º CN).
No entanto parece-nos que essa publicidade deveria ser reforçada com a
publicação no sítio da internet92 como se estabelece no artigo 117.º-H, n.º 7
CRegP para o processo de justificação, já que nos dias de hoje cada vez
mais a uso da internet, mesmo para o IRS tem que ser submetido no sítio das
finanças, por maioria de razão fazer essa publicidade permite que quem está
no estrangeiro consiga aceder a essa informação mais facilmente.

 Prazo para passagem das certidões- As certidões da escritura de justificação


podem ser passadas após o prazo de 30 dias a contar da data da publicação
do extrato, salvo se dentro desse prazo for dado conhecimento ao notário, da
pendência de impugnação, caso que não é passado certidão, n.º 2 do artigo
101.º CN até ao averbamento da sentença definitiva, o mesmo se aplica para
no caso de justificações simultâneas, n.ºs 4, 5 do mesmo artigo, mas podem
durante aquele período passar certidões para efeitos de impugnação (n.º 3),
fazendo essa informação constar nela. Na escritura deve ser feito
averbamento da data e jornal que foi feito a publicação, bem como se houve
impugnação e o resultado da decisão proferida.93
Devendo o registo com base nessa justificação ser feita no prazo
máximo de 2 meses apos a passagem das certidões (artigo 8.º-C, n.º 1
CRegP) cabendo ao notário enquanto obrigado ao registo (artigo 8.º-B, n.º 1,
1ª parte) e que também possui legitimidade (artigo 36.º, parte final) para
solicitar a feitura do registo ao conservador. No entanto se este não o fizer
cabe ao justificante (artigos 8.º-B, n.º 1, parte final, artigo 36.º, 1ª parte).

92
A definir na portaria do membro do Governo responsável pela área da justiça: portaria 621/2008, de
18 de julho (com alterações da portaria n.º 283/2013, de 30/08). No artigo 7.º dessa portaria, diz que
as notificações editais e decisão de processo de justificação é feito no sítio: www.predialonline.mj.pt.
93
A. M. Borges De Araújo. Da justificação…, op. cit., p. 365.
44

 Emolumentos do notariado – sendo cartórios públicos são devidos pela


justificação €155 (artigo 20.º, do regulamento emolumentar dos registos e
notariado (RERN) no n.º 1.1.15), pelo registo na conservatória dos registos
centrais de cada escritura €9 (n.º 1.6), por cada notificação feita nos termos
do artigo 99.º CN ao titular inscrito é €45 (n.º 3 conjugado com o artigo 11.º,
n.º 4, alínea i) do RERN).94 No caso de ter sido justificado com base na
usucapião, ainda são devidos impostos de selo por ser considerado
``aquisição gratuita´´ (artigos 1.º, n.º 3 alínea a), 2.º, n.º 2 alínea b), tabela
geral de imposto de selo no seu 1.2 todos do código de imposto de selo
(CIS)95). Neste último só é exigível a partir do momento que é feita a
justificação (artigos 5.º, alínea r), 25.º, n.º 1, 26.º, n.º 1), competindo a sua
liquidação aos serviços centrais da DGCI (Direção-geral de contribuições e
impostos)96. Sendo notários privados se aplica o que vem regulado na
portaria n.º 385/2004 de 16 de abril97 (alterado pela portaria n.º 574/2008 de
04 de julho98).

 Valor do direito justificado99 – Tem que se indicar qual o valor do prédio, da


parte indivisa ou do direito a que a escritura de justificação respeita, artigo
63.º, n.º 1 CN.

Em caso de recusa por parte do notário da prática de lavrar a escritura de


justificação, o interessado pode recorrer artigos 173.º a 182 do CN para o tribunal de
1ª instância da sede do cartório notarial além do recurso hierárquico para diretor-

94
Dr. Neto ferreirinha entende que ainda a lugar ao pagamento €24,94 do artigo 14.º da anterior
tabela emolumentar. In: Fernando Neto Ferreirinha. Justificação…, op. cit., p.587.
95
Verifique que assim que é feito a justificação é devido o valor desse imposto ainda que o
justificante venha mudar de ideias e optar por outro meio, como referência vamos indicar alguns
acórdãos: Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo de 12.10.2016, Processo: 0718/15, Relator:
Francisco Rothes. Sítio: http://www.dgsi.pt. Acesso: 21 março. 2020; Acórdão do Supremo Tribunal
Administrativo de 29.03.2017, Processo: 01372/16, Relator: Fonseca Carvalho. Sítio:
http://www.dgsi.pt. Acesso: 21 março. 2020; Acórdão do Tribunal central Administrativo sul de
09.03.2017, Processo: 06842/13, Relator: Fonseca Carvalho. Sítio: http://www.dgsi.pt. Acesso: 21
março. 2020.
96
Fernando Neto Ferreirinha. Justificação…, op. cit., p. 587-588
97
Diário da República n.º 90/2004, série I-B de 2004-04-16, sítio: https://dre.pt/web/guest/pesquisa-
avancada. Acesso: 08/08/2020.
98
Diário da República n.º 128/2008, série I de 2008-07-04, sítio: https://dre.pt/web/guest/pesquisa-
avancada. Acesso: 08/08/2020.
99
José Marques de Almeida. Justificações Notariais. Coimbra. 1963, p. 49.
45

geral dos Registos e do notariado que possa ter lugar. No entanto o notário não
pode recusar no caso dos atos anuláveis e ineficazes apenas pode advertir os
interessados e consignar no instrumento essa advertência que o fez (artigo 174.º).
Todos os documentos devem ficar arquivados na escritura, com exceção da
caderneta que apenas é apresentada ao notário.100
Os meios de prova que devem ser apresentados para a realização da
justificação são as provas documentais e testemunhais.101

100
António Magro Borges De Araújo; João Mota Pereira De Campos. Justificação Notarial e
Registo Obrigatório: Decreto-lei n.º 40.603, Portaria n.° 16.036, Despachos Ministeriais, Fórmulas e
ligeiros comentários. Braga: Petrony, 1958. Colecção «Serviços Do Notariado», p. 44.
101
José Luís Bonifácio Ramos. O registo predial. In: Manual de Direitos reais. Lisboa: AAFDL, 2017,
p. 235.
46

2. Usucapião

Neste capítulo vamos centrar apenas sobre bens imoveis e tentando ser o mais
objetivos possíveis direcionando essencialmente a parte que tem interesse no
presente tema. A usucapião é relevante incluir na análise que são os possuidores
que tem maior interesse em recorrer a justificação notarial.

2.1- Requisitos

Os requisitos necessários102 para que possa ter lugar a usucapião são:

1- A posse – para que possa existir a usucapião primeiramente tem que existir
posse103, mas não uma qualquer posse e sim aquela que de facto possa levar
a aquisição do direito cuja posse traduz104. Mas vamos por partes, como diz o
ditado a pressa é inimiga da perfeição.
A posse é o resultado da junção de dois elementos o corpus e o
animus105. O corpus é o comportamento do possuidor perante a coisa
possuída ou seja é a prática de atos materiais num imóvel ou móvel que se
traduz num comportamento próprio de quem age como dono do mesmo, que
pode ser feito diretamente ou por intermédio de alguém em seu interesse. Já
o animus é a intenção que traduz a vontade de agir como dono através dos
atos que pratica que de facto é dono do imóvel ou ainda que espiritualizado
quando exercido esses atos por intermedio de outra pessoa.106

102
Durval Ferreira. Usucapião. In: Posse e Usucapião. Coimbra: Almedina, 2002. P.437 e 448; Abílio
Vassalo Abreu. A «relação de coexistência» entre usucapião e o registo predial no sistema jurídico
português. In: Estudos em homenagem ao Prof. Doutor Manuel Henrique Mesquita. Vol. I,
Coimbra: Coimbra editora, 2009. P. 44.
103
José Puig Brutau. Conceptos generales. In: Caducidad, prescripción extintiva y usucapión. 1.ª
Ed., Barcelona: Bosch, casa editorial, S.A.,1988. P. 11, 14.
104
Durval Ferreira. Posse. In: Posse e Usucapião. Coimbra: Almedina, 2002. P.55.
105
Abílio Vassalo Abreu. A «relação de coexistência» …, op. cit., p.70. Manuel Rodrigues. A posse,
estudos de direito civil português. 4.ª Ed., Coimbra: Almedina, 1996. P. 182.
106
Orlando Carvalho. Introdução à posse…, in op. cit., p. 262 e 267; Manuel Rodrigues. A posse…,
op. cit., p. 191. J. Dias Marques. Prescrição aquisitiva. Lisboa. Vol. I, 1960. P. 29-30,32.
47

O corpus encontra-se descrito no artigo 1251.º CC, quando diz que``


alguém atua por forma correspondente ao exercício do direito de propriedade
ou de outro direito real.´´107 Já o animus pode ser encontrado á contrário no
artigo 1253.º CC108, é o poder de facto que é exercido com intenção de agir
como beneficiário do direito, não se tratando de aproveitamento da mera
tolerância do proprietário, mas de posse em nome próprio. Age e sente como
verdadeiro titular do direito.
Alguns autores109 têm entendido, com razão, que se trata aqui de uma
posse formal e não de uma posse causal, o que quer dizer que apesar de
agir, e sentir como dono, não se traduz na exteriorização de um direito que de
facto existe na esfera jurídica dessa pessoa mas quanto muito, a sua mera
aparência110. A posse que dai decorre, faz presumir a existência de um
direito, logo se fosse posse causal não seria presumir mas o reflexo do direito
existente. Mas não invalida que aquele que tenha a posse causal possa
recorrer a posse formal e fazer valer da proteção que dai decorre se assim for
necessário.111
Existem situações de mera detenção que não existe posse por faltar o
animus e outras em que apesar de haver posse como as servidões não
aparentes a lei não admite a usucapião, isso porque toda a usucapião provém
de uma posse mas nem toda a posse conduz a usucapião112.
A posse adquire-se de uma de 8 formas: com a prática de atos
materiais de forma reiterada correspondente ao exercício de um direito; pela
tradição material ou simbólica da coisa efetuada pelo anterior possuidor; por
constituto possessório; por inversão do título da posse; a sucessão na posse;

107
Entendia DR. Orlando Carvalho que nesta noção se podia encontra o corpus (exercício de poderes
de facto) e animus (em termos de um direito real). Ver: Orlando Carvalho. Introdução à posse…, op.
cit., p. 268.
108
Em anotação ao artigo 1251.º CC: Pires de Lima; Antunes Varela. Código civil anotado. 2.ª Ed.,
Vol. III (artigos 1251.º a 1575.º), Coimbra: Coimbra editora, 1987, p. 5.
109
Não se trata de uma investigação exaustiva, visto que o objetivo deste trabalho não é centrar na
usucapião. Entre eles: Orlando Carvalho. Introdução à posse…, op. cit., p. 269; J. Dias Marques.
Prescrição aquisitiva…, cit., p. 8 e 12; Inocêncio Galvão Telles. Condição ou modo e usucapião.
Separata da revista «O Direito». Lisboa, A. 121º, N.º 3, p. 652, 1989.
110
Orlando Carvalho. Introdução à posse…, op. cit., p. 269; Em anotação ao artigo 1251.º CC: Pires
de Lima, VARELA, Antunes. Código civil anotado…, op. cit., p. 1.
111
Orlando Carvalho. Introdução à posse…, in op. cit., p. 269.
112
J. Dias Marques. Prescrição aquisitiva…, in op. cit., p.15; José Puig Brutau. Conceptos
generales…, op. cit., p. 10 e 14.
48

(artigos 1263.º CC e 1255.º CC)113, traditio brevi manu; esbulho114 e


ocupação.

2- Capacidade para adquirir – diz o n.º 1 do artigo 1289.º CC que todos que
puderem adquirir irão beneficiar da usucapião. Adquirir o quê? Direito.
Aqueles que adquiriram posse podem vir a adquirir por via da usucapião e por
isso os requisitos para adquirir a posse são indiretamente requisitos para a
usucapião. O artigo 1266.º CC que determina que só podem adquirir posse os
que tem uso da razão, não o tendo, por representantes, artigo 1252.º n.º 1
CC), salvo se for coisas suscetíveis de ocupação (coisas moveis, artigo
1318.º CC) que pode adquirir por si mesmo sem precisar de ter o uso da
razão. Tem entendido a doutrina, que aquele que tem o uso da razão, não é
aquele que tem capacidade de exercício basta que tenha a capacidade
natural, de entender e querer115. Seguindo a posição do Dr. Penha Gonçalves
entende que artigo 1289.º, n.º 1 CC, tem manifesta correspondência com o
princípio da capacidade jurídica que se encontra regulado no artigo 67.º CC
em que podem ser titulares de direitos adquiridos pela via usucapião tanto os
capazes como os incapazes116. Mas sendo assim nos estamos a falar de
capacidade de gozo ou de exercício?117 Dr. Durval Ferreira entende que no
n.º 1 do artigo 1289.º CC teríamos capacidade de gozo mas no n.º 2
capacidade de exercício118.

3- Coisa suscetível de ser usucapido – uma vez preenchido o requisito da posse


para que este leve a usucapião, tem que ser a posse de uma coisa que seja

113
Augusto da Penha Gonçalves. Posse. In: Curso de Direitos Reais. 1.ª Ed., Lisboa: Universidade
lusíada, 1992. P. 270.
114
Orlando Carvalho. Introdução à posse…, op. cit., p. 310.
115
Ibidem, p. 274-275; Em anotação ao artigo 1266.º CC: Pires de Lima, Antunes Varela. Código civil
anotado…, op. cit., p. 31. J. Dias Marques. Prescrição aquisitiva…, op. cit., p. 121, 125; José Puig
Brutau. Conceptos generales…, op. cit., p. 8. O uso da razão seria a forma de capacidade jurídica:
Durval Ferreira. Posse…, op. cit., p. 47, 241. Durval Ferreira. Usucapião…, op. cit., p. 448. Manuel
Rodrigues. A posse..., op. cit., p. 193; Isabel Ferreira Quelhas Geraldes, Olga Maria Barreto
Gomes. Justificação relativa ao trato sucessivo. Coimbra: Almedina, 2017. P. 34.
116
Augusto da Penha Gonçalves. Posse…, op. cit., p. 296.
117
Parece no entanto que tem diferente posição Dr. José Luís Bonifácio Ramos. O registo predial. In:
RAMOS, José Luís Bonifácio. Manual de Direitos reais. Lisboa: AAFDL, 2017, p. 208, quando diz ``
… na importância das regras de capacidade para adquirir, em linha com as relativas à capacidade de
exercício.´´; Orlando Carvalho. Introdução à posse…, op. cit., p. 276 – entende que a capacidade de
adquirir pela via da usucapião é mais ampla que a posse.
118
Durval Ferreira. Usucapião…, op. cit., p. 448.
49

usucapivel.119 Tem que tratar-se de uma coisa que esteja dentro do comércio
(artigo 202.º CC). As coisas consideradas dentro do comércio são as
pertencentes ao domínio privado, que sejam suscetíveis de apropriação
individual, incluindo um bem privado do estado, neste ultimo caso se exige o
acréscimo de mais de metade do prazo normal (artigo 1.º na Lei n.º 54, de 16
de julho de 1913 por força da remissão do artigo 1304.º CC). Estão excluídos
as coisas do domínio público, e as coisas do domínio privado indisponível.120
Para se poder apropriar individualmente de uma coisa, ela deve ser atual e
determinada121.

4- Tem que ser a posse de uma coisa do qual resulta o surgimento de um direito
de propriedade ou de outros direitos reais de gozo122 (artigo 1287.º CC) –
exclui automaticamente quaisquer outros direitos reais que pudessem de
alguma forma ser invocado para esse efeito. Os direitos reais de gozo são: o
direito de propriedade, usufruto, propriedade horizontal, direito de superfície,
servidões prediais, direito de uso e habitação. Mas nem todos são
usucapíveis como determina o artigo 1293.º CC (estão excluídos as servidões
prediais não aparentes e direito de uso e habitação).123 Entende Mestre
Vassalo Abreu que a exclusão das servidões prediais não aparentes se tratou
de uma escolha discricionária do legislador124 e enquanto aos direitos de uso
e habitação tem a ver com natureza intuitu personae, sendo exercido pelo
titular e sua família, que de outra forma teríamos um resultado contrário ao
que a lei pretende.125 No presente trabalho o que interessa é apenas o direito
de propriedade e a propriedade horizontal. Mas os restantes direitos reais de
gozo para os registar por aquisição pela via usucapião, na falta de

119
J. Dias Marques. Prescrição aquisitiva…, op. cit., p. 139, 145-146.
120
Durval Ferreira. Usucapião…, op. cit., p. 444; J. Dias Marques. Prescrição aquisitiva…, op. cit.,
p. 146-148; em anotação ao artigo 1296.º CC: Pires de Lima, Antunes Varela. Código civil
anotado…, op. cit., p. 77. António Menezes Cordeiro. Da usucapião de imoveis em Macau. Separata
da revista da Ordem dos Advogados, Lisboa, A. 53, n.º 1, p. 39.1993; José Puig Brutau. Conceptos
generales…, op. cit., p. 9.
121
J. Dias Marques. Prescrição aquisitiva…, op. cit., p. 157, 161. Augusto da Penha Gonçalves.
Traços característicos dos direitos reais, em geral. In: Curso de Direitos Reais. 1.ª Ed., Lisboa:
Universidade lusíada, 1992. P. 79.
122
Abílio Vassalo Abreu. A «relação de coexistência» …, op. cit., p. 44.
123
J. Dias Marques. Prescrição aquisitiva…, op. cit., p. 145-146; José Puig Brutau. Conceptos
generales…, op. cit., p. 10.
124
Abílio Vassalo Abreu. A «relação de coexistência» …, op. cit., p. 60.Mas está posição não é
unanime, contra por exemplo: Augusto da Penha Gonçalves. Posse…, op. cit., p. 293.
125
Abílio Vassalo Abreu. A «relação de coexistência» …, op., cit., p. 54-55.
50

documento, poder-se-á entender que também se aplica a justificação notarial.


Pois se verificar na escritura de justificação notarial refere-se a direito e não
faz uma discriminação, como se faz no caso da justificação para fins
comerciais (artigo 94.º, n.º 1 CN) que se refere a direito de propriedade ou
usufruto. Então entende-se que poderá decorrer de um lado uma
interpretação restritiva e caber só direito de propriedade e propriedade
horizontal ou fazer por outro uma interpretação ampla (que parece ser a mais
adequada, tendo em conta o elemento histórico em que a justificação notarial
quando apareceu era aplicável a propriedade imperfeita, como já acontecia
com a justificação extrajudicial antes desta) e fazer caber todos os direitos
reais de gozo que sejam usucapíveis.

5- Tem que ser uma posse pública e pacifica – tem que existir a posse a vista de
toda a gente de forma a permitir ser conhecida dos interessados126 e sem que
estes se oponham a ela. Se a posse for oculta ou violenta127, embora exista
posse, enquanto estes não cessarem, o prazo para aquisição pela via da
usucapião não corre128, a não ser no momento em que a situação altere e a
posse torne pública e pacífica, (artigo 1267.º, n.º 2 CC). A posse é violenta
nos casos de coação física ou moral desde que no início da posse, é
considerada de má-fé mesmo que titulada (presunção iuris et iure) ainda que
a posse venha a se tornar pacifica a mesma se mantém de má-fé (artigos
1261.º, n.º 2, 1260.º, n.º 3 CC). A publicidade que decorre da posse como
entendia o Dr. Orlando Carvalho129, é a cognoscibilidade de ser conhecido e
não o efetivo conhecimento, por isso se existe a possibilidade dos
interessados terem conhecimento, a posse é pública ainda que na prática não
o tenham efetivamente (artigo 1297.º CC).

126
Manuel Rodrigues. A posse..., op. cit., p. 189.
127
Como entendia Doutor Orlando de Carvalho, o que releva é a violência que tenha sido praticada
com consciência de provocar um determinado comportamento e com o mesmo se conformar. Orlando
Carvalho. Introdução à posse…, op. cit., p. 284. José Puig Brutau. Conceptos generales…, op. cit., p.
15.
128
Armando Triunfante. A usucapião e seus efeitos: fixação temporal do efeito retroativo da
usucapião, usucapião e normas imperativas. Edição comemorativa do cinquentenário do Código
civil. Lisboa: Universidade Católica Editora, p. 485, 2017; Durval Ferreira. Posse…, op. cit., p. 280.
129
Orlando Carvalho. Introdução à posse…, op. cit.,. 287.
51

6- O decurso do prazo para a usucapião – neste aspeto influenciam os


respetivos requisitos que determinam que o prazo seja mais longo ou mais
curto: ser a posse titulada ou não, de boa ou má-fé, registada ou não. Para
aquele que esteja de boa-fé e tenha a posse titulada vê a sua vida facilitada
uma vez que não tem que provar a boa-fé pois ela se presume130. Por um
lado a o entendimento que a boa-fé do possuidor deve ser psicológica, um
estado de espirito do agente, independente de ser desculpável ou não o seu
desconhecimento, e por isso difícil de determinar131, por outro lado a quem
entenda que a norma do artigo 1260.º, n.º 1 CC é suficientemente ampla para
abranger a boa-fé ética, aquele que sem culpa pensava que não lesava
direito alheio uma vez que foi diligente e procurou averiguar se realmente não
estava prejudicar alguém, pois de outra forma uma pessoa diligente sairia
prejudicada.132 Se a posse for não titulada existe a presunção de má-fé e
estando o possuidor de boa-fé, terá de a provar (artigos 1294.º e 1296.º CC).
Se a posse for titulada mas estiver o possuidor de má-fé, passa a caber a
prova dessa má-fé a quem aproveita o afastamento da presunção. A boa ou
má-fé é determinada no momento da aquisição da posse, não importando em
princípio se há posteriormente uma alteração, o mesmo vale quanto a posse
titulada ou não.133 A posse é titulada quando existe um meio idóneo de
transferência do direito se não fosse existir a falta de legitimidade do
transmitente ou a existência de uma invalidade substancial, sendo por isso
apenas aparente a existência do direito134, como no caso de coação135 artigo
1261.º, n.º 2 CC (desde que o coagido seja o vendedor, porque se for o

130
Todas as presunções indicadas a partir daqui são iuris tantum.
131
Durval Ferreira. Posse…, op. cit., p. 278. Aliás este autor defende que se fosse defendido uma
boa-fé ética seria fazer uma interpretação muito restritiva; Em anotação ao artigo 1260.º CC: Pires de
Lima, Antunes Varela. Código civil anotado…, op. cit., p. 20; Orlando Carvalho. Introdução à posse…,
op. cit., p. 282; Defende boa-fé ética: José A.R.L. González. Usucapião e fracionamento de prédios
rústicos. Revista do Ministério Público, Lisboa, Ano 37 n. 148, p. 12, out./dez. 2016. Trimestral;
Manuel Rodrigues. A posse..., op. cit., p. 340-341.
132
António Menezes Cordeiro. Classificações da posse. In: A posse: perspectivas dogmáticas
actuais. 3.ª Reimpressão da 3.ª edição de outubro/2000, Coimbra: Almedina, 2014. P. 95-96.
133
Orlando Carvalho. Introdução à posse…, op. cit., p. 276 e 282; Em sentido contrario: José Puig
Brutau. Conceptos generales…, op. cit., p. 11.
134
Orlando Carvalho. Introdução à posse…, op. cit., p. 277-278, 280. José A.R.L. González.
Usucapião e fracionamento…, op. cit., p. 12; Fernando Pereira Rodrigues. Usucapião, constituição
originária de direitos através da posse. Coimbra: Almedina, 2008. P.58.
135
Em anotação ao artigo 1259.º CC: Pires de Lima, VARELA, Antunes. Código civil anotado…, op.
cit., p. 18-19. Este autor entende que pode ter posse titulada em caso de coação, até de simulação
absoluta, exceto naqueles casos em que não haja posse e por isso nem se poe a questão ser
titulada.
52

comprador não haverá posse por falta de animus, quando muito haveria
detenção). Quando existe uma situação de falta de vontade como na
simulação absoluta136 e na reserva mental (quando esta é do conhecimento
do declaratário), não podemos falar de posse137 e muito menos se é titulada
ou não, a não ser que estejamos perante uma inversão do título da posse, já
que aquele tem mera detenção. No caso simulação relativa, a dissimulação
resulta a vontade transferir e adquirir negócio diferente do declarado (por ex.:
uma doação ao em vez de compra e venda), temos posse e se tiver
preenchido a forma necessária é titulada. Ao passo que a posse não titulada
se verifica quando a falta de forma, ou quando a posse tenha sido adquirida
de forma originária138 (pratica de atos materiais de forma reiterada
correspondente ao exercício de um direito, por inversão do título da posse
mas quando não tenha intervindo um ato de terceiro pois caso contrário seria
titulada artigo 1263.º CC, esbulho)139. Quando falamos de posse titulada ou
não, temos de ter presente que é de posse formal que se trata e não causal.
A lei estabelece que o título não se presume mas têm que ser provado, por
isso aquele que alega que possui um título tem que dar provas da sua
existência, artigo 1259.º, n.º 2 CC.140
Não iremos nos referir a mera posse por não ser relevante para objeto
do nosso estudo. No que se refere aos prazos para a aquisição da usucapião
de imoveis: Se houver titulo e registo estando de boa-fé é de 10 anos, se for
de má-fé são de 15 anos, contando o prazo desde da data do registo (artigo
1294.º CC). Não havendo registo, sendo ou não titulada, estando de boa-fé o
prazo é de 15 anos, estando de má-fé é de 20 anos (1296.º).

7- A posse tem que ser mantida por certo lapso de tempo (artigo 1287.º CC) –
se tem entendido e muito bem que não se trata de uma posse efetiva mas
basta a possibilidade de a poder continuar141. Até porque a aquisição da

136
Manuel Rodrigues. A posse..., op. cit., p. 227; José Puuiig Brutau. Conceptos generales…, op. cit.,
p. 12.
137
Orlando Carvalho. Introdução à posse…, op. cit., p. 262, 278; Durval Ferreira. Posse…, op. cit., p.
272.
138
Ibidem, p. 290 e seg.
139
José A.R.L. González. Usucapião e fracionamento, op. cit., p.12.
140
Durval Ferreira. Posse…, op. cit., p. 296; José Puig Brutau. Conceptos generales…, op. cit., p. 13.
141
Em anotação ao artigo 1257.º CC: Pires de Lima, Antunes Varela. Código civil anotado…, in op.
cit., p.15-16; Durval Ferreira. Posse…, op. cit., p. 233, 262, 264; António Menezes Cordeiro. Da
53

posse com ou sem transmissão (derivada ou originaria142) só no início ou na


perda da posse é que se justifica uma posse efetiva143. Sem posse não tem
como demonstrar a prática de atos matérias como dono, mas a que relembrar
que a posse nem sempre implica um exercício direto, ela também pode ser
indireta, como o caso do constituto possessório. Neste ultimo caso a posse é
exercida por terceiros ou pelo transmitente em nome do possuidor adquirente.
Quando alguém arrenda a casa, exerce um comportamento próprio
daquele que se arroga a titularidade de um direito como verdadeiro
proprietário, mas pode também ser feito por alguém que não o tenha. É um
ato jurídico que não se deve bastar por si. Quando o arrendatário exerce a
posse em nome daquele que arrendou a casa, existe exercício de atos
materiais e por isso a posse indireta, exercício através daquele. Pois este
enquanto proprietário, não tem que viver no terreno, plantar, semear
diretamente para demonstrar que tem animus possendi, pode arrenda-lo e
exerce-lo por intermédio de outrem e ainda assim está a exercer a posse,
com animus de proprietário, o que vai de encontro com o artigo 1252.º, n.º 1
CC144. Em caso de dúvida quanto a existência ou não da posse, a lei
estabelece no n.º 2 desse artigo que aquele que exerce o poder de facto tem
a presunção de existência da posse a seu favor, que no entanto deve ser
conjugado com n.º 2 do artigo 1257.º CC ao qual estabelece outra presunção
de que aquele que iniciou a posse é em princípio aquele que continua a
exercer ou seja existe uma presunção de que a posse se conserva naquele.
Por isso se quem iniciou não é de facto quem exerce o poder de facto, então
este último não têm a seu favor a presunção da posse, antes o tem aquele
que iniciou a posse145, mas pode aquele provar que este perdeu a posse a
mais de 1 ano, ficando aquela presunção ilidida. Não pode existir duas
presunções conflituantes em simultâneo, uma acaba por eliminar a outra. Mas
existe outro entendimento no sentido de que, se aquele que tem o poder de
facto iniciou como detentor, presume que assim continue, a não ser que faça

usucapião…, op. cit., p. 37; posição diferente: José A.R.L. González. Usucapião e fracionamento…,
op. cit., p. 11.
142
J. Dias Marques. Prescrição aquisitiva…, op. cit., p. 38-39.
143
Em anotação ao artigo 1263.º CC: Pires de Lima, Antunes Varela. Código civil anotado…, op. cit.,
p. 26.
144
Manuel Rodrigues. A posse…, op. cit., p. 183.
145
Durval Ferreira. Posse…, op. cit., p. 261; Em anotação ao artigo 1252.º CC: Pires de Lima,
Antunes Varela. Código civil anotado…, op. cit., p. 8.
54

prova que entretanto adquiriu a posse por inversão do título da posse ou por
transferência do anterior possuidor.146
A lei estabelece que se existir a posse de alguém em dois momentos
distintos, então aquele também o possuiu no tempo intermédio (artigo 1254.º,
n.º 1 CC).147 A posse considera-se mantida enquanto o exercício traduzir
atuação como proprietário ou enquanto for possível continuar (artigo 1257.º,
n.º 1 CC). Para se adquirir pela via da usucapião deve a posse se manter por
determinado lapso de tempo, o manter traduz então em atuar como
proprietário ou tenha a possibilidade de poder continuar (artigos 1257.º e
1287.º CC) e por isso não pode ter ocorrido a perda da posse por mais de um
ano (artigo 1267.º CC). Por exemplo em caso de esbulho (durante esse prazo
o que praticou esbulho tem a posse mas isso não faz perder a posse do
esbulhado, existe uma mera aparência de existência de duas posses em
simultâneo)148, ou no caso da inversão do titulo da posse (em que o possuidor
em nome de outrem opõe-se aquele em nome do qual possuía), durante um
ano apos estes ocorrerem pode se ainda recorrer a ação de restituição da
posse artigo (1278.º n.º 2 CC),

8- Inércia do proprietário – para se justificar a transferência de propriedade para


um terceiro, tem que existir uma situação de inércia do proprietário. Este
verifica que alguém se apossou do seu campo mas nada faz, ou que alguém
cultiva e constrói e ele abstém de intervir, mostra um total desinteresse pelo
seu imóvel.149 A lei decide a favor daquele que efetivamente se interessa pelo
bem e faz prosperar, e só nesse sentido se justifica o sacrifício do direito do
proprietário, porque se ambos agem com total descaso a lei da prevalência a
quem é o proprietário, já que não se vê nenhuma razão para sacrificar o
proprietário se aquele terceiro que se apossou também adotou igual

146
Augusto da Penha Gonçalves. Posse…, op. cit., p. 283-284.
147
Em anotação ao artigo 1254.º CC: Pires de Lima, Antunes Varela. Código civil anotado…, op. cit.,
p. 11.
148
Orlando Carvalho. Introdução à posse…, op. cit., p. 311; Durval Ferreira. Posse…, op. cit., p. 280.
149
Durval Ferreira. Usucapião…, op. cit., p. 437 e 440; José A.R.L. González. Usucapião e
fracionamento…, op. cit., p. 11; Armando Triunfante. A usucapião e seus efeitos…, op. cit., p. 486.
55

comportamento.150 Relembrando que este caso apenas aplica-se se não tiver


havido transmissão da posse, do proprietário/possuidor para o adquirente.

9- Por fim, tem que ser invocado a usucapião extrajudicial ou judicial para poder
dela beneficiar – pode o possuidor invocar a usucapião sem necessidade de
qualquer tipo de formalização, valendo a liberdade de forma (artigo 219.º CC),
pode no entanto optar por formalizar através da justificação notarial ou pelo
processo de justificação151 (relembrando que assim será, se apenas se faltar
documento ou embora possuindo seja insuficiente) caso pretenda registar.
Pode ocorrer que durante a ação venha a invocar como exceção a aquisição
pela via da usucapião152, no primeiro caso extrajudicial e no segundo judicial,
no entanto no presente trabalho só o primeiro caso interessa. Essa invocação
pode ser expressa ou tácita, artigo 303.º CC (ex.- vi artigo 1292.º CC)153. Ao
fazer essa invocação tem efeitos retroativos até o início da posse154. O início
da posse só pode ser a posse em nome próprio155 e por maioria de razão
quando a mesma seja pública e pacífica. Já que se a posse for oculta e
violenta o prazo não corre para aquisição pela via da usucapião, também não
deve ser contabilizado esse período de tempo quando se deva atender ao
início da posse (artigo 1267.º, n.º 2 e 1297.º CC).156

2.2 - A problemática de saber se o preenchimento do prazo para


invocação da usucapião a atender é até a data que foi lavrada a escritura
de justificação ou da citação para ação

Aquele que quer valer da usucapião e pretende registar, pode recorrer a escritura
de justificação notarial e o problema que se pode colocar é se depois de o fazer, for
150
José de Oliveira Ascensão. Constituição. In: Direitos Reais. 2.ª Ed. ( reprodução da edição de
1971), Lisboa, 1973, p. 338. António Menezes Cordeiro. Da usucapião…, op. cit., p. 38; Mónica
Jardim, A Evolução Histórica…, op. cit., p. 448.
151
José A.R.L. González. Usucapião e fracionamento…, op. cit., p. 14-15; Abílio Vassalo Abreu. A
«relação de coexistência» …, op. cit., p. 80.
152
José Puig Brutau. Conceptos generales…, op. cit., p. 28, 30-31.
153
Abílio Vassalo Abreu. A «relação de coexistência» …, op. cit., p. 80.
154
José A.R.L. González. Usucapião e fracionamento…, op. cit., p. 15.
155
Armando Triunfante. A usucapião e seus efeitos…, op. cit., p. 485.
156
Diferente entendimento: Armando Triunfante. A usucapião e seus efeitos…, op. cit., p. 487.
56

impugnado em tribunal, deve-se atender ao período da prescrição que aparece na


escritura de justificação notarial ou deve a prescrição interromper apenas com a
citação? No que refere a acessão na posse pode se recorrer a mesma para encurtar
o prazo nesses casos?
Quando alguém adquire pela via da usucapião significa que outro perde o direito
de propriedade157, o que significa que existe um sacrifício de um, passando a
titularidade a pertencer a outro. Quando assim acontece, tem que existir uma razão
para isso acontecer, um bem maior a ser salvaguardado que é o interesse público,
devido a publicidade, a certeza e a circulação dos bens no mercado que exigem
maior certeza, segurança e fiabilidade.
Pode acontecer que na data que o possuidor invoca como sendo do início da
posse, contabilizado desde esse momento até altura que é invocado a usucapião na
justificação notarial, esteja preenchido o prazo. Mas na ação de impugnação, o
tribunal considerar que não foi nesse momento mas sim noutro momento posterior,
fazendo com que esse requisito ainda não estivesse nessa altura preenchido, mas
contabilizado até a citação estaria esse requisito satisfeito. De facto o artigo 323.º,
n.º 1 CC determina que a prescrição interrompe-se com a citação ou notificação
judicial mas como conjugar com presunção do registo que abrange nos termos que
está registado e a escritura de justificação que deve constar o preenchimento dos
requisitos necessários para invocação da usucapião?
Para se poder invocar a usucapião, tem que ter preenchido os pressupostos que
determinam que o mesmo seja invocado, pois se invoca antes de se ter verificado,
está a invocar algo que ainda não existe e por isso não deve ser considerado.
Sendo a invocação feita na escritura de justificação, o notário ou o conservador
no caso de já estar a solicitar o registo devem antes verificar se os pressupostos
estão reunidos, por isso se diz que existe um duplo controlo. Aquele que invoca
extrajudicialmente deve averiguar se no momento em que o faz, se realmente reúne
as condições para tal. O que interessa é se no momento que invoca se reúne os
pressupostos e não um momento posterior pois quando se impugna, impugna a
justificação notarial com a informação tal qual encontra nela inserida.
Na doutrina parece não haver qualquer questionamento nesse sentido, o
mesmo já não se pode dizer da jurisprudência, por um lado TRE entende que se

157
José Puig Brutau. Conceptos generales…, op. cit., p. 6.
57

deve atender a todo o tempo desde o início da posse até a citação para a ação158, já
de outro lado TRG deve-se atender apenas ao momento em que é feito a invocação
na usucapião, pois se tratando de impugnação da escritura de justificação notarial, é
esse período que está em causa159.
Para encurtar o prazo para aquisição pela via da usucapião pode o possuidor
recorrer a acessão da posse (artigo 1256.º CC) e dessa forma juntar a sua posse, a
do seu antecessor e adquirir pela via da usucapião. Para assim suceder deve haver
uma aquisição derivada diversa da sucessão (ex.: venda, doação, etc.), por isso
estão excluídas as situações por faltar o ato de transmissão. Aquele que pretende
invocar a usucapião na escritura de justificação notarial mas ainda não tenha
completado o prazo suficiente, desde que tenha adquirido a posse derivadamente
pode juntar sua posse, a do seu antecessor e pode invocar a usucapião com base
na acessão. Se as posses tiverem natureza diferente, acessão só se dará dentro
dos limites do menor âmbito, o quer dizer se uma for posse de direito de propriedade
e outra de usufruto, será de usufruto, se for uma de boa-fé e outra de má-fé, então
será de má-fé.160

2.3 - A importância da Justificação notarial para usucapião

Quando se recorre a justificação notarial para que se possa registar a


aquisição pela via da usucapião, tem de se lembrar que a usucapião vale
independente do registo e prevalece sobre uma aquisição que tenha sido registada

158
``Nos actos de posse a ter em conta para efeitos de prescrição aquisitiva haverá que considerar
todo o período temporal que decorreu desde o início da posse até, eventualmente, a data da
propositura da acção impugnativa da escritura de justificação, caso na data em que esta se realizou
ainda não tenha decorrido o período temporal adequado para operar a prescrição aquisitiva.´´
Acórdão do Tribunal da Relação de Évora de 03.03.2011, Processo: 399/1999.E1, Relator: Mata
Ribeiro. Sítio: http://www.dgsi.pt. Acesso: 26 jun. 2018. Parece ir nesse mesmo sentido o Acórdão do
Tribunal da Relação de Évora de 21.04.2010, Processo: 94/1997.E1, Relator: Tavares De Paiva.
Sítio: http://www.dgsi.pt. Acesso: 26 jun. 2018.
159
``Pretende-se pôr em causa o acto justificado, é a justificação em si que é posto em causa.
Portanto, é reportada a essa data que têm que estar reunidos os pressupostos da usucapião.´´
Acórdão do Tribunal da Relação de Guimarães de 24.04.2014, Processo: 129/11.0TCGMR.G1,
Relator: Helena Melo. Sítio: http://www.dgsi.pt. Acesso: 26 jun. 2018.
160
Abílio Vassalo Abreu. A «relação de coexistência» …, op. cit., p. 160-163; Augusto Da Penha
Gonçalves. Posse. In: Curso de Direitos Reais. 1.ª Ed., Lisboa: Universidade lusíada, 1992. P. 280-
281.
58

(artigo 5.º, n.º 2 CRegP). Como defende Dr. Oliveira Ascensão161 a usucapião é
base da nossa ordem imobiliária, que deve ser complementada com palavras de Dr.
Vassalo abreu162, entre o registo e a usucapião existe uma relação de coexistência e
não de exclusão. Mas é importante referir que invocar a usucapião na justificação
notarial e depois fazer o registo não faz encurtar o prazo para aquisição da
usucapião pois pressupõe que a mesma já esteja preenchida.
Só se pode recorrer a justificação notarial quando existe a falta de um
documento para proceder ao registo, relembrado que a usucapião pode resultar de
posse por aquisição originária e posse por aquisição derivada, o primeiro não
levanta problema pois não existe um título que se possa registar como no caso da
prática reiterada, o esbulho, a inversão do título da posse. Diferentemente quando
se trata de aquisição derivada posse por exemplo através do constituto possessório,
por tradição material ou simbólica da coisa efetuada pelo anterior possuidor, nestes
casos existe uma transmissão, por isso só tem sentido recorrer a justificação
notarial, se de facto se perdeu o documento, não sabe onde está, foi celebrado sem
forma ou documento é insuficiente para fazer o registo, nesse caso pode recorrer a
justificação notarial e invocar nele a usucapião.
C arrenda o imóvel a D, que inverte o título da posse, nesse caso passa a ter
posse a partir desse momento mas não titulada e de má-fé, pois falta o título idóneo
para transferir o direito e estamos perante aquisição originária da posse adquirindo
pela via da usucapião neste caso se recorrerá a justificação para estabelecimento de
novo trato sucessivo.
A celebra com B um contrato por escritura publica, entregando-lhe as chaves
da casa, decorrido 15 anos B precisa vender a propriedade, tendo que registar para
conseguir vender apercebe que perdeu o contrato e não sabendo como encontrar A,
recorre a justificação notarial para suprir a falta do documento e invoca a usucapião
pois já tem preenchido os requisitos, além da aquisição derivada, e como bem
estava registado em nome de A, a justificação será para reatamento do trato
sucessivo, pois caso não tivesse perdido o documento tinha o titulo que comprovava
a existência de uma venda que justifica o porque de B ter a posse dessa
propriedade e ter adquirido pela via da usucapião, e permitiria fazer o registo.

161
José De Oliveira Ascensão. O Registo Predial. In: Direito Civil: Reais. Coimbra, 5.ª Ed., 1932, p.
382.
162
Abílio Vassalo Abreu. A «relação de coexistência» …, op. cit., p. 43.
59

3. Registo predial

Neste capítulo vamos debruçar sobre aspetos do registo que estejam


relacionados com a justificação, uma vez que apos a feitura da escritura de
justificação é necessário efetuar o registo, sendo assim tem que ser preencher
determinados requisitos. No entanto está abordagem implica que não aprofundemos
no registo na sua globalidade para não fugirmos do tema a que nos propomos tratar.

3.1 - A importância do registo

O registo permite a quem tenha a propriedade de um bem sujeito a registo,


dar a conhecer a eventuais interessados que o mesmo lhe pertence e por isso se
entende que o registo tenha a função primordial de dar publicidade. Como sabemos
no sistema português, o direito real se transmite por mero efeito do contrato (artigo
408.º n.º 1 do CC), vigora o princípio da consensualidade, complementado pelo
princípio da unidade no sistema do título, e o princípio da causalidade163.
O proprietário tem todo o interesse em fazer registar o seu bem, pois ao faze-
lo consolida-se o seu direito de acordo com artigo 5.º n.º 1 CRegP, podendo opô-lo a
eventuais terceiros (n.º 4) que tendo adquirido do transmitente comum possam ter
um direito incompatível com seu e possam vir a registar seu.
Se o proprietário quiser transmitir ou onerar o seu bem, o mesmo tem que se
encontrar registado em seu nome (artigo 34.º, n.ºs 1 e 2 CRegP) e só dessa forma
pode titular a respetiva transmissão ou oneração (artigo 9.º, n.º 1).
O interessado que quiser adquirir um determinado bem sujeito a registo, tem
de se assegurar que o registo esteja em nome do alienante e de que o bem não se
encontre na posse de alguém. Este último não se refere a mera posse ou posse
precária, mas a posse por quem se arroga proprietário, sob pela de ficar
desprotegido, já que de acordo com o artigo 1268.º, n.º 1 CC a presunção da posse

163
José Alberto Vieira. Os princípios de direitos reais. In: Direitos Reais. 2.ª Ed., Coimbra: Almedina,
2018, p. 218-226; Orlando Carvalho. Princípios constitucionais do direito das coisas. In: Direito das
coisas. Coimbra, 2012. P. 200-222. Colaboração: Francisco Liberal Fernandes, Maria Raquel
Guimarães, Maria Regina Redinha.
60

prevalece sobre a presunção do registo salvo se o registo for anterior a posse164.


Caso aquele que tenha a posse já tenha adquirido por via da usucapião, esta
prevalece sobre o registo (artigo 5.º, n.º 2, alínea a) CRegP).
O registo visa reforçar o direito do verdadeiro proprietário, sendo que a
realidade substantiva prevalece sobre a registal165 salvo em situações excecionais,
como a aquisição tabular (artigos 5.º, n.º 1166, 17.º, n.º 2, 122.º CRegP e 291.º CC).

3.2 - Os requisitos necessários a feitura do registo

Para que se possa fazer o registo definitivo e assim beneficiar da presunção,


tem que preencher determinados requisitos167 para que o conservador (artigo 75.º-A,
n.º 1 CRegP) consinta na feitura do mesmo:

1- O pedido do registo só pode ser feito: pessoalmente, por correio remetido por
carta registada e via eletrónica, artigo 41.º-B CRegP. Entende Dr. José Vieira,
que o pedido deve constar no modelo oficial aprovado168 que vai de encontro
o que estabelece o artigo 66.º, n.º 1, alínea d).

2- Elementos do pedido – devem constar os seguintes elementos de acordo com


artigo 42.º, n.ºs 1 e 6 CRegP:
a) Identificação do apresentante, (artigo 44.º, n.º 1 alínea a) CRegP);
b) Identificação dos factos e dos prédios a que respeitam;

164
Defende a prevalência da posse sobre o registo mesmo que tenham a mesma antiguidade, só
prevalecendo o registo se for anterior a posse, Dr. José Luís Bonifácio Ramos. O artigo 1316.º do
Código Civil…, op. cit., p. 553-554.
165
José de Oliveira Ascensão. O Registo…, op. cit., p. 369-370.
166
No entanto não é unanime na doutrina que do mesmo decorra um efeito aquisitivo. Contra, ver:
José Luís Bonifácio Ramos. O artigo 1316.º do Código Civil…, op. cit., p. 570. A favor do efeito
atributivo do artigo 5.º CRegP ver: José De Oliveira Ascensão. O Registo…, op. cit., p. 368,372-374,
entre outros.
167
Podemos encontrar os requisitos enumerados e explicados por Dr. Manuel da Nazaré Ribeiro. Do
Registo Predial. Revista da Ordem de Advogados, Lisboa, Ano 12, n.ºs 1 e 2, p. 299 a 310, 1952;
também se encontra a enumeração dos requisitos no âmbito do princípio da legalidade. - Ver: Luís A.
Carvalho Fernandes. Publicidade registal. In: Lições de Direitos Reais. Lisboa: Quid Juris,
Sociedade Editora, 2003, p. 113. E ainda: Luís Manuel Teles de Menezes Leitão. A publicidade dos
direitos reais. Direitos reais. 7.ª Ed., Coimbra: Almedina, 2018, p. 257-258.
168
José Alberto Vieira. A publicidade registal. In: Direitos Reais. 2.ª Ed., Coimbra: Almedina, 2018, p.
255.
61

c) Documentos que o instruem;


d) Caso não tiver descrito e não tenha sido alegada desconhecimento por
motivos que demonstram de facto ser lhe impossível, tem que ser entregue
em declaração complementar o nome, estado e residência dos proprietários
ou possuidores anteriores ao transmitente e também o anterior artigo
matricial.

3- Legitimidade – só tem legitimidade para requerer o registo, aqueles que os


artigos 36.º, 39.º e 41.º CRegP, assim determinam, aqueles que tenham
interesse no registo, bem como aqueles que estejam obrigados a tal. Só em
casos excecionais é feito oficiosamente pelo conservador (artigo 41.º, última
parte).

4- Os fatos jurídicos têm que estar sujeitos a registo – são os que vêm
elencados nos artigos 2.º, n.º 1, e 3.º, todos do CRegP. Como se tem
entendido na doutrina169 são factos jurídicos que estão sujeitos a registos e
não direitos. Ex: compra e venda170, doação, etc. Para o nosso tema
interessa-nos o artigo 2.º, n.º 1, alínea a) e b) que se refere ao direito de
propriedade e propriedade horizontal.

5- Título – para poder fazer o registo tem de apresentar o documento que


demonstre que efetivamente o direito pertence a quem, cujo facto jurídico se
pretende registar (artigo 43.º, n.º 1 CRegP). No entanto caso não possua
esse título pode sempre recorrer a justificação de forma suprir o mesmo e
fazer registar o facto jurídico a que corresponde o direito adquirido.
Devendo de acordo com o artigo 68.º CRegP, o título possuir regularidade
formal (ex.: escritura publica, documento particular autenticado, etc.171) e os
atos contidos nele serem validos.

169
José De Oliveira Ascensão. O Registo…, op. cit., p. 340. José Luís Bonifácio Ramos. O registo
predial. In: Manual de Direitos reais. Lisboa: AAFDL, 2017. P. 221-222. Rui Paulo Coutinho de
Mascarenhas Ataíde. Estudos de Registo Predial: Noções fundamentais, efeitos substantivos do
Registo Predial. Lisboa: AAFDL, 2017. P. 15.
170
Este exemplo e outros dados por Também Dr. José Alberto Vieira. A publicidade registal…, op.
cit., p. 248-249.
171
Joaquim de Seabra Lopes. Direito dos Registos e do Notariado. 9. ª Ed., Coimbra: Almedina,
2018, p. 446.
62

Caso tenha invocado a usucapião, deve o conservador averiguar o


preenchimento dos requisitos.172

6- Inscrição prévia em nome do transmitente ou de quem onera o bem – artigos


34.º, nºs 1 e 2 e 44.º, n.º 1, alínea c) CRegP. Para que o adquirente possa
fazer o registo, tem que constar no registo anterior o nome do seu
transmitente, pois visa-se assegurar o cumprimento do trato sucessivo, mas
também assim deve ser para que seja titulado o facto de acordo com o artigo
9.º, n.º 1, salvo se verificar umas das situações do n.ºs 2 e 3 deste último.
Caso não esteja, deve apresentar o documento que permita comprovar a
existência do direito em nome de quem o transmitiu. Como dissemos um
pouco mais acima, a regra do artigo 34.º, n.º 2 pode ser afastada quando se
recorrer a justificação, permitindo fazer o registo sem que esteja no nome do
transmitente.

7- Descrição do prédio – deve constar o número da descrição dos prédios ou as


menções necessárias para à sua descrição, bem como a indicação do
número, data de emissão e entidade emitente das certidões de registo que
tenham sido apresentadas ou no caso de certidão permanente, a indicação
do respetivo código de acesso (artigo 44.º, n.º 1 alínea b) CRegP). No entanto
caso o prédio não esteja descrito, deve o mesmo ser comprovado através de
certidão passada na conservatória com antecedência não superior a um ano,
(n.º 3)173. A descrição do prédio corresponde a identificação física, económica
e fiscal do prédio (artigos 79.º,n.º 1 e 80.º, n.º 1), de forma a individualizar o
prédio (diferenciar dos restantes), Tem que constar as descrições genéricas
ou subordinadas (artigo 91.º, n.º 2).

8- Prazo para o registo – tem o registo de ser feito no prazo de 2 meses, que é
contado da data em que foi titulado os factos (artigo 8.º-C, n.º 1 do CRegP),
salvo os prazos que se verificam nos outros números do mesmo artigo. Caso

172
José González. Qualificação de actos registáveis com intervenção notarial (Duplo controlo de
legalidade). In: Anexo BRN I/2004. P. 2-3. Sítio:
https://www.irn.mj.pt/IRN/sections/irn/legislacao/publicacao-de-brn/boletins-dos-registos-e/. Acesso:
16/01/2019.
173
Joaquim de Seabra Lopes. Direito dos Registos..., op. cit., p. 440.
63

faça depois a esse período fica sujeito as respetivas consequências


económicas (artigos 8.º-D e 151.º, n.º 3). Embora se entenda que, quem deve
arcar com as mesmas são as entidades que são obrigadas a promover o
registo entregando a mesma quantia que deve ser entregue a título de
emolumento (artigo 8.º-D, n.º 3) e até reforçando que o mesmo não é
entregue por aqueles que devem pagar o emolumento, (artigo 151.º, n.º 3),
diz que, quem fizer o pedido de registo tardio tem que entregar as
importâncias devidas, cujo valor inclui sanção pecuniária. Se a sanção
pecuniária se tratar do pagamento da mesma quantia devida a
emolumento174, então é bem provável, se não que seja bem obvio que quem
irá suportar o mesmo é o sujeito ativo quando pretender fazer o registo. A
dúvida é se ele pode ter direito de regresso sobre a entidade que devia
promover o registo com base no artigo 8.º-D, n.º 3 e não o fez. Principalmente
se recordarmos que se o adquirente não fizer logo o registo e está a espera
uns dias para ver se o notário faz o registo caso contrário o faz, pode correr o
risco de um terceiro ultrapassar e fazer o registo, e embora não tenha havido
inercia da sua parte e ainda não tenha decorrido o prazo de 2 meses, esse
prazo afinal acaba por ser uma utopia porque era suposto ele registar o
quanto antes devido a prioridade do registo, tornando-se difícil conjugar o
artigo 8.º-C, n.º 1 com os artigos 6.º,n.º 1 e 5.º, n.º 1, se neste ultimo
considerarmos que tem efeito atributivo. Dai fazer todo o sentido se
eventualmente o proprietário perdeu o documento e não forma de obter uma
2ª ou elaborar um novo recorrer a justificação e fazer o registo o quanto
antes.

9- Tem que ser feita prova da inscrição na matriz (artigo 31.º, n.º 1 do CRegP)
cujo documento comprovativo de teor da inscrição tem de ser emitida no
prazo não superior a um ano (artigo 44.º, n.º 2). No caso da justificação, já
constará do mesmo já que é um dos requisitos para poder a ela recorrer175.

174
Podemos encontrar a referência a sanção pecuniária como sendo essa a sanção resultante do
artigo 8.°-D, n.º 1 CRegP, no mesmo sentido ver: José Luís Bonifácio Ramos. O registo…, op. cit., p.
226.
175
No entanto no parecer técnico, entendeu-se que se a justificação for feita sem que consta na
matriz o nome do justificante e apesar disso tiver sido feita a justificação o mesmo padecerá de mera
irregularidade e não de nulidade, sendo que o registo é feito provisório por dúvidas. Proc. Nº R.P.
253/2002 DSJ-CT…, op. cit., p. 9-11. No entanto nem sempre foi esse o entendimento, pois existiu
64

10- Licença de utilização- 176

11- Obrigações fiscais – Os atos que estiverem sujeitos a encargos de natureza


fiscal tem ser pagos ou pelo menos de se mostrarem assegurados os direitos
fiscais (artigo 72.º, n.º 1 CRegP).

12- Pagamento das quantias devidas – quando é feito o pedido deve ser
entregue o valor que possivelmente seja o total da conta (artigo 151.º, n.º 1
CRegP). Sendo responsável pelo pagamento dos emolumentos os sujeitos
ativos (n.º 2).

3.3- Surgimento da presunção do registo e a sua importância

A presunção do registo surgiu com o regulamento do registo predial de 28 de


abril de 1870177, sendo regulado no artigo 149.º CRegP178 contemplava que feito
registo definitivo presumia que o direito pertencia a aquele, que o tinha a seu favor.
A presunção no entanto deixava de existir caso tivesse proferido uma sentença de
cancelamento do registo ou não se tivesse verificado legitima transmissão do direito
registado. O decreto de 20 de janeiro de 1898 aprovou o regulamento de registo
predial e esta presunção passa a estar regulado no artigo 157.º, eliminando a
segunda parte que se referia que a presunção mantinha enquanto não fosse
cancelada por sentença para esse fim ou quando houvesse transmissão. Em

pareceres que foi considerado causa de nulidade, ver: Proc. Nº. 45/96 R.P.4, publicado no II Caderno
do BRN nº 11/1996, p. 4. Sítio: https://www.irn.mj.pt/IRN/sections/irn/legislacao/publicacao-de-
brn/boletins-dos-registos-e/ . Acesso: 16/01/2019; Proc. Nº. 46/96 R.P.4, publicado no II Caderno do
BRN nº 11/1996, p. 6. Sítio: https://www.irn.mj.pt/IRN/sections/irn/legislacao/publicacao-de-
brn/boletins-dos-registos-e/ . Acesso: 16/01/2019.
176
Neste ponto remete-se para o que se disse no ponto quatro e nota 62 dos requisitos da
justificação.
177
Ver: Manuel da Nazaré Ribeiro. Do Registo…, op. cit., p. 283. No mesmo sentido: Luís Abreu
Coutinho. O registo predial como incentivo ao investimento imobiliário - virtudes e deficiências
práticas nos países lusófonos. Vida Judiciária. Nº 201, pp.42,maio/jun., 2017, Revista Bimestral.
178
Assim regulava esse artigo `` O registo definitivo de qualquer direito predial a favor de uma pessoa
constitue presumpção juridica de que o mesmo direito lhe pertence, emquanto não fôr cancelado o
registo por virtude de sentença proferida em acção intentada para esse efeito, ou não houver legitima
transmissão do direito registado´´.
65

comentário179 a esse artigo entendeu-se que foi corrigida a inexatidão que ali se
encontrava já que o cancelamento pode provir de um título que demonstre que a
obrigação está extinta e por outro lado a transmissão do direito só tem efeito perante
terceiros após registo. Com o decreto-lei n.º 42 565 de 08 de outubro de 1959 passa
a incorporar a presunção do registo pela primeira vez a presunção de existência do
direito180, que vinha regulado no seu artigo 8.º.
Atualmente a presunção decorrente do registo encontra-se regulado no artigo
7.º CRegP, que presume que aquele cujo nome se encontra o registo, tem o direito e
este existe mas apenas nos precisos termos em que o registo o define. Se nota que
cria confiança daquele que adquire de quem tem o registo em seu nome já que em
princípio181 é o verdadeiro titular desse direito. Mas como sabemos tratar-se apenas
de uma presunção, não existe garantia que assim suceda na realidade substantiva.
A presunção decorrente desse artigo é uma presunção legal, e é uma presunção
iuris tantum, que falaremos no quarto capítulo.
Na doutrina, salvo melhor opinião, parece haver uma divisão, pois de um lado
a quem entenda que do artigo 7.º CRegP resulta duas presunções182, de outro a
quem entenda que exista apenas uma única presunção183. Dr. Monteiro Guerreiro184
entende que resulta duas presunções, uma presunção de verdade e outra
presunção de exatidão. De acordo com a divisão da norma, feito pelo mesmo, a
presunção de verdade encontra-se na parte `` O registo definitivo constitui
presunção de que o direito existe e pertence ao titular inscrito´´, já a presunção de
exatidão onde diz `` nos precisos termos em que o registo o define´´. Basicamente a
vírgula determinaria a divisão segundo nos parece das duas presunções. Dr.

179
Adolpho De Azevedo Souto. Codigo do registo predial: colecção de legislação sobre o registo
predial e respectivos serviços com anotações ao regulamento vigente de 20 de janeiro de 1898.
Lisboa: empresa Lusitana editora, 1917. P. 289.
180
Nota 5 da exposição de motivos do decreto acima indicado.
181
Sublinhamos para reforçar a ideia.
182
José Augusto Guimarães Mouteira Guerreiro. Publicidade e princípios do registo. In: Temas de
registos e de notariado, CIJE. Coimbra: Almedina, 2010 P. 40; Luís A. Carvalho Fernandes.
Publicidade…, op. cit., p. 122-123; Isabel Ferreira Quelhas Geraldes, Olga Maria Barreto
Gomes. Justificação relativa ao trato sucessivo. Coimbra: Almedina, 2017, p. 167; Luís Manuel
Teles de Menezes Leitão. A publicidade dos direitos…, op. cit., p. 259; A. Santos Justo. Registo.
Direitos Reais. 3.ª Ed., Coimbra, 2011, p. 64.
183
José De Oliveira Ascensão. O Registo…, op. cit., p. 351; Isabel Pereira Mendes. Código do
Registo Predial: Anotado e Comentado e Diplomas Conexos. 17.ª Ed. Coimbra: Almedina, 2009, p.
178; José Luís Bonifácio Ramos. O artigo 1316.º do Código Civil…, op. cit. p. 553; Rui Paulo Coutinho
de Mascarenhas Ataíde. Estudos de Registo…, op. cit., p. 41; José Alberto Vieira. A publicidade
registal…, op. cit., p. 263; Alfredo António Proença. Direitos reais, alguns dos seus aspectos no
Registo Predial. Revista da Ordem dos Advogados, Lisboa, Ano 20, p. 63, 1960. Trimestral.
184
José Augusto Guimarães Mouteira Guerreiro. Publicidade e princípios…, op. cit., p. 40-41.
66

Carvalho Fernandes185, embora também entenda haver uma dupla presunção,


estrutura de forma diferente, a primeira `` a de que o direito existe tal como o registo
o revela´´, a segunda `` a de que o direito pertence a quem está inscrito como seu
titular´´. No mesmo sentido da dupla presunção, Dr. Ferreira de Almeida entende
que `` a presunção de verdade e legalidade concedida aos registos implica duas
consequências de alcance muito diferente. Por um lado, existe a presunção de que o
registo é integral, isto é que nada existe para além dele; por outro lado, que é
exacto, isto é, conforme com a realidade extra-registral. Esta dupla presunção é
aquilo a que se tem chamado na doutrina fé pública registral, a qual possui portanto
um aspecto negativo (integralidade) e um aspecto positivo (exactidão).´´186
Com devido respeito, embora pareça haver todo o sentido na divisão
efetuada, nos parece no entanto que existe apenas uma única e mesma presunção
quando diz existe e pertence e por outro lado nos precisos termos, pois quer
reafirmar uma única presunção, a existência do direito na esfera jurídica de quem se
encontra no registo tal como aparece no registo, o quer dizer que quem vê o registo
pode em principio confiar na informação que lá se encontra.
Esta presunção segundo Dr. Bonifácio Ramos não abrange os elementos que
constam da descrição predial, mas apenas o que tem a ver com inscrição em si187.
Esta presunção mantem em vigor até que seja cancelado o registo188 com
base na prova de que o direito não existe, como era anunciado pelo registo, ou caso
haja transferência para novo titular que passa beneficiar da presunção ou se
extingue por caducidade, como vem regulado no artigo 10.º CRegP189. Quando fala
da extinção ou transferência dos efeitos do registo, está a falar também do efeito
presuntivo que é um deles190.
A presunção decorrente do registo é importante pois transmite a mensagem
de que, o facto tal como se encontra registado pertence a aquele cujo nome se
encontra, em principio corresponde a realidade. Nesse sentido entende Dr. Carvalho

185
Luís A. Carvalho Fernandes. Publicidade…, op. cit., p.123. No mesmo sentido com formulação
idêntica, Dr. Luís Manuel Teles de Menezes Leitão. A publicidade dos direitos…, op. cit., p. 259.
186
Carlos Ferreira de Almeida. Publicidade e teoria dos registos. Coimbra: Almedina. 1966, p. 304.
187
José Luís Bonifácio Ramos. O registo…, op. cit., p. 228. No mesmo sentido, indica que não se
inclui no âmbito desta presunção a área e as confrontações. – Ver: Joaquim de Seabra Lopes.
Direito dos Registos…, op. cit., p. 380; José Alberto Vieira. A publicidade registal…, op. cit., p. 262.
188
José De Oliveira Ascensão. O Registo…, op. cit., p. 354; Guilherme Alves Moreira. Instituições
do Direito Civil português. Vol. 1, parte geral, Coimbra, 1907, p. 552.
189
José Augusto Guimarães Mouteira Guerreiro. Publicidade e princípios…, op. cit., p. 42.
190
Enumera os 5 efeitos do registo entre eles, o efeito presuntivo.- Ver: José Alberto Vieira. A
publicidade registal…, op. cit., p. 263.
67

Fernandes que a presunção reforça a função de publicidade do registo, que permite


fundamentar a confiança de eventuais interessados191.
A presunção complementada com o artigo 9.º, do CRegP determina que só
pode ser titulado a transmissão do imóvel se encontrar registado em nome do
transmitente, quer dizer que se alguém quiser vender o seu imóvel, primeiro tem que
fazer inscrever em seu nome. Por outro lado conjugando a presunção com artigo
34.º, n.º 2 do CRegP aquele que quiser inscrever a sua aquisição, tem que o mesmo
encontrar em nome de quem o transmite. Deste modo leva com que o terceiro que
venha a ter interesse em adquirir certo prédio, vá averiguar o registo192 em que
nome se encontra e confirmado que aquele que quer lhe vender o prédio é o mesmo
que cujo nome se encontra registado, vai partir do princípio que o prédio a ele
pertence, tal e qual se encontra configurado no registo e nesta base vai adquirir pois
sabe que, adquirindo daquele irá ser titulada a sua aquisição e com esse documento
irá fazer o registo.
Aquele que tem o registo em seu nome, transmite maior segurança e alerta
eventuais terceiros que o bem lhe pertence, por outro lado acaba por valorizar o
imóvel, pois estando registado transmite mais segurança e facilita a venda.
Mas não pode ser garantido que a informação que se encontra no registo de
facto corresponde a realidade, pois o conservador deve verificar se reúne as
condições para o registo ser efetuado e tudo fará para garantir que ao ser feito o
registo, a informação dai decorrente corresponda a realidade193 mas não pode
garantir que assim o seja. Como entende Dr. González194, o conservador apenas
pode controlar o que teve conhecimento.
No sistema português vigora a legalidade substancial195, tendo o conservador
além de fazer uma fiscalização formal, fazer principalmente a fiscalização a nível da
validade substancial do ato contido no titulo196.

191
Luís A. Carvalho Fernandes. Publicidade…, op. cit., p. 124. Neste mesmo sentido e entendendo
que estamos perante um princípio fundamental da publicidade, uma vez que do conteúdo decorre de
certeza e verdade. – Ver: José Augusto Guimarães Mouteira Guerreiro. Publicidade e princípios…,
op. cit., p. 41.
192
No entanto o registo não pode garantir que os títulos que estiveram na base do registo sejam
validos ou que o negócio que esteja na sua base não sofra de nenhum vício, nesse sentido ver: Luís
A. Carvalho Fernandes. Publicidade…, op. cit., p. 139.
193
Nesse sentido ver: Paulo Coutinho de Mascarenhas Ataíde. Estudos de Registo …, op. cit., p.
41.
194
José Alberto González. Publicidade - Registo Predial. In: Direitos Reais e Direito Registal
Imobiliário. 4.ª Ed., Lisboa: Quid Juris Sociedade Editora, 2009, p. 247.
195
José Alberto Vieira. A publicidade registal…, op. cit., p. 253.
196
Luís Manuel Teles de Menezes Leitão. A publicidade dos direitos…, op. cit., p. 251.
68

Como defende Dr. González, não conseguimos garantir que o que está no
registo corresponde a realidade, dai que da realização do registo só pode resultar
uma presunção197. Não pode o conservador ter a absoluta certeza que o facto existe
e é valido, pois caso assim fosse exigido seria muito difícil lavrar o registo198.
Para que os terceiros não se sintam defraudados na confiança que
depositaram na fé pública decorrente do registo e que nessa base adquiriram um
imóvel, a lei permite em certos casos excecionais a aquisição pelo registo,
prevalecendo o registo sobre a realidade substantiva199.

3.4 - Qual o papel da justificação notarial para o registo

Sendo a justificação um meio que permite suprir a falta de um título, para


permitir que aquele que tenha um direito de propriedade sobre determinado imóvel
consiga ingressar no registo, permitindo que a realidade substantiva se aproxime da
realidade registal saindo o registo reforçado na sua função de publicidade da
situação do prédio.
O proprietário, além de conseguir registar, consegue que o registo tenha um
efeito consolidativo e evitando dessa forma a possibilidade de vir a ocorrer a
aquisição tabular, que de acordo com o entendimento de uma parte doutrina,
decorre de uma dupla disposição (artigo 5.º, n.º 1 CRegP).
O proprietário ao fazer o registo com base na justificação de um bem,
consegue vender ou onerar a eventuais interessados, que deste modo permite
desenvolver o comércio jurídico imobiliário. Permite também o encadeamento nos
casos de ter havido várias transmissões desde da última inscrição dos quais já não
se possui documentos.
Ao fim ao cabo a justificação acaba por ser de grande valia para o registo,
pois permite aumentar a segurança e a confiança no registo.

197
José Alberto González. Publicidade – Registo…, op. cit., p. 226.
198
Ibidem, p. 239 e 247.
199
Sendo no entanto a exceção e não a regra, ver: José de Oliveira Ascensão. O Registo…, op. cit.,
p. 369-370.
69

A justificação quando usada para os fins a que foi pensado, traduz num meio
útil e valioso para aquele que a ele pode recorrer e um reforço de segurança e
credibilidade para o registo e publicidade para eventuais interessados.
A justificação permite reduzir os casos em que o registo transmite uma
publicidade desatualizada, pois apesar de encontrar registado, a pessoa a quem o
registo se encontra já não é a atual titular pois já foi transmitido a outra pessoa ou
permite que o prédio deixe de estar omisso no registo. Por isso a justificação permite
atualizar a informação decorrente do registo, permitindo que o mesmo esteja mais
próximo da atual situação do prédio.
Não se quer com isso dizer que não possa ocorrer situações em que possa
ser aproveitado por um fim que não foi previsto, mas como se teve oportunidade de
confirmar existe um duplo controlo, primeiro pelo notário e outro pelo conservador,
que caso se apercebam que aquele que pretende recorrer a justificação ou com
base neste fazer o registo, na verdade não tem o direito que se arroga, devem negar
que tal possa fazer e no último caso o conservador deve recusar fazer o registo.
70

4. Ónus da prova e a presunção legal ou de direito

As razões que levam parte da jurisprudência e da doutrina a recusarem a


presunção decorrente do registo quando feito com base na justificação notarial são
primeiro a presunção de direito que dai decorre mas principalmente a inversão do
ónus que dai resulta. Pois entendem que o justificante deve provar a existência do
direito apontando a fiabilidade duvidosa do instituto. Sendo assim é importante
analisar o ónus da prova e a presunção do registo para uma melhor compreensão
do tema que visamos tratar.

4.1- Ónus da prova

4.1.1- Regra geral

Antes de começar a análise deste regime que se encontra regulado no código


civil, começaremos por fazer algumas referências que se demonstraram importantes
para o entendimento do nosso trabalho.
Primeiro é importante referir que o ónus da prova se diferencia do ónus de
alegação, enquanto este se traduz em afirmar o direito ou facto que se pretende ver
reconhecido no processo ou seja o fundamento da sua pretensão (factos principais
ou essenciais200), já aquele traduz-se na prova daquilo que se alega201.
Por regra quem alega é quem deve provar, no entanto nem sempre assim
202
acontece , pois se verificar a inversão do ónus da prova não ocorre a inversão do

200
Fernando Pereira Rodrigues. O ónus da prova. In: Os meios de prova em processo civil.
Coimbra: Almedina, 2015, p. 34.
201
Ibidem, p. 40
202
Adriano Paes da Silva Vaz Serra. Provas (Direito probatório material). Boletim do Ministério da
Ivstiça, n.º 110, p. 112 e 121, nov. 1961. Michele Taruffo. Presunzioni, inversioni, prova del fatto.
Rivista Trimestrale di Diritto e Procedura Civile, Milano, Anno XLVI, n. 3, p. 738, set. 1992.
Trimestrale. Pedro Ferreira Múrias. Distinção e discrepâncias entre ónus de alegação e ónus da
prova. In: Por uma distribuição fundamentada do ónus da prova. Lisboa: LEX, 2000, p. 36.
71

ónus de alegação, logo aquele que alega um facto vai ser diferente daquele que o
deve provar.203
O ónus de alegação é um encargo que tem de ser cumprido no prazo
estabelecido no processo e que vem antes da prova, o autor quando propõe a ação
deve apresentar nos articulados204 e nele deve constar aquilo que pretende que seja
discutido no tribunal, como diz o artigo 552.º, n.º 1 alínea d) CPC `` na petição, com
que propõe a ação, deve o autor expor os factos essenciais que constituem a causa
de pedir e as razões de direito que servem de fundamento à ação´´. Por exemplo
invocar que o réu deve determinada soma de dinheiro, que não cumpriu o contrato,
pedir uma indemnização, etc. Alegar é dizer aquilo que quer. O réu também por
norma tem que fazer alegações nos articulados de forma a afastar essa pretensão
afirmando o contrário do requerido pelo autor (artigos 569.º, n.º 1, 572.º, alínea b)
CPC). Neste último artigo se diz `` na contestação deve o réu expor as razões de
facto e de direito por que se opõe à pretensão do autor´´.205 O tribunal só pode
analisar aquilo que lhe é trazido pelas partes, princípio do dispositivo artigo 5.º, n.º 1
CPC, a não ser que se verifique uma das situações do n.º 2. Só pode ser provado o
que foi alegado, mas não necessariamente pela mesma parte206. Na ação de
simples apreciação negativa o autor na alegação limita a indicar aquilo que o réu
207
afirma como factos constitutivos do seu direito enquanto ao reu cabe alegar os
factos constitutivos do seu direito.

Ter um ónus da prova é ter por assim dizer um encargo de trazer ao processo
tudo que demonstra necessário para defesa da sua pretensão, embora não seja
obrigado a tal, deve faze-lo se quiser ter êxito.

203
Em comentário ao artigo 344º CC por Dr. José Lebre Freitas. In: Ana Prata (coord.). Código civil
anotado. Vol. I (artigos 1.º a 1250.º). Coimbra: Almedina, 2017.
P.428. Pedro Ferreira Múrias. Distinção e discrepâncias…, op. cit., p.38. Em comentário pela Dra.
Rita Lynce de Faria ao Artigo 343.º CC in: Luís Carvalho Fernandes, coord. II; PROENÇA, José
Brandão, coord. Comentário ao Código civil: parte geral. Lisboa: Universidade Católica Editora,
2014. P.815.
204
Pedro Ferreira Múrias. Distinção e discrepâncias…, op. cit., p.35. José Lebre Freitas. Código civil
Anotado…, op. cit., p. 428.
205
Leo Rosenberg. Concepto y significado de la carga de la prueba. In: La carga de la prueba. 2ª
ed., Editorial BDEF, Buenos aires, 2002. P. 74-75, 198. Traducción de: Ernesto Krotoschin.
206
Fernando Pereira Rodrigues. O ónus da prova…, op. cit., p. 33-34; Manuel Tomé Soares Gomes.
Os factos objeto da prova. In: Um olhar sobre a prova em demanda da verdade no processo civil.
Revista do CEJ n.º 3, 3.º semestre, p. 143, 2005.
207
Em comentário ao Artigo 343.º CC por Dr. José Lebre Freitas. In: Ana Prata (coord.). Código civil
anotado…, op. cit., p. 424-425.
72

O ónus da prova se divide em ónus da prova subjetivo ou formal e o objetivo


ou material. No primeiro caso o encargo cabe a quem tem de trazer ao processo a
prova sobre determinado facto ou seja saber a quem cabe o ónus de trazer ao
tribunal a prova e se cumpriu de forma a convencer o juiz da sua pretensão208, tendo
o tribunal de atender apenas a essa parte para que caso a prova não se faça, sobre
ela deva recair as consequências do não convencimento do tribunal209. No segundo
caso não importa a quem esse ónus cabia, podendo essa prova ter sido trazida por
qualquer das partes e mesmo pelo juiz, mas não estando a prova ou sendo
insuficiente, interessa saber apenas quem vai suportar o resultado desfavorável da
dúvida existente e não tanto quem tinha o encargo de o trazer. É entendimento da
doutrina que no nosso sistema português predomina o ónus da prova objetivo,
interessando apenas quem vai suportar o ónus da prova em caso de dúvida, que vai
de encontro com o regulado no artigo 413.º CPC. 210 Importante é relembrar que o
juiz só terá necessidade de recorrer ao ónus da prova se tiver dúvida, e não se tiver
o necessário para decidir211, por isso podemos dizer que o ónus da prova está de
mãos dadas com o non liquet ou seja não podendo de acordo com artigo 8.º, n.º 1
CC deixar de proferir uma decisão, o juiz tem que decidir contra a parte que suporta
o ónus da prova e que deveria ter garantido existir as provas necessárias de forma
evitar dúvidas por parte do juiz.
O artigo 342.º CC estabelece que aquele que diz que o direito lhe pertence,
cabe provar os factos que levaram a constituição desse direito. Já que alega que o
direito lhe pertence, o mesmo não surgiu do nada, tem de existir uma razão de não
ter pertencido e agora pertencer. De alguma maneira o direito chegou até ele, por
exemplo compra e venda, doação, usucapião, ocupação, etc. Sendo assim é justo
que a ele caiba indicar como adquiriu o direito, pois como alguém adquire o direito e

208
Manuel A. Domingues Andrade. Ónus da prova. In: Noções elementares de processo civil.
Coimbra. 1979. P.197. Com colaboração professor Antunes Varela, revista e atualizada Dr. Herculano
Esteves
209
Nuno Manuel Pinto Oliveira. Tópicos sobre o ónus da Prova. Revista Jurídica da Universidade
de Santiago, Assomada, Ano 2 n.º 2, p.417, Jan./Dez. 2014.
210
Manuel A. Domingues Andrade. Ónus…, op. cit., p.197-199; Maria Gabriela A. L. da Cunha
Rodrigues. Poderes de iniciativa do juiz em processo civil e ónus da prova. Revista do CEJ, Lisboa,
N.º 1, 1.º Semestre, p. 47 e 53, 2016; Em comentário ao artigo 342.º CC pela Dra. Rita Lynce de
Faria, in: Luís Carvalho Fernandes, coord. II; PROENÇA, José Brandão, coord. Comentário ao
Código civil…, op. cit., p. 811-812; Nuno Manuel Pinto Oliveira. Tópicos sobre o ónus…, op. cit., p.
417.
211
Antunes Varela, J. Miguel Bezerra, Sampaio Nora. O problema do ónus da prova. In: Manual de
processo civil. 2ª Ed., Coimbra editora, 1985. P. 447; Leo Rosenberg. Concepto y significado…, op.
cit., p. 23-24, 61; Gabriela A. L. da Cunha Rodrigues. Poderes de iniciativa do juiz…, op. cit., p. 58 e
61.
73

não sabe a forma que adquiriu? Quem adquire o direito não terá dificuldade de dizer
como adquiriu mas sim em provar, esse é o mais complicado.
Do outro lado está a pessoa a qual compete provar que o direito nunca existiu
na titularidade daquele que invoca o direito, ou seja invoca um facto impeditivo, que
impede o nascimento do direito. Ou embora tenha existido agora já não existe mais
na esfera daquele, o que quer dizer que entretanto surgiu um facto extintivo e o
mesmo deixou de pertencer a aquele que o invoca. Por fim ainda pode ter surgido
um facto modificativo que tenha alterado a situação. Por isso a esta parte cabe
demonstrar que aquele já não tem o direito como afirma.
Ora a estrutura deste artigo leva doutrina a defender que o ónus é distribuído
de forma abstrata212 e não havendo propriamente uma determinação o que é do
autor e o que é do réu mas em função daquilo que cada um se arroga213, se invoca
direito tem ónus constitutivo, se invoca que esse direito não existe tem ónus
extintivo. A melhor posição é a do Dr. Soares Gomes que entende caber em
princípio ao autor alegar e provar os factos constitutivos e ao reu os factos extintivos,
modificativos e impeditivos.214 A natureza desse facto é determinada em função do
efeito jurídico pretendido pelo autor.215
Considera-se que as regras sobre ónus da prova seriam regras de
julgamento.216

4.1.2 - Ação de simples apreciação negativa

212
Maria Gabriela A. L. da Cunha Rodrigues. Poderes de iniciativa…, op. cit., p. 46; Adriano Paes da
Silva Vaz Serra. Provas (Direito probatório material) …, op. cit., p. 132.
213
Comentário ao Artigo 344º CC por Dr. José Lebre Freitas. In: Ana Prata (coord.). Código civil
anotado…, op. cit., p. 428.
214
Manuel Tomé Soares Gomes. Os factos objeto da prova. In: Um olhar sobre a prova em demanda
da verdade no processo civil. Revista do CEJ, n.º 3, 3.º semestre, p.143, 2005. Nesse sentido
também: José Carlos Barbosa Moreira. As presunções e a prova. In: Temas de direito processual.
São Paulo: Saraiva, 1977. P. 60
215
Manuel Tomé Soares Gomes. Os factos objeto da prova…, op. cit., p. 143
216
José Carlos Barbosa Moreira. As presunções e a prova..., op. cit., p. 61.
74

Depois de referirmos a regra geral, cabe agora referir um dos casos especiais
que vem regulado no artigo 343.º, n.º 1 CC, e apenas este iremos tratar por ter
interesse na nossa análise.
Esta ação vem regulada no artigo 10.º, n.º 3 alínea a) CPC, que estabelece
que apenas pode recorrer a esta quando se trata de declaração de existência ou
inexistência de um direito ou de um facto.
Embora parecendo simples, ainda assim este tipo de ação contempla um
conjunto de pressupostos:
1- Interesse em agir – aquele que pretende propor a ação de simples
apreciação tem de ``visar com a mesma afastar um estado de incerteza
objetivo ou seja uma incerteza que esteja a por em causa o direito, desde
que não seja meramente subjetivo ou uma mera suspeita e nem se trate
de uma mera expectativa´´. 217
2- Âmbito de aplicação – no âmbito das ações de simples apreciação está
incluído ``todas as relações jurídicas que sejam ou não analisáveis em
prestação, excluindo os direitos potestativos insuscetíveis de exercício
extrajudicial´´.218
3- Objeto – nessa ação pretende-se pedir ``a declaração da inexistência de
um direito ou de um facto tal como é invocado pelo reu. No entanto não
pode ser qualquer facto mas de um facto que esteja intimamente ligada a
uma determinada relação jurídica e que a incerteza incida
desfavoravelmente nessa relação.219 Apenas podem ser considerados os
elementos concretos que tenham uma ligação real com o direito afetado
na sua negociabilidade.220 Deve constar do objeto a causa de pedir e o
pedido, em que este deve ser individualizado, incidindo sobre factos que
sejam juridicamente relevantes em abstrato mas que em concreto sejam
suscetíveis de constituir uma situação que seja legalmente tutelada para

217
Artur Anselmo De Castro. As ações de simples apreciação ou meramente declarativa. In: Lições
de processo civil. Coimbra: Almedina,1964, p. 207-208. Coligidas e publicadas por Abílio Neto.
218
Ibidem, p. 206
219
Ibidem, p. 209
220
Artur Anselmo de Castro. As ações de simples…, op. cit., p. 209
75

um ou mais sujeitos jurídicos.221 Deve haver uma concretização prática do


que se pretende´´.
4- Ter arrogado o réu extrajudicialmente, pertence-lhe um direito, que o autor
entende caber a ele e por isso deu causa a que este propusesse ação por
entender ser injustificado a invocação feita pelo réu.222

A ação de simples apreciação negativa como se tem entendido visa afastar


uma situação de incerteza trazendo maior segurança. Esta ação não dá lugar a um
título executivo nem impõe ao réu uma prestação, transitando em julgado a sua
eficácia se produz e esgota-se juridicamente nesse momento.223
Esta ação no que se refere a distribuição do ónus da prova artigo (343.º, n.º 1
CC) a Dra. Lynce de Faria224 levanta a questão de saber se realmente se trata de
uma verdadeira inversão do ónus da prova ou como a epígrafe deste artigo indica
tratar-se apenas de um caso especial. Devemos dizer que olhando para lei é
plausível a dúvida se existe ali uma inversão do ónus da prova já que na regra geral
diz pertence aquele que invoca o facto constitutivo a prova do direito e neste caso
especial diz cabe ao réu a prova do facto constitutivo do seu direito.
Mas o entendimento que tem sido defendido é de haver uma verdadeira
inversão do ónus da prova, pois caso não houvesse essa estipulação na lei, caberia
ao autor o ónus da prova do facto constitutivo225 já que a prova da inexistência do
direito do reu é o facto constitutivo do seu direito.226

221
Miguel Teixeira de Sousa. Acções de simples apreciação (objecto: conceito; ónus da prova;
legitimidade). Separata: Revista de direito e de estudos sociais. Coimbra, A. 25, n.ºs 1-2
(Jan./Mar.), p. 138-143, 1980.
222
João de Castro Mendes. Direito processual civil. Lisboa: AAFDL, vol. I, 1978, p. 282.
Apontamentos das lições dadas pelo professor em 1978-79, redigidos com colaboração de um grupo
de assistentes; Luís Carvalho Fernandes, coord. II; PROENÇA, José Brandão, coord. Comentário ao
Código civil…, op. cit., p. 814; Adriano Paes da Silva Vaz Serra. Provas (Direito probatório material)
…, op. cit., p. 135.
223
Artur Anselmo de Castro. As ações de simples…, op. cit., p. 220-222.
224
Luís Carvalho Fernandes, coord. II; PROENÇA, José Brandão, coord. Comentário ao Código
civil …, op. cit., p. 814.
225
Antunes Varela, J. Miguel Bezerra, Sampaio Nora. O problema do ónus da prova…, op. cit., p.
460, 465; José Carlos Barbosa Moreira. As presunções e a prova…, op. cit., p. 60; Comentário ao
artigo 343.º CC: Pires de Lima, Antunes Varela. Código civil anotado. 4.ª Ed., Coimbra: Coimbra
editora, 1987. P. 307. Com colaboração M. Henrique Mesquita.
226
Rita Lynce De Faria. A inversão do ónus da prova no direito civil português. P. 42 e 43.
Relatório de mestrado de direito processual civil, Universidade Católica Portuguesa, Lisboa: LEX,
2001; Antunes Varela, J. Miguel Bezerra, Sampaio Nora. O problema do ónus da prova…, op. cit., p.
461; Comentário ao artigo 343.º CC: Abílio Neto. Código civil anotado. 9.ª Ed., Lisboa: Ediforum
edições jurídicas, Lda. 2013, p. 321; Manuel Tomé Soares Gomes. Os factos objeto da prova…, op.
cit., p.143, 2005; Luís Carvalho Fernandes, coord. II; PROENÇA, José Brandão, coord. Comentário
76

Esse parece ser o melhor entendimento, já que conjugando o artigo 342.º CC


e artigos 5.º,n.º 1, 571.º, n.º 2, ultima parte e 584.º, n.º 2, todos do CPC resulta que
os factos constitutivos cabem em princípio ao autor.
Entende a doutrina que é o réu que dá causa a ação logo é ele que cabe
provar o direito que invoca, os factos constitutivos que determinam a existência do
direito, passando a caber ao autor os factos modificativos, extintivos e impeditivos227.
Entende Dr. Teixeira de sousa, que se o reu pretende ver reconhecido o
direito deve alega-lo na reconvenção, caso contrário o mero impugnar aquilo que é
dito pelo autor, no caso de improcedência não terá como consequência o
reconhecimento do direito mas apenas a não prova da inexistência do direito228.
É importante referirmo-nos que é ponto assente que a ação de impugnação
da justificação notarial é uma ação de simples apreciação negativa que é
unanimemente aceite seja pela doutrina seja pela jurisprudência229, pois o autor visa
alegar a inexistência do direito invocado pelo réu. É entendido que o autor só propõe
a ação devido ao comportamento do reu e por este facto cabe a ele provar a
existência do direito, pois terá meios de provar ou pelo menos estará em melhores
condições de demostrar aquilo que afirma.

4.2- Presunção legal ou de direito

4.2.1 - Pressupostos

ao Código civil…, op. cit., p. 814; Adriano Paes da Silva Vaz Serra. Provas (Direito probatório
material) …, op. cit., p. 154.
227
Miguel Teixeira De Sousa. Ónus da prova. In: As partes, o objecto e a prova na acção
declarativa. Lisboa: LEX. P. 220, 1995.
228
Miguel Teixeira De Sousa. Ónus da prova…, op. cit., p. 220-221.
229
Abílio Neto. Código civil anotado…, op. cit., p. 321; Ana Prata (coord.). Código civil anotado…,
op. cit., p. 425; Isabel Ferreira Quelhas Geraldes, Olga Maria Barreto Gomes. Justificação
relativa…, op. cit., p. 171-172; Acórdão do Tribunal da Relação de Guimarães de 04.12.2014,
Processo: 1605/10.7TBFAF.G1, Relator: Conceição Bucho. Sítio: http://www.dgsi.pt. Acesso: 26 jun.
2018.
77

É uma presunção que decorre da lei, por isso essa presunção e a sua força
probatória230 é estabelecida de forma abstrata pelo legislador, ficando o juiz limitado
na sua livre apreciação231, permitindo que quem dele beneficia vê dessa forma
facilitada a prova que vai produzir, não tendo que provar o facto presumido mas sim
a base da presunção, cabendo a outra parte a prova da sua não verificação.232
Estabelece o artigo 349.º CC que a presunção legal é a ilação que a lei a
partir de um facto conhecido presume a existência de um facto desconhecido.233 A
doutrina designa o primeiro como base da presunção234 e o segundo como facto
presumido235.
A base da presunção é o facto que se conhece e aquele que usufrui da
presunção, tem que a alegar e provar para que possa dela se valer, pois provando a
existência desta é como se tivesse sido provado o facto presumido, desde que
também tenha alegado este último236. Pois parte-se do princípio que existindo a
primeira é bem provável que o segundo deva ter ocorrido.237 Por exemplo, se
alguém faz o registo definitivo, resulta do artigo 7.º CRegP a presunção da
existência do direito. A base da presunção será a existência do registo definitivo, o

230
Manuel A. Domingues Andrade. Ónus da prova…, op. cit., p. 209; Nuno Manuel Pinto Oliveira.
Tópicos sobre o ónus da Prova…, op. cit., p. 431; Rui Manuel de Freitas Rangel. O ónus da prova e
as presunções jurídicas. In: O ónus da prova no processo civil. 3.ª Ed. Coimbra: Almedina, 2006, p.
229.
231
Manuel A. Domingues Andrade. Ónus da prova…, op. cit., p. 215; Antunes Varela, J. Miguel
Bezerra, Sampaio Nora. O problema do ónus da prova…, op. cit., p.502; Luís Filipe Pires de Sousa.
Presunção de direito. In: Prova por presunção no Direito civil. Coimbra: Almeida, 2012, p. 103-104;
Rui Manuel de Freitas Rangel. O ónus da prova e as presunções jurídicas…, op. cit., p. 229; Rita
Lynce de Faria. A inversão do ónus da prova no direito…, op. cit., p. 35; Adriano Paes da Silva
Vaz Serra. Provas (Direito probatório material) …, op. cit., p. 71-72, 183.
232
Manuel A. Domingues Andrade. Ónus da prova…, op. cit., p. 216. Adriano Vaz Serra. Anotação ao
acórdão. Revista de legislação e jurisprudência. Ano 106, 1973-1974, n.º 3489-3513, Coimbra, p.
393, 1974; Antunes Varela. Anotação ao acórdão de 8 de novembro 1984. Revista de legislação e
de jurisprudência. Coimbra: Coimbra editora, Ano 122.º, 1989-1990, n.º 3778-3789, p. 216-
217,1990; Miguel Teixeira de Sousa. Ónus da prova…, op. cit., p. 224-225; Comentário ao artigo
344.º CC pela Dra. Rita Lynce de Faria, in: Luís Carvalho Fernandes, coord. II; PROENÇA, José
Brandão, coord. Comentário ao Código civil …, op. cit., p. 817. José Carlos Barbosa Moreira. As
presunções e a prova…, op. cit., p. 60. Adriano Paes da Silva Vaz Serra. Provas (Direito probatório
material) …, op. cit., p. 187; Ana Prata (coord.). Código civil anotado…, op. cit., p. 426 e 435. Luís
Filipe Pires de Sousa. Presunção de direito…, op. cit., p. 104.
233
Antunes Varela, J. Miguel Bezerra, Sampaio Nora. O problema do ónus da prova…, op. cit., p.
500.
234
Ibidem, p. 501.
235
Manuel A. Domingues Andrade. Ónus da prova…, op. cit., p. 215.
236
Antunes Varela. Anotação ao acórdão…, op. cit., p.217. Comentário ao artigo 349.º CC: Pires de
Lima, Antunes Varela. Código civil anotado…, op. cit., p. 312. Luís Filipe Pires de Sousa. Presunção
de direito…, op. cit., p. 103. Rui Manuel de Freitas Rangel. O ónus da prova e as presunções
jurídicas…, op. cit., p. 230.
237
Rui Manuel de Freitas Rangel. O ónus da prova e as presunções jurídicas…, op. cit., p. 228. Rita
Lynce de Faria. A inversão do ónus da prova …, op. cit., p. 34.
78

facto desconhecido a existência do direito238, isso quer dizer que basta provar que o
registo está feito definitivamente para ter-se como provado a existência do direito.
Isso não quer dizer que se prova que realmente o direito existe, mas presume-se
que assim seja.
Assim sendo de acordo com o artigo 350.º, n.º 1 CC tendo sido alegado e
provado a base da presunção e alegado o facto presumido tem se por preenchido o
requisito que permite beneficiar da presunção, não tendo que provar o facto
presumido pois pressupõe-se que o mesmo em princípio exista. Passa a caber a
outra parte afastar e caso o faça com sucesso, terá o beneficiário da presunção de
rebater recorrendo a contraprova.239
Verificando-se um conflito de presunções legais pode acontecer que uma
acabe por afastar a outra, prevalecendo uma delas.240
As presunções legais distinguem-se das presunções judiciais, estas estão
reguladas no artigo 351.º CC, são ilações do próprio julgador, tendo na base a
experiencia e são determinadas em concreto, caso a caso241, tendo no entanto como
limite de apenas se poder recorrer a elas na medida que seja admissível a prova
testemunhal.242
As presunções legais dividem-se em presunções iuris tantum aqueles que
admitem prova em contrário243 e as presunções iuris et iure que não o admitem.244
No entanto a lei estabelece no n.º 2, do artigo 350.º CC que as primeiras são a regra
ou seja por norma as presunções legais podem ser ilididas, só havendo lugar as
últimas quando a lei expressamente o disser.245
Importante referir que a prova por presunção apesar de se encontrar regulado
no código civil como se fosse um meio de prova (a doutrina considera como não

238
Luís Filipe Pires de Sousa. Presunção de direito…, op. cit., p. 103.
239
Antunes Varela. Anotação ao acórdão…, op. cit., p. 217-218. Rui Manuel de Freitas Rangel. O
ónus da prova e as presunções jurídicas…, op. cit., p. 230.
240
Luís Filipe Pires de Sousa. Presunção de direito…, op. cit., p. 104
241
Manuel A. Domingues Andrade. Ónus da prova…, op. cit., p.215-216. Antunes Varela, J. Miguel
Bezerra, Sampaio Nora. O problema do ónus da prova…, op. cit., p. 502. Rui Manuel de Freitas
Rangel. O ónus da prova e as presunções jurídicas…, op. cit., p. 232.
242
Antunes Varela. Anotação ao acórdão…, op. cit., p.218.
243
Manuel Tomé Soares Gomes. Os factos objeto da prova…, op. cit., p. 161. Antunes Varela, J.
Miguel Bezerra, Sampaio Nora. O problema do ónus da prova…, op. cit., p. 502.
244
Manuel A. Domingues Andrade. Ónus da prova…, op. cit., p. 216; Nuno Manuel Pinto Oliveira.
Tópicos sobre o ónus da Prova…, op. cit., p. 431; José Carlos Barbosa Moreira. As presunções e a
prova…, op. cit., p. 55; Adriano Paes da Silva Vaz Serra. Provas (Direito probatório material) …, op.
cit., p. 181; Comentário ao artigo 350.º CC: Pires de Lima, Antunes Varela. Código civil anotado…,
op. cit., p. 312-313.
245
Adriano Paes da Silva Vaz Serra. Provas (Direito probatório material) …, op. cit., p. 184-185.
79

sendo um verdadeiro meio prova mais sim inversão do ónus da prova246 247) não tem
correspondência no código processo civil ao qual não tem autonomia, reconduzindo
a outros meios de prova248. Por isso a prova da base da presunção é feita por
qualquer procedimento probatório regulado no âmbito processual, como
documentos, perícias, testemunhas, inspeção judicial.249

4.2.3 - Inversão do ónus da prova

A presunção legal inverte o ónus da prova facilitando a prova ao benificiário


dela, passando a caber a outra parte a prova em contrário. Como determina o artigo
344.º, n.º 1 CC verifica-se a inversão do ónus da prova quando existe uma
presunção legal. O benificiário da presunção tem de alegar a existência dessa
presunção e o facto presumido, além disso provar a base da presunção, permitindo
que o facto presumido250 seja tido como se tivesse sido provado, nesse caso passa
a caber a outra parte o ónus da prova pois como diz a letra da lei se inverte as
regras do ónus da prova nos casos da regra geral e especial. Por isso se o encargo
cabia ao reu e agora beneficia da presunção passa a caber ao autor provar o facto
contrário que cabia ao reu.
A Dra. Lynce Faria, entende que da presunção legal não existe uma
verdadeira inversão do ónus da prova, o que acontece é que ao invés de provar o
facto presumido transfere-se o ónus de provar para a base da presunção que no
caso é mais fácil de provar mas continua caber-lhe o ónus da prova, sendo que essa
inversão só se verifica referente ao facto presumido251, por isso não se verifica uma
redistribuição ou modificação do ónus da prova252. No entendimento do Dr. Vaz

246
Adriano Paes da Silva Vaz Serra. Provas (Direito probatório material) …, op. cit., p. 153.
247
Rita Lynce de Faria. A inversão do ónus da prova …, op. cit., p. 35.
248
Manuel A. Domingues Andrade. Ónus da prova…, op. cit., p. 217. Antunes Varela, J. Miguel
Bezerra, Sampaio Nora. O problema do ónus da prova…, op. cit., p. 501.
249
Rui Manuel de Freitas Rangel. O ónus da prova e as presunções jurídicas…, op. cit., p. 236.
250
Adriano Vaz Serra. Anotação ao acórdão. Revista de legislação e jurisprudência. Ano 106,
1973-1974 n.º 3489-3513, Coimbra: Coimbra editora p. 393, 1974.
251
Luís Carvalho Fernandes, coord. II; PROENÇA, José Brandão, coord. Comentário ao Código
civil…, op. cit., p 817. Rita Lynce de Faria. A inversão do ónus da prova…, op. cit., p. 34.
252
Antunes Varela, J. Miguel Bezerra, Sampaio Nora. O problema do ónus da prova…, op. cit., p.
503. José Carlos Barbosa Moreira. As presunções e a prova…, op. cit., p. 60-61. Rui Manuel de
Freitas Rangel. O ónus da prova e as presunções jurídicas…, op. cit., p. 236-237.
80

Serra, existe a inversão do ónus da prova justamente por que aquele que tem a seu
favor a presunção legal fica dispensado de provar o facto presumido para provar a
base da presunção, cabendo a outra parte a prova do contrário.253 Por sua vez Dr.
Barbosa Moreira, indica que se transfere para a outra parte o ónus da prova que não
lhe caberia de acordo com as regras gerais de distribuição do ónus da prova.254
Embora se entenda que haja uma inversão do ónus da prova, não quer dizer
que a parte onerada ao beneficiar da presunção não tenha nada a provar, tem sim,
tem que provar a base da presunção. O ónus continua a caber a ela mas agora
facilitada e assim cabendo a outra parte o ónus de afastar essa presunção ou de
provar não ser verdadeiro a sua verificação.

4.2.3- Prova em contrário

Existindo uma presunção legal a mesma só pode ser afastada por prova do
contrário artigo 347.º CC255, tem que se convencer o juiz que o facto não se
verificou, que a base da presunção embora exista, o mesmo não acontece com o
facto presumido e que o direito não pertence a parte que beneficia da presunção ou
que a base da presunção não chegou a verificar-se256. Ao contrário da presunção
judicial em que basta a contraprova (artigo 346.º CC), sendo suficiente criar a dúvida
no espirito do juiz para cair por terra a presunção257, na presunção legal não é
suficiente, tem que convencer mediante prova da falsidade ou da não verificação da
situação invocada pela outra parte258. Uma presunção judicial seria insuficiente para
afastar uma presunção legal.

253
Adriano Paes da Silva Vaz Serra. Provas (Direito probatório material) …, op. cit., p. 188.
254
José Carlos Barbosa Moreira. As presunções e a prova…, op. cit., p. 67.
255
Manuel A. Domingues Andrade. Ónus da prova…, op. cit., p. 212. 255 Fernando Pereira Rodrigues.
O ónus da prova…, op. cit., p. 47 e 48.
256
Comentário ao artigo 346.º CC: Abílio Neto. Código civil anotado…, cit., p. 323. Pires de Lima,
Antunes Varela. Código civil anotado…, op. cit., p. 310.
257
Fernando Pereira Rodrigues. O ónus da prova…, op. cit., p.48. Pires de Lima, Antunes Varela.
Código civil anotado…, op. cit., p. 310. Adriano Paes da Silva Vaz Serra. Provas (Direito probatório
material) …, op. cit., p. 168.
258
Manuel A. Domingues Andrade. Ónus da prova…, op. cit., p. 208, 216. Nuno Manuel Pinto
Oliveira. Tópicos sobre o ónus da Prova…, op. cit., p. 435. Adriano Paes da Silva Vaz Serra. Provas
(Direito probatório material) …, op. cit., p. 168.
81

A quem entenda que a presunção legal representa a derrogação das regras


sobre ónus da prova.259 Tendo a presunção a seu favor passa a caber o ónus da
prova do contrário, aquele que pretende demonstrar o contrário260.

4.3 - Qual a relação existente entre a presunção de legal e o ónus da


prova

Entre o ónus da prova e a presunção legal existe uma ligação em termos de


garantir que, o juiz possa decidir, quase como última rátio. O ónus da prova existe
em caso de dúvida do juiz e evitar um non liquet e a presunção legal permite facilitar
a prova a quem beneficia dela produzindo uma prova mais simples, caso não haja
prova do contrário poder o juiz tomar mais facilmente uma decisão. Sendo afastada
a presunção, passa a caber a outra parte criar duvida na mente do juiz afastando o
resultado negativo que para ele pode derivar, se a outra parte não conseguir afastar
essa dúvida vê sobre ele recair o resultado negativo da decisão.

4.4 - Aplicação desta análise na nossa questão em concreto

A impugnação da justificação notarial enquadra-se nas ações de simples


apreciação negativa, cabendo ao reu a prova do seu direito. A partir do momento
que a registo definitivo, faz funcionar a presunção do registo. O justificante em
tribunal só tem que alegar essa presunção e invocar que o direito o pertence e
provar que o registo já se encontra definitivamente registado. A presunção do registo
é uma presunção legal iuris tantum que vai inverter o ónus da prova passando a
caber ao autor apresentar prova do contrário, mas essa prova é feita nos termos que
resulta do registo e não de outras. O Autor não vai ser confrontado com uma prova
diabólica, porque tudo que precisa contraditar é a informação que se encontra na

259
Abílio Neto. Código civil anotado …., op. cit., p. 323.
260
Ibidem, p. 326 (comentário ao artigo 350 CC).
82

escritura de justificação que foi registada, porque a presunção diz claramente que
abrange apenas e unicamente nos termos que se encontra registado.
83

5. Justificação notarial e a presunção decorrente do registo predial

5.1- Confronto entre os argumentos da doutrina e jurisprudência: os pros e


contras sobre atribuição do benefício da presunção ao registo feito com
base na justificação notarial

Começaremos por indicar os argumentos contra atribuição da presunção que


logo em seguida serão contraditados com os argumentos á favor261:

Entende-se que a justificação notarial não deve beneficiar da presunção do


registo porque embora seja documento autêntico por ter sido elaborada pelo notário,
esta apenas faz prova plena dos factos que foram praticados e atestados com base
nas perceções daquele que a elaborou, no entanto não garante que as declarações
dai resultantes sejam verdadeiras262 e nem que o direito exista mesmo que tenha
sido confirmada por três testemunhas263 (artigos 371.º, n.º 1 e 372.º,n.º 1 CC). Não
se pode garantir que a justificação notarial é segura e que a informação que dela
imana corresponda com a realidade, pode haver situações que quem recorra a
justificação notarial não tenha o direito264 já que as declarações feitas na escritura de
justificação não são seguidas pela prova de serem verdadeiras265 e não é
questionado ao notário sobre a sua razão de ciência e nem essas declarações são
confrontadas com outra razão diferente.266 Impugnados os factos que constarem da
escritura de justificação, tem como pressuposto que eles não se verificaram e por

261
Os argumentos a favor e contra atribuição da presunção são aqui indicados na sua grande maioria
nas palavras utilizadas pelos seus autores.
262
Acórdão do Tribunal da Relação de Guimarães de 07.06.2018, Processo: 309/16.1T8VRL.G1,
Relator: Maria Amália Santos. Sítio: http://www.dgsi.pt. Acesso: 26 jun. 2018; Acórdão do Tribunal da
Relação de Guimarães de 01.02.2018, Processo: 663/11.1.T8BBRG.G1, Relator: Sandra Melo. Sítio:
http://www.dgsi.pt. Acesso: 26 jun. 2018.
263
Acórdão do Tribunal da Relação de Guimarães de 12.03.2015, Processo: 169/12.1TBVPA.G1,
Relator: Manuel Bargado. Sítio: http://www.dgsi.pt. Acesso: 26 jun. 2018.
264
Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa de 24.06.2010, Processo: 101/04.6TBSRQ.L1-2,
Relator: Maria José Mouro. Sítio: http://www.dgsi.pt. Acesso: 26 jun. 2018; Acórdão de Uniformização
de Jurisprudência n.º 1/2008 do Supremo Tribunal de Justiça – acórdão de 04.12.07,
Processo:JSTJ000, Relator: Azevedo Ramos, p.1873. Sítio: http://www.dgsi.pt. Acesso:07/07/2018.
265
Acórdão do Tribunal da Relação de Guimarães de 05.02.2009, Processo: 2473/08-1, Relator:
Gomes Da Silva. Sítio: http://www.dgsi.pt. Acesso: 26 jun. 2018.
266
Acórdão do Tribunal da Relação do Porto de 26.05.2015, Processo: 8423/06.5TBMTS.P1, Relator:
Manuel Domingos Fernandes. Sítio: http://www.dgsi.pt. Acesso: 26 jun. 2018.
84

isso afetam a credibilidade e eficácia da presunção do registo do artigo 7.º


CRegP267. A presunção é aplicável na suposição do direito existir não devendo o
justificante dela beneficiar268 pois ao ser feito a impugnação da escritura da
justificação, nela se vai verificar se o direito existe269 e a fé pública registal não deve
ser alegada para justificar a sua atribuição.270
O registo deixa de transmitir segurança se feito com base na justificação
notarial, esta beneficiar da presunção que inverte o ónus da prova.271 Aquele por ser
feito com base na justificação notarial que se impugna não deve beneficiar da
presunção272 já que esta pressupõe que existe um facto que determina a existência
do direito, enquanto a escritura de justificação tem apenas a aparência de um facto
que tem na base um direito que precisa ser provado a sua existência.273 A usucapião
registada com base na justificação notarial sem ter sido demonstrado o seu
fundamento, não é valido nem eficaz e ao ser impugnada torna-se incerto o direito
nela invocada.274
Agora os argumentos a favor:
De facto a prova plena do documento autêntico não abrange como sendo
verdade as declarações prestadas nem aqueles que sejam opiniões pessoais do
notário e nem os factos que sejam do foro interno dos outorgantes. Apesar disso
tanto num contrato de compra e venda com escritura pública como na escritura de
justificação não podem neles serem garantidos que a vontade dos sujeitos que
participaram, não esteja viciada por dolo, erro ou coação moral ou mesmo que não
tenha havido simulação.275 Contudo os riscos de inexatidão que eventualmente
podem apresentar esta figura levaram com que o legislador tivesse estabelecido
maiores cautelas. Mesmo que se venha a verificar que o justificante usou de falsas

267
Acórdão do Tribunal da Relação de Guimarães de 07.06.2018…, op. cit., na nota de rodapé 262;
Acórdão de Uniformização de Jurisprudência n.º 1/2008 do Supremo Tribunal de Justiça – acórdão de
04.12.07…, op. cit., p. 1871-1879.
268
Acórdão do Tribunal da Relação de Guimarães de 07.06.2018…, op. cit., na nota de rodapé 262.
269
Idem.
270
Idem.
271
Idem.
272
Acórdão de Uniformização de Jurisprudência n.º 1/2008 do Supremo Tribunal de Justiça – acórdão
de 04.12.07…, op. cit., p. 1874.
273
Isabel Pereira Mendes. Código do Registo Predial…, op. cit., p. 182.
274
Acórdão do Tribunal da Relação de Guimarães de 07.06.2018…, op. cit., na nota de rodapé 262;
Acórdão de Uniformização de Jurisprudência n.º 1/2008 do Supremo Tribunal de Justiça – acórdão de
04.12.07…, op. cit., p.1874; Isabel Pereira Mendes. Código do Registo Predial: Anotado e
Comentado e Diplomas Conexos. 17.ª Ed., Coimbra: Almedina, 2009. P. 182.
275
Maria Clara Sottomayor. O papel da jurisprudência nos efeitos do registo predial. In: Estudos em
Homenagem ao Professor Doutor Heinrich Ewald Hörster. Coimbra: Almedina, 2012, p. 403.
85

declarações na justificação notarial no qual declarou adquirir o direito pela via da


usucapião, ainda que registado pode o verdadeiro proprietário a todo o tempo propor
uma ação a fim de a impugnar e ilidir a presunção registal.276 O artigo 101.º, n.º 2 do
CN estabelece um prazo de 30 dias a contar da data da publicação e se no mesmo
período de tempo for comunicado que está pendente uma impugnação não é emitida
certidão. No estabelecimento do novo trato sucessivo como no reatamento do trato
sucessivo deve ser notificado o titular inscrito e em caso da sua ausência ou
falecimento, os seus herdeiros mas antes de ser lavrado a escritura de justificação
dando possibilidades destes reagirem se for o caso.277
O argumento da não atribuição da presunção conduz a que não haja
homogeneidade na regulação normativa da matéria, já que apenas é afastada
quando a escritura de justificação esteve na base do registo e para haver coerência
neste argumento tinha de se aplicar este raciocínio em todas as situações em que
houvesse impugnação, não acontecendo deixou sem conteúdo útil a presunção.278
Esta apenas deve deixar de se aplicar pelas formas estabelecidas na lei pela
transferência, nulidade ou cancelamento (artigos 10.º, 13.º e 17 CRegP).279 Pode
suceder que o justificante não tenha adquirido o direito ou não tenha adquirido com
os contornos, conteúdo e amplitude como é publicitado pelo registo, mas enquanto
não for ilidida a presunção do registo mediante prova em contrário e seguido do
cancelamento dos assentos registais, ela se mantém (artigos 10.º e 13 do
CRegP).280 Só com a caducidade ou cancelamento do registo é que se extingue os
efeitos do registo como a presunção.281 O justificante apenas deixa de beneficiar da
presunção com o trânsito em julgado da ação que considerou procedente a
impugnação e que resultou no cancelamento do registo.282 Pois se nos casos em
que haja nulidade do registo mantém o benefício da presunção até ser declarada
aquela com transito em julgado com maioria de razão deve também a justificação

276
Maria Clara Sottomayor. O papel da jurisprudência…, op. cit., p. 407.
277
Ibidem, p. 406.
278
José Alberto Vieira. Registo de Usucapião titulada por escritura de justificação notarial e
presunção de titularidade do direito. Cadernos de Direito Privado, Braga, n. 24, p. 39, Out./Dez.
2008. Trimestral.
279
Isabel Ferreira Quelhas Geraldes, Olga Maria Barreto Gomes. Justificação relativa…, op. cit., p.
171.
280
Ibidem, p. 168-169.
281
Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 05.11.2002, Processo: 02A900, Relator: Reis
Figueira. Sítio: http://www.dgsi.pt. Acesso: 22 mar. 2020.
282
Isabel Ferreira Quelhas Geraldes, Olga Maria Barreto Gomes. Justificação relativa…, op. cit., p.
170.
86

notarial beneficia dessa presunção até ser declarada a nulidade do facto registado
com base na escritura de justificação.283 Tanto a escritura pública no caso de
compra e venda como a escritura de justificação têm um papel semelhante por isso
a presunção após registo deve valer para ambas as situações.284 A escritura de
justificação notarial é apenas um documento que permite aceder ao registo mas não
é um ato translativo pressupondo que o direito já exista285 e a presunção do registo
tem por base um grau de probabilidade elevada mediante critérios empíricos de
normalidade da existência de uma ligação concreta do facto que constitui base da
presunção (estar inscrito no registo) e o facto presumido (a causa da aquisição do
direito que estará no documento que é utilizado para aceder ao registo).286
Entende-se que a escritura de justificação como processo de justificação têm
uma função social importante pois permite suprir a falta de documento para 1ª
inscrição, reatamento e novo trato sucessivo, permite diminuir os prédios omissos,
atualização da informação registal e reforçar o princípio de que a base do nosso
sistema jurídico está na usucapião e não no registo e contribui para tornar mais
razoável a possibilidade de vir a adquirir a propriedade.287
Impugnada a justificação notarial através da ação de simples apreciação
negativa cabe o ónus da prova ao réu a não ser que já tenha registado, pois neste
caso passa a beneficiar da presunção que inverte o ónus da prova, não existindo
nenhuma indicação na lei que exceciona aplicação com base no documento que se
utilizou para aceder ao registo.288
Existe uma forte ligação entre os artigos 7.º e 68.º do CRegP em que o
conservador antes de efetuar o registo deve garantir que esteja a ser cumprida o
princípio da legalidade, não se limitando a apenas efetuar o registo e por isso a
atribuição da força probatória.289 O registo é feito com base num dos factos
presentes no artigo 2.º CRegP, cujo direito dele resultante se presume a existência

283
José Alberto Vieira. Registo de Usucapião titulada por escritura de justificação, op. cit., p. 40;
Isabel Ferreira Quelhas Geraldes, Olga Maria Barreto Gomes. Justificação relativa…, op. cit., p.
179.
284
Maria Clara Sottomayor. O papel da jurisprudência…, op. cit., p. 403.
285
Isabel Ferreira Quelhas Geraldes, Olga Maria Barreto Gomes. Justificação relativa…, op. cit.,
180.
286
José Lebre De Freitas. Justificação notarial…, op. cit., p. 253-254.
287
Maria Clara Sottomayor. O papel da jurisprudência…, op. cit., p. 407.
288
Isabel Ferreira Quelhas Geraldes, Olga Maria Barreto Gomes. Justificação relativa…, op. cit., p.
172-173; José Lebre De Freitas. Justificação notarial…, op. cit., p. 254.
289
Isabel Ferreira Quelhas Geraldes, Olga Maria Barreto Gomes. Justificação relativa…, op. cit., p.
169.
87

do facto e do direito de acordo com o artigo 7.º e pertença ao titular inscrito. Nos
mesmos termos se insere as causas e a circunstâncias que constam da inscrição e
do documento que serviu de base para o registo. 290 Aquele que tem inscrição a seu
favor beneficia da presunção e por isso não tem que provar nem alegar a existência,
a validade e eficácia do direito e nem que o mesmo lhe pertence resultando da
conjugação do princípio da legitimação (artigo 9.º CRegP) e o princípio do trato
sucessivo (artigo 34.º do mesmo código).291 Ao recorrer a ela o que falta em
princípio é o documento pois o direito pressupõe que exista, mas se este não existir,
não será com a justificação notarial que passará a existir, esta apenas permite
aproximar a informação do registo com a realidade substantiva.292 O proprietário
recorre a justificação notarial para ter um documento para aceder ao registo, ao
registar o facto jurídico, a escritura de justificação esgota a sua utilidade e passa a
ter importância apenas o direito que resulta do facto jurídico.293
A única interpretação que está mais conforme com a proteção de terceiro é
aquela que lhe atribui a presunção de registo ainda que tenha adquirido do
justificante, pois dessa maneira pode invoca-la, verificando deste modo a tutela do
registo naquele que confiou na informação nele exaurada. Mesmo que o justificante
não tenha transmitido a propriedade a um terceiro pode na mesma beneficiar da
presunção registal por já ter decorrido o prazo de 30 dias ao qual não houve
impugnação e acedeu ao registo, embora não possa invocar a fé pública.294 Uma
interpretação que seja diversa a esta acaba por prejudicar aqueles que têm posse
não titulada que terão de apresentar provas do início da posse, que em princípio
serão apenas testemunhas que devido a grande distância temporal que haverá entre
aquele e a data em que é prestada o testemunho na ação de impugnação serão
consideradas de pouca fiabilidade.295
O facto de ser o estado que promove a organização do registo predial, deve
este aos olhos dos cidadãos transmitir confiança para a circulação do comércio
imobiliário.296 Ao negar o benefício da presunção ao registo com base na escritura

290
José Lebre De Freitas. Justificação notarial…, op. cit., p. 253.
291
Isabel Ferreira Quelhas Geraldes, Olga Maria Barreto Gomes. Justificação relativa…, op. cit., p.
167-168.
292
Ibidem, p. 177.
293
Ibidem, p. 173.
294
José Lebre De Freitas. Justificação notarial…, op. cit., p. 254.
295
Maria Clara Sottomayor. O papel da jurisprudência…, op. cit., p. 400.
296
José Alberto Vieira. Registo de Usucapião titulada por escritura de justificação…, op. cit., p. p.36-
37.
88

de justificação faz com que fique prejudicada a fé publica registal, uma vez que fica
afetado a informação contida no registo com base nesse, como consequência afeta
os interesses social e pública e a confiança naquela informação.297 É pressuposto
que a informação que consta no registo sobre o imóvel seja atual e estável.298
A prova negativa de qualquer facto constitutivo da posse que conduza a
usucapião numa primeira impressão traduz-se numa prova diabólica que não pode
ser exigida ao impugnante da justificação299, devido ao período de tempo entre tanto
decorrido o impugnante terá uma dificuldade apreciável para demonstrar que não
houve atos de posse mas torna-se mais difícil a sua prova se não constar da
escritura de justificação os atos concretos integrantes da posse300 por isso apenas
não se pode beneficiar da presunção do registo quando se limita a invocar o direito
na escritura de justificação sem resultar factos que baseiam a posse, que foi
afirmado a sua existência durante todo o período de tempo necessário para
aquisição pela via da usucapião.301 A descrição do prédio seja através das formas
de formalização ditas normais ou a escritura de justificação deve constar a causa de
aquisição, constituição, modificação do direito (artigos 95.º, n.º 1 do CRegP e 89.º,
n.º 1 e 90.º, n.º 2 do CN). Quando invocada a usucapião deve constar além da causa
da aquisição, também as circunstâncias que determinaram o início da posse e a
caraterizam, artigo 89.º, n.º 2 CN302, devendo indicar atos materiais ao em vez de
basear em conceitos jurídicos.303 A presunção do registo liberta, aquele que invocou
a usucapião e o registou, do ónus da prova dos factos que concretamente tenha
invocado na escritura de justificação que determinaram o início da posse, que o
caraterizam e do decurso do prazo para a invocação da usucapião304.
O entendimento que afasta a presunção tende a demonstrar que os tribunais
que assim o fazem tendem a olhar de forma desconfiada para este procedimento
que foi criada pelo legislador, que disponibilizou aos possuidores que adquirem pela
via da usucapião, poder dessa forma proceder ao registo. Esse entendimento tem

297
Maria Clara Sottomayor. O papel da jurisprudência…, op. cit., p. 407.
298
Isabel Ferreira Quelhas Geraldes, Olga Maria Barreto Gomes. Justificação relativa…, op. cit.,
p.168.
299
Maria Clara Sottomayor. O papel da jurisprudência…, op. cit., p. 407.
300
José Lebre De Freitas. Justificação notarial: Nulidade e registo. In: Estudos Comemorativos dos
10 anos da Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa. Vol. 2. Coimbra: Almedina,
2008, p. 252.
301
José Lebre De Freitas. Justificação notarial…, op. cit., p. 255.
302
Ibidem, p. 252.
303
Maria Clara Sottomayor. O papel da jurisprudência…, op. cit., p. 405.
304
José Lebre De Freitas. Justificação notarial…, op. cit., p. 253.
89

como provável que aqueles que não disponham do título, tenderão a recorrer aos
tribunais para dar prova do seu direito num processo mais moroso e dispendioso
para através de uma ação obter a declaração do direito de propriedade com base na
usucapião e desse modo poderem beneficiar da presunção apos o registo.305
O papel da justificação notarial é apenas suprir a falta de documento para o
registo obrigatório. Ela está no mesmo nível de outras formas de celebração de
negócio sobre imóvel, deste modo não pode ser diminuído por se considerar que
possa vir a ser usado de forma fraudulenta.306 Essa menor segurança que se invoca
tem em contrapartida o cumprimento de algumas diligências e exigências. Alguns
desses cuidados que se tem na escritura de justificação não se verificam nos demais
documentos.307 A avaliação negativa não pode ser feita no plano constituído mas no
plano político legislativo.308 A justificação notarial não se limita a declaração feita
pelo justificante e confirmação dos declarantes, existe determinados cuidados que é
rodeado e garantias especiais para o titular que se encontrar inscrito.309 Ela é útil
uma vez que permite aceder ao registo situações que de outra forma não era
possível, diminuindo o número de imóveis não registados e ao faze-lo aproxima a
informação do registo com a realidade substantiva, permitindo que a informação que
está no registo esteja atualizada, contribuindo para a segurança jurídica e circulação
dos bens.310 A escritura de justificação como outras formas de formalizar tem o
mesmo nível na ordem jurídica portuguesa.311 Os cidadãos beneficiam da presunção
de boa-fé e não como fraudulentos. Não podendo haver uma sobreposição do
judicial sobre o legislativo, até porque este ponderou entre os benefícios e prejuízos
que podiam causar ainda assim entendeu que aqueles eram superiores e pode ser
confirmado pelo contexto histórico. Aquela interpretação que afasta a presunção não
só não está de acordo com a lei, como não é socialmente adequado. Tende a ser
uma valoração negativa e até preconceituosa com esta figura que tende a
generalizar a desconfiança em relação a todos os cidadãos que a ele possam
recorrer para efetuar o registo diminuindo a credibilidade da justificação notarial na

305
Maria Clara Sottomayor. O papel da jurisprudência…, op. cit., p. 402 e 408-409.
306
Isabel Ferreira Quelhas Geraldes, Olga Maria Barreto Gomes. Justificação relativa…, op. cit., p.
175.
307
Ibidem, p.177.
308
Ibidem, p.178.
309
Maria Clara Sottomayor. O papel da jurisprudência…, op. cit., p. 405.
310
Ibidem, p. 408.
311
Isabel Ferreira Quelhas Geraldes, Olga Maria Barreto Gomes. Justificação relativa…, op. cit., p.
176 - 177.
90

sua função de aproximar a realidade registal da substantiva.312 Não se pode alegar


para este efeito os perigos da mesma, uma vez que o legislador ponderou tendo
entendido que os benefícios eram maiores do que os perigos dele resultante.313 Por
outro lado aqueles que a usarem de forma fraudulenta ficam sujeitas a sanções
penais.314
O recurso a justificação notarial pressupõe que o direito existe devido a
celebração de um negócio ou de outra forma que legitima a titularidade do
justificante.315 Podendo apenas recorrer a ela se não houver litígio, pois se existir
passa a caber aos tribunais tratar da situação.316
Para que a justificação notarial possa ter lugar a necessidade do
preenchimento de determinados requisitos, como é o caso da confirmação dos
declarantes, inscrição na matriz317, entre outros (remetemos para a parte que
abordamos sobre os requisitos desta figura). A justificação notarial foi criada com
propósito de que o direito exista sendo apenas necessário um documento para
poder ser feito o registo. Se o notário é confrontado com uma situação em que não
fica convencido que o direito pertence aquele que pretende justificar, apesar dos
documentos e das testemunhas, deve recusar faze-la, o mesmo se diga do
conservador no que diz respeito ao registo se não fica provado a existência do
direito. Pressupõe que a existência do direito seja verdadeira e de conhecimento
público.318
A presunção do registo é atribuído independente do documento que serve de
base para o registo. Se o legislador não distingue, não cabe ao intérprete fazê-lo,
caso contrário desacredita a justificação notarial enquanto solução encontrada para
tentar aproximar a informação registal da realidade substantiva. O entendimento que
a presunção deve ser afastada quando registo é feito com base na justificação
notarial faz sobrepor o poder judicial ao poder legislativo podendo por em causa a

312
Maria Clara Sottomayor. O papel da jurisprudência…, op. cit., p. 402-403.
313
Acórdão de Uniformização de Jurisprudência n.º 1/2008 do Supremo Tribunal de Justiça – acórdão
de 04.12.07…, op. cit., p. 1879 (voto vencido do conselheiro João Camilo).
314
Idem.
315
Acórdão de Uniformização de Jurisprudência n.º 1/2008 do Supremo Tribunal de Justiça – acórdão
de 04.12.07…, op. cit., p. 1877 (voto de vencido do conselheiro Salvador da Costa).
316
Augusto Guimarães Mouteira Guerreiro. Notas sobre as justificações…, op. cit., p. 100; Maria
Clara Sottomayor. O papel da jurisprudência…, op. cit., p. 405.
317
Isabel Ferreira Quelhas Geraldes, Olga Maria Barreto Gomes. Justificação relativa…, op. cit., p.
176.
318
Maria Clara Sottomayor. O papel da jurisprudência…, op. cit., p. 403 e 405;
91

separação de poderes.319 Se a simulação não retira a presunção do registo, a não


ser após a prova de que existe falta de vontade, do mesmo modo as declarações do
justificante e declarantes se mostrarem ser falsas terá sempre a possibilidade de
acionar o direito penal que é o regime aplicável para esse efeito e não a falsidade do
documento, que só teria lugar se o notário tivesse dito diferente daquilo que
percecionou.320 O justificante que registou a sua aquisição beneficia da presunção,
que faz com que o ónus da prova passe a caber ao autor que deve provar que aquilo
que é invocado no registo não se verificou, até lá o registo presume que o direito
existe e pertence ao justificante mas apenas nos precisos termos que o registo o
define.321 O argumento histórico demonstra que ao longo dos tempos se segue a via
da desjudicialização, visto que começou com o processo judicial foi evoluindo e
atualmente existe além da justificação notarial o processo de justificação entre
outros fora dos tribunais, que nos aponta uma avaliação positiva deste instituto. O
CRegP de 1959 reforça a utilidade e importância desta figura face a morosidade dos
sistemas judiciais.322
A presunção não vem da escritura de justificação mas sim do registo323 e o
mesmo é aplicável a partir do momento que é feito o registo.324 Feito o registo com
base na escritura de justificação, esta cumpre a finalidade a que foi criada que é
suprir a falta de documento para registo e assim deixe-se a partir desse momento de
falar da eficácia da justificação notarial.325 Não existe qualquer limitação no artigo 7.º
do CRegP326, outro entendimento faria com que o prazo de 30 dias, no artigo 101.º
do CRegP, não tivesse o fundamento que o justifica. Pois que se assim fosse ao em
vez de estabelecer esse prazo bastava que assim que fosse comprovado que tinha
sido feito a publicação do extrato poderia ser passado a certidão para o registo.327 A

319
Maria Clara Sottomayor. O papel da jurisprudência…, op. cit., p. 409.
320
Ibidem, p. 404.
321
Idem.
322
Ibidem, p. 406 - 407.
323
Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 19.02.2013, Processo: 367/2002.P1.S, Relator:
Moreira Alves. Sítio: http://www.dgsi.pt. Acesso: 26 jun. 2018.
324
Acórdão de Uniformização de Jurisprudência n.º 1/2008 do Supremo Tribunal de Justiça – acórdão
de 04.12.07…, op. cit., p. 1878. (voto de vencido do conselheiro Salvador da Costa)
325
Idem (voto de vencido do conselheiro Alves Velho).
326
Ibidem, p. 1879 (voto de vencido do conselheiro João Camilo).
327
Acórdão de Uniformização de Jurisprudência n.º 1/2008 do Supremo Tribunal de Justiça – acórdão
de 04.12.07…, op. cit., p. 1879; Isabel Ferreira Quelhas Geraldes, Olga Maria Barreto
Gomes. Justificação relativa…, op. cit., p. 173.
92

328
que relembrar que é uma presunção iuris tantum , e a não atribuição do benefício
da presunção implica que o ónus da prova continue a caber ao réu, como
consequência a negação da presunção.329
A oponibilidade do artigo 5.º CRegP se efetiva com a presunção do artigo 7.º
do mesmo código.330 Em todas as situações quando existe impugnação deve ser
afastada a presunção do registo por afetar a credibilidade do registo, pois de outra
forma limitaria a escritura de justificação levando a quebra da homogeneidade.331
Não se percebe o motivo do afastamento já que aquele que impugna é quem deve
afastar a presunção.332
As objeções para impedirem o benefício da presunção sem que esta seja
ilidida, correspondem a uma análise restritiva que não tem qualquer autorização na
letra e no espirito da lei, presunção esta que visa acautelar a fé pública registal.333 O
afastamento da presunção tende a ir contra o artigo 9.º n.ºs 1 e 3 CC, os critérios
hermenêuticos da interpretação uma vez que não leva em conta o pensamento
legislativo e unidade da ordem jurídica e o pressuposto que o legislador consagrou a
solução mais adequada e exprimiu o seu pensamento de forma clara. A presunção
deve abranger o registo com base na justificação notarial que só ficará sem efeito
presuntivo mediante ação que declara a nulidade com transito em julgado e
determinar o seu cancelamento, pensamento em contrário infringe uma quebra da
334
unidade do sistema jurídico regulado nos artigos 13.º, 16 e 17 n.º 1 CRegP. O
intérprete não pode dar a entender ser outro, o pensamento do legislador por não ter
correspondência no mínimo com a letra da lei ainda que imperfeitamente expressa,
artigo 9.º, n.º 2 CC.335 Ao se ter limitado o âmbito de aplicação não ficou demostrado

328
Acórdão de Uniformização de Jurisprudência n.º 1/2008 do Supremo Tribunal de Justiça – acórdão
de 04.12.07…,op. cit., p.1879; Isabel Ferreira Quelhas Geraldes, Olga Maria Barreto
Gomes. Justificação relativa…, op. cit., p.167.
329
Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 19.03.2002, Processo: 02A197, Relator: Ribeiro
Coelho. Sítio: http://www.dgsi.pt. Acesso: 22 mar. 2020.
330
Isabel Ferreira Quelhas Geraldes, Olga Maria Barreto Gomes. Justificação relativa…, op. cit., p.
168.
331
Ibidem, p. 170 – cita José Alberto Vieira
332
Ibidem, p. 170-171;
333
Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 19.03.2002…, cit., na nota 329.
334
Maria Clara Sottomayor. O papel da jurisprudência…, op. cit., p. 408 e 409. Isabel Ferreira
Quelhas Geraldes, Olga Maria Barreto Gomes. Justificação relativa…, op. cit., P. 173.
335
Ibidem, p.171.
93

que o legislador disse mais do que queria dizer através de elementos extra literais,
elemento sistemático e teleológico.336
A interpretação feita pelos acórdãos dos tribunais STJ que defenderam
atribuição do benefício da presunção ao registo com base na escritura de
justificação notarial encontravam-se mais conforme com os preceitos na lei, indo ao
encontro das preocupações práticas por eles invocadas.337 Ao ser aberto uma
exceção para não aplicação da presunção, abala a fé pública registal e faz diminuir o
valor probatório da escritura de justificação. Esta permite que factos jurídicos que
estão previstos sejam titulados.338
Quando existe uma venda ou doação em que seja nula por falta de legitimidade,
ela é declarada a todo o tempo acontecendo o mesmo com a justificação notarial
(artigo 892.º e 956.º, n.º 1 do CC).339 A justificação notarial de factos jurídicos que
incida sobre a situação jurídico real de um prédio fica no mesmo patamar de
qualquer outro modo legítimo de titulação na ordem jurídica portuguesa.340 Tanto a
justificação notarial como uma compra e venda ou doação podem ser impugnados
em qualquer momento seja antes ou depois do registo.341 A valoração negativa deve
ser feita pelo legislador pois constitui um instituto consagrado por força de lei e que
visa a substituição do documento em falta e vai-se colocar ao lado de qualquer
modo de celebração de negócio jurídico sobre imóveis no nosso ordenamento
jurídico. A razão de poder ser utilizado de forma fraudulenta não pode justificar a que
342
seja desvalorizado ou diminuído no seu valor. Com o surgimento da lei n.º
116/2008 que determina a obrigatoriedade do registo, a atribuição do benefício da
presunção ao registo com base na justificação notarial é mais conforme com
aquela.343 O afastamento da presunção ao registo com base na escritura de
justificação faz com que o conteúdo do artigo 7.º do CRegP fique mais limitado e
tende a ser um ataque direto a justificação, visto em nenhum outro caso existe essa
limitação.344 Tendo em conta a origem legal, este afastamento cria o risco de haver
sobreposição judicial sobre o que está na lei, traduz-se consequentemente em afetar
336
Rui Paulo Coutinho De Mascarenhas Ataíde. Estudos de Registo Predial: Noções fundamentais,
efeitos substantivos do Registo Predial. Lisboa: AAFDL, 2017. P. 42.
337
José Lebre De Freitas. Justificação notarial…, op. cit., p. 254.
338
Maria Clara Sottomayor. O papel da jurisprudência…, op. cit., p. 402.
339
José Alberto Vieira. Registo de Usucapião titulada por escritura de justificação, op. cit., p. 41.
340
Ibidem, op. cit., p. 40-41.
341
José Alberto Vieira. Registo de Usucapião titulada por escritura de justificação, op. cit., p. 41.
342
Idem.
343
Maria Clara Sottomayor. O papel da jurisprudência…, op. cit., p. 408.
344
José Alberto Vieira. Registo de Usucapião titulada por escritura de justificação, op. cit., p. 40.
94

a separação de poderes, podendo a decisão do tribunal gerar atrito com a


constituição.345 A justificação permite ter acesso ao registo como legalmente está
expresso, em vez de recorrer aos tribunais que é mais cara e demora mais tempo.346
A justificação é um meio de suprir a falta de documento para o registo, não pode ver
diminuído a sua tutela quem recorre a ela de acordo com os termos que está
regulada na lei.347A destruição da presunção do artigo 7.º CRegP apenas se verifica
pelas formas previstas na lei por isso a impugnação do facto registado, como o
registo em si não afeta o beneficio da presunção que se mantém até o momento que
uma dessas situações indicadas tenha lugar.348

5.2- Analise das vantagens e desvantagens da justificação notarial com


base nas duas teses

De acordo com os argumentos apresentados pelos que defendem por um


lado atribuição da presunção e de outro daqueles que a negam nos chegamos a
conclusão que a justificação tem determinadas vantagens e desvantagens.
Começaremos pelas desvantagens, a que mais se destaca e que parece ser o
ponto fulcral da oposição da atribuição da presunção está no facto de poder ser
usada de forma fraudulenta por quem recorre a ela para titular direito que não
têm. Outra desvantagem é não haver contraditório e é complementada com o
facto de não existir prova do direito e a prova testemunhal ser considerada de
pouca fiabilidade. Na pratica as desvantagens que se pode apresentar se
resumem apenas no seguinte não se pode ter certeza que o direito existe e o
mais provável que o justificante não o tenha por isso tem de provar que o direito
lhe pertence. Nas vantagens, a justificação notarial permite aceder ao registo que
de outra forma não é possível por não ter documento para o efeito em
cumprimento da obrigatoriedade do registo dos factos a ele obrigados de acordo
com artigo 2.º do CRegP. Permite reduzir as situações em que a informação do
registo se encontra desatualizada e o número de prédios que se encontram

345
José Alberto Vieira. Registo de Usucapião titulada por escritura de justificação, op. cit., p. 40.
346
Idem.
347
Ibidem, p. 41.
348
Ibidem, p. 42.
95

omissos. Possibilita aproximação da informação que está no registo com a


realidade do prédio. Permite aumentar a confiança na informação do registo,
para os terceiros que a ele acedem reforçando com isso a fé pública registal.
Proporciona a aquele que vai vender o bem e não tenha título nem registo em
seu nome, poder aceder ao registo e vender em cumprimento ao estabelecido no
artigo 34.º, n.º 2 CRegP, sendo a justificação notarial como uma luz no final do
túnel. Neste último parece ser contraditório já que o bem se transfere por mero
efeito do contrato, no entanto o bem tem de estar registado naquele que
transmite para poder ser titulada a transmissão (artigo 9.º, n.º 1 CRegP), se não
vejamos, na prática temos que levar com conta que o direito se transfere por
mero feito do contrato (artigo 408.º,n.º1 CC) que é a forma de titular a
transmissão, se o vendedor não tem registo em seu nome não pode o notário
titular essa transmissão e sem titulo não há transferência do direito. Mas se
aquele não tem documento que lhe permite registar, pode recorrer a justificação
notarial para suprir a inscrição prévia em nome transmitente ou fazer uma
justificação simultânea (artigos 116.º, n.º 2 CRegP e 93 CN). A justificação
notarial bem como o processo de justificação permitem reduzir o número de
casos que podiam invadir o tribunal e sobrecarregar o sistema judicial com
situações que a partida não existiria conflito e por tanto desnecessário, iria
entupir o tribunal com situações que não é necessário dirimir um conflito, estes
que são precisamente o âmbito dos tribunais e dessa forma desviados das ações
que precisam da sua intervenção, tornando-o mais moroso e além do dispêndio
monetário que a ele está associado. Por isso é vantajoso porque ajuda o tribunal
a se desenvencilhar daquilo que não merece a sua intervenção e direcionar a
sua atenção para as situações do seu âmbito permitindo que seja mais célere por
ter menos sobrecarga desnecessária e por outro lado aquele que recorre a
justificação tem um resultado mais rápido para uma situação mais simples e por
um valor mais reduzido do que se tivesse que propor uma ação. Se vier a
verificar que de facto o direito não pertence ao justificante tem ainda a vantagem
dela poder ser impugnada a todo o tempo. Parece que é evidente que as
vantagens são superiores nem mais precisa ser dito aqui.
96

5.3 - A impugnação do registo com base na justificação notarial e 3º para


efeitos do registo

Na justificação notarial ao ser impugnado, o que se vai invocar é a existência


de falsas declarações, estando neste caso perante um vício substantivo que
torna o registo nulo, artigo 16.º, n.º1 alínea b) CRegP349. Se for provado existir
falsas as declarações quer dizer que o direito não existe e se não existe , tendo
havido transmissão estaremos perante uma venda de bens alheios (artigo 892.º
CC).
Na venda de bens alheios, o vendedor não tem legitimidade para vender o
imóvel e ainda assim o vende, essa venda é considerada nula entre vendedor e
comprador. Da mesma forma no artigo 291.º CC a nulidade só pode ser invocada
entre vendedor e comprador e contra eles, tanto que o terceiro não é afetado
caso venha adquirir o bem que registou antes do registo da ação de
anulabilidade ou nulidade desde que já tenha decorrido três sobre a venda nula
sem que tenha sido impugnada judicialmente e esteja de boa-fé. Mas voltemos
um pouco mais atrás, ao qual não se pode nem deve ignorar. Existe uma
propriedade, existe um direito de propriedade que é protegido
constitucionalmente, artigo 62.º CRP, sendo considerado um direito económico,
social e cultural, mas propriamente um direito económico. Direito esse que não
pode ser limitada ou retirada a não ser pelas formas prevista legalmente e essa
proteção é independente de estar registada ou não. Aquele que tem propriedade
com certeza teve que fazer um investimento no imóvel, seja monetário seja de
tempo quer na aquisição quer na conservação. Quando alguém vende o bem
desse proprietário sem disso ele tenha conhecimento, essa venda é ineficaz para
ele, sendo ineficaz pode opor ao vendedor, comprador e até o terceiro que neste
caso não fica protegido.350 Dr. Mónica Jardim entende que havendo falsas
declarações, o facto justificado é inexistente ainda que possa ter acedido ao

349
Mónica Jardim, A Evolução Histórica…, op. cit., p.448-451.
350
Mónica Jardim. Revisitando o art. 291.º do Código civil. Boletim da Faculdade de Direito.
Coimbra, Vol.63, Tomo 1, p. 167, 2017. Semestral; Comentário no artigo 291.º CC pela Juíza Maria
Clara Sottomayor, in: Luís Carvalho Fernandes, coord. II; José Brandão Proença, coord. Comentário
ao Código civil…, op. cit., p. 726. Luís M. Couto Gonçalves. A aplicação do artigo 291.º do Código
Civil á terceiro para efeitos de registo: Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 19.2.2004, Proc.
4369/03 Anotado. Caderno privado, Braga, n.º 9. P. 52, Jan./Mar. 2005. Trimestral.
97

registo, não se aplica a proteção de terceiros regulado no artigo 291.º CC pois o


terceiro não fica protegido da inexistência e nem do artigo 17.º,n.º 2 CC pois este
segundo o seu entendimento não abrange quando sejam vícios substantivos
ainda possam desencadear vícios registais, não afetando assim o direito do
proprietário que pode ir buscar mesmo já estando na esfera de terceiro351. Mas
podem de facto existir situações que quem recorre a ela de facto tem o direito e
quem o impugna nem sempre ser o bonzinho da história. Porque o problema é
ver o justificante o mau da história e o impugnante o bonzinho que vem garantir a
justiça. Ora na história do Capuchinho vermelho esta era vista como a boazinha
e o lobo o mau da fita ou mesmo no caso do João e o pé de feijão, se limitamos a
ver o João como bom da fita, então o gigante será sempre o vilão da história. O
que queremos dizer é que nos não devemos ter ideias pré-concebidas e partir
sempre do princípio que quem recorre a justificação não tem o direito sem o
contextualizar na situação em concreto, pois o juiz em busca da verdade tem ir
sempre ao sopé da montanha em busca da pedra Sísifo352, pois ela rolará
sempre novamente para lá. Estando limitados a verdade material não sabemos
quantas vezes a verdade ficou nas sombras. Então a lei existe para nos auxiliar e
nos iluminar, nos dar algo para nos equilibrar. Por isso na escritura de
justificação notarial existe com o pressuposto de que o direito existe tendo
apenas a função de suprir a falta do documento para aceder ao registo, ao ser
registado emite uma publicidade, essa informação do registo vai fazer que
alguém nessa base tome a decisão de adquirir e depois registar. De repente é
confrontado com uma ação de impugnação ao qual nem sequer é protegido pela
presunção do registo e na qualidade de terceiro só fica protegido se não ficar
provado as falsas declarações e apenas no caso do artigo 17.º, n.º 2 CRegP,
neste caso só se o verdadeiro proprietário não tiver registo em seu nome.353 Se
ficar provado as falsas declarações não beneficia da tutela registal o que quer
dizer que de nada valeu o registo. Apenas o justificante ou o terceiro estarão
protegidos quando houver aquisição pela via da usucapião, isso quer dizer que
afinal não atribuir a presunção ao registo com base na escritura de justificação

351
Mónica Jardim, A Evolução Histórica…, op. cit., p. 453-454.
352
Paulo Ferreira Da Cunha. Justificação (ou legitimidade) da filosofia e justificação do direito. In:
CUNHA, Paulo Ferreira Da. Filosofia do direito: Fundamentos, metodologia e teoria geral do direito.
2.ª Ed. Coimbra: Almedina, 2013. P. 74.
353
José Alberto Vieira. Os princípios de direitos..., op. cit., p. 275.
98

acaba por deixar o registo com menos credibilidade do que se atribui-se a


presunção. Vai então acontecer uma de duas coisas ou terceiro assume o risco
adquire e fica na iminência até adquirir pela usucapião mas neste caso tanto faz
se regista ou não e o mais provável é que não registe. Ou não adquire o que é
mais provável e aguarda que o justificante tenha adquirido por usucapião e só
depois adquire, tornando mais moroso a circulação dessa propriedade ficando
com certeza menos prestigiada fazendo de cair o seu valor e acabando por ser
vendido por uma bagatela. Ou os futuros adquirentes acabam por desistir por
saberem que foi por escritura de justificação notarial registado não querendo em
qualquer momento seja posto em causa o seu direito sem qualquer proteção e
agora vão tomar cuidado de investigar as aquisições anteriores para ter certeza
que nenhum foi registado com base na escritura de justificação fazendo com que
a circulação dos bens se torne mais moroso e fazendo cair o valor imobiliário. A
atribuição da presunção não impede que a impugnação possa ter lugar sempre
que for necessário. Mas a que lembrar que não podemos julgar o livro pela capa,
não podemos por todos no mesmo patamar, em todos os lugares existe pessoas
honestas e desonestas mas os honestos não devem pagar pelos desonestos.
Por isso devemos dar o benefício da dúvida e de qualquer forma a presunção é
iuris tantum que é afastado mediante prova em contrário. Por isso deve o
justificante beneficiar da presunção do registo que inverte o ónus da prova. Faz
todo o sentido que a atribuição da presunção se verifique.

5.5- A interpretação do artigo 7.º do CRegP e a posição adotada

Chegado aqui depois deste percurso, para podermos ter uma posição tem de
haver fundamentação. No acórdão de uniformização de jurisprudência, o STJ
entendeu que a justificação notarial não devia beneficiar da presunção do registo. O
Dr. Rui Ataíde354 entende que o tribunal fez uma interpretação restrita mas sem
demostrar que o legislador disse mais do que queria dizer. Partindo da base dessa
análise do autor que faremos a interpretação da lei. Não iremos ater numa

354
Rui Paulo Coutinho de Mascarenhas Ataíde. Estudos de Registo Predial…, op. cit., p. 42.
99

apresentação histórica da interpretação355, mas vamos direto a ponto do nosso


problema. A nossa interpretação é doutrinal pois é feito por alguém mediante uma
investigação científica. Antes de mais a que relembrar a finalidade da interpretação é
saber se cabe no âmbito da presunção registal, os registos feitos com base na
justificação notarial.
Dentro da interpretação doutrinal temos duas fases de uma mesma e uma única
interpretação, que se complementam entre si, e iremos usar a estrutura do autor
Teixeira De Sousa356. Os elementos são: o elemento literal e os elementos não
literais da interpretação. Estes últimos se subdividem em 3: 1- elemento histórico, 2-
elemento sistemático, 3- teleológico. O primeiro elemento procura encontrar o
sentido da letra, o segundo elemento vai de encontro ao espirito e conjuntamente se
encontra o sentido da lei357. Mas para se fazer a interpretação deve se seguir o que
vem regulado no artigo 9.º do CC.
A visão de que a lei sendo clara não precisa de interpretação encontra-se hoje
ultrapassada, já que para se dizer que a lei é clara tem se fazer a interpretação e
não se pode bastar com a letra da lei.358
O elemento literal é o ponto de partida e o limite mínimo e os elementos não
gramaticais são o limite máximo e o ponto de chegada, conjugando ambos leva ao
resultado que é o pensamento legislativo, a interpretação da lei.359
a) Elemento literal – com este elemento visa-se retirar da lei o pensamento
legislativo. De acordo com artigo 9.º, n.º 1 CC deve-se partir dos textos da lei
mas não se deve bastar com este. Ele é o patamar mínimo em que a

355
Para aprofundamento deste ponto vamos sugerir uma bibliografia que não é taxativa: Miguel
Teixeira De Sousa. Interpretação da lei. In: Introdução ao direito. Coimbra: Almedina. 2017. P. 337-
381. 4.ª Reimpressão. ; António Pedro Ferreira. A determinação da solução jurídica. In: Pedro Trovão
Rosário et al. Introdução ao direito. Coimbra: Almedina, 2016. P. 275-324; Inocêncio Galvão Telles.
Interpretação e integração da lei. In: Introdução ao estudo do direito. 11.ª Ed (Reimpressão),
Coimbra, 2001. P. 235-273. Volume 1; Luís Cabral De Moncada. Interpretação das leis; conceito e
objecto da interpretação; sentido da lei (mens legis). In: Lições de Direito civil: parte geral. 4.ª Ed
revista. Coimbra: Almedina, 1995. P. 140-161; José de Oliveira Ascensão. Interpretação. In: O
direito: introdução e teoria geral. 13.ª Ed. (refundida, 5.ª Reimpressão), 2011. P. 391-431. Marcelo
Rebelo De Sousa; Sofia Galvão. A interpretação da lei. In: Introdução ao estudo do direito. 5.ª Ed.
Lisboa: LEX, 2000. P. 55-75. Eduardo Vera-Cruz Pinto. Interpretar o artigo 9.º do código civil pela
lição da iurisprudentia romana: algumas considerações preliminares (parte I). In: Interpretatio
Prudentium: direito romano e tradição romanista em revista, Lisboa, Ano 2, N.º 1, p. 289-303, 2017.
Germano Marques Da Silva. A interpretação das leis. In: Introdução ao estudo do direito. Lisboa:
Universidade Católica Editora, 2006, p. 225-246.
356
Miguel Teixeira De Sousa. Interpretação da lei..., op. cit., p. 347-381, 2017.
357
Ibidem, p. 349.
358
Inocêncio Galvão Telles. Interpretação…, op. cit., p. 238; Germano Marques Da Silva. A
interpretação das leis…, op. cit., p. 226.
359
Miguel Teixeira De Sousa. Interpretação da lei..., op. cit., p. 356.
100

interpretação tem que ter o mínimo de correspondência verbal com a letra da


lei ainda que seja imperfeitamente expressa (n.º 2). O artigo 7.º CRegP tem o
seguinte teor ``o registo definitivo constitui presunção de que o direito existe e
pertence ao titular inscrito, nos precisos termos em que o registo o define.´´
Estamos perante uma presunção que tem existência a partir do momento em
que há o registo definitivo, e literalmente não existe qualquer referência qual o
documento que serviu de base e nem qualquer limitação. Apenas que a partir
do momento que exista registo definitivo existe presunção da existência do
direito em nome de quem está o registo feito, e nos termos em que o está.
Apenas estabelece que se alguém tem o registo no seu nome faz presumir
(exceto no caso de inexistência, nesse caso não é necessário fazer
referência) que o direito lhe pertence apenas e unicamente nos mesmos
termos que se encontra registado. Partindo da letra quem tem o registo
definitivo beneficia da presunção do artigo 7.º CRegP a seu favor, esse é o
ponto de partida, enquanto limite mínimo não se pode ignorar por completo a
letra da lei, tem que haver, um ponto de ligação deste com os elementos não
literais. Não podemos cingir só na letra da lei como diz o próprio artigo 9.º, n.º
1 CC, esta interpretação deve ser complementada com os elementos não
literais. Lembrado que deve-se partir do princípio que o legislador consagrou
as soluções mais acertadas e que sobe exprimir o pensamento de forma
adequada na fixação do sentido e alcance da lei (artigo 9.º, n.º 3 CC).
b) Elementos não literais ou que são os elementos que visam o espirito da lei.
i. Elemento histórico – artigo 9.º, n.º 1 CC determina que se deve ter em
conta ``as circunstâncias em que a lei foi elaborada´´. Temos que levar em
conta os trabalhos preparatórios, os relatórios, projetos, discursões
parlamentares, pareceres.
A presunção do registo parece já resultar da lei de forma indireta já que
se podia impugnar. Enquanto o sistema espanhol diz expressamente que
o registro da mera posse não prevalece sobre quem tenha melhor direito
ainda que não registado, nada era referido na legislação 1863 e 1864 no
sistema português. No entanto admite-se embargo apos a justificação
estar feita. Em 1918 quando surgiu o DL n.º 4619 de 13 de julho que
aparece o registo de domínio, 48 anos depois do surgimento da
presunção, nem um limite foi posto a presunção mesmo passando de
101

posse para domínio. Lembrando que presunção que se regulou é iuris


tantum por não se poder garantir a existência do direito. Sem esquecer
que em 1956 surgiu a justificação notarial, a 2ª justificação extrajudicial,
ainda que com compasso de espera de 1 ano para registo definitivo não
abalou em nada a presunção do registo, verifique desde o último decreto
até este decorreu 38 anos. Mesmo apos em 1959 ter eliminado o
compasso de espera de 1 ano para o registo definitivo e na presunção
acrescentou-se a existência do direito nenhum limite colocado nessa
altura.
Falta de tempo com certeza não foi e muito menos de ponderação por
parte do legislador, pois é impensável que de todo o tempo que decorreu
desde surgimento da justificação até agora, e com experiencia adquirida e
dos resultados apresentados não teria tido tempo e nem a preocupação
para ponderar sobre isso, já que o que está em causa é o direito de
propriedade que está consagrado constitucionalmente. Está demonstrado
ou pelo menos subentende que o legislador entendeu que a justificação
notarial não representa para a credibilidade do registo um inconveniente
maior do que as vantagens que pode trazer. O legislador teve tempo de
fazer desjudicialização e não teve tempo para pensar que haveria quem
usasse de forma fraudulenta a justificação? Teve tempo e ponderou não
só que por este meio se podia aceder ao registo sem direito, já que a
presunção é iuris tantum e não iuris et iure e salvaguardou interesses de
terceiros no âmbito fé publica registal, pois sabia e sabe que não pode
garantir a existência do direito mas que em princípio a existir, ele existe tal
qual como está consagrado no registo. Vê-se que de facto partindo do
artigo da lei decorre a presunção da existência apenas e só. É da vontade
do pensamento legislativo que registando tenha o direito e tudo deve fazer
aquele que elabora o documento ou o autentica e aquele que faz o registo
para garantir que aquele cujo registo é feito tenha o direito mas apenas
isso, não pode garantir que de facto o direito exista. Como naquele
exemplo que nos vimos, referido algures, que se dizia que o documento
depois do notário foi para o conservador e era ironizado o facto de que o
justificante tinha indicado que tinha plantado e colhido fruto num prédio
urbano. Entendemos que nem sequer devia ter chegado ao conservador,
102

o próprio notário ao ver discrepância dessa informação deveria ter


recusado a elaboração da justificação. Ou mesmo outro exemplo de um
cidadão que estava desesperado porque não tinha forma de fazer o
registo e ter um ajudante dito para este recorrer a justificação da mentira,
mas como se pode conceber tal, aqueles que deviam garantir que a
justificação fosse bem usada estarão a desvalorizar?360 Veja bem o
legislador viu na justificação uma saída, uma resolução do problema da
falta de documento, que permitia aceder ao registo, permitia cobrar
impostos e ainda cumprir a obrigação do registo e atualização da
informação deste. Verifique se nós todos fizermos o nosso papel, a
justificação será usada pelo fim que foi criado e ajudara o registo a
reforçar a sua credibilidade. Por isso na lei tem consagrado o trato
sucesso, a possibilidade de titulação apenas com o registo do
transmitente, a consolidação do direito e até o regime especial do registo
atributivo tem de certa forma o intuito de pressionar a quem tem o direito a
regista-lo e a justificação notarial tem o intuito de ajudar para que isso seja
possível, quando aquele que tem o direito não tenha documento para
registar, é esse o papel da justificação notarial. Aquele que recorre a ela
com intuito diferente deve ser responsabilizado. Tanto o notário como o
conservador devem garantir que tudo que fizeram para garantir que
aquele que recorre a justificação notarial e regista em princípio tenha o
direito.
Não foi possível encontrar pareceres, trabalhos preparatórios que
explicassem a existência dessa presunção. Nas discursões parlamentares
conseguimos perceber que existia uma crise económica em que havia
necessidade de cobrar impostos para fazer face as despesas, muitos
prédios sem registar, a situação de arrolamentos que não eram bem
aceites e as matrizes imperfeitas.

360
José da Fonseca e Silva. Justificação para fins de registo predial…, op. cit., p. 200. – Neste artigo
autor referiu ter aparecido no cartório, interessados que pretendiam recorrer a justificação para
reatamento do trato sucessivo mas existia uma lacuna registal. Aqueles limitaram a indicar o elo
faltoso sem dar elementos concretos para ser preenchido. Tendo que ``então o notário dar uma
explicação jurídica coerente, muitas vezes ``inventar´´, ``forjando uma inócua mentirola´´. Depois
indica que encaminhou os interessados para outro cartório por não se sentir ``a vontade de assumir a
responsabilidade da sua outorga´´.
103

ii. Elemento sistemático – o significado da lei é determinado de acordo com


contexto, visa que a interpretação esteja em conformidade com a unidade
do sistema jurídico. Impondo uma interpretação sistemática que não
garante que resulte uma interpretação que vá de encontro a unidade do
sistema jurídico. No artigo 9.º, n.º 1 CC ``tendo sobretudo em conta a
unidade do sistema jurídico´´ tem que a lei ser interpretada de acordo com
outras leis que tenham uma conexão sistemática de forma a conseguir
que haja unidade do sistema jurídico. Este elemento é orientado pelo
princípio da igualdade (artigo 13.º CRP). O elemento sistemático deve ser
considerado numa prespectiva atualista pois a lei tem que ser consistente
com os princípios e os demais sistemas jurídicos em toda a sua vigência.
A interpretação de acordo com o contexto leva em conta o contexto
horizontal (mesma hierarquia) e contexto vertical (hierarquia superior). Na
vertical temos a constituição, o direito europeu, na horizontal temos as leis
que com a lei interpretada resolvem a questão, e o significado das leis que
noutros sistemas jurídicos têm nas mesmas matérias.361 No contexto
horizontal de acordo com enquadramento sistemático, temos que levar em
conta primeiro o princípio da publicidade que vem regulado no artigo 1.º
CRegP em que a principal função do registo é dar a conhecer a situação
do prédio, por isso aquele que tem o prédio tem que o fazer registar
cumprindo a obrigatoriedade do registo (artigo 8.º-A, n.º1), pois só o
fazendo se verifica consolidação do seu direito e pode opô-lo á terceiros
(artigo 5.º,n.º 1). Convém o registo seja feito com celeridade pois
prevalece a prioridade do registo (artigo 6.º, n.º 1). Para que possa ser
titulada a transmissão tem que o registo estar em nome do transmitente,
artigo 9.º, n.º 1 CRegP, esta regra pode ser afastada e ser titulada se feita
a justificação simultânea (artigos 9.º, n.º 3, ultima parte CRegP e 93.º CN).
O artigo 34.º, n.º 2 CRegP encontra-se o princípio do trato sucessivo que
determina que apenas pode o adquirente registar, se existir prévia
inscrição em nome do transmitente ou ter documento que comprova a
titularidade dele, salvo se verificar os casos em que se pode recorrer a
justificação notarial, (artigo 116.º, n.º 2). O princípio da legalidade (artigo
68.º) tem o conservador de averiguar se está tudo em conformidade para
361
Miguel Teixeira De Sousa. Interpretação da lei..., op. cit., p. 362-366.
104

poder efetuar o registo definitivo. Estes artigos têm objetivo que o registo
seja feito o quanto antes e por quem por princípio tenha o direito para
garantir que a presunção do registo esteja o mais próximo da realidade. O
artigo 10.º estabelece que os efeitos de registo cessam por transferência
mediante novo registo ou extinção, este pode ser por caducidade ou
cancelamento. Quando se verifica uma impugnação, a lei presume o
pedido de cancelamento do registo (artigo 8.º), e se apenas presume, não
pode abalar a presunção que só se verifica com efetivo cancelamento do
registo e este se verifica com transito em julgado de uma decisão judicial
(artigo 13.º). A principal função do registo é a publicidade e existindo um
registo definitivo, dele vai decorrer a notícia da situação do prédio tal como
encontra-se registado e se alguém pensa adquirir um imóvel tem
obrigatoriamente de consultar o registo para garantir que a sua aquisição
seja titulada e para que possa aceder ao registo. O conservador para
registar primeiro vai verificar se de facto não existe dúvida que direito
pertence aquele que pretende registar, ou seja que a grande probabilidade
o direito lhe pertence, mas não pode garantir que assim seja. O registo
definitivo faz automaticamente surgir a presunção do registo que é um
efeito do registo que apenas deixa de se verificar quando há transmissão
que tenha sido registada ou tenha extinguido por caducidade ou
cancelamento (artigo 10.º CRegP). No caso da justificação notarial
havendo impugnação não afasta a presunção, já que no artigo 8.º CRegP
indica que a impugnação faz presumir o cancelamento do registo e não
que o mesmo é cancelado. O efeito do registo, no caso a presunção do
registo, só é afetado quando haja o efetivo cancelamento que só se
verifica quando haja trânsito em julgado da decisão judicial (artigo 13.º
CRegP). De acordo com esta sistematização o mais conforme com
unidade do sistema jurídico é atribuição da presunção do registo. Vamos
passar ao contexto vertical, quanto ao direito europeu, Portugal é membro
da associação europeia de registos prediais (ELRA) o objetivo é a
compreensão e o desenvolvimento do papel do registo predial nos
mercados imobiliário362 mas quanto a matéria de registo é regulado pelas

362
Registos prediais a nível europeu. Sítio: https://e-
105

leis registais de cada estado membro.363 Quanto a constituição temos que


levar em conta o princípio da igualdade (artigo 13.º CRP) que conjugando
a presunção de registo, se determina que a partir do momento que existe
registo definitivo funciona a presunção, então qualquer documento
legalmente aceite que permita aceder ao registo não afeta a presunção
que dai decorre se for impugnado. Temos ainda o direito de propriedade
privada (artigo 62.º CRP), o direito é garantido constitucionalmente que só
pode haver privação ou limitações nos casos expressamente regulados,
ora a presunção do registo não atribui o direito a quem não o têm (salvo
os casos do registo atributivo) sendo a mesma regra aplicada a
justificação notarial, e se por ventura quem tem registo não tem o direito,
pode o verdadeiro titular impugnar, provando que o direito não pertence
aquele, e recorda-se a presunção abrange apenas nos termos que está
registado, invocando o justificante situação diversa do registado fica
automaticamente elidida a presunção. O único sistema jurídico que
podemos referir é o sistema espanhol, no entanto este eliminou todos
artigos que se referiam a justificação. O regulamento hipotecário regulava
a justificação nos artigos 272.º, 283.º-284.º no título VI364 que era sobre a
concordância entre registro e a realidade jurídica que foi revogado
tacitamente pela lei 13/2015 de 24 de julho (que reforma a lei hipotecaria)
ao estabelecer a revogação de todos os artigos que opusessem ao
disposto nessa lei, de acordo com a resolução de 17 de novembro de
2015.365 Sendo que no artigo 9.º e no título VI da lei hipotecária estabelece
de forma de forma abrangente, sistemática e exaustiva a concordância do
registo com a realidade do prédio. No artigo 38.º da lei hipotecária366 no
título II trata da forma e efeitos do registo, este artigo regula presunção do
registo ao qual se presume a existência do direito em nome daquele que

justice.europa.eu/content_land_registers_at_european_level-108-pt.do. Acesso: 01/08/2020.


363
Relatório reunião – Roterdão – imola II, workshop e XXVIII Assembleia geral ELRA – 21 e 22
novembro 2019. Sítio: https://ascr.pt/general_pages/post/61. Acesso: 01/08/2020.
364
Sítio: https://www.notariosyregistradores.com/web/normas/reglamento-hipotecario-titulos-vi-vii-viii-
ix-y-x/#t6. Acesso: 18/08/2020.
365
Sítio: https://www.notariosyregistradores.com/web/resoluciones/por-meses/resoluciones-dgrn-
diciembre-2015/#r445. Acesso: 18/08/2020.
366
Sítio: https://www.notariosyregistradores.com/web/normas/ley-hipotecaria/#a38. Acesso:
18/08/2020.
106

tem o registo nos termos que se encontra no registo, mas nenhuma ação
contraditória pode ser exercida sem previamente ser pedido ao mesmo
tempo um pedido de nulidade ou cancelamento, mas este pedido de
nulidade só pode basear em causas que estejam expressamente previstas
na lei quando deva causar prejuízo a terceiros.367 Embora Portugal e
Espanha sejam países com realidades diferentes, a questão é se deixou
ser necessário em Espanha e em Portugal continua a vigorar é um sinal
positivo dessa figura que continua a ser útil e necessário.
iii. Elemento teleológico - determinar qual a finalidade da lei. Procurar o
propósito que justifica a vigência da lei. Tem o intérprete que descobrir a
ratio legis da lei. Vem consagrado no artigo 9.º, n.º 1 CC ``condições
específicas do tempo em que é aplicada´´. Para poder determinar as
situações em que pode dar resposta tem que se compreender a lei.
Temos que levar em conta a estatuição em três pontos: 1º o que a lei
permite – que aquele que tenha o registo definitivo beneficia da presunção
do registo, 2º proíbe- que aquele que não tem o direito tente aceder ao
registo de forma a fraudar a informação que dai decorre, 3º obriga – que
seja feita o registo dos factos jurídicos que a ele estão sujeitos e que o
conservador tudo tenha feito para garantir que a informação do registo
esteja o mais próximo da realidade do imóvel. O elemento teleológico
deve ser considerado na prespectiva atualista e objetivista ou seja deve
ser dado o significado que corresponde a finalidade que a lei tem no
momento da interpretação. Deve-se atender as circunstâncias políticas,
culturais, sociais e económicas existentes no momento da interpretação e
determinar a finalidade que tem perante fatores que lhe são estranhas
como também os fatores jurídicos. Dentro do elemento teleológico, temos
fatores sistemáticos em que se determina o princípio formal ou material,
mas tem de ser o princípio que melhor se adequa aos interesses que essa
lei visa proteger.368 Neste caso em concreto parece nos que visa proteger
a credibilidade do registo e a publicidade que decorre e a fé pública
registal, dai fazer todo o sentido que seja o princípio da publicidade

367
Entendendo haver ai uma presunção iuris et iure, Sítio: https://e-
justice.europa.eu/content_land_registers_in_member_states-109-es-pt.do?member=1. Acesso:
18/08/2020.
368
Miguel Teixeira De Sousa. Interpretação da lei..., op. cit., p. 366-369.
107

regulado no artigo 1.º do CRegP. O elemento teleológico tem que levar em


conta frequentemente as regras da experiencia dentro da vida quotidiana
e fazer uma melhor interpretação devido ao grau de vivencia na
normalidade da vida quotidiana. Permite usar valores éticos, políticos ou
económicos para otimizar. A finalidade da lei tem consigo as
consequências com ele subjacente que resultam da sua aplicação. Neste
elemento que se pode determinar as situações de fraude a lei.369 A lei visa
dar resposta as situações de que quem tenha o direito possa beneficiar da
presunção, mas como não pode ter a certeza de quem realmente o tem ou
por o registo estar desatualizado, ou porque o registo foi feito com
documento falso, ou porque houve um erro no registo colocou se o nome
do proprietário um e afinal é outro, da mesma só pode decorrer uma
presunção que cuja finalidade é por princípio aquele que tem o registo
existe a grande probabilidade de a ele o direito pertencer. Essa presunção
tem conexão com a fé pública registal. A presunção do registo pretende
abarcar aquele é provável que tenha o direito ou que ainda o tenha. A
finalidade da presunção é atingir os verdadeiros proprietários ou pelo
menos aqueles que com grande probabilidade a tenham. Quando existe
falta de documento e como consequência falta de registo a justificação
notarial é o meio indicado para permitir o acesso ao registo e atualizar a
informação e dessa forma ir de encontro a presunção que dai decorre.
Não se pode através de outros documentos que se acede ao registo
garantir que realmente aquele que diz ter o direito realmente o tem, pois
se o problema fosse só a justificação notarial, a muito que o legislador
teria limitado a presunção ou estabelecido a presunção iuris te iure e no
caso da justificação notarial um registro provisório até aquisição por
usucapião, ou ainda com registo definitivo com ressalva que só valeria
como tendo o direito apos o decurso do prazo da prescrição. As
circunstâncias atuais e as legislações criadas para fazer face aos prédios
que se encontram omissos no registo mostram que a justificação ainda é
necessária de forma a fazer com que o registo aproxima-se da situação
atual do prédio. Verdade 50% dos prédios omissos encontram registado
graças aos novos meios legislativos criados, mais ainda que em Portugal
369
Miguel Teixeira De Sousa. Interpretação da lei..., op. cit., p. 370-371.
108

deixe de haver prédios omissos existe efetivamente a garantia que a


informação disponibilizada no registo vai acompanhar as mutações que
ocorrem na titularidade dessas propriedades? Parece um pouco difícil,
mas o tempo dará a sua justiça. Estamos num país onde existem pessoas
com casas arrendadas sem contrato, onde existe contratos a recibos
verdes e se calhar até se contorna para não pagar impostos, o que leva a
pensar que não haverão contratos sem forma ou mesmo partilha verbal.
Embora esteja ser resolvido a questão dos prédios omissos relativamente
ao reatamento do trato a justificação notarial continua a ser necessário e
não atribuição da presunção aos registos feito com base na justificação vai
ter como consequência a desatualização da informação registal. Assim
sendo faz todo sentido fazer funcionar a presunção a não ser que se
queria que o comércio imobiliário se torne moroso pelo receio de uma
possível utilização da justificação por alguém que não tenha o direito e
levando com que um possível adquirente tenha receio de adquirir ou
adquirindo abstenha de registar por existir falta de documentos em uma
das transmissões sucessivas mas que não recorre a justificação notarial
por não estar salvaguardado com o registo mais do que estaria se não
registasse.
Depois deste percurso, agora a que saber qual o resultado da interpretação,
se há lugar a uma interpretação restritiva ou uma interpretação declarativa.
Na interpretação restritiva a situação encontrar-se abrangido pela letra e não
pelo seu espirito e por isso se diz que o legislador disse mais do que queria dizer e
sendo necessário restringir a letra de forma que esse seja regulado por uma regra
de sentido contrário. Mas parece-nos que ficou demostrado que neste caso não se
verificou os casos de aplicação da interpretação restritiva, antes que a interpretação
que deva ter lugar é uma interpretação declarativa pois parece-nos que existe uma
coincidência entre o significado literal e o espirito da lei.
A nossa posição como já ficou assente vai de encontro ao resultado
encontrado ou seja deve o registo com base na justificação notarial beneficiar da
presunção do registo. Compreendemos que a justificação notarial com base na tese
oposta que esta ainda não está perfeita e os pontos invocados por aqueles tem o
seu que de razão e deve-se aproveitar esses pontos para melhorar ainda mais esta
figura que muita utilidade tem e pode continuar a ter se for reforçado os requisitos de
109

forma a aumentar a confiança por parte daqueles que a elaboram, registam como
daqueles que não tendo outro meio recorrem a ela. Ao longo do nosso trabalho
fomos referindo os pontos que devem ser melhorados dai não fazer sentido nos
repetirmos nesta parte final. No entanto queremos por fim acrescentar que deve
haver um meio-termo, o registo com base na justificação notarial deve beneficiar da
presunção desde que resulte da mesma toda informação e prova necessária que
permite demonstrar a existência do direito e não uma mera afirmação sendo sempre
analisado no caso concreto.
110

6- Considerações Finais

No começo da investigação verificamos que existia uma falta de concordância


em atribuir o benefício da presunção ao registo feito com base na justificação
notarial, que tendo impacto no comércio imobiliário, nos terceiros que pudesse vir a
adquirir daqueles o bem e em última analise o próprio estado decidimos estudar a
problemática da justificação em torno da presunção do artigo 7.º CRegP de forma a
determinar o alcance deste.
O objetivo geral era perceber se realmente a justificação notarial devia
beneficiar da presunção do registo ou não. Verificamos que a atribuir o benefício da
presunção é mais conforme com a unidade do sistema jurídico e trás consigo mais
vantagens tornando a informação do registo mais próxima da realidade do imóvel.
Esse objetivo foi alcançado uma vez que através dessa análise percebemos que de
facto a justificação trás um reforço ao registo que só é completa com a atribuição a
esta do benefício da presunção.
No primeiro capítulo procuramos fazer uma abordagem histórica para tentar
compreender como se chegou a justificação notarial que temos hoje e percebemos
que ouve sucessivas mudanças, principalmente na desjudicialização da justificação,
sendo primeiro judicial de mera posse para chegar a justificação extrajudicial. Além
disso se verificou a eliminação de alguns requisitos, que deixaram de justificar como
o compasso de 1 ano para poder ser definitivo o registo. Depois verificamos os
requisitos e os tipos do trato sucessivo tendo confirmado que o legislador teve
bastante cuidado ao adotar esta figura e ao longo do tempo ter avaliado de forma
positiva essa figura.
No segundo capítulo abordamos alguns aspetos da usucapião, visto que
sendo este invocado na escritura de justificação, tem de se indicar os concretos atos
matérias de posse, o início da posse e as circunstâncias que determinam e
consubstanciam a aquisição do direito pela via da usucapião. Aqueles que adquirem
pela via da usucapião acabam por ser os principais destinatários desta figura, a
análise da importância da justificação tem para este, se impunha, já que a usucapião
não precisa do registo para ter existência e nem para se opor a eventuais terceiros
registais.
111

No quarto capítulo falamos sobre o ónus da prova e a presunção legal, isso


porque pretendíamos perceber qual o impacto da atribuição da presunção de registo
a justificação e de facto o benefício da presunção atribui ao justificante que o invocar
a inversão do ónus da prova fazendo com que este não tenha que provar o direito
mas apenas que existe o registo em seu nome de forma definitiva e esta é a
principal razão da recusa de atribuição dessa presunção.
No quinto e último capítulo tentamos perceber os argumentos que levam a
negação ou atribuição do benefício da presunção e verificamos que a negação
dessa presunção está relacionada com algumas deficiências que precisam ser
reavaliadas e corrigidas e da outra posição a utilidade que ainda tem esta figura.
Com análise das vantagens e desvantagens percebemos que prevalece as
vantagens que demonstram ser esta figura útil e necessária.
Por norma aquele que quer registar nessas situações pretende vender ou
onerar o imóvel e isto tem impacto no terceiro que vai visualizar a informação no
registo pois este tomara a decisão de comprar ou não mediante a proteção que
possa ter caso possa existir uma causa de nulidade que possa afetar a sua
aquisição.
Analisamos por fim a interpretação do artigo 7.º CRegP de forma a perceber
se na norma existe lugar a limitação que afasta a aplicação a justificação notarial ou
se do pensamento legislativo ou letra e espirito da lei se deva ter por incluída a
justificação notarial, chegamos a conclusão que se verifica este segundo caso.
Desde do início desta dissertação fomos de opinião que a justificação notarial
deveria beneficiar da presunção de registo por nos parecer que a presunção
decorrendo do registo não estabelecia qualquer limite o que se veio a confirmar com
a nossa humilde análise.
Os elementos de estudo: quanto aos livros tivemos acesso na biblioteca da
FDUL, biblioteca nacional, arquivo nacional da torre do tombo, biblioteca da
Procuradoria-Geral da República e a biblioteca da Assembleia da República. Via
Internet, tivemos acesso a vários sítios na internet que estão expressamente
referenciados nas informações citadas com a data do acesso ao mesmo.
As principais dificuldades verificadas foram essencialmente pouco tempo
disponível por ter que conjugar a vida profissional com a investigação, não existir
trabalhos preparatórios referente a questão de atribuição da presunção ao registo
definitivo e por fim não foi possível realizar o inquérito que a nosso ver seria
112

relevante para este tema. Uma análise com base em dados estatísticos de forma a
confirmar o impacto que tem na prática com certeza seria um bom tema para uma
futura dissertação.
113

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Relator: Fonseca Carvalho. Disponível: http://www.dgsi.pt. Acesso: 21 março. 2020.

Acórdão do Tribunal da Relação do Porto de 26.05.2015, Processo:


8423/06.5TBMTS.P1, Relator: Manuel Domingos Fernandes. Sítio:
http://www.dgsi.pt. Acesso: 26 jun. 2018.

Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa de 24.06.2010, Processo:


101/04.6TBSRQ.L1-2, Relator: Maria José Mouro. Sítio: http://www.dgsi.pt. Acesso:
26 jun. 2018.

Acórdão do Tribunal da Relação de Guimarães de 05.02.2009, Processo: 2473/08-1,


Relator: Gomes Da Silva. Sítio: http://www.dgsi.pt. Acesso: 26 jun. 2018.

Acórdão do Tribunal da Relação de Guimarães de 24.04.2014, Processo:


129/11.0TCGMR.G1, Relator: Helena Melo. Sítio: http://www.dgsi.pt. Acesso: 26 jun.
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Acórdão do Tribunal da Relação de Guimarães de 04.12.2014, Processo:


1605/10.7TBFAF.G1, Relator: Conceição Bucho. Sítio: http://www.dgsi.pt. Acesso:
26 jun. 2018.
123

Acórdão do Tribunal da Relação de Guimarães de 12.03.2015, Processo:


169/12.1TBVPA.G1, Relator: Manuel Bargado. Sítio: http://www.dgsi.pt. Acesso: 26
jun. 2018.

Acórdão do Tribunal da Relação de Guimarães de 01.02.2018, Processo:


663/11.1.T8BBRG.G1, Relator: Sandra Melo. Sítio: http://www.dgsi.pt. Acesso: 26
jun. 2018.

Acórdão do Tribunal da Relação de Guimarães de 07.06.2018, Processo:


309/16.1T8VRL.G1, Relator: Maria Amália Santos. Sítio: http://www.dgsi.pt. Acesso:
26 jun. 2018.

Acórdão do Tribunal da Relação de Évora de 21.04.2010, Processo: 94/1997.E1,


Relator: Tavares De Paiva. Sítio: http://www.dgsi.pt. Acesso: 26 jun. 2018.

Acórdão do Tribunal da Relação de Évora de 03.03.2011, Processo: 399/1999.E1,


Relator: Mata Ribeiro. Sítio: http://www.dgsi.pt. Acesso: 26 jun. 2018.

Acórdão do Supremo Tribunal Central Administrativo Sul de 09.03.2017, Processo:


06842/13, Relator: Fonseca Carvalho. Sítio: http://www.dgsi.pt. Acesso: 21 março.
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Boletim dos Registos e do Notariado

Proc. N.º. 45/96 R.P.4, publicado no II Caderno do BRN nº 11/1996, p. 1-6. Sítio:
https://www.irn.mj.pt/IRN/sections/irn/legislacao/publicacao-de-brn/boletins-dos-
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Proc. N.º. 46/96 R.P.4, publicado no II Caderno do BRN nº 11/1996, p. 6. Sítio:


https://www.irn.mj.pt/IRN/sections/irn/legislacao/publicacao-de-brn/boletins-dos-
registos-e/ . Acesso: 16/01/2019.

Proc. N.º R.P. 83/98 DSJ-CT, publicado no II Caderno do BRN nº 2/1999, p. 7-12.
Sítio: https://www.irn.mj.pt/IRN/sections/irn/legislacao/publicacao-de-brn/boletins-
dos-registos-e/ . Acesso: 16/01/2019.

Proc. N.º R.P. 27/2000 DSJ-CT, publicado no II Caderno do BRN nº 6/2002, p. 5-6.
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Proc. Nº R.P. 253/2002 DSJ-CT, publicado no II Caderno do BRN nº 11/2003, p. 5-


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Proc. N.º R.P. 107/2003 DSJ-CT, publicado no II Caderno do BRN nº 11/2003, p.


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GONZÁLEZ, José. Qualificação de actos registáveis com intervenção notarial (Duplo


controlo de legalidade). In: Anexo BRN 1/2004. Sítio:
https://www.irn.mj.pt/IRN/sections/irn/legislacao/publicacao-de-brn/boletins-dos-
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FERREIRINHA, Fernando Neto. Justificação notarial para fins do registo predial. In:
Anexo BRN 01/2004, 15 p. Disponível:
https://www.irn.mj.pt/IRN/sections/irn/legislacao/publicacao-de-brn/boletins-dos-
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Proc. N.º R.P. 143/2000 DSJ-CT, publicado no II Caderno do BRN nº 3/2011, p. 3-


11. Sítio: https://www.irn.mj.pt/IRN/sections/irn/legislacao/publicacao-de-brn/boletins-
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Pareceres do Conselho Técnico

Parecer do CT de 26-05-2009, Proc. Nº R.P. 254/2008 SJC-CT, p. 1-18. Sítio:


http://www.irn.mj.pt/IRN/sections/irn/doutrina/pareceres/Pareceres-Conselho-
Tecnico/ . Acesso: 22/01/2019.

Parecer do CT de 23-09-2010, Proc. N.º R.P. 39/2010 SJC-CT, p. 1-19. Sítio:


https://www.irn.mj.pt/IRN/sections/irn/doutrina/pareceres/Pareceres-Conselho-
Tecnico/ . Acesso: 22/01/2019.

Parecer do CT de 16-12-2010, Proc. N.º R.P. 129/2010 SJC-CT, p. 1-13. Sítio:


https://www.irn.mj.pt/IRN/sections/irn/doutrina/pareceres/Pareceres-Conselho-
Tecnico/ . Acesso: 22/01/2019.

Parecer do CT de 30-06-2011, Proc. Nº R.P. 39/2011 SJC-CT, p. 1-11. Sítio:


http://www.irn.mj.pt/IRN/sections/irn/doutrina/pareceres/Pareceres-Conselho-
Tecnico/ . Acesso: 22/01/2019.

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