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CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO

ISABELLE MARQUES SILVA DE SOUZA

O AMIGO DO AMIGO DE MEU PAI: DA INCONSTITUCIONALIDADE DA


INVESTIGAÇÃO CRIMINAL 4.781

MARINGÁ
2019
CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO

ISABELLE MARQUES SILVA DE SOUZA

O AMIGO DO AMIGO DE MEU PAI: DA INCONSTITUCIONALIDADE DA


INVESTIGAÇÃO CRIMINAL 4.781

Artigo apresentado à UNIFAMMA – Centro Universitário


Metropolitano de Maringá, como parte dos requisitos para
aprovação no curso de Graduação. Área de Concentração:
Direito.
Orientador: Prof. Esp.: Carlos Eduardo Pires Gonçalves

MARINGÁ
2019
CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO

ISABELLE MARQUES SILVA DE SOUZA

O AMIGO DO AMIGO DE MEU PAI: DA INCONSTITUCIONALIDADE DA


INVESTIGAÇÃO CRIMINAL 4.781

Artigo apresentado à UNIFAMMA – Centro Universitário


Metropolitano de Maringá, como parte dos requisitos para
aprovação no curso de Graduação. Área de Concentração:
Direito.
Orientador: Prof. Esp.: Carlos Eduardo Pires Gonçalves

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________

Professor Orientador: Esp. Carlos Eduardo Pires Gonçalves

_____________________________________

Professor: Dr.

___________________________________

Professor: Me.

Data de Aprovação:_____ de ________ de______.


RESUMO

O presente artigo tratará sobre o Inquérito Criminal 4.781, instaurado de ofício pelo Ministro
José Antônio Dias Toffoli e conduzido pelo Supremo Tribunal Federal. O ano de 2019 foi
marcado por inconstitucionalidades praticadas pelo Supremo Tribunal Federal, sendo as
investigações retro aludidas um exemplo delas. Diante de tal conjuntura, por ser a instituição
encarregada de fiscalizar e salvaguardar a lei máxima do país, que se sobrepuja sobre todas as
demais na hierarquia das normas, preocupar-se com os julgamentos e as determinações por
ela promulgados é vital para a permanência, a estabilidade e a segurança da Democracia e do
Estado Democrático de Direito. O presente artigo foi desenvolvido com base na pesquisa
bibliográfica em livros, artigos, revistas virtuais, matérias jornalísticas, leis, documentos
jurídicos e demais referências, procurando esclarecer os motivos pelas quais o “inquérito do
STF” é inconstitucional à luz dos princípios encartados na Constituição de 1988.

Palavras-chave: Inquérito. Supremo Tribunal Federal. Inconstitucionalidade. Competência.


Divisão dos Poderes.
ABSTRACT

The present article will deal with the Criminal Inquiry 4.781, instituted by the Minister José
Antônio Dias Toffoli and conducted by the Federal Supreme Court. 2019 was marked by
unconstitucionalities comitted by the Federal Supreme Court, the above investigations being
an example of them. Given this conjuncture, because it is the institution in charge of
overseeing and safeguarding the country's highest law, which surpasses all others in the
hierarchy of norms, worrying about the judgments and determinations enacted by it is vital for
permanence, the stability and security of democracy and the rule of law. This article was
developed based on bibliographic research in books, articles, virtual magazines, journalistic
articles, laws, legal documents and other references, seeking to clarify the reasons why the
“STF inquiry” is unconstitutional in light of the principles embodied in the Brazilian
Constitution, established in 1988.

Keywords: Inquiry. Supreme Federal Court. Unconstitutionality. Competence. Separation of


Powers.
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INTRODUÇÃO

Em 14 de março de 2019 foi instaurada a investigação criminal 4.781, pelo Ministro


José Antônio Dias Toffoli, presidente em exercício do Supremo Tribunal Federal, através da
Portaria GP n. 69, sendo designado o Ministro Alexandre de Moraes, que também compõe a
Corte Constitucional, para a relatoria do inquérito. Logo após a distribuição ao Relator, foram
nomeados dois delegados, um federal e outro militar, para auxílio nos trabalhos.
O objetivo é apurar a ocorrência de crimes contra a honorabilidade do Supremo
Tribunal Federal, dos Ministros que o compõem e seus respectivos familiares. Dentro do
Código Penal, no capítulo V, denominado “Dos crimes contra a honra”, há a tipificação da
calúnia, injúria e difamação, sendo plenamente possível, deste modo, que instituições e
pessoas físicas sejam vítimas de crimes contra sua honra.
Entretanto, como se verá de forma mais aprofundada, à frente, neste trabalho, o
imbróglio jurídico, decorrente de tal investigação, deu-se não por conta de seu objeto
(verificação de crimes contra a honra), mas por conta da forma como foi instaurada e está
sendo conduzida, sem qualquer participação da Polícia e do Ministério Público.
Como se sabe, a Constituição promulgada em 1988 adotou o sistema penal acusatório
no Brasil, consistente na separação das figuras do acusador, do investigador e do julgador,
para garantir o devido processo legal e o direito de todos os cidadãos à um julgamentos justo,
conferindo ao Ministério Público a titularidade da ação penal pública e o controle externo da
atividade policial. Portanto, o Poder Judiciário, seja em qualquer uma de suas instâncias, não
possui competência para investigar e acusar.
Cabia ao Supremo Tribunal Federal, sendo vítima de quaisquer crimes contra sua
honra funcional, ou aos Ministros, sendo igualmente vítimas, noticiarem a ocorrência dos
ilícitos penais à Polícia e ao Ministério Público, órgãos competentes para abrirem inquérito,
fazerem investigações e, no caso daquele último, propor a denúncia.
A investigação criminal 4.781 é inconstitucional, em suma, porque instaurada e
conduzida por um órgão sem qualquer legitimidade ou jurisdição para a prática do ato.
É, em apertada introdução, o tema que será abordado no presente artigo, sendo
utilizada a metodologia de revisão bibliográfica, com utilização de doutrina, leis,
jurisprudência e artigos.
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1 DO INQUÉRITO CRIMINAL 4.781


Como já narrado na introdução, em 14 de março de 2019, através da Portaria GP n. 69,
o Presidente do Supremo Tribunal Federal instaurou a investigação criminal 4.781. Vide:
O PRESIDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, no uso de suas
atribuições que lhe confere o Regimento Interno, CONSIDERANDO que
velar pela intangibilidade das prerrogativas do Supremo Tribunal Federal e
dos seus membros é atribuição regimental do Presidente da Corte (RISTF,
art. 13, I);
CONSIDERANDO a existência de notícias fraudulentas (fake news),
denunciações caluniosas, ameaças e infrações revestidas de animus
calumniandi, diffamandi e injuriandi, que atingem a honorabilidade e a
segurança do Supremo Tribunal Federal, de seus membros e familiares,
RESOLVE, nos termos do art. 43 e seguintes do Regimento Interno,
instaurar inquérito para apuração dos fatos e infrações correspondentes, em
toda a sua dimensão,
Designo para a condução do feito o eminente Ministro Alexandre de Moraes,
que poderá requerer à Presidência a estrutura material e de pessoal
necessária para a respectiva condução. (BRASIL, 2019)
As investigações foram iniciadas com fundamento no artigo 43 do Regimento Interno
do Supremo Tribunal Federal, que trata a respeito da ocorrência de crimes dentro das
dependências do Supremo Tribunal, em uma interpretação elástica da norma regimental.
No dia 15 de março de 2019, um dia após a publicação da Portaria GP n. 69, a então
Procuradora da República, Raquel Dodge, fez requisição ao Relator Alexandre de Moraes de
informações sobre o objeto do inquérito, pedindo vista dos autos. Cinco dias após, 19 de
março de 2019, o retro citado Ministro, fez seu primeiro despacho, nomeando dois delegados
para trabalharem consigo:
O objeto deste inquérito é a investigação de notícias fraudulentas (fake
news), falsas comunicações de crimes, denunciações caluniosas, ameaças e
demais infrações revestidas de animus calumniandi, diffamandi ou
injuriandi, que atingem a honorabilidade e a segurança do Supremo Tribunal
Federal, de seus membros; bem como de seus familiares, quando houver
relação com a dignidade dos Ministros, inclusive o vazamento de
informações e documentos sigilosos, com o intuito de atribuir e/ou insinuar a
prática de atos ilícitos por membros da Suprema Corte, por parte daqueles
que tem o dever legal de preservar o sigilo; e a verificação da existência de
esquemas de financiamento e divulgação em massa nas redes sociais, com o
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intuito de lesar ou expor a perigo de lesão a independência do Poder


Judiciário e ao Estado de Direito. Para tanto, adoto, desde logo, as seguintes
medidas administrativas:
1) JUNTE-SE aos autos informações coligidas pela Secretaria de Segurança
do STF;
2) DESIGNO o Delegado Federal Dr. Alberto Ferreira Neto, Chefe da
Delegacia Especializada em Repressão a Crimes Fazendários, por indicação
do DD. Diretor da Polícia Federal em exercício, Dr. Disney Rosseti, para
auxiliar nas investigações;
3) DESIGNO o Delegado de Polícia Dr. Maurício Martins da Silva, da
Divisão de Inteligência do DIPOL-SP, por indicação do DD. Delegado Geral
de Polícia de São Paulo, Dr. Ruy Ferraz Fontes, para auxiliar nas
investigações;
4) DESIGNO a servidora Cristina Yukiko Kusahara, mat. 3440, para
secretariar os trabalhos (BRASIL, 2019)
Após o despacho inicial, foi atribuído sigilo absoluto aos autos do Inquérito 4.781.
Apenas algumas petições do Ministério Público estão disponíveis para consulta no Portal da
Transparência do órgão. Além disso, foram publicadas algumas reportagens sobre a temática,
com muitos canais de comunicação afirmando serem vítimas de mandados de apreensão e
buscas em seus estabelecimentos, e alvos de determinações judiciais.
À título de exemplificação, os alvos que ganharam maior repercussão no meio social
foram a Revista Crusoé e o site O Antagonista. Em data de 11 de abril de 2019, os jornalistas
Rodrigo Rangel e Mateus Coutinho assinaram uma reportagem, no sítio eletrônico da Revista
Crusoé, intitulada “O amigo do amigo de meu pai” (RANGEL; COUTINHO, 2019), em que
publicaram um documento pertencente à delação premiada de Marcelo Odebrecht, feita
dentro da Operação Lava Jato. No dia seguinte, 12 de abril de 2019, a matéria foi republicada
pela redação do site jornalístico “O Antagonista”, mas, desta feita, sob o título “Vocês
fecharam com o amigo do amigo do meu pai?” (O ANTAGONISTA, 2019).
Em resumo, ambas reportagens mostram uma série de trocas de e-mails entre Marcelo
Odebrecht e outros dois executivos de sua empresa, Irineu Berardi Meireles e Adriano Sá de
Seixas Maia, nos quais o primeiro pergunta aos dois últimos: “Afinal vocês fecharam com o
amigo do amigo de meu pai?”, a que Adriano Sá de S. Maia, responde, “Em curso”. O
Codinome “amigo do amigo de meu pai” foi adotado para se referir ao Ministro José Antônio
Dias Toffoli.
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Dias após as publicações, através de decisões proferidas pelo Relator no Inquérito


4.781, as matérias foram retiradas de circulação, com penas de multa diária e demais
cominações legais em caso de não atendimento à ordem judicial.
É oportuno informar que ambos os jornais, atualmente, conseguiram, por meio de
mandado de segurança, liminar para republicarem as matérias objeto de censura, que estão,
hodiernamente, abertas ao público.
Some-se à isso, foram expedidos diversos mandados de busca e apreensão contra
pessoas indeterminadas, fazendo com que a Associação Nacional dos Procuradores da
República (ANPR), impetrasse mandado de segurança coletivo, autuado sob n. 36422.
Abaixo, excerto da nota pública:
[...] a ANPR impetrou no Supremo, em abril, habeas corpus coletivo para
que sejam anulados os mandados de busca e apreensão já expedidos e
impedidas novas diligências baseadas no inquérito. Da mesma forma,
impetrou mandado de segurança para que sejam garantidos aos procuradores
o direito à liberdade de expressão, bem como não serem alvo de investigação
sem a supervisão do Ministério Público Federal. (ANPR, 2019)
Uma das últimas decisões prolatadas pelo Ministro Alexandre de Moraes, dentro da
4.781, foi o afastamento de servidores da Receita Federal de suas funções.
Em nota pública, o Conselho Nacional de Procuradores da República (CNPG)
sedimentou:
A grave crise institucional que atinge o Estado brasileiro, com ferimento a
princípios e dispositivos assentados na Constituição Federal, em razão do
atual tramitar do Inquérito nº 4.781-STF, exige reafirmar o texto
constitucional, que dispõe ser o Ministério Público instituição permanente,
essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da
ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais
indisponíveis. (CNPG, 2019)
Diante de tal conjuntura, aos 16 de abril de 2019, a então Procuradora Geral da
República, Raquel Dodge, promoveu o encerramento do “inquérito STF”, como é
pejorativamente chamado nas mídias sociais. Analise-se:
A Procuradora - Geral da República, no uso de suas atribuições
constitucionais e legais, com fundamento nos princípios do devido processo
legal e do sistema penal acusatório, estabelecidos pela Constituição de 1988,
vem promover o arquivamento deste inquérito. [...]
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No dia seguinte, 15 de março de 2019, com fundamento no sistema penal


acusatório, de matriz constitucional, requeri ao Ministro Relator informações
sobre o objeto específico deste inquérito e sobre a apuração em exame. Os
autos ainda não vieram ao Ministério Público Federal.
Notícias publicadas em diferentes meios de comunicação, inclusive hoje,
anunciam o cumprimento de medidas cautelares penais sujeitas a reserva de
jurisdição, sem prévio requerimento nem manifestação determinada por lei
desta titular constitucional da ação penal, seja em relação ao controle externo
da atividade policial, que são atribuições constitucionais do Ministério
Público
Há também notícia de proibição de exibição de matéria jornalística por
ordem judicial emanada deste inquérito, sem manifestação previa do titular
da ação penal.
[...]
Considerando os fundamentos constitucionais desta promoção de
arquivamento, registro, como consequência, que nenhum elemento de
convicção ou prova de natureza cautelar produzida será considerada pelo
titular da ação penal ao formar sua opinio delicti. Também como
consequência do arquivamento, todas as decisões proferidas estão
automaticamente prejudicadas (BRASIL, 2019)
O Supremo Tribunal Federal não acatou o encerramento dos trabalhos, mesmo após o
ato de ofício (excerto acima descrito) da Procuradoria Geral da República, continuando com
as investigações até o momento presente, com todas as determinações ainda em sigilo
absoluto.
Por último, é válido ressaltar que há, ainda, uma Arguição de Descumprimento de
Preceito Fundamental (ADPF) em trâmite, sob relatoria do Ministro Edson Fachin, que tem
por objeto o inquérito em estudo, ajuizada pelo partido político Rede Sustentável. É afirmado,
na petição, que estão sendo feridos os direitos à liberdade pessoal - que engloba a garantia de
o cidadão não ser investigado por um procedimento abusivo e autoritário, que fere o devido
processo legal, a dignidade da pessoa humana, os direitos humanos, à submissão única e
exclusiva à lei e a impossibilidade de existir juízo ou tribunal de exceção (Rede
Sustentabilidade. 2019). Na referida ação, foram aceitos como Amicus Curie o Colégio de
Presidentes dos Institutos de Advogados do Brasil e a Associação Nacional das Empresas de
Comunicação Segmentada (ANATEC).
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O Ministro Edson Fachin, nos autos da ADPF, foi recentemente intimado para que
esclareça se ao Ministério Público já foi dada vistas ao inquérito e todos os demais processos
que por venturam existam, correlacionados à investigação de ofício da Corte máxima do
Poder Judiciário.
2 DOS SISTEMAS PENAIS INQUISITORIAL E ACUSATÓRIO
Antes de se adentrar nos motivos que tornam a investigação do Supremo Tribunal
Federal inconstitucional, é necessário entender qual é o processo penal adotado atualmente no
Brasil, para que se tenha em mente o porquê que ele é uma evolução histórica, imbuído de
garantias democráticas que não podem ser solapadas.
O sistema penal acusatório surgiu na antiguidade, sendo uma criação da primeira
democracia existente no mundo - que se tem conhecimento -, a grega. Posteriormente, foi
melhorado pela civilização romana. O Doutor José Reinaldo de Lima Lopes, livre docente
pela Universidade de São Paulo, além de fundador e primeiro presidente do Instituto
Brasileiro de História do Direito, em seu livro, “O Direito na História”, conta que, em Atenas,
para os casos de crimes públicos, os julgamentos eram feitos por grandes tribunais, com
dezenas ou centenas de membros, que eram cidadãos gregos. Os casos de menor
complexidade poderiam ser julgados por juízes singulares, no entanto, havia ao acusado o
direito de apelar às Assembleias judiciais, que funcionavam em grupos (LOPES, 2019).
Em complemento, narra o professor Aury Lopes Júnior, em seu livro intitulado
“Fundamentos do Processo Penal” (JÚNIOR, 2019), que a acusação, na Grécia antiga,
poderia ser feita por qualquer pessoa, em crimes graves, ou de forma privada, em casos de
crimes de menor gravidade.
Já no direito romano da Alta República, havia duas formas de processo penal: cognitio
e accusatio. O primeiro, era encomendado ao juiz, para que este esclarecesse os fatos e
submetesse o relatório à julgamento. No entanto, existia o recurso de apelação, em que a
decisão do juiz singular poderia ser anulada. Na segunda maneira, conforme ocorria na
Grécia, a acusação poderia ser feita por um cidadão qualquer ou por um representante da
coletividade, distinto do juiz, denominado de accusator.
Em linhas gerais, desde a antiguidade, o sistema penal acusatório é marcado pela
passividade do juiz, que se mantém distante do ônus probante dos autos, responsabilidade das
partes - acusador e acusado, havendo contraditório e ampla defesa, além de haver vedação
para processar réu ausente e penalidade por denunciação caluniosa.
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Na época atual, clarifica o professor Aury Lopes Júnior, que o sistema penal
acusatório conserva as premissas nas quais foi fundado, contudo, acresceu em princípios e
garantias processuais. São eles: a) clara distinção entre as atividades de acusar e julgar; b) a
iniciativa probatória deve ser das partes; c) o juiz é o terceiro imparcial, alheio ao labor das
provas; d) tratamento paritário entre as partes; e) procedimento predominantemente oral; f)
publicidade de todo o processo; g) resistência plena (defesa); h) segurança jurídica e coisa
julgada; i) possibilidade de se impugnar as decisões judiciais e a existência de um duplo grau
de jurisdição (JÚNIOR, 2019, p. 181).
Retornando à antiguidade clássica, o sistema penal acusatório não evoluiu de forma
linear e progressiva, ao inverso, durante a idade média e a idade moderna, foi abandonado, até
ir sendo retomado aos poucos, posteriormente, na contemporaneidade. Em resumo, o sistema
penal inquisitorial teve gênese na igreja, instituição que tinha domínio econômico, político,
social e espiritual no medievo.
Mas, a inquisição ultrapassou os muros da igreja. Com o tempo, os magistrados foram
adentrando cada vez mais nas atribuições que, dantes, eram reservadas às lideranças da
coletividade, que faziam o papel do acusador privado nos processos judiciais das civilizações
greco-romanas.
Pode-se definir, superficialmente, que sistema penal inquisitorial é aquele em que o
juiz possui poder de produzir provas, sem envolvendo direta e ativamente na instrução
processual. O professor Aury Lopes faz a seguinte análise:
O sistema inquisitório muda a fisionomia do processo de forma radical. O
que era um duelo leal e franco entre acusador e acusado, com igualdade de
poderes e oportunidades, se transforma em uma disputa desigual entre o juiz-
inquisidor e o acusado. O primeiro abandona sua posição de árbitro
imparcial e assume a atividade de inquisidor, atuando desde o início também
como acusador. Confundem-se as atividades do juiz e do acusador, e o
acusado perde a condição de sujeito processual e se converte em mero objeto
de investigação.
Frente a um fato típico, o julgador atua de ofício, sem necessidade de prévia
invocação, e recolhe (também de ofício) o material que vai constituir seu
convencimento. [...] O juiz é livre para intervir, recolher e selecionar o
material necessário para julgar, de modo que não existem mais defeitos pela
inatividade das partes e tampouco existe uma vinculação legal do juiz
(JÚNIOR, 2019, p. 185-186)
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Conquanto no sistema acusatório a relação processual é tríplice, no sistema penal


inquisitivo, a relação processual é dúplice, juiz e réu.
O Doutor Marcelo Batlouni Mendroni, em sua tese de doutorado, posteriormente
transformada em livro doutrinário, define o processo inquisitivo como:
Abolida a acusação e a publicidade do Processo, o Juiz atuava de ofício e em
segredo [...].
O primeiro abandonava a posição de árbitro e assumia a ativa de inquisitor,
atuando desde o primeiro momento também como acusador, é dizer, se
confundiam as atividades do Juiz e do Acusador (MENDRONI, 2013, p. 45).
O Estado, para utilizar a inquisição, prima facie, se embasou na fidelidade ao Rei e ao
Imperador, perseguindo os “traidores”. Depois, se fundamentou na segurança nacional (o
abstrato interesse público) e em ideologias políticas, para inquirir os “subversivos” (expressão
utilizadas por ditaduras do passado recente). Hans Kelsen, em Teoria Geral do Direito e Do
Estado, sua última obra, concluiu:
Na ciência social, e especialmente na ciência jurídica, ainda não há nenhuma
influência capaz de se contrapor ao interesse esmagador que os que residem
no poder, assim como os que anseiam por ele, têm por uma teoria que
satisfaça os seus desejos, isto é, por uma ideologia política. (KELSEN, 2016,
p. XXXIII)
O sistema penal inquisitório nada mais é do que isso. Dentro do ambiente clérigo,
servia a mantença dos interesses de determinada classe social (o clero) sobre os demais.
Dentro do ambiente governamental, serve ao interesses do Estado contra os cidadãos e as
liberdades individuais.
Se, estudando-se pelo espectro da teoria geral do estado, a inquisição não é
democrática, pela ótica jurídica, a falha é formar no juiz, desde o período investigatório, o
julgamento final, retirando do acusado qualquer possibilidade de absolvição ou inocência.
Continuando com os dizeres do professor Aury Lopes Júnior:
Em definitivo, o sistema inquisitório foi desacreditado – principalmente –
por incidir em um erro psicológico: crer que uma mesma pessoa possa
exercer a funções tão antagônicas como investigar, acusar, defender e julgar
(JÚNIOR, 2019, p. 192).
O investigador, para chegar à alguma conclusão sobre a autoria do crime, precisa
formular hipóteses. Assim procedendo, forma imagens mentais e julgamentos sobre a pessoa
do acusado, por isso que, quando o juiz também pode investigar, se perde a possibilidade de
um julgamento justo e equânime. O processo já se inicia de um pré-convencimento daquele
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que irá sentenciar. Então, pode-se concluir que as principais características deste sistema são:
a) parcialidade do juiz; b) inexistência da figura do acusador; c) impossibilidade de ampla
defesa e contraditório; d) resultado final pré-delimitado desde a instauração do inquérito.
No Brasil, o sistema penal acusatório foi adotado há apenas trinta anos, com a
promulgação da Carta Magna de 1988, que atribuiu ao Ministério Público o caráter de
instituição permanente, essencial à administração da justiça, com titularidade exclusiva para
promover as ações penais públicas, exercer o controle externo da atividade policial e
requisitar investigações (artigo 129, CF/1988), consoante se verificará melhor no tópico
seguinte.
2.1 DO PAPEL DAS POLÍCIAS E DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA INVESTIGAÇÃO E
NO PROCESSO PENAL BRASILEIROS.
Como já manifestado, o Ministério Público desempenha função essencial à
administração da Justiça. Atua como fiscal da lei, defensor do Estado Democrático de Direito,
da harmonia entre os poderes republicanos, e dos interesses sociais.
Por tamanha importância institucional, possui ampla autonomia, não se submetendo a
nenhum ao executivo, legislativo e judiciário (artigo 127, §2º, da Constituição Federal de
1988).
Todavia, explica o Professor Pedro Lenza, em seu livro Direito Constitucional
Esquematizado (LENZA, 2015, p. 1004), que as funções constitucionais pertencentes ao
parquet, elencadas no referido artigo 127, não são taxativas, uma vez que seu inciso IX
estabelece a possibilidade de lhe serem atribuídas novas funções.
Sua origem remonta aos Procuradores do Rei, do direito francês. No Brasil, o Alvará
de 07 de março de 1609, que criou o Tribunal de Relação da Bahia, foi a primeira legislação
nacional a abordar a função do Ministério Público (LENZA, 2015, p. 978).
Dentre as prerrogativas e competência do órgão, estão a titularidade e o monopólio da
ação penal pública, o zelo pelo efetivo respeito aos três poderes, o exercício do controle
externo da atividade policial, os requerimentos de diligências investigatórias e a instauração
de inquérito policial.
Para o Doutor Mendroni, já anteriormente referenciado, a função investigativa do
Ministério Pública tem raízes e explicações históricas. De acordo com ele, desde o século XII
e seguintes, já havia Promotores com a função de investigação tais quais a parquet. Afirma,
ademais, que a evolução dos antigos Procuradores do Rei para os atuais Promotores se
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confunde com a própria evolução do sistema penal acusatório (já esmiuçado no capítulo
anterior). Leia-se:
O surgimento do Ministério Público como hoje se concebe confunde-se com
a evolução do próprio sistema acusatório, e, como dissemos anteriormente,
com uma dupla justificativa:
a) a pretensão de garantir a efetividade da Persecutio Criminis, ou seja,
para impor o dever de investigar e perseguir todos os fatos com aparência
delitiva (aplicação do Princípio da Legalidade);
b) buscar a imparcialidade do Juiz – inexistente no Sistema Inquisitivo.
Disso decorre que quando se analisa a evolução do Sistema Acusatório
percebe-se a intenção de outorgar a um órgão estatal com características
judiciais (um órgão público) o controle sobre a persecução penal [...].
(MENDRONI, 2013, p. 65-68).
Logo, a função do Ministério Público é, dentro do âmbito penal, garantir a
imparcialidade do Juiz, da persecução penal e da igualdade entre acusador e acusado, que, por
consequência, garante o devido processo legal e o julgamento justo.
O Promotor que investiga o caso deve preocupar-se não tanto com a pessoa, mas com
o fato ocorrido. Segundo o Doutor Mendroni, o Promotor, deve dar maior atenção às
evidências e à comprovação da prática criminosa, e não voltar a sua atenção exclusivamente
para a pessoa do investigado, adiantando-lhe uma punição (MENDRONI, 2013, p. 337).
De todo o exposto, pode-se concluir, com tranquilidade, que o Ministério Público é o
accusator da antiguidade clássica, e por força da Constituição nacional, titular natural da ação
penal, por ser o órgão independente chamado a atuar na ocorrência de crimes de natureza
pública. E, assim sendo, é de sua incumbência provar a autoria dos crimes, devendo, para
tanto, tomar as rédeas investigativas.
Em linhas sintéticas, a investigação criminal é uma fase pré-processual, que possui,
basicamente, duas finalidades: apurar a ocorrência de um crime e indiciar. É, neste diapasão,
um mecanismo de se evitar o processamento penal prematuro e temerário, contra pessoas
inocentes e/ou com supedâneo em fatos não tipificados no Código Penal.
Tratando-se da atuação das Polícias nas investigações criminais, são exemplos típicos
de suas funções: registrar boletins de ocorrência, coletar dados, documentos, materiais (fotos,
filmagens, armas, objetos, escutas telefônicas, etc.), fazer verificações, buscas e apreensões,
identificações, operações e cumprir mandados judiciais.
Clarividente, a função pública das polícias não se subsome apenas em investigar, é
também a manutenção da lei, da paz e da ordem social e manter sob sua guarda e
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responsabilidade os apenados. Por isso, é ela que é a responsável por manter policiais nas ruas
e fazer rondas de vigilância, inibir a ocorrência de fatos criminosos (face repressiva). Quando
são cometidos ilícitos penais, já no seu espectro investigatório, a Polícia deve preservar o
local do crime intacto para as realizações das perícias, coletar evidências e produzir
inquéritos.
O professor Batlouni é enfático que:
Assim é que, tratando-se de atividade investigatória da Polícia, esta tem que
atuar com muita rapidez na sua tarefa de coleta de todo o material que possa
guardar relação com o crime – material este que, posteriormente será́
estudado em conjunto e inter-relacionado deverá servir para que se possa
chegar a alguma conclusão seriamente fundamentada.
Essa atividade realizada pela Polícia em seguida à prática do delito tem uma
importância fundamental para o posterior esclarecimento das referidas
circunstâncias que a envolvem. Quanto mais eficiente seja, tanto melhores
serão as possibilidades de um esclarecimento completo, e, por outro lado,
quanto menos material houver sido coletado, tanto menores serão as
possibilidades de esclarecimento e, por isso, tanto mais obscuros e menos
conclusivos se tornarão os fatos. (MENDRONI, 2013, p. 322).
Não obstante, para o bom encaminhamento da finalidade proposta a este artigo, é
apropriado ater-se ao papel da polícia apenas na investigação criminal.
A polícia é fundamental para a jurisdição penal, porque do inquérito por ela produzido
é que dependerá boa parte da instrução processual, principalmente nas ações penais públicas.
Isto é, a Polícia é o órgão que tem o primeiro contato com a notícia criminis.
Interligando o conhecimento adquirido, pode-se afirmar que o trabalho em conjunto da
Polícia e do Ministério Público serão fundantes para os esclarecimentos dos fatos e para o
bom funcionamento do sistema penal acusatório. A primeira coleta as evidências, o segundo
as analisa e propõe a denúncia, se for o caso.
É por isto que o Ministério Público deve orientar as investigações e exercer o controle
externo da Polícia. Se o crime tem natureza de interesse público, mas, ao mesmo tempo, é
necessário haver imparcialidade do Juiz e igualdade entre as partes, nada mais consentâneo
que aquele tenha poderes investigativos e oriente os trabalhos policiais:
Quando a Polícia tenta caminhar por sua própria conta na coleta do material
comprobatório (evidências) dos fatos, normalmente terá́ realizado atuações
em desconformidade com o que quer o destinatário das evidências, o
Ministério Público, e, por conseguinte, em muitos casos, terá “deixado de
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fazer o que devia” – tendo feito “o que não era necessário”, e pior, com
perda de tempo irrecuperável para os esclarecimentos, tempo este que, como
salientado, joga contra a eficiência da investigação criminal. Correto,
portanto, é que a Polícia, tão pronto tenha concluído as atividades
preliminares, logo após a prática do crime, comunique a ocorrência de tal
fato criminoso e das circunstâncias observadas ao Ministério Público, para
em seguida receber do Promotor de Justiça as instruções devidas para o
encaminhamento da sequência das investigações. (MENDRONI, 2013, p.
324).
Pelo que foi até aqui sublinhado, pode-se definir que a árvore do sistema penal
acusatório é constituída de duas fases: pré-processual e processual. A polícia atua
preliminarmente, na fase extrajudicial, investigando e colhendo evidências. O parquet age
tanto na fase pré-processual quanto na fase processual; na primeira, se utilizando de suas
prerrogativas investigatórias – orientando os trabalhos policiais ou até mesmo requerendo a
abertura ou a complementação dos inquéritos -, analíticas e instrutórias; na segunda, como
parte processual ativa, fazendo a denúncia e acusando.
2.2 DO PAPEL DO PODER JUDICIÁRIO NO SISTEMA PENAL ACUSATÓRIO
BRASILEIRO
Sobre o papel do juiz no processo penal, é importante abordar o tema. O juiz é aquele
que, no exercício do poder jurisdicional, irá sentenciar o acusado, com base nas provas
produzidas pelas partes processuais, nas leis e no princípio do livre convencimento motivado.
Falar sobre sua imparcialidade, muitas das vezes, pode parecer utópico, afinal de
contas o juiz é um ser-humano, nunca será, portanto, integralmente isento. Suas sentenças,
quer queira quer não, espelharão seus valores, sua visão de mundo e suas opiniões,
indubitavelmente. Sem embargo, não é neste tocante que diz respeito o princípio da
imparcialidade do juiz no processo penal. Imparcialidade, no sistema acusatório, significa
alheamento.
O juiz deve estar livre de pré-juízos, para que possa analisar, sem qualquer
envolvimento psicológico, as provas que foram produzidas e estão constantes nos autos. O
professor Aury Lopes Júnior define que o juiz que participa da instrução, cria, nas suas
próprias palavras, quadros de paranoia mental:
Atribuir poderes instrutórios a um juiz – em qualquer fase –é um grave erro,
que acarreta a destruição completa do processo penal democrático. [...] Isso
significa que se opera um primado (prevalência) das hipóteses sobre os fatos,
18

porque o juiz que vai atrás da prova primeiro decide (definição da hipótese)
e depois vai atrás dos fatos (prova) que justificam a decisão (que na verdade
já foi tomada). O juiz nesse cenário passa a fazer quadros mentais
paranoicos.
É evidente que o recolhimento de prova por parte do juiz antecipa a
formação do juízo. (JÚNIOR, 2019, p. 206-207).
Ou seja, a imparcialidade do juiz está no fato de que ele deve estar livre de pré-
conceitos e hipóteses mentais sobre o caso sub judice, para que possa julgar e sentenciar com
base tão somente naquilo que foi acostado pelo Ministério Público e o Réu.
São essas as razões que fazem com que, inclusive, boa parte da doutrina critique a
possibilidade que o Código de Processo Penal trouxe de que os juízes possam requerer, de
oficio, a produção de certas provas. Mas, embora seja tal discussão seja de grande valia, neste
momento, a intenção é fixar que o princípio da imparcialidade tem pedra angular no
distanciamento do juiz da investigação e da produção das provas.
3 DA INCONSTITUCIONALIDADE DA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL 4.781
A assimilação dos papéis destes três personagens principais, Juiz, Ministério Público e
Polícia, dentro do ordenamento jurídico brasileiro e as noções também postas sobre os
sistemas penais acusatório e inquisitório dão a linha de raciocínio para se desenvolver o ponto
focal deste artigo: as razões pelas quais o “inquérito do STF” é inconstitucional.
Como explanado na introdução, não se trata de ignorar que o Supremo Tribunal
Federal e seus Ministros possam ter sido vítimas de “fake news” ou crimes contra a honra,
mas, sobretudo, trata-se da Corte Suprema ter se apropriado de poderes institucionais que são
constitucionalmente conferidos à outros órgãos, além de ter suprimido, já no âmbito das
investigações, direitos e prerrogativas individuais de pessoas e atividades jurídicas.
Pensar no papel que o STF vem desenvolvendo e que culminou na investigação
criminal ora em tela, é, como dito, salutar. A Democracia e o Estado Democrático de Direito
não são naturais, estáveis e perenes, são fruto do intelecto humano e de processos históricos,
portanto, deve-se vigília constante, pois faz parte da natureza humana o arbítrio e o domínio.
Àqueles que estão no poder, tentarão usurpá-lo, por isto mecanismos de mitigação e separação
dos poderes foi, e ainda é, capaz de civilizar o convívio social, o desenvolvimento e a
qualidade de vida. Nas palavras do Ministro Barroso:
A Constituição é um instrumento do processo civilizatório. Ela tem por
finalidade conservar as conquistas incorporadas ao patrimônio da
humanidade e avançar na direção de valores e bens jurídicos socialmente
19

desejáveis e ainda não alcançados. Como qualquer ramo do Direito, o direito


constitucional tem possibilidades e limites (BARROSO, 2018, p. 44).
Por conseguinte, a par das violações à vários princípios do direito penal, como o
devido processo legal, e da constituição, como a liberdade de expressão, o inquérito
conduzido pelo STF é inconstitucional sobretudo porque vai muito além dos limites e
possibilidades da Corte.
3.1 DA AFRONTA AO PRINCÍPIO DO JUIZ NATURAL E IMPARCIAL
O artigo 5, inciso XXXVIII, da Constituição Cidadã, diz que não haverá juízo ou
tribunal de exceção. Isto significa que o Estado não pode designar, de forma personalíssima,
os julgadores para cada tipo de processo, antes, o acusado, em qualquer competência
jurisdicional, possui o direito de ser julgado por aquele que a lei anterior, abstratamente,
revestiu de jurisdição.
O Ministro Luiz Roberto Barroso, neste particular, explicou que:
O postulado do juiz natural, por encerrar uma expressiva garantia da ordem
constitucional, limita, de modo subordinante, os poderes do Estado — que
fica, assim, impossibilitado de instituir juízos ad hoc ou de criar tribunais de
exceção —, ao mesmo tempo em que assegura ao acusado o direito ao
processo perante autoridade competente abstratamente designada na forma
da lei anterior, vedados em consequência, os juízos ex post facto
(BARROSO, 1998, p. 35)
O que implica afirmar que o Presidente do Supremo não poderia ter escolhido o
Relator para o Inquérito, mas, na contramão, deveria ter o colocado para distribuição e sorteio
eletrônicos. Assim como também determina o próprio Regimento Interno do Supremo
Tribunal Federal em seus artigos 66 e 67:
Art. 66. A distribuição será feita por sorteio ou prevenção, mediante sistema
informatizado, acionado automaticamente, em cada classe do processo
§1º O sistema informatizado de distribuição automática e aleatória de
processos é público e seus dados são acessíveis aos interessados.
§2º Sorteado o Relator, ser-lhe-ão imediatamente conclusos os autos
Art. 67. Far-se-á a distribuição entre todos os Ministros, inclusive os
ausentes ou licenciados por até trinta dias, excetuado o Presidente.
(BRASIL, 1980).
O princípio do juiz natural surge como um princípio corolário do juiz isento e
imparcial, para um julgamento justo. Quando da publicação da Portaria GP n. 69, o Ministro
José Antônio Dias Toffoli designou, no mesmo ato, o Ministro Alexandre de Moraes como o
20

relator da investigação do processo. Apontada atitude enquadra-se na vedação legal de juízo


de exceção, pois infringe os postulados legais, infirmando direitos e não garantindo que os
alvos da investigação sejam julgados por um juízo isento, imparcial e alheio.
3.2 DA VIOLAÇÃO AO SISTEMA PENAL ACUSATÓRIO
Notícias e comunicados oficiais, publicados pelas mais diversos meios de
comunicações e órgãos do poder público, noticiaram o cumprimento de medidas cautelares
penais sujeitas à reserva de jurisdição ao Ministério Público e das Policias, sem conhecimento
e requerimento destes.
A situação jurídica escorreita a ser adotada é o arquivamento do inquérito penal.
Como visto, no processo penal acusatório: um órgão acusa, outro defende e outro
julga, não há tolerância à subsunção ou aglutinação de qualquer um destes papéis. Este
sistema democrático viabiliza outros princípios, como o devido processo legal, o contraditório
e à ampla defesa, o do juiz natural e imparcial e da legalidade, que visam garantir a segurança
jurídica e a credibilidade da Justiça. Para além, mitigam o poder dentre várias instituições,
prevenindo arbitrariedades e efetivando a paz social.
Este arcabouço principiológico constitucional é inafastável, pois constitui a nascente
de todo o direito moderno, com forca hierárquica superior às próprias normas, devendo ser
observado em todos os litígios levados ao conhecimento do Poder Judiciário e demais
instituições públicas.
Seguindo essa linha de pensamento, não é possível que, dentro do sistema penal
acusatório, o Poder Judiciário, seja por intermédio do duplo grau de jurisdição ou das Cortes
Superiores, condução qualquer tipo de investigação criminal, ainda mais quando o faz ao
longe da fiscalização e dos olhos do parquet e das polícias.
Além disso, a publicidade é outro princípio da administração pública. Pode-se que
dizer que possui natureza ambivalente, sendo dever do administrador e servidor público e
direito do cidadão. Por consequência, somente podem tramitar em segredo de justiça,
processos excepcionais.
No malsinado inquérito objeto deste artigo, têm-se que o Supremo Tribunal Federal é
a vítima, o investigador, o acusador e o julgador, ou seja, caracteriza-se como uma espécie de
vingança “privada” institucional, colocando em risco a lisura do devido processo legal, a
isenção do julgador e o próprio sistema penal acusatório, porque concentraram poderes
instrutórios e investigativos nas mãos do poder judiciário, tal como funciona no processo
21

penal inquisitivo, além de, como já amplamente repisado, arrogar para si funções legalmente
conferidas a outros órgãos da república.
Mais uma vez, cita-se passagem do livro do Doutor Mendroni;
Tendo em conta a evolução do Sistema Acusatório para a necessária
adaptação à defesa do interesse público de combate à criminalidade, entrega-
se a um órgão público, diverso do Poder Judiciário, para gerar a necessária
imparcialidade, o poder da persecução penal; e portanto, para que esta se
leve a cabo dentro do mesmo sistema, considera-se necessária a
determinação de uma primeira fase do processo, com todos os poderes
inerentes à necessária investigação e direcionada a determinar a existência
da ação penal (MEDRONI, 2013, p. 68)
Em conclusão, a conjuntura atual é que não se sabe como se encerrarão os trabalhos
iniciados dentro da investigação, porque, de acordo com o informado na introdução deste
artigo, o Ministério Público promoveu-lhe o arquivamento, além de deixar patente que não
iria considerar nenhum elemento de prova produzida.
Até então, a jurisprudência do Guardião da Constituição era pacificada no sentido de
que ele não poderia recusar o pedido de arquivamento de inquéritos feito pelo Ministério
Público. Mas, agora, recusou.
3.3 DA INCOMPETÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL PARA PROCESSAR
E JULGAR CRIMES COMUNS
Outro ponto relevante a ser enfrentado é sobre a competência do Supremo Tribunal
Federal para processar e julgar ilícitos penais. É conhecido que o ordenamento jurídico
brasileiro adotou o princípio do duplo grau de jurisdição. Desta maneira, as Cortes Superiores
existem para salvaguardar o cumprimento das leis infraconstitucionais (STJ) ou
constitucionais (STF), sendo competentes para julgamentos abstratos e pacificação de
jurisprudência.
Não existe terceiro e quarto graus de jurisdição no Brasil. Em prestígio à isso, ficou
pacificado que o as Cortes Superiores não podem revolver fatos e provas, e, somente em casos
de exceção, é que terão processos de sua competência originária. Em relação à processos
penais, o artigo 102, I, alíneas “b” e “c”, da CF, expressamente prevê que compete ao
Supremo Tribunal Federal processar e julgar penalmente e originalmente somente algumas
determinadas pessoas, por prerrogativa de função.
4 DO REGIMENTO INETRNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL E DOS
DIREITOS AFETADOS
22

4.1 DO REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL


O artigo 43, do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, utilizado para
fundamentar a publicação da Portaria GP n. 69 e abrir os trabalhos de investigação, possui os
seguintes dizeres:
Art. 43. Ocorrendo infração à lei penal na sede ou dependência do Tribunal,
o Presidente instaurará inquérito, se envolver autoridade ou pessoa sujeita à
sua jurisdição, ou delegará esta atribuição a outro Ministro.
§ 1º Nos demais casos, o Presidente poderá proceder na forma deste artigo
ou requisitar a instauração de inquérito à autoridade competente.
§ 2º O Ministro incumbido do inquérito designará escrivão dentre os
servidores do Tribunal. (BRASIL, 1980)
O aludido artigo da norma regimental regulamenta situações para apurar eventuais
delitos criminais que venham a ocorrer dentro das dependências físicas do Supremo Tribunal
Federal, e que envolvam autoridades ou pessoas ligadas à Corte Constitucional. Ou seja, não
confere ao Poder Judiciário, mais especificamente, ao Supremo, a prerrogativa de
investigação contra quaisquer pessoas, por este ter sido vítima de crime contra sua honra
institucional. E perceba-se que o parágrafo primeiro, parte final, esclarece que o Presidente
poderá instaurar inquérito ou o requisitar à autoridade competente.
O Capítulo VIII, capítulo no qual o artigo 43 está inserido, aborda sobre o Poder de
Polícia na estrutura física da Corte máxima, e nada mais. Neste prumo, demonstrada a falta de
fundamentação legal, não há como o Inquérito 4.781 ser juridicamente válido.
4.2 DOS DIREITOS AFETADOS PELA INVESTIGAÇÃO 4.781
No primeiro capítulo, foi informado que meios de comunicação foram censurados pelo
Ministro Relator da investigação criminal em questão, sendo o caso mais notório os da
Revista Crusoé e o do site O Antagonista.
Ambas as matérias jornalísticas apenas publicaram um documento da Operação Lava
Jato, em que o empresário Marcelo Odebrecht afirma que o codinome “o amigo do amigo de
meu pai” era utilizado para se referir ao atual Presidente do Supremo Tribunal.
Em seu despacho, o Ministro Alexandre de Moraes propalou que a vinculação de Dias
Toffoli à Operação seria maléfica à sua reputação, razão pela qual deveria ser retirada de
circulação.
Muito embora a liberdade de expressão não seja o objeto específico deste artigo, é
bom trazê-la à baila, haja vista que foi um direito lesionado.
23

A liberdade de expressão compreende não apenas o direito à liberdade positiva, que é


a liberdade para concordar, pensar igual, corroborar e endossar determinado posicionamento,
mas engloba também a liberdade negativa, que é expressa na ofensa, na crítica, no protesto e
no boicote.
Alexandre Sankievicz, em seu livro Liberdade de Expressão e Pluralismo de Ideias,
menciona que:
A corrente filosófica que justifica a liberdade de expressão na autonomia
individual a encara como um bem humano primordial, uma condição basilar
para uma vida boa e digna. Agentes autônomos devem ser livres para
expressar suas próprias opiniões como melhor lhes convier, devem possuir
plena capacidade de auto-orientação e consciência, não possuindo ninguém o
direito de decidir o que outras pessoas devem pensar ou falar.
A expressão livre deve ser protegida independentemente dos benefícios ou
malefícios sociais que possam resultar do exercício dessa liberdade. Deve
também ser interpretada como um instrumento de garantia da autonomia
discursiva do indivíduo, como uma dimensão de sua liberdade e dignidade
pessoal. (SANKIEVICZ, 2011. p. 22-23).
Nem mesmo ao ordenamento jurídico, ou aos três poderes, é lícito especificar o que é
ou não correto dizer, qual a ideia que constitui ou não um crime, o que é ou deixa de ser uma
ofensa. Mesmo que a investigação criminal 4.781 fosse lícita, o que não é o caso, ainda sim as
determinações de censura ao meios de comunicação seriam ilegais.
O poder de polícia do Estado não pode ser utilizado como um instrumento estatal de
censura e punição das ideias, da liberdade de imprensa, de informação e da publicidade, sob
pena de supressão das liberdades individuais, da própria dignidade da pessoa humana e dos
princípios democráticos da administração pública. Nesse sentido:
[...] Se o objetivo da liberdade de expressão é proteger o discurso para que as
pessoas possam expressar os seus valores, certo é que a exclusão de qualquer
mensagem individual seria incompatível com o princípio da
autodeterminação. (SANKIEVICZ, 2011, p. 24).
Cidadãos, pessoas jurídicas e agentes de uma sociedade livre e justa, possuem o direito
de viver conforme sua consciência, suas ideias, suas ideologias e, acima, disso, de externar
suas opiniões e ser informado acerca de todos os assuntos de interesse público.
Em outro rumo, também foram expedidos diversos mandados de busca e apreensão
contra pessoas indeterminadas, em flagrante infração ao Código de Processo Penal. Rege o
artigo 243:
24

Art. 243. O mandado de busca deverá:


I - indicar, o mais precisamente possível, a casa em que será realizada a
diligência e o nome do respectivo proprietário ou morador; ou, no caso de
busca pessoal, o nome da pessoa que terá de sofrê-la ou os sinais que a
identifiquem;
II - mencionar o motivo e os fins da diligência;
III - ser subscrito pelo escrivão e assinado pela autoridade que o fizer
expedir.
§ 1o Se houver ordem de prisão, constará do próprio texto do mandado de
busca.
§ 2o Não será permitida a apreensão de documento em poder do defensor do
acusado, salvo quando constituir elemento do corpo de delito. (BRASIL,
1941).
O legislador optou pelo verbo “deverá”, isto significa que são requisitos obrigatórios
do mandado de busca e apreensão a indicação precisa do local em que será realizada a
diligência, o nome do proprietário ou possuidor, ou, no caso de mandados pessoais, o nome
daquele irá sofrê-lo. Todos os mandados contra pessoas indeterminadas estão todos, logo,
eivados de nulidade, sendo, por consequência, quaisquer provas, decorrentes deles, nulas.
Isto porque o mandado de busca e apreensão é realizado sem o contraditório e a ampla
defesa, além de interferir na inviolabilidade do domicílio e da própria pessoa, direitos
constitucionais, que não podem ser suprimidos arbitrariamente pelo Estado, somente serem
relativizados, em caso excepcionalíssimos, quando contrapostos à outros princípios e direitos.
Enquanto os demais meios de prova anteriormente analisados são
produzidos, desde o seu início, em contraditório, com a participação de
ambas as partes, a busca e apreensão segue procedimento diverso, em
atenção às peculiaridades da medida.
Trata-se, por certo, de medida de natureza eminentemente cautelar, para
acautelamento de material probatório, de coisa, de animais e até de pessoas,
que não estejam ao alcance, espontâneo, da Justiça.
A medida, cautelar no que se refere à questão probatória e à segurança de
pessoas, também é excepcional por implicar a quebra da inviolabilidade do
acusado ou de terceiros, tanto no que se refere à inviolabilidade
do domicílio quanto no que diz respeito à inviolabilidade pessoal.
(PACELLI, 2019, p. 445).
25

Em síntese, o “Inquérito do STF” não é apenas inconstitucional porquanto agride ao


sistema constitucional penal acusatório e demais princípios, os atos praticados dentre dele
estão sendo igualmente realizados em desrespeito à direitos materiais e processuais.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo deste trabalho foi versar sobre a inconstitucionalidade da Inquérito
Criminal 4.781. E, complementarmente, sobre as ilegalidades e nulidades dos atos praticados
no âmbito das investigações.
Para tanto, no tópico 01 foi feita uma explanação introdutória, a fim de ambientar e
informar acerca da persecução penal em debate, com menção às matérias jornalísticas, aos
comunicados oficiais e às petições públicas do Ministério Público, disponíveis no portal da
transparência do sítio institucional do parquet.
Em seguida, foram diferenciados e conceituados os dois tipos de sistema penal, o
acusatório e o inquisitório. O primeiro, tendo nascido na Grécia antiga e posteriormente
resgatado pelas civilizações modernas, com acréscimos de princípios condizentes com o
período em que se vive, o neoconstitucionalismo. O segundo, sendo fruto do direito canônico
durante a idade média, abolido há apenas 30 anos no Brasil, com a promulgação da
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, que adotou o sistema acusatório.
Ainda, foram delimitados os papéis e as funções do Poder Judiciário, das Polícias e do
Ministério Público dentro do sistema constitucional atual.
No mais, foram pontuadas, uma a uma, todas as infrações que fazem do “inquérito
STF” algo inconstitucional e ilegal.
O que se concluiu, ao fim, é que está-se diante de uma verdadeira anomalia jurídica. O
Supremo Tribunal desempenha o papel de vítima, investigador, acusador e julgador, ao
mesmo tempo.
O titular do controle externo da polícia já encerrou os trabalhos e manifestou que não
considerará qualquer prova produzida nos âmbitos deles para sua opinio delicti. A Polícia, não
coletou e/ou participou do recolhimento de nenhuma evidência, muito menos fará o
indiciamento. O Supremo Tribunal Federal não tem competência para processar e julgar
originalmente crimes praticados por pessoas comuns.
De mais a mais, a persecução penal vai contra o sistema penal acusatório, solapa o
princípio do devido processo legal e do juiz natural, avoca para si poderes e prerrogativas que
não são do Poder Judiciário e exclui instituições importantes para a Democracia e o Estado de
Direito que são a Polícia e o Ministério Público.
26

O futuro do Inquérito 4.781 permanece nebuloso e incerto. Muitos dos que por ele já
foram atingidos, impetraram habeas corpus e mandados de segurança, estando com seus
direitos até agora conservados por meio de liminares.
A Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental, ajuizada pelo partido
político Rede Sustentável, está em trâmite.
Quando tudo se chegar à termo, só fica a incógnita se os Ministros coatores, partícipes
dos atos arbitrários e das inconstitucionalidades, serão responsabilizados ou se continuarão
acima da lei e da ordem, se em solo nacional se terá verdadeiramente uma democracia madura
e solidificada, ou se perdurará um Estado de Cleptocracia, com um Supremo Tribunal sem
qualquer legitimidade perante a população, como bem analisou o Professor Modesto
Carvalhosa.
27

REFERÊNCIAS

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Paulo: Saraiva, 1998.

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28

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Regulação. 1. ed. Editora Saraiva. São Paulo, 2011

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