Você está na página 1de 5

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ PRESIDENTE DA XX VARA DO

TRIBUNAL DO JÚRI DA COMARCA DE XXX.

PROCESSO Nº XXXXXXXXXX

Jerusa, já devidamente qualificada nos autos do processo em epígrafe, por seu


advogado regulamente constituído, que este subscreve, inconformado com a decisão de fls
___, vem, tempestivamente, perante Vossa Excelência, interpor o presente

RECURSO EM SENTINDO ESTRITO

Com fulcro no artigo 581, inciso IV, do Código de Processo Penal.

Nesse ensejo, requer seja admitido o presente recurso, sendo a decisão proferida
conforme art. 589 do Código Penal, submetida ao juízo de retratação e, caso seja a mesma
mantida, pede seja o presente recurso, com inclusas razões, remetido ao Egrégio Tribunal
de Justiça, para fins de processamento e julgamento.

Nestes termos,
Pede deferimento.

DATA: 09.08.2016
LOCAL: XXXX

ADVOGADO: XXXX
OAB: XXXX
EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO.
RECORRENTE: JERUSA.
RECORRIDO: MINISTÉRIO PÚBLICO.
PROCESSO Nº XXXXXXXXXX.

Inconformado com a respeitável decisão do Juízo ad quo, vem, RECORRER EM


SENTIDO ESTRITO, pelas razões de fato e de direito a seguir expostas.

DOS FATOS

Jerusa trafegava com seu veículo em uma via de mão dupla. Atrasada para um
compromisso, mas ainda assim dirigindo no limite da velocidade permitida, ela decidiu
ultrapassar o carro a sua frente, o qual estava abaixo da velocidade.

No entanto, ao realizar a manobra, a recorrente não ligou a seta de sinalização e veio


atingir a motocicleta de Diogo, que estava em alta velocidade com sua moto no sentindo
oposto da via.

Importante frisar, que a própria recorrente chamou o socorro, a fim de ajudar a


vítima, contudo, Diogo faleceu em virtude dos ferimentos sofridos pela colisão.

Instaurado o respectivo inquérito policial, após o decurso das investigações, o


Ministério Público ofereceu denúncia contra Jerusa, atribuindo a prática de homicídio
doloso simples, na modalidade dolo eventual, com fulcro no artigo 121 e 18, ambos do
Código Penal.

O recorrido aduziu as imprevidências de Jerusa a respeito do resultado que poderia


causar ao não ligar a seta para realizar a ultrapassagem, além de não se atentar para o
trânsito em sentido contrário.

A denúncia foi recebida pelo juiz competente, e terminada a instrução probatória, o


juiz resolveu pronunciar a recorrente pela prática de homicídio simples, na modalidade
dolo eventual.
DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS

Ante ao exposto, a recorrente não praticou dolo e sim agiu com culpa, visto que o dolo
necessita do artifício que inspira a má-fé, contudo, de acordo com os autos, em momento
nenhum Jerusa assumiu o risco de provocar a morte da vítima, uma vez que conduzia seu
automóvel dentro dos limites da velocidade.
Jerusa estava apreensiva pelo atraso perante um importante compromisso
profissional, no entanto, estava dentro dos limites de velocidade que a via lhe permitia,
apenas desatendeu de ligar a seta sinalizadora, o que poderia ter evitado o acidente.

Devemos destacar, que a vítima conduzia sua motocicleta em alta velocidade.

Nesse sentido, o dolo se configura quando o agente prevê o resultado, tal hipótese não
se enquadra a conduta da recorrente.

Cumpre ressaltar, que Jerusa agiu com imprudência, sem o devido cuidado na ação, o
que caracteriza culpa em sua consulta comissiva.

Em outros termos, a conduta de Jerusa amolda-se naquela descrita no art. 302 do


Código de Trânsito Brasileiro, motivo pelo qual a recorrente deve responder pela prática,
exclusivamente, de homicídio culposo quando não há intenção de matar.

Diante do exposto, resta evidenciado que, de modo algum, a recorrente teve a vontade
de causar a morte da vítima. Ocorre que, Jerusa foi negligente ao não perceber que a seta
estava desligada.

Portanto, o delito deve ser desclassificado nos termos do art. 419 do Código de
Processo Penal, do homicídio doloso para o homicídio culposo.

“Art. 419 do CPP. Quando o juiz se convencer, em discordância com a acusação, da


existência de crime diverso dos referidos no §  1 do art. 74, deste Código e não for competente
para o julgamento, remeterá os autos ao juiz que seja.”

Vejamos o que se escreve Guilherme Nucci:

“culpa é o comportamento voluntário desatencioso, voltado a um determinado objetivo,


lícito ou ilícito, embora produza resultado ilícito, não desejado, mas previsível, que podia ser
evitado”.

Nesse sentindo, existirá culpa quando o agente deu causa ao resultado por
imprudência, negligência ou imperícia, nos termos do art. 18, inciso II, do Código Penal.

Dessa maneira, não tem como argumentar quanto ao homicídio praticado pela
recorrente.
Perceba-se que o direito pretendido pela recorrente encontra guarido no
posicionamento da jurisprudência:

TJ-MT – XXXXXX20218110000 MT
RECURSO EM SENTIDO ESTRITO – ART 121, §, IV, DO CP – SETENÇA DE
PRONÚNCIA – ACIDENTE DE TRÂNSITO – HOMICÍO DOLOSO – PEDIDO
DESCLASSIFICATÓRIO PARA HOMICÍDIO CULPOSO – PROCEDÊNCIA – FALTA
DE ELEMENTOS MÍNIMOS PARA PROVA QUE JUSTIFIQUEM A PRONÚNCIA A
TÍTULO DE CRIME DOLOSO CONTRA A VIDA – DESCLASSIFICAÇÃO DE DOLO
EVENTUAL PARA CULPA, DEMONSTRADA A IMPRUDÊNCIA DO RECORRENTE –
CONDENAÇÃO PELO ARTIGO 302 DA LEI 9.503/97 – RECURSO PROVIDO. DE
ACORDO COM PARECER DA PGJ. A pronúncia do réu conforme a denúncia somente
deve ocorrer se houver certeza ou dúvida quanto a ocorrência do dolo eventual sustentado
pela acusação. Em outras palavras, inexistindo qualquer elemento mínimo de convicção a
apontar para a prática de homicídio, em acidente de trânsito, na modalidade de dolo
eventual, não é possível a submissão do réu ao julgamento perante o Tribunal do Júri,
sendo, pois, imperiosa a desclassificação do crime, para o previsto no art. 302 do CTB,
uma vez, que as circunstâncias do caso concreto demonstram que o recorrente agiu com
culpa ao trafegar, em via pública, sem a devida atenção, cautela e prudência.

Desse modo, procedendo tal desclassificação deve-se reconhecer a incompetência do


Tribunal do Júri para julgamento de Jerusa, ora recorrente, uma vez que não cometeu
crime doloso contra vida.
DOS PEDIDOS

Diante do exposto, requer:

1. Conhecimento e provimento do presente recurso;

2. Que seja a decisão do juízo a quo REFORMADA, a fim que o delito seja
desclassificado, nos termos do art. 419, do Código de Processo Penal, com
intuito da recorrente responder pelo delito de homicídio culposo.

Termos em que, pede deferimento.

LOCAL: XXXXXX
DATA: 09.08.2016

ADVOGADO
OAB

Você também pode gostar