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construção e consolidação de direitos e nas transformações relacionadas às
práticas de cuidado e atendimento à mulher, incentivando a participação, a
consciência dos seus direitos, empoderamento e exercício da cidadania.
Apesar de todos os avanços e mudanças, os dados apontam que a cada
quatro mulheres pelo menos uma sofreu violência obstétrica (FUNDAÇÃO
PERSEU ABRAMO, 2010). Em relação a isso, destacamos um questionamento:
se é a partir das pressões do social- coletivo que se institui o direito, porque a
VO, como uma violência institucional e de gênero ainda é invisibilizada,
naturalizada e não possui tipificação penal? Como hipótese, adotando a
Criminologia Crítica Feminista, acreditamos que a opressão de gênero no
sistema de justiça criminal, seletivo e desigual, cujo apelo patriarcal, machista e
sexista é forte e dominante, também incide dentro do sistema de saúde.
Paralelamente, esses aspectos parecem estar fortemente arraigados no modelo
de atenção tecnicista, hierarquizado e reforçado institucionalmente pelo domínio
médico sobre a paciente, perpetuando o ciclo de opressão feminina pelo próprio
sistema de saúde.
No tocante a raça, dados socioeconômicos indicam que a maioria das
negras tem piores condições de vida, têm menor acesso aos serviços de saúde
de boa qualidade, com menor atenção a clínica ginecológica e à assistência
obstétrica – seja no pré-natal, parto ou puerpério (BRASIL, 2005; SOARES
FILHO, 2011; VIELLAS, et al, 2014). É urgente evidenciar os aspectos de
vulnerabilidades das mulheres negras e as condições desiguais na assistência
à saúde que influenciam na maneira como acessam e utilizam o sistema de
saúde. Revelar as vulnerabilidades é fundamental para combater as iniquidades,
alertar pesquisadores, gestores e profissionais de saúde na identificação dos
vieses étnico-raciais e de gênero nesses processos e dar visibilidade à temática
para a sociedade e o poder público. As políticas públicas precisam também ser
pensadas sob a perspectiva de gênero, à luz de seu viés individual, institucional
e estrutural (SILVA, 2019).
O reconhecimento das desigualdades de classe, de gênero e étnico-
raciais, podem auxiliar na redução das barreiras que impedem o acesso às
políticas públicas de saúde pelas populações historicamente marginalizadas e
excluídas.
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REFERÊNCIAS