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VULNERABILIDADE SOCIAL, GÊNERO

E SEXUALIDADE: INTER-RELAÇÕES

UNIDADE IV
VIOLÊNCIA SEXUAL: NORMAS E SISTEMA
DE PROTEÇÃO
Elaboração
Karina Santos da Fonseca

Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração
SUMÁRIO

UNIDADE IV
VIOLÊNCIA SEXUAL: NORMAS E SISTEMA DE PROTEÇÃO.................................................................................................... 5

CAPÍTULO 1
VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA A MULHER, CONTRA HOMOSSEXUAIS E CONTRA CRIANÇAS NO BRASIL:
DADOS ESTATÍSTICOS.................................................................................................................................................................. 5

CAPÍTULO 2
LEGISLAÇÃO BRASILEIRA SOBRE O TEMA: PRINCIPAIS NORMAS E SEUS ASPECTOS RELEVANTES. O
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE................................................................................................................... 8

CAPÍTULO 3
NORMAS TÉCNICAS DO MINISTÉRIO DA SAÚDE, COM ABORDAGEM EM ATENÇÃO E TRATAMENTO
DOS AGRAVOS RESULTANTES DA VIOLÊNCIA SEXUAL, PROFILAXIA DAS DSTS E DO HIV/AIDS,
ANTICONCEPÇÃO DE EMERGÊNCIA E INTERRUPÇÃO DA GRAVIDEZ PREVISTA EM LEI............................... 11

CAPÍTULO 4
TRABALHO EM REDE NA ASSISTÊNCIA INTEGRAL PARA MULHERES E ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO
DE VIOLÊNCIA (DEFINIÇÃO DE PAPÉIS E FLUXO DE ATENDIMENTO). ATENÇÃO INTEGRAL PARA
MULHERES E ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA SEXUAL RECOLHIDOS EM SISTEMA
PRISIONAL OU POR INTERMÉDIO DE MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS................................................................... 15

CAPÍTULO 5
ATENÇÃO PSICOSSOCIAL E MEDICINA FORENSE: LAUDO PERICIAL E AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA.
ASPECTOS ÉTICOS E LEGAIS DA ASSISTÊNCIA (SIGILO, COMUNICAÇÃO E NOTIFICAÇÃO)........................ 19

PARA (NÃO) FINALIZAR................................................................................................................................22

REFERÊNCIAS................................................................................................................................................24
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VIOLÊNCIA SEXUAL:
NORMAS E SISTEMA UNIDADE IV
DE PROTEÇÃO

CAPÍTULO 1
VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA A MULHER, CONTRA
HOMOSSEXUAIS E CONTRA CRIANÇAS NO BRASIL:
DADOS ESTATÍSTICOS

A violência doméstica, além de ser considerada um problema de saúde pública e social,


na atual conjuntura (ou melhor, há mais ou menos uma década) têm se constituído
como a principal causa de óbitos de homossexuais. Em seu cotidiano, essa população se
depara frequentemente com a violação dos seus direitos básicos, como o acesso à saúde,
à escola e aos próprios cuidados básicos que deveriam ser providos no seio familiar de
modo a proporcionar um bom desenvolvimento intelectual e psicológico.

Inúmeros são os casos de jovens homossexuais que são violentados ou até mesmo
prostituídos quando a questão da sexualidade é revelada no ambiente familiar.
Consequentemente, em muitos desses casos, esses jovens são abandonados e, por causa
disso, a prostituição e a vivência nas ruas se tornam as únicas formas de sobrevivência.

A tratativa em relação à homossexualidade acontece de igual forma, seja no âmbito


familiar ou fora dele, ou seja, a partir das funções sociais/sexuais impostos pela sociedade
aos homens e mulheres em seu cotidiano. No que diz respeito à sexualidade humana,
é pertinente salientar a presença das relações de poder no imaginário popular, a se
considerar que o poder se relaciona com a questão da masculinidade, e ao feminino são
incumbidas características como a sensibilidade e a delicadeza.

Sobre a questão da sexualidade, mais precisamente no que se refere à homossexualidade


no ambiente familiar, é importante pontuar o poder e o controle que a família exerce sobre
os “seus” indivíduos. Esse muitas vezes é cercado pela insegurança e pelo medo que pais,
avós, tios, irmãos e outros membros familiares geram nos indivíduos mais vulneráveis,
de modo que estes se sentem rejeitados, excluídos ou até mesmo abandonados pelo clã.

Por meio de outro viés, é possível identificarmos que, em alguns casos, as relações
familiares usam a violência como forma de cuidar dos seus entes, e até agressões físicas

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são utilizadas. De forma evidente, esse contexto nos mostra que a moral é a peça-chave
do ambiente familiar; a violência cometida contra homossexuais dentro do ambiente
familiar é justificada pela ideia de que a homossexualidade é considerada “vergonhosa”,
e isso nos demonstra que a sexualidade humana ainda é um tema desconhecido por
grande parte da sociedade.

A violência contra homossexuais não é algo recente; é um problema que ganhou mais
destaque desde a década de 1980, tem proporção mundial e tem se acirrado nas últimas
décadas. As inúmeras denúncias de discriminações e agressões ocasionadas pela orientação
sexual ou sexualidade tornaram-se um marco importante para a trajetória do movimento
homossexual no contexto brasileiro, que disseminou a expressão “homofobia” para
caracterizar esse tipo de violência.

Figura 36. Violência e Homofobia.

Fonte: https://www.destaquenoticias.com.br/homofobicos-ja-mataram-117-pessoas-este-ano/.

Em comparação com outros movimentos de identidade (movimento de mulheres e


movimento negro, por exemplo), o movimento homossexual foi historicamente lento na
elaboração de demandas de políticas públicas integradas para responder aos fenômenos
da homofobia. Durante muito tempo, fixou-se um modelo estereotipado de “violência
contra homossexuais” (os assassinatos) que, ao final, correspondia apenas a uma parte
das diversas dinâmicas cotidianas de violência sofridas por gays, lésbicas, bissexuais e
transgêneros. Nesse sentido, o discurso do ativismo sobre “homofobia” produzia impacto
reduzido não só junto à comunidade homossexual, mas também junto aos governos e
à mídia.

Outro desafio são as representações “concorrentes” com a ideia de que a homofobia é


constitutiva da experiência homossexual. As imagens ligadas ao orgulho e à afirmação
– e, no extremo, à beleza, à alegria e ao consumo – são capitaneadas pela mídia e pelas

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Violência Sexual: Normas e Sistema de Proteção | UNIDADE IV

iniciativas de mercado e disputam a hegemonia das representações da homossexualidade,


sendo possível observar grande tensão quanto às representações ativistas, ainda que
até agora se observe uma convivência relativamente pacífica durante as celebrações das
paradas do orgulho (RAMOS, 2005).

Não podemos negar a existência das dinâmicas discriminatórias dentro da própria


esfera familiar e do ciclo de amizades. Tais questões demandam não só campanhas com
especificidades de mobilização e informação, como também atendimentos individuais
para as vítimas por meio de uma rede de proteção e apoio moldada em experiências
vivenciadas por outras formas de violências.

São altos os índices de homofobia, inclusive dentro do próprio espaço escolar.


Esses registros nos fazem compreender a real necessidade de investirmos em pesquisas,
criação de programas voltados à prevenção da violência contra essas vítimas de modo
a que se envolvam professores, alunos, autoridades educacionais e de outras políticas
públicas e a sociedade de forma geral.

Portanto, esse tipo de violência, semelhantemente às demais já destrinchadas neste


trabalho, fazem parte de um complexo problema social e de saúde a ser enfrentado por
toda a sociedade, sem qualquer tipo de diferenciação. Ele acomete todas as classes sociais,
faixas etárias e gêneros. De forma específica, convém pontuar que, independentemente
de haver homofobia, estamos diante de uma violação sistemática dos direitos humanos.
As inúmeras situações de violência geralmente são desencadeadas pelo reconhecimento
da homossexualidade no “outro”, que, por causa disso, passa a ser alvo de agressão que
podem causar severos problemas emocionais e físicos.

Atinentes a essa problemática, frisamos que vivemos um contexto permeado pela


fragmentação das políticas públicas. As que existem são fragmentadas, seus instrumentos
nem sequer possuem uma definição sobre o que é diversidade sexual e há resistências
internas à incorporação da temática nos Parâmetros Curriculares Nacionais, que abordam
a questão sob a ótica de gênero, sem tocar no tema orientação sexual. Pensar sobre essas
questões é pensar em desenvolvimento humano e em direitos humanos.

Há um enorme desafio democrático a ser enfrentado, que clama pela construção de uma
nova política educativa a partir da própria visibilidade do fenômeno: a compreensão
dos direitos humanos, a proteção da vida, os direitos de igualdade, a educação para a
sexualidade ou para as sexualidades.

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CAPÍTULO 2
LEGISLAÇÃO BRASILEIRA SOBRE O TEMA: PRINCIPAIS
NORMAS E SEUS ASPECTOS RELEVANTES. O ESTATUTO
DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

A luta social em prol da garantia dos direitos da criança e do adolescente tem seus
primórdios com o movimento universal dos direitos, que trouxe a concepção de defesa
da igualdade entre as pessoas independentemente de classe social, diversidades culturais,
etnia, orientação sexual, credo e poder econômico.

No que diz respeito à proteção integral de crianças e adolescentes, a conjuntura brasileira


conta com leis, políticas, planos e documentos com bases fundamentadas para tais
provimentos. Conforme já pontuamos, esse feito é advindo de movimentos populares
que reividicavam uma assistência universal, integral e equânime estabelecidos pela
Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança da Organização das Nações Unidas
(ONU) do ano de 1989, que conta com o apoio da Declaração Universal dos Direitos
da Criança, de 1959. Ainda em complemento a esses avanços, temos a Constituição da
República Federativa do Brasil, de 1988. Todo esse conjunto de normas resultou na então
chamada Doutrina da Proteção Integral à Criança e ao Adolescente, que foi adotada pela
Constituição Federal, em seu artigo 227.

Prosseguindo no estudo sobre esse contexto de garantias a esse público-alvo, em 1990, o


Congresso Nacional aprovou novas regras que efetivaram a convenção para a garantia de
direitos. Além disso, foi promulgada a Lei n. 8.069/1990, que dispõe sobre o Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA), sendo este consolidado como paradigma na compreensão
da infância e da adolescência na conjuntura brasileira. Esse Estatuto é tido como um
avanço na linha de garantia dos direitos das crianças e dos adolescentes.

Figura 37. Violência e ECA.

Fonte: http://geografiaeanarquia.blogspot.com/2015/09/atualidades-eca-estatuto-da-crianca-e.html.

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Violência Sexual: Normas e Sistema de Proteção | UNIDADE IV

O ECA versa sobre a coibição e a prevenção das mais variadas formas de violências
cometidas contra o público infanto-juvenil, tendo o viés de proteção integral.
Esse Estatuto determina que qualquer omissão ou violação dos direitos fundamentais
constitui uma transgressão de adultos, pais, responsáveis, cuidadores (ou do Estado,
sociedade e instituições), e, nesse caso, estes devem ser culpabilizados e responsabilizados
pela prática desses atos.

Sob a linha doutrinária de proteção integral, intervir no enfrentamento da violência contra


crianças e adolescentes requer uma articulação em rede por meio de todas as políticas
públicas que atendam a todas às necessidades e complexidades desses problema. Para
isso, é necessário que os planos e ações, além de concretos, sejam interdisciplinares e
intersetoriais.

A rede de serviços ou rede de apoio, assim considerada por alguns estudiosos da temática,
deve ser compreendida como “um conjunto de sistemas de pessoas significativas que
compõem os elos de relacionamento recebidos e percebidos do indivíduo”. RETIRAR AS
ASPAS Essa rede possui representatividade em relação às oportunidades que oferecem
suporte e solidariedade durante os acontecimentos em que a pessoa ou a família passam
por difíceis experiências.

Compõem a rede de proteção às vítimas e suas famílias diversos órgãos, tais como:
Conselho Tutelar (CT), Conselhos de Direito, Promotoria Pública e Juizado da Infância
e Juventude, bem como as demais instituições que prestam atendimento a esse público-
alvo, como as escolas, e os equipamentos destinados à política de assistência social,
seja por meio da proteção social básica e ou especial, unidades de saúde, unidades de
acolhimento, entre outras redes de apoio social.

É pertinente salientar que o contexto da violência contra crianças e adolescentes exige


atuação de uma equipe interdisciplinar, ou seja, o enfrentamento desse problema exige
a articulação de uma rede de intervenção que atenda às necessidades da abordagem do
problema em sua complexidade. Todavia, é possível identificar que essa rede de atuação
enfrenta dificuldades nas mais diversas possibilidades – pode-se citar a deficiência de
articulação, o isolamento e a inexistência de fluxo dos serviços e a falta de qualificação
profissional.

Em relação às ações intersetoriais, é primordial a inclusão dos setores da saúde, da


educação, jurídicos, da segurança, do bem-estar social, dentre outros, de modo a que
se permita que a concretização das ações seja descentralizada, assim como as tomadas
de decisão. O nível de intervenção profissional interdisciplinar se faz necessário para
o andamento concreto desse tipo de ação, diante dos danos causados às vítimas e das
características do fenômeno.

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UNIDADE IV | Violência Sexual: Normas e Sistema de Proteção

Portanto, é possível identificar que, mesmo diante de uma legislação específica no contexto
brasileiro, existe a necessidade de ocorrerem avanços e superações em relação à falta
de reconhecimento das crianças e dos adolescentes como sujeitos em desenvolvimento
biopsicossocial, detentores de seus direitos.

Ademais, é relevante que os espaços de atendimento reconheçam as necessidades


desses usuários, seja por meio de atendimento, notificação, investigação, de modo que
sejam implementadas estratégias de enfrentamento à violência que atendam de fato
as demandas, e é necessário mobilizar os demais níveis de apoio que compõem a rede.
Dessa forma, as necessidades específicas podem ser identificadas considerando os
sujeitos ativos nesse processo.

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CAPÍTULO 3
NORMAS TÉCNICAS DO MINISTÉRIO DA SAÚDE, COM
ABORDAGEM EM ATENÇÃO E TRATAMENTO DOS AGRAVOS
RESULTANTES DA VIOLÊNCIA SEXUAL, PROFILAXIA DAS
DSTS E DO HIV/AIDS, ANTICONCEPÇÃO DE EMERGÊNCIA
E INTERRUPÇÃO DA GRAVIDEZ PREVISTA EM LEI

Estudos nos mostram que há maior possibilidade de denúncia sobre a violência sexual
quando o agressor é desconhecido, contudo, frequentemente esse tipo de violência não
é denunciada por influência de sentimentos vivenciados pela vítima, como insegurança
e sensação de culpa.

As vítimas de violência sexual devem receber atenção por parte dos profissionais de saúde
de forma imediata, tanto nas primeiras horas que se seguem à violência como também
em relação às necessidades tardias, que podem surgir posteriormente, depois de semanas
ou até mesmo meses do ocorrido. O acompanhamento por meio de atenção especializada
pode decorrer por um período maior, a depender das necessidades individuais de cada
vítima.

Existem evidências de que a violência sexual gera na mulher consequências ginecológicas


a curto e longo prazo, podendo a causa básica ser ocultada pela vítima. Ademais, pode
ou não haver relação entre a violência e as queixas relacionadas à saúde.

Parte pequena, porém, significativa, dos crimes sexuais pode terminar em


morte da mulher e o termo “sobrevivente” para elas é, inexoravelmente,
apropriado. No entanto, é inquietante notar que frequentemente essas
mulheres não são levadas ao óbito pelo meio com que foram intimidadas.
A ameaça com arma branca ou de fogo geralmente não se concretiza e,
muitas vezes, é substituída pela ultimação pela asfixia mecânica. Este
morrer de maneira lenta, desesperadora e frente ao agressor significa,
sobretudo, a máxima expressão da violência de gênero. O exercício do
poder até a morte muitas vezes proporciona ao agressor prazer maior do
que aquele conseguido pelo crime sexual (DEMING et al., 1983, p. 572).

Os atendimentos destinados a esse público-alvo devem ter como foco principal a vítima,
por isso a necessidade urgente em identificar algum dano físico decorrente da violência
que demande intervenção médica imediata, como traumas, roturas, cortes, dentre outros.
Não obstante, a maioria das vítimas se recusa a ser examinada. É importante que o
profissional que iniciou o atendimento explique para a vítima a necessidade de realizar
exames e demais intervenções que se fizerem pertinentes, pois, além da possibilidade
de identificação de lesões físicas, é necessário realizar determinadas investigações por

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UNIDADE IV | Violência Sexual: Normas e Sistema de Proteção

meio de pesquisas para averiguar possíveis infecções. Realizar teste de gravidez também
é necessário, independentemente da forma de violência sofrida. DSTs, gravidezes não
desejadas, além dos inúmeros problemas psicológicos, são consequências enfrentadas
por essas vítimas a médio e longo prazo.

A contaminação por uma doença sexualmente transmissível (DST) como resultado da


violência sexual pode implicar em severas consequências físicas e emocionais. Se, por
um lado, os danos físicos são pouco frequentes em mulheres em situação de violência
sexual, por outro, as DSTs apresentam taxas seguramente alarmantes (DREZETT et
al., 2002, p. 20).

As vítimas que são atendidas de forma imediata após a violência sexual, logo nas primeiras
horas ou primeiros dias, devidamente medicadas, possuem maiores chances de proteção
em relação a gravidez e a DSTs, ainda que não seja ideal falar em proteção total.

É importante destacar que parte significativa das DSTs decorrentes da violência sexual
pode ser evitada. Hepatite B, gonorreia, sífilis, clamidíase, tricomoníase, donovanose
e cancro mole são exemplos de doenças que poderiam ser impedidas mesmo após o
contato sexual contaminante, com a ingestão, o mais precoce possível, de medicamentos
específicos de reconhecida eficácia (BRASIL, 2005, p. 70).

O enfrentamento das DST decorrentes da violência sexual não se encerra


na aplicação de medidas profiláticas corretas. Apesar de sua indiscutível
eficácia, a prevenção não é isenta da possibilidade de falha. Além disso,
cabe lembrar que, para doenças como o herpes genital, a hepatite C ou
o HPV, não existem medicamentos que ofereçam proteção. Assim, todas
as mulheres necessitam de rigorosa e periódica investigação das DST,
por período de até seis meses da data do crime sexual. Essa medida
deve ser acompanhada de cuidadoso aconselhamento e apoio, para que
as mulheres compreendam sua condição de vulnerabilidade e para que
retomem sua atividade sexual de forma segura (BRASIL, 2005, p. 70).

A violência sexual acarreta inúmeras e graves consequências físicas e psicológicas às


vítimas, dentre elas podemos citar as infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) e o HIV,
todavia o risco de infecção depende de inúmeras variáveis. Os atendimentos destinados
a essas vítimas seguem dois parâmetros, que são o tempo decorrido entre a violência e
o atendimento (inferior ou superior a 72 horas) e o tipo de violência (única ou crônica).

Em sua grande maioria, essas práticas de violência ocorrem de maneira única, sendo o
agressor desconhecido, e isso ocasiona um risco enorme de doenças. De imediato, ou
seja, imediatamente depois do crime, é importante que a vítima seja submetida a coleta
de exames para o diagnóstico de possíveis doenças, por isso são sugeridos os exames

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Violência Sexual: Normas e Sistema de Proteção | UNIDADE IV

para clamídia (imunofluorescência ou PCR), sorologia para sífilis, coleta de material de


vagina, ânus ou oral para bacterioscopia e cultura de gonococo, anti-HIV, anti-HCV,
anti-HBsAG, HBsAG) e exame de gravidez (teste de BHCG). Mesmo que a realização
desses exames não possa acontecer por algum motivo, o tratamento preventivo deve
ser iniciado de forma imediata.

A profilaxia das ISTs não virais em vítimas de violência sexual visa aos agentes mais
prevalentes e de repercussão clínica relevante. Ela tem por indicação as situações de
exposição com risco de transmissão dos agentes, e isso independe da presença ou
gravidade das lesões físicas e da faixa etária.

A infecção causada pelo vírus HIV é uma das maiores preocupações das vítimas que
sofrem esse tipo de violência. Inúmeros estudos mostram que o risco de transmissão
desses casos varia entre 0,8 e 2,7%.

Aprofundando a nossa discussão é importante falarmos sobre a anticoncepção de


emergência (AE), conhecida também como anticoncepção pós-coital ou pílula do dia
seguinte. Essas medidas são indicadas a todas as mulheres que estejam ou não em
período reprodutivo, mas que tiveram algum tipo de relação que tenha ocasionado o
contato do sêmen na região genital. Essas vítimas devem, de forma igualitária, receber
proteção anticonceptiva. Como o próprio nome indica, esses métodos se referem ao uso
de dispositivos ou medicamentos como uma medida de emergência para evitar uma
gravidez não desejada, após uma relação sexual desprotegida.

É pertinente salientar que as mulheres que engravidam em virtude de uma violência


sexual possuem direito ao abortamento, conforme leis nacionais e internacionais, além
das recomendações médicas. É competência dos médicos e demais profissionais da área
da saúde informarem às vítimas sobre tal possibilidade.

Por meio do programa de atendimento à vítima de violência sexual, em consonância


com a Norma Técnica de Prevenção e Tratamento dos Agravos Resultantes de Violência
Sexual contra Adolescentes e Mulheres, prevê-se o aborto legal. Em relação a esses
casos, a legislação brasileira, segundo o artigo 128 do Código Penal, é direito da mulher
interromper a gestação: “II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de
consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal”. Apesar de a
legislação prever tal direito desde 1940, as mulheres que procuram por esse tipo de
atendimento podem sofrer grandes constrangimentos.

Os serviços públicos devem estar aptos a prestar esse tipo de atendimento, e os profissionais
da saúde devem ser capacitados para detectarem riscos, devem identificar a violência e
acolher as vítimas, buscando minimizar a dor e evitar os agravos. Houve a necessidade

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UNIDADE IV | Violência Sexual: Normas e Sistema de Proteção

de organização de serviços e fluxos sistematizados para atenção global à violência,


considerando as diferentes demandas pertinentes à saúde e à proteção social e jurídica.

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CAPÍTULO 4
TRABALHO EM REDE NA ASSISTÊNCIA INTEGRAL PARA
MULHERES E ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA
(DEFINIÇÃO DE PAPÉIS E FLUXO DE ATENDIMENTO).
ATENÇÃO INTEGRAL PARA MULHERES E ADOLESCENTES
EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA SEXUAL RECOLHIDOS EM
SISTEMA PRISIONAL OU POR INTERMÉDIO DE MEDIDAS
SOCIOEDUCATIVAS

Os protocolos de assistência às vítimas em situação de violência implantados no Brasil


são considerados exemplares. Isso é decorrente do aprimoramento direcionado aos
cuidados científicos em relação aos protocolos de atendimentos e da qualidade técnica
destes. Todavia, a efetivação dessas ações se depara com inúmeras barreiras, seja de
caráter institucional, técnico ou até mesmo da própria formação profissional, sem contar
as dificuldades enfrentadas pelas próprias vítimas ao procurarem o serviço e relatarem o
fato. Em diversos casos, identificamos que a exigência de atuação técnica frente às normas,
protocolos e as capacitações não é suficiente frente às demandas trazidas pelas vítimas.
Problemas antigos persistem em muitos locais e eles são relacionados ao acolhimento,
ao estranhamento quanto às características dos danos e à condução do caso em si.

Segundo Schraiber et al. (2005, p. 112), “Os direitos humanos das mulheres fazem parte
dos direitos universais da humanidade, reafirmando o direito à igualdade política, ao
exercício dos direitos reprodutivos e uma vida livre de violência”.

Os profissionais que atuam direta ou indiretamente com as mazelas da violência precisam


estar capacitados para lidar com a complexidade dessas demandas; para isso, é necessário
que eles obtenham conhecimentos tanto sobre essa realidade como sobre a rede de
serviços socioassistenciais para que os encaminhamentos necessários sejam realizados.

A promoção da atenção integral compreende a identificação das necessidades apresentadas


pelas vítimas, de modo que todos os órgãos competentes façam as devidas intervenções.
entendo que tais ações são essenciais para o processo de enfrentamento das mais
formas de violências. A compreensão sobre tal complexidade faz com que a capacidade
profissional seja perpassada diante do reconhecimento de tal vivência, que, por vezes,
sobrepõe a capacidade de resolução de um único serviço.

Medeiros e Guareschi (2009) refletem sobre o termo “integralidade”, proposto pelos


princípios doutrinários do Sistema Único de Saúde (SUS), como o atendimento da
pessoa em todas as suas necessidades. A fim de se assegurar a qualidade e a integralidade
desses atendimentos, é necessário considerarmos os aspectos psicológicos e biológicos,

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UNIDADE IV | Violência Sexual: Normas e Sistema de Proteção

sem contar as questões jurídicas, socioeconômicas e policiais, assim como é importante


buscar estratégias de divulgação das instituições que compõem a rede de atenção às
vítimas de violência. Dessa forma, o acesso às informações é destinado à população de
uma forma geral.

A categoria “Articulação Intersetorial” é entendida como a necessidade de articulação


entre os serviços que façam ou não parte da rede, sendo essa uma forma de enfrentamento
da violência. Ademais, propõem-se as estratégias viabilizadoras nos espaços de interação
de ações e saberes.

No que tange à “Atenção integral”, esta é compreendida por meio da percepção do serviço
em relação à desqualificação profissional no reconhecimento e/ou acolhimento das
vítimas. Para isso, consideram-se as inúmeras demandas que essas vítimas vivenciam,
considerando-se os estudos já realizados os quais apontam que o processo de articulação
e encaminhamento demanda conhecimento tanto de suas atribuições quanto dos serviços.

Todo esse contexto nos mostra, ainda, a importância da gestão nesse processo de
articulação intersetorial, a partir da viabilização da interação entre todas as instituições.
Também se nos aponta sobre a necessidade da realização de encontros com representantes
de todas essas instituições de modo que sejam discutidas as propostas de enfrentamento
da violência.

Destarte, podemos observar que a maioria dos espaços esbarra em inúmeras dificuldades no
trato das situações de violência, e isso ocorre muito justamente pela falta de conhecimento
dos serviços e dos encaminhamentos devidos por parte de alguns profissionais.
Para obtenção de eficácia e eficiência nos serviços ofertados, é necessário que a rede
como um todo se articule, seja na área da saúde, da assistência social, da segurança
pública, jurídica, de habitação e de geração de renda. O conhecimento se faz pertinente
no sentido do desenvolvimento de ações que possuam viés de prevenção, notificação,
registro, encaminhamento e acompanhamento das vítimas de violência em todas as etapas,
de modo a favorecer a continuidade da assistência em relação aos serviços prestados.

Sendo a violência entendida enquanto uma expressão da questão social, compreendemos


que ela é um fenômeno irredutível e complexo a um único nexo. Quando ela é praticada
por instituições (seja uma fábrica, o Estado, um posto de saúde ou a família) que têm
como função social transmitir ou impor normas de regulação de conduta aos indivíduos,
a violência então produzida é considerada como injustiça social.

A violência institucional acontece quando o Estado ou algum de seus agentes, ao fazerem


o uso da força de forma legítima, excedem os limites legais que regulam e legitimam
esse direito.

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Violência Sexual: Normas e Sistema de Proteção | UNIDADE IV

Figura 38. Violência e Medidas Socioeducativas.

Fonte: https://www.google.com.br/search?q=violencia+e+medida+socioeducativa&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=2ahU
KEwjp4eCv3ojvAhVNHbkGHX4wCOwQ_AUoA3oECAMQBQ&biw=1366&bih=609#imgrc=gZa5bGWOU_APhM.

Quanto à violação das normas jurídicas, o legítimo e o ilegítimo na ação do Estado são
definidos de acordo com sua legislação interna (BARBOSA, 2013).

A violência relacionada a uma instituição perpetrada contra adolescentes que cometeram


ato infracional tem sido observada como prática inerente ao sistema socioeducativo,
servindo como elemento disciplinador e de controle (JIMENEZ; FRASSETO, 2015).

Esse contexto permeado por violações dos direitos se faz mais presente nas medidas
cumpridas em meio fechado, em instituições que possuem estrutura física assemelhada
à das prisões, nos quadros de superlotação e nas práticas de castigo. Em meio aberto,
identificamos uma violência mais subjetiva e difusa. Todavia, a aplicação das medidas
nesse meio é apontada pelos estudiosos como mais branda, pois não é avaliada a real
necessidade de intervenção coercitiva na forma de punição aos adolescentes, e isso
demonstra que, para eles, há a prevalência da punição em detrimento da promoção e
da garantia de direitos.

As práticas punitivas ultrapassaram o corpo e inscreveram-se como violência psicológica,


tortura e abuso de poder nas revistas constantes, no julgamento moral e no controle da
vida dos adolescentes. O fundamento corpóreo é transferido para o plano da disciplina,
reeducação, ressocialização, uma modalidade de punição que não se dá apenas pela
repressão, mas pelo adestramento, inscrevendo-se em subjetividades (FOUCAULT,
1979/2007; FRANÇA; MIRANDA, 2012).

Destarte, essa conjuntura nos mostra que a violência institucional em meio aberto
contribui para o fortalecimento do sistema socioeducativo de forma concomitante à

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UNIDADE IV | Violência Sexual: Normas e Sistema de Proteção

superação do caráter punitivo. Outra percepção é relacionada aos constantes relatos


de violência, e isso demonstra que é necessário revisar determinadas medidas para que
estas sejam aplicadas de forma eficiente, de maneira que sejam criadas maneiras de
superação do ato infracional.

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CAPÍTULO 5
ATENÇÃO PSICOSSOCIAL E MEDICINA FORENSE: LAUDO
PERICIAL E AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA. ASPECTOS ÉTICOS
E LEGAIS DA ASSISTÊNCIA (SIGILO, COMUNICAÇÃO
E NOTIFICAÇÃO)

A intervenção profissional destinada às vítimas de violência extrapola os cuidados da


lesão, pois exigem conhecimento sobre vivências, expectativas e sentimentos.

É pertinente salientar que não existem instrumentos psicológicos com especificidades


direcionadas para a constatação da violência sexual, todavia é destacamos que é necessário
ter prudência quando se está em busca de manifestações comportamentais, uma vez que
quadros falso-positivos podem ser produzidos em virtude de sintomas inespecíficos.

O processo de avaliação, mesmo não sendo configurado como uma intervenção psicossocial,
precisa ser desenvolvido com um determinado nível de atenção ao bem-estar da pessoa
em acompanhamento, para que esse método não seja prejudicial tanto ao periciado
como ao processo investigatório.

Os profissionais da Psicologia que realizam esse tipo de intervenção precisam estar a par da
legislação vigente, da terminologia, além do aprimoramento em relação aos conhecimentos
técnicos específicos baseados na construção de procedimentos legais relevantes, no
estabelecimento dos objetivos dessa avaliação. Portanto, esse processo exige uma
integração entre os conhecimentos da área de saúde mental e do Direitos, considerando-se
que, por mais que existam diferenças entre as áreas de atuação profissional, ambas
propõem a melhor harmonia e convivência entre o indivíduo e a sociedade.

O responsável por ser o examinador desse processo deve ter como um dos maiores
cuidados o fato de que ele deve cuidar em não fazer a entrevista ser considerada um
elemento abusivo, de modo a não revitimizar a pessoa, entendendo que tanto a denúncia
como a ação judicial podem agravar o sofrimento psicológico já vivenciado.

A perícia psicológica é aquela realizada por psicólogos com o intuito de responder a um


questionamento jurídico (ARANTES, 2005; CESCA, 2004; ROVINSKI, 2007).

Ainda que isenta de objetivos terapêuticos, a avaliação pericial pode produzir alterações
positivas na recuperação da vítima, na medida em que se constitui como um momento
de escuta e de proteção (MAGALHÃES; RIBEIRO, 2007).

É necessário observar que a avalição pericial não possui por viés de atuação a intervenção
psicossocial e o estabelecimento do vínculo terapêutico, todavia essa avaliação elenca

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UNIDADE IV | Violência Sexual: Normas e Sistema de Proteção

a possibilidade de a pessoa fazer os seus relatos em um ambiente seguro, neutro,


confiável e norteado por técnicos capacitados para intervir profissionalmente, que não
teçam qualquer tipo de opinião ou sugestão que não compreendam a sua capacitação
profissional. Isso pode fortalecer o vínculo junto à vítima, tornando-a parte ativa desse
processo e consciente de seus direitos.

A perícia psicológica é uma modalidade de avaliação técnica e especializada destinada


à investigação de situações abusivas a todas as faixas etárias, considerando que, para
a maioria dos casos, não existe materialidade suficiente para constatação dos fatos por
meio de um exame médico-legal, logo esse tipo de perícia serve como um meio de prova,
seguindo essa modalidade de intervenção.

Dessa maneira, é necessário realizar uma análise da causalidade (nexo causal) entre o
evento traumático experienciado e os sintomas manifestados, de modo a se avaliar a
presença de outros aspectos no histórico e no contexto de vida da vítima que possam
ter contribuído para o quadro sintomatológico.

De forma geral, destaca-se a importância dos peritos no que compreende o respeito


do ritmo de discurso da vítima, além da não emissão de julgamentos sobre o que está
sendo relatado. Sobre a comunicação não verbal, a postura e a tonalidade emocional,
deve-se observar as possíveis incoerências, lacunas de informação e contradições no
discurso do periciado. Outrossim, o profissional deve ter o cuidado para gerar algum
tipo de contaminação em relação aos dados fornecidos pela vítima, que possam criar
falsas memórias.

Em relação à avaliação forense, esta se distingue de outras modalidades de avaliação,


como, por exemplo, nas situações com fins diagnósticos ou de planejamento do tratamento
(HEILBRUN et al., 2003). No trabalho pericial, o avaliador assume um papel objetivo
ou quase objetivo, devendo fornecer informações com base empírica, exigindo-se um
padrão elevado de precisão e relevância dos dados coletados (HEILBRUN et al., 2003).

O psicólogo forense está mais vinculado ao Poder Judiciário do que às pessoas ou famílias
que atende (WILLIAMS; CASTRO, 2016). Diferentemente de outras áreas da Psicologia,
como a clínica, por exemplo, a demanda pelo psicólogo forense não é espontânea, e sim,
decorrente de encaminhamentos. Dessa forma, o sigilo também é diferente para esse
profissional. Para não inviabilizar o seu trabalho, esse profissional tem a prerrogativa
de não seguir o artigo 9ª do Código de Ética do Psicólogo, que explicita o dever do sigilo
(WILLIAMS; CASTRO, 2016).

Inúmeras são as legislações que versam sobre a comunicação e o sigilo do diagnóstico por
profissionais, pela sociedade civil em geral e mesmo pelas pessoas do convívio familiar

20
Violência Sexual: Normas e Sistema de Proteção | UNIDADE IV

e social da vítima. Cada conselho profissional possui seu código de ética, sendo este o
referencial na condução do exercício profissional, nas diretrizes específicas do campo
de atuação, bem como nas respostas construídas em contextos específicos pela equipe
interdisciplinar.

Destaca-se, assim, que os princípios éticos devem ser norteadores para a construção de
uma prática ética contextualizada, pertinente às diversas realidades com que se depara no
dia a dia. Todavia, não são fórmulas aplicáveis a todas as realidades indiscriminadamente.
Conforme já pontuado, existe a necessidade de haver um posicionamento ético responsável
e marcado por reflexões críticas constantes no que tange às intervenções profissionais.

De acordo com Bitencourt (2012), o sigilo reforça a confiança que o cidadão deposita
em determinada categoria profissional e revela-se verdadeira garantia da privacidade
individual, bem como da segurança e da paz social. Em consonância com esse pensamento,
a garantia ao sigilo se fragiliza proporcionalmente às investidas que o aparato social e do
próprio Estado perfazem, e os danos acarretados pela revelação da informação também
são diretamente proporcionais à maior vastidão social e cultural que conseguem penetrar.

Portanto, é necessário desenvolver ações em linhas transversais que possuam como


eixos norteadores a promoção, a prevenção, a notificação e o atendimento adequados a
todos os ciclos de vida, e, para isso, é necessário organizar o setor da saúde em modelos
de atenção que contemplem os determinantes, os problemas de saúde e as necessidades
sociais.

Entretanto, mesmo havendo a obrigatoriedade da notificação, muitos profissionais se


deparam com dificuldades na adoção desse procedimento como uma conduta padronizada.
A falta de conhecimento sobre a temática da violência é um dos obstáculos enfrentados
por esses profissionais, pois isso pode dificultar a percepção dos sinais específicos dessas
situações, sem contar a angústia no que diz respeito às questões legais que podem surgir
mediante a notificação, além das influências de ordem estrutural, pessoal e cultural dos
serviços, que fazem com que os profissionais minimizem os benefícios que poderiam
ocasionar em decorrência das notificações.

21
PARA (NÃO) FINALIZAR

Questão Social na Conjuntura Brasileira


A mudança surgida com a abolição da escravatura no mundo permitiu o aparecimento
de questões sociais importantes. A forma de trabalho e as características deste mudaram;
antes, vivíamos em uma sociedade emergente da industrialização, o capitalismo requeria
um mercado de trabalho em que as relações fossem ditadas pelo controle do dinheiro.
Os capitalistas ditavam as regras do jogo, já que eram os donos da produção. É quando
se fala pela primeira vez em proletariado, o dono da força de produção, de trabalho. A
venda dessa força de trabalho para os donos da produção garantia a sobrevivência da
maioria da população mundial dos grandes centros urbanos.

Desse feito, podemos afirmar que o surgimento da questão social é atrelado à generalização
do trabalho livre, fato que se acirra, haja vista que a sociedade brasileira possui marcas
profundas da escravidão em seu passado recente.

Sobre a discussão acerca da questão social, é necessário elencar que esta vai além do
conjunto das expressões das desigualdades, tendo em vista que, em um contexto geral,
precisamos considerar as particularidades culturais, históricas e as relações sociais que
cada região apresenta, além das dimensões políticas, econômicas, culturais e religiosas,
com acento na concentração de poder e de renda e na pobreza das grandes maiorias.
Dessa maneira, é necessário que a questão social atribua visibilidade aos sujeitos,
pois são essas pessoas, na cena pública, com esforços, lutas e conflitos, que atribuem
densidade política para a sociedade. Como exemplo, citamos as mulheres, os negros, os
indígenas, trabalhadores urbanos e rurais, entre outros segmentos, que se constroem e
se diferenciam nas histórias nacionais.

A questão social expõe suas expressões e suas manifestações no desenvolvimento da classe


operária e no andamento de suas constituições. Ademais, exige-se o seu reconhecimento
por parte do Estado e do empresariado, além do seu ingresso em massa no cenário político
da sociedade. Todo esse contexto nos mostra a manifestação cotidiana da vida social por
meio da contradição existente entre a burguesia e o proletariado, fatos estes que exigem
outros tipos de intervenção, para além da caridade e repressão utilizadas até então.

A consolidação do capitalismo foi um processo enfrentado pela sociedade brasileira.


Foi justamente no decorrer desse período que a questão social se tornou visível, por
ser considerada como geradora de violência, “desenvolvimento de criminalização” que
atinge as classes subalternas, fazendo com que esta passasse a ser considerada como
“classe perigosa”, e não mais tida como classe laboriosa.

22
Para (não) Finalizar

Por meio de um amplo movimento social por parte da igreja católica, o Serviço Social tem
sua origem atribuída a esses profissionais cujo objetivo era recristianizar a sociedade.
Diante do aumento das populações nas áreas urbanas, fator este diretamente relacionado
ao crescimento da industrialização, tem-se a necessidade de estabelecer controle sobre a
massa operária. Assim sendo, o Estado assume parte das reivindicações populares, que
demandavam condições de reprodução: moradia, saúde, alimentação, ampliando as bases
do reconhecimento da cidadania social pela implementação de uma legislação salarial
e social. Tal iniciativa preconizava principalmente o interesse do Estado e das classes
dominantes de atrelar as classes subalternas ao Estado, facilitando sua manipulação e
dominação.

Tendo por objetivo a obtenção de um controle mais ampliado, a intervenção estatal


passa a intervir por meio de política salarial para além da regulação do mercado, pois a
ele fica elencado o estabelecimento e o controle de uma prática assistencial. O Serviço
Social, como profissão, se situa no processo de reprodução das relações sociais, como
atividade subsidiária e auxiliar no exercício do controle social e na difusão da ideologia
da classe dominante entre a classe trabalhadora.

Sobre a questão social, podemos afirmar que ela é a base de fundação do Serviço Social
como especialização do trabalho. Os assistentes sociais, por meio da prestação de
serviços socioassistenciais – indissociáveis de uma dimensão educativa (ou político-
ideológica) – realizados nas instituições públicas e organizações privadas, intervém
nas relações sociais cotidianas, no atendimento às várias expressões da questão social,
tais como experimentadas pelos indivíduos sociais na família, no trabalho, na luta pela
terra, pela moradia, nas áreas da política pública de assistência social, na saúde, entre
outras dimensões.

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