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UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL

CENTRO DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
POLO EAD PETRÓPOLIS

CLAUDIA RUFINO SANDES

VIOLÊNCIA CONTRA MULHER, FEMINICÍDIO E ATUAÇÃO DO SERVIÇO


SOCIAL

Petrópolis
2023
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CLAUDIA RUFINO SANDES
RGM nº 24530611

VIOLÊNCIA CONTRA MULHER, FEMINICÍDIO E ATUAÇÃO DO SERVIÇO


SOCIAL

Trabalho de Conclusão de Curso I apresentado ao


curso Serviço Social da Universidade Cruzeiro do
Sul, como parte das exigências para obtenção de
graduação em Serviço Social.

Orientadora Kelly Coutinho

Petrópolis
2023

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SUMÁRIO

RESUMO.................................................................................................................................................4
1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................................4
2 ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL............................................................................................................8
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................................................10
4 REFERÊNCIAS.....................................................................................................................................11

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VIOLÊNCIA CONTRA MULHER, FEMINICIDIO E ATUAÇÃO DO SERVIÇO
SOCIAL

RESUMO

A Violência contra mulher é recorrente e presente no mundo, com intensificação


durante a pandemia da COVID-19, motivando crimes hediondos e graves violações dos
Direitos Humanos, sintetizados pela ONU.
Caracteriza-se violência contra a mulher: violência doméstica, sexual, física,
psicológica, patrimonial, moral, institucional, tráfico de mulheres, exploração sexual,
comercial de mulheres, adolescentes/jovens, assédio sexual, moral e cárcere privado.
Pretende-se, neste artigo, discorrer sobre a intervenção do Serviço Social, junto à
violência contra a mulher, propondo aportes teórico-metodológicos e políticas públicas para
essa questão.

1 INTRODUÇÃO

No percurso do estudo, foi constatado que a realidade vivenciada por diversas


mulheres no mundo e no Brasil tem características próprias, por meio de humilhação, de
agressão física e dilaceração de seus corpos, assassinadas por parceiros ou ex, por familiares,
por desconhecidos, estupradas, esganadas, espancadas, mutiladas, negligenciadas e violadas
por instituições públicas. Mulheres morrem barbaramente todos os dias no Brasil. Mortes
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anunciadas seguem acontecendo pelo fato de mulher ser mulher, ou seja, do seu gênero.
Degradação moral e física, resultantes em feminicídios.
O termo gênero, em suas versões mais difundidas, remete a um
conceito elaborado por pensadoras feministas precisamente para desmontar
esse duplo procedimento de naturalização mediante o qual as diferenças que
se atribuem a homens e mulheres são consideradas inatas, derivadas de
distinções naturais, e as desigualdades entre uns e outros são percebidas
como resultado dessas diferenças. (PISCITELLI, 2009, p119).

Os feminicídios são cometidos tanto no âmbito privado como no público, em


circunstâncias e contextos diversos, em que as condições femininas assumem variadas formas,
mais ou menos.

Um traço comum a todas as violências é serem resultantes da desigualdade de poder


entre os gêneros e desigualdades originadas pelo sistema capitalista, isto é, da objetificação
das mulheres, resultante de uma cultura brasileira patriarcal, misoginia e machista.
Falamos de Eloá, Eliza, Mércia, Isabella, Michele, Sandra, Daniella, Maristela, Ângela
e tantas outras mulheres que foram barbaramente assassinadas por não aceitarem permanecer
em relação abusiva, violenta, e por não aceitarem as regras ou expectativas de seus
companheiros ou da sociedade, por serem vistas como abjetos sexuais, por terem sido
invisíveis ao Estado e ao sistema judicial, que na grande maioria dos casos, não foram capazes
de ouvi-las e, portanto, de prevenir tais mortes anunciadas. (Aline Yamamoto, ex-secretária
adjunta de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres da SPM-PR, e Elisa Sardão Colares,
analista de Políticas Sociais da Secretária de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres da
SPM, em artigo para o Boletim Observa Gênero)

A violência de gênero segundo Saffioti (O Poder do Macho, 1987)


“é tudo que tira os direitos humanos numa perspectiva de manutenção das
desigualdades hierárquicas existentes para garantir obediência,
subalternidade de um sexo a outro. Trata-se de forma de dominação
permanente e acontecem em todas as classes sociais, raças e etnias”.

Simone de Beauvoir (O Segundo Sexo, 1949) em seu estudo sobre a mulher e o seu
papel na sociedade aponta como a subalternidade da mulher ao homem advém de uma

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perspectiva em que o papel feminino é destituído de identidade cultural, e histórico,
classificado como algo natural, meramente biológico.

No Brasil em 2022, foi registrado mais de 1.410 feminicídios, o que representa um


recorde de uma mulher morta a cada seis horas por questões ligadas ao gênero. Esse número
representa cerca de 5% a mais que em 2021 e é o maior registrado desde que a lei do
feminicídio entrou em vigor, em 2015. (Portal de notícias G1, mencionando dados oficiais dos
26 estados do país e do Distrito Federal).
Se forem considerados os homicídios de mulheres, sem levar em conta suas
motivações, o número aumentou 3% entre 2021 e 2022, para 3.930.
A expressão da motivação de gênero de um crime pode aparecer em situação que nos
são mais conhecidas, pela visibilidade que as lutas feministas conseguiram e também pelo
acúmulo proporcionado pela Lei Maria da Penha para conhecer melhor a violência doméstica
e familiar. Mas outros contextos têm chamado atenção. Temos percebido fenômenos como o
assassinato e abandono do corpo da mulher, muitas vezes com marcas de violência sexual e
lesões – como rosto, seio, ventre e genitais, por exemplo – e indícios de que os crimes são
praticados com crueldade e uso de tortura. Há ainda outras situações que podem ocultar
razões de gênero e que comumente caem na vala comum, por exemplo, dos crimes
relacionados à violência urbana.
Para compreender melhor o fenômeno do feminicídio, no que se refere às coberturas
midiáticas, é relevante destacar a ausência de mulheres negras. As dimensões raciais e de
pobreza precisam ser mais evidenciadas para os atos de feminicídios contra mulheres pretas,
considerando que estatisticamente são casos mais freqüentes.
De acordo com Anuário Brasileiro de Segurança Pública – 02/08/2022, a diferença
racial nas vítimas de feminicídio é menor do que a diferença nas demais mortes violentas
intencionais. 37,5% das vítimas de feminicídio são brancas e 62% são negras. Nas demais
mortes violentas intencionais, contudo, 70,7% são negras e apenas 28,6% são brancas. Em
última instância, o que os dados nos indicam é uma possível subnotificação das negras
enquanto vítimas de feminicídio. Demais estudos ainda devem ser realizados para aprofundar
o fenômeno, entretanto, levanta-se a hipótese de que as autoridades policiais enquadram
menos os homicídios de mulheres negras enquanto feminicídio. Ou seja, mais mulheres

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negras, mesmo sendo mortas pela condição de ser mulher, são incluídas na categoria de
homicídio doloso e não feminicídio, o que parece acontecer menos com as mulheres brancas.

Esta hipótese ganha força quando analisamos a mortalidade geral de mulheres por
agressão ao longo da última década e verificamos que, se os assassinatos de mulheres brancas
caíram, os de mulheres negras se acentuaram, aumentando a disparidade racial da violência
letal (FBSP, IPEA, 2020, p.11).

Importante destacar as ações do Movimento Feminista, que em primeiro momento


esteve ligado à perspectiva de denunciar a violência contra mulheres e, num segundo
momento, desenvolvendo ações buscando garantir o atendimento e o apoio através de serviços
específicos para as mulheres que viviam em situação de violência.

As primeiras conquistas do movimento feminista junto ao Estado para a


implementação de políticas públicas voltadas ao enfrentamento à violência contra mulheres
datam da década de 1980. Em 1985, justamente na culminância da Década da Mulher,
declarada pela ONU, é inaugurada a primeira Delegacia de Defesa da Mulher e criado o
Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM), Delegacia Especializada de
Atendimento à Mulher (DEAMs) e de Casas de Abrigo. Essas três importantes conquistas da
luta feminista brasileira foram, durante muito tempo, as principais balizas das ações do Estado
voltadas para a promoção dos direitos das mulheres no enfrentamento à violência.
Em 1988 a Constituição Brasileira passa a reconhecer as mulheres iguais aos homens,
2006 é sancionada a Lei Maria da Penha, 2015 é aprovada a Lei do Feminicídio, 2018 a
importunação sexual feminina passou a ser considerada crime e 2021 é criada a lei para
Prevenir, Reprimir E Combater a Violência contra Mulher.
Além da criação das casas de abrigo, a criação e implementação dos Programas,
Planos e Pactos, a nível nacional, vem acelerando as ações de apoio às mulheres em situação
de risco. Importante ressaltar que a Lei 11.340 Maria da Penha (BRASIL, 2006), que “cria
mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher [...] e
estabelece medidas de assistência e proteção às mulheres em situação de violência doméstica
e familiar” (Art.1º). Esta lei, dentre outros efeitos provoca a viabilização do processo de
efetivação da prevenção, da responsabilização, do atendimento e do combate à violência

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doméstica e familiar contra a mulher e a Lei 13.104/2015 Lei do Feminicídio, prevê
circunstância qualificadora do crime de homicídio e inclui no rol dos crimes hediondos. A lei
considera o assassinato que envolve violência doméstica e familiar, menosprezo ou
discriminação à condição de mulher.

2 ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL

Como é proposto neste artigo, o profissional de Assistência Social, devem oferecer um


suporte e acolhimento social às famílias, considerando os impactos que a situação da
violência acarreta para o núcleo familiar como um todo. As ações em situações de violência,
após os primeiros procedimentos sociojurídicos e de saúde, é o restabelecimento dos contatos
sociais, é a dinamização da comunicação no interior da família e desta com o meio social mais
amplo, como a vizinhança, entre outros.
Uma importante ferramenta do(a) assistente social é o acolhimento, que pretende ser
includente e humanizador. É um instrumento que direciona para o acesso a bens e serviços.
Acompanha esta ferramenta a escuta sensível, que Barbier (2010), afirma se tratar de “um
escutar-ver”.
A escuta sensível se apóia na empatia. O pesquisador deve saber sentir o universo
afetivo, imaginário e cognitivo do outro para poder compreender de dentro suas atitudes,
comportamentos e sistema de idéias, de valores de símbolos e de mitos. A escuta sensível
reconhece a aceitação incondicional de outrem. O ouvinte sensível não julga, não mede, não
compara. Entretanto, ele compreende sem aderir ou se identificar às opiniões dos outros, ou
ao que é dito ou feito.
Como é perceptível o(a) assistente social não trabalha sozinho(a). Trata-se da
interdisciplinaridade. O trabalho interdisciplinar possibilita troca de saberes, pelo apoio mútuo
quanto ao atendimento e quanto à tomada de decisões, fortalece a equipe técnica, a qual,
numa perspectiva de gênero, visa estimular as potencialidades das mulheres, orientando-as e
animando-as à ação. Assim, o trabalho interdisciplinar supõe diálogo e ação.

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Outra metodologia significativa consiste no trabalho em rede. Faleiros (1998) afirma
que as redes existem na sua concretude, não sendo “invenções abstratas, mas partem da
articulação de atores/organizações-forças existentes no território para uma ação conjunta
multidimensional com responsabilidade compartilhada (parcerias) e negociada”.
O objetivo da intervenção em rede social é proporcionar recursos e serviços a pessoas
que têm dificuldades em diferentes esferas ou dimensões de suas vidas como saúde, moradia,
educação e trabalho, para que consigam auto-organizar-se.
A rede alimenta-se pela circulação da informação, pois esta possibilita a realização
dos objetivos compartilhados. Quanto a isto, ressalta-se o que Faleiros (1998) faz referência
em relação às redes democráticas. São elas que envolvem os sujeitos mais fragilizados,
vulneráveis e implicam nas vidas destes sujeitos, contribuindo para seu fortalecimento ou
empoderamento. Toda a rede precisa assumir um paradigma fundamental de defesa dos
direitos humanos, de valorização da mulher, de sua autonomia e identidade, de mudança
cultural relativa ao machismo e ao autoritarismo, de reinserção e cura do vitimizado, de
articulação entre atores nas diferentes políticas sociais, como saúde, assistência social e
educação.
Compreender esse processo exige do assistente social, investigação e atuação
profissional, que requer disposição, capacitação, habilidade. Conhecer a situação de violência
doméstica e familiar em sua totalidade vai demandar preparo teórico e metodológico, bem
como postura ética e política.
É fundamental viabilizar o Serviço Social, na área de atuação em Direitos Humanos.
Assim, intervir profissionalmente em processos sociais e institucionais no enfrentamento da
violência, significa materializar a ética que compromete assistentes sociais na luta por direitos
sociais na perspectiva de uma sociedade emancipada. Sabe-se que, no contexto atual,
estrutural e conjuntural, isto representa um grande desafio. No entanto, enfrentá-lo requer, por
parte dos assistentes sociais, permanente resistência contra a banalização da violência, contra
a barbarização da vida social e interpessoal e, exige, ao mesmo tempo, capacitação
continuada. Neste aspecto, tratando-se de um campo de atuação, cuja perspectiva é a de
gênero, pensa-se como fundamental privilegiar esta categoria na formação e no exercício
profissional. Efetivar esta vinculação significa estrategicamente central na concretização do
projeto ético-político do Serviço Social.

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3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

No decorrer da pesquisa, fica evidenciada a força que os Movimentos Feministas


exercem, na transformação ocorrida na sociedade através do engajamento político.
O que chama a atenção, no entanto, são os dados alarmantes da disparidade racial da
violência letal. A omissão das autoridades policiais ao enquadrarem feminicídios de mulheres
negras como homicídios, impõem uma cortina de fumaça à realidade dos fatos. Neste sentido,
apontamos aqui, nada mais é do que uma forma de invisibilizar a violência contra a mulher
preta.
Outro fato observado relaciona-se a violência ser resultante da desigualdade de poder
entre gêneros, resultante de uma cultura patriarcal, misoginia e machista. Mulheres são mortas
pelo simples fato de ser mulher, de lutar por seus direitos.
A violência doméstica e familiar esta atrelada ao patriarcado, a cultura da
subserviência que há décadas fortalece o machismo impondo que mulheres vivenciem
situações violentas que prejudica o bem-estar, integridade física, psicológica ou a liberdade -
direito de ir e vir.
No que tange o Serviço Social, é uma profissão interventiva, socialmente construída,
inserida na divisão sociotécnica do trabalho. O profissional tem que ter competência nas
negociações, qualidade nas propostas, justificativas convincentes, objetivos claros,
metodologia operacional. São de responsabilidade do profissional, realizar um trabalho
incansável do resgate dessas mulheres como sujeitos de direitos, como seres sociais e cidadãs.
Resgatando-lhes a auto-estima e a autoconfiança, trabalhando o processo de fortalecimento e
de emancipação. Entretanto, governos anteriores não consideravam como prioridade os
programas de atendimento para mulheres, designando pouco apoio técnico e financeiro.
Contudo o Serviço Social tem a necessidade de se aprofundar e trabalhar o
feminicídio, pois se notou ser insuficiente a discussão dessa problemática na profissão. Vale
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salientar a necessidade do aprimoramento profissional. Porém, ainda encontra muitos entraves
à sua atuação, pois os espaços de intervenção ainda são muitos restritos.

4 REFERÊNCIAS

YAMAMMOTO Aline, ex-secretária adjunta de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres da


SPM-PR, e Elisa Sardão Colares, analista de Políticas Sociais da Secretária de Enfrentamento à
Violência contra as Mulheres da SPM, em artigo para o Boletim Observa Gênero

Portal de notícias G1, mencionando dados oficiais dos 26 estados do país e do Distrito Federal

A Revista Brasileira de História & Ciências Sociais – RBHCS Vol. 14 Nº 29, Julho - Dezembro de
2022 Universidade Federal do Rio Grande – FURG

Anuário Brasileiro de Segurança Pública – 02/08/2022

BRASIL. LEI Nº 13.104, DE 9 DE MARÇO DE 2015. Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13104.htm.

BRASIL. LEI MARIA DA PENHA. Lei n. 11.340/06, de 7 de agosto de 2006.

GONÇALVES, Aparecida foi secretária nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres


da Secretária de Políticas para Mulheres entre 2003 e 2015. É ativista do movimento especialista
em gênero e violência contra as mulheres.

FEMINICÍDIO E SERVIÇO SOCIAL: NOTAS PARA UM DEBATE – SANTOS, Beatriz Silva


dos – Graduanda na faculdade Maurício de Nassau – UNINASSAU, Sergipe, Brasil

GALVÃO. Instituto Patrícia. Feminicídio #InvisibilidadeMata. São Paulo. 2017. Disponível em:
https://assets-institucionalipg.sfo2.cdn.digitaloceanspaces.com/2017/03/
LivroFeminicidio_InvisibilidadeMata.pdf.

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