Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Belém-Pará
2022
SUMÁRIO
1- Problema de pesquisa........................................................................................... 03
2. Justificativa...........................................................................................................07
3.Objetivos..................................................................................................................11
4.Metodologia ............................................................................................................12
4.1-Análise Documental.............................................................................................15
5- Cronograma de atividades..................................................................................... 15
6- Referências .........................................................................................................16
2
1. Problema de Pesquisa
3
A partir de 2012 desenvolvi neste programa a pesquisa de mestrado “Análise na
perspectiva genealógica do inquérito policial sobre estupro, nos arquivos da
delegacia especializada no atendimento à mulher, em Belém/Pa”. Nestes trabalhos,
pude vivenciar experiências relevantes de análises dos discursos e das práticas sociais
de proteção, defesa e garantia dos direitos de mulheres vitimizadas pelo Estado, pelas
suas famílias e pela sociedade.
Como psicóloga, mestre em Psicologia, docente e coordenadora do curso de
Psicologia da UNAMA Ananindeua, especialista em Terapia Familiar Sistêmica, tendo
participado da Diretoria do Conselho Regional de Psicologia/CRP-10 nas gestões 2013-
2016 e 2016-2019 e ao longo dos anos de atuação em trabalhos com a temática da
violências contra mulheres, pude acumular uma importante história profissional e como
pesquisadora que me habilita a fazer o doutorado em Psicologia, sobretudo, no tema
proposto neste projeto de pesquisa, apresentado como requisito à seleção para o
Doutorado em Psicologia, no Programa de Pós-Graduação em Psicologia da
Universidade Federal do Pará.
Segundo Coulouris (2004), apesar das crescentes conquistas sociais obtidas
pelas mulheres, algo ainda continua imutável, a prática de violência doméstica e sexual
contra este segmento. A violência é um acontecimento mundial, social e histórico, que
vem tomando proporções cada vez mais preocupantes, passando a ser objetivado como
um problema de saúde pública. Constitui-se, assim, como um tema complexo, intrigante
e que desperta o interesse de vários estudiosos.
A violência sexual contra a mulher configura-se como uma grave violação de
direitos humanos, não escolhe raça, cor, credo religioso, cultura, condição social,
nacionalidade. Ela é um fato constante nos mais diversos grupos sociais, que a coloca
como um tema atual que está sendo debatido e analisado em várias áreas do
conhecimento (COULOURIS, 2004).
A partir de levantamento prévio de estudos sobre o tema, verificamos que pesquisas
sobre as mulheres vítimas de violência sexual no Brasil existem em pequena
quantidade, no geral, os trabalhos de pesquisa nessa área centram-se na violência
doméstica de modo mais geral e pouco específico das diferentes modalidades de
violência e da raridade dos modos delas se expressarem e das ações midiáticas e do
Estado face a esta problemática.
4
As definições utilizadas para conceituar os diferentes tipos de crimes sexuais
apresentam dificuldades na adequação quanto aos aspectos médicos, éticos,
psicológicos, legais e jurídicos que eles frequentemente envolvem. Com efeito, é
necessário pensar a complexidade do Direito Penal e do Sistema de Justiça Criminal, em
uma sociedade capitalista neoliberal na relação com a produção da subjetividade, com
as disputas de valores de uma cultura e com uma determinada organização da economia
política. A criminologia feminista vem apontando os preconceitos de gênero e sexistas,
racistas e classistas no Direito e nos usos feitos dele bem como dos modos das mídias
divulgarem os crimes. São importantes contribuições para analisar os direitos de
mulheres e questionar as criminologias que sustentam discriminações e seletividade
penal.
Do ponto de vista legal e jurídico, o conceito de violência sexual varia de acordo
com o país, embora a maioria das definições inclua o uso da força física ou de
intimidação, o contato sexual e o não consentimento da vítima (CORREA, 2009).
No Brasil, a violência sexual é crime de acordo com o Código Penal Brasileiro
vigente, que traz nos artigos:
Artigo 213: Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter
conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato
libidinoso.
O artigo 214 foi revogado, passando assim o artigo 213 a englobar também as
prerrogativas do artigo 214, podendo ser vítima de estupro tanto mulheres como
homens, pois o tipo penal é expresso em se referir a “alguém” e não tão somente
fala em mulher.
A Lei nº 12.015/09 deu nova redação ao artigo 1º, inciso V, da Lei n. 8.072/90
(Lei dos Crimes Hediondos), deixando claro que o estupro (213, "caput"), também é
hediondo. Diante dessas inquietações a presente pesquisa deseja investigar: Qual ou
quais discursos são produzidos nos jornais impressos Folha de São Paulo e O Liberal
sobre a violência sexual contra mulheres no Brasil.
A “Folha de São Paulo” é um jornal dirigido às classes médias e abastadas com
um perfil erudito, sendo liberal tanto na economia quanto nos costumes da política.
Representa a ideia de um padrão jornalístico atual e marcado pela modernidade. O perfil
da “Folha” é apresentar as controvérsias e divulgar notícias por meio de uma vertente
5
das conflitualidades, explicitando interesses variados e plurais. Seus colunistas são
jornalistas experientes, atentos e atualizados, bem formados e com estilo denso e crítico.
Já, “O Liberal” tem setenta e três anos, sendo que cinquenta e seis deles como
uma propriedade da família Maiorana (MALCHER, SEIXAS, LIMA e AMARAL
FILHO, 2011). Este jornal tem boa distribuição, moderno projeto gráfico e representa a
classe média e alta paraense, Seu rival, no estado do Pará é o Diário do Pará.
Portanto, trata-se de um jornal de difusão nacional e outro de comunicação
estadual/regional. Ambos, com grande circulação e que abordam o objeto deste estudo
de formas diferentes. Um, relatando mais as políticas públicas e descrevendo com
detalhes ligados ao acontecimento em diversas perspectivas; o outro, trazendo mais os
aspectos policiais e criminais, construindo a vítima em um olhar mais ligado à
criminologia etiológica e da vitimologia.
Vale destacar que a imprensa produz realidades e discursos, disseminando valores
e imagens cristalizadas da sociedade e das relações sociais bem como forja
subjetividades e modos de viver, sentir, pensar e agir. Deste modo, um jornal impresso é
agente construtor e difusor de saber poder, criando uma memória e agenciando uma
cultura política com sentidos específicos, em um dado tempo e espaço. A “Folha” é o
jornal de maior circulação no Brasil, na atualidade e faz parte de um conjunto de
empresas, formando um conglomerado midiático de alto padrão jornalístico, no país
(KANNO & BRANDÃO, 1998).
O jornalismo exerce função importante na sua prática por “levantar dados,
apurar informações, visibilizar histórias, confrontar autoridades, cobrar providências e
apontar soluções coletivas”. A mídia ao atuar como agente de informação de forma
episódica e factual, pode propagar ou combater a violência. O papel central que a mídia
ocupa neste processo é possibilitado, em grande medida, pelo fato de que ela aparece
aos olhos do público como sendo imparcial, ou seja, como tendo a função de apenas
transmitir a informação sem influenciar a capacidade reflexiva das pessoas (LERMEN
& CÚNICO,2018).
Diante destas considerações, a presente proposta de pesquisa questiona: Que
mulheres têm composto as matérias jornalísticas e qual a cobertura midiática são
expostas? Qual a incidência deste tipo de violência no Brasil? Quais as vulnerabilidades
sociais e institucionais que compõem este quadro de violência sexual em nosso país?
Como analisar a produção da subjetividade das vítimas de crimes sexuais em relação às
6
práticas que as cercam? Como romper as relações sociais de violência e proporcionar a
mulher uma política pública mais eficiente no combate à violência sexual?
2. Justificativa
A prática ou o uso da violência contra a mulher se constitui em um elemento
fundamental para se entender as desigualdades que caracterizam homens e mulheres em
nossa sociedade. Segundo a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e
Erradicara Violência Contra a Mulher – a “Convenção de Belém do Pará” - de 1994, a
violência contra a mulher pode ser entendida como “qualquer ato ou conduta baseada no
gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher,
tanto na esfera pública como na esfera privada”.
No Brasil, as políticas públicas direcionadas às mulheres caminham lado a lado
com os movimentos sociais de mulheres, de grupos feministas e pela entrada em cena
da categoria analítica de gênero, no campo das pesquisas universitárias, anexas a outros
dispositivos analíticos importantes, como: raça, etnia, geração, classe social e orientação
sexual.
Segundo Machado (1998), os estudos sobre as mulheres apresentados no cenário
mundial, não eram suficientes para as feministas discorrerem sobre a condição, situação
e posição das mulheres, já que estes estudos não passavam de modelos descritivos, não
atendendo as pretensões e desafios de um pensamento analítico e teórico.
Para Scott (1995), o termo “gênero” teve início com as feministas americanas
que rejeitavam a utilização do biológico para determinar as diferenças entre os sexos,
para elas era necessário levar em conta o aspecto social. Houve também as que
utilizaram o termo “gênero” como vocabulário analítico, tentando, desta forma,
aproximar os estudos das mulheres ao contexto dos homens, pois ambos deveriam estar
embrincados nesta análise.
Desta forma, Scott (1995) enfatiza que gênero é uma categoria de análise que
certifica a historicidade das distinções sociais entre os sexos. Nessa perspectiva, a
autora define o gênero como um elemento obrigatório nas relações sociais baseada nas
diferenças percebidas entre os sexos, e o gênero é a primeira forma de constituir as
relações de poder. O uso do “gênero” coloca a ênfase sobre todo o sistema de relações
que pode incluir o sexo, mas que não é diretamente determinado pelo sexo nem
determina diretamente a sexualidade.
7
Segundo Correa (2009), a violência praticada contra as mulheres é conhecida
como violência de gênero porque se relaciona a condição de subordinação da mulher na
sociedade, revelando a desigualdade entre homens e mulheres, sobretudo nas relações
domésticas e familiares, sendo está influenciada pelos fatores sociais, como
escolaridade, desemprego, uso de álcool ou drogas, estando presente em todas as classes
sociais.
Segundo Lima (2009), as relações históricas e culturalmente construídas
carregam uma forte marca de patriarcado e da desigualdade racial, que tiveram na
violência sexual contra as mulheres negras e pobres as principais vítimas fatais da
violência.
Já para Romeiro (2007), a denominação “violência doméstica e familiar contra a
mulher”, utilizada na Lei “Maria da Penha”, procura formular e recuperar os termos que
historicamente o feminismo procurou qualificar a “violência de gênero”, incorporando
ao mesmo tempo as ambiguidades que residem sob o termo “família” e “doméstica”.
Assim, delimita-se quem é o “agressor” (sempre o homem) e quem é a “vítima” (sempre
a mulher), ao mesmo tempo, que em princípio, permite expandir esse tipo de conflito
para todos aqueles que fazem parte das relações familiares.
Ainda tratando a questão da violência sexual cometida contra mulheres, Silva
(2009) discorre que o estupro cometido pelo marido/companheiro/ex-marido, ex-
companheiro pode ser mais traumáticos do que aqueles cometidos por um estranho uma
vez que provoca na vítima sentimentos de quebra de confiança, culpa e rejeição.
No Pará, as pesquisas apontam que a violência sexual em muitos casos é vista
como “natural”, já que os que cometem essa violência contra crianças, jovens e
mulheres, fazem parte da própria família ou possuem alguma forma de intimidade, esta
naturalização acaba por oprimir as denúncias, embora aliada aos aspectos culturais,
encontramos outros fatores que contribuem para o alto índice de violência sexual no
Pará, tanto na região metropolitana como nas cidades do interior, entre ela está a prática
de venda de menores pela própria família, prostituição infanto-juvenil, fatores
socioeconômicos e a omissão do estado. Tais aspectos, por mais que venham sendo
intensamente debatidos há anos por diferentes movimentos sociais (em especial o
movimento de mulheres), nas universidades, em alguns setores do Estado, continuam
ainda sendo questão de amplos debates. Apesar da Lei Maria da Penha ter completado
quinze anos e os avanços terem sido significativos, vemos na escassez de dados sobre a
8
ocorrência de tal violência uma enorme lacuna a ser preenchida. Isto é, antes de pensar
em ações, devemos conhecer a realidade na qual está problemática está inserida.
O Anuário Nacional de Segurança Pública de 2021, demonstra que 1 em cada 4
mulheres brasileiras (24,4%) acima de 16 anos afirmam ter sofrido algum tipo de violência
ou agressão nos últimos 12 meses. Esses dados revelam que 17 milhões de mulheres sofreram
algum tipo de violência no Brasil . Não podemos deixar de levar em conta que esses dados
não compõem toda a realidade, já que uma grande quantidade de mulheres acaba não
denunciando.
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), na pesquisa de Tolerância à
violência contra mulher, revelou que 61,5% dos entrevistados concordam com as
afirmações de que a culpa do estupro é da mulher “por não saber se vestir”, “não saber
se comportar adequadamente”, dentre outras. Dos entrevistados, 58,5% concordam com
a afirmação de que se as mulheres soubessem se comportar haveria menos estupro no
Brasil.
9
Os discursos são instrumentos que veiculam, circulam e produzem poder no
âmbito das relações de força, sejam distintos ou contrários, em sua representatividade e
legitimidade construída socialmente. Não há discurso sem relações de poder e sem
fabricação de um campo de saber. Ambos andam juntos e estão articulados em
entrecruzamentos de práticas múltiplas, heterogêneas e materiais, no cotidiano da
sociedade.
As multiplicidades dos discursos permitem problematizar às táticas e variantes
que articulam poder e saber em contextos institucionais, análise sobre a posição de
quem fala sua composição, sua utilização, deslocamento e as formas de referências e
resistências que produzem subjetividades. Toda prática de poder gera resistências e
produz realidades, em que correlaciona saberes e forma modos de viver, de sentir, de
pensar, de agir, de se relacionar, de gerir e organizar o trabalho e as políticas sociais
(FOUCAULT, 2009, p. 24).
As regularidades dos discursos incluem formas de disciplinar os corpos e sistemas
de coerção que ordenam, veiculam, excluem e justificam o posicionamento e
formulação de enunciados voltados para apropriação de ações, condutas e circunstâncias
que os indivíduos assumem na sociedade. Nesta relação entre mídia e público, o que não
aparece na grande imprensa é como se não tivesse ocorrido, assim como, o que ganha
corpo no coro midiático é produzido como verdade (FOUCAULT, 2009, p. 42).
Portanto, esta pesquisa se justifica e traz contribuições para a análise das práticas
discursivas face à violência sexual contra as mulheres, tanto no contexto da Amazônia
paraense quanto no nacional, assinalando as tensões entre os valores, as apropriações
realizadas em termos dos discursos. Estudar como as mídias representam a violência
contra as mulheres é algo muito importante, em especial, nas tensões e paradoxos deste
veículo de comunicação na sociedade em que se materializa.
3. Objetivos
10
3.2 -Objetivos Específicos
b) Investigar se ocorre a culpabilização das vítimas nas matérias dos jornais citados.
c) Problematizar a violência sexual contra as mulheres nas referidas mídias a partir dos
marcadores de classe, de raça/etnia, de gênero, de territorialidade, do capacitismo e
etarismo.
4. Metodologia
11
instante. Produz-se verdade. Essas produções de verdade não podem
ser dissociadas do poder e dos mecanismos de poder, ao mesmo tempo
porque esses mecanismos de poder tornam possíveis, induzem essas
produções de verdades, e porque essas produções de verdade têm, elas
próprias, efeitos de poder que nos unem, nos atam. São essas relações
de verdade/poder, saber/poder que me preocupam (FOUCAULT,
2012, p.224).
Sobre esta analítica, Foucault (2010) destaca que nesses jogos de saberes o que
encontramos são práticas discursivas e de poder que produzem “verdades”, discursos
classificados como verdadeiros ou falsos, já que essas forças estão em embates
constantes, em luta, em confronto e vence o que possuir melhores dispositivos 1
estratégicos.
5. Cronograma de atividades
1 Disciplinas obrigatórias X X
2 Revisão bibliográfica X
14
Levantamento dos jornais
impressos
3 X
Levantamento de dados
estatísticos nas bases
4 X
brasileiras.
6 Elaboração da tese. X X
6. Referências
15
COULOURIS, D. G. Violência, Gênero e Impunidade: A construção da verdade nos
casos de estupro. 237p. Dissertação de mestrado apresentado ao programa de pós-
graduação em ciências sociais da faculdade de Ciências Sociais da Universidade
Estadual Paulista. Marília, 2004.
FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. 19ª Ed. São Paulo: Loyola. 2009.
___________. História da Sexualidade – A vontade de saber. 13ª Ed. Rio de Janeiro:
Graal, 1988.
___________. Microfísica do Poder. 28ª Ed. Rio de Janeiro: Graal, 2010.
___________. O sujeito e o poder. In: DREYFUS, H. & RABINOW, P. Michel
Foucault, uma trajetória filosófica: para além do estruturalismo e da hermenêutica. 2ª
Ed. Rio de Janeiro.: Forense Universitária, 2010.
16
MACHADO, R. Por uma genealogia do poder. Microfísica do poder. Rio de Janeiro:
Graal, 2010.
MALCHER, Maria Ataíde; SEIXAS, Netília Silva dos Anjos; LIMA, Regina Lúcia
Alves de; AMARAL FILHO, Otacílio (Orgs.). Comunicação midiatizada na e da
Amazônia. Belém: FADESP. 2011.
17
SCHRAIBER et al., Prevalência da violência contra a mulher por parceiro íntimo em
regiões do Brasil. Revista Saúde Pública 2007;41(5):797-807.
SCOTT, J. W. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação & Realidade.
Porto Alegre, v. 20, n. 2, pp. 71-99, 1995.
18