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ESPECIALIZAÇÃO EM SOCIOLOGIA
Declaro que sou autor(a)¹ deste Trabalho de Conclusão de Curso. Declaro também que o mesmo foi
por mim elaborado e integralmente redigido, não tendo sido copiado ou extraído, seja parcial ou
integralmente, de forma ilícita de nenhuma fonte além daquelas públicas consultadas e corretamente
referenciadas ao longo do trabalho ou daqueles cujos dados resultaram de investigações empíricas
por mim realizadas para fins de produção deste trabalho. Assim, declaro, demonstrando minha plena
consciência dos seus efeitos civis, penais e administrativos, e assumindo total responsabilidade caso
se configure o crime de plágio ou violação aos direitos autorais. (Consulte a 3ª Cláusula, § 4º, do
Contrato de Prestação de Serviços).
RESUMO: O presente trabalho procurou compreender como são produzidos os discursos sobre
pessoas não heterossexuais em manuais de medicina legal, tendo como objetivo geral: objetivo geral:
analisar a produção dos saberes sobre a sexualidade de sujeitos LGBTQIA+ nos manuais de
medicina legal. Já os objetivos especificos deste trabalho visam analisar: as condições de produção
destes manuais; quais as contradições históricas e sociais existentes nos enunciados analisados; por
quais domínios do saber os enunciados apresentados circulam; quais regularidades estão presentes?
e quais os processos de resistência? Em relação ao método, a pesquisa situou-se no campo da
análise do discurso Foucaltiana, utilizando o método arqueogenealogico que busca entender a
relação poder-saber dos discursos, assim como sua dispersão. A pesquisa metodologicamente é
qualitativa e possui uma base bibliográfica, visto que foi preciso dialogar com a literatura presente
sobre a temática. A análise realizada demonstrou que existem regularidades e descontinuidades em
relação ao discurso médico sobre a sexualidade de sujeitos LGBTQIA+ que coloca a sexualidade
destes indivíduos enquanto patológica e desviante, entretanto ressalta-se que não existe exercicio de
poder sem resistência, e tal comunidade segue resistindo a discursos patologizantes que impõe um
padrão sobre seus corpos.
Palavras- chaves: Medicina Legal. Sexualidade. Discurso.
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josymontelo02@gmail.com
1 INTRODUÇÃO
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discursos presentes na sociedade sobre estes sujeitos. Discursos estes presentes
na sociedade civil, bem como em instituições e áreas do conhecimento que compõe
certos domínios do saber.
Este trabalho possui enquanto problemática de pesquisa compreender: como
são produzidos os discursos sobre sexualidade de sujeitos não-heterossexuais em
manuais de medicina legal? A sexualidade neste trabalho foi compreendida como
objeto de discurso, disputas e relações de poder-saber. Para Foucault (2019), o
discurso é visto como conjunto de enunciados historicamente articulados que
apresentam contínuos e descontínuos que se ignoram e se cruzam em determinado
campo do saber, sendo regido por regras e possibilidades. Sendo assim, o trabalho
terá como objetivo geral: analisar a produção dos saberes sobre a sexualidade de
sujeitos LGBTQIA+ nos manuais de medicina legal. Já os objetivos especificos deste
trabalho visam analisar: as condições de produção destes manuais; quais as
contradições históricas e sociais existentes nos enunciados analisados; por quais
domínios do saber os enunciados apresentados circulam; quais regularidades estão
presentes? e quais os processos de resistência?
A presente pesquisa torna-se necessária, visto que a população LGBTQIA+
ainda é extremamente descriminada. Desta maneira, os discursos que normatizam
os corpos destes sujeitos ainda se encontram na sociedade, sendo passiveis de
análise. Os discursos como bem apontam Foucault (2019), possui contínuos e
descontínuos que se constroem ao decorrer da história, havendo regras,
modificações, direito privilegiado da fala e etc., visto isto, pode-se questionar se os
discursos patológicos ou sobre sexualidade produzidos nos anos 1980 possuem a
mesma formação discursiva no campo do saber da medicina legal e na sociedade
civil atual? O discurso sobre sexualidade é sempre repressivo?
Em relação “método” de análise foi adotado a análise dos discursos (AD)
Foucaltiana para compreender os discursos produzidos sobre sujeitos não
heterossexuais em manuais de medicina legal, vale ressaltar que a análise do
discurso é um gesto de análise e um procedimento teórico metodológico que nos
possibilitará analisar os enunciados. Sobre os procedimentos metodológicos o
presente trabalho trata-se de uma pesquisa qualitativa que consiste em um
aprofundamento dos fenômenos estudados, assim como interação com o objeto de
estudo pesquisado; registro de informações coletadas e interpretações. A pesquisa
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consequentemente também se torna uma pesquisa bibliográfica visto que dialogará
com autoras e autores pós- estruturalistas sobre a sexualidade, sexo, poder-saber e
produção discursiva.
Para realizar a análise será utilizado enquanto suporte que constituíram o
corpus deste trabalho, dois manuais de Medicina Legal de autores brasileiros: Delton
Croce e Delton Croce Júnior – Manual de Medicina Legal e Medicina legal de
Genival Veloso de França. A obra dos autores Delton Croce e Delton Croce Júnior
teve sua oitava edição publicada em 2012, porém sua primeira edição é datada em
1995, pela mesma editora, em contrapartida a obra de Genival França foi publicada
pela primeira vez em 1977 pela editora Guanabara, e encontrar-se em sua décima
primeira edição pela mesma editora, tendo sua última publicação em 2019. Ambos
foram selecionados, pois são considerados referenciais importantes para o estudo
da Medicina Legal.
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brasileira, assim como inaugura-se a primeira Escola de Medicina Legal no País,
sendo Nina Rodrigues o fundador. (MIZIARA; MIZIARA; MUÑOZ,2012)
Vale ressaltar que Nina Rodrigues, é conhecido nos debates étnicos e raciais
enquanto um teórico brasileiro defensor das ideias de eugenista de Cesar Lombroso
no Brasil, construindo uma teoria na área de criminologia que se baseia em
fenótipos raciais para classificar os indivíduos que estão propensos a realizar
crimes. A posição sujeita que Nina Rodrigues ocupa dentro das condições históricas
e sociais para o desenvolvimento da Medicina Legal no contexto brasileiro, assim
como suas filiações teóricas, nos possibilita iniciar um processo reflexivo sobre como
se organiza esta área do saber da medicina legal e seus enunciados.
A Medicina Legal em 1891, tornou-se obrigatória nos cursos de Direito do
Brasil, sendo considerada essência na época para elucidar fatos jurídicos. Os
manuais de Medicina Legal analisados neste trabalho, circulam por diversas áreas
do saber, entre elas Medicina, Direito, Psicologia. (MIZIARA; MIZIARA;
MUÑOZ,2012). Atualmente a medicina legal pode ser considerada uma
especialidade que auxilia a área de Direito Penal, e estar presente enquanto
disciplina optativa em diversos cursos de Direito de Universidades Públicas e
Privadas, como pode-se verificar, por exemplo no plano político-pedagógico do
Curso de Direito da Universidade Federal do Maranhão de 2015, Universidade de
São Paulo (USP) de 2013, a disciplina aparece com o nome de medicina forense I e
II, Universidade Federal de Minas Gerais na matriz curricular de 2013, dentre outras
instituições.
Os manuais utilizados neste trabalho são citados enquanto referências
bibliográficas obrigatórias no estudo da medicina legal no contexto Universitário e
para além deste. Tais manuais circulam também enquanto referências bibliográficas
obrigatórias em apostilas para concursos públicos em especial para peritos de IML e
carreiras policiais (delegado e papiloscopista).
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Geisel (1974- 1979), em um processo de abertura política, porém os embates
políticos e ideológicos ainda se encontravam bem acirrados na sociedade da época.
Movimentos de oposição ao governo ainda sofriam com o silenciamento diante das
atrocidades ocorridas na sociedade da época.
Já a obra de Delton Croce e Delton Croce Júnior tem sua primeira edição
publicada em 1995, ou seja, a publicação ocorreu em um período democrático fruto
de diversos embates políticos, entretanto a própria sociedade brasileira passava por
um processo de organização/reestruturação. Vale ressaltar que as condições
históricas, políticas e sociais de ambas as publicações são de extrema importância
para compreendemos como o discurso sobre a sexualidade foi formulado. De acordo
com Foucault (2019) deve-se se atentar para regras de formação do discurso, assim
como para as condições históricas que possibilitem o aparecimento de um discurso:
As condições históricas para que dele se possa “dizer alguma coisa” e para
que dele várias pessoas possam dizer coisas diferentes, as condições para
que ele se inscreva em um domínio de parentesco com outros objetos, para
que possa estabelecer com eles relações de semelhança, de vizinhança, de
afastamento, de diferença, de transformação – essas condições, como se
vê, são numerosas e importantes. (FOUCAULT,2019, p.54)
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Além disso, buscou-se entender as formas de enunciação presentes nestes
discursos, como também entender como esta, exclui outras formas de enunciação
presentes na sociedade. Vale ressaltar que o presente trabalho se pauta na análise
do discurso, mais propriamente, no método arqueogenealogico do discurso. Sendo
assim, a arqueologia proposta por Foucault (2019), visa entender os sistemas de
dispersão do discurso, o autor não está preocupado em compreender os discursos
de forma linear, continuas e cronológicas.
Foucault (2019) em sua arqueologia prioriza as regras de possibilidade do
discurso, e aponta que não existe uma regularidade nos modos enunciativos dos
discursos. Se existe alguma regra para o autor na regularidade, na forma ou tipo do
discurso, tal regularidade encontra-se nas regras que tornam possivel a emergência
de determinado discurso. Já a genealogia formulada pelo autor, consiste em
entender a relação entre a produção do saber e poder. Saber que possui um status
social e cientifico, a genealogia Foucaltiana consiste em uma relação poder-saber.
Sendo assim de acordo com Sousa (2020), a arqueogenealogia “é concebida como
uma proposta ao mesmo tempo teórica, porque mobiliza conceitos de Foucault, e
metodológica, porque pensa os discursos em sua dimensão histórica tal como esse
autor o fez” (SOUSA,2020, p.151).
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visando alcançar demandas sociais, políticas ou morais. Em sua obra história da
sexualidade, Foucault (2017) analisa a sexualidade enquanto expressão do
biopoder, deixando de lado uma análise eminentemente repressiva ao se falar de
sexo/sexualidade.
Conforme o autor na passagem do século XVIII para o XIX, ocorreu
mudanças em relação a sexualidade, esta deixa de ser um aspecto da vida cotidiana
relativamente livre e passa a ser vigiada e controlada, porém não necessariamente
reprimida. Como aponta TOLENI (2012):
O dispositivo da sexualidade (entendido como estratégias de força que
suportam tipos de saber e vice-versa) permitiu ao biopoder estender suas
redes ao sujeito individual. Com efeito, até o século XVIII, os principais
códigos legais ocidentais centravam-se no dispositivo da aliança que
articulava as obrigações religiosas ou legais do casamento com a
transmissão da propriedade e dos laços de sangue, constituindo o sistema
social. (TOLENI,2012, p.151).
Assim, Foucault (2017) ressalta que o sexo não foi reprimido como muitos de
sua época ressaltavam, mas foi institucionalizado mediante a criação de diversos
mecanismos de controle. Vale ressaltar que ao analisar a sexualidade enquanto
dispositivo o autor formula uma concepção de poder diferente das “formulações
tradicionais” da qual o poder deriva de alguém superior como se necessariamente
houvesse uma hierarquia nessas relações. “[...] a análise em termos de poder não
deve postular, como dados iniciais, a soberania do Estado, a forma da lei ou a
unidade global de uma dominação; estas são apenas, e antes de mais nada, suas
formas terminais” (FOUCAULT,2017, p.100).
O poder não está somente relacionado a soberania do Estado, o autor
entende o poder enquanto algo que está na multiplicidade das relações, mediante a
jogos, lutas, transformações e afrontamentos.
[...] a condição de possibilidade do poder, em todo caso, o ponto de vista
que permite torna seu exercicio inteligível até em seus efeitos mais
“periféricos” e, também, enseja empregar seus mecanismos como chave de
inteligibilidade do campo do social não deve ser procurada na existência
primeira de um ponto central, num foco único de soberania de onde
partiriam formas derivadas e descendentes; é suporte móvel das
correlações de forças que, devido a sua desigualdade, induzem
continuamente estados de poder, mas sempre localizados e instáveis.
( FOUCAULT,p.101).
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afirmando que os discursos sobre gênero utilizados na biologia, no movimento
feminista, e em áreas do saber como estruturalismo e psicanálise produzem
naturalização do termo.
As categorias analíticas sexo, gênero, poder e desejo formuladas por Butler
receberam grande influência do método genealógico de Foucault, pois a autora
também ressalta que tais categorias refletem uma formação especifica de poder
sobre os sujeitos. Conforme Oliveira (2021):
[...] Isso demandou direcionar o olhar para a função dual do poder: jurídica e
produtiva. Pois, segundo a abordagem foucaultiana, os sistemas jurídicos
geram os sujeitos que subsequentemente passam a representar, ou seja,
sujeitos formatados de acordo com as exigências dessas estruturas.
Ademais, a legitimação e exclusão são operações políticas que já estão
ocultas e naturalizadas na própria análise política que as toma como
fundamento. (OLIVEIRA, 2021, p.08).
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5. ANÁLISE DO DISCURSO SOBRE SEXUALIDADE DE SUJEITOS NÃO
HETEROSSEXUAIS EM MANUAIS DE MEDICINA LEGAL.
Como virmos a sexualidade é um dispositivo que envolve relações de poder,
deste modo os discursos analisados não estão isentos desta relação. Para analise
selecionou-se algumas formulações para serem analisadas, formulações estas que
tratam da sexualidade de mulheres lésbicas, homens gays e de pessoas
transsexuais. Vale ressaltar que se levou em consideração a data da primeira e
última publicação de cada manual procurando assim compreender as condições que
possibilitaram a propagação dos enunciados, bem como as contradições que
existem, ou seja, processos de rupturas e deslocamentos.
Segundo Genival França a sexualidade de mulheres lesbicas e pessoas
transsexuais, pode ser classificada como:
HOMOSSEXUALIDADE FEMININA: Ainda chamado por alguns de safismo,
lesbianismo ou tribadismo. É muito mais frequente do que se imagina.
Existem, como no caso masculino, graus variados que vão desde os tipos
masculinizados (feições, hábitos, disfarces e maneiras de se portar) aos
tipos femininos, delicados e ternos, nos quais jamais se poderia pensar
nesta forma de preferência sexual. [...] Fatores como o receio da gravidez,
as decepções com os homens, os maus-tratos dos maridos, a educação
moderna, a nova literatura, o comportamento masculino na atualidade –
aproximando-se do unissexo –, e a solidão têm sido considerados, dentre
outros, como elementos da gênese dessa preferência. A emancipação da
mulher por meio dos princípios definidos pelos movimentos feministas e a
ampliação da liberdade de opção e expressão, sem dúvida, vêm levando as
mulheres a assumirem sua preferência sexual, com o respeito e o
acatamento da sociedade.
TRANSEXUALIDADE :Trata-se, pois, de uma inversão psicossocial, uma
aversão e uma negação ao sexo de origem, o que leva esses indivíduos a
protestarem e insistirem em uma forma de cura por meio da cirurgia de
reversão genital, assumindo, assim, a identidade do seu desejado gênero.
As características clínicas da transexualidade se reforçam com a evidência
da convicção de o indivíduo pertencer ao sexo oposto, o que lhe faz
contestar e valer essa determinação até de forma violenta e desesperada.
Em geral não tem relacionamento sexual, nem mesmo com pessoas do
outro sexo, pois só admitem depois de reparada a situação que lhe
incomoda. Somaticamente, não apresentam qualquer alteração do seu sexo
de origem. Quase todos eles têm genitais normais. (FRANÇA,2019, p.730-
731).
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deliberar quanto à legitimidade dos diferentes comportamentos sexuais
humanos. Suas incidências se estendem mesmo sobre o campo legal e
jurídico. Obra que sintetiza e aprofunda os estudos da sexologia de seu
tempo, Psychopathia Sexualis introduz uma delimitação do campo das
perversões sexuais, uma nomenclatura – que inclui termos que seriam
posteriormente consagrados. (PEREIRA, p.02,2009).
"Acho que o adolescente que muitas vezes opta por andar no caminho do
homossexualismo (sic), tem um contexto familiar muito próximo, basta fazer uma
pesquisa. São famílias desajustadas, algumas faltas atenção do pai, falta atenção
da mãe. Vejo menino de 12, 13 anos optando por ser gay, nunca esteve com uma
mulher de fato, com um homem de fato e caminhar por aí. São questões de valores
e princípios." (MINISTRO DA EDUCAÇÃO MILTON RIBEIRO,2020).
Tal fala vai de encontro novamente com esta relação entre normalidade e
anormalidade, quando o Ministro ressalta que são homossexuais aqueles que
possuem convívio próximo com outros homossexuais, ou quando a família sofre de
algum desajuste. A fala no ministro também “resgata” outra ideia presente nos
manuais que classificam as relações mediante a uma perspectiva binaria e
heteronormativa (homem/mulher- pai/mãe- homossexual/heterossexual). Para
ambos os autores na sociedade existe uma ordem ou papeis pré-estabelecidos que
giram em torno do sexo/sexualidade dos indivíduos não havendo nenhuma outra
possibilidade.
Percebe-se que ao tratar da sexualidade de homens gays ou mulheres
lésbicas os termos passivo/ativo, masculino/feminino estão sempre em oposição
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como se não houvesse possibilidade de coexistência entre tais conceitos,
reproduzindo mais uma vez um “padrão” heterossexual não somente em relação a
sexualidade, mas ao gênero. Uma mulher que não reproduz padrões de
feminilidade, não é mulher? como pode-se definir o ser mulher? Precisamos definir o
ser homem? Ser mulher? Ser hetero? Ser gay? Um homem que não reproduz os
padrões de masculinidade deixa de ser homem? Como é ser homem? todas essas
indagações surgem ao ler os discursos “patologizantes” presentes nestes manuais.
Ao analisar a formulação do Manual do Manual do Genival França (1995)
sobre a homossexualidade feminina, o autor ressalta também que essa expressão
da sexualidade é causada por diversos fatores, como por exemplo, a decepção
amorosa com sexo masculino, e influência de movimentos indenitários como o
movimento feminista, tal formulação, também vai de encontro com uma série de
discursos existentes na sociedade brasileiro, deste modo percebe-se uma
modificação no modo de dizer, porém permanência de sentido dos enunciados.
Desta forma, entende-se pela formulação do autor que a lesbianidade é algo
causado por uma influência externa ao indivíduo, que as mulheres só se relacionam
com mulheres devido, a alguma frustação ou por influência de movimentos
contemporâneos de emancipação das mulheres.
Já ao tratar da transexualidade, ambos os autores apontam a sexualidade
enquanto patológica, como algo que precisa de correção urgente através de um
procedimento cirúrgico das genitálias, os enunciados colocam a transexualidade
como algo que precisa ser corrigido, padronizado, adequado. Reforçando
novamente uma perspectiva binária de se relacionar. As formulações sobre a
sexualidade em parâmetros médico legal, reflete bem sua articulação com diversas
formas de poder-saber que atravessa sujeitos não heterossexuais, colocando seus
corpos em lugares dos quais sua sexualidade pode ser observada e detalhada.
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somente porque elas existem hoje, mas porque sempre existiram e continuam
existindo frente aos mecanismos de poder-saber.
Os movimentos sociais constantemente lutam para que os estigmas sociais
sobre suas identidades sexuais sejam quebrados, subvertendo a lógica binaria e
heterossexual-normativa. A heterossexualidade não se constitui apenas enquanto
prática sexual, mas como um regime político, organizado visando a administração
dos da vida e dos corpos dos indivíduos.
De acordo com Preciado (2019), os corpos que subvertem a lógica normativa
são potencias, não são simples elementos para que o biopoder produza disciplina e
normatização determinando formas de subjetivação. Os [...] corpos e as identidades
dos anormais como potenciais políticas, e não simplesmente como efeitos dos
discursos sobre o sexo” (PRECIATO,2019, p.422).
Deste modo, afirmo que o movimento LGBTQIA realiza um processo de
desterritorialização da heterossexualidade, afetando o espaço urbano e o corpo dos
indivíduos, afirma Preciado (2019, p.424) “[...] esse processo desterritorialização do
corpo obriga a resistir aos processos de torna-se normal”.
A medicina legal pode ser entendida enquanto um dispositivo de sexualidade,
assim como relação sexopolítica, pois possui tecnológicas precisas que visa a
produção e reprodução de corpos normais, entretanto não inviabiliza a ação política
de visa resistir a essa relação de poder-saber e disciplina sobre os corpos.
Ao contrário, porque porta em si mesma como fracasso ou resíduo, a
história das tecnologias de normatização dos corpos, a multidão queer tem
também a possibilidade de intervir nos dispositivos biotecnológicos de
produção de subjetividade sexual. (PRECIADO,2019, p.424).
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A análise do campo da medicina legal de forma crítica é de extrema
importância, visto que tais manuais circulam em domínios da área juridica, política e
da saúde, desta forma, esses estudos refletem de forma negativa para a garantia de
direito e desmitificação sobre os corpos, práticas e desejos de pessoas LGBTQIA+
diante da sociedade civil, reforçando diversas violências já existentes. Apesar disso
percebeu-se também ao longo da análise a importância de considerar as formas de
resistência e subversões frente aos dispositivos de sexualidade.
REFERENCIAS
BUTLER, Judith. Problemas de Gênero: feminismo e subversão da identidade.
8ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2016.
CROCE, Delton; CROCE, Junior. Manual de Medicina Legal. 8. ed. – São Paulo:
Saraiva. 2012.
FACCHINI. Regina. Movimento homossexual no Brasil: recompondo um
histórico. Cad. AEL, v.10, n.18/19, 2003.
OLIVEIRA, Kris Herik de. Intensos encontros: Michel Foucault, Judith Butler,
Paul B. Preciado e a teoria queer. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, n°
29(1), 2021.
PRECIADO, Paul B. Multidões queer: notas para uma política dos “anormais”. In:
HOLLANDA, Heloisa Buarque de. Pensamento Feminista: conceitos
fundamentais. Rio de Janeiro: Editora Bazar do tempo.2019. p.421 -430.
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