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Feminicídio: uma análise da violência de gênero no Brasil

FEMINICÍDIO: UMA ANÁLISE DA VIOLÊNCIA DE GÊNERO NO BRASIL


Feminicide: an analysis of gender violence in Brazil
Revista dos Tribunais | vol. 999/2019 | p. 369 - 404 | Jan / 2019
DTR\2018\22792

Cláudia Mara de Almeida Rabelo Viegas


Coordenadora do Curso de Direito da Universidade Brasil – Faculdade de Belo Horizonte.
Professora de Direito da PUCMinas, Faculdade de Belo Horizonte, Conselho Nacional de
Justiça e Polícia Militar. Servidora Pública Federal do TRT-MG – Assistente do
Desembargador. Doutora e Mestre em Direito Privado pela Pontifícia Universidade
Católica de Minas Gerais. Especialista em Direito Processual Civil pela Universidade
Gama Filho. Especialista em educação a distância pela PUCMinas. Especialista em Direito
Público – Ciências Criminais pelo Complexo Educacional Damásio de Jesus. Bacharel em
Administração de Empresas e Direito pela Universidade FUMEC.
claudiamaraviegas@yahoo.com.br

Fabiano Porto Francisco


Bacharel em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Servidor
Público do Estado de Minas Gerais. bhporto17@yahoo.com.br

Área do Direito: Penal; Direitos Humanos


Resumo: A violência contra mulher, infelizmente, está enraizada em muitas sociedades,
sendo tão danosa que merece a atenção do direito. Apesar de inúmeras vezes ficar
obscura, a violência cometida contra a mulher torna-se pública a partir de sua morte,
contexto em que emerge a tipificação do crime de Feminicídio, por meio do advento da
Lei 13.104/2015, como forma de coibir a violência decorrente de gênero. Feminicídio é o
homicídio doloso praticado contra a mulher por “razões da condição de sexo feminino”,
de modo a desprezar, menosprezar e desconsiderar a dignidade da vítima enquanto
mulher. Antes da referida, não havia nenhuma punição especial pelo fato de o homicídio
ser praticado contra a mulher por razões da condição de sexo feminino, o Feminicídio era
punido, de forma genérica, como sendo homicídio disposto no art. 121 do CP. Assim,
utilizando-se da técnica bibliográfica, pretende-se analisar os efeitos jurídicos da criação
do crime que trata a mulher como um elementar objetivo de um delito qualificado,
verificando a sua eficácia para a sociedade.

Palavras-chave: Violência contra a mulher – Feminicídio – Movimentos feministas –


Gênero – Violência
Abstract: Violence against women, unfortunately, is rooted in very poor societies, being
so harmful that it deserves attention of the law. The emergence of the crime of
Feminicide emerged, through the advent of Law 13.104/2015, as a way to curb the
Allogic arising from genre. Feminicide is the willful homicide committed against a woman
for “reasons of the female sex”, so as to despise, disparage and disregard the dignity of
the victim as a woman. The name of the homicide was not punished by the feminine
term, the Feminicide was punished, of generic form, like homicide disposed in art. 121 of
the CP. Thus, using the bibliographical technique, it is intended to analyze the legal
aspects of the creation of the crime that treats the woman as elementary element of a
qualified crime, verifying its action for society.

Keywords: Violence against women – Feminicide – Feminist movements – Genre –


Violence
Sumário:

1.Introdução - 2.A violência de gênero - 3.Os efeitos jurídicos do feminicídio - 4.Críticas


e vantagens da tipificação do feminicídio - 5.Considerações finais - Referências

1.Introdução
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A violência contra a mulher não vitima apenas esta, mas toda a sociedade. O sofrimento
causado por tal prática não fica preso às paredes do lar e sempre gera mais violência,
pois crianças e adolescentes que crescem nesse ambiente aprendem, com o modelo que
assistem, a usar, geralmente, a violência como linguagem.

O modelo patriarcal adotado no Brasil, que estabelece as relações entre homens e


mulheres e percorre as instituições, a cultura e até mesmo o sistema judicial, tem sido
um contratempo na busca de garantir igualdade de direitos para as mulheres brasileiras.
Mesmo tendo suas funções familiares igualadas pela Constituição Federal de 1988,
somente a Lei Maria da Penha apresentou características protetivas no intuito de
confirmar esta igualdade.

A Lei 11.340/06 (LGL\2006\2313) foi criada com o objetivo de proteger vítimas de


violência doméstica e familiar, buscando mecanismos para coibir qualquer tipo de
violência, seja física, sexual, psicológica, seja outra. A nova legislação ofertou
instrumentos para proporcionar proteção à vítima e para garantir assistência social, além
de resguardar seus direitos patrimoniais e familiares. De acordo com Martins et al
(2015), a lei concebeu 11 serviços e medidas de proteção à mulher.

A Lei Maria da Penha representa o marco de um novo tempo, pois deixou de tratar os
casos de violência doméstica contra a mulher como irrelevantes e passou a tratá-los com
mais respeito, dando às mulheres mais dignidade.

Inicialmente, abordar-se-á o patriarcado e a violência de gênero; seu conceito e suas


formas, as desigualdades de gênero no Brasil e os diplomas legais que retratam a
evolução da igualdade de gênero no Brasil. Em seguida, a pesquisa tratará dos efeitos
jurídicos do Feminicídio; de como o fenômeno é tratado em alguns países da América
Latina; da análise, não exaustiva, do fenômeno no Brasil. Por derradeiro, o trabalho
analisará as críticas e vantagens da tipificação do Feminicídio.

O estudo se justifica porque esse assunto é um problema social, arraigado na sociedade


brasileira, com origens históricas e culturais e, ainda, criticado por alguns que são
contrários à lei, por achar que já existe tipificação legal para o caso.

É indiscutível a necessidade de erradicar esse tipo de violência contra a mulher.

2.A violência de gênero

Os estudos que tratam sobre violência de gênero, em especial as encaminhadas às


mulheres, fundamentam-se a partir dos protestos do movimento feminista. Essa
violência caracteriza-se pela ocorrência de atos violentos em razão do gênero, sendo
violência de gênero quase sinônimo de violência contra a mulher, uma vez que esta é a
grande vítima.

2.1.O patriarcado e a violência de gênero

Existe uma forte cultura machista na sociedade brasileira no tocante aos papéis que
homem e mulher devem exercer. Desde os tempos da Pré-história, a divisão de tarefas
era marcada pelo gênero, e o patriarcalismo consolidou o pensamento de que o gênero
masculino é superior ao feminino, argumentando-se que o homem possui força física e
que a mulher é frágil. Sobre a argumentação, Bourdieu (2014, p. 19) esclarece que:

A diferença biológica entre os sexos, isto é, entre o corpo masculino e o corpo feminino,
e, especificamente, a diferença anatômica entre os órgãos sexuais, pode assim ser vista
como justificativa natural da diferença socialmente construída entre os gêneros e,
principalmente, da divisão do trabalho.

A influência da cultura patriarcal na sociedade fez com que o homem se dedicasse às


atividades que exigiam força física, além daquelas voltadas à autoridade e à chefia da
família. As mulheres ficaram responsáveis pelo lar, pela família, pela procriação, além da
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subordinação, devido à sua diferença biológica (ALMEIDA, SILVA e MACHADO, 2013).

É sabido que a questão biológica não é a única responsável pela ideia de hierarquia do
homem em relação à mulher, mas apenas o estopim. Fatores como o contexto
ontológico, social e psicológico também devem ser considerados, como explica Beauvoir
(2009, p. 57):

A sujeição da mulher à espécie, os limites de suas capacidades individuais são fatos de


extrema importância; o corpo da mulher é um dos elementos essenciais da situação que
ela ocupa neste mundo. Mas não é ele tampouco que basta para defini-la. Ele só tem
realidade vivida enquanto assumido pela consciência através das ações e no seio de uma
sociedade [...]. Trata-se de saber como a natureza foi nela revista através da história;
trata-se de saber o que a humanidade fez da fêmea humana.

Outra forma de diferenciar os sexos é a sociedade em que vivemos, que faz questão de
demonstrar a dominação masculina e a violência entre os sexos. Segundo Campos e
Corrêa (2007, p. 99):

A primeira base de sustentação da ideologia de hierarquização masculina em relação à


mulher, e sua consequente subordinação, possui cerca de 2.500 (dois mil e quinhentos)
anos, através do filósofo helenista Filon de Alexandria, que propagou sua tese baseado
nas concepções de Platão, que defendia a ideia de que a mulher pouco possuía
capacidade de raciocínio, além de ter alma inferior à do homem. Ideias, estas, que
transformaram a mulher na figura repleta de futilidades, vaidades, relacionada
tão-somente aos aspectos carnais.

Essa visão adulterada de filósofos como Platão e Aristóteles, simultaneamente com a


visão machista, fez com que a cultura de subordinação da mulher em relação ao homem
fosse se mantendo e ainda esteja vigente em alguns lugares. No Brasil Colônia, segundo
estudo de Chakorowski (2013), a Igreja Católica iniciou a educação, mas deixou de fora
as mulheres, que deviam obediência ao pai e, posteriormente, ao marido, mais uma vez
reafirmando a opressão masculina vivida pelas mulheres e o interesse dos homens em
mantê-las dominadas.

Na contemporaneidade, o determinismo biológico foi discutido por meio dos movimentos


sociais, que passaram a discrepar da tese biológica com o intuito de demonstrar que
essa superioridade masculina, os papéis sociais entre homens e mulheres e todas as
demais relações entre eles são produtos socialmente construídos (BUTLER, 2010). A
partir dessa negação, surgem o sexo e o gênero na controvérsia das ciências sociais.

Butler (2010, p. 163) explica que:

O gênero é o resultado absorvido pelo corpo sexuado dos significados culturais a partir
da perspectiva binária, na qual se reflete a relação entre o sexo e o conjunto de suas
representações sociais, objetivando a adequação do sexo biológico a determinado papel
social.

Pelo argumento de Butler (2010) percebe-se que o fortalecimento do gênero ocorre por
meio da socialização dos agentes e tem relação com a família, a escola e o meio social, a
começar de proibições e imposições comportamentais. A imposição do gênero começa a
ser estabelecida na infância, por meio dos conjuntos gestuais e papéis sociais.

As relações que envolvem homens e mulheres assentam-se na condição entre a


dominação masculina e a submissão feminina. Essa realidade de sujeição em razão da
autoridade do homem se arraiga na sociedade, predominando o poder patriarcal que
impõe uma divisão sexual que cede ao homem mais poderes e direitos em detrimento às
mulheres. Matos e Paradis (2014) explicam que o patriarcado tem como característica
dois princípios fundamentais: a subordinação das mulheres em relação aos homens e a
subordinação dos jovens aos homens mais velhos.

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Segundo Matos e Paradis (2014), o patriarcado é um processo sucessivo de dominação


masculina que mantém as formas de divisão sexual do trabalho e eterniza a violência
diária contra as mulheres. Além do poder político, o homem passou a exercer o poder
sexual sobre a mulher legitimado pelo casamento, que era inviolável pelo poder público,
justificando todo tipo de violência contra a dignidade feminina que, ao longo do tempo,
tornou-se natural. Pelo argumento do patriarcalismo, nas relações sociais de dominação
as mulheres são, naturalmente, submissas aos homens (VIANA e SOUSA, 2014).

Bourdieu (2014) esclarece que o patriarcado é a soberania masculina que pode se


manifestar por meio da violência física, sexual ou simbólica:

Também sempre vi na dominação masculina, e no modo como é imposta e vivenciada, o


exemplo por excelência desta submissão paradoxal, resultante daquilo que eu chamo de
violência simbólica, violência suave, insensível, invisível a suas próprias vítimas, que se
exerce essencialmente pelas vias puramente simbólicas da comunicação e do
conhecimento, ou, mais precisamente, do desconhecimento, do reconhecimento ou, em
última instância, do sentimento (BOURDIEU, 2014, p. 7-8).

Essa violência simbólica é o que se tem da naturalização do poder masculino, do fato de


o agente passivo não conseguir ver a situação ou não a perceber devido a sua sutileza,
fazendo com que o dominado não questione as agressões sofridas, por achar natural o
domínio masculino. No entendimento de Viana e Sousa (2014, p. 165), nessas
circunstâncias, “embora a relação desigual de poder seja aceita pelos dominados, ela
não se constitui numa concordância consciente e deliberada, mas principalmente numa
relação de submissão”.

A discriminação sofrida pela mulher, considerada frágil, é histórica e dá origem à


violência, dificultando sua ascensão social e profissional, pois a ela sempre foi imposto
um grau de submissão e opressão praticado pelo homem e se agravando quando o
ocorrido se passa no ambiente familiar e doméstico (PORTO, 2012).

2.2.O conceito e as formas de violência de gênero

As pesquisas sobre violência de gênero datam da década de 1970, quando tratavam das
relações entre direito e feminismo. Etimologicamente, a origem da palavra violência vem
do latim e está ligada ao verbo violare, em que vis significa força, potência e também
devassar. O conceito de violência não é uníssono, por isso, vários autores a definem de
inúmeras maneiras.

Gerhard (2014) elucida que a violência se manifesta por meio da opressão, da tirania e
pelo abuso da força, isto é, sempre que alguém é constrangido a fazer ou deixar de fazer
algo. Segundo Nucci (2013, p. 609), “violência significa, em linhas gerais, qualquer
forma de constrangimento ou força, que pode ser física ou moral [...]”. Diante disso,
percebe-se que também é considerada a violência moral, psicológica e sexual. Para
Saffioti (2011, p.17), “trata-se da violência como ruptura de qualquer forma de
integridade da vítima: integridade física, integridade psíquica, integridade sexual,
integridade moral”.

Antes de falar da violência de gênero é importante também que se entenda gênero, que
não deve ser percebido como sinônimo de mulheres, mas, sim, a maneira como as
diferenças biológicas são construídas socialmente e como se entrelaçam relações sociais
e emblemáticas de poder. Essa construção social do gênero envolve a superação do
binarismo biológico, ou seja, as diferenças biológicas e físicas entre macho e fêmea,
oposto de feminino e masculino.

Estudiosas feministas, partindo das considerações de Margater Mead, reforçaram a ideia


de que o gênero não está determinado biologicamente, mas sim que se trata de uma
construção cultural, por isso, não se assume em um momento da vida, mas sim constitui
um processo (SCOTT, 2000, p. 22).
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Toda violência de gênero é uma violência contra a mulher, mas o contrário não é
verídico, pois a violência de gênero implica um preceito social dos papéis masculino e
feminino. O problema não está no fato da atribuição de papéis ao homem e à mulher, e
sim ao valor e ao peso diferenciados de cada um, ou seja, à valorização do papel
masculino em prejuízo à mulher. Segundo Almeida (2007, p. 25), o conceito de violência
de gênero é hodierno, “também incorporado por organismos internacionais e remete a
estrutura de gênero, ultrapassando o caráter descritivo”. Para Saffioti (2001, p. 83):

Embora aparente de ser um conceito neutro, indica um enfoque relacional e amplo,


podendo ser empregado não como sinônimo de violência contra a mulher, mas em todas
as relações, homem-mulher, mulher-mulher e homem-homem.

Assim, a violência de gênero tem sentido amplo e tem como uma de suas espécies a
violência doméstica. Os estudos jurídicos sobre o tema, em sua maioria, versam de
maneira reducionista e dividida. A Assembleia Geral das Nações Unidas, de 1993,
conceituou a violência contra as mulheres, como: “Qualquer ato de violência de gênero
que resulte ou possa resultar em dano físico, sexual, psicológico ou sofrimento para a
mulher, inclusive ameaças de tais atos, coerção ou privação arbitrária da liberdade, quer
ocorra em público ou na vida privada”.

Toda a construção história de violência contra mulher está carregada de preconceito


relacionado ao gênero e sua relação de poder. A Lei 11.340/2006 (LGL\2006\2313)
define a violência doméstica e familiar contra a mulher em seu artigo 5º, in verbis:

Art. 5º Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher
qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento
físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial (BRASIL, 2006).

Sobre as formas de violência de gênero, a Lei 11.340/2006 (LGL\2006\2313), em seu


artigo 7º, menciona cinco, in verbis, que não se esgotam:

Art. 7º São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras:

I – a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou
saúde corporal;

II – a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano
emocional e diminuição da auto-estima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno
desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos,
crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação,
isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem,
ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que
lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação;

III – a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar,
a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça,
coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a
sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao
matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem,
suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e
reprodutivos;

IV – a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção,


subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho,
documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os
destinados a satisfazer suas necessidades;

V – a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia,


difamação ou injúria (BRASIL, 2006).

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Verifica-se que nem todas as formas descritas na lei estabelecem uma forma de
agressão física, assim, pode-se dizer que a Lei Maria da Penha (Lei 11.340/2006
(LGL\2006\2313)), além de limitar o conceito de violência doméstica, igualmente o
estendeu. A análise do referido artigo leva à conclusão de que a violência doméstica está
presente sob quatro formas principais: violência física, sexual, psicológica e patrimonial.
Veronese e Costa (2006) explicam que uma não precisa estar contida na outra, e que o
ciclo da violência e as formas podem estar interligadas e chegar o feminicídio.

Uma das formas mais frequentes de violência intrafamiliar é a violência física, que,
muitas vezes, não aparece somente como punição e disciplina, mas como refrigérios de
tensões provenientes de várias insatisfações de seus agentes. Pode, ainda, ser fruto de
sadismo ou de manifestações análogas, como uso de drogas (VERONESE e COSTA,
2006).
1
Segundo dados do Instituto Maria da Penha (Relógios da Violência ), a cada 7,2
segundos uma mulher é vítima de violência física no Brasil. A pesquisa realizada pelo
Datafolha, encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, constatou que
mais de 500 mulheres são vítimas de agressão física a cada hora no Brasil. A pesquisa,
realizada em 2017, constatou que 9% das brasileiras relatam ter levado chutes, batidas
ou empurrões no ano passado. Todavia, 52% delas afirmam não ter feito nada após os
atos, conforme demonstra a figura 1.

Figura 1 – Violência contra a mulher

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Fonte: Disponível em:


[https://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/mais-de-500-mulheres-sao-vitimas-de-agressao-fisica-a-cada-
Acesso em: 09.03.2018.

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Como se depreende do inciso II, art. 7º, da Lei 11.340/2006 (LGL\2006\2313), a


violência psicológica manifesta-se nos pequenos gestos que causem sofrimento ou
manipulação emocional, nas práticas repetidas de ofensa à mulher, na diminuição de sua
autoestima e outras que tirem dela sua capacidade de expressar pensamentos e
vontades, retirando o poder de decisão. Segundo Diel (1972) apud Veronese e Costa
(2006), a violência psicológica é “a recusa da nutrição da alma, necessária à vida: a
ternura”. No primeiro semestre de 2016, o Ligue 180 (Central de Atendimento à Mulher)
recebeu inúmeras denúncias de violência, das quais 31,10% relataram ser vítimas de
violência psicológica, números que podem ser ainda maiores, uma vez que muitas
vítimas deixam de registrar as agressões por medo ou por se sentirem culpadas.

A violência sexual contra a mulher é bárbara e pode ser considerada uma violência de
gênero, por se tratar de uma expressão extrema de poder do homem em detrimento à
mulher, que coisifica o corpo feminino. Inúmeras definições existem acerca do tema.
Segundo Strey (2001, p. 48), a violência sexual “[...] constitui-se no mais democrático
de todos os fenômenos sociais”.

Minayo e Souza (1993) destacam que a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a


Organização Pan-Americana de Saúde (OPS) certificaram a violência como um problema
de saúde pública. O Relatório Mundial sobre Violência e Saúde conceitua violência sexual
e a reconhece abrangendo suas inúmeras formas de apresentação:

Reconhece a violência sexual e a conceitua de forma a abranger as suas múltiplas


formas de apresentação, definida como: [...] qualquer ato sexual, tentativa de obter um
ato sexual, comentários ou investidas sexuais indesejadas, ou atos direcionados ao
tráfico sexual ou, de alguma forma, voltados contra a sexualidade de uma pessoa
usando a coação, praticados por qualquer pessoa independentemente de sua relação
com a vítima, em qualquer cenário, inclusive em casa e no trabalho, mas não limitado a
eles (WHO, 2002, p. 148).

O relatório da Organização Mundial de Saúde, feito em 2002, descreveu a violência


sexual como:

Qualquer ato sexual ou tentativa do ato não desejada, ou atos para traficar a
sexualidade de uma pessoa, utilizando repressão, ameaças ou força física, praticados por
qualquer pessoa independente de suas relações com a vítima, qualquer cenário,
incluindo, mas não limitado ao do lar ou do trabalho (OMS, 2002).

Esse tipo de violência revela uma transgressão dos direitos sexuais e reprodutivos da
mulher. Muitas vezes confundida com um dos deveres do casamento, inúmeras vezes
vista como legítima, considerando que o homem tem direito de exercê-la, motivo pelo
qual doutrina e jurisprudência resistiram em admitir que pudesse haver violência sexual
nos laços familiares (DIAS, 2018).

Pesquisa realizada pelo Instituto Patrícia Galvão e pelo Instituto Locomotiva, com o apoio
da Secretaria de Políticas para as Mulheres e da Campanha Compromisso e Atitude pela
2
Lei Maria da Penha , em 2016, revelou que 39% das mulheres entrevistadas já foram
pessoalmente submetidas a algum tipo de violência sexual. Feita a projeção,
constatou-se ser possível estimar que 30 milhões de brasileiras já foram vítimas de
violência sexual.

As formas de violência sexual, que se baseiam no gênero, são extensas, não se


limitando ao estupro, mas também sendo considerada a ameaça, o uso da força que
obrigue a mulher a testemunhar relação sexual não desejada, que a force a ter relação
sexual não desejada ou a participar de alguma. Considera-se, ainda, violência sexual a
chantagem ou a manipulação que obrigue a mulher a comercializar sua sexualidade,
além de outras formas (BIANCHINI, 2014).

Para Timm e Santos (2011, p. 197), a violência sexual “é uma violação dos direitos
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humanos, em especial do direito à vivência da sexualidade de forma saudável e


protegida, em que são estabelecidas diversas relações de poder [...]”.

No caso da violência patrimonial, prevista no inciso IV do artigo 7º da Lei Maria da


Penha, Porto (2012, p. 58) esclarece que se considera o crime quando houver “retenção,
subtração e destruição de instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores
e direitos ou recursos econômicos”. A maioria das vítimas não consegue reconhecer esse
tipo de violência e, consequentemente, não a denuncia.

2.3.Abordagens da violência de gênero de Foucault e Bourdieu, Butler e Beauvoir

A compreensão das relações de poder em suas múltiplas formas e revelações nos


possibilita perceber que as relações de gênero não são divididas e opostas, mas, sim,
suscetíveis a alterações e transformações. Assim, é possível crer que a igualdade de
gênero é possível e que a desigualdade existente é fruto da cultura e, por isso, está
sujeita a transformações.

Sobre o poder categórico nas relações de gênero, Foucault (1979) considera que este
possui subdivisões e entrelaçamentos. Para o filósofo, o poder não está situado em uma
instituição ou em uma pessoa, nem é algo que se possa ceder através de contratos. Para
o filósofo, o poder é relação e exercício. Como relação, o poder abre margem à
resistência.

Para Foucault (2001, p. 183), o poder “deve ser analisado como algo que circula, ou
melhor, como algo que só funciona em cadeia. Nunca está localizado aqui ou ali, [...] o
poder funciona e se exerce em rede”.

Trata-se [...] de captar o poder em suas extremidades, em suas últimas ramificações


[...] captar o poder nas suas formas e instituições mais regionais e locais, principalmente
no ponto em que ultrapassando as regras de direito que o organizam e delimitam [...]
Em outras palavras, captar o poder na extremidade cada vez menos jurídica de seu
exercício (Foucault, 1979, p. 182).

Seguindo a proposta de Foucault e empregando-a ao conceito de gênero e feminismo, a


mulher é considerada sujeito, não apenas sujeitada, mas detentora de uma
particularidade que a prende à condição de mulher.

Para McLaren (2004), o feminismo pode se apoderar das teorias de Foucault, pois nelas
existe uma diferenciação entre poder e dominação, uma vez que o poder não é
partilhado de forma igualitária. “Enquanto o poder é fluido e sempre sujeito a reversão,
estados de dominação são estáticos, relações de poder ossificadas” (McLAREN, 2004, p.
220).

De posse da teoria de Foucault existe possibilidade de descontruir verdades impostas


sobre a desigualdade de gênero justificadas na diferença biológica e na consequente
hierarquia entre homens e mulheres. Considerando o gênero relacional, não há que se
falar em poder absoluto masculino nas relações de gênero, pois as mulheres também
são detentoras de uma parcela de poder, mesmo que não seja na mesma proporção.

Essa concepção de poder oferece argumentos que ajudam a compreender a violência


contra a mulher, pois, com o conceito de poder em Foucault (2001), a mulher deixa de
ser vitimizada e se torna sujeito na relação, passando a resistir, sem mais receber a
violência de forma passiva.

As contribuições de Bourdieu (2005) também permitem demonstrar e desconstruir


utopias criadas pela diferença de gênero, que nada mais são do que uma repetição
estereotipada. Segundo o sociólogo francês, o homem aprende a dominar e a mulher
aceita essa relação de forma inconsciente. Esse fato vai se repetindo e se torna
característico do ser humano, que acaba naturalizando e legitimando tal comportamento.

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Bourdieu (2014) entende a dominação masculina como uma modalidade de violência


simbólica e a considera como:

[a] violência suave, insensível, invisível as suas próprias vítimas, que se exerce
essencialmente pelas vias puramente simbólicas da comunicação e do conhecimento, ou,
mais precisamente, do desconhecimento, do reconhecimento ou, em última instância, do
sentimento (BOURDIEU, 2014, p. 07-08).

Segundo Bourdieu (2005, p. 12), “o poder simbólico é um poder invisível no qual só


pode ser exercido com a cumplicidade daqueles que não querem saber que lhe estão
sujeitos ou mesmo que o exercem”. Assim, ainda segundo Bourdieu (2014, p. 54) “o
fundamento da violência simbólica reside nas disposições modeladas pelas estruturas de
dominação que a produzem”.

O alicerce da violência simbólica são as estruturas que a sustentam viva, estruturas que
tutelam a superioridade do homem, como a sociedade e a igreja, além de tantas outras
que colaboram para perpetuação dessa relação de dominação, impondo valores e
comportamentos. Homens e mulheres não se dão conta do quanto estão praticando a
violência simbólica, uma vez que incorporaram o habitus:

Assim, as disposições (habitus) são inseparáveis das estruturas (habitudines, no sentido


de Leibniz) que as produzem e as reproduzem, tanto nos homens como nas mulheres, e
em particular de toda a estrutura das atividades técnico-rituais, que encontra seu
fundamento último na estrutura do mercado de bens simbólicos (BOURDIEU, 2014, p.
55).

A sociedade propicia a propagação da dominação masculina, pois muitas mulheres ainda


são dependentes dos homens, seja socialmente, economicamente, seja pela diferença de
gênero, e julgam que eles são donos de todas as decisões. A sociedade não tem
contribuído para que se extinga tal pensamento; assim, a mulher continua sendo vista
como objeto de poder pertencente ao homem.

Nos estudos de Butler (2010) sobre a desconstrução do gênero, ela questiona se o sexo
teria uma história ou se seria uma estrutura concedida, sem questionamentos. Segundo
Dias e Costa (2013), o trabalho mais importante para o feminismo foi o de Judith Butler,
filósofa estadunidense, que trouxe a biologia para o campo do social, tornando-se um
nome expressivo nos estudos de gênero.

Sobre o tema, Butler (2010, p. 25) justifica:

o gênero não deve ser meramente concebido como a inscrição cultural de significado
num sexo previamente dado, […] tem de designar também o aparato mesmo de
produção mediante o qual os próprios sexos são estabelecidos.

Assim, não existe sentido na distinção do sexo de gênero, pois o gênero não pode ser
instituído como a inscrição cultural em um sexo predeterminado pela natureza, uma vez
que se inscreve na cultura. Segundo Butler (2010, p. 26), “sexo é natural e gênero é
construído. [...] nesse caso, não a biologia, mas a cultura se torna o destino”.

O gênero também deve determinar a organização da produção onde os sexos são


instaurados. O resultado disto é que:

O gênero é também os meios discursivos/culturais pelos quais “natureza sexuada” [


sexed nature] ou “um sexo natural” é produzido e estabelecido como “pré-discursivo”,
anterior à cultura, uma superfície politicamente neutra na qual a cultura age [...]. Esta
produção do sexo como o pré-discursivo deve ser entendida como o efeito do aparato de
construção cultural designado por gênero (BUTLER, 2010, p. 10).

O conceito de gênero construído culturalmente, diferentemente do de sexo, como


naturalmente adquirido, constituiu o par sexo/gênero, que serviu às teorias feministas
Página 10
Feminicídio: uma análise da violência de gênero no Brasil

para discutir as características ditas naturalmente femininas, que relacionava o feminino


ao frágil ou submisso. Para Butler (2010), o feminismo problematizou pouco o conceito
de mulher, principal problema teórico de seu livro Problemas de gênero, presumindo-o
como categoria universal, que retratava o interesse de todas as mulheres. “A presunção
de universalidade e convergência dos interesses das mulheres, embora tenha cumprido
um papel importante na promoção de sua visibilidade política, oculta as disputas e
assimetrias entre as próprias mulheres” (BUTLER, 2010, p. 17).

Butler (2010) considera que o gênero não decorre do sexo e que a distinção sexo/gênero
é arbitrária. Para a filósofa, “talvez o sexo sempre tenha sido o gênero, de tal forma que
a distinção entre sexo e gênero revela-se absolutamente nenhuma” (BUTLER, 2010, p.
25). Assim, o sexo não é natural, mas é também discursivo e cultural da mesma forma
que o gênero.

Assim como Butler (2010), Beauvoir (2009) também aborda aspectos mais complexos e
amplos para elaborar o conceito de mulher, não ficando presa aos aspectos da biologia e
anatomia do corpo feminino. Em sua obra O segundo sexo, considerada um marco
teórico da chamada segunda onda do feminismo no Brasil, Simone de Beauvoir justifica
que o gênero e especificamente o termo mulher são conceitos construídos na sociedade
e, por isso, a filósofa não considera tais expressões sendo do sexo biológico feminino.

Nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a forma que a fêmea humana
assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse produto
intermediário entre o macho e o castrado que qualificam de feminino (BEAUVOIR, 2009,
p.99).

A filósofa defende que é a sociedade que decreta o gênero de cada ser humano, e isso
não pode ser visto como biológico e sim como construído socialmente. Assim, Beauvoir
(2009) tenta desmontar a ideia de natural e procura a igualdade entre os gêneros.

A proposição da obra é a de que a mulher não é o “segundo sexo” ou o “outro” por


razões naturais e permanentes, mas, sim por inúmeras ações sociais e históricas que
criaram tal situação. Na concepção de Beauvoir (2009), aprende-se culturalmente o
gênero que é determinado na particularidade entre homens e mulheres:

Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. Nenhum destino biológico, psíquico, econômico
define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da
civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado que
qualificam de feminino. Somente a mediação de outrem pode constituir um indivíduo
como um Outro (BEAUVOIR, 2009, p. 10).

Beauvoir (2009) traz a relação entre corpo e subjetividade, mostrando que a


identificação da mulher como ser singelo e altruísta nada mais é do que uma maneira de
desautorizar a autonomia feminina, destruindo sua capacidade de se proteger da
violência e devastando seus sonhos e projetos.

2.4.A desigualdade de gênero no Brasil

A procura pela igualdade de direitos entre mulheres e homens é uma vontade mundial
que já se iniciou com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948. Reduzir as
desigualdades de gênero também tem sido uma preocupação presente.

Com o passar dos anos, as mulheres conquistaram alguns direitos, como explica Lira
(2015, p. 1):

No final do século XIX as mulheres começaram a usufruir os frutos de suas lutas,


deixando a trabalho doméstico para trabalharem em indústrias brasileiras
(especialmente nas têxteis) embora seus salários fossem muito inferiores aos dos
homens que exerciam a mesma tarefa.

Página 11
Feminicídio: uma análise da violência de gênero no Brasil

3
Estudos de Lutz (2014) comprovam que, em 1918, o movimento da classe média
brasileira reclamou o direito da mulher ao voto, sendo que em 1932 foi assegurado seu
direito ao voto e de se eleger. As mudanças em favor da mulher foram acontecendo
gradativamente, mas foi com a Constituição Federal de 1988 que elas tiveram seus
direitos como cidadãs e trabalhadoras realmente assegurados.

2.4.1 Diplomas legais que retratam a evolução da igualdade de gênero no Brasil

Na intenção de se efetivar os direitos humanos, os movimentos sociais compilaram as


reivindicações existentes, possibilitando a criação de um sistema global para proteção e
tutela dos direitos fundamentais. Esse Sistema Global de Proteção dos Direitos Humanos
foi importante para evidenciar alguns casos de violação de direitos, como a violência
contra a mulher.

Para o combate às condutas sórdidas, a Declaração Universal dos Direitos Humanos


ofereceu um caráter humanitário para a composição de legislações no período do
Pós-Guerra de 1948. A referida Declaração frisa o princípio da isonomia, isto é, procura
considerar a vida e a dignidade de todos de forma igualitária. O Brasil passou a figurar
como signatário de inúmeras medidas e pactos internacionais para a proteção e
promoção dos direitos humanos.

Esses documentos determinam ao país direitos e deveres perante o sistema global, e


mais além, permitem a repressão moral do país, pelas cortes internacionais, sempre que
a ação do Poder Público nacional for ineficaz no combate a violação desses direitos
(FADIGAS, 2006, p. 24).

Na década de 1980, os movimentos feministas, juntamente com as organizações de


proteção dos direitos humanos, passaram a considerar a violência contra a mulher uma
violação aos direitos humanos. Os documentos legais e princípios humanitários
internacionais conduziram a ação dos movimentos que forçaram o governo brasileiro a
se esforçar para prevenir a violência de gênero presente em sua sociedade.

Vásquez (2009, p. 37) apud Buzzi (2014) explica que:

No âmbito internacional, os movimentos feministas se utilizam dos Direitos Humanos


como um “braço direito” na busca pela igualdade de gênero. Inicialmente, no plano
internacional, houve uma significativa conquista na igualdade formal, aquela prevista na
lei, entre os homens e mulheres. Posteriormente, percebeu-se que a desigualdade e
diferenciação das mulheres estão enraizadas na sociedade, reconhecendo com
premência a revisão nas tratativas de seus direitos.

No Brasil, o marco principal da cidadania e dos direitos humanos das mulheres é a


Constituição Federal de 1988 (CF (LGL\1988\3)), conhecida como Constituição Cidadã,
que em seus artigos 3º e 5º estabelece os objetivos fundamentais da República
Federativa do Brasil e a igualdade entre homens e mulheres. Além disso, a Constituição
Federal de 1988 tem como princípios fundamentais a dignidade da pessoa humana e a
cidadania; aliás, a preocupação com a dignidade da pessoa humana sempre esteve
presente, como lecionam Santos Júnior e Fraga (2015, p. 13):

O legislador constituinte, desde a primeira constituição brasileira se preocupou em


colocar o princípio da igualdade como imperativo no ordenamento social e jurídico,
positivando-o de acordo com cada período histórico que acompanhou as constituições
brasileiras.

Os direitos e deveres abarcados pela CF de 1988 proporcionam um quadro apropriado ao


direito da mulher, que pode contar com o apoio do artigo 226, § 8º, in verbis: “o Estado
assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando
mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações” (BRASIL, 1988). A
Constituição Federal (LGL\1988\3) ainda traz outros artigos que ajudam a consolidar os
mandamentos deste dispositivo.
Página 12
Feminicídio: uma análise da violência de gênero no Brasil

No âmbito regional, a Convenção Interamericana para Prevenir, Sancionar e Erradicar a


Violência contra as Mulheres, conhecida como Convenção de Belém do Pará, foi
instrumento valioso que positivou “[...] o direito de toda mulher a uma vida livre de
violência, tanto no âmbito público como no privado [...]” (BUZZI, 2014, p. 72).

Em 2006, foi sancionada a Lei 11.340, batizada de Lei Maria da Penha, criada com o
objetivo de proteger vítimas de violência doméstica e familiar, buscando mecanismos
para coibir qualquer tipo de violência, seja física, sexual, psicológica, seja outra. A nova
legislação ofertou instrumentos para proporcionar proteção à vítima e para garantir
assistência social, além de resguardar seus direitos patrimoniais e familiares. De acordo
com Martins et al (2015), a lei concebeu 11 serviços e medidas de proteção à mulher.

Não satisfeito com o resultado alcançado com a Lei Maria da Penha, o legislador aprovou
a Lei 13.104/15 (LGL\2015\1496), conhecida como Lei do Feminicídio, que acresceu ao
artigo 121, § 2°, do Código Penal (LGL\1940\2), o inciso VI, tornando hediondo o crime
praticado contra as mulheres em virtude da condição de gênero. A nova tipificação foi
definida de acordo com a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito sobre Violência
Contra a Mulher:

O Feminicídio é a instância última de controle da mulher pelo homem: O controle da vida


e da morte. Ele se expressa como afirmação irrestrita de posse, igualando a mulher a
um objeto, quando cometido por parceiro ou ex-parceiro, como subjugação da
intimidade e sexualidade da mulher, por meio da violência sexual associada ao
assassinato, como destruição da identidade da mulher, pela mutilação ou desfiguração
de seu corpo; como aviltamento da dignidade da mulher, submetendo-a a tortura ou
tratamento cruel e degradante (BRASIL, 2013, s.p.)

É sabido que a Lei 11.340/06 (LGL\2006\2313) foi criada para consolidar os


compromissos que o Brasil assumiu em âmbito internacional, em especial a Convenção
sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra a Mulher (CEDAW), e
prover a falta infraconstitucional, para que a violência doméstica e familiar contra a
mulher fosse atacada.

Erradicar ou diminuir a violência contra mulher não fica preso ao clamor popular que
obriga a criação de normas e sanções que não trazem resultados efetivos. É necessário
que as normas constitucionais e infraconstitucionais sejam destacadas no cotidiano da
sociedade (MIRANDA, 2011).

3.Os efeitos jurídicos do feminicídio

3.1.O feminicídio na América Latina

A inclusão do feminicídio nas legislações latino-americanas tem tido caminhos distintos,


uma vez que existe discordância no tocante à utilização ou não da neutralidade de
gênero.

O Small Arms Survey realizou uma pesquisa no período de 2004 a 2009 e constatou que
El Salvador liderava a lista de índice de taxas de feminicídio, com 12 homicídios para
cada 100 mil mulheres, em seguida vinham Jamaica, Guatemala e Guiana (ONU
Mujeres, 2013). A pesquisa realizada pela CEPAL, em 2009, colocou a República
Dominicana no topo da lista, com 329 mortes de mulheres causadas pelo companheiro
ou ex-companheiro (CEPAL, 2011).

Recentemente, o Brasil passou a ocupar um dos primeiros lugares, segundo Velasco et al


(2018), com uma taxa de 4.473 homicídios dolosos de mulheres em 2017 (um aumento
de 6,5% em relação ao ano anterior). Desse total, 946 casos são de feminicídio, sendo o
Rio Grande do Norte o Estado com maior índice de homicídios contra mulheres, e Mato
Grosso o com maior índice de feminicídio, conforme figura 2.

Figura 2 – Mulheres assassinadas


Página 13
Feminicídio: uma análise da violência de gênero no Brasil

Fonte:
Página 14
Feminicídio: uma análise da violência de gênero no Brasil

[https://g1.globo.com/monitor-da-violencia/noticia/cresce-n-de-mulheres-vitimas-de-homicidio-no-bras
Acesso em: 29.03.2018.

Não obstante a cultura de desrespeito ao gênero feminino ser secular e estar enraizada,
apenas 15 países da América Latina têm previsão legal acerca do tema. Apesar de serem
recentes, as legislações preveem altas penas para o crime (DIAS, 2018).

Na Argentina a pena é de prisão ou reclusão perpétua, na Bolívia há pena de 30 anos de


prisão, no Chile, aplica-se a prisão perpétua qualificada, na Colômbia são previstos de 33
a 50 anos de prisão, em Honduras e na República Dominicana, de 30 a 40 anos de prisão
e no México, são 40 a 60 anos de prisão (DIAS, 2018, p. 1).

Nesse contexto, o trabalho destacará alguns países da América Latina e o tratamento


que cada um deles tem dado ao tema.

A Costa Rica, primeiro país a criminalizar o feminicídio, em 2007, com a Lei 8.589, que
tipifica a violência contra a mulher, tipificando o feminicídio como “quem dê morte a uma
mulher com a que mantenha uma relação de matrimônio, em união de fato, declarada
ou não” (PORTO 2016, p. 76).

A Guatemala introduziu o feminicídio no Decreto 22, de 2008, considerando-o “quem no


marco das relações de poder entre homens e mulheres, der morte a uma mulher, por
sua condição de mulher” (ANTONY, 2012, p.17). O país em tela apresenta altos índices
de violência ou assassinatos contra as mulheres.

No Chile, o Código Penal (LGL\1940\2), modificado pela Lei 20.480, de 2010, prevê o
instituto como um agravante, com pena de prisão perpétua qualificada; porém, Montes
(2016) destaca que a legislação considera apenas os crimes praticados por
companheiros e ex-companheiros, ou pelo pai de um filho da vítima. A lei não prevê os
casos cometidos por namorados, os que matam menores e os que não tinham nenhum
vínculo com as assassinadas. Essa restrição tem ocasionado a não punição adequada de
crimes motivados na questão de gênero. A precariedade da legislação chilena está
impedindo que o país contenha a violência. Estatísticas do governo demonstram que, em
2016, foram registrados 12 feminicídios e que, em 2015, foram registrados 45 casos
(MONTES, 2016).

No México, o feminicídio é a privação de uma mulher da vida por razões de gênero. A


legislação mexicana considera razões de gênero todo crime em que a vítima apresente
sinais de violência sexual, quando houver históricos de violência do autor contra a
vítima, entre outros (MÉXICO, 2012). Apesar de a lei mexicana ser mais dura que a
chilena, sua aplicação parece não acontecer de forma adequada, uma vez que seis
mulheres são mortas por dia (DIAS, 2018).

Na Argentina, os índices elevados de violência contra a mulher fizeram com que a


modalidade de feminicídio fosse introduzida no Código Penal (LGL\1940\2). A legislação
sobre o feminicídio teve início graças ao trabalho desenvolvido pela organização não
governamental Casa Del Encuentro na luta contra a violência de gênero.

Segundo Machado (2015, p. 19):

Na legislação argentina ao tratar da violência de gênero não faz referência que a vítima
seja mulher, dando a entender na interpretação do dispositivo que a lei também acolhe
os direitos violados da população LGBTI (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e
intersexuais).No Brasil, foi introduzida a Lei 11.340/06 (LGL\2006\2313), Lei Maria da
Penha, criada com o objetivo de proteger vítimas de violência doméstica e familiar,
buscando mecanismos para coibir qualquer tipo de violência, seja física, sexual,
psicológica, seja outra. A nova legislação ofertou instrumentos para proporcionar
proteção à vítima e para garantir assistência social, além de resguardar seus direitos
patrimoniais e familiares. De acordo com Martins et al (2015), a lei concebeu 11 serviços
e medidas de proteção à mulher.
Página 15
Feminicídio: uma análise da violência de gênero no Brasil

3.2.O Feminicídio no Brasil: uma análise da Lei 13.104, de 09 de março de 2015

Toda a construção histórica de violência contra mulher está carregada de preconceito


relacionado ao gênero e sua relação de poder. Em seu artigo 5º, a Lei Maria da Penha
define, in verbis:

violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no


gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral
ou patrimonial (BRASIL, 2006).

Muitas vítimas padeceram até o Estado notar a gravidade da violência sofrida pela
mulher e tomar uma atitude para amparar as dezenas de vítimas diárias, com a criação
da Lei 11.340/06 (LGL\2006\2313), que foi batizada de Lei Maria da Penha em
homenagem a uma das vítimas da violência doméstica que lutou pelas mulheres
buscando amparo jurídico contra tal violência.

Segundo Krug (2002, p. 5), a violência pode ser definida como:

Uso intencional da força física ou do poder ou ameaça, contra si próprio, contra outra
pessoa, ou contra um grupo ou uma comunidade, que resulte ou tenha qualquer
possibilidade de resultar em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de
desenvolvimento ou privação.

O intuito da Lei Maria da Penha é interromper a violência que as mulheres sofrem,


diariamente por seus parceiros, sem beneficiá-los com a Lei 9.099/95 (LGL\1995\70),
como feito anteriormente, que deixava sempre uma sensação de impunidade. A lei
trouxe avanços no combate à violência doméstica contra as mulheres, como comprova a
pesquisa realizada pelo instituto divulgado no mapa da violência 2016, que avaliou a
efetividade da Lei Maria da Penha (WAISELFISZ, 2015).

Com o mesmo intuito de reduzir o número de mortes por questão de gênero, em 09 de


março de 2015 criou-se a Lei 13.104/2015 (LGL\2015\1496), que acresceu ao artigo
121, § 2º, do Código Penal (LGL\1940\2), o inciso VI, tornando hediondo o crime
praticado contra as mulheres em virtude da condição de gênero. A nova tipificação,
denominada feminicídio, foi definida de acordo com a Comissão Parlamentar Mista de
Inquérito sobre Violência Contra a Mulher:

O Feminicídio é a instância última de controle da mulher pelo homem: O controle da vida


e da morte. Ele se expressa com afirmação irrestrita de posse, igualzinho a mulher a um
objeto, quando cometido por parceiro ou ex-parceiro, como subjugação da intimidade e
sexualidade da mulher, por meio da violência sexual associada ao assassinato, como
destruição da intimidade da mulher, pela mutilação dou desfiguração de seu coro,
submetendo-a a tortura ou tratamento cruel e degradante (BRASIL, 2013, s.p.).

Doutrina e jurisprudência não têm uma definição quanto à aplicabilidade da Lei


11.340/06 (LGL\2006\2313) quando a violência não é praticada por um homem. Dias
(2018) entende que as partes não precisam ser casadas para que a violência doméstica
seja caracterizada, bastando que ocorra o vínculo de afetividade ou a relação doméstica.
Assim, o sujeito ativo dessa prática é o homem ou a mulher que pratique a violência no
ambiente familiar.

Já o entendimento de Porto (2012) é que a referida lei tem o objetivo de proteger a


mulher, supostamente mais fraca, contra a agressão masculina, não podendo ser
aplicada no caso de sujeito ativo feminino.

Insta frisar ainda que toda história da Lei 11.340/06 (LGL\2006\2313), desde as
convenções internacionais que lhe sirvam de supedâneo, toda história de luta do
movimento feminista, aponta o homem como maior agressor do gênero feminino.
Agressões perpetradas por outras mulheres se inserem dentro de uma certa normalidade
no plano da estatística criminal, que não justificariam uma lei própria para dissuadi-las
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Feminicídio: uma análise da violência de gênero no Brasil

e, nesse caso, podem estar protegidas por meio de tipificação genérica de violência
doméstica do art. 129, § 9º, do Código Penal (LGL\1940\2), sem as restrições de
benefícios penais contidas na Lei 11.340/06 (LGL\2006\2313) (PORTO, 2012, p. 31).

No caso do sujeito passivo, conforme entendimento de Almeida (2010), a lei só se aplica


quando a vítima for mulher, podendo o autor ser homem ou mulher; mas há
doutrinadores que defendem que o sujeito passivo também pode ser o homem, como
esclarece Bitencourt (2009) apud Sandes (2011, p. 1):

Mas, não se pode deduzir que somente a mulher é potencial vítima de violência
doméstica, familiar ou de relacionamento íntimo. Também o homem pode sê-lo,
conforme se depreende da redação do § 9º do art. 129 do Código Penal (LGL\1940\2),
que não restringiu o sujeito passivo, abrangendo ambos os sexos.

É sabido que a Lei 11.340/06 (LGL\2006\2313) foi criada para consolidar os


compromissos que o Brasil assumiu em âmbito internacional, em especial a Convenção
sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação contra a Mulher (CEDAW), e
prover a falta infraconstitucional, para que a violência doméstica e familiar contra a
mulher fosse atacada. Assim, a referida lei mudou a forma de o Estado tratar os casos
que envolvem violência doméstica através de três meios:

a) aumentou o custo da pena para o agressor; b) aumentou o empoderamento e as


condições de segurança para que a vítima pudesse denunciar; e c) aperfeiçoou os
mecanismos jurisdicionais, possibilitando que o sistema de justiça criminal atendesse de
forma mais efetiva os casos envolvendo violência doméstica (CERQUEIRA et al, 2015, p.
10).

Esses três elementos modificaram o comportamento da vítima e do agressor, pois as


vítimas agora se sentem em um ambiente mais seguro, e o agressor viu a possibilidade
de maior punição. Em estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(IPEA), em 2015, sobre a efetividade da Lei Maria da Penha, constatou-se que a lei
realizou seu papel de conter a violência de gênero, diminuindo em 10% a taxa de
homicídio contra as mulheres dentro das residências, mesmo sendo evidente que sua
efetividade não se deu de maneira uniforme no País, pois sua eficiência depende da
oficialização de inúmeros serviços de caráter protetivo e, isso acontece de forma
desigual no Brasil.

O estudo do IPEA confirmou que as conquistas de proteção à mulher são reais, mas
também demonstrou que ainda existe um longo caminho a ser percorrido, em especial a
institucionalização de serviços de proteção às vítimas. Conforme demonstrado pela
figura 3, verifica-se que, em 2015, foram registrados 17.871 atendimentos a casos de
estupros contra pessoas do sexo feminino e em 71% deles as vítimas eram crianças
entre 0 e 12 anos, ou adolescentes entre 13 e 19 anos, segundo o Sistema de
Informação de Agravos de Notificação (Sinan), órgão ligado ao Sistema Único de Saúde
(SUS) e ao Ministério da Saúde.

Figura 3 – Os números da violência (2015)

Página 17
Feminicídio: uma análise da violência de gênero no Brasil

Fonte: Disponível em:


[www.ipea.gov.br/desafios/index.php?option=com_content&view=article&id=3295&catid=28&Itemid=3
Acesso em: 27.03.2018.

Apesar da mudança de comportamento da vítima e da importância da Lei Maria da Penha


em dar mais visibilidade à vulnerabilidade das mulheres, fazendo crescer o número de
Página 18
Feminicídio: uma análise da violência de gênero no Brasil

denúncias, a eficácia da lei não foi tão grande, pois os números de assassinatos contra
mulheres continuaram com índices elevados, razão pela qual foi criado o crime
Feminicídio, que inseriu qualificadoras do crime de homicídio (CONCEIÇÃO, 2016).

3.3.O feminicídio e a Lei Maria da Penha

A criação das leis Maria da Penha e do Feminicídio, juntamente com outras medidas que
promovem a precaução, o combate e a erradicação da violência contra a mulher, ajudam
a assegurar à mulher o direito à vida e o direito sobre seu corpo.

Nucci (2016, p. 617) explica que o feminicídio é “uma continuidade da tutela especial,
considerando homicídio qualificado e hediondo a conduta de matar mulher, valendo-se
de sua condição de sexo feminino”. Nesse entendimento, tanto o Feminicídio quanto a
Lei Maria da Penha são amparos especiais, uma vez que a violência está ligada ao
gênero da vítima – mulher.

A nova lei (Lei 13.104/2015 (LGL\2015\1496)) modificou o artigo 121 do Código Penal
(LGL\1940\2) (Decreto-lei 2.848/1940 (LGL\1940\2)) incluindo o Feminicídio como uma
qualificadora do crime de homicídio:

Homicídio simples

Art. 121. Matar alguém:

Pena - reclusão, de 6 (seis) a 20 (vinte) anos.

Homicídio qualificado

§ 2º Se o homicídio é cometido:

Feminicídio

VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino:

Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.

§ 2º-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime


envolve:

I - violência doméstica e familiar;

II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher (BRASIL, 2015).

O dispositivo penal passou a prever expressamente o crime de feminicídio e as


possibilidades em que será considerada violência em razão das condições de sexo
feminino. No tocante à qualificadora do crime, existe discussão a respeito de
considerá-la objetiva ou subjetiva. Para Bianchini e Gomes (2014), ela seria subjetiva,
“uma vez que a razão para o cometimento do crime é o fato da vítima estar na condição
do sexo feminino”. Na opinião de Dorigon e Silvério (2018, p. 1):

Todavia, entende-se que a característica do crime seria mista, pois quando o crime fosse
praticado em razão de menosprezo ou discriminação ao fato da vítima estar na condição
de mulher, estaria caracterizada como subjetiva, uma vez que o motivo, a razão do
delito seria o gênero da pessoa. No entanto seria objetiva quando o Feminicídio
configurasse por meio de violência doméstica ou familiar, pois aqui não seria a violência
de gênero que caracterizaria a qualificadora, mas sim o modo de execução do crime.

Como é possível perceber, não será considerado feminicídio qualquer homicídio de


mulher, mas, sim, aqueles que se encaixarem nas hipóteses previstas nos artigos 5º e
7º da Lei 11.340/2006 (LGL\2006\2313) ou, ainda, se houver menoscabo ou
discriminação da mulher em razão de seu gênero. Na legislação brasileira, o feminicídio
é um homicídio qualificado que se caracteriza como:
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Feminicídio: uma análise da violência de gênero no Brasil

[...] consequência de uma ordem de dominação patriarcal. Ao mesmo tempo em que


ressalta o caráter de crime de ódio ou de poder, pelos seus perpetradores pelos
comportamentos das mulheres considerados violações ou transgressões a ordem
patriarcal (ROMERO, 2014, p. 377).

Para configurar o feminicídio a morte tem que ser, segundo Gomes (2015, p. 193),

[...] violenta, não acidental e não ocasional de uma mulher em decorrência justamente
da sua condição de gênero, como ápice de violências cotidianas, revelando-se como um
somatório de [...] vulnerabilidades sofridas ao longo da vida.

O feminicídio deve estar associado à violência doméstica e familiar contra a mulher. De


acordo com Passinato (2011, p. 224), a ação de matar não pode ser solitária, é
necessário um histórico violento:

[...] outra característica que define femicídio é não ser um fato isolado na vida das
mulheres vitimizadas, mas apresentar-se como o ponto final em um continuum de
terror, que inclui abusos verbais e físicos e uma extensa gama de manifestações de
violência e privações a que as mulheres são submetidas ao longo de suas vidas. Sempre
que esses abusos resultam na morte da mulher, eles devem ser reconhecidos como
femicídio.

O menosprezo da condição feminina também caracteriza o feminicídio, em razão da


relação de poder e submissão do agressor sobre a vítima. Esse menosprezo, muitas
vezes, está associado às condições da morte (crime praticado na frente dos filhos,
golpes desferidos nos seios e na vagina, exibição do corpo em lugar público e outros).

Oliveira et al (2015) consideram que a criminalização do feminicídio tenha sido


necessária e justa, pois a sociedade devia isso às mulheres; porém, a judicialização do
feminicídio é uma modificação que o Estado deve considerar para modificar a realidade
atual. Para Garita (2013), o Estado tem a responsabilidade de prevenir e combater o
feminicídio, uma vez que ele viola direitos fundamentais. Na opinião de Mello (2015, p.
69), “entre os maiores desafios para prevenir e, ao mesmo tempo, efetivar as medidas
judiciais em relação ao agressor, nos casos de mulheres em situação de violência, é a
falta de vontade política do Estado”.

4.Críticas e vantagens da tipificação do feminicídio

O termo femicide foi usado pela primeira vez em 1976, no Tribunal Internacional de
Crimes contra Mulheres, em Bruxelas, para qualificar o assassinato de mulheres por
serem mulheres; mas somente em 1990 o termo foi conceituado como “o assassinato de
mulheres realizado por homens motivado por ódio, desprezo, prazer ou um sentido de
propriedade sobre as mulheres” (CAPUTI; RUSSEL, 1992, p. 34).

Para os defensores da tipificação do feminicídio, ele é considerado um avanço na luta


pelos direitos das mulheres, pois representa um avanço político, legislativo e social,
podendo aperfeiçoar procedimentos, investigações e julgamento, coibindo o assassinato
de mulheres. A importância da tipificação do feminicídio para seus defensores é a
visibilidade que tal ato traria à existência de assassinato de mulheres por questões de
gênero.

Argumenta-se que as mulheres são assassinadas em circunstâncias em que os homens


não costumam ser e que é necessário expor tais circunstâncias, a fim de que o público
as conheça e se sensibilize com a situação dessas mulheres, de modo a contribuir para
uma mudança da mentalidade patriarcal predominante no contexto ibero-americano (
Contribuições ao debate sobre a tipificação penal do feminicídio/femicídio, 2012, p. 177).

Juntamente com a visibilidade trazida pela tipificação, o Estado passaria a ter obrigação
de evitar a morte de mulheres, por meio de políticas públicas de prevenção e
erradicação da violência e, caso o crime aconteça, o Estado deve agir de maneira eficaz
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Feminicídio: uma análise da violência de gênero no Brasil

na acossa penal do agressor.

Segundo Cabañas e Rodríguez (2002) apud Gebrim e Borges (2014), a norma jurídica
neutra do homicídio alcança quem tira a vida de uma mulher por razões de gênero, mas
não é possível vislumbrar o contexto de tais mortes nem seu caráter social, pois ficam
registradas como um simples homicídio. Assim, o tipo penal ajudaria o acesso à justiça,
incluindo conceitos novos e facilitando para modificar a maneira dos juízes aplicarem a
lei.

Godoy (2015, p. 1), sobre a importância de tipificar o feminicídio esclarece:

A importância em tipificar o crime de feminicídio é que seja reconhecido, na forma da lei,


que as mulheres são mortas pela razão de serem mulheres, demonstrando tamanha
fissura acerca da desigualdade de gênero mantidos em nossa sociedade. A sociedade é
havida a combater eminente e progressiva impunidade, extinguindo a possível atuação e
propagação de “feminicidas” sendo beneficiados por interpretações jurídicas moralmente
inaceitáveis, como se tivessem cometido um crime passional, reafirmando que o direito à
vida é garantido a todos e de que não haverá impunidade, protegendo a dignidade da
vítima, ao invés de constituir atos que desqualificam a condição de ser mulher e atribua
a estas a responsabilidade pelo crime cometido em razão de gênero das quais foram
vítimas.

Os defensores dessa corrente acreditam que a tipificação do feminicídio ajudará no


combate à violência contra as mulheres, proporcionando a diminuição da impunidade
desses crimes. A tipificação veio acolher reivindicações relacionadas ao ciclo de violência
contra a mulher (HEINISCH e MACHADO, 2017).

Para Lyra (1975, p. 97):

A tipificação do feminicídio ainda visa impedir o surgimento de interpretações jurídicas


anacrônicas e inaceitáveis, tais como as que reconhecem a violência contra a mulher
como “crime passional”. Nesse ponto, precisa a observação de Roberto Lyra, quando
preleciona: “O verdadeiro passional não mata. O amor é, por natureza e por finalidade,
criador, fecundo, solidário, generoso. Ele é cliente das pretorias, das maternidades, dos
lares e não dos necrotérios, dos cemitérios, dos manicômios. O amor, o amor mesmo,
jamais desceu ao banco dos réus. Para os fins de responsabilidade, a lei considera
apenas o momento do crime. E nele o que atua é o ódio. O amor não figura nas cifras da
mortalidade e sim nas da natalidade; não tira, põe gente no mundo. Está nos berços e
não nos túmulos”.

Para os contrários à criminalização do feminicídio, o Direito Penal não alcançaria os fins


desejados pelos movimentos feministas, uma vez que a violência contra as mulheres e a
impunidade não seriam resolvidos com a criação de novos tipos penais ou ampliação da
pena. Apoiados em argumentos da Criminologia Crítica, esse grupo considera que o
Direito Penal não “é o instrumento adequado à prevenção de condutas delituosas”
(BRASIL, 2013, p. 12).

Outro equívoco seria o fato de esperar que um tipo penal garanta uma política criminal
ou que mude a forma de interpretação jurídica, pois é preciso que se considerem os
diferentes grupos de mulheres:

Outro grande problema da tipificação é a maneira como ela é feita, uma vez que quase
nunca considera as diferentes realidades vividas pelas mulheres. Isso porque, por mais
que todas vivam numa sociedade patriarcal, sentem a opressão da diferença das
relações de poder entre homens e mulheres de formas distintas. Consequentemente, a
violência hoje conhecida como feminicídio também é vivida de vários modos nos seus
diferentes contextos, que devem ser analisadas em cada caso (PRAXEDES SILVA, 2015,
p. 57).

Há ainda o fato de a lei considerar sujeito ativo do referido crime apenas os homens,
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Feminicídio: uma análise da violência de gênero no Brasil

deixando de fora o assassinato das mulheres transexuais. Praxedes Silva (2015)


considera que a lei deixou o texto muito aberto e, assim, o Judiciário tradicional aplicará
a lei reproduzindo estereótipos de gênero. Sobre o fato, Campos (2014, p. 502)
esclarece:

Por sua vez, a resistência de operadores do direito em romper com a perspectiva


privatista/familista que norteava a aplicação da legislação anterior aos casos de violência
doméstica e familiar denota que há um longo caminho a percorrer para uma mudança
paradigmática.

Percebe-se que ambos os lados têm argumentos sólidos, com vantagens e desvantagens
da tipificação do feminicídio, mas o mais importante é que Estado e sociedade passem a
ter um compromisso sério com a erradicação desse tipo de violência, não sendo possível
enxergar o problema apenas do ponto de vista criminal, mas, sim, de forma global e
integral.

5.Considerações finais

Através da presente pesquisa foi possível explorar o fenômeno complicado que é a


violência praticada contra a mulher. O estudo demonstrou que a violência aplicada às
mulheres é histórica e origina-se graças a um sistema de dominação masculina e
subordinação feminina que ordena os papéis que cada sexo vai exercer dentro da
sociedade, como comportamentos e representações baseados em discursos
essencialistas, como se o fator biológico determinasse a forma de pensar, agir e
perceber o mundo. Dessa forma, às mulheres só sobraria a obediência de forma
indiscutível e definitiva. Esse modelo de sociedade causou violações de direitos e obrigou
as mulheres a se manterem em condição inferior aos homens, desde a dominação física
e sexual até a morte (o feminicídio).

A realização do estudo também permitiu investigar, de forma não exaustiva, o motivo


pelo qual as mulheres se encontram em condição de violência. Muitos autores acreditam
e defendem que tal violência se dá por desigualdade de gênero, sendo natural pela
cultura que se vive; assim, ela é transferida pelas sociedades e acaba enraizada nas
pessoas que passam a vê-la de forma natural e a aceitá-la sem questionar.

Com a modernidade, os movimentos feministas passaram a lutar pelos direitos das


mulheres fazendo com que tais violações de direitos fossem cada vez mais visíveis na
sociedade brasileira. Esses movimentos impeliram o poder público a reorganizar seus
órgãos, proporcionando políticas públicas e julgamentos mais rápidos em processos para
garantir direitos humanos fundamentais das mulheres. Assim, os movimentos feministas
incluíram mudanças significativas em favor da mulher, garantindo seus direitos humanos
e cidadania.

Tais políticas públicas e legislações não conseguiram assegurar a redução da violência


contra as mulheres. Dessa forma, para tentar reduzir esse tipo de violência, entrou em
vigor a Lei do Feminicídio, que passou a qualificar os homicídios de mulheres como crime
hediondo, quando forem em decorrência de violência doméstica e familiar ou, ainda, em
razão de menosprezo ou discriminação da condição de mulher, conforme a nova redação
do artigo 121 do Código Penal (LGL\1940\2).

Apesar do grande avanço, não é possível crer que no novo diploma legal, por si só, fará
desaparecer o problema da desigualdade instalada na sociedade brasileira, que continua
a subjugar as mulheres e a infringir seus direitos em todos os níveis. Para mudar essa
triste realidade é necessário que o Poder Público introduza medidas efetivas de
erradicação da violência e do feminicídio, para que se dê um basta no extermínio de
mulheres pelo simples fato de serem mulheres.

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