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3ª e d i ç ã o
Revista, Atualizada e Ampliada
4 Ulisses Vieira Moreira Peixoto
Direito Imobiliário - 3ª Edição
© Ulisses Vieira Moreira Peixoto
J. H. MIZUNO 2020
Revisão:
Eliane Chainça
Inclui bibliografia
Inclui índice alfabético remissivo.
ISBN 978-85-7789-510-6
Nos termos da lei que resguarda os direitos autorais, é expressamente proibida a reprodução total ou
parcial destes textos, inclusive a produção de apostilas, de qualquer forma ou por qualquer meio, eletrônico
ou mecânico, inclusive através de processos xerográficos, reprográficos, de fotocópia ou gravação.
Qualquer reprodução, mesmo que não idêntica a este material, mas que caracterize similaridade
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A violação dos direitos autorais caracteriza-se como crime incurso no art. 184 do Código Penal, assim
como na Lei n. 9.610, de 19.02.1998.
O conteúdo da obra é de responsabilidade do autor. Desta forma, quaisquer medidas judiciais ou
extrajudiciais concernentes ao conteúdo serão de inteira responsabilidade do autor.
Impresso no Brasil
Printed in Brazil
DIREITO IMOBILIÁRIO 5
APRESENTAÇÃO
Esta Obra, elaborada pelo jurista Ulisses Vieira Moreira Peixoto, destaca-se
pelo conteúdo doutrinário e também pela sua eficiente parte prática, pois o autor
reuniu, em um único volume, vários temas do Direito Imobiliário, proporcionando
ao leitor um amplo conhecimento da matéria abordada. Forma-se, assim, um valioso
instrumento de trabalho para ser utilizado como fonte de informações e orientação
prática.
O autor desenvolveu os temas abordados no presente Livro em consonância
com o Novo CPC, com o Código Civil, com a Constituição da República de 1988, etc.
Desse modo, por exemplo, consta o Usufruto no Código Civil; o Usufruto no Novo
CPC; o Usufruto na CRFB de 1988. Além disso, temos também a Usucapião no Código
Civil; a Usucapião na CRFB de 1988; a Usucapião Extrajudicial conforme o Novo CPC;
a Usucapião Especial de Imóveis Rurais (Lei nº 6.969, de 10 de dezembro de 1981) e
uma parte referente à Produção Antecipada de Prova no Direito Imobiliário, etc.
A parte prática conta com vários modelos, como: peça inicial, contestação,
recursos, entre outros(as).
Por tais dizeres, apresentamos à comunidade jurídica um Livro possuidor de
um entendimento claro e prático, que será fundamental no desenrolar das suas
atividades jurídicas.
8 Ulisses Vieira Moreira Peixoto
DIREITO IMOBILIÁRIO 9
Sumário
PARTE 1
POSSE E PROPRIEDADE
PARTE PRÁTICA
1 Procuração Ad Judicia........................................................................................................................ 85
2 Pedido de adiamento da audiência por motivo justificado................................................................. 86
3 Pedido de adiamento da audiência pelo advogado............................................................................ 87
4 Mudança de endereço........................................................................................................................ 88
5 Pedido de vista dos autos.................................................................................................................. 89
6 Pedido de desarquivamento dos autos.............................................................................................. 90
7 Interdito proibitório.............................................................................................................................. 91
8 Recurso de agravo de instrumento.................................................................................................... 93
9 Razões de recurso de agravo de instrumento.................................................................................... 94
10 Recurso de apelação........................................................................................................................ 101
11 Razões de recurso de apelação....................................................................................................... 102
12 Recurso de agravo de instrumento.................................................................................................. 105
13 Razões de recurso de agravo de instrumento.................................................................................. 106
PARTE PRÁTICA
1 Ação de manutenção de posse.......................................................................................................... 145
2 Ação de reintegração de posse.......................................................................................................... 149
3 Ação de reintegração de posse.......................................................................................................... 155
4 Pedido de imissão na posse de imóvel arrematado........................................................................... 161
5 Ação reivindicatória............................................................................................................................ 162
DIREITO IMOBILIÁRIO 13
PARTE 2
USUFRUTO E USUCAPIÃO
PARTE PRÁTICA
1 Contestação....................................................................................................................................... 202
2 Pedido de cancelamento de usufruto feito pelo beneficiário.............................................................. 206
3 Pedido de extinção de usufruto administrativamente......................................................................... 207
4 Pedido de extinção de usufruto por extinção da pessoa jurídica....................................................... 208
5 Pedido de extinção de usufruto.......................................................................................................... 210
6 Contrarrazões de agravo de instrumento........................................................................................... 211
7 Contrarrazões..................................................................................................................................... 212
8 Contrato de usufruto........................................................................................................................... 216
9 Instrumento particular de doação de pai para filho............................................................................. 218
10 Recurso especial.............................................................................................................................. 220
11 Razões do recurso especial............................................................................................................. 221
pARTE PRÁTICA
1 Ação de usucapião............................................................................................................................. 258
2 Ação de usucapião............................................................................................................................. 263
3 Ata notarial de usucapião extrajudicial............................................................................................... 267
4 Certidão de usucapião........................................................................................................................ 272
5 Recurso de apelação.......................................................................................................................... 273
6 Razões de recurso de apelação......................................................................................................... 274
7 Recurso de apelação.......................................................................................................................... 279
8 Razões de recurso de apelação......................................................................................................... 280
9 Recurso de apelação.......................................................................................................................... 285
10 Razões de recurso de apelação....................................................................................................... 286
PARTE 3
PENHORA, HIPOTECA E LAJE
PARTE PRÁTICA
1 Pedido de homologação do penhor legal........................................................................................... 378
2 Pedido de alienação judicial do direito penhorado............................................................................. 380
3 Pedido de impenhorabilidade de bem de família............................................................................... 381
4 Pedido de impenhorabilidade de quantia depositada em banco e tornada indisponível.................... 383
5 Pedido de substituição da penhora.................................................................................................... 384
6 Pedido de redução (ou) ampliação (ou) transferência da penhora.................................................... 385
7 Pedido de penhora de percentual de faturamento de empresa......................................................... 386
8 Pedido de nova avaliação do bem penhorado nos autos................................................................... 387
9 Pedido de adjudicação....................................................................................................................... 388
DIREITO IMOBILIÁRIO 19
pARTE PRÁTICA
1 Pedido de cientificação do credor hipotecário.................................................................................... 430
2 Pedido de hipoteca judiciária.............................................................................................................. 431
3 Pedido de oferecimento de fiança bancária ou garantia real............................................................. 432
4 Ação de obrigação de fazer................................................................................................................ 433
5 Ação de anulação de ato jurídico....................................................................................................... 437
6 Recurso de apelação.......................................................................................................................... 441
7 Razões de recurso de apelação......................................................................................................... 442
8 Recurso de apelação.......................................................................................................................... 446
9 Razões de recurso de apelação......................................................................................................... 447
PARTE PRÁTICA
1 Averbação no cartório de imóveis na matrícula originária.................................................................. 457
2 Abertura de matrícula do direito real sobre a laje no cartório de imóveis........................................... 458
3 Escritura pública de instituição de direto real sobre a laje................................................................. 459
PARTE 4
CONDOMÍNIO E VIZINHANÇA
PARTE PRÁTICA
1 Advertência ao condômino................................................................................................................. 590
2 Aprovação de contas, previsão orçamentária, etc.............................................................................. 591
3 Carta de convocação de assembleia, por condôminos...................................................................... 592
4 Carta de convocação para assembleia pelo síndico.......................................................................... 593
5 Edital de convocação de assembleia, por condôminos...................................................................... 594
6 Edital de Convocação para assembleia pelo síndico......................................................................... 595
7 Imposição de multa............................................................................................................................ 596
8 Recurso contra a imposição de multa................................................................................................ 597
9 Ação de divisão.................................................................................................................................. 598
24 Ulisses Vieira Moreira Peixoto
PARTE PRÁTICA
1 Ação de nunciação de obra nova....................................................................................................... 628
PARTE 5
LOCAÇÃO
pARTE PRÁTICA
1 Notificação do locatário, ao locador, denunciando o contrato............................................................ 696
2 Notificação encaminhada pelo fiador, dando notícia de sua exoneração.......................................... 697
3 Notificação exigindo novo fiador......................................................................................................... 698
4 Notificação comunicando a sub-rogação no contrato de locação...................................................... 699
PARTE 6
DISTRATO, RESCISÃO E REEMBOLSO E PROMESSA DE COMPRA E VENDA
PARTE PRÁTICA
1 Ação de rescisão de compromisso de compra e venda cumulada com devolução de valores.......... 717
PARTE PRÁTICA
1 Contrato particular de compra e venda de imóvel.............................................................................. 732
2 Notificação extrajudicial...................................................................................................................... 735
3 Ação de resolução de contrato por inadimplemento.......................................................................... 736
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PARTE 7
PRODUÇÃO ANTECIPADA DE PROVA NO DIREITO IMOBILIÁRIO
PARTE PRÁTICA
1 Produção antecipada de prova pericial com pedido de liminar.......................................................... 760
REFERÊNCIAS...................................................................................................................................... 763
PARTE 1
POSSE E PROPRIEDADE
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DIREITO IMOBILIÁRIO | Ulisses Vieira Moreira Peixoto
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POSSE NO CÓDIGO CIVIL PARTE 1: Posse e PropriedadE
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DIREITO IMOBILIÁRIO | Ulisses Vieira Moreira Peixoto
Por sua vez, a posse prolongada e qualificada com os requisitos próprios pode se transformar
em domínio ou outro direito real, assim como a propriedade sem a posse pode vir a
sucumbir.
Quanto às distinções, a posse é antes de tudo um fato, enquanto a propriedade é antes
de tudo um direito. O direito do possuidor é consequência do fato de sua posse (jus
possessionis).
A posse do proprietário é consequência do seu direito de possuir (jus possidendi).
Em regra, o simples possuidor só pode usar e fruir. O poder de disposição da coisa
(alienar, gravar, consumir, destruir) é inerente ao titular do domínio. O possuidor pode
ceder seus direitos sobre determinadas posses e comportar-se como dono (animo
domini), usando e alterando livremente a coisa.
A despeito da sua reconhecida eficácia erga omnes, a posse entre nós não constitui
um direito real típico. Nem sequer é registrável para efeito de usucapião de prazo mais
curto, como ocorre no Código Civil português (art. 1295 – registro da mera posse).
Em razão de seus maiores poderes, o proprietário pode opor o seu título ao possuidor e
recuperar a posse. Mas pode ocorrer que o possuidor oponha eficazmente o seu título
de posse ao proprietário, bem como a sua posse com os requisitos da usucapião.
Concluindo, a distinção entre a posse e a propriedade resulta do confronto dos dois
conceitos no Código Civil (artigos 485 e 524, respectivamente).
O proprietário tem o direito real de usar, gozar e dispor dos bens e de reavê-los do
eventual possuidor. Este tem apenas o exercício de fato do direito de propriedade e de
outros direitos reais limitados objetos de posse.
A posse é o instrumento, o meio ou forma de se exercer o direito de propriedade e o
direito real limitado, usando diretamente a coisa ou por meio de terceiro (fruindo), ou
resgatando o seu valor pela transferência do direito real e da posse a terceiro.
É sobretudo o instrumento de utilização e aproveitamento da coisa pelo não-proprietário.
Além da condição subjetiva e individualista de servir ao proprietário, a posse cada vez
mais amplia o seu conceito como instrumento objetivo de exploração econômica e
ética dos bens no interesse social.
Com a socialização do direito, relações de simples detenção vão-se transformando em
posses amparadas pelos interditos, a exemplo da locação, em que o Direito Romano
não reconhecia posse. Vai ampliando-se o círculo das posses dignas de autonomia e
proteção, a ponto de se tornarem polêmicas e duvidosas certas relações que o nosso
Código excluiu desse conceito.”2
2.1 Possuidor
Nos termos do artigo 1.196 do CC, considera-se possuidor todo aquele que
tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade.
2 COSTA, Dilvanir José da. O sistema da posse no Direito Civil. Disponível em: <http://www2.senado.leg.
br/bdsf/bitstream/handle/id/391/r139-08.pdf?sequence=4>. Acesso em: 01 junho de 2016.
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POSSE NO CÓDIGO CIVIL PARTE 1: Posse e PropriedadE
Relatam os doutrinadores Nelson Nery Junior e Rosa Maria de Andrade Nery que:
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DIREITO IMOBILIÁRIO | Ulisses Vieira Moreira Peixoto
Decidiu o TJRS que: “diante disso, tem a posse aquele que congrega os ele-
mentos “apreensão física da coisa” (que pode ser apenas potencial) e a “conduta de
dono’’. E a conduta de dono desvela-se pelo exercício de alguns dos poderes ineren-
tes à propriedade, que, à luz da norma substantiva civil em vigor, são o uso, o gozo
e a disposição da coisa. A propósito do tema, pontifica Tupinambá Miguel Castro do
Nascimento: “Como poderes inerentes à propriedade, têm-se os direitos de usar, de
fruir e de dispor. ( ... ) Acrescenta-se, como conteúdo da posse, o direito de dispor.
Aqui, o ‘jus disponendi’ é necessariamente parcial, visto que a posse não alcança
todo ele em sua inteira extensão no direito de propriedade. O fato da disposição no
direito dominical significa, numa observação primeira, o direito de seu titular alienar
o bem, transferindo-o para terceiro. A alienação, em qualquer de suas formas, faz
parte do ‘jus disponendi’. O dispor assim visto o possuidor não exerce, porque ele
não pode alienar aquilo que não lhe pertence. Contudo, o proprietário tem o direito,
pelo fato de ser proprietário, de locar, dar em comodato, etc., e o possuidor, mesmo
não sendo proprietário, não fica impedido de assim dispor. É, tal ocorrendo, exercício
de poder inerente da propriedade e ação que se configura como ato possessório.”
(TJRS - Ap. Civ. n. 70016396525, rel. Des. Pedro Celso Dal Pra, j. 31.8.2006).
Também decidiu o TJPR que: “há que se deixar bem claro ainda que nas ações
possessórias discute-se eminentemente o fato jurídico posse não sendo lícito apro-
fundar discussões acerca da propriedade. Quanto a isso, é pacífico o entendimento
no Superior Tribunal de Justiça, em se tratando de ação possessória descabe discus-
são de domínio, exceto se ambos os litigantes disputam a posse alegando proprie-
dade ou quando duvidosas ambas as posses suscitadas. (REsp 755861/SE, 4ª Turma,
Rel. Min. Jorge Scartezzini, j. 16.08.05, DJ 05.09.05).” (TJPR - Ap. Cív. n. 361.022-4, rel.
Des. Lauri Caetano da Silva, j. 13.9.2006).
E, por fim, decidiu o TJMG que: “assim, tem-se que a posse decorre de um po-
der de fato sobre a coisa e independe do título jurídico que a liga a seu possuidor (po-
der de direito). Nesse sentido, importa fazer a clássica distinção entre ‘ius possiden-
di’ e ‘ius possessionis’: o primeiro diz respeito ao direito de posse com fundamento
na propriedade, em outro, direito real ou mesmo obrigacional (faculdade jurídica de
possuir), enquanto o segundo, por sua vez, é o direito fundado na posse considerada
em si mesma (fato da posse), independentemente do título jurídico que o embasa.
Desse modo, é de se convir que, no âmbito das ações possessórias, discute-se o ‘ius
possessionis’, isto é, o poder de fato sobre determinado bem, sendo, portanto, irrele-
vante a invocação do domínio (ius possidendi).” (TJMG - Ap. Cív. n. 1.0024.02.798966-
4/001, rel. Des. Lucas Pereira, j. 8.11.2007).
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POSSE NO CÓDIGO CIVIL PARTE 1: Posse e PropriedadE
anula a indireta, de quem aquela foi havida, podendo o possuidor direto defender a
sua posse contra o indireto.
Na posse direta, conhecida também como imediata, o possuidor direto recebe
o bem, em virtude de direito real ou pessoal, ou de contrato.
Nesse sentido, citaremos, por exemplo, o usufruto, pois o usufrutuário usa e
goza a coisa frutuária, consequentemente, a posse direta. Dessa forma, o usufrutuário
utiliza-a economicamente, nos mesmos moldes do proprietário.
Ao passo que, na posse indireta, também conhecida como mediata, o possuidor
retem a posse indireta, porque concedeu ao usufrutuário o direito de possuir. Dessa
forma, conservou somente a sua propriedade.
Enunciados das Jornadas de Direito Civil do CJF: n. 501 da V Jornada de Direito
Civil do CJF: O conceito de posse direta, referida no art. 1.240-A do Código Civil,
não coincide com a acepção empregada no art. 1.197 do mesmo Código; n. 76 da
I Jornada de Direito Civil: O possuidor direto tem direito de defender a sua posse
contra o indireto, e este, contra aquele (art. 1.197, infine, do novo Código Civil).
Ensinam os juristas Nelson Nery Junior e Rosa Maria de Andrade Nery que:
Decidiu o TJRS que: “entretanto, no caso, em que pese com a locação haver
desdobramento da posse em direta - concessão do locador – e indireta - como
consequência do domínio ou outro direito real, a vantagem dessa divisão é que tanto um
como outro pode invocar a proteção possessória contra terceiro, por força do que
dispõe o art. 1.197 do Código Civil brasileiro. (...) Neste sentido, convém reproduzir
doutrina de Tupinambá Miguel Castro do Nascimento, que bem elucida a questão
da legitimidade do possuidor indireto para invocar proteção possessória contra terceiro:
“A posse indireta pode, identicamente, sofrer agressão de terceiro. O esbulho e a
turbação do tertius que, indubitavelmente, é lesão ao exercício da posse direta, viola
certamente a posse indireta porque, com antecipação, está criando obstáculos à
restituição da coisa e à reintegração da posse plena do então possuidor mediato”. A
posição doutrinária de Adroaldo Furtado Fabrício (p. 473, 1980) é firme a respeito:
6 NERY JUNIOR, Nelson e NERY, Rosa Maria de Andrade, Código Civil Anotado, p. 565.
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DIREITO IMOBILIÁRIO | Ulisses Vieira Moreira Peixoto
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POSSE NO CÓDIGO CIVIL PARTE 1: Posse e PropriedadE
“Fâmulo da posse. É o servo da posse. Aquele que detém a coisa em nome de outrem,
seguindo as orientações e as ordens de quem tem efetivamente a posse dela. O fâmulo
da posse acha-se em relação de dependência para com aquele em cujo nome detém a
coisa. Não tem direito à proteção possessória. Pode ser compelido à desocupação, no
interdito possessório ajuizado por quem tenha efetiva posse do bem.”7
2.4 Composse
Segundo o enredo do artigo 1.199 do CC, se duas ou mais pessoas possuírem
coisa indivisa, poderá cada uma exercer sobre ela atos possessórios, contanto que
não excluam os dos outros compossuidores.
Entende a doutrina que “composse está para a posse assim como o condomí-
nio está para o domínio [...]. O exemplo mais frequente de composse é a dos cônju-
ges, no regime da comunhão de bens, ao exercerem, sobre o patrimônio comum, os
direitos de compossuidores. Os atos de posse, praticados por um dos cônjuges, não
excluem atos semelhantes de seu consorte. O mesmo ocorre no caso de condomínio,
em que os condôminos são compossuidores. Tanto num como noutro exemplo, qual-
quer dos compossuidores pode reclamar a proteção possessória, caso seja turbado,
esbulhado ou ameaçado em sua posse.”9
Em seus nobres ensinamentos, os juristas Nelson Nery Junior e Rosa Maria de
Andrade Nery esclarecem que:
“Cada compossuidor só poderá exercer sobre a coisa atos possessórios que não excluam
a posse dos demais compossuidores, conforme prescreve o CC/1916623, 1 (CC 1314).
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DIREITO IMOBILIÁRIO | Ulisses Vieira Moreira Peixoto
10 NERY JUNIOR, Nelson e NERY, Rosa Maria de Andrade. Novo código civil e legislação extravagante
anotados, p. 395-396.
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POSSE NO CÓDIGO CIVIL PARTE 1: Posse e PropriedadE
“A posse exige, em princípio, que sua origem não apresente vícios. Posse viciada é
aquela cujo vício originário a torna ilícita. Como alerta Pontes de Miranda (1971, v. 10:
120), no mundo fático não existe o justo ou o injusto. Estes são conceitos jurídicos.
Procede injustamente aquele que atenta contra o Direito.”11
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DIREITO IMOBILIÁRIO | Ulisses Vieira Moreira Peixoto
adquirido. Posse de má-fé, por outro lado, é aquela constituída de forma violenta,
clandestina ou precária (artigo 489 do CC/1916 ou artigo 1.200 do Código Civil/2002).
Caso a posse seja de boa-fé, o possuidor terá direito de retenção pelo valor das
benfeitorias necessárias e úteis (art. 516 do CC/1916 - art. 1.219 do CC/02). Sendo
de má-fé, o possuidor terá direito de retenção e somente lhe serão ressarcidas as
benfeitorias necessárias (art. 517 do CC/1916 - art. 1.220 do CC/02). A reintegração da
apelada na posse do imóvel está condicionada à devolução, em favor dos apelantes, das
parcelas pagas referentes ao financiamento do terreno objeto da lide, condição que, se
não imposta, acarretaria o enriquecimento ilícito daquela, uma vez que, rescindido o
contrato, não persistiria causa justa para a retenção do montante recebido a título de
cumprimento da avença, não se olvidando, ainda, do fato de que a própria natureza do
bem - imóvel - garante a integralidade de sua restituição.” (TJMG - Processo: Agravo de
Instrumento-Cv. 1.0697.14.002680-1/001 0135901-78.2015.8.13.0000 (1). Relator(a):
Des.(a) Domingos Coelho. Data de Julgamento: 02/07/2015).
Decidiu o TJDFT que: “o esbulho possessório não é apenas consequência de
um ato de força ou ameaça contra a pessoa do possuidor, mas abarca também as
situações em que a posse é subtraída por qualquer dos vícios objetivos enumerados
no art. 1200 do Código Civil, quais sejam, violência, precariedade e clandestinidade.
O inadimplemento do contrato realizado não autoriza o esbulho possessório, que
constitui ato ilícito. Estando o recorrido inadimplente, deve o recorrente buscar
resguardar seus direitos por via da ação própria para desconstituir o negócio jurídico e
ser reintegrado na posse do bem, e não se valer do esbulho possessório. A boa-fé ou má-fé
não influencia no diagnóstico da posse injusta, mas somente tem relevo na discussão
de benfeitorias, frutos e prazo da usucapião.”(TJDFT - Ap. Cív. n. 2009.08.1.007966-0,
rel.ª Des.ª Gislene Pinheiro, j. 31.5.2012).