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CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO

JAQUELINE CALISTO DA SILVA

O IMPACTO PSICOLÓGICO DO ABORTO PERMITIDO

NAS VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA SEXUAL

MARINGÁ
2019
1

CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO

JAQUELINE CALISTO DA SILVA

O IMPACTO PSICOLÓGICO DO ABORTO PERMITIDO

NAS VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA SEXUAL

Artigo apresentado à UNIFAMMA – Centro Universitário


Metropolitano de Maringá, como parte dos requisitos para
aprovação no curso de Graduação. Área de Concentração:
Direito.
Orientador: Prof. Esp.: Carlos Eduardo Pires Gonçalves

MARINGÁ
2019
2

CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO

JAQUELINE CALISTO DA SILVA

O IMPACTO PSICOLÓGICO DO ABORTO PERMITIDO

NAS VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA SEXUAL

Artigo apresentado à UNIFAMMA – Centro Universitário


Metropolitano de Maringá, como parte dos requisitos para
aprovação no curso de Graduação. Área de Concentração:
Direito.
Orientador: Prof. Esp.: Carlos Eduardo Pires Gonçalves

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________

Professor Orientador: Esp. Carlos Eduardo Pires Gonçalves

_____________________________________

Professor: Dr.

___________________________________

Professor: Me.

Data de Aprovação:_____ de ________ de______.


3

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus pelo dom da vida por me amparar em todos os


momentos da minha vida e principalmente por enviar anjos em minha vida em disfarçados de
família que me deram apoio incondicional durante está longa trajetória, sendo minha base
sólida para todos os momentos, pai, mãe essa conquista não seria possível sem vocês.
Agradeço ao meu orientador que a cada aula ministrada em sala despertava em mim o desejo
pelo conhecimento e ao longo dessa caminhada tornou-se um mestre pelo qual tenho profunda
admiração e gratidão por todos os conselhos e orientações, muito obrigado levarei seus
ensinamentos comigo para todo o sempre.
4
5

Aos meus pais dedico esta pesquisa, pelo carinho, afeto,


amor, todo cuidado e incentivo dedicados a mim durante
a trajetória da minha graduação. A eles minha eterna
gratidão.
3

Se eu pudesse deixar algum presente a você, deixaria


aceso o sentimento de amar a vida dos seres humanos. A
consciência de aprender tudo o que foi ensinado pelo tempo a
fora. Lembraria os erros que foram cometidos para que não
mais se repetissem. A capacidade de escolher novos rumos.
Deixaria para você, se pudesse o respeito àquilo que é
indispensável. Além do pão, o trabalho. Além do trabalho, a
ação. E, quando tudo mais faltasse, um segredo: o de buscar
no interior de si mesmo a resposta e a força para encontrar a
saída.
Mahatma Gandhi
4

RESUMO

O presente artigo versa sobre violência de gênero feminino e sua interface com a saúde mental e
lança alguns questionamentos, tais como: como é a violência contra a mulher no Brasil? Quais
são as consequências da violência sexual na saúde mental das mulheres? Nesse sentido, temos
que o objetivo do trabalho é expor e questionar a violência sexual e os impactos que se dá na
saúde mental da mulher, tomando como base o direito da mulher no Brasil. A realização do
estudo se justifica ao fato que trata-se de um assunto com ampla discussão, principalmente ao
fato de para certos nichos seja considerado um tabu, uma vez que choca quando é abordado. A
metodologia recorreu à pesquisa biográfica, no formato descritivo e indutivo, o qual procurou
desenvolver um estudo analítico da violência sexual e os impactos na saúde mental da mulher.
Diante a realização do estudo, a pesquisadora considerou que a violência contra a mulher além de
danos à saúde física, também causa transtornos mentais à, logo tal agressão não está associada
somente ao uso da força física, mas também à ideia de submissão, que culturalmente ocorre nas
relações de gêneros, na qual q figura do homem é vista como dominante e a mulher como um ser
inferior. De modo geral, a violência sexual gera nas mulheres isolamento social, uma vez que eles
tornam-se reprimidas, deprimidas e psicologicamente abaladas; sendo considerado uma
problemática de Saúde Pública com relevante impacto em todo mundo.

Palavras – Chave: Violência. Mulher. Sexual. Saúde mental. Direito da mulher.


5

ABSTRACT

The present article deals with female violence and its interface with mental health and launches
some questions, such as: how is violence against women in Brazil? What are the consequences of
sexual violence on women's mental health? In this sense, we have that the objective of the work
is to expose and question the sexual violence and the impacts that occur in women's mental
health, based on women's rights in Brazil. The study is justified by the fact that it is a subject with
wide discussion, mainly due to the fact that for certain niches it is considered a taboo, since it
hinders when it is approached. The methodology used biographical research, in the descriptive
and inductive format, which sought to develop an analytical study of sexual violence and the
impacts on women's mental health. In the face of the study, the researcher considered that
violence against women besides damages to physical health, also causes mental disorders,
therefore such aggression is not only associated with the use of physical force, but also with the
idea of submission, which culturally occurs in the relations of genera, in which the q figure of the
man is seen as dominant and the woman as an inferior being. In general, sexual violence
generates social isolation in women, once they become repressed, depressed and psychologically
shaken; being considered a problem of Public Health with relevant impact worldwide.

Key words: Violence. Woman. Sexual. Mental health. Laws for women.
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INTRODUÇÃO

É sabido que as mulheres sempre ocuparam uma condição de submissão na sociedade, no


qual segundo Souza, Kazmierczak e Couto (2012), era comum que as mulheres ficassem em casa,
encarregadas de trabalhos menos perigosos que os homens e dedicadas à criação dos filhos, trata-
se de uma construção cultural defendida pelo machismo. Desta forma, um entendimento da
dominação de gênero é relevante para a compreensão dos direitos sociais da mulher e dos
desafios enfrentados para assegurá-los, assim como a mudança do papel exercido pela mulher na
contemporaneidade.
Em uma análise de teorias feministas e filosofias do homem como a de Rousseau,
pensador, teórico político suíço que se destacou como intelectual que influenciou decisivamente o
movimento iluminista do século XVIII e a revolução francesa defendia que as mulheres são
naturalmente mais fracas, apropriadas para a reprodução, mas não para a vida pública. Logo se
nota a relevância da temática no intuito de conscientizar leitores sobre o impacto do preconceito
existente, no qual a mulher é vista como um sexo frágil, que necessita ser dominada pelo homem;
diante um avanço do direito da mulher, devido a toda sua importância, destaque e papel na
sociedade (NYE, 1995).
As transformações sociais e toda mudança no conceito de mercado e de família, geraram
um novo posicionamento feminino, no qual as mulheres vêm conquistando espaços e mudando o
rumo de suas histórias. Sendo assim, o âmbito familiar deixa de ser o único e principal cenário da
mulher que hoje, trabalha em hospitais, empresas, fábricas e até mesmo na política. E mesmo
com todos os avanços percebidos na sociedade, a prática da violência contra a mulher é notável,
logo nota-se que ainda existe, nos dias de hoje, uma vulnerabilidade da mulher perante os seus
avanços históricos e as redes de enfrentamento do problema.
A presente pesquisa visa contribuir para o campo de estudos sobre violência de gênero,
mais especificamente a violência contra as mulheres, sua interface com a saúde mental, cuja
realidade transforma a temática, um assunto polêmico e muitas vezes silenciado por muitas
mulheres no dia a dia.
Nesse contexto, a Organização Mundial de Saúde (OMS) define a violência sexual como
qualquer ato sexual ou tentativa de obter ato sexual, investidas ou comentários sexuais
indesejáveis, ou tráfico ou qualquer outra forma, contra a sexualidade de uma pessoa usando
7

coerção. E pode ser praticada por qualquer pessoa, independentemente da relação com a vítima, e
em qualquer cenário, incluindo a casa e o trabalho.
A temática da violência tem sido objeto de estudo de várias pesquisas, em diversas áreas
de atuação, tais como: sociologia, filosofia, e principalmente saúde, tal diversidade se dá ao fato
da temática ser um fenômeno mundial de grande intensidade e complexidade, evidenciado nos
últimos anos, um sério problema de saúde pública.
Diante a problemática referente à violência contra a mulher, cuja realidade transforma a
temática num assunto polêmico e muitas vezes silenciado por muitas mulheres no dia a dia; neste
contexto, questiona-se: como é a violência contra a mulher no Brasil, nos dias de hoje? Quais
são as consequências da violência sexual na saúde mental das mulheres? Nesse sentido, o
objetivo do trabalho é expor e questionar a violência sexual contra a mulher e os impactos que se
dá na saúde mental, tomando como base o direito da mulher no Brasil.
A realização do estudo se justifica ao fato que trata-se de um assunto com ampla
discussão, principalmente ao fato de para certos nichos seja considerado um tabu, uma vez que
choca quando é abordado, mas que precisa ser explanado para que todos tenham ciência da
gravidade, e que cesse qualquer julgamento ou preconceito acerca da mulher como estimuladora
e culpada da violência sofrida. Além disso, precisamos saber como este assunto é visto
mundialmente, quais as recomendações do Comitê de Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação Contra a Mulher (CEDAW), OMS e da Organização Pan Americana da Saúde em
Brasília, OPAS.
Um tocante é que frente a uma cultura patriarcal afirma-se, com segurança, que o homem,
representa uma figura mais forte com maior dominação física em relação a mulher, considerada
ainda como sexo frágil, e pelo fato da violência sexual estar diretamente relacionada ao gênero,
nota-se que o tema amplia cada vez mais nas pautas feministas, uma vez que, a tal agressão, gera
efeitos que muitas vezes são irreversíveis nas mulheres, tanto sob a ótica do físico, quanto do
psicológico, logo afeta diretamente a saúde mental, já que é recorrente casos que as sequelas que
acompanham suas vítimas até o final de suas vidas. Assim, o estudo é relevante para relacionar a
vulnerabilidade da mulher perante o homem.
O método epistemológico utilizado foi o biográfico, descritivo e indutivo, o qual procura
desenvolver um estudo analítico da violência sexual e os impactos que se dá na saúde mental da
8

mulher e considerando a escassa doutrina sobre o tema específico (matéria recente de estudo), o
presente trabalho utiliza a corrente analítica, de método dedutivo, racional-retórico.
Espera-se que a presente pesquisa seja de grande valia à docentes e discentes, atuantes ou
não no meio jurídico.

1 ASPECTOS GERAIS DA VIOLÊNCIA

A violência enquanto crime contra humanidade, é um fenômeno complexo que envolve


indivíduos, relações interpessoais, comunidades e a sociedade. E vários anos, se destaca ao ponto
de ser considerado um dos mais relevantes problemas de saúde pública, já que existem evidências
que demonstram que ela [violência] é causadora de mortalidade e morbidade em todas as partes
do mundo.
Antes de discorrermos sobre a violência sexual propriamente dita, necessitamos
compreender a amplitude do temo violência, que segundo a OMS (apud MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2008), pode ser classificada em três modalidades, como demonstra o quadro 1 a
seguir.

Violência Interpessoal este tipo de violência pode ser física ou psicológica, ocorrer tanto
no espaço público como no privado. São vítimas crianças, jovens,
adultos e idosos. Neste tipo de violência destacam-se a violência
entre os jovens e a doméstica;
Violência Contra é aquela em que a própria pessoa se violenta, causando lesões a si
Si Mesmo mesma, também conhecida como autolesão;
Violência Coletiva é aquela cometida contra outra pessoa ou contra um grupo ou
comunidade que resulte ou possa resultar em sofrimento, morte,
dano psicológico, desenvolvimento prejudicado ou privação.
Quadro 1 - Classificações da Violência.
Fonte - OMS (apud MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2008, p.5).

Ainda sobre violência, ressaltamos o do Estatuto de Roma do Tribunal Penal


Internacional, aprovado por meio do decreto 4.388, de 25 de setembro de 2002, no qual são
considerados crimes da competência.
9

Artigo 7º Crimes contra a Humanidade. 1. Para os efeitos do presente Estatuto, entende-


se por crime contra a humanidade, qualquer um dos atos seguintes, quando cometido no
quadro de um ataque, generalizado ou sistemático, contra qualquer população civil,
havendo conhecimento desse ataque: (…) Agressão sexual, escravatura sexual,
prostituição forçada, gravidez forçada, esterilização forçada ou qualquer outra forma de
violência no campo sexual de gravidade comparável (BRASIL, 2002).

Analisando o artigo 7º do Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional e


relacionando aos conceitos mencionados pela OMS nota-se que a violência sexual é um problema
de saúde pública de caráter mundial.

1.1 Violência no Mundo

Considerando o objeto desse estudo, contemplar a violência sexual contra o gênero


feminino, a seguir serão informados alguns índices da violência sofrida por mulheres em todo o
mundo.
Uma em cada 14 mulheres sofre violência sexual no mundo. Tais indicadores foram
coletados em pesquisas ocorridas em 56 países, conforme demonstra a tabela 1 a seguir.
Conforme a pesquisa, 7,2% das mulheres abordadas, afirmaram que já sofreram agressões
sexuais, por indivíduos que não eram seu companheiro (G1, 2014). Os percentuais por região
demonstrados pela pesquisa, estão contidos na tabela 1, a seguir:

Tabela 1 - Percentual de violência contra mulher


Região Percentual
África central 21%
África austral 17,4%
Zona andina 16,6%
Europa ocidental 11,5%
Europa central 10,7%
América Central 9,3%
Brasil 8,3%
Europa oriental 6,9%
Ásia 3,3%
Norte da África e Oriente Médio 4,5%
Cone sul - Argentina e Uruguai 1,9%
10

Fonte – G1 (2014).

Em uma análise da tabela 1, acima, notamos que os percentuais maiores se encontram na


África central, em 21% e 17,4% na África austral. Na América Latina, temos a zona andina
lidera com índice de 16,6%, em seguida a América Central em 9,3% e o Brasil num percentual de
8,3%.
Quando analisamos a Europa, temos a Europa oriental com 6,9%, indicadores menores,
frente a 10,7% na Europa central e 11,5% na Europa ocidental.
O sul da Ásia e o oriente médio, apresentaram indicadores de agressão menores, em 3,3%
e 4,5%, respectivamente. Já os países como Argentina e Uruguai, apresentaram índice de
agressão consideravelmente menor que os demais, em 1,9%.
Outro pais que destacamos é a Austrália, no qual 21% dos seus estudantes sofreram
assédio sexual no ambiente universitário e um levantamento do governo mostrou ainda que 1,6%
dos e das estudantes disseram que sofreram violência sexual, e que as estudantes mulheres têm
três vezes mais probabilidades de sofrerem violência sexual do que os homens (G1, 2017).
Um estudo 1 feito pela Comissão de Direitos Humanos do governo da Austrália,
demonstrou que mais de trinta mil estudantes universitários, já foram violentados sexualmente,
numa proporção de cada 5 estudantes, 1 sofreu assédio sexual no ambiente universitário (G1,
2017).
Na pesquisa, nota-se que as mulheres sofrem violência sexual e assédio sexual em uma
taxa de incidência desproporcionalmente mais alta que os homens e os dados revelam que os
homens foram os agressores tanto de violência sexual quanto de assédio sexual denunciados e
provavelmente era um colega estudante de suas universidades (G1, 2017).
No intuito de reduzir a violência sexual ocorrida na Austrália o Governo Federal lançou
campanha educativa que tem como slogan: “Violência contra as Mulheres – Austrália diz não”.
E segundo o Primeiro-Ministro Australiano, Malclom Turnbull, “A violência contra as
mulheres é uma das grandes vergonhas da Austrália. É uma desgraça nacional”, para tanto, o país
investiu para melhorar a formação das entidades como: polícia, assistentes sociais, pessoal dos
serviços de emergência e funcionários hospitalares, de modo a que mais facilmente reconheçam
os sinais de violência doméstica e saibam como atuar (PINTO, 2015).

1
Os dados foram referem ao período letivo de 2015 e 2016
11

Segundo Sheyne Tanaka (2017,p.117) o Brasil deveria criar alguns mecanismos


educativos com uso de mídia como ferramenta para fazer a informação fluir em várias esferas
sociais, como ocorreu na Austrália, no qual o Governo Federal lançou campanha educativa que
tem como slogan: “Violência contra as Mulheres – Austrália diz não”.
O conteúdo exposto nesse tópico evidencia que a violência sexual contra a mulher é uma
realidade e para Tanaka (2017,p.118-124), a educação, sem dúvida, deve ser um dos pilares na
construção de políticas públicas para as mulheres, em qualquer lugar do mundo, inclusive no
Brasil, no qual se faz necessário um rigoroso sistema de proteção, conforme demonstrado no
decorrer do estudo.

2 DA VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES

Devido às transformações sociais, as mulheres vêm conquistando espaços e mudando o


rumo de suas histórias. O âmbito familiar deixa de ser o único e principal cenário da mulher que
hoje, trabalhar em hospitais, empresas, fábricas e até mesmo na política. Mesmo com todos os
avanços percebidos na sociedade, a prática da violência contra a mulher é notável (BRASIL,
2011).
Heise (1994, p.47-48) afirma que “violência é um fenômeno extremamente complexo,
com raízes profundas nas relações de poder baseadas no gênero, na sexualidade, na auto-
identidade e nas instituições sociais” e que “em muitas sociedades, o direito (masculino) a
dominar a mulher é considerado a essência da masculinidade”
Essa violência pode ser física, sexual, patrimonial, intrafamiliar, doméstica, violência
conjugal, institucional, psicológica e moral e qualquer que seja ela, tem grande impacto na vida
da mulher, comprometendo sua saúde em diversos aspectos. Partindo do fato de que a violência
afeta significativamente o processo saúde-doença das mulheres, podemos considerar o setor
saúde como locus privilegiado parar identificar, assistir e referir as mulheres vitimizadas
(GUEDES, SILVA, FONSECA. 2009).
Em tal contexto, a cultura do país, pode ser um fator agravante, tendo em vista que esta
propicia certa dominação de gênero, aglomerado de circunstâncias nocivas à integridade da
mulher, sendo necessário o desenvolvimento de pesquisas para trazer à baila a relevância do
problema.
12

A temática acerca da violência, quando confrontada com os direitos humanos esbarra num
constante e fervoroso debate sobre saúde mental, que por fazer parte do objetivo geral desse
estudo, não poderia deixar de ser mencionado.
Segundo Almeida (2010,p.207), a visibilidade da violência na sociedade contemporânea
destaca-se a partir de duas esferas de construção de significados: a violência do Estado ou política
e a violência privada ou no âmbito da família.
Sobre a violência do estado, temos como marco o ambiente pós segunda Guerra Mundial,
reforçado na construção dos Direitos Humanos; já a segunda tem a vez com movimentos sociais,
como por exemplo o feminista (ALMEIDA, 2010,p.207-215).
Importante salientar que a partir da segunda metade do século XX, o termo “violência
urbana” identificam as cidades como um território, e o modo de vida que aí se desenvolve como
predisposto a um estado de insegurança e de maior exposição a riscos e imprevisibilidades
(ALMEIDA, 2010,p.207-220).
Segundo Delgado (2012,p.312-320) a violência gera na saúde mental alguns impactos
negativos, tais como: sofrimento psíquico, depressão, baixa autoestima, alterações de
comportamentos, dependência química, dentre outros. Um fato é que, todo e qualquer tipo de
violência está sempre associado ao sofrimento, bem como às barreiras de acesso ao tratamento, a
contextos institucionais de mortificação dos sujeitos e principalmente às diversas formas
invisíveis ou não, de dominação.
Numa análise das falas acima, consideramos que a violência de gênero, no caso contra a
mulher, pode gerar sérios problemas e transtornos à saúde física e mental da vítima, no qual a
relação de submissão do sexo feminino em relação ao masculino está culturalmente impregnada
nas relações de gêneros.
E como consequência à violência que as mulheres sofrem, os dados são refletidos em sua
vida social, uma vez que as vítimas sentem-se reprimidas e psicologicamente abaladas; logo a
problemática tratada nesse estudo envolve a Saúde Pública, no qual a atuação do governo, no
intuito de instruir e proteger essas mulheres, se faz relevantes diante a grande magnitude e males
que a violência de gênero pode causar.

2.1 Violência Sexual contra mulheres


13

De acordo com o Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, promulgado no


Brasil, a agressão sexual, escravidão sexual, prostituição, gravidez e esterilização forçadas ou
qualquer outra forma de violência sexual de gravidade comparável constituem crimes contra a
humanidade; nesse contexto notamos que a violência sexual torna-se um problema de saúde
pública, que envolve um escopo global (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2008).
O Relatório Mundial sobre a Prevenção da Violência 2014 da OMS, traduzido para o
português pelo Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo, em 2015, revela as
formas de violência contra mulheres e meninas no planeta, bem como os necessários
procedimentos para a prevenção e redução dessa violência até 2030.
No ano de 2007, segundo a Folha de São Paulo (2007 apud OMS), uma em cada cinco
mulheres foi vítima de abuso sexual antes de completar 15 anos de idade em todo o mundo, fato
que induziu a nefastas consequências no campo da saúde em anos subsequentes.
Em pesquisa feita pela Datafolha em 2016, em 84 municípios brasileiros com mais de 100
mil pessoas, 67% dos entrevistados disseram ter medo de ser vítima de agressão sexual. Entre as
mulheres, esse percentual sobe para 90% (CRISTALDO, 2016,p.117-129).
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), a análise dados do Sistema de
Informações de Agravo de Notificações do Ministério da Saúde (Sinan) com data a partir de
2011, demonstra que a violência sexual com mulheres, ocorre em grande quantidade, no qual, no
mínimo 527 mil pessoas são agredidas sexualmente por ano no Brasil e que, destes casos, apenas
10% chegam ao conhecimento da polícia. Esses registros mostram que 89% das vítimas são
mulheres e, em geral, possuem baixa escolaridade. Do total de casos, 70% acontecem com
crianças e adolescentes (CRISTALDO, 2016,p.130-134).
Os dados evidenciam que 70% da violência sexual contra mulheres são cometidos por
parentes, namorados ou amigos/conhecidos da vítima, até mesmo por maridos e muitas vezes
dentro da casa da vítima (CRISTALDO, 2016,p.136.).
De acordo com o Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, promulgado no
Brasil, a agressão sexual, escravidão sexual, prostituição, gravidez e esterilização forçadas ou
qualquer outra forma de violência sexual de gravidade comparável constituem crimes contra a
humanidade; nesse contexto notamos que a violência sexual torna-se um problema de saúde
pública, que envolve um escopo global (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2008).
14

O Relatório Mundial sobre a Prevenção da Violência 2014 da OMS, traduzido para o


português pelo Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo, em 2015, revela as
formas de violência contra mulheres e meninas no planeta, bem como os necessários
procedimentos para a prevenção e redução dessa violência até 2030.
No ano de 2007, segundo a Folha de São Paulo (2007 apud, OMS), uma em cada cinco
mulheres foi vítima de abuso sexual antes de completar 15 anos de idade em todo o mundo, fato
que induziu a nefastas consequências no campo da saúde em anos subsequentes.
Em pesquisa feita pela Datafolha em 2016, em 84 municípios brasileiros com mais de 100
mil pessoas, 67% dos entrevistados disseram ter medo de ser vítima de agressão sexual. Entre as
mulheres, esse percentual sobe para 90% (CRISTALDO, 2016,p.138).
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), ao análise dados do Sistema de
Informações de Agravo de Notificações do Ministério da Saúde (Sinan) com data a partir de
2011, demonstra que a violência sexual com mulheres, ocorre em grande quantidade, no qual, no
mínimo 527 mil pessoas são agredidas sexualmente por ano no Brasil e que, destes casos, apenas
10% chegam ao conhecimento da polícia. Esses registros mostram que 89% das vítimas são
mulheres e, em geral, possuem baixa escolaridade. Do total de casos, 70% acontecem com
crianças e adolescentes (CRISTALDO, 2016,p.143).
Heise (1994,p.54-57) aborda os fenômenos da violência considerando que a violência é
um fenômeno extremamente complexo, com raízes profundas nas relações de poder baseadas no
gênero, na sexualidade, na auto-identidade e nas instituições sociais e que em muitas sociedades,
o direito (masculino) a dominar a mulher é considerado a essência da masculinidade.
Os dados evidenciam que 70% da violência sexual contra mulheres são cometidos por
parentes, namorados ou amigos/conhecidos da vítima, até mesmo por maridos e muitas vezes
dentro da casa da vítima (CRISTALDO, 2016,p.145).

2.2 Sistema internacional de proteção à mulher

Os tipos de violências existentes contra a mulher como física, sexual, patrimonial,


intrafamiliar, doméstica, violência conjugal, institucional, psicológica e moral possuem um
grande impacto na vida da mulher, comprometendo sua saúde em diversos aspectos. Partindo do
fato de que a violência afeta significativamente o processo saúde-doença das mulheres, podemos
15

considerar o setor saúde como locus privilegiado parar identificar, assistir e referir as mulheres
vitimizadas. Logo, um entendimento sobre a proteção à mulher é útil para compreender as
consequências que elas sofrem mediante a violência sofrida (GUEDES, SILVA, FONSECA,
2009).
Na esfera do direito internacional, existem diversos instrumentos de grande valia para o
desenvolvimento e proteção dos direitos humanos das mulheres, como os acordos, os tratados, os
protocolos, as resoluções e os estatutos. E segundo Dias (2007,p.21), o Sistema Internacional de
Proteção à Mulher se baseia em documentos internacionais cujo foco é a proteção de direitos que
visam a proteção de vulneráveis.
Seguem os mais relevantes instrumentos voltados à proteção dos direitos humanos da
mulher na ordem jurídica internacional (vide quadro 2).

Instrumento para proteção dos direitos humanos das mulheres Ano


Carta das Nações Unidas 1945
Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação 1979
contra a Mulher
Declaração de Viena 1993
Declaração sobre a Eliminação da Violência contra a Mulher 1993
Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a 1995
Violência contra a Mulher, a chamada “Convenção de Belém do
Pará”;
Declaração e Plataforma de Ação da IV Conferência Mundial da 1995
Mulher “Beijing”
Protocolo Facultativo à Convenção sobre a Eliminação de todas as 2002
formas de Discriminação contra a Mulher
Quadro 2 - Instrumento para proteção dos direitos humanos das mulheres.
Fonte – Dias (2007, p. 28).

O que podemos notar é que o sistema internacional de direitos das mulheres necessita de
melhorias e muito aprimoramento; uma vez que mesmo com a existência de um conjunto de
normas, a violência contra as mulheres não diminui, ao contrário, mulheres do mundo todo são
constantes vítimas de violações de seus direitos. Um exemplo dessa violação desses direitos,
como mencionado acima, se dá no Brasil, onde no ano de 2007, de cada 100 mulheres, 15 já
16

foram vítimas de algum tipo de violência doméstica (INSTITUTO DE PESQUISA DATA


SENADO2, 2007).
Quando se fala de Sistema internacional de direito das mulheres, se faz necessário relatar
que se refere aos direitos objetivos e subjetivos reivindicados para mulheres em diversos países.
Em diversos momentos e lugares, esses direitos são institucionalizados e garantidos pela
legislação, pelos costumes e comportamentos, enquanto em outros locais eles são suprimidos ou
ignorados.
Numa perspectiva histórica temos que a Primeira Conferência Mundial sobre a Mulher foi
realizada no México, no ano de 1975 houve o resultado da elaboração da Convenção sobre a
Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres, que foi aprovada pela
Assembleia Geral das Nações Unidas através da Resolução nº 34/180, em 1979. No qual, o Brasil
assinou em 1981 e ratificou-a em 1984, porém com reservas na parte relativa à família; somente
em 1994, tendo em vista o reconhecimento pela Constituição Federal Brasileira de 1988 da
igualdade entre homens e mulheres na vida pública e privada, em particular na relação conjugal, é
que o Brasil retirou as reservas, ratificando plenamente toda a Convenção (DIAS, 2007, p. 28).
Ressalta-se que tal convenção visava erradicar todo e qualquer tipo de discriminação
contra o gênero feminino, cujo intuito era garantir a igualdade, fato que pode ser melhor
compreendido em seu artigo 1º, citada Convenção enfatiza que a discriminação contra a mulher
é:

[...] toda distinção, exclusão ou restrição baseada no sexo e que tenha por objeto ou
resultado prejudicar ou anular o reconhecimento, gozo, exercício pela mulher,
independentemente de seu estado civil, com base na igualdade do homem e da mulher,
dos direitos humanos e das liberdades fundamentais nos campos político, econômico,
social, cultural e civil ou em qualquer outro campo (PIOVESAN, 2012, p. 269).

De modo geral, essa Convenção demonstra o direito das mulheres em diversas áreas, seja:
político, econômico, social, cultural, entre outras, o autor ainda diz que, numa comparação entre
os gêneros,

[...]os homens podem exercer; adicionalmente, habilidades e necessidades que decorrem


de diferenças biológicas entre os gêneros devem também ser reconhecidas e ajustadas,

2
Os dados são da pesquisa de opinião do Data Senado.
17

mas sem eliminar da titularidade das mulheres a igualdade de direitos e oportunidades


(PIOVESAN, 2012, p. 270).

Um marco importante ocorreu em 1994, no qual a Organização dos Estados Americanos,


OEA, aumentou a proteção aos direitos humanos das mulheres com alterações na Convenção
para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher, criando a então Convenção de
Belém do Pará, que impulsionou importante estratégias para a proteção internacional dos direitos
humanos das mulheres (DIAS, 2007,p.27).
Nessa convenção destacamos o mecanismo das petições à Comissão Interamericana de
Direitos Humanos, que reconhece internacionalmente a violência de gênero, em especifico
mulheres, um fenômeno generalizado, que alcança, sem distinção de raça, classe, religião, idade
ou qualquer outra condição, um elevado número de mulheres em todo o mundo (DIAS, 2007, p.
28).

A partir desta convenção surgiram valiosas estratégias para a proteção internacional dos
direitos humanos das mulheres, merecendo destaque o mecanismo das petições à
Comissão Interamericana de Direitos Humanos, o primeiro tratado internacional de
proteção dos direitos humanos a reconhecer a violência contra a mulher como um
fenômeno generalizado, que alcança, sem distinção de raça, classe, religião, idade ou
qualquer outra condição, um elevado número de mulheres em todo o mundo [...] Esta
Convenção declara que a violência contra a mulher constitui grave violação aos direitos
humanos fundamentais e ofensa à dignidade humana, sendo manifestação de relações de
poder historicamente desiguais entre mulheres e homens, limitando total ou parcialmente
à mulher o reconhecimento, gozo e exercício de direitos e liberdades, fato que
expressamente foi registrado como artigo 6º da Lei Federal nº 11.340/06 (DIAS, 2007, p.
60).

A Declaração e Plataforma de Ação IV Conferência Mundial sobre a Mulher – “Beijing”,


que ocorreu China, 1995, também merece destaque, pois aprovou uma declaração e uma
Plataforma de Ação com a finalidade gerar objetivos de igualdade, desenvolvimento e paz para
todas as mulheres, no qual prevaleceu questões vinculadas à violência doméstica, demonstrando a
necessidade de além de medidas punitivas, ações voltadas para a prevenção, e, que proporcionem
à vítima e à sua família assistência social, psicológica e jurídica, que muitas vezes são essenciais
mediante situações de violência sofrida e, por outro, que possibilitem de reabilitação dos
agressores (PIOVESAN, 2012, p. 275).
Na citada Convenção, foram instituídos dois mecanismos de monitoramento: a petição e o
procedimento investigativo, como demonstra o quadro 3 a seguir.
18

Petição Possibilita o encaminhamento de denúncias de violação de


direitos enunciados na Convenção à apreciação do Comitê
sobre a Eliminação da Discriminação contra a Mulher;
Procedimento Permite ao Comitê a investigar a existência de grave e
investigativo sistemática violação aos direitos humanos das mulheres.
Quadro 3 - Mecanismos de monitoramento
Fonte - Piovesan (2012).

Para acionar citados mecanismos, é necessário que o Estado tenha ratificado o Protocolo
Facultativo (PIOVESAN, 2012, p. 275).
Segundo Piovesan (2012) a ONU (Organização das Nações Unidas), por intermédio das
Convenções como a de Genebra, busca fomentar entre os Estados uma política de pouca
tolerância nas práticas de agressões, visando, que os países, além de estabelecerem leis rígidas,
que vão ao encontro dos direitos das mulheres e proporcionam, na verdade, soluções para
resolução de problemas sobre violência contra mulher.
Diante o que foi discorrido nesse tópico notamos que existe uma real necessidade da
implementação de vários meios que reduzam a violência doméstica contra a mulher, seja através
da conscientização da igualdade de gênero nas escolas, nas residências e grupos religiosos para
que a mulher, dotada de direitos humanos já garantidos ao nascer, possa deles usufruir e assim
poder viver uma vida digna, sem qualquer preconceito.

3 O DIREITO DAS MULHERES NO BRASIL

A violência de gênero também possui números significativos no Brasil, no qual todas as


classes e segmentos sociais se enquadram. E os estudos e pesquisas sobre o tema surgem com
maior destaque em discursos e abordagens feministas.
Somente nos anos de 80, houve maior abertura democrática na sociedade Brasileira, para
aspectos voltados para a violência de gênero, em específico contra a mulher, que por sua vez
ganhou visibilidade e iniciou uma ampliação dos espaços sociais e das articulações dos grupos
feministas (IZUMINO, 1998).
19

Ainda sobre a década de 80, faz-se necessário mencionar o alto índice de mortalidade que
ocorreu no país devido a doenças sexualmente transmissíveis, no qual destaca-se HIV / AIDS,
fato que demonstra a deterioração das condições de vida e de saúde associada à ineficácia das
políticas públicas de saúde (IZUMINO, 1998).
Importante mencionar o direito da mulher, por tempos foi sustentado, por um tratamento
jurídico que concedia mais benefícios e direitos aos homens que não se entendiam às mulheres.
Citamos o Direito Constitucional Brasileiro, para melhor entendimento:

[...] a despeito de nossas constituições sempre agasalharem, em seu interior, a


máxima todos são iguais perante a lei, sendo que a quase totalidade delas proibiu,
expressamente, qualquer distinção em razão, dentre outros, de critérios baseado no sexo,
foram convalidadas e criadas inúmeras leis elaboradoras de diferenças, contrariando,
assim as disposições constitucionais. Somente com a Carta de 1988 é que mulheres e
homens, no Brasil, galgaram a igualdade jurídica (BIANCHINI, s/d).

Um dado importante que vem muito ao encontro sobre desigualdade de gênero, é


evidenciado com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD 2012), ao revelar que a
diferença entre os salários dos homens e das mulheres voltou a crescer após dez anos em declínio,
fato que demonstra que a isonomia, ainda não foi alcançada (PAES, s.d).

3.1 Lei Maria da Penha

Não poderíamos de mencionar sobre violência sexual contra mulheres e não mencionar a
Lei Maria da Penha, que atualmente possui destaque na sociedade e surgiu mediante pressão
social, nacional e internacional, após a condenação do Brasil pela comissão interamericana de
direitos humanos pela violação das obrigações referentes à prevenção da violência contra mulher,
especialmente a violência doméstica.
Há de se considerar que a Lei 11.340, do ano de 2006, popularmente chamada de Lei
Maria da Penha, possui esse nome devido à Maria da Penha Maia Fernandes, que lutou por vinte
anos lutou pela prisão de seu agressor (DIAS, 2011, p. 56).
Recorrendo um pouco à biografia de Maria da Penha, nota-se que ela é
biofarmacêutica do Estado do Cearense, e foi casada com o professor universitário Marco
Antônio Herredia Viveros. No ano de 1983, houve a primeira tentativa de assassinato, no qual
Maria levou um tiro nas costas enquanto dormia.
20

Diante à situação seu esposo, Viveiros, fora encontrado na cozinha, gritando por
socorro, alegando que tinham sido atacados por assaltantes. Desta primeira tentativa, Maria da
Penha saiu paraplégica. Outra tentativa ocorreu meses depois, quando ele a empurrou da cadeira
de rodas e tentou eletrocutá-la no chuveiro (CUNHA; PINTO, 2011, p. 90).
Mesmo com todo processo investigatório do caso ter iniciado em Junho do mesmo
ano e devido a toda ausência de celeridade em casos como esses, a denúncia só foi apresentada
ao Ministério Público Estadual em setembro do ano seguinte e o primeiro julgamento ocorreu 8
anos após os crimes. Em 1991, os advogados do esposo de Maria da Penha conseguiram anular
o julgamento. Já em 1996, Viveros foi julgado culpado e condenado há dez anos de reclusão,
mas conseguiu recorrer (DIAS, 2011, p. 56).
E depois de sofridos 15 anos, a justiça Brasileira ainda não havia decidido o caso,
tampouco havia para justificativa para toda demora. Mas com o auxílio de ONGs, Maria da
Penha conseguiu enviar o caso para a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (OEA),
que, pela primeira vez, acatou uma denúncia de violência doméstica. Desde então, seu esposo
foi preso no ano de 2002, para cumprir apenas dois anos de prisão (DIAS, 2011, p. 57).
O processo da OEA condenou o Brasil por negligência e omissão em relação à
violência doméstica.

Uma das punições foi a recomendações para que fosse criada uma legislação adequada
a esse tipo de violência. E esta foi o início para a criação da lei. Um conjunto de
entidades então reuniu-se para definir um anti-projeto de lei definindo formas de
violência doméstica e familiar contra as mulheres e estabelecendo mecanismos para
prevenir e reduzir este tipo de violência, como também prestar assistência às vítimas
(CUNHA; PINTO, 2011, p. 89).

A partir de então, em setembro de 2006, começou a vigorar a Lei 11.340,


caracterizando a violência, não apenas como um crime de menor potencial ofensivo, abolindo
possibilidades de pagamento das penas em cestas básicas ou multas, além de englobar, além da
violência física e sexual, também a violência psicológica, a violência patrimonial e o assédio
moral (CUNHA; PINTO, 2011,p. 89).
Sobre a Lei Maria da Penha, ressalta-se que,

[...] teve como fundamento jurídico a Convenção de Belém do Pará (Convenção


Interamericana para Previnir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher). Os fatos
consistiram no seguinte: Maria da Penha foi constantemente agredida por seu marido,
21

durante vários anos, tendo ficado paraplégica, em razão das lesões, sem que o acusado
sofresse a condenação definitiva e a vítima recebesse eventual compensação (PAES, s.d).

A Lei nº 11.340 de 2006, Lei Maria da Penha, foi criada em razão de uma
recomendação da OEA, para que o Brasil realizasse uma reforma legislativa com propósito de
erradicar a violência doméstica no país. Para tanto, tal lei visa erradicar a tolerância do Estado
por atos de violência doméstica, a Lei Maria da Penha, consiste, juntamente com Advogados,
Juízes, Assistentes Sociais, Psicólogos, entre outros, trabalhar pela racionalização e modernização
da justiça, para que novos casos similares ao de Maria da Penha não se repitam, enfrentando a
impunidade e aperfeiçoando o sistema.
Ainda sobre a lei mencionada, no ano de 2007, o Ministério Público do Estado de São
Paulo, ciente da necessidade em erradicar a violência doméstica e promover os direitos humanos
das mulheres, membros do Ministério Público de São Paulo reuniram com diversos membros da
sociedade e autoridades, para discutir a lei Maria da Penha, fato que foi muito importante para a
efetivação da legislação.
Neste sentido houve a ratificação dos instrumentos de proteção à mulher. No qual as
obrigações sustentadas pelo país, diante tratados internacionais, serviam como guia para a
atuação dos Promotores de Justiça. Dessa forma os critérios estabelecidos pelas decisões das
comissões internacionais são importantes para proporcionar debates sobre o sistema jurídico e
apontar as falhas; bem como estimular o desenvolvimento de novas políticas públicas
preventivas, além de inspirar a criação de novas leis, como por exemplo, a Lei Maria da Penha,
que de certa forma significa um marco e um avanço na proteção das mulheres vítimas de
violência.
O que se pode considerar em linhas gerais é que existe uma forte demanda pelo
desenvolvimento dos direitos humanos das mulheres no Brasil, que por sua vez necessita de um
melhor respaldo por parte do Ministério Público, do Poder Judiciário e da Polícia, bem como
planos de ações conjuntos entre os diversos órgãos do governo (PAES, s.d).

3.2 Feminicídio
Segundo o Dossiê Violência contra Mulheres (s.d), mais de um terço dos óbitos de
mulheres vítimas de violência ocorrem aos finais de semana. O uso de bebidas alcoólicas está
22

intimamente relacionado ao aumento de feminicídios e episódios de violência contra a mulher. A


pesquisa fez comparações e verificou a partir de dados hospitalares as informações.
O feminicídio surgiu da pressão popular, que por sua vez reagiu fortemente aos casos de
assassinatos de mulheres no Brasil, que por sua vez.

[...] possui o 5º lugar no ranking mundial, a chamada Lei do Feminicídio foi aprovada,
quando a realidade do país chegava a 13 casos de assassinatos por dia – um aumento de
9% na última década. Os dados são do Mapa da Violência 2015, uma compilação de
informações divulgadas por Organização Mundial da Saúde (OMS), Organização Pan-
Americana de Saúde (Opas), ONU Mulheres e Ministério das Mulheres, da Igualdade
Racial e dos Direitos Humanos (BRASIL, 2016).

Dentro desse contexto, nota-se que a Lei do Feminicídio foi promulgada diante de uma
recomendação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), a respeito da violência
contra a Mulher, com cunho investigatório sobre a violência contra as mulheres no Brasil, entre o
período de março de 2012 a julho de 2013.
Com o surgimento e aplicabilidade da lei, houve a mudança nas sentenças dos
assassinatos femininos, em relação aos homicídios. Qualificando assim o homicídio como crime,
com penas mais severas e inafiançáveis, bem como a situações que envolvem violência
doméstica e familiar ou discriminação e menosprezo à mulheres.
Sobre o perfil das mulheres que sofrem com violência, tem-se,

as Maiores vítimas são negras – Em comparação com países desenvolvidos, o Brasil


mata 48 vezes mais mulheres que o Reino Unido, 24 vezes mais que a Dinamarca e 16
vezes mais que o Japão ou Escócia. De acordo com os dados do Mapa da Violência
2015, a taxa de assassinato de mulheres negras aumentou 54% em dez anos, passando de
1.864 (em 2003) para 2.875 (2013). O número de crimes contra mulheres brancas, em
compensação, caiu 10% no mesmo período, de 1.747 para 1.576 (BRASIL, 2016).

Dentro dessa realidade, tem-se que dentro do Código Penal, a inclusão do


feminicídio como uma modalidade de homicídio qualificado e caracterizado como um crime
hediondo, nota-se ainda que,
a Lei n. 13.104/2015 incluiu o assassinato de mulheres na lista de crimes hediondos (Lei
n 8.072/1990), como já ocorre em casos de genocídio e latrocínio, cujas penas previstas
pelo Código Penal são de 12 a 30 anos de reclusão. No Brasil, o crime de homicídio
(assassinato) prevê pena de seis a 20 anos de reclusão. No entanto, quando for
caracterizado feminicídio, a punição parte de 12 anos de reclusão... (BRASIL, 2016).

Sobre a penalidade do crime, há de se considerar:


23

a pena deve ser aumentada de um terço até a metade se o crime for praticado durante a
gestação ou nos três meses posteriores ao parto. O aumento da penalidade incidirá ainda
se for cometido contra menor de 14 anos de idade, maior de 60 anos de idade, portadoras
de deficiência ou na presença de descendente ou ascendente da vítima. Sendo crime
hediondo, o regime inicial de cumprimento da pena é o fechado e somente pode haver
progressão para um regime menos rigoroso quando for cumprido no mínimo 2/5 da
pena, se o criminoso for primário, e de 3/5 se for reincidente (BRASIL, 2016).

Diante publicações das Diretrizes Nacionais sobre o Feminicídio, nota-se que o Brasil
possui uma situação nada favorável em relação à violência contra mulheres, uma vez que o país é
5º lugar que possui mais violência com mulheres, perdendo apenas para El Salvador, Colômbia,
Guatemala e Federação Russa em número de casos de assassinato de mulheres (BRASIL, 2016).
Há de se considerar ainda toda a precariedade acerca do direito das mulheres, uma vez
que, em muitos municípios de pequeno porte, ainda não possuem delegacias da mulher e o
esclarecimento sobre a proteção e direito da mulher ainda é escasso e confuso.
Ressalta-se ainda que, em locais sem delegacia especializada, as vítimas de violência
podem recorrer às delegacias tradicionais, onde em alguns casos ainda existe menos preparo dos
policiais para lidar com casos no qual a vítima seja mulheres.

3.3 O álcool, violência contra a mulher e feminicídio

Precisamente, aqueles que consomem bebida alcoólica possuem oito vezes mais chances
de praticar o abuso à mulher. Há também o registro da mesma pesquisa de que o aumento de duas
vezes no risco de agressores cometerem ou ao menos tentarem cometer o feminicídio (SHARPS
et al, 2001, p. 90).
As mulheres, apesar de serem as vulneráveis aos efeitos do álcool, ainda são as maiores
vítimas de homens que consomem regularmente ou eventualmente bebidas alcoólicas, conforme
a notícia contida na figura 1, em anexo.
Segundo Krug et al (2002, p. 56) mais de um terço dos óbitos de mulheres vítimas de
violência ocorrem aos finais de semana. O uso de bebidas alcoólicas está intimamente
relacionado ao aumento de feminicídios e episódios de violência contra a mulher. A pesquisa fez
comparações e verificou a partir de dados hospitalares as informações.
A vinculação entre abusivo de álcool e violência doméstica noticiada com bastante
frequência pela mídia e pesquisadores em geral. Um deles é o estudo realizado nos Estados
24

Unidos constatou que o uso de álcool pelo agressor está diretamente relacionado ao aumento da
violência contra a mulher (SHARPS et al, 2001, p. 89).
Há casos em que o homem, além de praticar a violência contra a mulher, chegando ao
feminicídio, o mesmo pratica o mesmo ato contra si, pesquisas tem indicado um perfil de
agressor que não atinge somente as vítimas, mas ele também, conforme a notícia contida na
figura 2, em anexo.
A partir da observação da notícia da imagem acima, Rabello et al (2007) explica que o
álcool não pode ser um motivador da violência doméstica não ocorre apenas naqueles que bebem
regularmente, mas também em consumidores eventuais. No relato da notícia acima, o assassino,
segundo as testemunhas, sempre que consumia bebida alcoólica, agredia a sua companheira
(FOLHA BOA VISTA, 2018).
Para Abrahams et al (2006), apesar de já existirem pesquisas que façam estudo sobre a
violência e mulheres que consomem álcool, o grande número de feminicídios3 evidenciam ainda
o homem como o maior agressor e por conseguinte, os maiores consumidores de bebida
alcoólica.
Zilberman & Blume (2005) verificaram em uma pesquisa que, do ponto de vista da
psicologia, o álcool promove a violência de forma distinta. Os homens acarretam geralmente para
si, problemas irreparáveis, pois além de praticarem a violência, eles praticam principalmente a
autoviolência.

3.4 Violência doméstica x violência sexual

De acordo com o decreto nº 1.973, de 1º de agosto de 1996, podemos compreender que a


violência contra a mulher se baseia em atos baseados no gênero (apenas por ser mulher), que
cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto na esfera pública
como privada.
Em contrapartida, temos que o Decreto em epígrafe no intuito de prevenir, punir e
erradicar a violência contra a mulher, estabelecido a priori na “Convenção de Belém do Pará”, em
seu artigo 3, cita que “Toda mulher tem direito a uma vida livre de violência, tanto na esfera
pública como na esfera privada”. A legislação também menciona discorre:

3
Assassinato cometido por motivação devido o ódio pelo gênero feminino.
25

Toda mulher tem direito ao reconhecimento, desfrute, exercício e proteção de todos os


direitos humanos e liberdades consagrados em todos os instrumentos regionais e
internacionais relativos aos direitos humanos. Estes direitos abrangem, entre outros:
a) direito a que se respeite sua vida;
b) direitos a que se respeite sua integridade física, mental e moral;
c) direito à liberdade e à segurança pessoais;
d) direito a não ser submetida a tortura;
e) direito a que se respeite a dignidade inerente à sua pessoa e a que se proteja sua
família;
f) direito a igual proteção perante a lei e da lei;
g) direito a recesso simples e rápido perante tribunal competente que a proteja contra
atos que violem seus direitos;
h) direito de livre associação;
i) direito à liberdade de professar a própria religião e as próprias crenças, de acordo com
a lei; e
j) direito a ter igualdade de acesso às funções públicas de seu pais e a participar nos
assuntos públicos, inclusive na tomada de decisões (BRASIL, 1996, DECRETO Nº
1.973, ARTIGO 4).

A agressão física se expressa normalmente no âmbito familiar, entre quaisquer dos


membros da família, como resultado de uma luta de poderes onde, histórica e culturalmente, ela
se coloca em uma posição inferior ao do homem, sendo que há mais de um século a mulher tem
começado a questionar as práticas discriminatórias que as situam em um nível inferior (GARBIN
et al, 2006. página?).
Para Langley & Levy (referência?) as razões da violência doméstica são divididas em
nove categorias: doença mental; álcool e drogas; aceitação da violência por parte do público; falta
de comunicação; sexo; uma autoimagem vulnerável; frustração; mudanças; violência como
recurso para resolver problemas.
Para tanto, toma-se como ponto de partida o conceito de violência doméstica ampliado, é
descrito na Declaração sobre a Eliminação da Violência Contra a Mulher, adotada pela
Assembleia Geral das Nações Unidas, em 1993. De acordo com a Declaração,

Todo ato de violência baseado em gênero, que tem como resultado, possível ou real, um
dano físico, sexual ou psicológico, incluídas as ameaças, a coerção ou a privação
arbitrária da liberdade, seja a que aconteça na vida pública ou privada. Abrange, sem
caráter limitativo, a violência física, sexual e psicológica na família, incluídos os golpes,
o abuso sexual às meninas, a violação relacionada à herança, o estupro pelo marido, a
mutilação genital e outras práticas tradicionais que atentem contra mulher, a violência
exercida por outras pessoas que não o marido - e a violência relacionada com a
exploração física, sexual e psicológica e ao trabalho, em instituições educacionais e em
outros âmbitos, o tráfico de mulheres e a prostituição forçada e a violência física, sexual
e psicológica perpetrada ou tolerada pelo Estado, onde quer que ocorra. (OMC, 1998,
p.7)
26

Desta forma, compreende-se por violência doméstica aquela que ocorre entre pessoas que
mantém ou mantiveram um relacionamento afetivo.
Estupro, o mais “comum” desse tipo de violência, é todo ato sexual ou tentativa para obtê-
lo, investidas ou comentários sexuais indesejáveis contra a sexualidade de uma pessoa usando a
coerção, definido pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Já no Brasil, é judicialmente
definido o ato de "constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção
carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso" (BEZERRA, 2011,
p. 56).
A violência doméstica, a mais comum das violências contra a mulher, dentre os possíveis
agressores, estão: maridos, amásios, amantes, namorados atuais, ou, até, ex-namorados ou ex-
cônjuges, deve ser detectada pelo profissional de saúde e encarada como questão de saúde
pública. Assim sendo, essas vítimas em situações de violência procuram os serviços de saúde por
agravos à saúde física, mental e reprodutiva, como consequência dessa agressão, porém os
profissionais de saúde têm sérias dificuldades para identificar este fenômeno, e na ampla maioria
dos casos em que se suspeita de violência, estes não são investigados. Os agressores são em
maioria os maridos, pais ou filhos, seguidos por namorados e ex-namorados, e finalmente
conhecidos ou vizinhos (BEZERRA, 2011).
Carvalho (2012) menciona que a violência sexual é uma enfermidade universal, onde não
há restrição de sexo, idade, classe social ou etnia, é um problema que ocorre há muitos anos, em
diferentes momentos ao longo da história da humanidade. Embora atinja ambos os sexos, as
mulheres são as mais atingidas, em qualquer idade correm o risco de sofrer esse tipo de agressão.
É toda ação na qual uma pessoa, em situação de poder (comum em qualquer tipo de violência),
obriga outra à realização de práticas sexuais contra a vontade, por meio da força física, da
influência psicológica, ou do uso de armas ou drogas.

4 IMPACTOS NA SAÚDE MENTAL DE QUEM SOFRE VIOLÊNCIA SEXUAL

Os efeitos da violência sexual nas esferas física e mental são impactantes, em curto e
longo prazo. Dentre suas consequências físicas, estão a gravidez, doenças sexualmente
27

transmissíveis (DST) e infecções do trato reprodutivo. Em longo prazo, essas mulheres podem
desenvolver distúrbios ginecológicos e da sexualidade. Mulheres com histórico de violência
sexual são mais vulneráveis para sintomas psiquiátricos, bem como depressão, síndrome do
pânico, tentativa de suicídio e/ou dependência de substâncias psicoativas (DOSSIÊ VIOLÊNCIA
CONTRA MULHERES, s.d).
Trigueiro et al (2017), também aborda sobre os efeitos físicos em mulheres que sofrem
violência sexual, no qual nota-se que as principais consequências baseiam-se no medo de contrair
infecções sexualmente transmissíveis, nas falas das vítimas é evidenciado que além de temerem
doenças, existia o medo de não conseguirem engravidar após a violência sofrida.
O Ministério da Saúde, menciona em suas publicações que em função do resultado de
casos de estupros, é fundamental que haja serviços que atendam a essa demanda de forma ágil,
acolhedora, como a utilização de contracepção de emergência nas primeiras horas após o evento,
e a medicação contra qualquer tipo de DST, em bom ambiente e com capacidade de atuar nas
preocupações imediatas (lesão física, DST, gravidez) e nas dificuldades psíquicas (BRASIL,
2010).
Trigueiro et al (2017) ao pesquisarem mulheres com idades entre 18 e 27 anos, com média
de 20 anos, todas relataram relação sexual forçada e, na maior parte dos casos, o agressor era uma
pessoa desconhecida; constaram que as mulheres vítimas, vivem um cotidiano marcado pelo
medo e existe uma real necessidade de superar ou amenizar o trauma. Nesse sentido, nota-se que
as vítimas, tiveram o seu cotidiano modificado em razão do medo decorrente da agressão sofrida.
Outro trauma existente, refere-se ao medo de ter contato com pessoas desconhecidas que
relembrem as características do agressor, além de muitas vítimas mencionaram evitar
relacionamentos afetivos e sexuais, demonstrando um bloqueio afetivo.
Diante o estudo exposto por Trigueiro et al (2017), ressalta-se a importância de valorizar,
no atendimento às mulheres em situação de violência sexual, a criação de vínculo, acolhimento,
autonomia e subjetividade dessas mulheres, que por sua vez vivem um sofrimento psíquico
regado de medo do ato, o estupro, acontecer novamente, de ter contraído infecções sexualmente
transmissíveis, de manter relações sociais e afetivo-sexuais.
Um fato importante a ser mencionado é que o medo que permeiam as vítimas de violência
sexual impacta diretamente na saúde mental, limitando suas vidas nas esferas biopsicossociais e
28

no intuito de amenizar os dados causados, se faz necessário o apoio de familiares e amigos e a


reinserção no mercado de trabalho e na escola.
Logo nota-se que, a violência sexual transcende o aspecto físico, ultrapassa o emocional,
provoca sofrimento psíquico que refle negativamente no desempenho das atividades rotineiras e
nas relações intersubjetivas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A violência existe há tempos, logo não pode ser considerada um estigma da sociedade
contemporânea, visto que ela existe desde o surgimento das relações humanas, mas, a cada
tempo, ela se manifesta de formas e em circunstâncias e proporções diferentes. Desta forma, o
tema se amplia cada vez mais nas pautas feministas, uma vez que, a violência, causa efeitos que
muitas vezes são irreversíveis nas vítimas, tanto sob a ótica do físico, quanto do psicológico, logo
afeta diretamente a saúde mental.
Frente ao questionamento lançado sobre a violência sexual feminina no Brasil, temos que,
os números de vítimas revelam uma cultura patriarcal, no qual a figura do homem, representa
força e maior dominação física em relação a mulher, considerada ainda como sexo frágil, e pelo
fato da violência sexual estar diretamente relacionada ao gênero, as pesquisas revelam que a
maioria das vítimas que sofrem tal tipo de agressão possuem baixa escolaridade, no qual o
agressor muitas vezes são pessoas conhecidas e até mesmo parentes, namorados e maridos.
Em relação ao outro questionamento sobre as consequências da violência sexual na saúde
mental das mulheres, ressaltamos aqui, que tal agressão causa o sofrimento psíquico, que vai
além do aspecto físico e ultrapassa o emocional, impactando negativamente no desempenho das
atividades rotineiras e nas relações intersubjetivas.
Dessa forma, a violência sexual afeta a saúde mental das vítimas por gerarem um
sofrimento psíquico regado de medo do estupro, acontecer novamente, além de temerem ter
contraído infecções sexualmente transmissíveis, de manter relações sociais e afetivo-sexuais.
Diante o que foi discorrido nesse tópico notamos que existe uma real necessidade da
implementação de vários meios que reduzam a violência contra a mulher, seja através da
conscientização da igualdade de gênero nas escolas, nas residências e grupos religiosos para que
29

a mulher, dotada de direitos humanos já garantidos ao nascer, possa deles usufruir e assim poder
viver uma vida digna, sem qualquer preconceito.
Sobre os instrumentos de proteção à mulher, informamos que as obrigações assumidas
pelo Brasil, por meio de tratados internacionais, são usados como “guia” para a atuação dos
Promotores de Justiça, para estimular debates internos acerca do sistema jurídico e apontar as
falhas; promover o desenvolvimento de novas políticas públicas preventivas, bem como impactar
favoravelmente na criação de novas leis, como por exemplo, a Lei Maria da Penha.
Ressaltamos também, que o debate em torno da questão dos direitos das mulheres ganhou
grande visibilidade social, principalmente da Lei Maria da Penha, que teve como fundamento
jurídico prevenir, punir e erradicar a violência contra a mulher. Tal lei possui destaque na
sociedade e surgiu mediante pressão social, nacional e internacional, após a condenação do Brasil
pela comissão interamericana de direitos humanos pela violação das obrigações referentes à
prevenção da violência contra mulher, especialmente a violência doméstica.
Na esfera do direito internacional, existem diversos instrumentos de grande valia para o
desenvolvimento e proteção dos direitos humanos das mulheres, como os acordos, os tratados, os
protocolos, as resoluções e os estatutos, no qual o Sistema Internacional de Proteção à Mulher se
baseia em documentos internacionais cujo foco é a proteção de direitos que visam a proteção de
vulneráveis. Nesse contexto, o desenvolvimento e a institucionalização de políticas nacionais de
saúde, protocolos e normas para atenção a casos de violência dão visibilidade à problemática da
violência sexual contra a mulher e ajudam a garantir que seja oferecido um atendimento
adequado à vítimas.
De modo geral, notamos que a pesquisadora conseguiu alcançar ao objetivo geral do
estudo, pois expos de forma clara e coerente a violência sexual e os impactos que se dá na saúde
mental da mulher, tomando como base o direito da mulher no Brasil.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Maria da Graça Blaya. A violência na sociedade contemporânea. Porto Alegre:


EDIPUCRS, 2010.
BIANCHINI, Alice. Direito à não violência contra a mulher no contexto internacional. S.d.
Disponível em: https://professoraalice.jusbrasil.com.br/artigos/121814477/direito-a-nao-
violencia-contra-a-mulher-no-contexto-internacional. Acesso em: 13/10/2019.
30

BEZERRO, Ricardo dos Santos. Discriminação por orientação sexual na perspectiva dos
direitos humanos: um panorama da legislação, jurisprudência e ações afirmativas no Brasil.
Universidade De Salamanca Programa de Doutorado Pasado Y Presente De Los Derechos
Humanos Departamento de Direito do Trabalho e Trabalho Social da Faculdade de Direito.
Salamanca, 2011. Disponivel em:
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BRASIL, Decreto nº 4.388, de 25 de setembro de 2002. Disponivel em:
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32

ANEXOS
33

Figura 1 - Notícia, assassinato motivado por bebida


Fonte: Folha Boa Vista (2018).
34

Figura 2 - Violência contra mulher


Fonte: Gazeta Digital (2018).

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