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Atualizada, Revista e Ampliada

A L I C E S A L DA N H A V I L L A R

Atualizada, Revista e Ampliada

Direito Civil. Direito Imobiliário. Direito Administrativo. Direito Constitucional. Direito Penal. Direito
Processual Penal. Direito Empresarial. Direito Previdenciário. Direito do Trabalho e Processual do Trabalho.
Direito Tributário e Processual Tributário. Direito Processual Civil. Direito Internacional. Sistema Financeiro
Nacional. Direito Militar.

SÚMULAS INTERPRETADAS
E COMENTADAS

ATUALIZADO ATÉ JANEIRO/2017


Direito Sumular STF - 2ª Edição
© Alice Saldanha Villar
J. H. MIZUNO 2017
Revisão: Alice Saldanha Villar
Diagramação: Dual Pixel
Capa: Arthur Villar
Foto da capa: Robson Cesco

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Maurício Amormino Júnior, CRB6/2422)

V719d Villar, Alice Saldanha.


Direito sumular: STF / Alice Saldanha Villar. 2.ed.

Leme: J. H. Mizuno, 2017.


895p. 24cm.

Inclui referências
Inclui índice remissivo.

1. Brasil – Supremo Tribunal Federal - Súmulas. 2. Súmula vinculante. I. Título.

ISBN 978-85-7789-308-9 CDD-348.81041


Índice para o Catálogo Sistemático
1. Direito Sumular : Brasil 348.81041
2. Súmula Vinculante 348.81041

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JH MIZUNO
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Impresso no Brasil
Printed in Brazil
Esta obra é dedicada ao leitor.
À Deus, agradeço pela força e tenacidade que me conduziram
ao longo dos anos de estudo e pesquisa necessários à elabolação
dessa obra.
À minha mãe Teresa, pela imensurável ajuda e incentivo
durante todo o processo de idealização e construção dessa
obra, pelo exemplo de vida, pelo carinho e atenção de todos os
dias que iluminam e alegram minha vida.
Ao meu pai Fernando, por todo o estímulo ao longo dos meus
estudos, pelos preciosos ensinamentos relativos à persistência
diária na luta por nossos objetivos.
Ao irmão Arthur Villar, pela alegria na convivência de
toda a vida e por todo o encorajamento.
Ao Ministro Luiz Fux e aos Desembargadores Celso Ferreira
Filho e Nagib Slaibi Filho, pela qualificada participação e
reconhecimento do meu trabalho.
A Ary Nogueira, por toda atenção e encorajamento durante
o percurso de elaboração dessa obra. À Bárbara Tardin e
Rodrigo Acosta, pela ajuda nas pesquisas bibliográficas e pela
amizade que construímos ao longo dos anos.
Que todo o meu ser louve ao Senhor, e que eu não esqueça
nenhuma das suas bênçãos!
Salmos 103:2
APRESENTAÇÃO

O surgimento das Súmulas de jurisprudência no sistema jurídico brasileiro deve-se à


destacada atuação do Ministro Victor Nunes Leal na Comissão de Jurisprudência do Supre-
mo Tribunal Federal na década de 60. Preocupado com o congestionamento de processos
na Suprema Corte, foi ele o idealizador da sistematização da jurisprudência em enunciados
sumulares. Com efeito, no ano de 1964, por meio de emenda ao regimento interno do Su-
premo Tribunal Federal, as Súmulas ingressaram em nosso ordenamento com o objetivo de
promover a estabilidade da jurisprudência e a celeridade da prestação jurisdicional através da
simplificação do trabalho dos advogados e do Tribunal, facilitando o julgamento das questões
mais frequentes. Com o tempo, as Súmulas se difundiram. Outros tribunais passaram a publi-
car seus próprios verbetes sumulares a fim de aprimorar o exercício da atividade jurisdicional
e, assim, promover a otimização da máquina judiciária.
As Súmulas de jurisprudência vêm ganhando cada vez mais prestígio. Tornaram-se in-
dispensáveis ao sistema jurídico vigente, marcado pela consagração dos ideais da segurança
jurídica e da prestação jurisdicional justa e tempestiva. Nesta senda, ergue-se o Direito Su-
mular como verdadeiro ramo do direito que, criado em consonância com o espírito da justiça
social, destina-se a orientar toda a comunidade jurídica.
Com o advento da Emenda Constitucional n. 45 de 2004, conhecida como Reforma
do Judiciário, foi introduzido no texto constitucional o art. 103-A para permitir ao Supremo
Tribunal Federal aprovar Súmulas com efeito vinculante e aplicação obrigatória para os de-
mais órgãos do Poder Judiciário e Administração Pública direta e indireta. O instituto trazido
pelo Constituinte Reformador, ao conferir caráter cogente às Súmulas de jurisprudência,
configura-se como instrumento de uniformização da jurisprudência, em favor da segurança
jurídica, de modo a aperfeiçoar a qualidade da prestação jurisdicional.
Dentre as mudanças implementadas pelo novo CPC, uma das mais marcantes é o for-
talecimento do sistema dos precedentes. Em seu art. 927, inc. IV, o novo diploma processual
civil afirma expressamente que os enunciados das Súmulas do Supremo Tribunal Federal, em
matéria constitucional, e do Superior Tribunal de Justiça, em matéria infraconstitucional,
passam a ser de observância obrigatória pelos juízes e pelos tribunais.
Em atenção ao princípio da segurança jurídica, o novo CPC formulou o princípio de
que a jurisprudência, pacificada ou sumulada, deve ser mantida, salvo se houver relevantes
razões recomendando sua alteração. Nos termos do § 4º do art. 927, “a modificação de enun-
ciado de súmula, de jurisprudência pacificada ou de tese adotada em julgamento de casos
repetitivos observará a necessidade de fundamentação adequada e específica, considerando
os princípios da segurança jurídica, da proteção da confiança e da isonomia”.
A advogada e professora Alice Saldanha Villar, detentora de vasto e notável conheci-
mento a cerca da jurisprudência consolidada do Supremo Tribunal Federal e no Superior Tri-
bunal de Justiça, após anos de estudo e pesquisa intensivos, aliado à capacidade didática que
lhe é própria, edita sua obra “Direito Sumular – STF”, pioneira na utilização da metodologia
esquematizada no estudo do Direito Sumular do Supremo Tribunal Federal. Sua abalizada
obra vem brindar a comunidade acadêmica e forense com um estudo dirigido de cada enun-
ciado sumular, facilitando a compreensão dos fundamentos que motivaram a edição de cada
verbete, bem como a análise do seu alcance e aplicabilidade.

Desembargador Celso Ferreira Filho


Segundo Vice-Presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro
Presidente da Comissão da banca examinadora de Direito Civil, Direito Processual Civil, Direito do
Consumidor e Direito da Criança e do Adolescente do concurso para ingresso na carreira da Magistratura do TJ/RJ.
PREFÁCIO

Uma das funções mais importantes que o Direito presta à sociedade é a de propiciar
relativa estabilidade institucional. Bem por isso, a segurança jurídica sempre foi um valor de
destacada eminência no ordenamento, manifestando-se com intensidade ainda maior no
âmbito da prestação jurisdicional. Em Portugal, os assentos da Casa de Suplicação, constan-
tes do chamado Livro da Relação, já serviam desde o Séc. XVI como fator de segurança na
interpretação das normas do direito comum e do direito português.1
O Supremo Tribunal Federal foi criado com essa denominação pela primeira Consti-
tuição republicana brasileira, promulgada 24 de fevereiro de 1981, que dispunha em seu art.
56 sobre a composição e nomeação de seus membros. O STF foi precedido, historicamente,
pela Casa de Suplicação do Brasil, criada pelo Príncipe Regente, quando da transmigração
da Família Real Portuguesa, por alvará de maio de 1808 e, posteriormente, pelo Supremo
Tribunal de Justiça, criado pela Constituição do Império de 1824. Não obstante terem sido
dotadas de competência bem menos ampla, essas duas Cortes representavam os fundamen-
tos do Tribunal instituído pelo regime republicano, em 1981.2
No ano de 1963, o Supremo Tribunal Federal publicou o primeiro verbete da Súmula da
sua jurisprudência predominante, fruto do trabalho do Ministro Victor Nunes Leal à frente da
Comissão de Jurisprudência da Corte. Esse meritório mister de uniformização jurisprudencial, que
teve por meta a estabilidade da jurisprudência e otimização da prestação jurisdicional, continua
trazendo excelentes resultados, revelando-se essencial à aplicação do Direito pelos juízes e Tribu-
nais de todo o país, bem como à atividade dos advogados e demais operadores do direito.
Com a Constituição de 1988, o Judiciário exerceu função imprescindível à consolida-
ção da democracia no Brasil,3 encarregado da tarefa de concretizar o extenso catálogo de
direitos fundamentais da nova Carta e assegurar o respeito às regras do jogo democrático.
O advento do neoconstitucionalismo4, que estimulou a exegese criativa e expansiva dos
dispositivos Constitucionais, em adição à força normativa dos princípios, tornou ainda mais
importante o conhecimento do direito tal como interpretado pelos Tribunais, a respeito das
mais variadas controvérsias públicas e privadas.
Por meio da Emenda Constitucional nº 45 de 2004, que operou a chamada Reforma
Judiciário, tivemos a criação do instituto da Súmula Vinculante, hoje consagrado no texto da
Constituição Federal (art. 103-A). Concebido com a finalidade de fortificar a realização do
princípio da segurança jurídica, este instrumento vem se revelando uma eficiente alavanca
no aprimoramento da transparência, celeridade e eficiência da prestação jurisdicional.

1 V. SILVA, Nuno José Espinosa Gomes da. História do direito português: fontes de direito. 5ª ed. Lisboa: Calouste
Gulbenkian, 2011.
2 V. Coleção Publicação Institucionais. O Supremo Tribunal Federal. Brasília. 1976, p. 7. Disponível na biblioteca
digital do Supremo Tribunal Federal.
3 Sobre o papel do Judiciário na consolidação de democracias constitucionais, v. KNEIP, Sascha. Verfassungsgerichte
als demokratische Akteure. Baden-Baden: Nomos, 2009. V. tb. RUSSELL, Peter H. Judicial Independence in Compa-
rative Perspective. In: Judicial Independence in the Age of Democracy: Critical Perspectives from around the World. Ed.:
RUSSELL, Peter H.; O’BRIEN, David M. Constitutionalism & Democracy Series, 2001.
4 V. COMANDUCCI, Paolo. Formas de (neo)constitucionalismo: un análisis metateórico. Trad. Miguel Carbonell. In
“Isonomía. Revista de Teoría y Filosofía del Derecho”, nº 16, 2002.
A Constituição de 1988 exige que a Súmula Vinculante seja aprovada por maioria de dois
terços dos votos do Supremo Tribunal Federal (oito votos), de ofício ou por provocação, após
reiteradas decisões sobre a matéria constitucional. Possuindo aplicação obrigatória para os demais
órgãos do Poder Judiciário e Administração Pública direta e indireta, as Súmulas com efeito vin-
culante configuram notável mecanismo de desafogamento do Poder Judiciário brasileiro, freando
a multiplicação de processos e a judicialização de conflitos relativos às matérias sumuladas, eis
que a decisão final do processo mostra-se esposada no comando do verbete sumular vinculante.
O Direito Sumular pátrio consubstancia ferramenta essencial no processo de moder-
nização do sistema judiciário brasileiro, auxiliando a solução célere e efetiva dos conflitos
bem como a concretização do princípio da segurança jurídica. Na dinâmica das relações
sociais, os verbetes sumulados, outrora representativos de entendimentos enraizados e quase
imodificáveis, precisam ser frequentemente reinterpretados pelas Cortes, fazendo com que
a leitura isolada dos enunciados não seja suficiente para a correta compreensão da matéria
respectiva.
Revela-se, portanto, extremamente complexa a tarefa de sistematizar e expor didatica-
mente o imenso conjunto de enunciados sumulares produzidos pelos Tribunais. Essa árdua
empreitada foi assumida com maestria pela Prof.ª Alice Saldanha Villar, que se debruçou sobre
a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, brindando seus leitores com um conteúdo
substancioso, claro e cuidadosamente organizado por temas. A obra ingressa no panorama
editorial brasileiro com a certeza de sucesso imediato, dado que atende às necessidades e
expectativas dos mais variados públicos. Estudantes, profissionais da advocacia, magistrados
e todos os que lidam diuturnamente com a enorme produção jurisprudencial do STF ganham
agora uma segura bússola para as suas jornadas.

Ministro Luiz Fux


Ministro do Supremo Tribunal Federal
Professor Titular de Direito Processual da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)
INTRODUÇÃO

O vocábulo jurisprudência, em seu sentido etimológico, significa justa prudência (do


latim: jus “justo” + prudentia “prudência”). Já numa acepção técnica, refere-se ao conjunto
das decisões judiciais reiteradas num mesmo sentido através da interpretação e aplicação do
Direito ao caso concreto.
A publicação das Súmulas constitui o resultado da atividade jurisprudencial realizada
pelos Tribunais para registrar a síntese da interpretação pacífica ou majoritária sobre determinado
tema. Trata-se de um procedimento de uniformização de jurisprudência no qual, ao mesmo
tempo em que se reforça e segurança jurídica por meio da estabilidade da jurisprudência,
simplifica-se o julgamento das questões mais freqüentes perante o Judiciário com vistas a
impedir a morosidade processual.
Conforme prevê o Regimento Interno do STF, a jurisprudência assentada pelo Supremo
Tribunal Federal será compendiada na Súmula do Tribunal. A inclusão de enunciados na
Súmula, bem como a sua alteração ou cancelamento, serão deliberados em Plenário, por
maioria absoluta (art. 102, caput e § 1º do RISTF).
Vale lembrar que a palavra “Súmula” (do latim: summula), que significa “sumário” ou
“resumo”, foi o termo cunhado pelo Ministro Victor Nunes Leal, no ano de 1963, para sistemati-
zar em enunciados curtos o que o Supremo Tribunal Federal vinha decidindo reiteradamente
nos seus julgamentos. Como bem apontou Fernando de Almeida1, “na terminologia original
e ainda na terminologia regimental, a expressão “Súmula” se referia ao conjunto dos “enun-
ciados”, publicada e atualizada periodicamente; a prática posterior consagrou também o uso
de “Súmula” significando cada enunciado”.
O art. 103-A da Constituição Federal de 1988, trazido pela Emenda Constitucional n.
45 de 2004, veio permitir ao Supremo Tribunal Federal aprovar Súmulas Vinculantes e aplicação
obrigatória para os demais órgãos do Poder Judiciário e Administração Pública direta e indi-
reta. De acordo com o mencionado dispositivo constitucional, “o Supremo Tribunal Federal
poderá, de ofício ou por provocação, mediante decisão de dois terços dos seus membros,
após reiteradas decisões sobre matéria constitucional, aprovar Súmula que, a partir de sua
publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder
Judiciário e à Administração Pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal,
bem como proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei”.
Contra a decisão que afronta o comando de Súmula Vinculante, nosso ordenamento
jurídico admite o manejo da Reclamação Constitucional. Nos termos do §3º do art. 103-A
da Constituição Federal, “do ato administrativo ou decisão judicial que contrariar a Súmula
aplicável ou que indevidamente a aplicar, caberá reclamação ao Supremo Tribunal Federal
que, julgando-a procedente, anulará o ato administrativo ou cassará a decisão judicial recla-
mada, e determinará que outra seja proferida com ou sem a aplicação da Súmula, conforme
o caso”. Na mesma linha, o art. 7º da Lei 11.417/06 estabelece que, “da decisão judicial ou

1 Cf. ALMEIDA, Fernando Dias Menezes de. Memória Jurisprudencial: Ministro Victor Nunes, Brasília: Supremo
Tribunal Federal, 2006, p.32, nota de rodapé n.3.
do ato administrativo que contrariar enunciado de Súmula Vinculante, negar-lhe vigência
ou aplicá-lo indevidamente caberá reclamação ao Supremo Tribunal Federal, sem prejuízo
dos recursos ou outros meios admissíveis de impugnação”.
Frise-se, ainda, que o art. 8º da Emenda Constitucional n. 45/2004, em relação às
Súmulas ordinárias anteriormente editadas pelo Supremo, determina que “somente produ-
zirão efeito vinculante após confirmação por dois terços de seus integrantes e publicação na
imprensa oficial, é dizer, nos mesmos moldes do quórum de aprovação da Súmula já emitida
com o referido efeito”.
A obra “Direito Sumular– STF” foi elaborada com o desígnio de servir de material
de referência para a comunidade acadêmica e forense no estudo completo e atualizado dos
enunciados sumulares do Supremo Tribunal Federal. Em treze capítulos temáticos, as Súmulas
encontram-se separadas por matéria e organizadas em seções. Em cada seção, os verbetes são
numerados em etapas, que seguem a ordem ideal para aqueles que pretendem se dedicar ao
estudo completo do tema. A análise de cada verbete é feita à luz da doutrina especializada
e da jurisprudência pátria, sistematizando e comparando os verbetes cujo conteúdo se com-
pleta ou se contrapõe. As Súmulas canceladas, superadas ou mitigadas virão destacadas em
tarjas de cor cinza, com os devidos comentários acerca de sua aplicabilidade. Com a finali-
dade de otimizar o estudo e a assimilação da matéria, trazemos quadros esquemáticos, a que
intitulamos “sínteses conclusivas”, ao final dos comentários a cada Súmula.
Por derradeiro, esperamos que esta publicação possa ser bastante útil aos concursandos,
acadêmicos e todos os profissionais do direito no estudo da jurisprudência sumulada do Supremo
Tribunal Federal. Desde logo, estamos abertos a sugestões e críticas com vistas ao constante
aprimoramento da obra.

A autora
NOTA À 2ª EDIÇÃO

A presente edição encontra-se totalmente revista, ampliada e atualizada conforme os


informativos de jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça,
bem como as inovações legislativas implementadas.
Além de incluir comentários as novas Súmulas, atualizei a obra trazendo os novos po-
sicionamentos dos Tribunais Superiores, ou apenas substituindo ementas por julgados mais
recentes. No mais, empreendi minuciosa revisão em todos os capítulos com vistas ao aprimo-
ramento da redação, sempre buscando melhorar a compreensão do leitor.
Nesta edição, foi dada atenção especial para o novo CPC (Lei n. 13.105 de 2015), que
entrou em vigor em março de 2016. Representando um passo fundamental para a evolução
do Poder Judiciário pátrio, o novo CPC, que tramitou no Congresso Nacional durante cinco
anos, será o primeiro Código de Processo Civil pátrio criado em regime democrático. Tendo
por compromisso atender aos anseios da sociedade moderna, o novo diploma processual foi
elaborado com o objetivo de simplificar os processos e, assim, agilizar o julgamento das
ações cíveis.
Além da consulta à doutrina especializada na análise comparativa entre o CPC de 1973
e o novo CPC de 2015, de grande valia foram os Enunciados consolidados no I, II, III, IV, V,
VI e VII Encontros do Fórum Permanente de Processualistas Civis. O Fórum Permanente
de Processualistas Civis é um evento fechado que reúne processualistas de todo o país. Essa
última edição (VII FPPC), realizada em São Paulo entre os dias 18 e 20 de março de 2016
na Universidade Presbiteriana Mackenzie, reuniu 687 processualistas e foi coordenado por
Fredie Didier Jr. (coordenação geral), Heitor Sica, Adriano Caldeira, André Pagani, Ricardo
Aprigliano e Fabiano Carvalho. Muito úteis foram também os Enunciados aprovados por cerca
de 500 magistrados de todo o País reunidos, no período de 26 a 28 de agosto de 2015, durante
o seminário O Poder Judiciário e o novo CPC, realizado pela Escola Nacional de Formação e
Aperfeiçoamento de Magistrados (Enfam).
Espero que esta publicação continue sendo bastante útil aos concursandos, acadêmicos
e todos os profissionais do direito no estudo da jurisprudência sumulada do Supremo Tribunal
Federal. Agradeço a todos os leitores. Críticas e sugestões podem ser encaminhadas para o
e-mail: alsv@terra.com.br.

A autora
Facebook: www.facebook.com/DireitoSumularBrasileiro
Blog: http://direitosumularbrasileiro.blogspot.com.br
Mídia: http://alice.jusbrasil.com.br
SUMÁRIO

CAPÍTULO I
DIREITO CIVIL.................................................................................................................. 25
SEÇÃO 1: Responsabilidade Civil................................................................................... 25
SEÇÃO 2: Contratos....................................................................................................... 45
SEÇÃO 3: Prescrição....................................................................................................... 59
SEÇÃO 4: Família e sucessões......................................................................................... 64
SEÇÃO 5: Direitos reais.................................................................................................. 82
SEÇÃO 6: Direito de Vizinhança.................................................................................... 92
SEÇÃO 7: Legislação Revogada...................................................................................... 94

CAPÍTULO II
DIREITO IMOBILIÁRIO................................................................................................... 97
SEÇÃO 1: Renovação de contrato.................................................................................. 97
SEÇÃO 2: Purga da mora................................................................................................ 101
SEÇÃO 3: Arbitramento de aluguel................................................................................ 102
SEÇÃO 4: Retomada do imóvel...................................................................................... 103
SEÇÃO 4.1: Retomada para uso próprio................................................................... 103
SEÇÃO 4.2: Retomada pelo promitente comprador................................................. 105
SEÇÃO 4.3: Retomada para descendentes................................................................ 106
SEÇÃO 4.4: Retomada para construção mais útil..................................................... 107
SEÇÃO 4.5: Prova da necessidade............................................................................ 108
SEÇÃO 5: Temas diversos............................................................................................... 111

CAPÍTULO III
DIREITO ADMINISTRATIVO........................................................................................ 121
SEÇÃO 1: Atos administrativos...................................................................................... 121
SEÇÃO 2: Poder de Polícia.............................................................................................. 123
SEÇÃO 3: Bens Públicos................................................................................................. 128
SEÇÃO 4: Prescrição administrativa............................................................................... 134
SEÇÃO 5: Processo administrativo disciplinar................................................................ 137
SEÇÃO 6: Desapropriação.............................................................................................. 143
SEÇÃO 7: Concurso Público........................................................................................... 161
SEÇÃO 8: Servidor Público............................................................................................. 168
SEÇÃO 8.1: Remuneração........................................................................................ 168
SEÇÃO 8.2: Vitaliciedade.......................................................................................... 189
SEÇÃO 8.3: Tempo de serviço................................................................................... 191
SEÇÃO 8.4: Demissão............................................................................................... 195
SEÇÃO 8.5: Disponibilidade..................................................................................... 199
SEÇÃO 8.6: Outros temas......................................................................................... 200
SEÇÃO 9: Legislação revogada....................................................................................... 208

CAPÍTULO IV
DIREITO CONSTITUCIONAL....................................................................................... 211
SEÇÃO 1: Remédios constitucionais.............................................................................. 211
SEÇÃO 1.1: Mandado de Segurança......................................................................... 211
SEÇÃO 1.1.1: Competência................................................................................ 211
SEÇÃO 1.1.2: Prazo de impetração e regras de cabimento................................. 219
SEÇÃO 1.1.3: Recursos ....................................................................................... 234
SEÇÃO 1.1.4: Temas diversos.............................................................................. 241
SEÇÃO 1.2: Habeas corpus ....................................................................................... 260
SEÇÃO 1.3: Ação popular......................................................................................... 271
SEÇÃO 2: Direitos fundamentais.................................................................................... 273
SEÇÃO 3: Competência legislativa e processo legislativo.............................................. 282
SEÇÃO 4: Tribunal de Contas........................................................................................ 290
SEÇÃO 5: Magistratura e Ministério Público................................................................. 297
SEÇÃO 6: Imunidade parlamentar................................................................................. 300
SEÇÃO 7: ADC e ADI................................................................................................... 304
SEÇÃO 8: Outros temas.................................................................................................. 311
SEÇÃO 9: Legislação revogada....................................................................................... 316

CAPÍTULO V
DIREITO PENAL................................................................................................................ 319
SEÇÃO 1: Medida de Segurança..................................................................................... 319
SEÇÃO 2: Regime de cumprimento da pena.................................................................. 321
SEÇÃO 3: Prescrição penal............................................................................................. 328
SEÇÃO 4: Tipificação penal............................................................................................ 334
SEÇÃO 5: Crime continuado.......................................................................................... 343
SEÇÃO 6: Sursis.............................................................................................................. 348
CAPÍTULO VI
PROCESSO PENAL............................................................................................................ 351
SEÇÃO 1: Ação penal..................................................................................................... 351
SEÇÃO 2: Competência ................................................................................................. 363
SEÇÃO 2.1: Competência por prerrogativa de função............................................. 363
SEÇÃO 2.2: Temas diversos....................................................................................... 373
SEÇÃO 3: Legitimidade.................................................................................................. 378
SEÇÃO 4: Sursis processual e transação penal................................................................ 382
SEÇÃO 5: Tribunal do Júri.............................................................................................. 386
SEÇÃO 6: Recursos......................................................................................................... 391
SEÇÃO 7: Nulidades processuais.................................................................................... 403
SEÇÃO 8: Execução Penal.............................................................................................. 419
SEÇÃO 9: Outros temas.................................................................................................. 425
SEÇÃO 10: Legislação revogada..................................................................................... 435

CAPÍTULO VII
DIREITO EMPRESARIAL................................................................................................. 437
SEÇÃO 1: Direito societário .......................................................................................... 437
SEÇÃO 2: Falência e concordata.................................................................................... 443
SEÇÃO 3: Títulos de crédito........................................................................................... 451

CAPÍTULO VIII
DIREITO PREVIDENCIÁRIO.......................................................................................... 457
SEÇÃO 1: Contribuições previdenciárias....................................................................... 457
SEÇÃO 2: Benefícios previdenciários............................................................................. 460
SEÇÃO 3: Dupla aposentadoria...................................................................................... 468

CAPÍTULO IX
DIREITO DO TRABALHO E PROCESSUAL DO TRABALHO................................ 471
SEÇÃO 1: Jornada de trabalho........................................................................................ 471
SEÇÃO 2: Insalubridade.................................................................................................. 477
SEÇÃO 3: Serviço noturno............................................................................................. 482
SEÇÃO 4: Remuneração, salário e adicionais................................................................. 486
SEÇÃO 5: Estabilidade.................................................................................................... 499
SEÇÃO 6: Extinção do contrato de trabalho.................................................................. 505
SEÇÃO 7: Acidente de trabalho..................................................................................... 514
SEÇÃO 8: Ação acidentária............................................................................................ 522
SEÇÃO 9: Prescrição ...................................................................................................... 528
SEÇÃO 10: Recursos....................................................................................................... 535
SEÇÃO 11: Competência................................................................................................ 540
SEÇÃO 12: Outros temas................................................................................................ 545

CAPÍTULO X
DIREITO TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL TRIBUTÁRIO........................................ 561
SEÇÃO 1: Princípios constitucionais tributários ............................................................ 561
SEÇÃO 2: Impostos federais ........................................................................................... 571
SEÇÃO 2.1: IR........................................................................................................... 571
SEÇÃO 2.2: IOF........................................................................................................ 582
SEÇÃO 2.3: IPI.......................................................................................................... 583
SEÇÃO 3: Impostos estaduais ........................................................................................ 585
SEÇÃO 3.1: ICMS..................................................................................................... 585
SEÇÃO 3.2: ITCMD................................................................................................. 603
SEÇÃO 4: Impostos municipais ...................................................................................... 611
SEÇÃO 4.1: IPTU...................................................................................................... 611
SEÇÃO 4.2: ISS......................................................................................................... 620
SEÇÃO 4.3: ITBI ...................................................................................................... 624
SEÇÃO 5: Taxas ............................................................................................................. 631
SEÇÃO 6: Empréstimo compulsório e contribuições ..................................................... 649
SEÇÃO 7: Crédito tributário .......................................................................................... 657
SEÇÃO 8: Imunidades e isenções .................................................................................. 670
SEÇÃO 8.1: Imunidades............................................................................................ 670
SEÇÃO 8.2: Isenções................................................................................................. 680
SEÇÃO 9: Administração tributária............................................................................... 683
SEÇÃO 10: Execução fiscal............................................................................................. 685
SEÇÃO 11: Legislação revogada e tributos extintos....................................................... 690
SEÇÃO 11.1: Imposto de consumo........................................................................... 690
SEÇÃO 11.2: Imposto de indústria e profissões........................................................ 691
SEÇÃO 11.3: Imposto de lucro imobiliário............................................................... 692
SEÇÃO 11.4: Imposto de venda e consignações....................................................... 693
SEÇÃO 11.5: Imposto federal do selo....................................................................... 695
SEÇÃO 11.6: Imposto estadual do selo..................................................................... 696
SEÇÃO 11.7: Outros impostos ................................................................................. 697
SEÇÃO 11.8: Taxa de previdência social.................................................................. 699
SEÇÃO 11.9: Taxa de despacho aduaneiro............................................................... 700
SEÇÃO 11.10: Outras taxas...................................................................................... 701
SEÇÃO 11.11: Legislação aduaneira......................................................................... 703
SEÇÃO 11.12: Execução Fiscal................................................................................. 704
SEÇÃO 11.13: Outros temas..................................................................................... 705
CAPÍTULO XI
DIREITO PROCESSUAL CIVIL...................................................................................... 707
SEÇÃO 1: Competência.................................................................................................. 707
SEÇÃO 1.1: Competência originária do STF............................................................ 707
SEÇÃO 1.2: Sociedade de economia mista............................................................... 709
SEÇÃO 1.3: Intervenção da União........................................................................... 713
SEÇÃO 1.4: Temas diversos....................................................................................... 714
SEÇÃO 2: Recursos......................................................................................................... 719
SEÇÃO 2.1: Apelação............................................................................................... 719
SEÇÃO 2.2: Agravo................................................................................................... 720
SEÇÃO 2.3: Agravo no auto do processo.................................................................. 725
SEÇÃO 2.4: Embargos de declaração........................................................................ 726
SEÇÃO 2.5: Embargos infringentes .......................................................................... 727
SEÇÃO 2.6: Embargos de divergência....................................................................... 733
SEÇÃO 2.7: Recurso extraordinário.......................................................................... 743
SEÇÃO 3: Ação rescisória............................................................................................... 785
SEÇÃO 4: Prazos............................................................................................................. 794
SEÇÃO 5: Honorários advocatícios................................................................................ 800
SEÇÃO 6: Valor da causa................................................................................................ 807
SEÇÃO 7: Citação e intimação....................................................................................... 808
SEÇÃO 8: Outros temas.................................................................................................. 812

CAPÍTULO XII
DIREITO INTERNACIONAL.......................................................................................... 833
SEÇÃO 1: Formas de exclusão do estrangeiro................................................................ 833
SEÇÃO 2: Homologação de sentença estrangeira.......................................................... 838
SEÇÃO 3: Legislação revogada....................................................................................... 840

CAPÍTULO XIII
SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL........................................................................... 843

CAPÍTULO XIV
DIREITO MILITAR............................................................................................................ 849
SEÇÃO 1: Servidor público militar................................................................................. 849
SEÇÃO 2: Processo penal militar.................................................................................... 855
SEÇÃO 3: Legislação Revogada...................................................................................... 862

REFERÊNCIAS.................................................................................................................... 863

ÍNDICE REMISSIVO.......................................................................................................... 871


DIREITO SUMULAR – STF

CAPÍTULO I
DIREITO CIVIL

Sumário: Seção 1. Responsabilidade Civil; Seção 2. Contratos; Seção 3. Prescrição; Seção 4. Família e sucessões;
Seção 5. Direitos Reais; Seção 6. Direito de Vizinhança; Seção 7. Legislação Revogada.

SEÇÃO 1: Responsabilidade Civil


Sumário: Etapa 1. Responsabilidade do banco pelo pagamento de cheque falso. Etapa 2. Indenização
da concubina por morte do amásio. Etapa 3. Nulidade da cláusula de irresponsabilidade no contrato de
transporte. Etapa 4. Responsabilidade do transportador pelo acidente com o passageiro. Etapa 5. Ação
regressiva promovida pela seguradora. Etapa 6. Composição do dano por acidente do trabalho ou de
transporte. Etapa 7. Responsabilidade civil do patrão ou comitente. Etapa 8. Salário mínimo como parâmetro
para fixação da pensão. Etapa 9. Indenização pelo acidente que cause a morte de filho menor. Etapa 10.
Responsabilidade civil da locadora de veículos por acidente de trânsito. Etapa 11. Indenização de danos
materiais decorrentes de ato ilícito. Etapa 12. Responsabilidade no transporte mercantil. Etapa 13. Vistoria
para ação de indenização em caso de avaria. Etapa 14. Direito autoral. Etapa 15. Indenização consistente em
prestações periódicas e sucessivas

1ª ETAPA: Responsabilidade do banco pelo pagamento de cheque falso

Súmula 28: O estabelecimento bancário é responsável pelo pagamento de cheque falso,


ressalvadas as hipóteses de culpa exclusiva ou concorrente do correntista. Data: 13/12/1963

A relação jurídica que se estabelece entre o banco e o correntista é típica relação de


consumo, que como tal, se sujeita às regras pertinentes à defesa do consumidor previstas na
Lei n. 8.078/90. Neste sentido, a Súmula n. 297 do STJ: “O Código de Defesa do Consumi-
dor é aplicável às instituições financeiras”.
Na condição de prestadora de serviço, a instituição bancária possui responsabilidade
objetiva pelos danos causados aos seus clientes, independentemente da verificação de culpa,
nos termos do art. 14, caput, do CDC. Tal responsabilidade só pode ser elidida se o banco
provar que, “tendo prestado o serviço, o defeito inexiste”, ou que há “culpa exclusiva do
consumidor ou de terceiro” (art. 14, parágrafo 3º, Ie II, do CDC), ou, ainda, se ocorrente
caso fortuito ou força maior.
A culpa exclusiva de terceiros apta a elidir a responsabilidade objetiva do fornecedor é
espécie do gênero fortuito externo - assim entendido aquele fato que não guarda relação de
causalidade com a atividade do fornecedor, absolutamente estranho ao produto ou serviço.
As fraudes ou delitos contra o sistema bancário, dos quais resultam danos a terceiros ou
a correntistas (tais como a falsificação de cheques, a abertura de conta-corrente por falsários,
clonagem de cartão de crédito, etc), configuram fortuito interno, pois fazem parte do próprio
risco do empreendimento e, por isso, não eximem o banco do dever de indenizar. Nesses
sentido é o comando da Súmula 479 do STJ:

»» Súmula 479/STJ: As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito
interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias.

25
CAPÍTULO I - DIREITO CIVIL > SEÇÃO 1

À luz do exposto, tem-se o seguinte quadro: os bancos possuem responsabilidade ob-


jetiva pelo pagamento de cheque falso, a qual é elidida pela culpa exclusiva do próprio cor-
rentista, do endossante ou do beneficiário. Em caso de culpa concorrente do banco e do
correntista, partilha-se o prejuízo.
Elucidando o tema, o ilustre Desembargador Federal Augustino Chaves assim expôs:1

“A relação entre o banco e o correntista é lastreada, em regra, em um contrato de


depósito irregular de coisas fungíveis, no caso, dinheiro, tratado pela jurisprudência
majoritária como modalidade do mútuo, através do qual o banco se torna proprietário
dos valores, ficando o cliente com o crédito respectivo a ser resgatado a qualquer tempo
ou no tempo previsto no negócio jurídico.
Exerce o banco, assim, atividade lucrativa na utilização e aplicação dos valores posto
em seu poder. Ao cliente, repita-se, assinala-se um crédito a ser resgatado; o bem em si,
o dinheiro, por sua fungibilidade, está com o banco, que dele se vale para a prática da
suas atividades financeiras.
Assim, na hipótese de fraude como meio para o saque indevido de dinheiro depositado
por correntistas em mãos da instituição financeira, o objetivo do fraudador é a obtenção
dos valores em poder da instituição financeira, lesando o banco, e não o correntista. A
conta do correntista é mero meio para fraude ao banco, sujeito que efetivamente tem o
poder de evitar o prejuízo que, em ocorrendo, é seu.
O princípio é o de que o risco pela guarda da coisa, no caso, o dinheiro, não é do
depositante, mas de quem faz do depósito a sua atividade lucrativa – o banco”

JURISPRUDÊNCIA TEMÁTICA:
◊ “(...) As instituições bancárias respondem objetivamente pelos danos causados por fraudes ou
delitos praticados por terceiros - como, por exemplo, abertura de conta-corrente ou recebimento
de empréstimos mediante fraude ou utilização de documentos falsos -, porquanto tal responsa-
bilidade decorre do risco empreendimento, caracterizando-se como fortuito interno. (...)” STJ
- REsp 1199782 PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, 2ª Seção, DJe 12/09/2011
◊ “(...) I. A segurança é prestação essencial à atividade bancária. II. Não configura caso fortuito
ou força maior, para efeito de isenção de responsabilidade civil, a ação de terceiro que furta,
do interior do próprio banco, talonário de cheques emitido em favor de cliente do estabeleci-
mento. III. Ressarcimento devido às autoras, pela reparação dos danos morais por elas sofrido
pela circulação de cheques falsos em seus nomes, gerando constrangimentos sociais, como a
devolução indevida de cheques regularmente emitidos pelas correntistas e injustificadamente
devolvidos. (...)” STJ - REsp 750418 RS, Rel. Min. ALDIR PASSARINHO JUNIOR, 4ª Turma,
DJ 16/10/2006
◊ “Cheque falso - Pagamento - Responsabilidade - Culpa recíproca. Havendo as instancias ordi-
nárias admitido que o correntista contribuiu para o fato, na medida em que facilitou a empre-
gada sua, o acesso aos talonários, do que se valeu para falsificar os cheques, a responsabilidade
reparte-se entre ele e o banco. Este deverá indenizar metade do prejuízo.” STJ - REsp 7246 RJ,
Rel. Min. EDUARDO RIBEIRO, 3ª Turma, DJ 08/04/1991

1 Cf. AC 438718 PB, Rel. Des. Federal Augustino Chaves, 3ª Turma, DJe 05/11/2009

26
DIREITO SUMULAR – STF

SÍNTESE CONCLUSIVA
A responsabilidade do banco pelo pagamento de cheque falsificado obedece a seguinte regra:
a. Se não houver culpa do correntista: O banco responderá objetivamente, em razão do
risco do empreendimento. Trata-se de fortuito interno.
b. Se houver culpa exclusiva do correntista: A responsabilidade da instituição bancária
é excluída. Neste caso, será do banco o ônus de provar a culpa exclusiva do correntista.
c. Se houver culpa concorrente do banco e do correntista: Partilha-se o prejuízo, ou
seja, a instituição bancária será responsável pelo dano causado, mas a culpa do cliente
atenua o valor a ser pago pelo banco. Neste caso, será do banco o ônus de provar a
concorrência de culpa.

2ª ETAPA: Indenização da concubina por morte do amásio

Súmula 35: Em caso de acidente do trabalho ou de transporte, a concubina tem direito


de ser indenizada pela morte do amásio, se entre eles não havia impedimento para o
matrimônio. Data: 13/12/1963

O presente verbete Súmular, criado à época da vigência do CC/1916, instituiu o direito


da concubina de ser indenizada pela morte do amásio quando esta se desse por acidente do
trabalho ou de transporte. Esta Súmula não se coaduna com a realidade atual do Direito
Brasileiro, tendo em vista sua segunda parte (“se entre eles não havia impedimento para o
matrimônio”) confronta-se com o artigo 1.727 do CC/2002, que aponta o impedimento para
o matrimônio como um pressuposto para o concubinato.
Alguns autores propõe a adequação da Súmula 35 do STF à união estável (artigo 1.723
do CC), sustentando que a Súmula 35 do STF deve ser interpretada não como norma volta-
da ao concubinato, mas à União Estável.2 A despeito de respeitáveis opiniões em contrário,
entendemos que a medida adequada seria o cancelamento da Súmula 35/STF, ou mesmo
sua revogação e substituição, dada a impossibilidade de equiparação, nos dias atuais, entre o
concubinato e a União Estável.
A união estável é a relação afetivo-amorosa entre um homem e uma mulher, con-
figurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de
constituição de família. Já o concubinato é a relação entre homem e mulher na qual existem
impedimentos para o casamento. Vê-se, pois, que a união estável não se confunde com o
concubinato.
Vejamos o tratamento dado a tais institutos pelo CC/2002:
»» CC/2002. Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher,
configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição
de família.

2 Cf., nessa linha: FERREIRA FILHO, Roberval Rocha. E outros. Súmulas do STJ - Organizadas por Assunto,
Anotadas e Comentadas. 4ª ed. Salvador: JusPODIVM, 2012, p. 125

27
CAPÍTULO I - DIREITO CIVIL > SEÇÃO 1

»» CC/2002. Art. 1.727: As relações não eventuais entre o homem e a mulher, impedidos de casar, consti-
tuem concubinato.

Conforme explica Ana Cláudia S. Scalquette3:

“Antes do Código Civil de 2002 entrar em vigor, existiam o concubinato puro e o con-
cubinato impuro. O primeiro era o nome dado às uniões entre pessoas desimpedidas
e o segundo era o nome dado às uniões entre pessoas desimpedidas e o concubinato
impuro era dado àquelas uniões em que havia algum impedimento. Atualmente, já com
a nova legislação civil, a nomenclatura foi alterada. Por força do art. 1.727 do Código
Civil, as relações não eventuais entre homem e mulher, impedidos de casar, constituem
concubinato.”

Sobre a matéria, merecem destaque as observações de Zeno Veloso4:

“A união estável é uma relação afetiva qualificada, espiritualizada, aberta, franca,


exposta, assumida, constitutiva de família; o concubinato, em regra, é clandestino,
velado, desleal, impuro. É um paradoxo para o Direito proteger as duas situações
concomitantemente. Isto poderia destruir toda a lógica do nosso ordenamento
jurídico, que gira em torno da monogamia. Isto não significa uma defesa moralista
da fidelidade conjugal. Trata-se de invocar um princípio ordenador, sob pena de se
desinstalar a monogamia”.

SÍNTESE CONCLUSIVA
A Súmula 35 do STF não se coaduna com a realidade atual do Direito Brasileiro, tendo em
vista que sua segunda parte (“se entre eles não havia impedimento para o matrimônio”)
confronta-se com o artigo 1.727 do CC/2002, que aponta o impedimento para o matrimônio
como um pressuposto para o concubinato.
ê
Por essa razão, entendemos que a medida adequada seria o cancelamento da Súmula 35/STF,
ou mesmo sua revogação e substituição.

3ª ETAPA: Nulidade da cláusula de irresponsabilidade


no contrato de transporte

Súmula 161: Em contrato de transporte, é inoperante a cláusula de não indenizar. Data:


13/12/1963

O contrato de transporte de pessoas é aquele em que o transportador se obriga a remo-


ver uma bagagem de um local a outro, mediante remuneração. 5 O transportador responde

3 Cf. SCALQUETTE, Ana Cláudia S. União Estável. Vol. 2. 2ª Ed., São Paulo: Saraiva, 2009, p. 7.
4 Cf. Veloso, Zeno. Código Civil Comentado. Vol. XVII. Coord. Álvaro Villaça Azevedo. São Paulo: Atlas, 2003, p. 155.
5 Cf. DINIZ, Maria Helena. Código Civil comentado. 14ª ed., São Paulo: Saraiva, 2009, p. 523

28
DIREITO SUMULAR – STF

objetivamente pelos danos sofridos pelos viajantes e suas bagagens, oriundos de desastres
não provocados por força maior (CC, art. 393, parágrafo único), pagando uma indenização
por dano moral ou patrimonial, variável conforme a natureza e a extensão dos prejuízos,
abrangendo tanto os danos emergentes (p. ex. despesa médico hospitalar, gastos com estadia,
alimentação, etc) como os lucros cessantes (por ex., perda de negócio que não pôde dar-se
por atraso no transporte).6
O dever do transportador de responder pela incolumidade do viajante e de conduzi-lo
são e salvo a seu destino não poderá ser afastado por estipulação que exonere o transportador
de sua responsabilidade, que é objetiva, por ter assumido obrigação de resultado, ou seja, de
conduzir o passageiro são e salvo ao destino. Daí considerar-se nula qualquer cláusula exclu-
dente de responsabilidade, conforme dispõe a Súmula 161 do STF.7
O Código Civil de 2002 incorporou a regra da Súmula 161 do STF no caput do art.
734, in verbis:
»» Art. 734. O transportador responde pelos danos causados às pessoas transportadas e suas bagagens,
salvo motivo de força maior, sendo nula qualquer cláusula excludente da responsabilidade. (grifo
nosso)

JURISPRUDÊNCIA TEMÁTICA:
◊ “Civil e comercial - Seguro - Transporte marítimo - Indenização - Cláusula limitativa da respon-
sabilidade do transportador - Súmula 161, do STF. I - Reputa-se não escrita qualquer cláusula
limitativa da obrigação de não indenizar, em contrato de transporte marítimo, o valor capaz de
tornar irrisória a indenização relativa aos danos causados.” REsp 29121 SP, Rel. Min. WALDE-
MAR ZVEITER, 3ª Turma, DJ 22/03/1993
◊ “Transporte marítimo. Seguro. Cláusula limitativa da obrigação de indenizar. CPC, artigo 333,
II. A cláusula de limitação da obrigação de indenizar em princípio não e incompatível com a
Súmula 161 do pretório excelso, mas cumpre a quem a invoca provar sua existência, na forma da
lei, e comprovar que a indenização previamente tarifada apresenta significação real ante o valor
da mercadoria extraviada. precedentes do Supremo Tribunal Federal.(...)” REsp 12220 SP, Rel.
Min. ATHOS CARNEIRO, 4ª Turma, DJ 28/10/1991

SÍNTESE CONCLUSIVA
O dever do transportador de responder pela incolumidade do viajante e de conduzi-lo são e
salvo a seu destino não poderá ser afastado por estipulação que exonere o transportador de
sua responsabilidade, que é objetiva, por ter assumido obrigação de resultado.
ê
Daí considerar-se nula qualquer cláusula excludente de responsabilidade de indenizar (S. 161/STF)

6 Idem.
7 Idem.

29
CAPÍTULO I - DIREITO CIVIL > SEÇÃO 1

4ª ETAPA: Responsabilidade do transportador


pelo acidente com o passageiro

Súmula 187: A responsabilidade contratual do transportador, pelo acidente com o


passageiro, não é elidida por culpa de terceiro, contra o qual tem ação regressiva. Data:
13/12/1963
Os precedentes que informam a Súmula n. 187 do STF mencionam choques com ou-
tros veículos, ou seja, não há exclusão da responsabilidade em razão de ter sido o dano
provocado por culpa de terceiro, assegurando-se ao transportador o direito de regresso. O
princípio geral é o de que o fato culposo de terceiro, nessas circunstâncias, vincula-se ao
risco da empresa de transporte, que como prestadora de serviço público responde pelo dano
em decorrência, exatamente, do risco da sua atividade, preservado o direito de regresso. Tal
não ocorre se o caso for, realmente, fato doloso de terceiro.8
O comando do verbete n. 187 do STF foi introduzido no art. 735 do CC/2002, que
estabelece o seguinte: “A responsabilidade contratual do transportador por acidente com o
passageiro não é elidida por culpa de terceiro, contra o qual tem ação regressiva”. Esta é uma
orientação baseada no dever de segurança vinculado ao risco da atividade, que a moderna
responsabilidade civil, dos tempos do novo milênio, deve consolidar.
Vale lembrar que o Código Civil de 2002, no parágrafo único do art. 927, criou uma
cláusula geral de responsabilidade objetiva ao mencionar a obrigação de reparar o dano in-
dependentemente de culpa. Adotou-se a teoria do risco criado, defendida por Caio Mário9,
o que significa reconhecer a obrigação de reparar o dano quando a atividade normalmente
desenvolvida implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.
É por isso que quem se dispõe a exercer alguma atividade perigosa terá que fazê-lo com
segurança, de modo a não causar dano a ninguém, sob pena de ter que por ele responder
independentemente de culpa.10
No que diz respeito à responsabilidade das empresas transportadoras – responsabilida-
de objetiva – a jurisprudência das Cortes superiores foi construída no sentido de somente
reconhecer o fato de terceiro como excludente de responsabilidade quando não guarde co-
nexidade com o transporte. Vale dizer: o fato de terceiro que exonera a responsabilidade é
aquele que com o transporte não guarde conexão, caracterizando-se como fortuito externo. É
o caso, por exemplo, do assalto à mão armada dentro de coletivo, que constitui força maior
a afastar a responsabilidade da empresa transportadora pelo evento danoso daí decorrente
para o passageiro. 11 De fato, em todas as situações relativas a fato de terceiro que guarde
conexidade com o transporte, não se exclui a responsabilidade, mas, apenas, assegura-se o
direito de regresso.
Ex. Se o acidente ocorre enquanto trafegava o ônibus, provocado por outros veí-
culos, não se pode dizer que ocorreu fato de terceiro estranho ou sem conexidade com
o transporte. E sendo assim, o fato de terceiro não exclui o nexo causal, obrigando-se a
transportadora a ressarcir as vítimas, preservado o seu direito de regresso contra o terceiro
causador do acidente.

8 Cf. Voto do Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO (Relator), no REsp 469867 SP, 3ª Turma, DJ
14/11/2005
9 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Responsabilidade Civil, 9ª ed., Rio de Janeiro: Forense, 2001, p. 284
10 Cf. CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. 7ª ed. São Paulo: Atlas, 2007, p. 458.
11 Cf. STJ - REsp 294610 RJ, Rel. Min. ALDIR PASSARINHO JUNIOR, 4ª Turma, DJ 15/12/2003

30
DIREITO SUMULAR – STF

À luz do exporto verifica-se que a Súmula 187 do STF não é aplicável quando ato de
terceiro é equiparável, para o transportador, a caso fortuito ou força maior, pela inevitabi-
lidade do fato. Vale frisar: a culpa de terceiros apta a elidir a responsabilidade objetiva do
transportador é espécie do gênero fortuito externo.
JURISPRUDÊNCIA TEMÁTICA:
◊ Civil. Responsabilidade civil. Pedra arremessada em ônibus. Ferimento em passageiro. Não e de
se ter o acórdão recorrido como em divergência com o enunciado da Súmula 187, se o ato de
terceiro, arremesso de pedra, que provocou o ferimento no passageiro, e de ser equiparado a caso
fortuito ou força maior, para o transportador, se foram observadas as exigências, para o transpor-
te, impostas para que houvesse a concessão pública, a par do que não há nada que prove - e nem
isso foi alegado - que no trecho do trajeto em que ocorreu o evento eram frequentes atentados de
tal natureza. A imprevisibilidade exonera de responsabilidade civil a transportadora.” STF - RE
114544 RJ, Rel. Min. ALDIR PASSARINHO, 2ª Turma, DJ 07/04/1989
◊ “Ação de responsabilidade civil. Empresa de transporte coletivo. Fato de terceiro. Pensão. Dano
moral. Precedentes da Corte. 1. Cuida o caso de saber se a culpa do terceiro motorista do cami-
nhão, que empurrou o carro para baixo do ônibus e fez com que este atropelasse os pedestres,
causando-lhes morte e ferimentos severos, exclui o dever de indenizar da empresa transporta-
dora. O princípio geral é o de que o fato culposo de terceiro, nessas circunstâncias, vincula-se
ao risco da empresa de transporte, que como prestadora de serviço público responde pelo dano
em decorrência, exatamente, do risco da sua atividade, preservado o direito de regresso. Tal
não ocorreria se o caso fosse, realmente, fato doloso de terceiro. A jurisprudência tem admitido
claramente que, mesmo ausente a ilicitude, a responsabilidade existe, ao fundamento de que
o fato de terceiro que exonera a responsabilidade é aquele que com o transporte não guarde
conexidade. Se o acidente ocorre enquanto trafegava o ônibus, provocado por outros veículos,
não se pode dizer que ocorreu fato de terceiro estranho ou sem conexidade com o transporte. E
sendo assim, o fato de terceiro não exclui o nexo causal, obrigando-se a prestadora de serviço
público a ressarcir as vítimas, preservado o seu direito de regresso contra o terceiro causador do
acidente. É uma orientação firme e benfazeja baseada no dever de segurança vinculado ao risco
da atividade, que a moderna responsabilidade civil, dos tempos do novo milênio, deve conso-
lidar. (...)” STJ - REsp 469867 SP, Rel. CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, 3ª Turma,
DJ 14/11/2005

SÍNTESE CONCLUSIVA
A culpa do terceiro pelo acidente com passageiro não exclui o dever de indenizar da empresa
transportadora, que terá ação regressiva contra o causador do dano (S.178 do STF e art. 735
do CC/002). É que o fato culposo de terceiro vincula-se ao risco da empresa de transporte, que
como prestadora de serviço público responde pelo dano em decorrência do risco da sua atividade,
preservado o direito de regresso.
ê
ATENÇÃO: O fato de terceiro que exonera a responsabilidade da transportadora é aquele
que com o transporte não guarde conexidade, quando tal fato for inevitável e imprevisível.
Vale dizer, a culpa de terceiro apta a elidir a responsabilidade objetiva do transportador é a
que se caracteriza como fortuito externo.

31
CAPÍTULO I - DIREITO CIVIL > SEÇÃO 1

5ª ETAPA: Ação regressiva promovida pela seguradora

Súmula 188: O segurador tem ação regressiva contra o causador do dano, pelo que
efetivamente pagou, até ao limite previsto no contrato de seguro. Data: 13/12/1963

Na linguagem jurídica, fala-se de sub-rogação, em geral, para designar determinadas


situações em que uma coisa se substitua outra coisa ou uma pessoa a outra pessoa. Há um
objeto ou um sujeito jurídico que toma o lugar de outro diverso. 12 Sub -rogação é, portanto,
a substituição de uma pessoa ou de uma coisa por outra em uma relação jurídica.
O instituto em estudo constitui uma exceção à regra de que o pagamento extingue a
obrigação. A sub-rogação trata-se de uma figura jurídica anômala, pois o pagamento promove
apenas uma alteração subjetiva da obrigação, mudando o credor. A extinção obrigacional
ocorre somente em relação ao credor, que nada mais poderá reclamar depois de haver recebido
do terceiro interessado o seu crédito. Nada se altera, porém, para o devedor, visto que o terceiro
que paga toma o lugar do credor satisfeito e passa a ter o direito de cobrar a dívida com todos
os seus acessórios.13
A seguradora que paga o seguro sub-roga-se nos direitos do titular do seguro, sendo
parte legítima ativa para a ação regressiva contra o causador do dano para se ver ressarcida
do montante despendido em favor daquele, até o limite previsto no contrato de seguro.
Na mesma linha do enunciado da Súmula 188 do STF, o código civil de 2002 veio a
estabelecer o seguinte:
»» CC/2002. Art. 786. Paga a indenização, o segurador sub-roga-se, nos limites do valor respectivo, nos
direitos e ações que competirem ao segurado contra o autor do dano. § 1º Salvo dolo, a sub-rogação não
tem lugar se o dano foi causado pelo cônjuge do segurado, seus descendentes ou ascendentes, consangüíneos
ou afins. § 2º É ineficaz qualquer ato do segurado que diminua ou extinga, em prejuízo do segurador, os
direitos a que se refere este artigo.

Em seu Código Civil Anotado, Maria Helena Diniz tece os seguintes comentários ao
artigo 786 do CC/2002:14

“O segurador, ao pagar a indenização ao segurado, su-rogar-se-á, nos limites do quantum


ressarcitório, nos direitos e ações que teria o segurado contra o autor do dano, desde que
este não seja seu cônjuge, descendente, ascendente, parente consanguíneo ou afim.
Mas se o lesante for qualquer um dos acima indicados, que agiu dolosamente, tal
sub-rogação dar-se-á apesar de haver laços familiares e afetivos. Não terá nenhuma
eficácia ato do segurado que venha a diminuir ou extinguir, em prejuízo do segurador,
os seus direitos de sub-rogação que forem cabíveis contra o lesante; com isso garantida
estará a integridade dos efeitos daquela sub-rogação. Se, p. ex, o segurado fizer acordo
com o lesante, estipulando que o segurador não se sub-rogará no valor indenizatório
que vier a pagar, esse ato negocial não gerará efeito contra o segurador.”

12 Cf. TELLES, Inocêncio Galvão apudGONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Esquematizado. Vol. I, 1ª ed., São
Paulo: Saraiva, 2011, p. 597 e 598.
13 Cf. GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Esquematizado. Vol. I, 1ª ed., São Paulo: Saraiva, 2011, p. 597 e 598
14 Cf. DINIZ, Maria Helena. Código Civil comentado. 14ª ed., São Paulo: Saraiva, 2009.

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DIREITO SUMULAR – STF

A mesma regra encontra-se também na Lei n. 6.194/1974, que dispõe sobre Seguro
Obrigatório de Danos Pessoais causados por veículos automotores de via terrestre, ou por sua
carga, a pessoas transportadas ou não. Vejamos:
»» Lei n. 6.194/1974. Art . 8º Comprovado o pagamento, a Sociedade Seguradora que houver pago a indenização
poderá, mediante ação própria, haver do responsável a importância efetivamente indenizada.

Nos termos da Súmula 257 do STF, são cabíveis honorários de advogado na ação regressiva
do segurador contra o causador do dano. Ora, o art. 85 do NCPC (correspondente ao art. 20
do CPC/73) impõe o pagamento dos honorários advocatícios como decorrência automática
da condenação.
O pagamento de honorários advocatícios trata-se, portanto, de uma obrigação legal,
que decorre da sucumbência. Dessa forma, cabe ao juiz condenar, de ofício, a parte vencida,
independentemente de provocação expressa do autor, porquanto constitui pedido implícito. 15

SÍNTESE CONCLUSIVA

O segurador, por efeito da sub-rogação legal, tem direito de exigir do causador do dano o
reembolso da quantia que pagou, até ao limite previsto no contrato de seguro (S. 188/STF).
ê
Nesta ação regressiva do segurador contra o causador do dano, são cabíveis honorários de
advogado (S. 257/STF). Isso porque o art. 85 do NCPC, na mesma linha do art. 20 do
CPC/73, impõe o pagamento de honorários advocatícios como decorrência automática da
condenação.

6ª ETAPA: Composição do dano por acidente do trabalho ou de transporte

Súmula 314: Na composição do dano por acidente do trabalho, ou de transporte, não


é contrário à lei tomar para base da indenização o salário do tempo da perícia ou da
sentença. Data: 13/12/1963

Súmula comentada no Capítulo IX – Direito do Trabalho e Processual do Trabalho.

7ª ETAPA: Responsabilidade civil do patrão ou comitente

Súmula 341: É presumida a culpa do patrão ou comitente pelo ato culposo do empregado
ou preposto. Data: 13/12/1963

No Código Civil de 1916 a responsabilidade pelos atos dos prepostos, serviçais ou em-
pregados dependia de comprovação de que o empregador tivesse concorrido com culpa ou
negligência para o implemento do dano, conforme previa o art. 1.523. Essa exigência,

15 Cf. STJ - REsp 886178 RS, Rel. Min. LUIZ FUX, Corte Especial, DJe 25/02/2010.

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CAPÍTULO I - DIREITO CIVIL > SEÇÃO 1

contudo, foi mitigada, em 1963, quando o Supremo Tribunal Federal adotou a o entendi-
mento de que é presumida a culpa do patrão pelo ato culposo do seu empregado (Súmula
341/STF).16
O Código Civil de 2002 superou a hesitação do Código anterior e estabeleceu, sem deixar
margem a dúvidas, que o empregador responde pelos atos dos seus empregados, serviçais ou
prepostos desde que estejam no exercício do trabalho que lhes competir ou em razão dele
(art. 932, III). Para evitar questionamentos e deixar evidente o alcance do preceito, prevê o
art. 933 que o empregador responde por tais atos, ainda que não haja culpa de sua parte.17
Na linha desse entendimento, é oportuno transcrever a ementa de um julgado proferido
pelo TRT da 3ª Região, cuja decisão adotou a responsabilidade objetiva do empregador por
ato ilícito praticado por seu empregado:

“Acidente fatal causado no estabelecimento da empresa por culpa de colega de traba-


lho. Responsabilidade objetiva do empregador. No início do século XX o empregador
só respondia pelos danos causados por seus empregados se ficasse também comprovada
a sua culpa ou descumprimento do seu dever de vigilância. A partir de 1963, o STF
adotou o entendimento de que é presumida a culpa do patrão pelo ato culposo do seu
empregado (Súmula 341). O Código Civil de 2002 deu mais um passo em benefício
da vítima ao estabelecer a responsabilidade do empregador, independentemente de
qualquer culpa de sua parte, pelos danos causados por culpa de seus empregados ou
prepostos, conforme previsto nos arts. 932, III e 933. Assim, restando comprovado
que o acidente fatal foi causado por empregado da reclamada que numa atitude in-
consequente, a título de simples brincadeira, desloca a carregadeira que se encontra
sob sua direção sobre colegas de trabalho, causando a morte imediata de um deles por
decapitação, é imperioso deferir a responsabilidade civil da empresa pela indenização
postulada pelos dependentes da vítima. (Minas Gerais, TRT 3ª Região, 2ª Turma, RO
00642-2008-091-03-00-0, Rel.: Des. Sebastião Geraldo de Oliveira, DJ 3 jul. 2009).

Vê-se, pois, que com o advento do CC/2002, a responsabilidade civil do empregador


por ato causado por empregado, no exercício do trabalho que lhe competir, ou em razão dele,
deixou de ser uma hipótese de responsabilidade civil subjetiva com presunção de culpa (Sú-
mula 341/STF), tornando-se uma hipótese legal de responsabilidade civil objetiva.
Ressalte-se que a culpa presumida não se confunde com a responsabilidade objetiva. Na cha-
mada responsabilidade civil subjetiva com presunção de culpa, a culpa é imprescindível para a

16 Cf. OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Responsabilidade civil patronal por atos dos empregados ou prepostos,
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região. V. 21, nº 49, jan/jun. 2011. p. 111.
17 A título de esclarecimento, o ilustre Desembargador Sebastião Geraldo de Oliveira destaca que “o fato de o acidente
ter sido provocado por prepostos ou empregados não implica automaticamente a responsabilidade prevista no art.
932, III, do Código Civil. O empregador responde objetivamente pelos danos causados por seus empregados ou
prepostos, mas é necessário verificar se o mencionado dano é mesmo passível de indenização. Se não estiverem pre-
sentes todos os pressupostos da responsabilidade civil, por óbvio não cabe a condenação indireta da empresa. Desse
modo, primeiramente é preciso conferir se no momento do acidente o causador do dano (empregado ou preposto da
empresa) estava no exercício do trabalho que lhe competia ou se atuava em razão do vínculo mantido com o empre-
gador. Se a resposta for negativa, não haverá nexo causal do dano com o trabalho e, nessa hipótese, o empregado ou
preposto causador do dano responderá isoladamente pela indenização. Em segundo lugar, pode ser que haja alguma
excludente do nexo causal que exonere de responsabilidade o causador do acidente — e, consequentemente, tam-
bém o empregador —, tais como: motivo de força maior ou caso fortuito, culpa exclusiva da vítima, legítima defesa
ou fato de terceiro.” (OLIVEIRA, Sebastião Geraldo de. Responsabilidade civil patronal por atos dos empregados
ou prepostos, Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região. V. 21, nº 49, jan/jun. 2011. p. 111.)

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DIREITO SUMULAR – STF

responsabilização, cabendo ao demandado afastar a presunção de culpa mediante contraprova


no sentido de não ter tido responsabilidade pelo dano. Vale dizer: a presunção de culpa importa
inversão do ônus da prova, cabendo ao réu provar que não agiu com culpa. Já na responsa-
bilidade civil objetiva, não se exige a verificação de culpa para que incida a responsabilidade.
Na V Jornada de Direito Civil, o CJF aprovou o enunciado n. 451, que conclui pelo fim
do sistema de presunção de culpa na responsabilidade civil por ato de terceiro:
»» “Arts. 932 e 933: A responsabilidade civil por ato de terceiro funda-se na responsabilidade objetiva ou
independente de culpa, estando superado o modelo de culpa presumida.”

À luz do exposto, verifica-se que encontra-se SUPERADA a Súmula 341 do STF,


segundo a qual haveria culpa presumida do empregador pelo ato culposo do empregado.
Atualmente, o Código Civil de 2002 (arts. 932 e 933) prevê a responsabilização objetiva do
empregador pelos atos praticados por seus empregados quando no exercício de seu trabalho
ou em razão dele.

SÍNTESE CONCLUSIVA
O CC/2002 (art. 932, III e 933) fixou a responsabilização objetiva do empregador pelos
atos praticados por seus empregados quando no exercício de seu trabalho ou em razão dele,
restando superada a Súmula 341 do STF, segundo a qual haveria culpa presumida do empregador
pelo ato culposo do empregado.
ê
Vale dizer: A responsabilidade civil do empregador por ato causado por empregado, no
exercício do trabalho que lhe competir, ou em razão dele, deixou de ser uma hipótese de
responsabilidade civil subjetiva, com presunção de culpa (S. 341/STF), para se transformar
em uma hipótese legal de responsabilidade civil objetiva (arts. 932, III e 933 do CC/2002).
ê
ATENÇÃO: O CJF aprovou o enunciado n. 451, que conclui pelo fim do sistema de
presunção de culpa na responsabilidade civil por ato de terceiro, in verbis: “Arts. 932 e
933: A responsabilidade civil por ato de terceiro funda-se na responsabilidade objetiva ou
independente de culpa, estando superado o modelo de culpa presumida”.

8ª ETAPA: Salário mínimo como parâmetro para fixação da pensão

Súmula 490: A pensão correspondente à indenização oriunda de responsabilidade civil


deve ser calculada com base no salário mínimo vigente ao tempo da sentença e ajustar-se-á
às variações ulteriores. Data: 03/12/1969

O inc. IV do art. 7º da Constituição Federal, inserida no Capítulo dos “direitos sociais”


dos trabalhadores urbanos e rurais, veda, em sua parte final, a vinculação do salário mínimo
para qualquer fim. O sentido dessa vedação é impedir que o salário-mínimo possa ser usado
como fator de indexação; essa utilização tolheria eventual aumento do salário-mínimo pela

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CAPÍTULO I - DIREITO CIVIL > SEÇÃO 1

cadeia de aumentos que ensejaria se admitida essa vinculação. Esta norma constitucional
tem o objetivo de impedir que aumento do salário-mínimo gere, indiretamente, peso maior
do que aquele diretamente relacionado com o acréscimo. Essa circunstância pressionaria
reajuste menor do salário-mínimo, o que significaria obstaculizar a implementação da política
salarial prevista no art. 7º, inciso IV, da CF. 18
Entretanto, a vedação do uso do salário mínimo como indexador diz respeito somente
a obrigações sem conteúdo salarial ou alimentar, como é o caso de aluguel, seguro, prestações
decorrentes de venda a prazo, etc. A vedação não abrange as hipóteses em que o objeto da
prestação expressa em salários mínimos tem a finalidade de atender aquelas necessidades vitais
básicas que a parte inicial do inciso deseja preservar (“moradia, alimentação, educação, saúde,
lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social”), como ocorre, por exemplo, quando se
trata de obrigação alimentar ou de pensão. 19
Em suma, o inc. IV do art. 7º visa impedir a utilização do salário mínimo como fator
de indexação para obrigações sem conteúdo salarial ou alimentar, sendo legítima a sua utilização
como base de cálculo quando se trata de obrigação alimentar ou de pensão.
Desse modo, a utilização do salário mínimo como base para calcular o valor da pensão
mensal decorrente de reparação por ato ilícito não ofende a Constituição Federal, em vista
de seu caráter alimentar. Esta orientação culminou na edição da Súmula 490 do STF, que
visa propiciar o ressarcimento mais eficaz possível à vítima do ilícito civil.
É necessário lembrar que o Plenário do STF firmou entendimento de que tal tipo de
vinculação não seria possível em casos de pagamentos de pensões devidas pelo Poder Público. Em
outras palavras, a fixação da remuneração do pessoal da Administração Pública, em múltiplos de
salário mínimo, ofende ao disposto no art. 7º, IV, CF/88.20
Importa registrar que a utilização do salário mínimo como base de cálculo dos alimentos
foi confirmada pelo legislador, por meio da Lei 11.232/05, que, incluindo no CPC/73 o art.
475–Q, § 4º, determinou a aplicação do salário mínimo para fixação dos alimentos oriundos
de indenização por ato ilícito.
Sobre a matéria, Humberto Theodoro Junior assim expôs: 21

“Muito se controvertia a respeito de ser, ou não, lícito o uso do salário mínimo como
referência para fixar o valor de pensionamento derivado de ato ilícito. A controvérsia
está superada, pois o atual parágrafo 4º do art. 475-Q,, na redação da Lei n. 11.232,
de 22 de dezembro de 2005, dispôs claramente que ‘os alimentos podem ser fixados
tomando por base o salário mínimo’. Com isso, guarda-se relação ao caráter alimentar
da condenação na espécie e simplifica-se o problema da correção monetária, diante da
multiplicidade de índices existentes no mercado. Aliás, o STF já vinha decidindo que a
pensão no caso de responsabilidade civil deveria ser calculada com base no salário mínimo
vigente ao tempo da sentença e ajustada às variações ulteriores (Súmula n. 490)”

18 Cf. RE 166586 GO, Rel. Min. RE 166586 GO, DJe 12/11/2010.


19 Cf. Voto do Ministro Ilmar Galvão (Relator), no RE 170203,1ª Turma, DJ 15/04/1994.
20 Nesse sentido aponta o acórdão proferido quando do julgamento do RE 190384 EDv GO, cuja ementa assim dispõe:
“Pensão especial estatutária vinculada a múltiplo de salário mínimo. O Plenário do Supremo Tribunal Federal fir-
mou entendimento de que a fixação da remuneração do pessoal da Administração Pública, em múltiplos de salário
mínimo, ofende ao disposto no art. 7º, IV, da Constituição. (...)” STF - RE 190384 EDv GO, Rel. Min. OCTAVIO
GALLOTTI, Tribunal Pleno, DJ 04/05/2001. Mais recentemente, o Plenário do Supremo Tribunal Federal veio a
reiterar esse entendimento, por ocasião da apreciação do mérito do RE 565714 SP, Rel. Min. CÁRMEN LÚCIA,
Tribunal Pleno, julgado em 30/04/2008.
21 Cf. THEODORO JUNIOR, Humberto. Revista Dialética de Direito Processual n. 43. Títulos Executivos Judiciais: o
Cumprimento da Sentença segunda a Reforma do CPC operada pela Lei n. 11.232, de 22 de dezembro de 2005. p. 70.

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