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PREVENÇÃO À VIOLÊNCIA CONTRA


AS MULHERES: UMA REVISÃO DAS
PRÁTICAS INTERNACIONAIS E A
URGÊNCIA DA ATUAÇÃO NO BRASIL
ROBERTA GREGOLI
Doutora em Comunicação Social pela Universidade de Oxford, mestra
(com louvor) pelo Programa Erasmus Mundus Crossways in Humanities
da União Europeia. Formada em Letras pela Universidade Estadual
de Campinas. Atuou na área de Direitos Humanos e enfrentamento à
violência contra as mulheres no Executivo federal, no Executivo distrital,
no Legislativo e em organismos internacionais. Atualmente é consultora
na área de políticas de gênero e violência contra as mulheres.

SOPE OTULANA
Consultora sênior na área de gênero, igualdade e desenvolvimento social
na Oxford Policy Management, onde lidera pesquisas qualitativas sobre
os impactos sociais e de gênero nas políticas de transferência de renda,
proteção de crianças e desinstitucionalização de crianças vulneráveis,
violência sexual e de gênero em contextos humanitários e pesquisa de
políticas globais de enfrentamento à violência contra mulheres e meninas.

RESUMO
Nas últimas décadas, sobretudo a partir dos anos 2000, as políticas de en-
frentamento à violência contra as mulheres desenvolveram-se de maneira
exponencial. Essas políticas, entretanto, tiveram como foco a resposta à
violência, depois de sua ocorrência. Entendendo o enfrentamento à vio-
lência como um conjunto de ações envolvendo não somente a resposta,
mas também a prevenção, este artigo apresenta argumentos a favor da
prevenção como um eixo de atuação prioritário e urgente. A revisão de
intervenções internacionais na área de prevenção à violência contra mu-
lheres e meninas demonstra que abordagens participativas, que promovem
o questionamento e a mudança das normas sociais que geram a violência,
são consideradas as mais avançadas.

Palavras-chave
Mulheres. Gênero. Violência. Prevenção. Boas práticas. Lei Maria da Penha.

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ABSTRACT
In the last decades, particularly since the 2000s, policies to eliminate vio-
lence against women have developed exponentially. These policies, howe-
ver, focused on response, i.e. actions after its occurrence. Understanding
that the elimination of violence involves a set of actions which involve not
only response but also prevention, this article argues in favour of preven-
tion as a priority matter. The review of international interventions in the
field of prevention of violence against women and girls demonstrates that
the most advanced approaches are participatory and challenge social nor-
ms that enable violence in order to promote change.

Keywords
Women. Gender. Violence. Prevention. Best practices. Maria da Penha Law.

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Prevenção à violência contra as mulheres: uma revisão das práticas internacionais e a urgência de atuação no Brasil

1 INTRODUÇÃO
A partir dos anos 2000, as políticas de enfrentamento à violência
contra as mulheres desenvolveram-se de maneira exponencial. Entenden-
do-se o enfrentamento à violência como uma gama de ações envolvendo
a resposta à violência depois de ocorrido e a prevenção para evitar que ela
ocorra, este artigo argumenta em favor de uma priorização do eixo de pre-
venção como meio para uma transformação social profunda e duradoura.
Primeiramente, o artigo traz uma breve descrição dos ganhos no Brasil nas
últimas décadas e apresenta uma estrutura holística para o enfrentamento
à violência contra as mulheres. Em seguida, são realizados uma revisão da
bibliografia internacional e um levantamento de iniciativas internacionais
para demonstrar que as abordagens participativas que promovem o ques-
tionamento e a mudança das normas sociais causadoras da violência são
consideradas as mais avançadas.

2 OS AVANÇOS NO BRASIL
Nas últimas décadas, os avanços relacionados ao enfrentamento à
violência contra as mulheres no Brasil foram significativos, tanto em ter-
mos legislativos quanto de políticas e serviços. A Lei n. 11.340/2006, Lei
Maria da Penha, doravante LMP (BRASIL, 2006), por exemplo, é referên-
cia mundial como legislação de enfrentamento à violência contra as mu-
lheres. Para além do pioneirismo, uma das maiores qualidades da LMP é
sua popularidade: é conhecida por 100% das brasileiras, um êxito surpre-
endente para qualquer lei.
A Secretaria de Políticas para Mulheres (SPM), criada em 2003, fo-
mentou a criação de órgãos locais de políticas para mulheres, os chamados
Organismos de Políticas para Mulheres (OPMs). A descentralização da po-
lítica, essencial para um país diverso e de proporções continentais como o
Brasil, foi uma inovação em termos de políticas na área no mundo.1
O Brasil conta também com uma série de marcos normativos impor-
tantes para guiar e executar ações e serviços de enfrentamento à violência
contra as mulheres, nomeadamente os planos nacionais de políticas para
mulheres, frutos de processo de participação popular nas conferências na-

1Em levantamento de 2014, a SPM identificou 680 OPMs, sendo 24 estaduais e 656 municipais (co-
brindo 11,8% do total de municípios brasileiros). Mais informações em Brasil (2015).

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Roberta Gregoli - Sope Otulana

cionais de políticas para mulheres; na Política Nacional de Enfrentamento


à Violência contra as Mulheres de 2007 (BRASIL, 2011b); e no Programa
Mulher Viver sem Violência de 2013 (BRASIL, 2014).2
Diversos serviços especializados foram instituídos e consolidados
pelos OPMs e no âmbito da segurança pública e da justiça, entre eles: as
delegacias especializadas de atendimento às mulheres (Deams), os núcleos
ou postos de atendimento especializados em delegacias comuns, os cen-
tros especializados de atendimento às mulheres (Ceams), as casas-abrigo,
as unidades móveis de atendimento às mulheres do campo e da floresta,
as defensorias da mulher e os juizados de violência doméstica e familiar
contra as mulheres (BRASIL, 2011a, p. 27-29).
Apesar de tantos avanços, de acordo com pesquisa do DataSenado
sobre violência doméstica, de 2015 para 2017, o índice de mulheres que
relataram sofrer violência passou de 18% para 29%. A pesquisa, realiza-
da bianualmente desde 2005, sempre apontou resultados entre 15% e 19%
(BRASIL, 2017, p. 2). Esse aumento pode indicar maior conscientização
acerca da violência contra as mulheres e, consequentemente, da violência
sofrida. No entanto, sobretudo quando associada a outros índices que co-
locam o Brasil entre os países mais violentos para as mulheres, esse dado
indica que uma transformação duradoura deve passar necessariamente
pela prevenção através da mudança de normas, atitudes e comportamentos
que naturalizam e permitem que esse tipo de violência continue a ocorrer.

3 A URGÊNCIA DA PREVENÇÃO
Mesmo com a popularidade da LMP, a maioria das pessoas a conhe-
ce apenas superficialmente,3 o que pode gerar a impressão que se trata de
uma lei de cunho exclusivamente punitivo. Porém, o primeiro capítulo é
inteiramente voltado às “medidas integradas de prevenção”, com o objetivo
de “coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher [...] por meio
de um conjunto articulado de ações da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios e de ações não governamentais”. Para além da

2 Vale também citar o Pacto Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres, lançado
em 2007 (BRASIL, 2011b), o qual definiu as esferas e responsabilidades dos governos nos três níveis
para a implementação do plano nacional.

3 De acordo com pesquisa do DataSenado, 100% das pessoas “já ouviram falar” da LMP, porém 81%
declaram saber pouco ou nada sobre ela (BRASIL, 2017, p. 10).

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Prevenção à violência contra as mulheres: uma revisão das práticas internacionais e a urgência de atuação no Brasil

integração operacional da justiça com o executivo (inciso I), esse capítulo


prevê a produção de dados (inciso II), o atendimento policial especializado
(inciso IV) e a capacitação das polícias (inciso VII).
A LMP prevê, ainda, ações visando a mudanças atitudinais e com-
portamentais, incluindo a atuação da comunicação social para coibir pa-
péis estereotipados que legitimem ou exacerbem a violência doméstica e
familiar (inciso III) e a realização de campanhas educativas (inciso V).
Mais especificamente voltados para a área de educação, vale citar os
incisos VI, VIII e IX que dispõem sobre:
VI - a celebração de convênios, protocolos, ajustes, termos ou
outros instrumentos de promoção de parceria entre órgãos
governamentais ou entre estes e entidades não-governamen-
tais, tendo por objetivo a implementação de programas de er-
radicação da violência doméstica e familiar contra a mulher;
[...]
VIII - a promoção de programas educacionais que dissemi-
nem valores éticos de irrestrito respeito à dignidade da pes-
soa humana com a perspectiva de gênero e de raça ou etnia;
IX - o destaque, nos currículos escolares de todos os níveis
de ensino, para os conteúdos relativos aos direitos humanos,
à equidade de gênero e de raça ou etnia e ao problema da vio-
lência doméstica e familiar contra a mulher (BRASIL, 2006).

Assim, verifica-se que a LMP, há mais de uma década, posicionou a


prevenção por meio da mudança de normas sociais e atitudes fundamen-
tais para a eliminação da violência doméstica.
As normativas internacionais também entendem a prevenção como
eixo de atuação essencial para o enfrentamento à violência contra as mu-
lheres. A publicação “A framework to underpin action to prevent violence
against women”, de 2015 (UNITED NATIONS WOMEN, 2015), da ONU
Mulheres, constrói uma matriz para a eliminação da violência contra as
mulheres, por meio de uma “abordagem holística de sistemas”,4 envolven-
do três eixos principais: prevenção, intervenção precoce e resposta, confor-
me detalhado no Quadro 1 a seguir.

4 Tradução livre de “comprehensive systems approach”.

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Roberta Gregoli - Sope Otulana

Quadro 1: Estrutura de enfrentamento à violência contra mulheres e meninas.

Prevenção Intervenção precoce Resposta

Tem como foco a população Tem como foco os indivíduos e Tem como foco os grupos
como um todo e os ambientes grupos com alto risco de serem afetados pela violência na
em que as relações de gênero e vítimas ou perpetradores da construção de capacidade
comportamentos violentos são violência contra mulheres e os sistêmica, organizacional e da
moldadas, para abordar fatores fatores que contribuem para comunidade para responder a
que levam a ou protegem contra tal risco. esses fatores.
a violência às mulheres.

Prevenção da violência Construção de estruturas Mitigação do impacto de Contribuição para a construção de


antes que ela ocorra sociais, normas e práticas para a exposição prévia a fatores de normas sociais contra a violência
proteção e para a diminuição do risco e construção de fatores de contra as mulheres por meio da
risco de ocorrência. proteção. responsabilização de agressores
e da efetivação do direito das
vítimas a reparação e apoio.

Prevenção da Construção de estruturas Reparação e apoio a mulheres


violência recorrente sociais, normas e práticas de afetadas pela violência e
proteção contra a violência e/ou responsabilização individual dos
redução do risco de exposição/ homens que a utilizam. Ao se
perpetração recorrentes. demonstrar isso, normas sociais
contra a violência às mulheres
são reforçadas.

Prevenção de dano em Construção de estruturas Apoio a indivíduos para prevenir


longo prazo sociais, normas e práticas que os impactos negativos da violência,
decorrente da violência maximizem os prospectos de promover a reconstrução e a
se reconstruir a vida depois redução da chance de recorrência
da violência e minimizem em longo prazo.
os impactos e as chances de
recorrência em longo prazo.

Exemplos Construção da autonomia Um programa psicossocial para Um local de trabalho que


econômica das mulheres, com crianças expostas à violência promova políticas para apoiar
trabalho combinado entre doméstica para tratar as mulheres em situação de violência
mulheres e homens para promover consequências dessa exposição doméstica (por exemplo, licença
relações igualitárias e respeitosas. como fator de risco para futura remunerada, treinamento de
perpetração ou vitimização. colegas para sensibilização, etc).
Mudanças de normas acerca de
relações de gênero e violência Reformas legislativas e
contra as mulheres por meio do procedimentais para fortalecer
fortalecimento de educação em o acesso à justiça por vítimas de
grupo, mobilização comunitária e violência sexual.
atividades de mídia.

Fonte: UNITED NATIONS – WOMEN, p. 15, 2015, tradução nossa.

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Prevenção à violência contra as mulheres: uma revisão das práticas internacionais e a urgência de atuação no Brasil

À luz do Quadro 1, percebe-se que as políticas brasileiras de enfren-


tamento à violência estão mais alinhadas com o eixo de resposta: a cons-
trução de normas sociais formais (LMP), a responsabilização de agresso-
res (LMP, Deams, defensorias, varas e juizados especializados) e serviços
de apoio a vítimas (Ceams, unidades móveis, Casa da Mulher Brasileira
e casas-abrigo). Como demonstrado, a responsabilização de agressores e
informação sobre legislação e direitos também têm uma dimensão preven-
tiva, ainda que secundária. Diretamente ligadas à prevenção, observa-se
a predominância de campanhas e ações pontuais de curto prazo, sem a
robustez de uma política de Estado estruturada. Isso não significa uma crí-
tica destrutiva à política existente. É compreensível que ações de resposta
sejam tidas como prioritárias, uma vez que o atendimento a mulheres em
situação de violência – e, muitas vezes, em risco de morte – é emergencial
e mobilizador. Porém, após mais de uma década de políticas com foco em
resposta, existe a demanda, e mesmo a urgência, pelo desenvolvimento de
ações especificamente voltadas para a causa-raiz da violência.
A violência contra as mulheres enquanto fenômeno social epidêmico
envolve diversas dimensões (individuais, relacionais, comunitárias e orga-
nizacionais), porém tem como causa-raiz as normas, práticas e estrutura
sociais, conforme demonstra a Figura 1.
Figura 1: Compreendendo a violência contra as mulheres.

Fonte: UNITED NATIONS – WOMEN, p. 15, 2015, tradução nossa.

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Roberta Gregoli - Sope Otulana

De acordo com Flood e Pease (2009), a influência das normas sociais


relacionadas à violência contra as mulheres pode ser observada em três
campos: (a) na perpetração da violência, com uma relação causal entre vio-
lência contra mulheres e meninas e atitudes de papéis de gênero misóginas
ou ideologias que relacionam masculinidade e agressividade sexual; (b) nas
normas “tradicionais” que estigmatizam as vítimas e, portanto, influen-
ciam as ações de mulheres e meninas que vivenciam a violência, o que é
refletido nos casos de altos índices de naturalização da violência e baixos
índices de denúncia; (c) nas normas sociais moldam as respostas da comu-
nidade e das instituições à violência contra as mulheres, com atitudes que
toleram a violência resultando em respostas que culpabilizam as mulheres
e dificultando o acesso à saúde, à justiça e ao apoio psicossocial.
O Quadro 2 traz um levantamento de programas internacionais de
prevenção à violência. A análise dessas iniciativas revela a premissa, con-
forme a Figura 1, de que a violência é causada por normas sociais nocivas
e, consequentemente, é necessário empreender esforços para a mudança
dessas normas.
Quadro 2: Levantamento de iniciativas internacionais de prevenção à violência contra mulheres.
Nome do programa

I care about her (Oxfam, 2012-presente)

Local Zâmbia

Resumo Trabalho para a eliminação da violência contra mulheres e meninas por meio da trans-
formação de atitudes e crenças, e da mobilização de homens e meninos para a promo-
ção da não violência.

Mecanismos/ Trabalho com homens, mudando normas, atitudes e crenças.


foco primário
Abordagens para Promoção de aprimoramento de leis e políticas de igualdade de gênero mais amplamente
engajamento (exemplo: garantindo que tribunais locais protejam sobreviventes de violência).

Aumento de índices de responsabilização de denúncias de violência contra as mulheres.

Abordagens para “Construção de um movimento” por meio de campanhas de mídia, marchas, etc. liga-
engajamento das a eventos internacionais (Dia Internacional das Mulheres, 16 dias de ativismo).

Treinamento de homens como defensores para o fim da violência contra as mulheres.

Desenvolvimento de 17 cards de educação comunitária com guias de discussão para


homens utilizarem com outros homens, contendo definições sobre violência contra as
mulheres, direitos das mulheres e leis.

Grupos de discussão de mulheres.

Grupos de discussão em escolas.

Treinamento de policiais como defensores.


(continua)

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Prevenção à violência contra as mulheres: uma revisão das práticas internacionais e a urgência de atuação no Brasil

Parcerias YWCA

Zambia National Women’s Lobby

Women in Law in Southern Africa (WLSA)

Forum for African Women Educationalists

Panos Institute Southern Africa (mídia)

Evidências 2.500 homens participaram da marcha de homens contra a violência às mulheres em


2013.

Redução da taxa de mulheres assassinadas por parceiros em algumas comunidades-al-


vo (de 4/mês para 1/mês no primeiro ano do programa).

Aumento no número de denúncias formais de violência contra as mulheres.

Nome do programa

Indashyikirwa (DFID, 2015-2019)

Local Ruanda

Resumo Programa de prevenção à violência contra as mulheres nas comunidades, em imple-


mentação em 70 setores em 7 distritos de Ruanda, com foco em violência doméstica.
As sessões são co-facilitadas por um homem e uma mulher.

Mecanismos/ Combinação de abordagem educacional, baseada em currículo com empoderamento


foco primário econômico das mulheres.
Abordagens para
engajamento Abordagem participativa em grupo para apoiar indivíduos a identificar os fatores de
risco e as consequências da violência doméstica.

Foco nas vulnerabilidades específicas de mulheres que dependem financeiramente do


parceiro.

Mudança de normas sociais e comportamentos que perpetuam a desigualdade de gênero


e a violência contra as mulheres, trabalhando com indivíduos, família e comunidades

Abordagens para Diálogo e sensibilização sobre violência contra as mulheres com membros da
engajamento Associação de Poupança e Crédito na Aldeia (Village Savings and Loans Association)
através de ‘educadores-pares’ eleitos dentro da Associação.

Implementação de 20 sessões de um currículo transformativo de gênero intitulado


“Jornadas de Transformação+” com casais e mobilização de outros casais e família por
meio da criação de “clubes de gênero” (incluindo lições de casa e guias de reflexão).

Treinamento de ativistas comunitários utilizando a metodologia SASA! desenvolvida


na Uganda, que tem como objetivo causar mudanças mais amplas no nível da
comunidade.

O currículo aborda extensivamente tipos e usos, positivos e negativos, de poder e


como eles podem aplicados no relacionamento dos casais.

(continua)

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Roberta Gregoli - Sope Otulana

Parcerias Care International

Rwandan Men’s Resource Centre

Rede de Mulheres de Ruanda

Evidências Alto índice de adesão, baixo índice de ausência nas sessões.

O currículo utiliza conceitos alinhados e culturalmente relevantes para a comunidade.

Encaminhamento a espaços seguros para atendimento de saúde, jurídico e social.

Nome do programa

Journeys of Transformation+ (Care, 2011-2012)

Local Ruanda

Resumo Educação não formal e advocacy comunitário para encorajar homens e casais a refletir
de maneira crítica sobre compartilhamento de decisões e dinâmicas de poder em seus
relacionamentos, com o objetivo de aumentar o impacto de programas de microcrédito
e transferência de renda sensíveis a gênero.

Mecanismos/ Mudança de normas sociais.


foco primário
Abordagens para Engajamento comunitário na prevenção de violência contra as mulheres e comporta-
engajamento mentos que promovem a igualdade de gênero.

Abordagens para 17 atividades de grupo para homens, cujas parceiras participam do programa de
engajamento empoderamento econômico.

Foco em empreendedorismo e habilidades de negociação, processos de decisão entre


casais, saúde e bem-estar individual, e leis e políticas relacionadas à violência contra as
mulheres.

Discussões na comunidade para promover mudanças nas normas relacionadas a gênero.

Parcerias Care Ruanda

Promundo

Evidências Os achados demonstram que o envolvimento entre homens e suas parceiras nessas ati-
vidades comunitárias resultou em aumento de renda e na participação de homens nos
trabalhos de cuidado com os filhos, bem como na redução de conflitos entre os casais.

Nome do programa

Fortalecimento da resposta da África do Sul à violência de gênero por meio da prevenção


(DFID, 2012-2015)

Local África do Sul

(continua)

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Prevenção à violência contra as mulheres: uma revisão das práticas internacionais e a urgência de atuação no Brasil

Resumo O resultado esperado deste programa é o fortalecimento da resposta nacional á preven-


ção de violência contra mulheres e crianças na África do Sul.

Mecanismos/ Fortalecimento da resposta nacional à prevenção de violência contra mulheres e crian-


foco primário ças na África do Sul.
Abordagens para
engajamento Fortalecimento de instituições de Estado nacionais e de estratégias para prevenir a vio-
lência contra mulheres e crianças.

Fortalecimento da prevenção e medidas de proteção para crianças e jovens dentro e


fora das escolas.

Mudança social mobilizada no Cabo Oriental e províncias do Estado Livre para atuar
na violência contra mulheres e crianças.

Fortalecimento de sistemas de vigilância, monitoramento e avaliação para prevenção


de violência contra mulheres e crianças baseada em evidências.
Abordagens para Recuperar e dar suporte a mecanismos de coordenação de governo ligados à prevenção
engajamento de violência contra mulheres e crianças (incluindo o desenvolvimento de estratégias,
de uma estrutura nacional de mobilização de prevenção à violência, aprimoramento
da resposta do judiciário a casos de violência contra mulheres e crianças, e desenvolvi-
mento de políticas e estruturas legislativas).

Capacitação de treinadores e treinadoras para educação nos distritos sobre a estrutura


nacional de segurança nas escolas.

Engajamento de crianças e jovens em atividades participativas de treinamento de habi-


lidades para o dia a dia, sensibilização sobre questões de violência de gênero e informa-
ções sobre acesso a serviços.

Diálogo com homens e meninos da comunidade, promovendo o desenvolvimento de


planos de ação da comunidade para a prevenção da violência contra mulheres.

Apoio a organizações comunitárias para o desenvolvimento da ferramenta “Um Ho-


mem Pode” (“One Man Can”).

Programas de rádio.

Criação de sistemas de gestão de informação sobre violência contra mulheres.

Parcerias UNICEF

UNFPA

Save the Children

Organismos de governo locais.

Evidências Programa de Ação Integrado sobre a Violência contra Mulheres e Crianças e Plano
Estratégico Nacional para a Eliminação da Violência contra Mulheres e Crianças pac-
tuados, adotados e em fase de implementação.

Desenvolvimento, revisão e aprimoramento de estruturas legislativas e de políticas re-


lacionadas à prevenção à violência contra mulheres e crianças.

(continua)

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Roberta Gregoli - Sope Otulana

Nome do programa

Programa H (Promundo, 2002)

Local Lançado no Brasil

Resumo Ferramenta adaptável a outros países, tendo como público-alvo homens de 15 a 24


anos, para encorajar a reflexão crítica a respeito de normas rígidas relacionadas à
masculinidade.

Mecanismos/ Foco na mudança de normas sociais, particularmente as relacionadas à masculinidade.


foco primário
Abordagens para
engajamento

Abordagens para Campanhas lideradas por jovens encorajando grupos de apoio entre pares, o
engajamento engajamento de jovens e reforço de mudanças de normas sociais na comunidade.

Sessões de educação não formal com campanhas e ativismo lideradas por jovens para
transformar papeis estereotipados de gênero (ex. uso de contraceptivos e divisão de
tarefas domésticas).

70 atividades validadas do Programa H.

Parcerias Organismos de governo locais.

Evidências Mudanças nos índices da Escala Gender Equitable Male (GEM), que mede as mudanças
em atitudes relacionadas a gênero, violência, sexualidade, masculinidade e saúde
reprodutiva.

Nome do programa

MenCare (originalmente lançada como campanha em 2011)


MenCare+ (Promundo)
Local Currículo internacionalmente adaptado (Brasil, Indonésia, Ruanda e África do Sul)

Resumo MenCare é uma campanha mundial com foco na paternidade, ativa em mais de 45 pa-
íses em 4 continentes. Sua missão é promover o envolvimento igualitários dos homens
como pais e cuidadores não violentos para fomentar o bem-estar da família, a igualda-
de de gênero e melhores condições de saúde para mães, pais e crianças.

Mecanismos/ Mudança de normas relacionadas à masculinidade.


foco primário
Abordagens para Encorajamento de agentes da saúde a apoiar homens que querem ser mais envolvidos
engajamento com os filhos e com decisões de saúde.

Abordagens para Campanhas de mídia.


engajamento
Currículo para homens/pais.

Currículo para casais.

Treinamento de agentes da saúde.

(continua)

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Prevenção à violência contra as mulheres: uma revisão das práticas internacionais e a urgência de atuação no Brasil

Parcerias Rutgers International

Save the Children

Aliança MenEngage

Nome do programa

Stamping Out and Preventing Gender Based Violence


(STOP-GBV) / (DFID & USAID, 2014-2019)

Local Zâmbia

Mecanismos/ Aumento na disponibilidade de serviços de qualidade para sobreviventes de violência


foco primário de gênero.
Abordagens para
engajamento Apoio para sobreviventes de violência de gênero no acesso à justiça e fortalecimento da
capacidade da política e sistema de justiça.

Prevenção e advocacy para mudança de normas, atitudes e comportamentos.

Abordagens para Centros de atendimento integrados fornecem uma gama de serviços de saúde, apoio
engajamento psicossocial, informações sobre HIV e teste, fornecimento de kits de profilaxia pós-
exposição e contraceptivo de emergência, atendimento jurídico a adultos e crianças;
treinamento da equipe do centro de atendimento integrado e agentes de serviços;
encaminhamento e trabalho em rede com os demais serviços (exemplo: saúde,
abrigamento, assistência financeira); atendimento móvel a comunidades rurais para
a promoção de sensibilização e serviços; avaliações organizacionais dos parceiros do
projeto e fortalecimento de capacidades.

Treinamento de assistentes jurídicos para apoiar sobreviventes; sensibilização da


polícia fortalecimento da capacidade de investigação, processo e proteção; treinamento
de advogados, juízes e magistrados; sensibilização de líderes tradicionais sobre
violência contra as mulheres, leis e encaminhamentos; treinamento de agentes de
saúde e assistentes sociais para encaminhamento de sobreviventes; e aumento na
sensibilização da comunidade sobre os aspectos legais da violência contra as mulheres
através de unidades móveis.

Abordagem dos fatores de risco da violência contra as mulheres e mobilização das co-
munidades por meio de um programa holístico de comunicação.

Sensibilização de líderes tradicionais, comunitários e religiosos sobre violência contra


as mulheres e casamento infantil.

Treinamento de homens como promotores ou “agentes de mudança” para engajamento


com outros homens sobre violência contra as mulheres.

Utilização de diálogos, encenações e programas de rádio para aumentar a


sensibilização da comunidade à violência contra as mulheres; criação de um número
telefônico para apoio a sobreviventes de violência agressores; trabalho com estruturas
tradicionais e comunitárias para mudar normais sociais negativas para a erradicação
do casamento infantil.
(continua)

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Roberta Gregoli - Sope Otulana

Parcerias World Vision Zambia

WLSA

Zambia Centre for Communication Programes (ZCCP)

Evidências A avaliação da Teoria de Mudança mostrou que o programa provê um percurso claro
para a prestação de serviços e prevenção da violência contra as mulheres e casamento
infantil.

Aumento nas denúncias de violência contra as mulheres e crianças.

Fortalecimento da coordenação entre os governos locais.

Nome do programa

Prevention+ (Promundo)

Local Indonésia, Paquistão, Ruanda, Uganda, Oriente Médio e Norte da África

Resumo O objetivo final do programa Prevention+ é contribuir para a adoção e implementação,


em nível nacional, de políticas e sistemas de prevenção à violência que sejam sustentá-
veis para além dos 5 anos do programa. O programa aborda as causas-raiz da violência
de gênero: contextos sociais, culturais, econômicos e religiosos que geram as atitudes e
comportamento que levam à violência.

Abordagens para O programa promove ativamente o engajamento de homens jovens e adultos como
engajamento parceiros – junto com mulheres jovens e adultas – para desafiar e transformar normas
e práticas de gênero nocivas. Os grupos participam de programas extensivos de pre-
venção à violência contra mulheres e iniciativas de empoderamento econômico (infor-
madas em parte pelas abordagens e currículos dos programas MenCare+ e Journeys of
Transformation), oferecidas em parceria com serviços da comunidade.

Esforços de advocacy com foco no encorajamento de governos nacionais para introdu-


zir e cumprir novas legislações para prevenção e eliminação da violência contra mulhe-
res, e para fortalecer as políticas ou legislações existentes.

Treinamento de equipes institucionais de ministérios, representantes de governo,


agentes de serviço e sociedade civil para a integração de abordagens transformadoras
de gênero no trabalho cotidiano. Isso inclui prover as equipes com as ferramentas e
know-how necessários para interagir com jovens e adultos, mulheres e homens sem
discriminação e preconceitos.

Parcerias Rutgers International

Sonke Gender Justice

Aliança MenEngage

Fonte: Quadro elaborado a partir de informações contidas em Channon e Ngulube


(2015), Development Tracker (2017), Institute for Reproductive Health (2011), Institute
for Reproductive Health (2018), Men Care (2018), Menon et al. (2015), Pawlak, Slegh
e Barker (2012), Promundo (2018a), Promundo (2018b), Rutgers; Promundo; Sonke
Gender Justice (2017), Samuels et al. (2015) e What works to prevent violence (2018).

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Prevenção à violência contra as mulheres: uma revisão das práticas internacionais e a urgência de atuação no Brasil

4 A PREVENÇÃO POR MEIO DE ABORDAGENS


PARTICIPATIVAS DE QUESTIONAMENTO E REFLEXÃO
A observação de campo em alguns municípios brasileiros sugere que
iniciativas de prevenção normalmente são concebidas através de uma abor-
dagem informativa e unilateral – nos moldes de palestra, na qual o ou a
palestrante provê informações acerca de definições de gênero e violência,
os tipos de violência, a LMP, etc. Ainda que algumas ações sejam intitula-
das “rodas de conversa”, sugerindo uma abordagem mais participativa, a
metodologia é quase invariavelmente uma palestra e as participantes são
vistas como recipientes passivas de informação. Os ministérios públicos
de alguns estados promovem uma ação intitulada Maria da Penha Vai à
Escola5, porém a iniciativa tem como base, como o próprio nome descreve,
informações sobre violência e a LMP.
A literatura internacional indica que ações bem-sucedidas de pre-
venção trazem, para além de informações, uma dimensão de questiona-
mento. Intervenções internacionais baseadas em currículos educacionais
geralmente não começam com discussões diretas sobre violência contra as
mulheres ou violência doméstica (vide Quadro 2 - Indashyikirwa in Rwa-
nda), mas antes fornecem uma definição de termos-chave, como por exem-
plo, gênero, poder, etc. Assim, estabelecem as regras gerais sobre como as
sessões serão conduzidas (um espaço seguro para se falar livremente, como
fazer as lições de casa, etc.) e permitem que os e as participantes falem
sobre suas expectativas. Esse processo é, então, seguido por uma série de
sessões que auxiliam o grupo a chegar a uma definição clara da violência.
Nesse sentido, deve-se começar com a construção de uma base co-
mum entre as e os participantes, visando à reflexão sobre desigualdades
de gênero. Programas bem-sucedidos, normalmente, são desenhados para
fazer com que instituições e interações na comunidade sejam mais igua-
litárias, por exemplo, defendendo que homens sejam cuidadores e mulhe-
res participem da vida pública, dos processos de decisão e da vida política
(HASSINK et al., 2015).
Além disso, enquanto grande parte das ações no Brasil tem como pú-
blico-alvo mulheres – em sua maioria, usuárias dos serviços governamentais

5 DF, PA, PE, PI, para citar alguns. Sobre o programa do DF ”Maria da Penha vai à Escola” (DIS-
TRITO FEDERAL, 2015).

167
Roberta Gregoli - Sope Otulana

em situação de violência, ou seja, sobreviventes ou que vivem em situação de


violência – para que uma mudança estrutural e duradoura aconteça, é ne-
cessário alcançar mais mulheres e também os homens – agressores ou não.
A participação dos homens é de extrema importância, afinal não se
pode mudar uma sociedade sem o envolvimento de metade dela. A parti-
cipação de homens em políticas de enfrentamento à violência contra mu-
lheres no Brasil tem sido controversa e, talvez por isso, quase inexistente.
É claro que espaços seguros, com participação exclusiva de mulheres, são
importantes para prover apoio e contribuir para a superação da violência
por quem a vivencia. Entretanto, essa deve ser apenas uma dentre as várias
estratégias de enfrentamento. Para desafiar as normas de gênero que levam
à perpetuação da violência contra as mulheres é preciso promover o con-
frontamento generalizado das noções sociais sobre a maneira “correta” de
ser homem ou mulher, ou seja, sobre papeis e estereótipos de gênero.
Existem intervenções que dialogam especificamente com a disposição
de atores-chave no processo de questionamento das normas tradicionais.
Exemplos incluem chefes de família que lavam roupas; treinadores de es-
porte que demonstram aos meninos modos diferentes de tratar; mulheres
e políticos que falam publicamente sobre igualdade de gênero. Essas abor-
dagens são particularmente eficientes no trabalho com homens e meninos.
Uma revisão, realizada pela Organização Mundial da Saúde e pela
London School of Hygiene and Tropical Medicine (WORLD HEALTH
ORGANIZATION, 2010) indica que os programas curriculares mais bem-
sucedidos na prevenção à violência doméstica dão grande importância ao
entendimento dos e das participantes sobre as normas de gênero e sobre
dinâmicas desiguais de poder entre homens e mulheres. Essa abordagem
de sensibilização/educação é mais eficaz quando acompanhada de módulos
que habilitam os e as participantes a tomarem decisões saudáveis (não
violentas) e a aprimorarem suas habilidades de resolução de conflitos. É
recomendado que os programas sejam implementados por um período
mínimo de seis meses.
Em todos os contextos a literatura também aponta a necessidade de
preparação de currículos e a capacitação de facilitadoras e facilitadores
para engajarem os e as participantes com o material. Nota-se que, no início
de programas com abordagem participativa, particularmente naqueles que
utilizam currículos que capacitam homens e mulheres juntos, os homens

168
Prevenção à violência contra as mulheres: uma revisão das práticas internacionais e a urgência de atuação no Brasil

normalmente dominam as discussões. Isso tende a melhorar com o tempo,


assim como melhora a habilidade dos e das participantes de se engajarem
com tópicos de discussão sensíveis ou delicados. Ênfase é dada à qualifi-
cação das facilitadoras e dos facilitadores e à necessidade de terem uma
compreensão profunda das questões implicadas nas dinâmicas de violên-
cia contra as mulheres.
A literatura sugere que abordagens integradas – abordagens multis-
setoriais implementadas em diversos níveis da sociedade (BOTT; MORRI-
SON; ELLSBERG, 2005), por meio do engajamento com indivíduos, orga-
nizações, comunidade e fatores sociais, como a mídia e movimentos sociais
(FLOOD; PEASE, 2009) – são mais efetivas. É necessário, portanto, com-
binar ações para mudar atitudes individuais com “políticas institucionais
que moldam atitudes culturais”, a fim de sustentar a igualdade de gênero,
nas esferas pública e privada, com abordagens que dialogam com proces-
sos e tendências sociais, econômicas e políticas, nacionais e internacionais,
mais amplas (HASSINK et al., 2015). Isso enfatiza a natureza complexa
e bidirecional da relação entre atitudes e comportamentos, reforçando a
necessidade de não somente mudar atitudes, mas também reforçar fatores
institucionais e estruturais que contribuem para a violência contra as mu-
lheres (FLOOD, 2015).
Abordagens integradas combinam múltiplos níveis como educação,
mobilização comunitária e serviços. A revisão da OMS, sobre intervenções
em mudanças de normas sociais (BARKER; RICARDO; NASCIMENTO,
2007), revelou que 62% das intervenções integradas foram mais efetivas
em mudanças comportamentais do que as baseadas somente em educação.
Programas que combinam educação em grupo com mobilização comuni-
tária e campanhas de mídia são particularmente efetivos (WORLD HEAL-
TH ORGANIZATION, 2010).
A associação entre a abordagem e o contexto específico da comuni-
dade é particularmente importante. Como os contextos culturais podem
variar consideravelmente, existem conceitos delicados para determinados
grupos e, portanto, é necessário cuidado no desenvolvimento ou na tradu-
ção dos currículos. Nesse sentido, é importante garantir que os materiais es-
tejam em consonância com a realidade do grupo, incluindo, por exemplo, as
maneiras de se abordar a distinção entre gênero e sexo ou o modo como as
comunidades e as famílias podem dar apoio às sobreviventes de violência.

169
Roberta Gregoli - Sope Otulana

Abordagens que têm como público-alvo a juventude são reconheci-


damente mais efetivas, pois os jovens são mais propensos a aceitarem mu-
danças na visão de naturalização da violência do que adultos mais velhos
(BOTT; MORRISON; ELLSBERG, 2005). Por isso, programas que visam
mudanças atitudinais e comportamentais de jovens, normalmente, têm
esse componente facilitador.
A revisão da literatura sobre a abordagem participativa traz, por
exemplo, módulos que permitam aos homens refletirem com outros ho-
mens e eventos nos quais homens promovam comportamentos e atitudes
saudáveis. Assim, programas de enfrentamento à violência contra as mu-
lheres não somente remetem à desigualdade de gênero, mas também per-
mitem que os e as participantes reflitam sobre o seu entendimento indivi-
dual acerca da violência contra as mulheres na sociedade.
A revisão bibliográfica também trouxe recomendações úteis de in-
tervenções às instituições do setor público, como, por exemplo, o progra-
ma do DFID África do Sul, descrito no Quadro 2. A intervenção aponta a
importância do desenvolvimento de uma teoria da mudança que reflita a
complexidade do contexto institucional e organizacional em questão, bem
como as políticas existentes, a fim de que se estabeleça um marco lógico
ou outras maneiras de monitoramento do progresso que levem em conta
adequadamente os tipos de atividades e abordagens utilizadas.

5 INICIATIVAS NÃO GOVERNAMENTAIS DE


PREVENÇÃO NO BRASIL
Além as iniciativas internacionais, incluídas no Quadro 2, foram le-
vantados ações e programas em vigência no Brasil no momento. Atual-
mente, podem ser identificadas quatro iniciativas próximas da abordagem
aqui descrita. São intervenções participativas com o objetivo de promover
mudanças de normas sociais por meio da educação não formal.
“Uma vitória leva à outra” é um programa de empoderamento de
meninas por meio do esporte. As participantes fazem, duas vezes por se-
mana, uma hora de atividade física e uma hora de oficina temática sobre
autoestima e liderança; saúde e direitos sexuais e reprodutivos; empodera-
mento e eliminação da violência contra as mulheres e meninas; educação
financeira. O programa dura cerca de seis meses e está atualmente em fase

170
Prevenção à violência contra as mulheres: uma revisão das práticas internacionais e a urgência de atuação no Brasil

de implementação na cidade do Rio de Janeiro (ORGANIZAÇÃO DAS


NAÇÕES UNIDAS - MULHERES, 2016).
A iniciativa “O valente não é violento” propõe que profissionais da
educação repensem e transformem ideias pré-concebidas sobre o que é ‘ser
homem’ e o que é ‘ser mulher’. O currículo promove a reflexão sobre a violên-
cia contra as mulheres e sua superação. O projeto é composto por seis planos
de aulas sobre os seguintes temas: sexo, gênero e poder; violências e suas in-
terfaces; estereótipos de gênero e esportes; estereótipos de gênero, raça/etnia
e mídia; estereótipos de gênero, carreiras e profissões: diferenças e desigual-
dades; e vulnerabilidades e prevenção (ARRUDA; NASCIMENTO, 2016). O
programa está atualmente em fase de avaliação pela ONU Mulheres.
O “Vozes contra a violência” é um currículo de educação não for-
mal, voltado a meninas e a mulheres escoteiras e guias, a fim de que pos-
sam atuar na prevenção da violência de gênero. Aplicado em outros 35 paí-
ses, o currículo trata das diversas formas de violência contra as mulheres e
desenvolve a liderança e a autoestima de mulheres e meninas. O currículo
está atualmente em fase de tradução do original em inglês pelo escritório
da ONU Mulheres no Brasil (UNITED NATIONS – WOMEN, 2013).
Outra iniciativa de relevância é a adaptação da metodologia SASA!
da Organização Raising Voices por meio do projeto idealizado pelo Ban-
co Mundial e implementado pela empresa de consultoria em desenvolvi-
mento Oxford Policy Management6 (OXFORD POLICY MANAGEMENT,
2018). Originalmente elaborado para a Uganda, a ferramenta está em fase
de adaptação7 para o contexto brasileiro, mais especificamente do Piauí,
com o título provisório “Agora! Pelo fim da violência contra as mulheres”.
Trata-se de uma metodologia participativa, que convida os e as participan-
tes a refletirem sobre as dinâmicas de poder, os papéis e os estereótipos de
gênero que são as causas-raiz da violência contra as mulheres. O projeto
está em andamento e deve ser finalizado em 2019.

6 Projeto intitulado Strengthening Sub-national Government Capacity to Promote Economic Empower-


ment and Prevent Violence Against Women. Em tradução livre: fortalecendo capacidades de governo
subnacional para promover o empoderamento econômico e prevenir a violência contra as mulheres.

7 Adaptação levando em consideração as dimensões linguística (tradução), cultural e socioinstitu-


cional. Mais informações, em inglês, disponíveis em Oxford Policy Management (2018).

171
Roberta Gregoli - Sope Otulana

6 DESAFIOS MAPEADOS
A mudança de práticas, comportamentos e atitudes é algo complexo
e que leva tempo, pois normas tradicionais sobre a violência contra mulhe-
res e meninas são formadas por uma vasta gama de processos sociais em
múltiplos níveis da ordem social (FLOOD; PEASE, 2009). Enquanto há
evidências que normas nocivas de gênero podem mudar, os mecanismos
exatos para essa mudança permanecem apenas parcialmente compreendi-
dos e com escassas evidências. Ainda que os mecanismos que relacionem
mudanças de atitudes à redução de comportamentos violentos não sejam
claros, existem evidências que sustentam que atitudes mais igualitárias,
por parte dos homens, estão associadas à menor chance de perpetração de
violência doméstica (LEVTOV et al., 2014). 8
Diversas revisões bibliográficas, como as de Ricardo, Eads e Barker
(2011), relatam a necessidade de avaliações mais rigorosas e pesquisas padro-
nizadas sobre o que efetivamente funciona para mudar normas e comporta-
mentos relacionados à violência contra mulheres e meninas. Uma revisão da
OMS de 2007 sobre 58 intervenções concluiu que 33% das intervenções não
podiam ser avaliadas devido à falta de dados, ou à existência de dados não
padronizados (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2010). Além disso, a
maioria dos programas que possui dados disponíveis não fez distinção entre
mudanças em normas sociais e mudanças nas atitudes dos indivíduos, o
que torna difícil discernir de que maneira as intervenções estão atingindo
os impactos observados (ALEXANDER-SCOTT; BELL; HOLDEN, 2016).

8 Ainda que este artigo argumente pelo desenvolvimento de ações para mudanças de normas sociais
relativas à violência contra as mulheres, não há uma relação de causalidade direta e imediata entre as
mudanças de normas sociais e a redução da violência. Por exemplo, em programas que visam mu-
dar normas sociais sobre empoderamento das mulheres, a vulnerabilidade de mulheres e meninas à
violência pode, às vezes, aumentar no curto prazo (BOTT; MORRISON; ELLSBERG, 2005). Essa
complexidade acerca das mudanças em normas e atitudes pode ser observada nos dados globais
sobre comportamento de homens e uma aparente ambivalência sobre mudanças. Mesmo quando
os homens têm atitudes razoavelmente positivas relacionadas a gênero e não enxergam a igualdade
como perda de direitos, podem sentir que já se avançou o suficiente. Também é possível que homens
apoiem leis que punem a violência contra as mulheres, ao mesmo tempo em que continuam a sentir
que o privilégio patriarcal é a “ordem correta das coisas”. Tal ambivalência é especialmente prevalen-
te em países de baixa renda (LEVTOV et al., 2014). Isso remete a um desafio mais amplo sobre as
normas e os comportamentos violentos, sustentados por posicionamentos complexos, inter-relacio-
nados e, muitas vezes, contraditórios, sugerindo que apenas mudar atitudes individuais ou promover
a conscientização sobre a violência contra as mulheres é necessário, porém por si só é insuficiente.

172
Prevenção à violência contra as mulheres: uma revisão das práticas internacionais e a urgência de atuação no Brasil

Alcançar impacto de maneira sustentável e em escala é outro grande


desafio. Mesmo quando os dados indicam que as intervenções podem mu-
dar as normas sociais, a literatura demonstra os desafios para que ocorra
um impacto generalizado que perdure, vez que a maioria das intervenções é
em pequena escala. Existem evidências que intervenções de mídia de massa
podem mudar atitudes e normas relacionadas à violência contra mulheres e
igualdade de gênero em populações de grande escala, ainda que essas fun-
cionem melhor quando combinadas com trabalho na ponta e com outros
setores (ALEXANDER-SCOTT; BELL; HOLDEN, 2016; HAIDER, 2017).

7 CONCLUSÃO
A partir do panorama traçado neste artigo, percebe-se que mudar
atitudes, práticas e comportamentos nocivos exige a elaboração de políticas
de prevenção que envolvam pesquisa, planejamento e expertise da realidade
local. Não se trata de uma tarefa simples. Porém, é necessário e urgente o
empenho no sentido de criar e implementar ações e políticas de prevenção
estruturadas, particularmente tendo como público homens jovens e adultos.
Assim, será possível, de fato, construir, no médio e longo prazo, uma trans-
formação profunda e duradoura nas normas sociais e atitudes e comporta-
mentos individuais em favor de uma sociedade mais igualitária em termos
de gênero e, por consequência, livre de violência contra mulheres e meninas.

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