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E SEXUALIDADE: INTER-RELAÇÕES
UNIDADE IV
VIOLÊNCIA SEXUAL: NORMAS E SISTEMA
DE PROTEÇÃO
Elaboração
Karina Santos da Fonseca
Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração
SUMÁRIO
UNIDADE IV
VIOLÊNCIA SEXUAL: NORMAS E SISTEMA DE PROTEÇÃO.................................................................................................... 5
CAPÍTULO 1
VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA A MULHER, CONTRA HOMOSSEXUAIS E CONTRA CRIANÇAS NO BRASIL:
DADOS ESTATÍSTICOS.................................................................................................................................................................. 5
CAPÍTULO 2
LEGISLAÇÃO BRASILEIRA SOBRE O TEMA: PRINCIPAIS NORMAS E SEUS ASPECTOS RELEVANTES. O
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE................................................................................................................... 8
CAPÍTULO 3
NORMAS TÉCNICAS DO MINISTÉRIO DA SAÚDE, COM ABORDAGEM EM ATENÇÃO E TRATAMENTO
DOS AGRAVOS RESULTANTES DA VIOLÊNCIA SEXUAL, PROFILAXIA DAS DSTS E DO HIV/AIDS,
ANTICONCEPÇÃO DE EMERGÊNCIA E INTERRUPÇÃO DA GRAVIDEZ PREVISTA EM LEI............................... 11
CAPÍTULO 4
TRABALHO EM REDE NA ASSISTÊNCIA INTEGRAL PARA MULHERES E ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO
DE VIOLÊNCIA (DEFINIÇÃO DE PAPÉIS E FLUXO DE ATENDIMENTO). ATENÇÃO INTEGRAL PARA
MULHERES E ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA SEXUAL RECOLHIDOS EM SISTEMA
PRISIONAL OU POR INTERMÉDIO DE MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS................................................................... 15
CAPÍTULO 5
ATENÇÃO PSICOSSOCIAL E MEDICINA FORENSE: LAUDO PERICIAL E AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA.
ASPECTOS ÉTICOS E LEGAIS DA ASSISTÊNCIA (SIGILO, COMUNICAÇÃO E NOTIFICAÇÃO)........................ 19
REFERÊNCIAS................................................................................................................................................24
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VIOLÊNCIA SEXUAL:
NORMAS E SISTEMA UNIDADE IV
DE PROTEÇÃO
CAPÍTULO 1
VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA A MULHER, CONTRA
HOMOSSEXUAIS E CONTRA CRIANÇAS NO BRASIL:
DADOS ESTATÍSTICOS
Inúmeros são os casos de jovens homossexuais que são violentados ou até mesmo
prostituídos quando a questão da sexualidade é revelada no ambiente familiar.
Consequentemente, em muitos desses casos, esses jovens são abandonados e, por causa
disso, a prostituição e a vivência nas ruas se tornam as únicas formas de sobrevivência.
Por meio de outro viés, é possível identificarmos que, em alguns casos, as relações
familiares usam a violência como forma de cuidar dos seus entes, e até agressões físicas
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UNIDADE IV | Violência Sexual: Normas e Sistema de Proteção
são utilizadas. De forma evidente, esse contexto nos mostra que a moral é a peça-chave
do ambiente familiar; a violência cometida contra homossexuais dentro do ambiente
familiar é justificada pela ideia de que a homossexualidade é considerada “vergonhosa”,
e isso nos demonstra que a sexualidade humana ainda é um tema desconhecido por
grande parte da sociedade.
A violência contra homossexuais não é algo recente; é um problema que ganhou mais
destaque desde a década de 1980, tem proporção mundial e tem se acirrado nas últimas
décadas. As inúmeras denúncias de discriminações e agressões ocasionadas pela orientação
sexual ou sexualidade tornaram-se um marco importante para a trajetória do movimento
homossexual no contexto brasileiro, que disseminou a expressão “homofobia” para
caracterizar esse tipo de violência.
Fonte: https://www.destaquenoticias.com.br/homofobicos-ja-mataram-117-pessoas-este-ano/.
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Violência Sexual: Normas e Sistema de Proteção | UNIDADE IV
Há um enorme desafio democrático a ser enfrentado, que clama pela construção de uma
nova política educativa a partir da própria visibilidade do fenômeno: a compreensão
dos direitos humanos, a proteção da vida, os direitos de igualdade, a educação para a
sexualidade ou para as sexualidades.
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CAPÍTULO 2
LEGISLAÇÃO BRASILEIRA SOBRE O TEMA: PRINCIPAIS
NORMAS E SEUS ASPECTOS RELEVANTES. O ESTATUTO
DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
A luta social em prol da garantia dos direitos da criança e do adolescente tem seus
primórdios com o movimento universal dos direitos, que trouxe a concepção de defesa
da igualdade entre as pessoas independentemente de classe social, diversidades culturais,
etnia, orientação sexual, credo e poder econômico.
Fonte: http://geografiaeanarquia.blogspot.com/2015/09/atualidades-eca-estatuto-da-crianca-e.html.
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O ECA versa sobre a coibição e a prevenção das mais variadas formas de violências
cometidas contra o público infanto-juvenil, tendo o viés de proteção integral.
Esse Estatuto determina que qualquer omissão ou violação dos direitos fundamentais
constitui uma transgressão de adultos, pais, responsáveis, cuidadores (ou do Estado,
sociedade e instituições), e, nesse caso, estes devem ser culpabilizados e responsabilizados
pela prática desses atos.
A rede de serviços ou rede de apoio, assim considerada por alguns estudiosos da temática,
deve ser compreendida como “um conjunto de sistemas de pessoas significativas que
compõem os elos de relacionamento recebidos e percebidos do indivíduo”. RETIRAR AS
ASPAS Essa rede possui representatividade em relação às oportunidades que oferecem
suporte e solidariedade durante os acontecimentos em que a pessoa ou a família passam
por difíceis experiências.
Compõem a rede de proteção às vítimas e suas famílias diversos órgãos, tais como:
Conselho Tutelar (CT), Conselhos de Direito, Promotoria Pública e Juizado da Infância
e Juventude, bem como as demais instituições que prestam atendimento a esse público-
alvo, como as escolas, e os equipamentos destinados à política de assistência social,
seja por meio da proteção social básica e ou especial, unidades de saúde, unidades de
acolhimento, entre outras redes de apoio social.
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Portanto, é possível identificar que, mesmo diante de uma legislação específica no contexto
brasileiro, existe a necessidade de ocorrerem avanços e superações em relação à falta
de reconhecimento das crianças e dos adolescentes como sujeitos em desenvolvimento
biopsicossocial, detentores de seus direitos.
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CAPÍTULO 3
NORMAS TÉCNICAS DO MINISTÉRIO DA SAÚDE, COM
ABORDAGEM EM ATENÇÃO E TRATAMENTO DOS AGRAVOS
RESULTANTES DA VIOLÊNCIA SEXUAL, PROFILAXIA DAS
DSTS E DO HIV/AIDS, ANTICONCEPÇÃO DE EMERGÊNCIA
E INTERRUPÇÃO DA GRAVIDEZ PREVISTA EM LEI
Estudos nos mostram que há maior possibilidade de denúncia sobre a violência sexual
quando o agressor é desconhecido, contudo, frequentemente esse tipo de violência não
é denunciada por influência de sentimentos vivenciados pela vítima, como insegurança
e sensação de culpa.
As vítimas de violência sexual devem receber atenção por parte dos profissionais de saúde
de forma imediata, tanto nas primeiras horas que se seguem à violência como também
em relação às necessidades tardias, que podem surgir posteriormente, depois de semanas
ou até mesmo meses do ocorrido. O acompanhamento por meio de atenção especializada
pode decorrer por um período maior, a depender das necessidades individuais de cada
vítima.
Os atendimentos destinados a esse público-alvo devem ter como foco principal a vítima,
por isso a necessidade urgente em identificar algum dano físico decorrente da violência
que demande intervenção médica imediata, como traumas, roturas, cortes, dentre outros.
Não obstante, a maioria das vítimas se recusa a ser examinada. É importante que o
profissional que iniciou o atendimento explique para a vítima a necessidade de realizar
exames e demais intervenções que se fizerem pertinentes, pois, além da possibilidade
de identificação de lesões físicas, é necessário realizar determinadas investigações por
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meio de pesquisas para averiguar possíveis infecções. Realizar teste de gravidez também
é necessário, independentemente da forma de violência sofrida. DSTs, gravidezes não
desejadas, além dos inúmeros problemas psicológicos, são consequências enfrentadas
por essas vítimas a médio e longo prazo.
As vítimas que são atendidas de forma imediata após a violência sexual, logo nas primeiras
horas ou primeiros dias, devidamente medicadas, possuem maiores chances de proteção
em relação a gravidez e a DSTs, ainda que não seja ideal falar em proteção total.
É importante destacar que parte significativa das DSTs decorrentes da violência sexual
pode ser evitada. Hepatite B, gonorreia, sífilis, clamidíase, tricomoníase, donovanose
e cancro mole são exemplos de doenças que poderiam ser impedidas mesmo após o
contato sexual contaminante, com a ingestão, o mais precoce possível, de medicamentos
específicos de reconhecida eficácia (BRASIL, 2005, p. 70).
Em sua grande maioria, essas práticas de violência ocorrem de maneira única, sendo o
agressor desconhecido, e isso ocasiona um risco enorme de doenças. De imediato, ou
seja, imediatamente depois do crime, é importante que a vítima seja submetida a coleta
de exames para o diagnóstico de possíveis doenças, por isso são sugeridos os exames
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Violência Sexual: Normas e Sistema de Proteção | UNIDADE IV
A profilaxia das ISTs não virais em vítimas de violência sexual visa aos agentes mais
prevalentes e de repercussão clínica relevante. Ela tem por indicação as situações de
exposição com risco de transmissão dos agentes, e isso independe da presença ou
gravidade das lesões físicas e da faixa etária.
A infecção causada pelo vírus HIV é uma das maiores preocupações das vítimas que
sofrem esse tipo de violência. Inúmeros estudos mostram que o risco de transmissão
desses casos varia entre 0,8 e 2,7%.
Os serviços públicos devem estar aptos a prestar esse tipo de atendimento, e os profissionais
da saúde devem ser capacitados para detectarem riscos, devem identificar a violência e
acolher as vítimas, buscando minimizar a dor e evitar os agravos. Houve a necessidade
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CAPÍTULO 4
TRABALHO EM REDE NA ASSISTÊNCIA INTEGRAL PARA
MULHERES E ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA
(DEFINIÇÃO DE PAPÉIS E FLUXO DE ATENDIMENTO).
ATENÇÃO INTEGRAL PARA MULHERES E ADOLESCENTES
EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA SEXUAL RECOLHIDOS EM
SISTEMA PRISIONAL OU POR INTERMÉDIO DE MEDIDAS
SOCIOEDUCATIVAS
Segundo Schraiber et al. (2005, p. 112), “Os direitos humanos das mulheres fazem parte
dos direitos universais da humanidade, reafirmando o direito à igualdade política, ao
exercício dos direitos reprodutivos e uma vida livre de violência”.
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UNIDADE IV | Violência Sexual: Normas e Sistema de Proteção
No que tange à “Atenção integral”, esta é compreendida por meio da percepção do serviço
em relação à desqualificação profissional no reconhecimento e/ou acolhimento das
vítimas. Para isso, consideram-se as inúmeras demandas que essas vítimas vivenciam,
considerando-se os estudos já realizados os quais apontam que o processo de articulação
e encaminhamento demanda conhecimento tanto de suas atribuições quanto dos serviços.
Todo esse contexto nos mostra, ainda, a importância da gestão nesse processo de
articulação intersetorial, a partir da viabilização da interação entre todas as instituições.
Também se nos aponta sobre a necessidade da realização de encontros com representantes
de todas essas instituições de modo que sejam discutidas as propostas de enfrentamento
da violência.
Destarte, podemos observar que a maioria dos espaços esbarra em inúmeras dificuldades no
trato das situações de violência, e isso ocorre muito justamente pela falta de conhecimento
dos serviços e dos encaminhamentos devidos por parte de alguns profissionais.
Para obtenção de eficácia e eficiência nos serviços ofertados, é necessário que a rede
como um todo se articule, seja na área da saúde, da assistência social, da segurança
pública, jurídica, de habitação e de geração de renda. O conhecimento se faz pertinente
no sentido do desenvolvimento de ações que possuam viés de prevenção, notificação,
registro, encaminhamento e acompanhamento das vítimas de violência em todas as etapas,
de modo a favorecer a continuidade da assistência em relação aos serviços prestados.
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Violência Sexual: Normas e Sistema de Proteção | UNIDADE IV
Fonte: https://www.google.com.br/search?q=violencia+e+medida+socioeducativa&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=2ahU
KEwjp4eCv3ojvAhVNHbkGHX4wCOwQ_AUoA3oECAMQBQ&biw=1366&bih=609#imgrc=gZa5bGWOU_APhM.
Quanto à violação das normas jurídicas, o legítimo e o ilegítimo na ação do Estado são
definidos de acordo com sua legislação interna (BARBOSA, 2013).
Esse contexto permeado por violações dos direitos se faz mais presente nas medidas
cumpridas em meio fechado, em instituições que possuem estrutura física assemelhada
à das prisões, nos quadros de superlotação e nas práticas de castigo. Em meio aberto,
identificamos uma violência mais subjetiva e difusa. Todavia, a aplicação das medidas
nesse meio é apontada pelos estudiosos como mais branda, pois não é avaliada a real
necessidade de intervenção coercitiva na forma de punição aos adolescentes, e isso
demonstra que, para eles, há a prevalência da punição em detrimento da promoção e
da garantia de direitos.
Destarte, essa conjuntura nos mostra que a violência institucional em meio aberto
contribui para o fortalecimento do sistema socioeducativo de forma concomitante à
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UNIDADE IV | Violência Sexual: Normas e Sistema de Proteção
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CAPÍTULO 5
ATENÇÃO PSICOSSOCIAL E MEDICINA FORENSE: LAUDO
PERICIAL E AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA. ASPECTOS ÉTICOS
E LEGAIS DA ASSISTÊNCIA (SIGILO, COMUNICAÇÃO
E NOTIFICAÇÃO)
O processo de avaliação, mesmo não sendo configurado como uma intervenção psicossocial,
precisa ser desenvolvido com um determinado nível de atenção ao bem-estar da pessoa
em acompanhamento, para que esse método não seja prejudicial tanto ao periciado
como ao processo investigatório.
Os profissionais da Psicologia que realizam esse tipo de intervenção precisam estar a par da
legislação vigente, da terminologia, além do aprimoramento em relação aos conhecimentos
técnicos específicos baseados na construção de procedimentos legais relevantes, no
estabelecimento dos objetivos dessa avaliação. Portanto, esse processo exige uma
integração entre os conhecimentos da área de saúde mental e do Direitos, considerando-se
que, por mais que existam diferenças entre as áreas de atuação profissional, ambas
propõem a melhor harmonia e convivência entre o indivíduo e a sociedade.
O responsável por ser o examinador desse processo deve ter como um dos maiores
cuidados o fato de que ele deve cuidar em não fazer a entrevista ser considerada um
elemento abusivo, de modo a não revitimizar a pessoa, entendendo que tanto a denúncia
como a ação judicial podem agravar o sofrimento psicológico já vivenciado.
Ainda que isenta de objetivos terapêuticos, a avaliação pericial pode produzir alterações
positivas na recuperação da vítima, na medida em que se constitui como um momento
de escuta e de proteção (MAGALHÃES; RIBEIRO, 2007).
É necessário observar que a avalição pericial não possui por viés de atuação a intervenção
psicossocial e o estabelecimento do vínculo terapêutico, todavia essa avaliação elenca
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UNIDADE IV | Violência Sexual: Normas e Sistema de Proteção
Dessa maneira, é necessário realizar uma análise da causalidade (nexo causal) entre o
evento traumático experienciado e os sintomas manifestados, de modo a se avaliar a
presença de outros aspectos no histórico e no contexto de vida da vítima que possam
ter contribuído para o quadro sintomatológico.
O psicólogo forense está mais vinculado ao Poder Judiciário do que às pessoas ou famílias
que atende (WILLIAMS; CASTRO, 2016). Diferentemente de outras áreas da Psicologia,
como a clínica, por exemplo, a demanda pelo psicólogo forense não é espontânea, e sim,
decorrente de encaminhamentos. Dessa forma, o sigilo também é diferente para esse
profissional. Para não inviabilizar o seu trabalho, esse profissional tem a prerrogativa
de não seguir o artigo 9ª do Código de Ética do Psicólogo, que explicita o dever do sigilo
(WILLIAMS; CASTRO, 2016).
Inúmeras são as legislações que versam sobre a comunicação e o sigilo do diagnóstico por
profissionais, pela sociedade civil em geral e mesmo pelas pessoas do convívio familiar
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Violência Sexual: Normas e Sistema de Proteção | UNIDADE IV
e social da vítima. Cada conselho profissional possui seu código de ética, sendo este o
referencial na condução do exercício profissional, nas diretrizes específicas do campo
de atuação, bem como nas respostas construídas em contextos específicos pela equipe
interdisciplinar.
Destaca-se, assim, que os princípios éticos devem ser norteadores para a construção de
uma prática ética contextualizada, pertinente às diversas realidades com que se depara no
dia a dia. Todavia, não são fórmulas aplicáveis a todas as realidades indiscriminadamente.
Conforme já pontuado, existe a necessidade de haver um posicionamento ético responsável
e marcado por reflexões críticas constantes no que tange às intervenções profissionais.
De acordo com Bitencourt (2012), o sigilo reforça a confiança que o cidadão deposita
em determinada categoria profissional e revela-se verdadeira garantia da privacidade
individual, bem como da segurança e da paz social. Em consonância com esse pensamento,
a garantia ao sigilo se fragiliza proporcionalmente às investidas que o aparato social e do
próprio Estado perfazem, e os danos acarretados pela revelação da informação também
são diretamente proporcionais à maior vastidão social e cultural que conseguem penetrar.
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PARA (NÃO) FINALIZAR
Desse feito, podemos afirmar que o surgimento da questão social é atrelado à generalização
do trabalho livre, fato que se acirra, haja vista que a sociedade brasileira possui marcas
profundas da escravidão em seu passado recente.
Sobre a discussão acerca da questão social, é necessário elencar que esta vai além do
conjunto das expressões das desigualdades, tendo em vista que, em um contexto geral,
precisamos considerar as particularidades culturais, históricas e as relações sociais que
cada região apresenta, além das dimensões políticas, econômicas, culturais e religiosas,
com acento na concentração de poder e de renda e na pobreza das grandes maiorias.
Dessa maneira, é necessário que a questão social atribua visibilidade aos sujeitos,
pois são essas pessoas, na cena pública, com esforços, lutas e conflitos, que atribuem
densidade política para a sociedade. Como exemplo, citamos as mulheres, os negros, os
indígenas, trabalhadores urbanos e rurais, entre outros segmentos, que se constroem e
se diferenciam nas histórias nacionais.
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Para (não) Finalizar
Por meio de um amplo movimento social por parte da igreja católica, o Serviço Social tem
sua origem atribuída a esses profissionais cujo objetivo era recristianizar a sociedade.
Diante do aumento das populações nas áreas urbanas, fator este diretamente relacionado
ao crescimento da industrialização, tem-se a necessidade de estabelecer controle sobre a
massa operária. Assim sendo, o Estado assume parte das reivindicações populares, que
demandavam condições de reprodução: moradia, saúde, alimentação, ampliando as bases
do reconhecimento da cidadania social pela implementação de uma legislação salarial
e social. Tal iniciativa preconizava principalmente o interesse do Estado e das classes
dominantes de atrelar as classes subalternas ao Estado, facilitando sua manipulação e
dominação.
Sobre a questão social, podemos afirmar que ela é a base de fundação do Serviço Social
como especialização do trabalho. Os assistentes sociais, por meio da prestação de
serviços socioassistenciais – indissociáveis de uma dimensão educativa (ou político-
ideológica) – realizados nas instituições públicas e organizações privadas, intervém
nas relações sociais cotidianas, no atendimento às várias expressões da questão social,
tais como experimentadas pelos indivíduos sociais na família, no trabalho, na luta pela
terra, pela moradia, nas áreas da política pública de assistência social, na saúde, entre
outras dimensões.
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