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ISSN: 2178-2865
revistapoliticaspublicas@ufma.com
Universidade Federal do Maranhão
Brasil
Resumo
Objetiva discutir a violência de gênero enquanto uma violação dos direitos humanos das mulheres. Considerando a
escassez de estudos que abordem a temática sob o aspecto internacional, propõe-se a traçar um panorama dos
instrumentos normativos de enfrentamento à violência contra as mulheres em âmbito internacional e seus impactos na
adoção de políticas públicas pelo Brasil. Reflete acerca das contradições no processo de efetivação das disposições
normativas e nos desafios a serem rompidos para garantir a integridade da mulher, não só física. Aborda, em específico, a
violência sexual que, à despeito de ser considerada como um problema de saúde global pela Organização Mundial da
Saúde (OMS), ainda apresenta elevados índices de ocorrência e esbarra na fragilidade dos sistemas de justiça. Elenca
sujeitos de políticas públicas diversos que contribuíram para a promulgação dos marcos regulatórios a serem discutidos,
com destaque aos movimentos de mulheres e aos organismos internacionais.
Palavras-chave: Direitos Humanos. Políticas Públicas. Violência de gênero.
Abstract
It aims to discuss gender violence as a violation of women's human rights. Considering the scarcity of studies that address
the theme from an international perspective, it is proposed to draw an overview of the normative instruments to confront
violence against women at the international level and their impacts on the adoption of public policies by Brazil. It reflects on
the contradictions in the process of implementing the normative provisions and the challenges to be overcome in order to
guarantee the integrity of the woman, not only physical. It specifically addresses sexual violence, which, despite being
considered a global health problem by the World Health Organization (WHO), still has high rates of occurrence and comes
up against the fragility of justice systems. It lists subjects of different public policies that contributed to the promulgation of the
regulatory frameworks to be discussed, with emphasis on women's movements and international organizations.
Keywords: Human rights. Public policy. Gender violence.
1 Assessora jurídica no Ministério Público do Estado do Maranhão. Mestra em Políticas Públicas pela Universidade Federal
do Maranhão (UFMA). E-mail: gabrielaserradealencar@hotmail.com.
2 Professora do Pós-Doutorado Interinstitucional e Internacional em Estudos Interdisciplinares sobre políticas públicas e
segurança na Universidade Portucalense/Portugal (UPT). Pós-Doutora e Doutora em Direitos Humanos pela Universidade
de Salamanca/Espanha (USAL). Pós-Doutoranda em Direitos Sociais pela Universidad de Salamanca/Espanha (USAL).
E-mail: laislocatelli@gmail.com.
3 Advogada. Professora Adjunta do Departamento de Direito da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Membro da
Comissão da Mulher do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB nacional). Membro do Instituto Brasileiro de Direito
Processual (IBDP). Investigadora do Centro de Investigação e Justiça e Governação da Escola de Direito do Minho,
Portugal. E-mail: mgcgn@email.iis.com.br
MULHERES E DIREITOS HUMANOS: uma perspectiva normativa acerca do enfrentamento da violência de gênero
1 INTRODUÇÃO
Segundo dados disponibilizados pela Entidade das Nações Unidas para a Igualdade de
Gênero e o Empoderamento das Mulheres (ONU MULHERES), através do Programa de Prevenção e
Acesso aos Serviços Essenciais para erradicar a Violência contra as Mulheres e Meninas, em 2013,
35% das mulheres do mundo já haviam sofrido violência de gênero por parte de seu parceiro íntimo.
Trata-se de problemática que envolve interesses globais e cuja solução é essencial para
garantir a proteção de princípios democráticos e a construção de uma sociedade justa e igualitária. O
alcance à igualdade de gênero é, inclusive, o objetivo nº 05 da Agenda 2030 para o Desenvolvimento
Sustentável, da Organização das Nações Unidas (ONU).
Justifica-se, pois, a pertinência de discussão da violência contra as mulheres a partir de
uma perspectiva internacional. A presente pesquisa, assim, objetivou analisar a violência de gênero –
em especial a sexual – enquanto uma violação de direitos humanos, com ênfase nos padrões de
dominação masculina e da cultura de estupro, corriqueiramente reforçados.
Para tanto, considerou-se os instrumentos normativos internacionais de enfrentamento à
violência de gênero sob o aspecto de sua efetividade prática no ordenamento jurídico interno dos
Estados que os ratificam, com destaque para o Brasil, pontuando aspectos sobre as políticas públicas
em matéria de gênero, bem como os desafios a serem vencidos para garantir real proteção às
mulheres.
A pesquisa em questão desenvolveu-se sob a técnica de coleta de dados, realizada por
meio de pesquisa bibliográfica para fins de revisão da literatura, ressaltando-se a análise
multidisciplinar e internacional do tema, com ênfase não só em noções jurídicas, mas também
econômicas, sociais e políticas. Ademais, considerou-se como fontes os dados empíricos oficiais
disponibilizados pela ONU, pelo Mapa da Violência de 2015 e pelo Anuário Brasileiro de Segurança
Pública, em sua 11ª edição.
As políticas públicas, expressão máxima da atuação do poder executivo, têm uma função
primordial na consolidação da igualdade em seu território, através das suas instituições, normas e
modelos que norteiam suas decisões, elaborações, implementações, avaliações e verificação dos
resultados.
No que diz respeito às políticas de atendimento às demandas femininas, tem-se que a
pressão interna se dá em grande medida pelos movimentos de mulheres que, como afirma Puri (2019),
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têm sido “fundamental para exigir e impulsionar as mudanças em todas essas áreas”. Ainda, os
movimentos “potencializaram a discussão sobre a assimetria de poder entre os dois gêneros nos
espaços público e privado”. (COUTO; GOMES, 2012, p. 2569).
Sem dúvida, a história delas nesses movimentos reflete a sua constituição como sujeito
coletivo e com representação na cidadania, trazendo à cena questões e temas até então
circunscritos ao privado […] é importante assinalar que no campo da relação Estado e
movimentos sociais (especialmente o movimento feminista), sempre esteve presente o
debate em torno da preservação da autonomia e/ou integração dos movimentos sociais na
formulação, implantação e controle das políticas públicas. (COUTO; GOMES, 2012, p. 2569).
Farah (2004, p. 47), sobre a pressão do movimento das mulheres, escreve o seguinte:
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que tenham como objetivo consolidar a igualdade demanda uma grande abrangência, que inclua todos
os setores, ou seja, é necessário que tais políticas públicas se destinem a resolver distintos problemas,
através de uma perspectiva igualitária entre os homens e as mulheres para, então, “reduzir os efeitos
do desgaste do tecido social resultante da desigualdade cada vez mais aguda na sociedade brasileira”.
(GOUDINHO; SILVEIRA, 2004, p. 7).
De acordo com as autoras, as políticas públicas de gênero, apesar de terem um largo
caminho para trilhar, apresentam uma continuidade, às vezes mais rápida, outras vezes mais devagar.
Escrevem elas:
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com a elaboração e aplicação de políticas públicas que possibilitem atingir o gigantesco objetivo da
efetiva igualdade entre homens e mulheres e, como consequência, a eliminação da violência de
gênero.
Neste sentido, Puri (2019) escreve o seguinte:
A ação prioritária do combate a violência de gênero não foi uma escolha ao acaso, ou
simples reflexo de uma ação global das Nações Unidas, mas é decorrência da preocupação dos
números alarmantes e crescente e, sobretudo, dos esforços feitos pelos movimentos de mulheres em
todo o mundo. A partir de então é que a normativa internacional eleva o patamar de proteção às
mulheres, com o reconhecimento de que a violência de gênero trata-se de uma grave violação de
direitos humanos femininos.
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MULHERES E DIREITOS HUMANOS: uma perspectiva normativa acerca do enfrentamento da violência de gênero
Nota-se, pois, que a Revolução olvidou-se das mulheres em seu projeto de liberdade e
igualdade, circunstância cujos reflexos prolongaram-se aos dias atuais, em que a negativa de direitos
às mulheres, embora não expressa categoricamente em leis, manifesta-se culturalmente, através de
uma desigualdade de gênero historicamente construída.
Válido frisar que o contexto em que a Declaração dos Direitos do Homem foi promulgada
foi caracterizado pelo individualismo burguês. Ademais, a ideia de igualdade perante o direito não
levava em conta que, à época, “indivíduos de várias regiões do mundo não eram iguais perante o
direito por estarem sujeitos a uma dominação coletiva e, sob sujeição coletiva, os direitos individuais
não oferecem nenhuma proteção” (SANTOS, 2014, p. 41).
Isto não foi contemplado pela declaração num momento alto do individualismo burguês, num
tempo em que o sexismo era parte do senso comum, em que a orientação sexual era tabu,
em que a dominação classista era um assunto interno de cada país e em que o colonialismo
ainda tinha força como agente histórico, apesar do profundo abalo sofrido com a
independência da Índia. Com o passar do tempo, também o sexismo, o colonialismo e
outras formas mais cruas de dominação de classe foram sendo reconhecidos como dando
azo a violações dos direitos humanos.
Certo é que, enquanto não assegurada a emancipação feminina, não se pode falar em
direitos humanos com a concepção universal que o termo exige. Como bem reflete Santos (2014, p.
31), é necessário questionar se os direitos humanos, diante do seu caráter hegemônico como
linguagem de dignidade humana, “servem eficazmente à luta dos excluídos, dos explorados e dos
discriminados”. Assim é que as mulheres, sob dominação masculina “coletiva”, historicamente
construída, necessitam da efetiva proteção dos direitos humanos, para além de garantias básicas de
direitos civis e políticos de primeira geração. Isto porque é preciso enfrentar a violência de gênero que
as atingem em sua dignidade enquanto pessoa humana.
Porque os direitos coletivos não entram no cânone originário dos direitos humanos, a tensão
entre direitos individuais e direitos coletivos decorre da luta histórica dos grupos sociais que,
por serem excluídos ou discriminados enquanto grupos, não podiam ser adequadamente
protegidos por direitos humanos individuais. As lutas das mulheres, dos povos indígenas,
dos povos afrodescendentes, dos grupos vitimizados pelo racismo, dos gays e das lésbicas
marcaram os últimos cinquenta anos do processo de reconhecimento dos direitos coletivos,
um reconhecimento sempre muito contestado e sempre em vias de ser revertido. (SANTOS,
2014, p. 41).
Importa, assim, tratar a violência de gênero como uma violação dos direitos humanos das
mulheres. Nesse sentido, Saffioti (2004, p. 75) rejeita o conceito de violência como uma mera ruptura
dos tipos de integridade: física, sexual, emocional, moral. Explica que, sobretudo quando se trata de
violência de gênero, e mais especificamente intrafamiliar e doméstica, são muito tênues os limites entre
quebra de integridade e obrigação de suportar o destino de gênero traçado para as mulheres: sujeição
aos homens, sejam pais ou maridos. É por essa razão que autora prefere entender violência como todo
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agenciamento capaz de violar direitos humanos. Reconhece, contudo, que é ainda muito incipiente a
consideração dos direitos humanos como também femininos (SAFFIOTI, 2004, p. 76).
Nessa linha, Costa (2014, p. 109) aponta que os direitos humanos voltados para a mulher
têm sido objeto de inúmeras cartas das Nações Unidas. Confirma, assim, que a violência contra as
mulheres é uma questão de direitos humanos, e esta violência está relacionada a “[...] um estudo
sociocultural da violência do homem contra a mulher, englobando mecanismos para conseguir a
subordinação da mulher [...]” (COSTA, 2014, p. 109). Diz ainda o autor:
Desta forma, entende-se que o avanço dos direitos humanos e, consequentemente, a sua
compreensão serão fundamentais para implantar uma nova visão dos direitos da mulher em
sociedade e, principalmente, alertar as soberanias a fortalecer este esforço com leis positivas
que visem a promover a igualdade de gêneros em todos os setores da comunidade, quer no
âmbito privado, quer no âmbito público. E isto inevitavelmente deverá passar por um
processo legislativo forte, plasmado no discurso internacional dos direitos humanos, obtido
nas conferências internacionais e nas declarações das Nações Unidas que reconhecem a
mulher dotada de dignidade e que precisa ter seus direitos respeitados, de maneira a ver
erradicada toda forma de discriminação. (COSTA, 2014, p. 132).
Em relação à violência de gênero, Rocha (2007, p. 29) a caracteriza através das relações
de dominação, exploração, hierarquia e assimetria entre os gêneros. Seu alvo principal são as
mulheres, de diferentes faixas etárias, condição social e pertencimento étnico/racial. É, portanto,
constitutiva de uma ordem social androcêntrica.
Costa (2014, p 25) esclarece que a violência de gênero, para além de uma questão local
ou mesmo familiar, afeta todos os cidadãos, quer homens, quer mulheres, e também se encontra
dentro de uma discussão de planificação internacional. Chega então o autor à conclusão de que
“gênero é uma questão de direitos humanos, e assim deve ser tratado” (COSTA, 2014, p. 133).
Collantes (2010, p. 733), ao reforçar que a violência de gênero tem aspecto multicausal e
supera a dimensão privada e familiar, assevera que esta é um ataque à própria democracia e sustenta-
se através de “estruturas de poder e dominação de ordem social e patriarcal” (COLLANTES, 2010, p.
733). Nesse mesmo sentido, Costa (2014, p. 97) pontua, acertadamente, que a problemática de
discriminação da mulher não pode ser restrita a um caráter privado ou intrafamiliar, pois reclama uma
solução muito mais ampla e que “[...] interfere na vida de todos indistintamente, pois abala os pilares da
democracia [...]”.
Nesse contexto, vale citar a compreensão de Habermas, acerca da função da esfera
pública, qual seja, “[...] captar e tematizar os problemas da sociedade como um todo [...]” (HABERMAS,
1997, p. 94), de modo que a esfera pública política só é formada a partir de “[...] contextos
comunicacionais de pessoas virtualmente atingidas [...]” (HABERMAS 1997, p. 97). Nesta esfera
pública, sujeitos diversos lutam por influência, que, segundo Habermas (1997, p. 95) pode interferir no
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“[...] comportamento eleitoral das pessoas e na formação da vontade nas corporações parlamentares,
governos e tribunais [...]”.
A luta por influência na esfera pública, a pressão social exercida por sujeitos diversos,
refletem necessariamente nas políticas públicas que serão implementadas em detrimento de outras.
Ocorre que, no contexto de discussão da violência contra as mulheres em âmbito internacional e, de
forma mais específica, no Brasil, é preciso tratar do que Saffioti (2004, p. 49) chama de “tripé
contraditório”, ou seja, as relações de gênero com primazia masculina, racismo contra o negro e
relações de exploração-dominação de uma classe sobre outra, em detrimento dos menos privilegiados.
Estes são fatores antidemocráticos e, segundo a autora, somente a igualdade social entre
todos merece o título de democracia (SAFFIOTI, 2004). Não é difícil perceber, portanto, que em tempos
atuais de neoliberalismo marcante, conservadorismos e de ideologia patriarcal reatualizada de maneira
cada vez mais cruel, o alcance à igualdade social e a consequente concretização da democracia
parece tornar-se cada vez mais distante.
Diante de tais considerações, é preciso aprofundar, em específico, a temática da proteção
da mulher sob uma perspectiva da normativa internacional. Nesse sentido, insta salientar que, em
setembro de 2015, representantes dos 193 Estados-membros da ONU reuniram-se em Nova York e
adotaram o documento “Transformando o Nosso Mundo: A Agente 2030 para o Desenvolvimento
Sustentável”. Neste, foram indicados os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável e 169 metas,
que buscam “concretizar os direitos humanos de todos e alcançar a igualdade de gênero e o
empoderamento das mulheres e meninas”. (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2015, p. 1).
Interessa pontuar que o Objetivo 5 da referida Agenda é o de “Alcançar a igualdade de
gênero e empoderar todas as mulheres e meninas” e uma das metas para tanto é “eliminar todas as
formas de violência contra todas as mulheres e meninas nas esferas públicas e privadas, incluindo o
tráfico e exploração sexual e de outros tipos”. (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2015, p. 24).
Trata-se de objetivo que se justifica pela desigualdade de gênero culturalmente construída
e pelo fato de que, a despeito dos documentos normativos internacionais e nacionais de proteção às
mulheres, os dados relativos à violência praticada por motivo de gênero continuam a apresentar
resultados crescentes. No caso específico do Brasil, o Mapa da Violência de 2015 revelou que entre
1980 e 2013 houve aumento do número de homicídios de mulheres no Brasil, de 1353 mulheres em
1980, para 4.762 em 2013. (WAISELFISZ, 2015, p. 11).
O Modelo de Protocolo Latino-Americano de Investigação de Mortes Violentas de
Mulheres por Razões de Gênero, elaborado pelo Alto Comissariado de Direitos Humanos da ONU e
pela ONU Mulheres em 2015, apontou que diversos instrumentos internacionais tratam da problemática
da violência contra a mulher e serviram de base para desenvolver a jurisprudência internacional sobre
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Ambos instrumentos condenam todas as formas de VCM, quer aconteçam dentro da família
ou unidade doméstica, na comunidade, em qualquer outra relação interpessoal; quer sejam
cometidas ou toleradas pelo Estado ou seus agentes, onde quer que ocorram. Mediante
essa Declaração e essa Convenção, os Estados se comprometem a instaurar e aplicar uma
série de medidas destinadas a prevenir, erradicar, investigar, punir e reparar a violência
contra mulheres, incluindo o feminicídio. (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2015, p.
23).
Nesse contexto, é preciso pontuar a evolução substancial pela qual passou o Direito
Internacional dos Direitos Humanos no que diz respeito à proteção das mulheres, reflexo das teorias
feministas e do movimento de mulheres em vários países. É o que discorre Toledo Vásquez (2009, p.
37):
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MULHERES E DIREITOS HUMANOS: uma perspectiva normativa acerca do enfrentamento da violência de gênero
Como se vê, o Direito Internacional dos Direitos Humanos, pelo menos no que tange à
promulgação de documentos normativos com a especificidade do combate à violência de gênero,
evoluiu substancialmente e passou a reconhecer a organização estrutural da sociedade baseada na
discriminação da mulher. Não se pode mais dizer que os marcos regulatórios internacionais
fundamentam-se na proteção apenas do “homem e do cidadão”, à medida que existe o esforço,
inclusive por força da luta das próprias mulheres, de enquadrá-las nestes instrumentos de proteção.
O grande desafio a ser vencido, contudo, diz respeito ao efetivo cumprimento destes
instrumentos pelos Estados Partes. No caso específico do Brasil, a proteção oferecida pelo direito
interno foi falha no que diz respeito ao caso Maria da Penha, em que, após a vítima sofrer duas
tentativas de homicídio por seu marido, este só foi condenado após 19 (dezenove) anos da prática dos
crimes e passou apenas 02 (dois) anos preso.
A repercussão do caso foi tamanha que foi feita uma denúncia à Comissão Interamericana
de Direitos Humanos (CIDH) 1, órgão da OEA, resultando na condenação do Brasil a pagar a
indenização de 20 (vinte) mil dólares a Maria da Penha 2, além da recomendação de adoção de
medidas para simplificar a tramitação processual.
Na tentativa de cumprir a recomendação da OEA, o Brasil tornou-se signatário do
Protocolo Facultativo à CEDAW, e, em julho de 2003, apresentou relatório a 29º sessão do Comitê
CEDAW em que reconheceu que a inexistência de uma Lei própria e a não tipificação penal da
violência psicológica dificultavam o cumprimento do disposto na Convenção de Belém do Pará.
O Decreto nº 5.030/2004 constituiu o Grupo de Trabalho Interministerial, integrado, dentre
outros, pela Secretaria de Políticas Para Mulheres (SPM) (BRASIL, 2004). Em 2004, esse grupo de
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trabalho encaminhou ao Congresso Nacional o Projeto de Lei nº 4.459, que, após alterações, resultou
na Lei nº 11.340, sancionada em 7 de agosto de 2006.
Como se vê, a internacionalização dos Direitos Humanos foi decisiva para elaboração, no
plano interno, da Lei Maria da Penha, medida essencial para enfrentar a violência doméstica e familiar,
enquanto ação afirmativa destinada a combater práticas discriminatórias cultural e socialmente
construídas.
Os tratados internacionais que os Estados ratificam criam obrigações perante a
comunidade internacional, mas geram, também, responsabilidades internas. Inclusive, através do
Decreto nº 4.316/2002, o Brasil promulgou o Protocolo Facultativo à CEDAW, responsável por permitir
que não apenas os Estados Partes, mas qualquer mulher vítima de violação de quaisquer dos direitos
estabelecidos na referida Convenção, possa apresentar comunicação diretamente ao Comitê CEDAW.
A partir de então, as mulheres passaram a contar com uma última instância internacional de decisão,
situação esta que demonstra que os direitos das mulheres estão além de questões privadas e/ou
familiares, dignos de uma dupla cidadania, exercida pelo país de origem e pelo sistema global de
direitos humanos.
Nota-se, pois, que para garantir efetividade à normativa internacional de proteção às
mulheres é preciso articular o Direito Internacional com o direito interno de cada nação. Assim, quando
o direito interno não for suficiente, é possível que se acione as cortes internacionais de justiça, cujo
caráter vinculante de suas decisões pode garantir melhores condições de vida às vítimas,
proporcionando-lhe segurança e bem-estar. (COSTA, 2014, p. 329).
As discriminações contra as mulheres demonstram a necessidade de se promover uma
profunda análise sobre as raízes culturais que manifestam um modelo de dominação simbólica
masculina, o que constitui barreira à consolidação do direito legal previsto, prejudicando a eficácia das
disposições normativas e motivando graves violações de direitos humanos contra as mulheres.
No ano de 2006, foi sancionada no Brasil a Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340), a qual
prevê, entre as formas de violência, a sexual. Em que pese a pontual previsão normativa, a 11ª Edição
do Anuário Brasileiro de Segurança Pública constatou que ocorre um estupro a cada onze minutos no
país, e que uma mulher é assassinada a cada duas horas. Comparando os anos de 2015 e 2016,
verifica-se um aumento gradativo no número de vítimas de violência decorrente do crime de estupro,
que saltou de 47 mil casos no ano de 2015 para 49 mil casos no ano de 2016.
Sendo assim, justifica-se a pertinência de analisar, sob uma perspectiva internacional, as
expressões da cultura da violência no âmbito da sexualidade, à medida que esta conduz à objetificação
da mulher, como norma socialmente aceita e inquestionável, ao tempo em que se enfatiza que a falha
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na proteção à integridade sexual feminina resulta em grave violação dos direitos humanos e atinge as
mulheres em sua dignidade como pessoa humana. É o que discutirá adiante.
Importa reforçar que o reconhecimento dos direitos das mulheres como uma questão de
direitos humanos é fruto da luta feminina em âmbito nacional e internacional. Este foi o contexto de
surgimento da própria Lei Maria da Penha, diploma promulgado a fim de compatibilizar-se com as
determinações do Sistema Interamericano de Proteção dos Direitos Humanos (SIPDH), que reforçaram
a necessidade de criação de uma normativa especializada de enfrentamento à violência de gênero.
Em dezembro de 1993, a Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou a Resolução
48/104 – Declaração sobre a Eliminação da Violência contra as Mulheres, que define no artigo 1º a
violência contra a mulher, de modo a enquadrar em tal conceito o dano sexual. Observe-se:
Para os efeitos da presente Declaração, por “violência contra a mulher” se entende todo ato
de violência baseado no pertencimento ao sexo feminino que tenha ou possa ter como
resultado um dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico para a mulher, assim como as
ameaças de tais atos, a coação ou a privação arbitrária da liberdade tanto se produza na
vida pública como na vida privada. (ASSEMBLEIA GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS, 1993, p.
2).
A Organização dos Estados Americanos (OEA), em 1994, confirmou como lei esta
Declaração, ao aprovar a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra
a Mulher, conhecida como Convenção de Belém do Pará, que incluiu a violência sexual no conceito de
violência contra a mulher. No artigo 1º da Convenção compreende-se como violência contra a mulher
qualquer ato ou conduta baseada no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou
psicológico.
As consequências da violência sexual, para além da violação individual da integridade das
mulheres vítimas, representam, sobretudo, “um problema de saúde pública global e de violação dos
direitos humanos das mulheres”, conforme informativos disponibilizados pela Organização Pan-
Americana de Saúde/ Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS), em 2017.
Em relação às consequências para a saúde das mulheres, apontam a OPAS/OMS (2017):
A violência por parte de parceiros e a violência sexual podem levar a gestações indesejadas,
abortos induzidos, problemas ginecológicos e infecções sexualmente transmissíveis,
incluindo o HIV. Uma análise de 2013 descobriu que as mulheres que já foram abusadas
física ou sexualmente eram 1,5 vezes mais propensas a ter uma infecção sexualmente
transmissível e, em algumas regiões, o HIV, em comparação com as mulheres que não
haviam sofrido violência por parte do parceiro. Elas também são duas vezes mais propensas
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Não faz parte de nossa cultura prevenir os filhos que não deixem ninguém fazer com eles o
que os namorados fazem. Sequer as inadequadas cenas de sexo explícito que invadem
diariamente a televisão são aproveitadas para fins educacionais. Fica um clima de
constrangimento, um silêncio embaraçoso, e a cena é chancelada como aceitável. Como a
criança não tem capacidade para estabelecer limites, não consegue reconhecer quem são os
atores que podem participar dessas encenações na vida real. (DIAS, 2019, p. 02).
O contrato original é um pacto sócio-sexual, mas a história do contrato sexual tem sido
reprimida. […] A história do contrato sexual também é sobre a gênese dos direitos políticos,
e explica por que o exercício do direito é legítimo — mas essa história é sobre o direito
político como um direito patriarcal ou sexual, o poder que homens exercem sobre mulheres.
A metade faltante da história consta como uma forma especificamente moderna de
patriarcado foi estabelecida. A nova sociedade civil criada por meio do contrato original é
uma ordem social patriarcal. (PATEMAN, 1993, p. 80).
Do balcão das delegacias às salas de audiência, dos boletins de ocorrência aos acórdãos,
percebemos que a credibilidade da palavra da vítima mulher é quase sempre questionada,
como se ela precisasse provar ser uma vítima honesta, crível. O relato da vítima do sexo
feminino, em pleno século XXI, costuma ser atrelado a questionamentos sobre sua conduta
pessoal e comportamento sexual, o que é externado por meio de perguntas que contêm
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nítidos juízos de valor, a exemplo de questionamentos sobre uma possível ‘provocação’ por
parte da vítima, uma possível ‘aceitação do resultado’. Não é incomum ouvir nas salas de
audiência a pergunta ‘a senhora provocou o réu de alguma forma?'. (INSTITUTO PATRICIA
GALVÃO, 2014, não paginado).
Nessa linha, pontua-se ainda que o Brasil, diante das fragilidades institucionais de
proteção às mulheres vítimas de violência, foi condenado pela Corte Interamericana de Direitos
Humanos (CIDH), por meio de sentença publicada em 16 de fevereiro de 2017, referente ao caso da
Favela Nova Brasília. Nesta, a CIDH reforçou a necessidade de o Estado brasileiro adotar estratégias
de prevenção integral e de oferecer confiança às vítimas nas instituições estatais:
Com relação aos casos de violência sexual contra as mulheres, o Tribunal dispôs que os
Estados devem adotar medidas integrais para cumprir a devida diligência. Especificamente,
devem dispor de uma adequada estrutura jurídica de proteção, de uma aplicação efetiva
dessa estrutura e de políticas de prevenção e práticas que permitam agir de maneira eficaz
ante as denúncias. A estratégia de prevenção deve ser integral, ou seja, deve prevenir os
fatores de risco e, ao mesmo tempo, fortalecer as instituições para que possam proporcionar
uma resposta efetiva. Os Estados devem também adotar medidas preventivas em casos
específicos em que é evidente que determinadas mulheres e meninas podem ser vítimas de
violência. Tudo isso deve levar em conta que, em casos de violência contra a mulher, os
Estados têm, além das obrigações genéricas estabelecidas nos artigos 8 e 25 da Convenção
Americana, obrigações específicas constantes do tratado interamericano específico, a
Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher
(Convenção de Belém do Pará). 244. No artigo 7.b, essa Convenção obriga de maneira
específica os Estados Partes a utilizar a devida diligência para prevenir, punir e erradicar a
violência contra a mulher. Desse modo, ante um ato de violência contra uma mulher, é
particularmente importante que as autoridades a cargo da investigação a levem adiante com
determinação e eficácia, levando em conta o dever da sociedade de rechaçar a violência
contra a mulher e a obrigação do Estado de erradicá-la e de oferecer confiança às vítimas
nas instituições estatais para sua proteção. (CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS
HUMANOS, 2017).
5 CONCLUSÃO
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Assim é que, a partir das convenções internacionais que cada Estado Parte ratifica, as
mulheres passam a ter, necessariamente, dupla nacionalidade, o que significa dizer que a solução de
suas demandas pode ocorrer tanto no plano interno como no internacional. Segundo Costa (2014, p.
342), a mudança de paradigmas sociais é necessária, acompanhada de um processo legislativo forte,
representado por ações interventivas enérgicas que visem a promover a igualdade de gênero e formar
uma sociedade mais justa e igualitária.
O avanço dos direitos humanos, de forma a abandonar o seu direcionamento, com
exclusividade, ao público masculino, e de reconhecer discriminações estruturais, foi medida essencial
para promulgação de instrumentos normativos voltados ao combate à violência. Contudo, é preciso ir
além, à medida que, reconhecendo a origem histórica da desigualdade de gênero, nota-se que a mera
evolução normativa, mesmo em plano internacional, não é suficiente para garantir efetiva proteção às
mulheres vítimas, sobretudo no que diz respeito à violência sexual, reforçada, continuamente, pela
cultura de estupro socialmente construída.
Como se vê, o processo de internacionalização não está pronto e acabado, de modo que
é sempre necessário atentar para as necessidades de cada nação em planificar os direitos humanos
(COSTA, 2014, p. 168). Os instrumentos internacionais já citados foram regulados em contexto de luta
dos movimentos feministas e, consequentemente, em seus textos legais há grandes evidências de
sensibilidade às reais demandas enunciadas por estes sujeitos. Ocorre que, no contexto de países –
como o Brasil –, que tendem a não dar continuidade às políticas sociais, a mera positivação legal de
demandas não é suficiente para combater o problema. As políticas públicas pressupõem movimentos
articulados entre si, que não se esgotam na produção legislativa. Do contrário, esta é apenas um passo
inicial que demanda políticas sociais futuras que realizem na prática o que prevê a letra das leis.
Dotar a sociedade do senso crítico necessário para desfazer formas de pensamento
enraizadas e fazer com que as mulheres se percebam enquanto sujeitos que devem ter seus direitos
igualitariamente respeitados é, pois, o grande desafio a ser enfrentado. Para além de uma previsão
normativa, a efetividade das leis e de políticas públicas de enfrentamento da violência perpassa,
necessariamente, pela desconstrução de valores patriarcais em detrimento da equidade entre os
gêneros.
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as Mulheres. Resolução 48/104, de 20 de dezembro de 1993. [S.l.: s.n.], 1993. 5 p.
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Notas
1 É importante traçar a diferença entre a CIDH, órgão da OEA e não jurisdicional, e a Corte Interamericana de Direitos
Humanos, órgão autônomo e jurisdicional. Qualquer pessoa ou grupo tem legitimidade para acionar a Comissão, ao passo
que apenas os Estados Partes e a própria Comissão podem acionar a Corte, ou seja, o indivíduo não tem legitimidade ativa
ou passiva perante à Corte. Ademais, a Corte somente pode atuar após a apreciação da situação perante a própria
Comissão. Em relação à Comissão, o exame do caso gera um relatório, a partir do qual são emitidas recomendações, não
vinculantes, em uma espécie de solução amistosa. Porém, a própria Comissão pode decidir por, no lugar de expedir
recomendações, encaminhar o caso à Corte. A Corte, sim, promulga sentença obrigatória, vinculante e inapelável. No que
diz respeito ao Caso Maria da Penha, por maioria absoluta dos votos da Comissão, o caso não foi submetido à Corte,
resultando na emissão do mencionado Relatório nº 54/01. (VICENTIM, 2011, p. 223).
2 Importante refletir que, diante da reconhecida falha do Estado brasileiro em garantir efetiva proteção às mulheres vítimas
de violência doméstica e familiar, o que, no caso de Maria da Penha, gerou prejuízos irreparáveis, pela gravidade das
lesões sofridas e lenta espera pela condenação do agressor, a indenização de 20 (vinte) mil dólares não pode ser
considerada suficiente para reparação dos danos sofridos. Além das sequelas físicas, que dificultam sua aptidão para o
trabalho, as feridas psicológicas, os danos na alma, não são reparáveis pelo valor irrisório concedido à farmacêutica.
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