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RESUMO: Este artigo de conclusão de curso, tem como objetivo, identificar e analisar
as políticas públicas, as estratégias utilizadas na articulação do trabalho em rede para
proteção, prevenção, acolhimento e enfrentamento dos crimes de violência doméstica e
familiar contra a mulher, certificando se as normas aplicadas ao dispositivo da Lei
Maria da Penha estão protegendo de maneira eficiente às vítimas de violência. Para
tanto, utilizou-se do processo metodológico com abordagem quantitativa e qualitativa,
por meio de entrevista e questionários, na pesquisa de campo realizada na rede
protetiva da mulher na cidade de Imperatriz-MA. Durante a análise, constatou-se o
desafio e complexidade para trabalhar a prevenção desse tipo de violência, assim
como, a dificuldade em obter dados sistematizados na rede de proteção. Diante disso,
revelou essencial e desafiador o trabalho em rede para prevenção, proteção e
enfrentamento desse tipo de violência.
ABSTRACT: This course conclusion article aims to identify and analyze public policies,
strategies and the articulation of network work for the protection, prevention, reception
and confrontation of crimes of domestic and family violence against women, ensuring
that the norms applied to the provision of the Maria da Penha Law are efficiently
protecting victims of violence. For that, we used the methodological process with a
quantitative and qualitative approach, through interviews and questionnaires, in the field
research carried out in the women's protective network in the city of Imperatriz. During
the analysis, the challenge and complexity of working to prevent this type of violence
was observed, as well as the difficulty in obtaining systematized data in the protection
network. In view of this, it proved essential and challenging to work in a network for the
prevention, protection and confrontation of this type of violence.
Keywords: Domestic violence against women. Public policy. Protection net. Women's
Right.
1 INTRODUÇÃO
1
Artigo apresentado ao Curso de Bacharelado em Direito pela Unidade de Ensino Superior do Sul do
Maranhão – UNISULMA
2
Graduanda em Direito pela Unidade de Ensino do Sul do Maranhão – UNISULMA. E-mail:
luci.dprimo@gmail.com
3
Professora orientadora; Doutora em Função Social do Direito - FADISP; Mestre em Desenvolvimento
Regional da Universidade de Taubaté – UNITAU; Especialista em Didática Universitária – FAMA;
Bacharel em Direito – CESUPA. E-mail: edianafrannco@yahoo.com.br
A violência doméstica e familiar contra a mulher é uma das formas de violação
dos direitos humanos e um grave problema de saúde pública, que merece atenção de
toda a sociedade, especialmente quanto aos mecanismos adotadas para prevenir,
intervir e enfrentar esse tipo de crime praticado no contexto motivado pelo gênero,o
qual implica na desigualdade, na submissão e opressão da mulher, sobretudo em um
país como o Brasil que ocupa o quinto lugar no ranking mundial de feminicídio,
segundo estudo realizado pela Organização das Nações Unidas (ONU-Mulheres).
Conforme informações divulgadas pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública,
uma em cada cinco mulheres foi vítima de algum tipo de violência nos últimos doze
meses, sendo a violência verbal a mais sofrida, seguida pela violência física e sexual. E
em 2021, em média, uma mulher foi vítima de feminicídio a cada 7 horas.
Registra-se, ainda, que de acordo com os dados da tabela de Monitoramento da
Política Judiciária Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres, do
Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a Justiça brasileira tem mais de um milhão de
processos tramitando relacionados à violência doméstica. Desses, mais de cinco mil
são feminicídio.
Diante das estatísticas alarmantes, no qual o país tem péssimos índices ligados
à violência contra a mulher, essa realidade restou ainda mais cruel em decorrência do
isolamento social imposto pela pandemia, em que as mulheres, em muitos casos,
confinadas dentro de casa, ficaram mais expostas, elevando a situações de risco, e
com maior dificuldade para denunciar as agressões
Face ao exposto, o artigo mostra-se relevante, por ser um tema que envolve a
proteção e defesa dos direitos humanos das mulheres, e buscará responder a questão
norteadora da pesquisa, relacionada aos tratamentos, atendimentos e acolhimento das
mulheres ao denunciar casos de violência, assim como, apresentar o trabalho
desenvolvido na rede protetiva, certificando se as normas aplicadas à Lei nº
11,340/2006 (Lei Maria da Penha) e as políticas públicas estão protegendo, de maneira
eficiente, às mulheres e as vítimas de violência, tendo como objeto de estudo a Casa
da Mulher Maranhense na cidade de Imperatriz-MA.
No decorrer deste artigo, apresentar-se-á algumas normas, políticas públicas,
primária, secundária e terciária, a articulação em rede para enfrentamento desse tipo
tão desafiador de violência, assim como, os dados sobre os perfis das vítimas e os
tipos de violências sofridos pelas mulheres, investigando se tais fatores influenciam
diretamente na busca de ajuda, levando em consideração os casos de denúncias e
subnotificações, bem como, as diretrizes e estratégias utilizadas para prevenção,
atendimento e o acolhimento das mulheres em situação de violência
Para o desenvolvimento deste artigo, optou-se pela metodologia da pesquisa
exploratória, explicativa, bibliográfica, documental e a pesquisa de campo, com
aplicação de questionários nas Casa da Mulher Maranhense em Imperatriz-MA, e para
analisar e discutir os resultados, utilizou-se do método quanti-qualitativos.
Feito tais considerações, o estudo será apresentado em cinco capítulos, sendo o
primeiro, a parte introdutória. Na exposição do segundo capítulo, apresenta-se
conceitos, e discorre-se sobre informações relevantes da violência no contexto de
gênero e da violência psicológica, com abordagem de aspectos históricos e de
pesquisas atuais sobre a situação da violência doméstica e familiar contra as mulheres.
No tocante ao terceiro capítulo, há uma compilação de normas e políticas
públicas adotadas na atualidade e a Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha),
destacando decisões recentes aprovadas no sistema normativo jurídico para proteção
e defesa das vítimas de violência.
O quarto capítulo apresenta a articulação do trabalho em rede para proteção,
intervenção e combate desse tipo de violência, com apresentação dos órgãos de apoio
à justiça no âmbito estadual, municipal e os movimentos sociais. Acerca do quinto
capítulo, consta o caminho com desenvolvimento do percurso metodológico. E
finalizando, no sexto capítulo, com a conclusão do artigo.
A violência de gênero, por sua vez, envolve uma determinação social dos
papéis masculino e feminino. (...) Quando a valorização social desses papéis é
distinta, há desequilíbrio, assimetria das relações sociais, o que pode acarretar
violência. No caso da nossa sociedade, os papéis masculinos são
supervalorizados em detrimento dos femininos, trazendo prejuízos para as
mulheres que, em sua dimensão mais acentuada, chegam à violência contra a
mulher.
4
É um sinal vermelho em formato de “X” desenhado na palma da mão, com batom ou qualquer outro
material que possa identificar o pedido de socorro da vítima de violência. A ideia central é que a mulher
consiga pedir ajuda em farmácias, órgãos públicos e agências bancárias.(AMB, 2021).
com estratégias que possibilitam mensurar os diagnósticos de riscos e para entre
outros, traçar medidas protetivas diante do agravamento e consequências na saúde
física e psicológica da vítima desse tipo de crime.
Não obstante, os acordos firmados por tratados internacionais de direitos
humanos no combate à violência de gênero contra as mulheres, as leis e políticas
públicas específicas para proteção da integridade física e psicológica das vítimas,
impõe a reflexão quanto à eficácia desses mecanismos no apoio, amparo e orientações
das vítimas, pois é inegável que o caminho ainda é longo para as mudanças
necessárias, tendo em vista diversos fatores que potencializam o ritmo de crescimento
da violência contra a mulher.
5 PERCURSO METODOLÓGICO
No que diz respeito a pesquisa de campo, para a coleta de dados, foi realizada
no período de 25 de fevereiro de 2022 à 19 de março de 2022, com entrevista semi-
estruturada contendo no total de 8 (oito) perguntas abertas, 05 (cinco) direcionadas à
Casa da Mulher Maranhense (ANEXO A, p. ), a 15ª Defensoria Pública contendo 02
(duas) perguntas abertas (ANEXO B, p. ), e a 8ª Promotoria de Justiça com uma
pergunta abertas (ANEXO C, p. ), com intuito de conhecer as informações e dados
relacionados ao tema do estudo, com foco nos três níveis de políticas públicas,
primária, secundária e terciária, assim como, as articulações em rede desenvolvidas
localmente, bem como as estratégias utilizadas nos casos de denúncia de violência
contra a mulher.
Em razão das restrições impostas pela pandemia, as respostas das questões
elaboradas foram obtidas por meio de entrevistas na plataforma Google Meet e
recebimentos de informações por áudios.
5.3 Plano de análise de dados
Nesse contexto, o desenho traz como plano de análise e tabulação dos dados
coletados na entrevista realizada, a análise quantitativa e qualitativa, para discutir, em
que os resultados foram analisá-los de acordo com a doutrina e a legislação vigente.
(...) Quanto aos tipos de violência, a maior quantidade de ato de violências, são
as violências morais, normalmente as que mais acontecem, até porque, os atos
mais graves são sempre precedidos de violência moral, psicológica, (...)
Dificilmente nós pegamos um caso aqui, ainda que tenha uma situação de
agressão física, que não tenha um episódio ou seja precedido de violência
moral, psicológica por meio da ameaça. Seguido disso, normalmente sim, tem
a violência física, nem todas, claro, chegam a esse ponto, mas é um número
expressivo sim,(...). E não têm sido comuns os relatos de violência patrimonial,
talvez porque as pessoas acabam nem relatando, mas é muito comum, as
situações de desentendimento, alguém rasgar uma roupa, quebrar um celular,
reter documentos na tentativa de prejudicar, tudo isso é violência patrimonial
também(...).
(...) a Defensoria Pública, não vai se prestar uma assistência jurídica apenas
para orientá-la, encaminhá-la para delegacia e não é só pedir medida protetiva,
mas é de forma integral (...) No momento do acolhimento, a mulher pode
desejar solucionar questões do relacionamento, se ela pede a medida protetiva
e ao mesmo tempo quer solucionar, por exemplo, o divórcio, um
reconhecimento de solução de união estável, uma partilha de bens, resolver
questões dos filhos, seja a guarda e a pensão, então em todas essa questões,
por meio da defensoria ela recebe esse amparo.(...)é cabível. Inclusive também
acompanhando essas mulheres nas audiências, não somente no aspecto civil,
mas também nas audiências criminais, essas mulheres não vão sem
orientação, com várias dúvidas e sem acompanhamento jurídico, é comum as
mulheres não terem ido ou conhecido as audiências, instruídas no sentido de
saber e evitar situações de revitimização (...).
(...) o que se trabalha diante da realidade da subnotificação é com a
informação, por meio das medidas de orientação e educação em direitos
humanos. (...), então frequentemente a defensoria está em contato com as
universidades, com as associações, com os movimentos sociais, trabalha lado
a lado com a rede de proteção, (...) está sempre disponível, na finalidade de
educar e promover direitos, (...) a defensoria de várias formas tenta, diminuir
essa desigualdade, é um trabalho longo, é um trabalho difícil, e estamos longe
ainda de fazer, é por isso que é um trabalho em rede e exige um esforço
conjunto, só assim, de fato que vamos conseguir, se não acabar, ao menos
diminuir essa situação de violência contra as mulheres.
6 CONCLUSÃO
Fica evidente, portanto, que este artigo expos informações e dados de grande
relevância sobre a violência doméstica e familiar contra a mulher, um tipo de violência
cuja raiz está entranhada na desigualdade histórico-cultural que impõe à mulher um
papel de submissão nas relações familiares e de intimidade, a qual, ainda é um grande
desafio para as políticas públicas e para a rede de proteção, principalmente, em um
país com altos índices de violência e de hostilidade com relação às mulheres.
Contudo, não se pode negar que há uma evolução das normas e diretrizes para
combater esse tipo de crime, tal como das políticas públicas, importantes e essenciais
para fortalecimento do trabalho articulado na rede de proteção da mulher, entretanto,
ainda, longe do ideal para trabalhar a mudança de cultura tão necessária quando se
fala em discriminação e desenvolvimento da cidadania das mulheres na sociedade.
Nesse raciocínio, a pesquisa obteve êxito e cumpriu com os objetivos propostos,
especialmente, na perspectiva de comprovar o trabalho articulado da rede de proteção
e das diretrizes de políticas públicas aprovadas e implantadas, considerados como
avanços legais e significativos nos dias atuais, diante de um cenário em que a mulher
se ver cada vez mais vulnerável e acuada para procurar ajuda.
Interessante destacar, que os órgãos pesquisados, trabalham coletivamente e
significativamente o processo educativo como pilar de prevenção nos programas de
mobilização dentro das comunidades, e nos demais segmentos públicos e privados,
como exemplos citados nessa pesquisa; os centro comunitários e escolas, levando
informações de diversas formas, para que as mulheres estejam mais conscientes sobre
seus direitos, tendo em vista, conforme comprovado na entrevista realizada, que muitas
delas desconhecem o conteúdo da Lei Maria da Penha.
Da mesma forma, salienta-se o interesse, disponibilidade e receptividade dos
entrevistados para responder as perguntas e contribuir para elaboração deste estudo,
objetivando também fazer chegar ao conhecimento da sociedade as diversas
modalidades de serviços, cursos e programas assistenciais com equipes
multidisciplinares, disponíveis na rede de proteção.
Conclui-se, portanto, que a Casa da Mulher Maranhense é uma das muitas
frentes de trabalho para prevenção, proteção e enfrentamento da violência doméstica e
familiar contra a mulher, bem atuante em acolher e orientar, de forma humanizada, às
vítimas de violência. Todavia, conforme às dificuldades identificadas, é necessário dar
maior visibilidade ao trabalho ali realizado, como sugestão, por meio de novas
abordagens de pesquisa.
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