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FACULDADE DE VENDA NOVA DO IMIGRANTE

ESPECIALIZAÇÃO EM SOCIOLOGIA

JOSILENE MONTELO FERREIRA

SÃO JOSÉ DE RIBAMAR


2021
“OS ANORMAIS”: OS DISCURSOS SOBRE SEXUALIDADES NÂO
HETEROSSEXUAIS EM MANUAIS DE MEDICINA LEGAL.

Declaro que sou autor(a)¹ deste Trabalho de Conclusão de Curso. Declaro também que o mesmo foi
por mim elaborado e integralmente redigido, não tendo sido copiado ou extraído, seja parcial ou
integralmente, de forma ilícita de nenhuma fonte além daquelas públicas consultadas e corretamente
referenciadas ao longo do trabalho ou daqueles cujos dados resultaram de investigações empíricas
por mim realizadas para fins de produção deste trabalho. Assim, declaro, demonstrando minha plena
consciência dos seus efeitos civis, penais e administrativos, e assumindo total responsabilidade caso
se configure o crime de plágio ou violação aos direitos autorais. (Consulte a 3ª Cláusula, § 4º, do
Contrato de Prestação de Serviços).

Josilene Montelo Ferreira.1

RESUMO: O presente trabalho procurou compreender como são produzidos os discursos sobre
pessoas não heterossexuais em manuais de medicina legal, tendo como objetivo geral: objetivo geral:
analisar a produção dos saberes sobre a sexualidade de sujeitos LGBTQIA+ nos manuais de
medicina legal. Já os objetivos especificos deste trabalho visam analisar: as condições de produção
destes manuais; quais as contradições históricas e sociais existentes nos enunciados analisados; por
quais domínios do saber os enunciados apresentados circulam; quais regularidades estão presentes?
e quais os processos de resistência? Em relação ao método, a pesquisa situou-se no campo da
análise do discurso Foucaltiana, utilizando o método arqueogenealogico que busca entender a
relação poder-saber dos discursos, assim como sua dispersão. A pesquisa metodologicamente é
qualitativa e possui uma base bibliográfica, visto que foi preciso dialogar com a literatura presente
sobre a temática. A análise realizada demonstrou que existem regularidades e descontinuidades em
relação ao discurso médico sobre a sexualidade de sujeitos LGBTQIA+ que coloca a sexualidade
destes indivíduos enquanto patológica e desviante, entretanto ressalta-se que não existe exercicio de
poder sem resistência, e tal comunidade segue resistindo a discursos patologizantes que impõe um
padrão sobre seus corpos.
Palavras- chaves: Medicina Legal. Sexualidade. Discurso.

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josymontelo02@gmail.com
1 INTRODUÇÃO

A população LGBTQIA+ historicamente foi descriminada na sociedade


brasileira, tendo seus direitos humanos básicos cerceados constantemente. Diante
desta realidade o processo de lutas e reinvindicações são constantes pelos
movimentos sociais que buscam uma igualdade material para a comunidade. Vale
ressaltar que o movimento LGBTQIA+ é um dos grandes responsáveis pelos
avanços conquistados para esta minoria na sociedade brasileira.
O “surgimento” do movimento LGBTQIA+ no Brasil é registrado inicialmente
pela bibliografia em 1970, e era compreendido enquanto um grupo de associações e
entidades, que poderia ser ou não institucionalizadas cujo objetivo era garantir e
defender direitos relacionados com a livre orientação sexual, assim como para
necessidades políticas, visando reconhecer os indivíduos mediante suas identidades
sexuais e de gênero, tornando-os sujeitos deste movimento. (FACCHINI,2003).
Entre as diversas lutas travadas pelos movimentos desde o seu surgimento, a
luta pela despatologização sempre compôs a pauta do movimento, em especial na
virada dos anos de 1980 para os anos 90, diante da epidemia de HIV que ocorreu no
Brasil na qual os sujeitos LGBTQIA+ eram apontados por parte da sociedade de
forma preconceituosa como causadores da epidemia. O HIV/AIDS era comumente
nomeado como “peste gay ou doença gay” reforçando os estereótipos e
preconceitos existentes na sociedade em relação a estes indivíduos.
No Brasil embora tivesse sido diagnosticado os primeiros casos de HIV no
início dos anos de 1980 e havendo diversas descriminações, foi somente durante a
virada dos anos 1980 para os 90 que houve maior empenho do movimento no
combate do HIV/AIDS, surgindo diversas organizações, entidades e movimentos
sociais cuja pauta primordial era o combate ao HIV/AIDS, assim como desfazer a
noção de patologização sobre a população LGBTQIA+ enraizada na sociedade,
visões estas que consistem em achar que esta população é causadora da doença,
bem como desmitificar que a própria sexualidade de sujeitos não heterossexuais
seja uma doença.
A noção que a sexualidade de pessoas LGBTQIA+ como patologia era/é
disseminada não somente pela sociedade civil, mas por diversas instituições
médicas e por instituições da área de saúde, juridica e demais campos do saber.
Visto isto, diante deste contexto de luta da comunidade LGBTQIA+ e as recentes

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discursos presentes na sociedade sobre estes sujeitos. Discursos estes presentes
na sociedade civil, bem como em instituições e áreas do conhecimento que compõe
certos domínios do saber.
Este trabalho possui enquanto problemática de pesquisa compreender: como
são produzidos os discursos sobre sexualidade de sujeitos não-heterossexuais em
manuais de medicina legal? A sexualidade neste trabalho foi compreendida como
objeto de discurso, disputas e relações de poder-saber. Para Foucault (2019), o
discurso é visto como conjunto de enunciados historicamente articulados que
apresentam contínuos e descontínuos que se ignoram e se cruzam em determinado
campo do saber, sendo regido por regras e possibilidades. Sendo assim, o trabalho
terá como objetivo geral: analisar a produção dos saberes sobre a sexualidade de
sujeitos LGBTQIA+ nos manuais de medicina legal. Já os objetivos especificos deste
trabalho visam analisar: as condições de produção destes manuais; quais as
contradições históricas e sociais existentes nos enunciados analisados; por quais
domínios do saber os enunciados apresentados circulam; quais regularidades estão
presentes? e quais os processos de resistência?
A presente pesquisa torna-se necessária, visto que a população LGBTQIA+
ainda é extremamente descriminada. Desta maneira, os discursos que normatizam
os corpos destes sujeitos ainda se encontram na sociedade, sendo passiveis de
análise. Os discursos como bem apontam Foucault (2019), possui contínuos e
descontínuos que se constroem ao decorrer da história, havendo regras,
modificações, direito privilegiado da fala e etc., visto isto, pode-se questionar se os
discursos patológicos ou sobre sexualidade produzidos nos anos 1980 possuem a
mesma formação discursiva no campo do saber da medicina legal e na sociedade
civil atual? O discurso sobre sexualidade é sempre repressivo?
Em relação “método” de análise foi adotado a análise dos discursos (AD)
Foucaltiana para compreender os discursos produzidos sobre sujeitos não
heterossexuais em manuais de medicina legal, vale ressaltar que a análise do
discurso é um gesto de análise e um procedimento teórico metodológico que nos
possibilitará analisar os enunciados. Sobre os procedimentos metodológicos o
presente trabalho trata-se de uma pesquisa qualitativa que consiste em um
aprofundamento dos fenômenos estudados, assim como interação com o objeto de
estudo pesquisado; registro de informações coletadas e interpretações. A pesquisa

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consequentemente também se torna uma pesquisa bibliográfica visto que dialogará
com autoras e autores pós- estruturalistas sobre a sexualidade, sexo, poder-saber e
produção discursiva.
Para realizar a análise será utilizado enquanto suporte que constituíram o
corpus deste trabalho, dois manuais de Medicina Legal de autores brasileiros: Delton
Croce e Delton Croce Júnior – Manual de Medicina Legal e Medicina legal de
Genival Veloso de França. A obra dos autores Delton Croce e Delton Croce Júnior
teve sua oitava edição publicada em 2012, porém sua primeira edição é datada em
1995, pela mesma editora, em contrapartida a obra de Genival França foi publicada
pela primeira vez em 1977 pela editora Guanabara, e encontrar-se em sua décima
primeira edição pela mesma editora, tendo sua última publicação em 2019. Ambos
foram selecionados, pois são considerados referenciais importantes para o estudo
da Medicina Legal.

2. MEDICINA LEGAL ENQUANTO CAMPO DO SABER.


A Medicina Legal é uma especialidade médica e jurídica que aplica
conhecimentos técnicos- científicos da área da medicina para elucidar fatos do
interesse jurídico. Segundo o Manual elaborado por Genival França, a Medicina
Legal pode ser definida ainda como “uma ciência de largas proporções e de
extraordinária importância no conjunto dos interesses da coletividade, porque ela
existe e se exercita cada vez mais em razão das necessidades da ordem pública e
do equilíbrio social.” (FRANÇA,2019, p.21). Dividindo-se em diversas áreas dentre
elas a Sexologia Forense ou Sexologia Médico- Legal tem por finalidade realizar
estudos sobre a sexualidade humana em três aspectos: normalidade, patológico e
criminológico. É nesta subárea que a presente análise será situada.
A nacionalização da Medicina Legal brasileira, bem como seu processo de
estruturação inicia-se com Faculdade de Medicina de Rio de Janeiro com a entrada
de Agostinho José de Souza Lima, médico brasileiro renomado que é patrono da
cadeira n° 9 da Academia Nacional de Medicina. Neste processo de nacionalização
da medicina legal também se coloca o maranhense Nina Rodrigues como teórico
influente para o desenvolvimento da área de medicina legal no Brasil, pois é com
este teórico que se inicia os processos de pesquisa da área diante da realidade

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brasileira, assim como inaugura-se a primeira Escola de Medicina Legal no País,
sendo Nina Rodrigues o fundador. (MIZIARA; MIZIARA; MUÑOZ,2012)
Vale ressaltar que Nina Rodrigues, é conhecido nos debates étnicos e raciais
enquanto um teórico brasileiro defensor das ideias de eugenista de Cesar Lombroso
no Brasil, construindo uma teoria na área de criminologia que se baseia em
fenótipos raciais para classificar os indivíduos que estão propensos a realizar
crimes. A posição sujeita que Nina Rodrigues ocupa dentro das condições históricas
e sociais para o desenvolvimento da Medicina Legal no contexto brasileiro, assim
como suas filiações teóricas, nos possibilita iniciar um processo reflexivo sobre como
se organiza esta área do saber da medicina legal e seus enunciados.
A Medicina Legal em 1891, tornou-se obrigatória nos cursos de Direito do
Brasil, sendo considerada essência na época para elucidar fatos jurídicos. Os
manuais de Medicina Legal analisados neste trabalho, circulam por diversas áreas
do saber, entre elas Medicina, Direito, Psicologia. (MIZIARA; MIZIARA;
MUÑOZ,2012). Atualmente a medicina legal pode ser considerada uma
especialidade que auxilia a área de Direito Penal, e estar presente enquanto
disciplina optativa em diversos cursos de Direito de Universidades Públicas e
Privadas, como pode-se verificar, por exemplo no plano político-pedagógico do
Curso de Direito da Universidade Federal do Maranhão de 2015, Universidade de
São Paulo (USP) de 2013, a disciplina aparece com o nome de medicina forense I e
II, Universidade Federal de Minas Gerais na matriz curricular de 2013, dentre outras
instituições.
Os manuais utilizados neste trabalho são citados enquanto referências
bibliográficas obrigatórias no estudo da medicina legal no contexto Universitário e
para além deste. Tais manuais circulam também enquanto referências bibliográficas
obrigatórias em apostilas para concursos públicos em especial para peritos de IML e
carreiras policiais (delegado e papiloscopista).

2.1 Condições históricas e de possibilidade para a elaboração dos manuais de


medicina legal.
O Manual de Medicina Legal, escrito pelo Autor Genival Veloso de França que
é Bacharel em Medicina e Direito, foi publicada inicialmente em 1977, pela editora
Guanabara. A obra do autor foi publicada durante a Ditadura Militar, no governo

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Geisel (1974- 1979), em um processo de abertura política, porém os embates
políticos e ideológicos ainda se encontravam bem acirrados na sociedade da época.
Movimentos de oposição ao governo ainda sofriam com o silenciamento diante das
atrocidades ocorridas na sociedade da época.
Já a obra de Delton Croce e Delton Croce Júnior tem sua primeira edição
publicada em 1995, ou seja, a publicação ocorreu em um período democrático fruto
de diversos embates políticos, entretanto a própria sociedade brasileira passava por
um processo de organização/reestruturação. Vale ressaltar que as condições
históricas, políticas e sociais de ambas as publicações são de extrema importância
para compreendemos como o discurso sobre a sexualidade foi formulado. De acordo
com Foucault (2019) deve-se se atentar para regras de formação do discurso, assim
como para as condições históricas que possibilitem o aparecimento de um discurso:
As condições históricas para que dele se possa “dizer alguma coisa” e para
que dele várias pessoas possam dizer coisas diferentes, as condições para
que ele se inscreva em um domínio de parentesco com outros objetos, para
que possa estabelecer com eles relações de semelhança, de vizinhança, de
afastamento, de diferença, de transformação – essas condições, como se
vê, são numerosas e importantes. (FOUCAULT,2019, p.54)

Desta forma é preciso compreender as regras que possibilitam o surgimento


de um discurso, levando em consideração quem fala, ou seja, qual o status de quem
fala; é necessário também compreender a posição sujeito de quem fala, não se pode
falar de qualquer coisa em qualquer lugar ou época, sempre ao analisar um discurso
é necessário analisar também as condições que possibilitaram seu surgimento; e
nem qualquer indivíduo tem o poder da falar, e por fim os lugares institucionais dos
quais os sujeitos estão entrelaçados.

3. PROCEDIMENTOS TEORICOS METODOLOGICOS.


A presente pesquisa é uma pesquisa qualitativa, deste modo foi realizado um
levantamento teórico sobre sexualidade, sexo, poder e discurso que possibilitou a
construção do objeto de pesquisa. Para além disso a presente pesquisa, situa-se no
campo da análise do discurso foucaultiana deste modo a perspectiva teórica-
metodológica deste trabalho busca entender os enunciados, bem como suas
particularidades e condições sócio-históricas de existência, estabelecendo relações
e correlações com outros enunciados dos quais a medicina legal pode estar ligada.

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Além disso, buscou-se entender as formas de enunciação presentes nestes
discursos, como também entender como esta, exclui outras formas de enunciação
presentes na sociedade. Vale ressaltar que o presente trabalho se pauta na análise
do discurso, mais propriamente, no método arqueogenealogico do discurso. Sendo
assim, a arqueologia proposta por Foucault (2019), visa entender os sistemas de
dispersão do discurso, o autor não está preocupado em compreender os discursos
de forma linear, continuas e cronológicas.
Foucault (2019) em sua arqueologia prioriza as regras de possibilidade do
discurso, e aponta que não existe uma regularidade nos modos enunciativos dos
discursos. Se existe alguma regra para o autor na regularidade, na forma ou tipo do
discurso, tal regularidade encontra-se nas regras que tornam possivel a emergência
de determinado discurso. Já a genealogia formulada pelo autor, consiste em
entender a relação entre a produção do saber e poder. Saber que possui um status
social e cientifico, a genealogia Foucaltiana consiste em uma relação poder-saber.
Sendo assim de acordo com Sousa (2020), a arqueogenealogia “é concebida como
uma proposta ao mesmo tempo teórica, porque mobiliza conceitos de Foucault, e
metodológica, porque pensa os discursos em sua dimensão histórica tal como esse
autor o fez” (SOUSA,2020, p.151).

4. GÊNERO, SEXUALIDADE(S) E PODER.


A sexualidade neste trabalho é compreendida a partir de uma perspectiva
foucaultiana, ou seja, mediante a uma noção dispositivos de sexualidade, para
Foucault (2017) o dispositivo, seria o meio pela qual a sexualidade é regida e
produzida.
[...] a sexualidade é nome que se pode dar a um dispositivo histórico: não a
realidade subterrânea que se apreende com a dificuldade, mas grande rede
superfície em que a estimulação dos corpos, a intensificação dos prazeres,
a incitação ao discurso, a formação dos conhecimentos, o reforço dos
controles e das resistências encadeiram-se uns aos outros, segundo
algumas grandes estratégias de saber e poder. (FOUCAULT, 2017, P.115).

Assim, o dispositivo de sexualidade é o conjunto de práticas discursivas e não


discursivas, saberes e poderes que visam normatizar, controlar e estabelecer
“verdades” a respeito do corpo e seus prazeres. O dispositivo, então é uma
formação que visa atender determinado momento histórico, respondendo a uma
urgência, ou seja, aos discursos e práticas que surgem em momentos específicos

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visando alcançar demandas sociais, políticas ou morais. Em sua obra história da
sexualidade, Foucault (2017) analisa a sexualidade enquanto expressão do
biopoder, deixando de lado uma análise eminentemente repressiva ao se falar de
sexo/sexualidade.
Conforme o autor na passagem do século XVIII para o XIX, ocorreu
mudanças em relação a sexualidade, esta deixa de ser um aspecto da vida cotidiana
relativamente livre e passa a ser vigiada e controlada, porém não necessariamente
reprimida. Como aponta TOLENI (2012):
O dispositivo da sexualidade (entendido como estratégias de força que
suportam tipos de saber e vice-versa) permitiu ao biopoder estender suas
redes ao sujeito individual. Com efeito, até o século XVIII, os principais
códigos legais ocidentais centravam-se no dispositivo da aliança que
articulava as obrigações religiosas ou legais do casamento com a
transmissão da propriedade e dos laços de sangue, constituindo o sistema
social. (TOLENI,2012, p.151).

A sexualidade desta forma, reflete os perigos do corpo, bem como os desejos


ocultos dos indivíduos, passando a ser vista enquanto algo da essência do ser
humano, tornando algo que reflete sua identidade pessoal. (TOLENI,2012). As
formas de dominação em relação a sexualidade refletem a sociedade ocidental,
deste modo são difíceis de serem verificadas. Ainda de acordo com Toleni (2012),
ao analisar a questão dos dispositivos de saber-poder, Foucault aponta que os
dispositivos de poder e saber em relação ao sexo se desenvolvem, desde o século
XVIII, a partir de conjuntos estratégicos:
[...] a partir de quatro grandes conjuntos estratégicos: (1) “Histerização do
corpo da mulher”: tríplice processo pelo qual o corpo da mulher foi analisado
como corpo integralmente saturado de sexualidade, integrado ao campo das
práticas médicas e posto em comunicação orgânica com o corpo social,
com o espaço familiar e com a vida das crianças; (2) “Pedagogização do
sexo da criança”: pais, famílias, educadores, médicos e, mais tarde,
psicólogos devem se encarregar continuamente do controle sexual destes
pequenos seres em perigo; (3) “Socialização das condutas de procriação”:
socializações econômica, política e médica, que visam incitar ou frear a
fecundidade dos casais; (4) “Psiquiatrização do prazer perverso”
(TOLENI,2012,p.152).

O sexo desta forma se desenvolve a partir de uma nova tecnologia de poder


que está baseada em três eixos: pedagogia, medicina e demografia. A pedagogia
estaria preocupada com a sexualidade especifica das crianças; a medicina estaria
preocupada com a questão fisiológica dos indivíduos; já demografia preocupa-se em
regulamentar as populações. Ressalta Foucault (2017):
[..]Desde o século XVIII o sexo não. cessou de provocar uma espécie de
erotismo discursivo generalizado. E tais discursos sobre o sexo não se
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multiplicaram fora do poder ou contra ele, porém lá onde ele se exercia e
como meio para seu exercício; criaram-se em todo canto incitações a falar;
em toda parte, dispositivos para ouvir e registrar, procedimentos para
observar, interrogar e formular. Desenfurnam-no e obrigam-no a uma
existência discursiva. Do singular imperativo, que impõe a cada um fazer de
sua sexualidade um discurso permanente, aos múltiplos mecanismos que,
na ordem da economia, da pedagogia, da medicina e da justiça incitam,
extraem, organizam e institucionalizam o discurso do sexo, foi imensa a
prolixidade que nossa civilização exigiu e organizou. (FOUCAULT,2017,
p.40)

Assim, Foucault (2017) ressalta que o sexo não foi reprimido como muitos de
sua época ressaltavam, mas foi institucionalizado mediante a criação de diversos
mecanismos de controle. Vale ressaltar que ao analisar a sexualidade enquanto
dispositivo o autor formula uma concepção de poder diferente das “formulações
tradicionais” da qual o poder deriva de alguém superior como se necessariamente
houvesse uma hierarquia nessas relações. “[...] a análise em termos de poder não
deve postular, como dados iniciais, a soberania do Estado, a forma da lei ou a
unidade global de uma dominação; estas são apenas, e antes de mais nada, suas
formas terminais” (FOUCAULT,2017, p.100).
O poder não está somente relacionado a soberania do Estado, o autor
entende o poder enquanto algo que está na multiplicidade das relações, mediante a
jogos, lutas, transformações e afrontamentos.
[...] a condição de possibilidade do poder, em todo caso, o ponto de vista
que permite torna seu exercicio inteligível até em seus efeitos mais
“periféricos” e, também, enseja empregar seus mecanismos como chave de
inteligibilidade do campo do social não deve ser procurada na existência
primeira de um ponto central, num foco único de soberania de onde
partiriam formas derivadas e descendentes; é suporte móvel das
correlações de forças que, devido a sua desigualdade, induzem
continuamente estados de poder, mas sempre localizados e instáveis.
( FOUCAULT,p.101).

Pode-se dizer então que o poder é uma condição de possibilidade, estando


ele em toda parte, ele provem de todos os lugares [...] e “o” poder, no que tem de
permanente, de repetitivo, de inerte, de auto reprodutor, é apenas efeito de conjunto,
esboçado a partir de todas essas mobilidades, encadeamento que se apoia em cada
uma delas e, em troca, procura fixa-las. (FOUCAULT,2017. p.101). Deste modo, o
poder é uma circunstância estratégica complexa em uma sociedade especifica.
Já a autora Judith Butler (2016) em sua obra: problemas de gênero, buscou
compreender as políticas de identidade em torno do conceito de gênero “adotado”
por movimentos sociais, bem como na área de pesquisas de viés feminista,

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afirmando que os discursos sobre gênero utilizados na biologia, no movimento
feminista, e em áreas do saber como estruturalismo e psicanálise produzem
naturalização do termo.
As categorias analíticas sexo, gênero, poder e desejo formuladas por Butler
receberam grande influência do método genealógico de Foucault, pois a autora
também ressalta que tais categorias refletem uma formação especifica de poder
sobre os sujeitos. Conforme Oliveira (2021):
[...] Isso demandou direcionar o olhar para a função dual do poder: jurídica e
produtiva. Pois, segundo a abordagem foucaultiana, os sistemas jurídicos
geram os sujeitos que subsequentemente passam a representar, ou seja,
sujeitos formatados de acordo com as exigências dessas estruturas.
Ademais, a legitimação e exclusão são operações políticas que já estão
ocultas e naturalizadas na própria análise política que as toma como
fundamento. (OLIVEIRA, 2021, p.08).

Butler (2016), buscou descontruir as estruturas normativas e binárias que


estão em torno das categorias sexo/gênero como sinônimos de natural/cultural,
formuladas pelo movimento feminista:
[...] se o caráter imutável do sexo é contestável, talvez o próprio construto
chamado “sexo” seja culturalmente construído quanto o gênero; a rigor,
talvez sexo sempre tenha sido o gênero, de tal forma que distinção entre
sexo e gênero se revela absolutamente nula. (BUTLER,2016, p.27).

Opondo-se, a noção da qual o sexo está para o biológico(“natural”), assim


como, gênero está para cultura, ou seja, é construído socio culturalmente. A análise
realizada por Butler aponta que o gênero é construído discursivamente diante das
relações de poder estabelecidas, existindo restrições normativas que regulam e
produzem corpos:
“[...] se o sexo não causa o gênero, então o gênero também não pode ser
entendido como expressão ou reflexo do sexo. Conclui que se trata da
repetição dos discursos e das normas que produzem e estabilizam os
efeitos do gênero, bem como a materialidade do sexo.” (OLIVEIRA,2021,07)

O gênero pode ser entendido como algo passageiro e transitório, levando em


consideração o seu contexto, ou seja, o gênero pode ser fluido. Alguns discursos
presentes na sociedade agem sobre os sujeitos procurando uma coerência sobre o
estabelecido culturalmente. Desta forma, o gênero pode ser compreendido como
algo que advém das práticas discursivas, logo está aberto a intervenções e
ressignificações.

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5. ANÁLISE DO DISCURSO SOBRE SEXUALIDADE DE SUJEITOS NÃO
HETEROSSEXUAIS EM MANUAIS DE MEDICINA LEGAL.
Como virmos a sexualidade é um dispositivo que envolve relações de poder,
deste modo os discursos analisados não estão isentos desta relação. Para analise
selecionou-se algumas formulações para serem analisadas, formulações estas que
tratam da sexualidade de mulheres lésbicas, homens gays e de pessoas
transsexuais. Vale ressaltar que se levou em consideração a data da primeira e
última publicação de cada manual procurando assim compreender as condições que
possibilitaram a propagação dos enunciados, bem como as contradições que
existem, ou seja, processos de rupturas e deslocamentos.
Segundo Genival França a sexualidade de mulheres lesbicas e pessoas
transsexuais, pode ser classificada como:
HOMOSSEXUALIDADE FEMININA: Ainda chamado por alguns de safismo,
lesbianismo ou tribadismo. É muito mais frequente do que se imagina.
Existem, como no caso masculino, graus variados que vão desde os tipos
masculinizados (feições, hábitos, disfarces e maneiras de se portar) aos
tipos femininos, delicados e ternos, nos quais jamais se poderia pensar
nesta forma de preferência sexual. [...] Fatores como o receio da gravidez,
as decepções com os homens, os maus-tratos dos maridos, a educação
moderna, a nova literatura, o comportamento masculino na atualidade –
aproximando-se do unissexo –, e a solidão têm sido considerados, dentre
outros, como elementos da gênese dessa preferência. A emancipação da
mulher por meio dos princípios definidos pelos movimentos feministas e a
ampliação da liberdade de opção e expressão, sem dúvida, vêm levando as
mulheres a assumirem sua preferência sexual, com o respeito e o
acatamento da sociedade.
TRANSEXUALIDADE :Trata-se, pois, de uma inversão psicossocial, uma
aversão e uma negação ao sexo de origem, o que leva esses indivíduos a
protestarem e insistirem em uma forma de cura por meio da cirurgia de
reversão genital, assumindo, assim, a identidade do seu desejado gênero.
As características clínicas da transexualidade se reforçam com a evidência
da convicção de o indivíduo pertencer ao sexo oposto, o que lhe faz
contestar e valer essa determinação até de forma violenta e desesperada.
Em geral não tem relacionamento sexual, nem mesmo com pessoas do
outro sexo, pois só admitem depois de reparada a situação que lhe
incomoda. Somaticamente, não apresentam qualquer alteração do seu sexo
de origem. Quase todos eles têm genitais normais. (FRANÇA,2019, p.730-
731).

Tais classificações também estão presentes no livro: manual de medicina


legal de Delton Croce e Delton Crone Júnior:

HOMOSSEXUALISMO: Configura a atração erótica por indivíduos do


mesmo sexo. É perversão sexual que atinge os dois sexos; pode ser,
portanto, masculino — quando praticado por homens entre si — e feminino
— quando por mulher com mulher.
a) HOMOSSEXUALISMO MASCULINO
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Esta aberração sexual é também chamada uranismo, pederastia e sodomia.
[...]Costuma-se dividir os pederastas em ativos e passivos: pederasta ativo é
o homem que faz o papel de macho e pederasta passivo o que,
representando a mulher, satisfaz a psicossensualidade do outro pederasta e
de si próprio, nesse depravado relacionamento sexual.
b) BISSEXUALISMO: deve-se emprestar ao termo a designação do
indivíduo que demonstra pendor sexual por ambos os sexos. Trata-se de
homossexuais capazes de uma vida heterossexual, podendo casar, ter
filhos e comportar-se adequadamente num mundo heterossexual
conforme os padrões sociais vigentes. Sua homossexualidade é
realizada com toda cautela e é, amiúde, ignorada pelos mais íntimos. A
esses pervertidos apelidou o povo “gilete, porque cortam dos dois lados”.
[...]Outros são bissexuais, ora ativos, ora passivos. Há os que são
homossexuais assumidos, com perturbações emocionais e perturbações do
caráter, configurando psicopatia.
B) HOMOSSEXUALISMO FEMININO
Também chamado safismo, lesbismo ou lesbianismo e tribadismo, designa
a preferência das mulheres para as de seu sexo, com certa indiferença ou
repugnância pelo sexo masculino. [...] o safismo ou lesbianismo, como no
homossexualismo masculino, admite uma forma ativa e outra passiva.
- NO TRANSEXUALISMO não ocorre nenhuma alteração anatômica ou
hormonal; a genitália externa e os testículos ou os ovários mostram
desenvolvimento normal. Aqui sucede discordância ou conflito entre os
caracteres orgânicos e psíquicos do sexo (sexo psicológico). A cromatina de
Bar colhida por esfregaço bucal, não proporciona resultados conflitantes
para a determinação da identidade sexual. (CROCE; JUNIOR. p. 1352-
1355)

Mediante as formulações presentadas foi possível a construção do primeiro


gesto de análise sobre os discursos sobre sexualidade(s) de sujeitos não
heterossexuais em manuais de medicina legal. O primeiro ponto observado foi a
constante relação entre classificações das sexualidades enquanto
normais/patológicas ou normais/anormais. Desse modo, percebe-se uma
regularidade discursiva ao falar da sexualidade e como os sujeitos são classificados
enquanto pessoas anormais, com comportamentos e práticas sexuais desviantes.
Tais regularidades podem ser encontradas mediante a análise de conjunto de
enunciados que produzem efeitos de sentidos semelhantes sobre estes sujeitos em
determinados condições históricas. Sendo, os discursos “patologizantes” sobre
sujeitos LGBTQI+, estão materializados nestes manuais, pois como afirma Foucault
(2019), o discurso é pratica. Os discursos sobre sexualidades presentes nos
manuais de medicina legal analisados parecem filiassem, as concepções teóricas do
sexólogo Richard von Kraff- Ebing que em 1886, classificou a homossexualidade e
diversas práticas sexuais enquanto normais e patológicas em sua obra Psychopathia
Sexualis. Segundo Pereira (2009):
Richard Krafft-Ebing participa de um movimento histórico-cultural que institui
o olhar e a autoridade médica como referências necessárias para se

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deliberar quanto à legitimidade dos diferentes comportamentos sexuais
humanos. Suas incidências se estendem mesmo sobre o campo legal e
jurídico. Obra que sintetiza e aprofunda os estudos da sexologia de seu
tempo, Psychopathia Sexualis introduz uma delimitação do campo das
perversões sexuais, uma nomenclatura – que inclui termos que seriam
posteriormente consagrados. (PEREIRA, p.02,2009).

Essa relação de um sexo e uma sexualidade verdadeira, normal, anormal,


como aponta Foucault (1982), está presente não somente no imaginário das áreas
médicas, mas encontra-se em um imaginário difuso da sociedade e está longe de
ser dissipada, isto porque:

[...] Somos é verdade, mais tolerantes as práticas que transgridam as leis.


Mas continuamos a pensar que algumas entre elas insultam” a verdade”: um
homem passivo, uma mulher viril, pessoas do mesmo sexo que se amam...
Nos dispomos talvez a admitir que talvez essas práticas não sejam uma
grave ameaça a ordem estabelecida; mas estamos sempre prontos a
acreditar que há nelas algum erro. Um “erro” entendido no sentido mais
tradicionalmente filosófico: um modo de fazer que não se adequa a
realidade. (FOUCAULT, p.08,1982).

Os enunciados expressos nos livros vão de encontro com um conjunto de


discursos presentes na sociedade brasileira. Discursos que atravessam diversos
domínios do saber como o âmbito jurídico e político, como pode-se perceber em
uma fala do Ministro da Educação em setembro de 2020.

"Acho que o adolescente que muitas vezes opta por andar no caminho do
homossexualismo (sic), tem um contexto familiar muito próximo, basta fazer uma
pesquisa. São famílias desajustadas, algumas faltas atenção do pai, falta atenção
da mãe. Vejo menino de 12, 13 anos optando por ser gay, nunca esteve com uma
mulher de fato, com um homem de fato e caminhar por aí. São questões de valores
e princípios." (MINISTRO DA EDUCAÇÃO MILTON RIBEIRO,2020).

Tal fala vai de encontro novamente com esta relação entre normalidade e
anormalidade, quando o Ministro ressalta que são homossexuais aqueles que
possuem convívio próximo com outros homossexuais, ou quando a família sofre de
algum desajuste. A fala no ministro também “resgata” outra ideia presente nos
manuais que classificam as relações mediante a uma perspectiva binaria e
heteronormativa (homem/mulher- pai/mãe- homossexual/heterossexual). Para
ambos os autores na sociedade existe uma ordem ou papeis pré-estabelecidos que
giram em torno do sexo/sexualidade dos indivíduos não havendo nenhuma outra
possibilidade.
Percebe-se que ao tratar da sexualidade de homens gays ou mulheres
lésbicas os termos passivo/ativo, masculino/feminino estão sempre em oposição

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como se não houvesse possibilidade de coexistência entre tais conceitos,
reproduzindo mais uma vez um “padrão” heterossexual não somente em relação a
sexualidade, mas ao gênero. Uma mulher que não reproduz padrões de
feminilidade, não é mulher? como pode-se definir o ser mulher? Precisamos definir o
ser homem? Ser mulher? Ser hetero? Ser gay? Um homem que não reproduz os
padrões de masculinidade deixa de ser homem? Como é ser homem? todas essas
indagações surgem ao ler os discursos “patologizantes” presentes nestes manuais.
Ao analisar a formulação do Manual do Manual do Genival França (1995)
sobre a homossexualidade feminina, o autor ressalta também que essa expressão
da sexualidade é causada por diversos fatores, como por exemplo, a decepção
amorosa com sexo masculino, e influência de movimentos indenitários como o
movimento feminista, tal formulação, também vai de encontro com uma série de
discursos existentes na sociedade brasileiro, deste modo percebe-se uma
modificação no modo de dizer, porém permanência de sentido dos enunciados.
Desta forma, entende-se pela formulação do autor que a lesbianidade é algo
causado por uma influência externa ao indivíduo, que as mulheres só se relacionam
com mulheres devido, a alguma frustação ou por influência de movimentos
contemporâneos de emancipação das mulheres.
Já ao tratar da transexualidade, ambos os autores apontam a sexualidade
enquanto patológica, como algo que precisa de correção urgente através de um
procedimento cirúrgico das genitálias, os enunciados colocam a transexualidade
como algo que precisa ser corrigido, padronizado, adequado. Reforçando
novamente uma perspectiva binária de se relacionar. As formulações sobre a
sexualidade em parâmetros médico legal, reflete bem sua articulação com diversas
formas de poder-saber que atravessa sujeitos não heterossexuais, colocando seus
corpos em lugares dos quais sua sexualidade pode ser observada e detalhada.

5.1 Lutas, Rupturas e Resistencia.


Quando trata-se de sexualidade, discursos, relações saber- poder dever-se
lembrar que os sujeitos não são passivos a esta relação, não estamos aqui negando
a existência de uma opressão e nem mesmo de um discurso que exclua, reprima e
trate sujeitos LGBTQIA+ como pessoas desviantes, entretanto realizar uma análise
sem colocar os atos de resistências, rupturas, lutas e resistência, seria inviável, não

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somente porque elas existem hoje, mas porque sempre existiram e continuam
existindo frente aos mecanismos de poder-saber.
Os movimentos sociais constantemente lutam para que os estigmas sociais
sobre suas identidades sexuais sejam quebrados, subvertendo a lógica binaria e
heterossexual-normativa. A heterossexualidade não se constitui apenas enquanto
prática sexual, mas como um regime político, organizado visando a administração
dos da vida e dos corpos dos indivíduos.
De acordo com Preciado (2019), os corpos que subvertem a lógica normativa
são potencias, não são simples elementos para que o biopoder produza disciplina e
normatização determinando formas de subjetivação. Os [...] corpos e as identidades
dos anormais como potenciais políticas, e não simplesmente como efeitos dos
discursos sobre o sexo” (PRECIATO,2019, p.422).
Deste modo, afirmo que o movimento LGBTQIA realiza um processo de
desterritorialização da heterossexualidade, afetando o espaço urbano e o corpo dos
indivíduos, afirma Preciado (2019, p.424) “[...] esse processo desterritorialização do
corpo obriga a resistir aos processos de torna-se normal”.
A medicina legal pode ser entendida enquanto um dispositivo de sexualidade,
assim como relação sexopolítica, pois possui tecnológicas precisas que visa a
produção e reprodução de corpos normais, entretanto não inviabiliza a ação política
de visa resistir a essa relação de poder-saber e disciplina sobre os corpos.
Ao contrário, porque porta em si mesma como fracasso ou resíduo, a
história das tecnologias de normatização dos corpos, a multidão queer tem
também a possibilidade de intervir nos dispositivos biotecnológicos de
produção de subjetividade sexual. (PRECIADO,2019, p.424).

A subversão a lógica sexopolítica, é realizada mediante a reapropriação de


dispositivos que produzem a subjetividade sexual, bem como através de
“desidentificação”, identificações estratégias e desvios relacionados as tecnologias
dos corpos.
6. CONCLUSÃO.
O presente trabalho buscou compreender os discursos produzidos em
manuais de medicina legal sobre a sexualidade de sujeitos não- heterossexuais,
mediante a análise foi possivel verificar que neste campo do saber ainda temos a
disseminação de um discurso patologizantes sobre sujeitos LGBTQIA+ reforçando
preconceitos existentes na sociedade.

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A análise do campo da medicina legal de forma crítica é de extrema
importância, visto que tais manuais circulam em domínios da área juridica, política e
da saúde, desta forma, esses estudos refletem de forma negativa para a garantia de
direito e desmitificação sobre os corpos, práticas e desejos de pessoas LGBTQIA+
diante da sociedade civil, reforçando diversas violências já existentes. Apesar disso
percebeu-se também ao longo da análise a importância de considerar as formas de
resistência e subversões frente aos dispositivos de sexualidade.
REFERENCIAS
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8ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2016.
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histórico. Cad. AEL, v.10, n.18/19, 2003.

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FOUCAULT, Michel.Herculine Barbin: o diário de um hermafrodita. Rio de


Janeiro, Francisco Alves.1982.
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