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Periódico do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Gênero e Direito

Centro de Ciências Jurídicas - Universidade Federal da Paraíba


Nº 03 - Ano 2015
ISSN | 2179-7137 | http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/ged/index

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Seção: Saúde, Gênero e Direito

A BIOPOLÍTICA SOBRE A VIDA DAS MULHERES E O CONTROLE


JURÍDICO BRASILEIRO
Naiara Andreoli Bittencourt1

Resumo: O presente artigo tem como escopo regulamentações jurídicas. Após a


a problematização do impacto da biopolítica caracterização teórica acerca da biopolítica,
contemporânea especificamente sobre a vida pretende-se compreender duas concepções da
e sobre os corpos das mulheres, partindo da categoria “gênero”, a partir de Joan Scott e
premissa que há uma diferenciação fulcral no Judith Butler, a fim de pautar a existência de
modo como a biopolítica opera a partir das uma normalização e amoldamento dos corpos
distinções de gênero. Isto é, há intervenções e femininos com base em interesses políticos e
políticas diferenciadas para homens e econômicos globais e intervenções do poder
mulheres que interferem na construção dos soberano mediante políticas e regulamentos
papeis sociais erigidos na sociedade. Para que reafirmam os lugares e espaços definidos
tanto, utiliza-se as contribuições de Michel como de homens e mulheres. Este ponto
Foucault e Giorgio Agamben acerca da relaciona-se com o subsequente a partir da
biopolítica, tentando travar um diálogo com problematização da excessiva medicalização
as duas concepções. Estabelece-se tal relação da vida feminina como forma de controle. O
pela compreensão que ambas fornecem último ponto procura imbricar o debate do
instrumentais teóricos importantes para o Estado, direito, controle e os mecanismos
entendimento do impacto da biopolítica às jurídicos de normalização das mulheres a
mulheres, sob vertentes distintas, porém partir de exemplos paradigmáticos da
complementares, tanto partindo do poder regulamentação jurídica ou de políticas
disciplinar e normalizador quanto do poder públicas voltadas à vida e aos corpos
soberano, sob o qual emerge os discursos e femininos, buscando desvelar o discurso

1
Mestranda na linha de Democracia e Direitos Humanos do Programa de Pós-graduação em Direito da Universidade
Federal do Paraná (PPGD-UFPR), pesquisadora do CNPq-CAPES, vinculada ao Núcleo de Estudos Filosóficos
(NEFIL) do PPGD-UFPR.

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aparente sobre tais intervenções e o papel dos teórica de la biopolítica, es necesario entender
movimentos feministas ao olhar para tal dos conceptos de la categoría "género" de
panorama. Joan Scott y Judith Butler, con el fin de
Palavras-chave: biopolítica; mulheres, vida; orientar a la existencia de una estandarización
gênero; direito. y modelo de los cuerpos femeninos sobre la
base de intereses globales tanto políticos
Resumen: Este artículo pretende cuestionar como económicos y las intervenciones del
el impacto de la biopolítica contemporánea, poder soberano a través de políticas y
específicamente sobre la vida y el cuerpo de reglamentos que reafirman los lugares y
las mujeres, comenzando por la premisa de espacios definidos como de hombres y de
que existe una diferencia fundamental en la mujeres. Este punto se relaciona con el
forma en que la biopolítica opera a partir de posterior a partir de la problemática de la
las distinciones de género, es decir, existen medicalización excesiva de la vida de las
diferentes políticas e intervenciones para los mujeres como una forma de control. El último
hombres y las mujeres que interfieren en la punto busca instar el debate del Estado sobre
construcción de los roles sociales erigidos en el control y los mecanismos jurídicos de la
la sociedad. Con este fin, se hace uso de las normalización de las mujeres a partir de
contribuciones de Michel Foucault y Giorgio ejemplos paradigmáticos de las normas
Agamben sobre la biopolítica, tratando de legales o de políticas públicas para la vida y
recuperar el diálogo de los dos conceptos. Se los cuerpos femeninos que buscan descubrir
establece esta relación mediante la el aparente discurso sobre este tipo de
comprensión de que ambos proporcionan intervenciones y el papel de los movimientos
importantes instrumentos teóricos para feministas para entender este panorama.
entender el impacto de la biopolítica en las
Palabras claves: biopolítica; mujeres; vida;
mujeres, de diferentes maneras, pero
género; Derecho.
complementaria, tanto a partir de la potestad
disciplinaria y la normalización como por el
poder soberano en virtud del cual se 1. O que é a biopolítica?
desprende de los discursos y reglamentos O biopoder, para Foucault (2010, p.
legale. Una vez realizada la caracterización 201) é uma forma de poder que surge no

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século XVIII e se torna um dos “fenômenos de seres que forma uma massa global “afetada
fundamentais do século XIX”, como um por processos de conjunto” que são comuns
“poder que gera a vida”, interfere não da vida (2010, p. 204).
somente no corpo, mas na vida dos sujeitos e Há uma “gestão calculista da vida”, de
nos processos biológicos desses sujeitos, sujeição dos corpos e controle de populações
como a morte, o nascimento, a produção, a ao eclodir nas práticas políticas a gestão da
doença, etc. Dirige-se às populações como natalidade, da saúde, longevidade,
forma de intervenção e controle de massas, sexualidade, habitação, epidemias e
enquanto questão política, biológica e migração. De tal forma, o biopoder tornou-se
científica numa espécie de “estatização do indispensável ao desenvolvimento do
biológico”, isto é, os Estados realizam capitalismo, como uma garantia de
cálculos da gestão de poder focados em ajustamento populacional em massa aos
populações conforme certos mecanismos de processos econômicos por meio da utilização
controle biológico. Tais mecanismos são as de técnicas de controle mais fluídas, menos
previsões, as estimativas, estatísticas, aparentes quanto à sua brutalidade, nas
medições globais para intervir nos fenômenos instituições já criadas pelo capital, como a
gerais. família, o Estado, o exército, as escolas, a
Nesse sentido, passou-se de um poder polícia (Foucault, 1988, p. 152/154).
soberano que fazia morrer e deixava viver Assim, sobreposta ao poder
para um novo direito que se instala a partir da disciplinar ainda marcado na sociedade de
máxima de “fazer viver e de deixar morrer” controle capitalista, está o biopoder, como
(Foucault, 2010, p. 202). Sobrepõe-se a uma uma possibilidade de extensão e ampliação
técnica de controle dos indivíduos desse controle às populações, um corpo
centralmente focadas nos corpos pelas formas múltiplo que surge como problema político,
de disciplina, vigilância e da normalização científico e biológico (Foucault, 2010, p.
uma técnica que a engloba e a amplia, 206). A partir da análise das populações
focando não apenas no corpo do indivíduo, realizada pelas estatísticas, previsões,
mas na vida. E essa vida não representa a vida estimativas, há uma intervenção em diversos
singular dos seres humanos, mas a graus (Estado, mercado, instituições) para
multiplicidade de humanos, o agrupamento “otimizar um estado de vida”, em que a

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disciplina individual é somada a uma recente dos séculos XVIII e XIX. Para o
regulamentação coletiva que faz viver e deixa filósofo o que se torna decisivo na
morrer (Foucault, 2010, p. 207). E o “fazer modernidade é o “processo pelo qual a
viver” não implica somente numa percepção exceção se torna em todos os lugares a regra,
objetiva do viver, mas uma intervenção em o espaço da vida nua, situado originalmente à
“como viver”, ou seja, sobre a maneira como margem do ordenamento, vem
se vive (2010, p. 208). progressivamente a coincidir com o espaço
Há, portanto, duas formas de controle político, e exclusão e inclusão, externo e
no capitalismo tecnológico: o disciplinar e o interno, bíos e zoé, direito e fato entram em
regulamentador que se associam e se uma zona de irredutível indistinção”
articulam. O primeiro voltado ao organismo (Agamben, 2014, p. 16).
individual, ao corpo que se pretende Agamben (2014, p. 9) retoma os
normalizar e disciplinar por meio das termos gregos bíos e zoé, a partir de seu
variadas instituições erigidas nesse sistema. método arqueológico para explicar as
O segundo voltado às populações e exercido vicissitudes do presente. Zoé refere-se ao
prioritariamente pelo Estado através da simples fato de viver idêntico a todos os seres,
biorregulamentação (Foucault, 2010, p. 210). incluindo humanos, animais e deuses. Já a
O direito emanado do Estado que se bíos é o nome atribuído a um modo de viver,
apresenta na lei sua forma explícita se própria de um simples indivíduo ou de uma
encarrega de regular e corrigir a vida e coletividade. A bíos, portanto, significa “uma
distribuída em inúmeros aparelhos vida qualificada, um modo particular de
reguladores, como os médicos e vida”, uma vida complexa. Zoé é a vida do
administrativos (Foucault, 1988, p. 157). A indivíduo ou do grupo utilizada pelo autor na
norma da disciplina e a norma da compreensão da biopolítica contemporânea,
regulamentação se inter-relacionam aquela que relega seres humanos à condição
formando uma sociedade da normalização. de banimento, formando uma verdadeira
Já na percepção de Giorgio Agamben, barreira entre os banidos e os não banidos, os
a tese foucaultiana deveria ser corrigida no que vivem uma vida “desqualificada”, e os
que concerne a inclusão da vida (zoé) na que vivem uma vida “qualificada”.
política como um fenômeno relativamente

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Aparentemente, numa leitura seja vida nua” (Agamben, 2012). A
superficial de Agamben, pode-se pensar que biopolítica, mediante estruturas do biopoder,
há uma propositura de retomada dessas evidencia que a “vida nua” passa a coincidir
categorias clássicas. Ocorre que para ele, na com o espaço político, em que os sujeitos da
política ocidental, não há mais a diferença vida nua representam o não-sujeito.
entre bíos e zoé, entre vida privada e “O espaço da vida nua que antes era
existência política. A recuperação dessas situado fora do ordenamento, coincide com o
categorias não tem outro sentido que não espaço político, e exclusão/inclusão,
crítico. O corpo biológico não é mais externo/interno, direito e fato entram numa
discernível do corpo político. “É o zona de indistinção” (Agamben, 2014, p.16).
entrelaçamento da zoé e bíos que parece A partir do momento em que a zoé (não a vida
definir o destino do Ocidente” (Agamben, em geral, como para Foucault) ingressa na
2014, p. 182). vida política, não há mais distinção entre bios
Outra forma conceitual utilizada por e zoé. “A dupla categorial fundamental da
Agamben é a vida nua, tal qual uma política ocidental não pode mais ser vista
desqualificação da vida, identificada na como amigo-inimigo, mas sim vida
figura do homo sacer. A vida nua é uma nua/existência política, zoé/bíos,
produção específica do poder e não um dado exclusão/inclusão” (Agamben, 2014, p. 15).
natural. “A vida nua foi excluída da política A fim de clarificar como se apresenta
e, ao mesmo tempo, foi incluída e capturada a vida nua é importante retomar a figura do
através da sua exclusão. (...) Tal separação Homo Sacer. É uma figura do direito romano
atinge sua forma extrema na biopolítica que representa uma sacralidade da vida, qual
moderna, na qual o cuidado e a decisão sobre seja um homem condenado que não pode ser
a vida nua se tornam aquilo que está em jogo morto num ritual. Contudo, quem o mata não
na política”. É o poder e a ciência que é punido por homicídio. Isto é, uma figura
decidem, em última ratio, sobre o que é uma marcada pela matabilidade, mas pela
vida humana e sobre o que ela não é. “Contra insacrificabilidade. O homo sacer está,
isso, se trata de pensar numa política das portanto, numa “zona que precede a distinção
formas de vida, a saber, de uma vida que entre sacro e profano, entre religioso e
nunca seja separável da sua forma, que jamais jurídico” (Agamben, 2014, p. 74/76). O homo

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sacer está permanentemente exposto à entre domínio totalitário e aquela particular
violência e encontra-se numa zona de condição de vida que é o campo”, mas não
indistinção entre bíos e zoé e representa a consegue perceber que o processo é de
forma mais clara da decisão do soberano, na maneira inverso e “que precisamente a radical
possibilidade da sua decisão de exceção sobre transformação da política em espaço da vida
essa vida (Agamben, 2014, p. 85)2. nua (ou seja, em campo) legitimou e tornou
Retomando a problematização acerca necessário o domínio total”. Agamben (2014,
da biopolítica, deve se esclarecer que o p. 117) conclui, portanto, que somente porque
fundamento de todo projeto de Agamben está a política se tornou biopolítica que ela
na compreensão de que a política hodierna é assumiu seu rosto até então desconhecido de
biopolítica. Para tal, Agamben, percorre o política totalitária.
pensamento de Michel Foucault Hannah O conceito de vida nua, para
Arendt. Com Foucault trabalhou com a Agamben (2014, p. 117) é o que determina a
biopolítica a partir da “administração dos convergência dos pontos de vista de Foucault
corpos” e da “gestão calculista da vida”, e Arendt, somada a contribuição do poder
tendo suas pesquisas se centrado em soberano. A biopolítica se consolida em
instituições de normalização e dominação, conjunto com a exceção do poder soberano.
como hospícios, prisões e escolas. Contudo, Não há ruptura entre biopoder e poder
sua pesquisa não chegou aos campos de soberano, ou mais especificamente entre a
concentração, o que para Agamben se biopolítica e o poder soberano, pois a
apresenta “como local por excelência da estrutura originária deste poder tem uma
biopolítica moderna: a política dos grandes relação profunda e peculiar com a vida, cuja
Estados totalitários do Novecentos” (2010, p. relação mais próxima é a da exceção. Pois a
116). soberania significa sempre a exposição da
A partir de Hannah Arendt que, no vida à violência, consequentemente, ao poder
pós II Guerra, percebe “com clareza o nexo da morte; e o exercício do poder soberano

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Talvez o exemplo mais percebível em seu modo los, contudo milhares de vidas são exterminadas pelas
chocante da demonstração do poder soberano sobre a políticas austeras dos governos em barrar o trânsito de
vida seja a crise de migrações sofrida nos mais pessoas em sua forma mais brutal. A vida do imigrante
diversos países do globo. A vida dos imigrantes é a é a pura vida nua, desprovida de qualquer qualificação,
vida nua, eles representam o homo sacer na medida em em que os Estados deixam morrer, sem haver qualquer
que nenhum Estado ou poder está autorizado a matá- tipo de responsabilização por isso.

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implica em um jogo de inclusão e exclusão, que estabelecem os limites além dos quais
característico do estado de exceção. A haverá somente vida sacra. Como reflete
manifestação da biopolítica contemporânea, Agamben, “no horizonte biopolítico que
para Agamben é a contínua e interminável caracteriza a modernidade, o médico e o
necessidade de se redefinir o limite que cientista movem-se naquela terra de ninguém
separa aquilo que é incluído daquilo que é onde, outrora, somente o soberano podia
excluído dos fenômenos jurídico-políticos. penetrar” (2014, p. 155).
Ademais, a biopolítica moderna opera Desta forma, o que se pretende ao
por meio de um paradoxo: quanto mais o relacionar as contribuições de Foucault e
homo sacer reivindica direitos de liberdades, Agamben é estabelecer instrumentais teóricos
mais insere sua vida na ordem estatal pela para a compreensão da biopolítica, em suas
regulação (Agamben, 2014, p. 118). Neste múltiplas manifestações e complexidades a
sentido, “vida e morte não são propriamente fim de evidenciar suas formas mais
conceitos científicos, mas conceitos políticos específicas de controle, como ocorre com as
que, enquanto tal, adquirem um significado mulheres.
preciso somente através de uma decisão”,
pelo exercício do poder soberano, num 2. Gênero e biopolítica: a
entrecruzamento entre ciências políticas, normalização hierárquica
médicas e biológicas (Agamben, 2014, p.
160). A bipolítica, embora tenha campos
No contexto atual, o soberano é vastos de interferência e controle das
aquele que tem o poder de decisão acerca do populações, atua sobre o sexo e os gêneros,
valor ou desvalor da vida dos sujeitos. Há diferenciando e normalizando tais
uma verdadeira pulverização do centro de populações, em que há um grande foco de
decisão soberana, que agora não reside mais disputa política. Há o controle sobre o corpo
unicamente sob apenas um gabinete ou sob as e o amoldamento aos critérios dos gêneros
mãos do chefe de Estado. A decisão sobre a feminino e masculino e da sexualidade dos
vida jurídica e politicamente relevante sujeitos conforme os anseios de adequação
(portanto, vida que merece ser vivida) muitas em papeis sociais com o objetivo de produção
vezes está nas mãos de cientistas e médicos, e reprodução de um modelo de construção

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social existente. A partir do controle do sexo, caracterização dos indivíduos e determinação
“escalona-se toda uma série de táticas de certos lugares de poder a partir de
diversas que combinam, em proporções cientificidades biológicas elaboradas para a
variadas, o objetivo da disciplina do corpo e justificação de regimes de poder produtivos.
o da regulação das populações” (Foucault, Butler (2013, p. 97) esclarece que a
1988, p. 159). criação de dois sexos distintos e uniformes
Para Foucault, nos últimos dois implica repressão e punição de qualquer
séculos houve uma “política do sexo”, forma de manifestação social de não
compondo as técnicas disciplinares com os identidade, de descontinuidade ou
mecanismos reguladores que incidem sobre incoerência sexual. A afirmação de que um
os sujeitos em sua individualidade, mas sobre corpo é de determinado sexo não é puramente
as populações de forma geral de forma a descritiva, mas sim uma demonstração
normaliza-los desde a infância. Sobre as discursiva “de acordo com princípios de
mulheres, em especial, a partir da coerência e integridade heterossexualizante,
biologização da “histeria”, medicalizou-se inequivocamente como macho e fêmea”
intensamente e minuciosamente seus corpos e (Butler, 2013, p. 99).
sua sexualidade, tudo “em nome da Ocorre que a coerência imposta nas
responsabilidade que elas teriam no que diz relações de poder é masculina, ou seja, o
respeito à saúde, à solidez da instituição feminino é ocultado, apagado a partir da
familiar e à salvação da sociedade” (Foucault, construção do sexo masculino como “um”,
1988, p. 160), isto é, o adestramento dos como neutro e universal, e o feminino é
corpos femininos para as funções de apenas o reflexo dele (Butler, 2013, p. 101).
reprodução e para a anulação de sua No entanto, utilizar a categoria de
sexualidade em prevalência à masculina “sexo” para trabalhar as questões que
(Foucault, 1988, p. 167). envolvem relações de poder entre homens e
Desta forma, como indica Foucault mulheres, entre o feminino e o masculino é
(1998), o sexo e a sexualidade estiveram insuficiente e recai em biologicismos e
impreterivelmente conectados ao poder. A essencializações próprias do controle sobre
partir de uma construção histórica, o sexo os corpos, retirando o caráter histórico da
passou a ser considerado identidade,

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construção dos papeis sociais protagonizados precursora da teoria queer, o sexo também é
por homens e mulheres. construção social e cultural, aprisionando o
Assim, a categoria gênero melhor gênero numa matriz heterossexual
evidencia o corpo como construção social e compulsória. Gênero seria, portanto, uma
das investidas normalizadoras sobre os performance, isto é, certas ações, signos,
indivíduos e da biopolítica sobre as culturas e atos que constroem corpos
populações. De início utiliza-se a masculinos e femininos. Por ser performance,
problematização de Joan Scott (1990), de não haveria uma substancialidade do gênero,
gênero como categoria histórica analítica que "mas um ponto relativo de convergência entre
refuta determinismos biológicos do sexo, a conjuntos específicos de relações, cultural e
fim de explicar a maneira em que se dão as historicamente convergentes" (Butler, 2003,
construções sociais impostas aos corpos p. 29). A performance do gênero deriva,
sexuados, o que está imbricado em relações portanto, de normas que se edificam ao longo
de poder, em lógicas binárias, duais e da história, mas que estão em constante
hierárquicas. Para a autora, “gênero é a processo de transformação. A partir dessas
organização social da diferença sexual normas, estabelece-se que os indivíduos
percebida. O que não significa que gênero devem ser alinhados quanto ao sexo, gênero e
reflita ou implemente diferenças físicas e prática sexual, e ademais, sobre as
naturais entre homens e mulheres, mas sim performances que devem ser empenhadas por
que gênero é o saber que estabelece eles ao longo da vida e na sociedade.
significados para as diferenças corporais” Deste modo, há uma padronização de
(Scott, 1994, p. 13). Gênero, portanto, é uma performances ou de papeis sociais (a
categoria fundamental de análise que depender do fundamento teórico adotado)
organiza as relações sociais por meio de uma que separam e hierarquizam homens e
estrutura de identidade pessoal. mulheres, determinados basicamente pelo
Butler, ao revés, pretende dissipar a controle do sexo e a imputação de gêneros.
dualidade entre sexo e gênero, Esse “poder normalizador” que opera por
desconstruindo as teorias feministas que meio de sanções, exames e disciplina dos
trazem que sexo é um atributo biológico e corpos femininos e masculinos atua
gênero seria uma construção social. Para ela, especificamente sobre os sujeitos, moldando-

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os e alinhando-os. Desde a infância, meninos biopolítica de gênero porque estabelece que
e meninas crescem separados, aprendem não há ruptura entre biopoder e poder
modos diversos de brincar, de se comportar, soberano, ou mais especificamente entre a
têm cores estabelecidas de forma diversa, têm biopolítica e o poder soberano. Isto é, ainda
lugares específicos e prioritários de onde que exista o poder disciplinar que atue sobre
devem brincar ou mesmo se devem ou não os corpos individuais, o poder soberano por
ajudar nos afazeres familiares. Tais meio da biopolítica expõe as mulheres a uma
construções estabelecem-se na família, na maior forma de controle e julga suas vidas de
escola e se perpertuam nas igrejas, no uma forma diferenciada, valorando e
trabalho, etc. desvalorando suas vidas conforme os
Ocorre que o poder normalizador em interesses políticos e de mercado.
seu âmbito individual é ineficaz quando se Além disso, é crescente a incidência
trata de uma conformação de papeis sociais e da medicalização da vida e do controle sobre
representações de populações masculinas ou os corpos femininos de uma forma muito
femininas. É necessário mais, vez que o específica, a partir dos saberes médicos e
sistema produtivo, como afirmava Foucault, científicos edificados no capitalismo pós-
deve guiar as funções de homens e mulheres guerras. Há uma direção de privar o corpo
de uma forma que o sirva com mais daquilo que constitui a própria humanidade.
propriedade, garantindo que as funções de Uma humanidade que se isenta da dor, de
produção e reprodução sejam executadas de desconfortos, incômodos, “defeitos” e
forma mais benéfica à acumulação limitações numa sociedade que é
capitalista. Ao mesmo tempo em que igualar homogeneizada e higienizada pela tecnologia
formas políticas de controle de vida para e pela medicalização da vida, como
homens e mulheres é desmantelar certas
relações de poder entre os gêneros, e estas supressão da menstruação de mulheres
saudáveis através da utilização de
relações devem ser mantidas para os sujeitos procedimentos químicos e cirúrgicos; as
histerectomias (remoção do útero) e
que ocupam o centro da dominação da ooferectomias (remoção dos ovários)
desnecessárias; os partos cirúrgicos que
biopolítica contemporânea: os homens. se instalam como padrão ‘moderno’ de
A contribuição de Agamben (2014) parir e nascer; a terapia de reposição
hormonal; a contracepção química dos
torna-se importante no que concerne à implantes de longa duração; a
esterilização; a reprodução assistida e

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todos os seus procedimentos e técnincas Como já observado, as formas de
complementares (Rotania, 2000, p.
16/17). incidência biopolítica atuam de forma
diferenciada sobre a vida masculina e
É a partir de uma demanda por
feminina, a depender de um padrão de
inserção das mulheres no mercado de
controle e perpetuação de modos de
trabalho de forma massiva e precarizada que
existência diferenciados para cada gênero.
técnicas de controle de natalidade e de
Isso se torna evidente ao observarmos as
artefatos ginecológicos e contraceptivos
maiores políticas públicas alinhadas com o
começam a ser desenvolvidos, como é o caso
mercado (industrial e farmacêutico,
da pílula anticoncepcional, famosa por ser
principalmente) que se dirige
considerada a libertação da mulher do âmbito
especificamente às mulheres, como é o caso
privado. Ocorre que tais políticas públicas,
do controle de natalidade, do controle sobre a
apesar do discurso, não servem simplesmente
normalização dos corpos e da sexualidade
a uma libertação feminina, num sentido
objetivando minar as especificidades
maniqueísta de análise da biopolítica. O que
biológicas ao mesmo tempo em que reitera
se quer ressaltar é que houve um
papeis sociais diferenciados.
direcionamento tecnológico científico de
Mas como isso ocorre? O exemplo da
amoldamento dos corpos femininos, a partir
pílula anticoncepcional talvez seja o mais
de uma artificialização, para que a expansão
elucidativo de como a tecnologia reforça os
dos setores produtivos e alocação das
sistemas de gênero na divisão sexual do
mulheres no mercado com base na divisão
trabalho. Isto porque a pílula
sexual do trabalho. Ao mesmo tempo em que
anticoncepcional, impulsionada na década de
não eliminou a extrema valorização das
1960 na Europa e na América Latina na
diferenças biológicas entre os sexos feminino
década seguinte, não somente tinha o condão
e masculino, a fim de ressaltar os lugares e
de separar a sexualidade da reprodução, mas
espaços pré-definidos de homens e mulheres.
de fornecer instrumentos de adaptação das
mulheres à reestruturação produtiva. E isso
3. As intervenções sobre os corpos e as
foi se ampliando ao longo das décadas, até a
vidas das mulheres: a medicalização da
consolidação deste método contraceptivo não
vida
apenas como controle da natalidade, mas

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como controle dos corpos femininos e de seus
Ademais, isso explica porque tal
efeitos biológicos naturais ao minar qualquer
controle de natalidade não se ateve a uma
sintoma que anteceda a menstruação
pesquisa científica eficaz que possibilitasse a
feminina e impossibilitar uma justificativa de
criação de métodos contraceptivos que
ausência no trabalho, de dores ou de baixo
atuassem sobre os corpos masculinos,
rendimento, por meio de uma artificialização
cabendo exclusivamente à mulher a tarefa de
que proíbe as mulheres de sentirem. O trecho
coibir uma gravidez, onerando
abaixo é bastante elucidativo:
completamente os homens deste cuidado.
Neste sentido, a pílula Isso implica também em uma série de efeitos
anticoncepcional se caracteriza por ser
um dentre os vários artefatos técnicos de severos aos corpos das mulheres visivelmente
grande valor político por assegurar a comprovados como tromboses, riscos no
manutenção da biopolítica, reforçando
as condições de gênero estabelecidas ao sistema vascular, espécies de câncer e
indivíduo feminino por meio de
intervenções constantes sobre seu corpo. doenças cardíacas. Também há pouco ou
Os métodos contraceptivos são
apresentados como tecnologias que nenhum investimento em métodos
aumentam a liberdade da mulher ao
poder escolher livremente seu contraceptivos naturais ou menos agressivos
contraceptivo, mas isto na realidade aos corpos, sendo desconsiderados nas
facilita uma situação em que o controle
do indivíduo feminino sobre sua própria faculdades e consultórios médicos, estes já
fertilidade é substituído pelo controle de
organizações de planejamento familiar atrelados às indústrias farmacêuticas.
ou até do próprio Estado, provando que
os contraceptivos não são artefatos Outro fator crucial é a
neutros e se comportam como delegados
técnicos: artefatos que são desenhados experimentação de tais medidas das
especificamente para certos fins. Desse indústrias farmacêuticas transnacionais de
modo, as práticas biopolíticas de
cuidado e incremento da vida da testes de tais medicamentos nos países de
população, com atenção especial à
promoção da utilidade e docilidade do capitalismo periférico, especialmente na
corpo e gênero feminino, tornam--se
potencializadas e amplamente África e na América Latina, até apresentarem
disseminadas pelo incremento do fator
tecnológico, que, livre de sua testes relativamente aceitáveis para serem
neutralidade e submetido a interesses comercializados nos países de capitalismo
sociais particulares, emerge como um
instrumento--chave dentro de uma rede central3, movimentando bilhões de dólares
de dispositivos de segurança (Guizzo;
Invernizi, 2012, p. 126). anuais.

3
Informação disponível em: arquivadas/32553-a-historia-geopolitica-da-pilula.
http://www.ihu.unisinos.br/noticias/noticias- Acesso em: 20/09/2015.

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Tudo isso implicou numa crescente o papel hierarquicamente inferior quanto à
medicalização da vida das mulheres, de forma distribuição de poder na sociedade. E isso fica
a moldar seus corpos a certa composição perceptível ao observarmos as políticas
produtiva que se forjava, na medida em que públicas e a regulamentação jurídica sobre as
seu trabalho tornou-se impreterível à mulheres no Estado brasileiro, por exemplo,
movimentação capitalista. Se já havia se que reproduz a contradição da tentativa de
criado técnicas de normalização e controle da liberar as mulheres para os postos de trabalho
subjetividade e individualidade de cada externos, sem alterar a condição com que elas
mulher no mercado de trabalho produtivo e ocupem esses espaços, sendo os postos mais
reprodutivo, assentando funções de cuidado, precarizados, com menos direitos trabalhistas
limpeza, sexualidade, funções de menor valor e sociais, além de reafirmar enquanto Estado
social agregado com base numa atribuição o papel de responsáveis da saúde, da solidez
biológica, era preciso implementar da instituição familiar e da salvação da
biopolíticas que interferissem em como essas sociedade.
mulheres enquanto populações fossem
4. Estado, direito e controle:
normalizadas a um sistema produtivo cada
mecanismos jurídicos de normalização das
vez mais flexível, com intensidade produtiva,
mulheres.
maior extorsão do rendimento do trabalho,
Qual é a relação entre o mundo da
mas sem perder suas características
norma disciplinar e biopolítica com o mundo
primordiais construídas de reprodução,
do direito? Tal relação não é aparente em
cuidado e maternidade.
Foucault. Ou se aborda o poder com os olhos
Isto é, cada vez mais o Estado
sobre os procedimentos de normalização ou
capitalista passa a se preocupar em políticas
se utiliza a ideia de soberania. Contudo, o
globais voltadas às mulheres, não apenas num
filósofo jamais aduziu haver uma
sentido afirmativo buscado pelos
incompatibilidade entre tais formas de poder,
movimentos sociais feministas de igualdade,
mas somente uma diferença. Na verdade, há
mas num sentido de controle, teste e
cumplicidade e articulação entre as esferas
arrecadação de lucros ao mercado, com a
jurídica e disciplinar. Pode haver uma
criação de nichos específicos de consumo e
implicação entre direito e norma, o direito
trabalho, mas sem alterar significativamente
pode veicular o poder da normalização. A

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sociedade da normalização funciona também Mas como a ingerência sobre a vida a
pelo direito, invadido pelo bipoder e pela partir do poder soberano, do direito, das
disciplina. Formam círculos que se superpõe regulamentações jurídicas, do estado de
parcialmente, mas que ao mesmo tempo exceção valoram ou desvaloram as vidas das
mantêm uma área não invadida pelo outro mulheres de forma diferenciada da vida
(Fonseca, 2004). masculina? Como a sexualidade e o poder
O autor que problematiza mais a normalizador também perpassam pelo direito
questão jurídica é Agamben ao trazer a e se conformam na biopolítica
relação do poder soberano, do direito e da contemporânea? Para Foucault (1988, p.
biopolítica utilizando a figura do “estado de 161), a sexualidade “encontra-se ao lado da
exceção”. Para Agamben (2004, p. 13), os norma, do saber, da vida, dos sentidos, das
Estados modernos constituem-se na disciplinas, e das regulamentações”, ou seja,
intersecção entre o jurídico e político, entre a está presente em todos os âmbitos de poder,
ordem jurídica e a vida, como um “patamar como identificar sua apresentação no sistema
de indeterminação entre democracia e jurídico?
absolutismo”. Neste sentido o estado de São incontáveis os exemplos
exceção é “paradigma de governo da política paradigmas que poderíamos citar ao longo da
contemporânea” e tem total e direta relação regulamentação biopolítica do Estado sobre a
com a biopolítica ao decidir sobre a vida, vida e os corpos femininos, isso também seria
sobre o valor de cada vida, sobre quem fazer diferenciado depender do espaço geopolítico
viver e deixar morrer. Sendo assim, não se que nos referenciamos. As formas de controle
sobrepõe ou está alheio a ordem jurídica, está sobre as mulheres são diversas a depender do
inerentemente conectado a ela. O estado de lugar que ocupam as nações no capitalismo
exceção torna-se a regra, não se coloca como globalizado (norte-sul, por exemplo), das
medida excepcional, mas como paradigma de matrizes culturais e religiosas (um Estado
governo (Agamben, 2004, p. 18). É a laico ou fundamentalista) e das construções e
“tentativa de incluir na ordem jurídica a avanços sociais nestes países. Aqui
própria exceção, criando uma zona de abordaremos algumas questões do Estado
indiferenciação em que fato e direito brasileiro, como forma de exemplo, sem
coincidem” (Agamben, 2004, p. 42).

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adentrar nas especificações que essas de doenças e epidemias no que tange à
questões citadas apresentam. sexualidade, muitas vezes ainda em forma de
Para além da realidade concreta4, o testes, como é o caso da vacinação da HPV.
que ocorre é que o sistema jurídico brasileiro, Alguns desses exemplos serão ilustrados para
ainda que em termos gerais formais propague demonstrar a desigualdade da biopolítica
uma igualdade de gênero, acaba por sustentar brasileira.
uma desigualdade material abissal, ao No que se refere aos crimes
reafirmar papeis sociais e posições desiguais especificamente de mulheres Isso é
entre os gêneros, tanto em termos normativos evidenciado quando se verifica no Código
quanto na concretização de políticas públicas. Penal que não existe nenhum crime tipificado
É sobre as mulheres que recaem tipos exclusivamente ao sexo masculino, não
penais exclusivos, como o aborto e o determinando nenhuma conduta específica
infanticídio no Código Penal Brasileiro; é que seja relacionada com o fato de ser
para as mulheres que se voltam as políticas de homem. Todavia, há diversos crimes
controle de natalidade e medicalização dos direcionados apenas às mulheres,
corpos para os métodos contraceptivos, assim dependendo de seu sexo para o
como a responsabilização quase que integral enquadramento legal, como os crimes de
pela geração e reprodução da vida; é sobre as aborto, infanticídio, e anteriormente os
mulheres que se voltam políticas de controle

4
As mulheres representam 56,5% da população ainda a maior parcela de desempregados ou
desocupada, embora sejam 53,6% da população em desocupados no Brasil. Aproximadamente 35,5% das
idade ativa; que em relação a média anual dos mulheres estavam inseridas no mercado de trabalho
rendimentos dos homens e das mulheres, verificou-se como empregadas com carteira de trabalho assinada,
que, em média, as mulheres ganham em torno de percentual inferior ao observado na distribuição
72,3% do rendimento recebido pelos homens. Essa masculina (43,9%). Já quanto à distribuição de poder
diferença pode chegar a 55% se considerados os político, no Brasil, embora representem 51,7% dos
critérios raciais e de gênero, ou seja, uma mulher negra eleitores brasileiros, a participação das mulheres na
recebe apenas 45% do que recebe um homem branco. Câmara dos Deputados é de 9%, número semelhante
Se observados os postos de trabalho ocupados, aos 10% registrados no Senado. Sofrem ainda, de
percebe-se que há um predomínio intenso de estrondosa violência doméstica, sexual, institucional e
ocupações de mulheres nos serviços domésticos, simbólica e chefiam sozinhas 37,4% das famílias
representando cerca de 94,5% dos trabalhadores do brasileiras. Todas as informações estatísticas estão
setor (contra 5,5% dos homens). Já no setor industrial, disponíveis no relatório produzido pelo IBGE em 08
da construção, do comércio e de serviços prestados a de março de 2010. Disponível em:
empresas é abissal a preponderância masculina. Em http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/t
relação à participação no mercado de trabalho, as rabalhoerendimento/pme_nova/Mulher_Mercado_Tra
mulheres em idade ativa ao mercado de trabalho estão balho_Perg_Resp.pdf. Acesso em: 20/03/2014.
em maior numero, mas ao mesmo tempo representam

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crimes de sedução, casa de prostituição, lugar, para representar simbolicamente o
adultério, posse sexual mediante fraude, etc. papel conferido às mulheres na esfera de
Segundo Baratta, (1999, p. 45). “o reprodução natural e, em segundo, para
Direito Penal é um sistema de controle assegurar o domínio patriarcal sobre a mulher
específico das relações de trabalho produtivo e impor um papel subordinado no regime de
e, portanto, das relações de propriedade, da transmissão da propriedade e na formação
moral do trabalho, bem como da ordem dos patrimônios (Baratta, 1999, p. 49).
pública que o garante”. Contudo, a esfera de A criminalização do aborto também
reprodução e da família, da ordem privada, acompanha a lógica excludente e seletiva do
não são aparentemente objetos de controle do Direito Penal. Mulheres de classe média ou
direito penal, seu controle é dirigido alta realizam aborto, com seus médicos “de
exclusivamente à mulher. A estrutura das confiança” ou “da família”, bastante distantes
funções do direito penal seriam, portanto, a de hospitais públicos e de quaisquer
reprodução da divisão do trabalho hierárquica possibilidades de serem rotuladas como
em gêneros e o controle a que estão sujeitas criminosas.5 Já as mulheres negras e pobres
as mulheres na esfera privada (Baratta, 1999, estão mais vulneráveis ao aborto com risco
p. 46). Esse controle verifica-se na direção do (Silva, 2012). Segundo estimativas da
discurso criminal às mulheres enquanto Organização Mundial da Saúde (OMS)
possuidoras de papéis da reprodução natural. metade das gestações é indesejada e uma a
Na esfera privada, permite-se a cada nove mulheres recorre ao aborto. No
predominância do masculino na dominação Brasil, os cálculos mostram que o índice de
da mulher, também, no domínio público de abortamento é de 31%. Ou seja, ocorrem
lógica masculina que controla não somente os aproximadamente 1,44 milhão de abortos
corpos femininos e sua disposição, como espontâneos e inseguros com taxa de 3,7 para
ainda seu papel social, sobretudo o da cada 100 mulheres. Além disso, duzentas mil
maternidade, em que a mulher só seria plena mulheres são internadas ou morrem em
a partir do momento que fosse mãe. A
criminalização do aborto serve, em primeiro

5
Em entrevista com o renomado médico Dráuzio Disponível em: http://drauziovarella.com.br/estacao-
Varella, o ginecologista e obstetra Jefferson Drezett saude/classe-medica-e-aborto/>. Acesso em: 16/12/14.
deixa bastante clara a frequência dessa prática.

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decorrência dos abortos malfeitos.6 Desse afirmado no ponto anterior, em que os corpos
modo, é possível afirmar que a restrição legal femininos funcionam como campo de testes
ao aborto – sua criminalização – não obsta farmacêuticos a fim de fomentar uma lógica
sua prática, mas somente reforça as produtiva de normalização biológica e de
desigualdades sociais. circulação de capitais pela financeirização da
Se observarmos a partir da biopolítica, saúde.
há uma clara posição do Estado brasileiro ao Nos postos de saúde brasileiros, todos
desvalorar completamente a vida das os principais métodos contraceptivos
mulheres que morrem em decorrência do dependem exclusivamente da mulher, como
extremo controle de seus corpos ao as pílulas, adesivos e injeções
realizarem procedimentos abortivos anticoncepcionais, o diafragma, o DIU, a
agressivos de alto risco, e uma valoração ligadura tubária e a pílula do dia seguinte.
excessiva do feto, que não se constitui como Poucos métodos exigem a participação
vida propriamente dita em termos jurídicos. masculina, como o preservativo de barreira e
A mulher assume a qualidade de homo sacer, a vasectomia. Sendo que destes apenas a
nos termos de Agamben, isto porque é uma vasectomia envolve um procedimento
vida insacrificável, porém matável. Não há cirúrgico, enquanto que para as mulheres
possibilidade de sacrificar uma mulher que todos os métodos envolvem uma série de
abortou, mas é possível deixá-la morrer alterações hormonais que fogem da simples
sangrando nos leitos do hospital por recusa de prevenção da gravidez, mas que se situam
atendimento médico adequado. É possível num amoldamento de corpos.
deixá-la morrer ao força-la a provocar um Outro exemplo bastante recente na
procedimento abortivo com inserções de biopolítica brasileira é a vacinação de
objetos pontiagudos em seu próprio útero. meninas de 9 a 13 anos em todo o território
O mesmo ocorre com os nacional. O vírus HPV (papiloma vírus
procedimentos de controle de natalidade a humano) é o principal causador de câncer de
partir de métodos contraceptivos colo de útero nas mulheres, acarretando em
corroborados e difundidos pelo Estado. Como milhares de mortes. O Ministério da Saúde,

6
Dados disponíveis no Portal da Saúde do Ministério
da Saúde Brasileiro: http://portal.saude.gov.br/saude/.

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com base nesta situação, iniciou o massificada sobre os corpos, sem pesar que o
procedimento de vacinação em 5 milhões de câncer de colo de útero demora cerca de 10
meninas nos Postos de Saúde que atendem anos após a contração do HPV para evoluir, o
pelo Sistema Único de Saúde. A política do que poderia ser evitado com a realização de
Governo Federal, aparentemente benéfica às exames individuais ginecológicos com
mulheres, esconde outros interesses globais, frequência9.
como o fato da transferência de R$ 465 Isto é, há priorização da biopolítica
milhões na compra de 15 milhões de doses da sobre a população feminina de forma a
vacina para este ano da empresa transnacional adestrar e seus corpos de forma massificada
Merck Sharp & Dohme (MSD), com com base no gênero, o que ocorre em graus
estimativas de investimento de R$ 1,1 bilhão diversos daquilo que é voltado às populações
durante cinco anos7. masculinas. Há uma incidência específica que
No entanto, após a vacinação em foca especialmente na sexualidade feminina,
massa, diversos casos de efeitos colaterais na reiteração de papeis sociais atribuídos
severos foram constatados como mortes historicamente a elas e no adestramento ao
súbitas, invalidez, dores de cabeça, paralisias mercado de trabalho de forma a minar a
e irrupção de verrugas genitais, relatados nos biologia corporal própria de cada indivíduo.
Estados Unidos e no Brasil. A questão aqui E o direito, por meio das regulamentações e
não é questionar a validade científica da de políticas públicas, tem um papel central na
vacina, apenas constatar que a compra de tal valoração da vida dessas mulheres, ora
quantidade de substâncias e vacinação em fazendo viver ora deixando morrer, a
massa no Brasil ocorreram sem a realização depender de fatores políticos e econômicos
de testes suficientemente comprovados da que sustentam a sociedade capitalista e
eficácia e dos efeitos da substância8. patriarcal.
Priorizou-se uma forma de biopolítica

7 9
Informação disponível no sitio do Ministério da Questionamentos de médicos veiculados na matéria
Saúde brasileiro: do sítio da UOL:
http://www.brasil.gov.br/saude/2014/01/ms-recebe- http://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-
primeiro-lote-da-vacina-contra-hpv. Acesso em noticias/redacao/2014/03/16/para-alguns-medicos-e-
23/09/2015. cedo-para-dizer-se-a-vacina-do-hpv-e-segura-e-
8
Conforme reportagem divulgada na Revista Istoé: eficaz.htm. Acesso em 23/09/2015.
http://www.istoe.com.br/reportagens/382250_O+SUS
TO+DA+VACINA. Acesso em 23/09/2015.

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Deste modo, a grande questão que das políticas públicas e de controle sobre os
deve ser colocada é que se historicamente o corpos em que há pretensa liberalização
corpo feminino foi um território ocupado, nas sexual e autonomia das mulheres. Até que
esferas pública e privada, a biopolítica ponto essa autonomia é de fato real? Será que
contemporânea interfere nestes corpos os corpos femininos respondem de fato a uma
qualificando, hierarquizando e liberalização ou maior controle em âmbito
transformando-o em objetos de experiência massificado? Cabe aos movimentos
para manipula-los, transformá-los, feministas observar esse panorama com
domesticá-los. São os corpos femininos os cuidado e posicionar-se criticamente às ações
mais vulneráveis, resta aos movimentos políticas e jurídicas postas, a fim de incidir
feministas perceber “até que ponto nós com as propostas mais coerentes a uma
mulheres conhecemos o projeto libertação das mulheres.
contemporâneo vigente, se somos coniventes
por omissão ou ignorância ou decididamente Referências bibliográficas
demandamos a igualdade de participação no
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Data de Recebimento: 02/10/2015

Data de Aceitação: 23/11/2015

DOI: 10.18351/2179-7137/ged.2015n3p225-245

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