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DOI: 10.1590/1413-812320212611.3.

24242019 4909

Disparidades raciais: uma análise da violência obstétrica

VIOLÊNCIA E PREVENÇÃO VIOLENCE AND PREVENTION


em mulheres negras

Racial disparities: an analysis of obstetrical violence


among Afro-Brazilian women

Kelly Diogo de Lima (https://orcid.org/0000-0002-4338-9410) 1


Camila Pimentel (https://orcid.org/0000-0002-7511-9925) 2
Tereza Maciel Lyra (https://orcid.org/0000-0002-3600-7250) 2

Abstract The objective was to understand and Resumo Objetivou-se compreender e analisar
analyze the experiences of Afro-Brazilian women as vivências de mulheres negras acerca dos cui-
regarding pregnancy, delivery and postpartum dados na gestação, no parto e no pós-parto. Tra-
care. It involves empirical research, with a qua- ta-se de uma pesquisa empírica, de abordagem
litative approach. Women were interviewed who qualitativa. Foram entrevistadas mulheres que
declared themselves black or colored and were se autodeclaram negras ou pretas e que passaram
attended in the public health services in the mu- pelos serviços públicos de saúde nos municípios de
nicipalities of the State of Pernambuco. The nar- Pernambuco. As narrativas foram coletadas por
ratives were collected through semi-structured meio de entrevista semiestruturada. Foi utiliza-
interviews. The Content Analysis technique was da a técnica de análise de conteúdo. As narrativas
used. The narratives addressed the issues of obs- discorrem sobre os temas da violência obstétrica
tetric violence and institutional racism. The in- e do racismo institucional. A interseção de eixos
tersection of levels of oppression such as race, class de opressão, como raça, classe e gênero, são deter-
and gender are determinant in interventions and minantes nas intervenções e práticas abusivas na
abusive practices in the helathcare that involves atenção que envolve o parto. Conclui-se que o ra-
childbirth. The conclusion drawn is that structu- cismo estrutural dificulta e nega o acesso das mu-
ral racism hinders and denies access to black wo- lheres negras aos seus direitos reprodutivos. 
men to their reproductive rights. Palavras-chave Disparidades em assistência à
1
Programa de Pós-
Graduação em Saúde Key words Healthcare disparities, Delivery, Gen- saúde, Parto obstétrico, Violência de gênero, Di-
Coletiva, Instituto der-based violence, Reproductive rights reitos reprodutivos
de Medicina Social,
Universidade do Estado
do Rio de Janeiro. R. São
Francisco Xavier 524, bloco
E, 7º andar, Maracanã.
20550-900 Rio de Janeiro
RJ Brasil.
k.diogolima@gmail.com
2
Programa de Pós-
Graduação em Saúde
Pública, Instituto Aggeu
Magalhães, Fundação
Oswaldo Cruz (Fiocruz
Pernambuco). Recife PE
Brasil.
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Lima KD et al.

Introdução turantes que reproduzem a violência. Por outro,


identificamos que o próprio termo gera polê-
O presente texto tem como objetivo debater a micas semânticas em que se deduz que o termo
violência obstétrica, a fim de dar visibilidade aos “obstétrica” conduziria a compreensões de que
entraves e dificuldades enfrentados pelas mulhe- as práticas consideradas violentas seriam aquelas
res negras em Pernambuco. Os estudos feminis- advindas exclusivamente da classe médica.
tas sobre a ciência argumentam que a produção Parte desse debate terminológico (e também
de conhecimento, de forma ampla, é perpassada político) se reacendeu no início de 2019, quando
pelos valores e normas socioculturais nos quais o Ministério da Saúde (MS)3 veiculou uma nota
o sujeito produtor de conhecimento está inseri- afirmando ser contrário ao uso do termo violên-
do. Durante muito tempo, essa produção de co- cia obstétrica, sugerindo o não uso do mesmo
nhecimento foi feita, de forma hegemônica, por por considerar que a falta de consenso pode ge-
homens brancos, heterossexuais e de classe mé- rar prejuízos para o desenrolar da assistência. Em
dia. Tais condições de possibilidade na produção seguida, o Conselho Federal de Medicina (CFM)4
científica e acadêmica consolidaram epistemolo- também soltou uma nota para a imprensa e a po-
gias androcêntricas. Assim, as feministas levan- pulação em consonância com a postura do MS,
taram críticas ao domínio masculino sobre os adicionando ao tema o argumento de que a ex-
corpos das mulheres e ao interesse da medicina pressão “agride a comunidade médica, de modo
ocidental e do Estado no controle da sexualidade mais direto ginecologistas e obstetras”. Houve
e da reprodução. Elas são contrárias a um modelo reação por parte dos movimentos sociais ligados
de assistência que limita as decisões da mulher, à assistência ao parto, assim como do Ministério
reduzindo-a a um corpo passivo e sujeito a falhas, Público Federal (MPF)5, que na recomendação
ou seja, uma atenção que persiste na patologiza- nº 29/2019 reforça a necessidade do debate sobre
ção e medicalização dos processos reprodutivos. a violência obstétrica e que o MS, antes de sugerir
O termo “violência obstétrica”, advindo do o não uso do termo, atue no combate às práticas
movimento de mulheres, atualmente é usado consideradas violentas.
para tipificar e agrupar formas variadas de vio- Seguindo a orientação do MPF, acredita-
lência, agressões e omissões praticadas na ges- mos que o debate sobre a violência obstétrica
tação, no parto, no puerpério e no atendimento contribui para uma melhor compreensão das
às situações de abortamento. Inclui maus tratos mudanças necessárias para se atingir uma assis-
físicos, psicológicos e verbais, assim como pro- tência digna, respeitosa e de qualidade ao ciclo
cedimentos considerados na literatura médica gravídico-puerperal e às situações de abortamen-
como desnecessários e danosos, entre os quais a to. Esse debate se delineia como urgente em um
cesariana sem evidência clínica1,2. Outros termos, país onde a taxa de mortalidade materna ainda
como violência institucional e de gênero, violên- é alta (59 óbitos maternos por 100 mil nascidos
cia no parto e violência na assistência obstétri- vivos, em 20176,7). Algumas práticas realizadas na
ca, circulam no mesmo campo semântico para assistência obstétrica continuam em dissonância
expressar as agressões e negligências durante o com as recomendações mundiais. Um estudo de
ciclo gravídico-puerperal. Nesse sentido, é possí- abrangência nacional8 entre os anos de 2011 e
vel inferir que a violência obstétrica “representa 2012 aponta que 52% dos partos são realizados
a desumanização do cuidar e a perpetuação do por via cirúrgica, quando a Organização Mundial
ciclo de opressão feminina pelo próprio sistema da Saúde (OMS)9 recomenda que essa taxa não
de saúde”1. ultrapasse 15%. Entre as que tiveram seus filhos
Esse arcabouço amplo em que se situa a con- por via vaginal, apenas 5,6% das parturientes
ceituação da violência obstétrica, incluindo não não sofreram nenhuma intervenção. Vale frisar
apenas o campo da clínica médica, mas o dos que esse percentual retrata uma atenção que se
direitos humanos (no qual também estão con- mostra intervencionista, ou seja, que o uso de
tidos os direitos sexuais e reprodutivos), não se técnicas, manobras ou medicações não estão
apresenta de forma simples e sem contradições. ocorrendo com a justa necessidade. E, ainda,
Por um lado, podemos compreender a importân- quando se analisa tais dados a partir do marca-
cia do termo como uma força motora para que dor raça, é possível perceber que os riscos para
os movimentos sociais e as pesquisas ligadas ao as mulheres negras são ainda maiores. É nesse
tema produzam importantes debates e consensos sentido que analisamos as práticas no contexto
conceituais, contribuindo para a construção de obstétrico, para apontar a reprodução de hie-
evidências que visem combater as práticas estru- rarquias com relação a classe social, raça, etnia e
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também de sexualidade. Além da normalização nero, como categoria central de análise, mostra-
e impunidade em relação ao corpo feminino, se insuficiente para evidenciar as experiências e
reproduz-se desigualdades estruturais mais am- complexidades daquelas submetidas às múltiplas
plas10. Retomando as análises do estudo citado, formas de opressão.
verificou-se os piores índices no uso de boas prá- A escritora norte-americana Kimberlé
ticas no parto (ingestão de líquidos ou alimentos Crenshaw17 afirma que as experiências de mu-
durante o trabalho de parto, uso de métodos não lheres que vivenciam discriminações étnicas e
farmacológicos para alívio da dor, mobilidade e raciais são despercebidas quando se aborda mais
uso de partograma) nas regiões Norte e Nordeste. amplamente a questão da raça e do gênero. Ape-
Em 2015, estimou-se que o percentual de sar de não ter sido a primeira a teorizar sobre os
mulheres negras no Brasil era de 52,7%, e de mu- diversos eixos, a autora cunhou o conceito de in-
lheres indígenas 0,4%11. Quando analisamos os terseccionalidade. Este trata especificamente da
dados referentes à saúde reprodutiva e obstétrica, forma pela qual o racismo, o sexismo, a opressão
eles denunciam disparidades raciais no acesso e de classe e outros sistemas discriminatórios se
na qualidade da atenção. Estudo transversal12 re- combinam e se sobrepõem, criando desigualda-
alizado em um hospital público apontou que a des básicas que estruturam as posições relativas
hipertensão crônica é significativamente maior das mulheres. O consenso é que a raça, a classe
em gestantes negras. No entanto, o mesmo com- e o gênero estruturam e legitimam as desigual-
portamento não foi evidenciado com relação dades sociais.
à pré-eclâmpsia, possivelmente pelo número É sob essa lente analítica que este artigo tem
adequado de consultas pré-natais entre as parti- como objetivo compreender e analisar as vivên-
cipantes. No Brasil, as mortes maternas de mu- cias de mulheres negras nos cuidados do parto.
lheres negras são cerca de duas vezes maior em Foram abordadas de que formas se reproduzem,
comparação às de mulheres brancas. A principal legitimam e persistem certas intervenções na as-
causa desses óbitos maternos e a hipertensão, em sistência à gestação e ao parto nos serviços públi-
particular a eclâmpsia13. cos de saúde. À luz das teorias que versam sobre
Uma análise sobre as disparidades raciais nos os estudos de múltiplas interseções, oferecemos
cuidados obstétricos observou que, quando com- uma análise das causas e dos efeitos das desigual-
paradas às brancas, as mulheres que se autoclas- dades sociais na atenção e nos cuidados que en-
sificam como pardas (a partir da classificação do volvem a gestação e o parto de mulheres negras.
IBGE) apresentam maior risco de pré-natal com
menos consultas e ausência de acompanhante. As
que se classificam como pretas, além dos riscos Método
anteriores, são maioria entre as que relatam au-
sência de vínculo com a maternidade de referên- O presente artigo é parte da dissertação escrita
cia, peregrinação e que apresentam riscos mais pela primeira autora, defendida em 2018, que
elevados de não receber anestesia local quando entrevistou apenas mulheres negras. Realizou-se
realizada a episiotomia14. Analisando os percen- uma pesquisa empírica de abordagem qualita-
tuais de mulheres que relataram violência verbal, tiva, salientando-se o caráter indispensável das
física ou psicológica no atendimento ao parto, es- experiências vividas pelas mulheres18. Nessas
ses foram maiores para as negras, de menor esco- entrevistas qualitativas, nossas interlocutoras
laridade, com idade entre 20 e 34 anos e nordesti- trouxeram suas experiências durante a gestação,
nas15. No pós-parto, as mulheres negras são mais o parto e o pós-parto. Os critérios adotados na
vulneráveis ao risco de infecção no sítio cirúrgico seleção das entrevistadas foram: autodeclarar-se
após a cesariana, agravo que tem íntima relação negra ou preta; ser maior de 18 anos; ter filhos
com a baixa qualidade dos cuidados puerperais16. de até dois anos; e que tenha passado pelos servi-
Dessa forma, como raça, gênero e condição ços públicos de saúde (SUS) em algum momento
socioeconômica se sobrepõem e constroem hie- durante esse ciclo. A participação das escolhidas
rarquias no acesso e na qualidade da assistência ocorreu considerando a disponibilidade e o in-
obstétrica? Questionando o suposto universalis- teresse em fazer parte do estudo. Inicialmente,
mo da categoria mulher nos estudos referentes ao convidamos mulheres de um terreiro de matriz
gênero, feministas negras irão enfatizar a interse- africana, em Olinda (PE), indicadas por lideran-
ção de sistemas opressivos e como, em especial, as ças locais. A partir desses sujeitos iniciais, foram
mulheres subjugadas racialmente se encontram indicadas novas participantes entre suas redes de
nesse local de “cruzamentos”. Nesse aspecto, o gê- contatos.
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O período de campo foi de dois meses, trans- SUS, apenas uma participante tinha plano priva-
corridos entre outubro e novembro de 2017. As do de saúde.
participantes são residentes de Olinda, Recife e A partir do conjunto de entrevistas coletadas,
Região Metropolitana, e em geral pertencem aos abordamos os relatos de gestação e parto com
estratos socioeconômicos mais baixos, apesar de o objetivo de ressaltar as práticas institucionali-
a maioria ter ensino superior. Para este artigo, zadas de assistência. Nesse sentido, foi possível
nos dedicaremos a analisar as diversas formas de observar, a partir das narrativas, episódios de
violação obstétrica nos serviços de saúde. Des- violências obstétricas de caráter físico, verbal e
sa forma, escolhemos narrativas criadas a partir institucional. É importante ressaltar que as vio-
da seguinte pergunta central: “Como foi o parto lações e as más práticas não ocorrem em todas
do seu filho/a?”, desdobrando-se em outras por as salas de parto do país, no entanto neste estudo
meio de um questionário semiestruturado. Tam- foram menos frequentes os relatos de uma assis-
bém foi perguntado: “Houve algum procedimen- tência ao parto respeitosa e com o mínimo de in-
to que você não gostou?”; “Se pudesse, mudaria tervenções obstétricas. Por outro lado, percebe-
alguma coisa no atendimento ao parto? Se sim, o mos que o silenciamento da mulher negra pelos
quê?”; “Como foi a relação com os profissionais profissionais de saúde, sobretudo pelos(as) mé-
que a atenderam/auxiliaram no parto?” etc. dicos(as), com violações de direitos concedidos
As entrevistas foram gravadas e, posterior- por lei, o autoritarismo e a forma como ignoram
mente, transcritas na íntegra. O plano de análi- suas dores ainda são muito presentes nas falas.
se baseou-se na análise de conteúdo de Bardin19, Dessa forma, apresentamos um conjunto ana-
que consiste em um conjunto de técnicas aplica- lítico composto por categorias que emergiram do
das no campo das comunicações. Tanto pode ser campo de estudo, delineado pelos itinerários que
uma análise dos significados (análise temática) as participantes da pesquisa narraram. A partir
quanto dos significantes (análise léxica), sistema- dessas experiências, e considerando a realida-
tizando e interpretando de odo objetivo o conte- de obstétrica como um microcosmo20, é possível
údo manifesto das comunicações. analisar as relações sociais, os valores culturais e as
Foi sugerido que elas indicassem os nomes práticas de saúde presentes na assistência ao parto.
fictícios de sua própria escolha, preservando as-
sim o anonimato. Outros nomes citados pelas A cesariana e a busca por consentimento
participantes, como os de companheiros/mari-
dos, familiares ou maternidades foram substituí- Hoje no Brasil a cesariana é a via de nasci-
dos. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética mento mais comum, portanto vista de forma
e Pesquisa do Instituto Aggeu Magalhães (IAM/ normalizada dentro de nossa cultura21. Ainda
Fiocruz) e as entrevistas foram aplicadas me- que a taxa nacional de cesarianas seja alta, é no-
diante a assinatura do Termo de Consentimento tório que o setor privado puxa a média para cima
Livre Esclarecido. (88% ocorrem nesse setor)8. Contudo, o SUS
também apresenta uma alta quantidade de cesa-
rianas (cerca de 46%)8. Nesse cenário, mulheres
Resultados e discussões que buscam a possibilidade de ter um parto por
via vaginal enfrentam dificuldades e resistências,
Ao longo da pesquisa de campo, foram realizadas à medida em que a possibilidade do parto nor-
nove entrevistas qualitativas, no entanto, para mal tem sido simbolizada como algo antigo, atra-
este artigo, apenas os materiais de seis entrevistas sado ou mesmo perigoso21. Tais questões ficam
foram utilizados, permitindo uma melhor com- evidentes no relato de Magnólia, diagnosticada
preensão do fenômeno estudado. O Quadro 1 com miomas uterinos aos três meses de gestação,
resume os aspectos sociodemográficos de nossas que narra como foi pressionada por um médi-
interlocutoras. No que se refere à quantidade e co particular a marcar sua cesariana com ante-
à idade dos filhos(as), uma das mulheres tinha cedência. “O médico disse que eu tava ‘acabada’.
dois filhos(as), um(a) de quatro anos e outro(a) Disse que não sabia nem como essa criança vai
de 1 ano, e as outras cinco tinham apenas um(a) sobreviver dentro de mim. ‘Levante as mãos pro
filho(a), com idades variando entre um mês e um céu! Se bobear essa criança [...] tá pra nascer em
ano e três meses de vida. Em relação à renda, a fevereiro? Não, não sei. Acho que a gente vai tirar,
menor renda familiar mensal relatada foi de R$ vai tirar ela em janeiro’, ele disse.”
800,00, e a maior, R$ 3,700,00. Todas as partici- Diante do exposto, é preciso pensar sobre
pantes tiveram assistência pré-natal e ao parto no as relações de poder que permeiam o encontro
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Quadro 1. Caracteres sociodemográficos das mulheres entrevistadas, Pernambuco, 2017. 
Nome fictício  Idade  Escolaridade  Ocupação  Tipo de parto  Estado civil  Religião 
Loní  22 anos  Ensino médio Autônoma  Cesáreo e Casada  Candomblé 
completo  normal 
Magnólia  32 anos  Ensino Professora e Normal  União estável  Candomblé 
superior  contadora de estórias 
Zizi  26 anos  Ensino Desempregada  Cesáreo  União estável  Católica 
superior 

Sol  28 anos  Mestrado Professora de artes  Normal  Solteira  Umbanda 


incompleto 
Andressa  33 anos  Mestrado  Desempregada  Cesáreo  União estável  Espírita
Kardecista 
Laura  21 anos  Ensino médio Desempregada  Normal  União estável  Sem religião 
completo 
 Fonte: Elaborado pelas autoras. 

entre usuárias e profissionais médicos, e no caso acaba se sobressaindo e que projetos de lei, como
específico deste trabalho, entre as parturientes e a o Estatuto do Nascituro, reforçam esse aspecto,
equipe de saúde. Na relação médico-paciente há é habitual que mulheres sejam induzidas a pro-
uma interação assimétrica modulada pelo saber cedimentos cirúrgicos que antecipam o momen-
e o poder22, ou seja, baseia-se no pressuposto de to do parto, sob a penalidade de serem julgadas
que o conhecimento formal e perito ocupa um ou mesmo criminalizadas por qualquer decisão
lugar privilegiado, conformando assim uma hie- contrária26. Magnólia se mostrou contrária à de-
rarquização de saberes23. Tal assimetria se revela cisão do médico de agendar a operação cesariana:
mais forte se adicionamos outros marcadores so- “Chegar e falar que vai abrir minha barriga e ti-
ciais, como raça e classe. Nesses encontros, quan- rar minha filha um mês antes dela nascer? Eu não
do “o paciente” é uma mulher negra, tal assime- concordo com isso! [...] A criança tem o tempo
tria é reforçada não apenas pelos mecanismos de dela e ela veio no tempo que era pra vir, do jeito
opressão de gênero, mas pela raça. A autoridade que ela quis.”
imposta pelo médico nas decisões terapêuticas Apesar dos medos e incertezas que passou
que envolvem o parto, muitas das quais sem na gestação e de outros episódios de violência,
respaldo clínico, reflete uma desigualdade entre Magnólia teve um parto vaginal, como desejava
usuários e profissionais legitimada pelo saber e a desde o início, e descrito por ela como “um parto
prática da medicina24. humanizado” em uma maternidade pública do
Embora a literatura médica indique um au- Recife (PE).
mento de chances de cesariana em gestantes com
miomas25, a presença de miomas não constitui Ausência institucional como forma
uma indicação absoluta para a via cirúrgica. de violência
Nesse sentido, tendo em vista que a entrevista-
da ainda se apresentava no primeiro trimestre Desde o lançamento do Programa Rede Ce-
de gestação, possivelmente era muito cedo para gonha, um dos principais aspectos enfatizados é
afirmar que a única de via de nascimento do seu a importância da vinculação da gestante, com o
filho(a) seria a cirúrgica. A estratégia de provocar objetivo de combater a peregrinação. Contudo,
medo na gestante é muito utilizada como forma esse continua sendo um problema recorrente na
de responsabilizá-la pelos possíveis riscos para a assistência ao parto27. No acesso aos serviços de
criança. A responsabilidade é direcionada à mu- saúde, a incerteza sobre o local de parto foi rela-
lher, que se sente pressionada pelo profissional, e tada com angústia pelas participantes. “Uma das
em muitos casos pela família, diante da possibi- minhas angústias era, quando eu tiver na hora de
lidade de “gerar” um bebê morto, além do julga- parir, eu vou pra onde? Eu não gostava dessa in-
mento com relação ao descuido com sua própria certeza, isso me aterrorizava! De chegar na hora
saúde. Em uma sociedade em que o status do feto do parto e não ter pra onde ir, de eu não saber
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onde ficar, e se eu ficar no corredor?! Isso por si últimas práticas, pesquisas apontam que seus be-
só já é uma violência, né?! Uma violência na sua nefícios são inconclusivos, não sendo recomen-
cidadania. Porque você já tá de nove meses, com dadas em nenhuma situação30. Sobre o toque va-
a barriga enorme, e você não sabe pra onde vai?! ginal, as entrevistadas narraram:
Acho de uma violência” (Andressa). “Eu olhava “Uma coisa que eu não aguentei foi o to-
para o João, meu marido, e perguntava: ‘Onde que, levei muitos. Acho que o último que eu le-
que minha filha vai nascer, heim?’ Não sabíamos vei foi pro menino sair [...] foi cerca de uns seis
e faltava poucas semanas tecnicamente” (Magnó- toques. Ela disse: ‘Vou dar um toque em você!’
lia). Aí abriu uns centímetros de dilatação. Eu gritei:
A não vinculação da gestante à maternidade ‘Meu Deus do céu!’ Ela disse: ‘Não faça escândalo,
aponta falhas na rede pública de saúde respon- não!’” (Loní).
sável por organizar a atenção materna em sua “É muito dolorido aquilo, ela mete a mão
respectiva região. Isso pode gerar um tipo de vio- toda. Uma [mão] enfia na vagina, a outra aper-
lência que é a “peregrinação” de gestantes para ta na barriga. Dói, nunca senti tanta dor. Eu gri-
conseguir internação no momento do parto. tei, mandei ela parar, é muita dor! Ela disse: ‘Tu
A peregrinação é um grave obstáculo para aguente viu?!’” (Zizi).
a melhoria da qualidade da assistência obstétri- “Levei o toque pela primeira vez, tava mor-
ca no Brasil. Em 2007, foi promulgada uma lei rendo de medo porque todo mundo dizia que
que assegura a vinculação da gestante ao serviço doía, mas não doeu, ela foi bem cuidadosa. De-
hospitalar onde será realizado seu parto, no âm- pois eu levei outro toque, que esse toque me ‘las-
bito do SUS (Lei nº 11.634, de 27 de dezembro cou’ todinha. Ela dizia: ‘Relaxe, relaxe!’. Ela falava
de 2007)28. A precariedade dos hospitais e sua isso e empurrava mais o dedo” (Sol).
incapacidade de dispor de leitos e vagas suficien- Um dos preceitos da humanização da assis-
tes estão associadas aos desfechos desfavoráveis à tência ao parto, presente no Programa de Huma-
saúde materna e perinatal. nização do Parto e Nascimento, é a atenção ética
As incertezas sobre o local de parto e a pe- e solidária por parte dos profissionais de saúde31.
regrinação recaem de forma particular sobre as Apesar dessa recomendação, percebe-se que o
mulheres negras, gerando condições de vulne- não reconhecimento das experiências de dor e
rabilidade. Estudos14,29 revelam que as negras, incômodos das mulheres acaba se caracterizando
quando comparadas às brancas, recebem menos como uma estratégia de silenciamento, uma vez
orientações e são menos vinculadas à materni- que, ao relativizar a dor provocada, repreende-se
dade de referência, gerando um maior risco de o sentimento expressado e determina-se que as
peregrinação na hora do parto. Por estarem me- mulheres devem suportar a dor. É comum ou-
nos vinculadas à maternidade e por receberem vir do profissional de saúde a seguinte frase: “Na
menos informações no pré-natal, os riscos obs- hora de fazer gostou, agora tem que aguentar!”
tétricos são maiores para as mulheres negras. Os Castro e Erviti20 ressaltam os significados diante
mecanismos institucionais de violações de direi- de tal mecanismo de repressão: a mulher deve su-
tos contribuem para a perpetuação de abusos e portar calada qualquer dor referente ao processo
violações dos direitos das mulheres22. de parto uma vez que, em outro momento, des-
frutou do prazer sexual.
Obediência e cooperação: condutas A rotina hospitalar exige que as mulheres
na hora do parto sejam dóceis em suas condutas, a fim de receber
as intervenções médicas rotineiras sem muitos
Outro aspecto importante a ser destacado questionamentos. Umas das condutas passadas às
nessa relação entre a assistência ao parto e o de- mulheres, de forma velada ou abertamente, vista
bate sobre a violência obstétrica diz respeito às na fala “Não faça escândalo!”, é de que devem
posturas autoritárias de profissionais de saúde e obedecer e cooperar. Essa é a lógica institucional
à consequente desvalorização e falta de reconhe- imposta: médico/protagonista/poder ilimitado e
cimento social das parturientes. Nesse sentido, parturiente/papel de cooperar/poder limitado22.
destacamos aqui algumas das práticas nomeadas A figura da mulher “escandalosa” é um pro-
como violências obstétricas e que ainda estão blema para a equipe de saúde, pois quebra o pro-
muito presentes na rotina de alguns hospitais: o cesso de submissão e disciplinamento. Essa mu-
toque vaginal doloroso e repetitivo, a episiotomia lher “indisciplinada” frequentemente sofre maus
(incisão no períneo) e a manobra de Kristeller tratos físicos e psicológicos, são muitas vezes
(pressão no fundo uterino). A respeito das duas abandonadas pela equipe, recebem menos medi-
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cação para dor e escutam comentários agressivos te o trabalho de parto de sua única filha: “[...] o
como os narrados acima32. dia que eu fui parir eles praticamente não toca-
Nos relatos, evidenciamos que a dor provo- ram em mim, só na hora de ‘costurar’”, relatou.
cada diante da manipulação mecânica e abusiva No momento expulsivo, ela afirma a ocorrência
do órgão feminino resulta em uma experiência de laceração, assim a médica que assistiu seu
negativa já no primeiro momento da admissão parto optou por fazer uma sutura nos pequenos
hospitalar. Em geral seu uso permite identificar lábios vaginais. Poucos dias após o parto, ela con-
informações relevantes e deve ser utilizado para ta que teve problemas nos pontos, que abriram.
tomar decisões baseadas em evidências reais. No Procurou então assistência médica, iniciando
entanto, quando realizado de forma irrestrita, uma jornada por atendimento:
provocando dor excessiva à mulher, se configura “A doutora que me atendeu falou que isso não
como um abuso, uma violência obstétrica no tra- era nada de mais, que era uma ‘coisinha’ e que
balho de parto32. dava pra ela fazer, mas como tinha pontos ainda
Além da realização dessa manipulação vagi- cicatrizando ela não ia mexer, que eu teria que
nal desnecessária, a entrevistada Loní narra ou- voltar depois. Aí eu esperei um tempo e voltei,
tras duas intervenções desnecessárias, como a aí quando eu voltei já era outra médica que me
prática da compressão abdominal e a episiotomia atendeu super mal, praticamente me humilhan-
na assistência ao parto de seus dois filhos: do lá. Dizendo que ninguém iria ‘meter a mão’
“Só do primeiro que precisou subir na minha em mim, que quem fez tinha que ajeitar, e que eu
barriga por causa que eu tava anestesiada. Aí su- poderia conviver muito bem com isso” (Laura).
biu um ‘monstro’ em cima de mim e empurrou A entrevistada buscou pela médica que auxi-
ele pra fora. Ela fez força mesmo, parecia um rolo liou seu parto, mas não conseguiu encontrá-la.
compressor o braço dela. Depois ela disse: ‘Eu As queixas foram tratadas como irrelevantes por
tive que fazer, me desculpe?!’ É, fazer o quê? O outras médicas que a examinaram. A prolongada
que eu podia fazer?!” (Loní). busca por atendimento resultou em uma defor-
“O primeiro ia ser cesárea, mas o menino midade em sua vagina. Ao ser questionada como
nasceu normal. Fizeram dois cortes ‘embaixo’. se sentia com seu corpo, ela relatou:
Um de lado, que demorou pra cicatrizar o ponto, “Me sinto mutilada na verdade, pra mim eu
e um reto pra baixo” (Loní). estou mutilada! Mas as médicas todas falavam a
Diante da violência que sofreu, Loní se ques- mesma coisa: que eu poderia conviver com isso,
tionou: “O que eu podia fazer?” O desconheci- que isso não é nada de mais, que é só estética [...]
mento acerca dos abusos experienciados fazem se fosse nelas, elas não iam gostar” (Laura).
com que muitas parturientes incorporem a ne- Laura conta que a última médica que a exa-
cessidade de alguns procedimentos, externando minou, uma ginecologista, encaminhou-a para
aceitação ou consentimento. Algumas mulheres o psicólogo. Laura destaca a insensibilidade das
naturalizam certos abusos médicos, adotando profissionais de saúde, de quem, por serem mu-
uma postura de conformidade22. É importante lheres, esperava solidariedade ou reconhecimen-
ressaltar que a manobra de Kristeller já se confi- to diante de seu sofrimento. Nesse ponto, a iden-
gura como um procedimento não recomendado tidade “mulher” não foi capaz de gerar empatia
pela OMS9, pela possibilidade de causar danos à diante da queixa da usuária. Uma vez que essa
saúde materna e por estar associado a desfechos identidade de gênero se entrecruza com diferen-
desfavoráveis ao recém-nascido. ças associadas à raça e à classe, essas operam na
Nas desigualdades de raça/cor, segundo estu- forma como os indivíduos se estabelecem em re-
do de Leal e colaboradores14, as mulheres pardas lações hierárquicas de poder.
e pretas, quando comparadas às brancas, têm Para Brah33, “estruturas de classe, racismo, gê-
menores chances de serem submetidas ao corte nero e sexualidade não podem ser tratadas como
vaginal. Contudo, quando esse procedimento é ‘variáveis independentes’ porque a opressão de
realizado, as pretas recebem menos anestesia lo- cada uma está inscrita dentro da outra – é consti-
cal. Imagina-se que tais resultados expressam os tuída pela outra e é constitutiva dela”. As institui-
estigmas que reforçam uma construção da mu- ções produzem e naturalizam desigualdades no
lher negra “parideira”, o que dispensaria a “neces- acesso e no tratamento adequado à saúde, deli-
sidade” de um corte, e da mulher negra “forte”, neado sob os eixos de raça, gênero e classe. Por si
mais resistente a dor. só, esses marcadores sociais da diferença não de-
Na experiência de Laura, ela conta que prati- terminam uma posição de opressão e hierarquia.
camente não houve intervenções médicas duran- É por meio das relações sociais que analisamos
4916
Lima KD et al.

se essas diferenças resultam em desigualdades e ne uma experiência positiva para as mulheres,


injustiças33. frisando a necessidade da desmedicalização para
Sobre as discussões que envolvem o gênero, que as práticas obstétricas possam garantir o de-
Crenshaw17 afirma: “Há um reconhecimento senrolar do trabalho de parto dentro do ritmo de
crescente de que o tratamento simultâneo das cada parturiente.
várias ‘diferenças’ que caracterizam os problemas
e dificuldades de diferentes grupos de mulheres
pode operar no sentido de obscurecer ou de ne- Considerações finais
gar a proteção aos direitos humanos que todas as
mulheres deveriam ter” (p. 173). Com este artigo buscamos debater a violência
O fato é que a maioria das mulheres que en- obstétrica a partir das experiências de mulheres
gravidam estão sujeitas a alguma forma violência negras. Apresentamos algumas inquietações so-
obstétrica – seja na gestação, no parto e pós-par- bre esse modelo padronizado de assistência ao
to ou mesmo nas situações de abortamento – nos parto, afirmando a importância de reconhecer a
serviços de saúde. Isso se deve ao fato de ainda parturiente como um sujeito que deveria condu-
termos um modelo institucionalizado de assis- zir o parto.
tência bastante intervencionista e medicalizado, É crescente o número de mulheres que recor-
que perpetua e reforça opressões e hierarquias de rem a uma maternidade pública com o objetivo
gênero, raça e classe. de vivenciarem um parto humanizado ou mais
Crenshaw17,34 utiliza a metáfora de aveni- natural. É preciso reforçar práticas não violentas
das que se entrecruzam para exemplificar o que de assistência na gestação, no parto, no puerpério
entende do conceito de interseccionalidade. Os e nas situações de abortamento, assistidas por di-
eixos de discriminação de gênero, raça e classe versos sujeitos, como enfermeiros(as)-obstetras,
se cruzam e se sobrepõem, frequentemente atin- obstetrizes e parteiras. Eliminar todas as formas
gindo as mulheres racializadas. Segundo a auto- desnecessárias e prejudiciais de intervenções,
ra, estas são “posicionadas em um espaço onde substituindo-as por práticas comprovadamente
o racismo ou a xenofobia, a classe e o gênero se benéficas, e pautar meios não institucionais de
encontram. Por consequência, estão sujeitas a se- assistência.
rem atingidas pelo intenso fluxo de tráfego em Não é possível pensar uma verdadeira equi-
todas essas vias” (p. 177)17. dade de gênero diante de um cenário de violação
As experiências vivenciadas e contadas pelas de todo tipo de direitos das mulheres, entre eles
mulheres negras evidenciam que as violências so- os direitos reprodutivos20. No entanto, acredi-
fridas na assistência ao parto não são sentidas de tamos que nos afastamos ainda mais do fim de
forma homogênea por todas as mulheres. O ter- uma opressão de gênero e raça quando insistimos
mo “superinclusão”, citado por Crenshaw, refere- em “direitos” de uma mulher universal. No que
se às situações em que uma condição que afeta se refere às mulheres negras, há no mínimo uma
de forma desproporcional um grupo específico interseção de dois eixos: raça e gênero.
de mulheres é tratado como um problema unica- A combinação e sobreposição de sistemas
mente de mulheres, sem “reconhecer o papel que opressivos, como o sexismo, o racismo e a explo-
o racismo ou alguma outra forma de discrimi- ração capitalista, marcam a trajetória de vida das
nação possa ter exercido em tal circunstância”17. mulheres negras, conferindo a elas uma posição
O tema da violência obstétrica é frequente- de ampla desvantagem social, inclusive no exer-
mente absorvido pela concepção de gênero. As- cício da sua saúde reprodutiva e nos aspectos que
sim, quando não destacamos que as mulheres envolvem os cuidados no parto.
negras estão mais sujeitas aos riscos de violências As dificuldades em reconhecer os eixos de di-
no parto e de mortes maternas em nosso país, ferenciação podem obscurecer as vulnerabilida-
ocorre o que a autora chama de um problema de des específicas de determinados grupos de mu-
superinclusão. A raça e as formas correlatas de lheres, especialmente quando afetam de modo
vulnerabilidade interseccional contribuem para desproporcional a garantia e o exercício dos seus
a expressividade da mortalidade materna de mu- direitos reprodutivos. O que pesa mais para as
lheres negras no Brasil. mulheres negras na violação de seus corpos não é
Em uma direção que aponta para essa dimen- exclusivamente o gênero.
são interseccional, que desvela realidades, dese- Retomando o conceito de interseccionali-
jos e vivências distintas, a OMS9 vem reforçando dade, percebe-se que esse permite aprofundar o
desde 2018 que a assistência ao parto proporcio- entendimento de desigualdades e hierarquias re-
4917

Ciência & Saúde Coletiva, 26(Supl. 3):4909-4918, 2021


produtivas vivenciadas pelas mulheres negras. Os
assuntos relativos aos direitos reprodutivos das
mulheres, à violência contra a mulher, à violência
obstétrica e a outros temas referentes à opressão
de gênero devem ser cada vez mais abordados a
partir de um conjunto de vulnerabilidades inter-
seccionais.

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