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2.

FEMINICÍDIO E FEMICÍDIO
Antes de qualquer consideração acerca do assunto, é de indispensável
importância realizar a conceituação e diferenciação dos dois termos, pois, são
os vértices do tema a ser abordado no presente trabalho.
Ainda que a lei LEI Nº 13.104, DE 9 DE MARÇO DE 2015 1estabelece
em seu preceito primário um conceito base de feminicídio, parece ter sido
tarefa da doutrina ampliar a conceituação do crime e dar respaldo para as
mulheres vítimas de tal delito.
Ademais, distingui-los, é de fundamental importância para o interessado
leitor, visto que os termos podem causar confusão conceitual quando lidos de
maneira apressada. Adiantando sutilmente o significado dos termos, conforme
alguns autores traduzem, femicídio e feminicídio possuem diferente no que
tange à sua motivação. Enquanto que feminicídio pode ser compreendido como
o assassinato de mulheres pautado no caráter do seu gênero sexual, femicídio
é unicamente o assassinato de mulheres. (LAGARDE, 2004).
Embora semelhantes, possuem forte distinção no que diz respeito ao
escopo do crime, portanto, para adequações quanto a culpabilidade e
tipicidade, institutos indispensáveis e de ímpar relevância dentro do direito
penal, estabelecer claras distinções em relação aos dois vocábulos, faz-se
obrigatório e capital para conceber eventuais pertinências pretendidas no que
tange a necessidade de adequar a conduta à culpabilidade e tipicidade.
De todo modo, feminicídio ou femicídio, ambos os termos foram
cunhados para desconstruir estereótipos e combater abordagens que
tendem a naturalizar, patologizar e individualizar os casos, tratando-
os como crimes passionais, de modo a ocultar a sua verdadeira
amplitude. Ou seja, tais termos surgem como tentativa de redefinir e
reacender as discussões sobre as experiências das mulheres e sobre
a responsabilidade dos homens (AZEVEDO, 2019).

1 “Homicídio simples
Art. 121.
(...)
Homicídio qualificado
§ 2º
(...)
Feminicídio
VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino:
(...)
§ 2º -A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve:
I - Violência doméstica e familiar;
II - Menosprezo ou discriminação à condição de mulher.
2.1 FEMICÍDIO

Diana Russel foi a primeira pessoa a utilizar o termo femicídio. Reza a


história que Diana cunhou o termo durante um depoimento perante o Tribunal
Penal Internacional de Crimes contra Mulheres, no ano de 1976 em Bruxelas,
na Bélgica, onde, na ocasião, Diana utilizou o termo “femicide” durante seu
discurso para mais de duas mil mulheres de variadas nacionalidades.
(MENEGHEL; PORTELLA, 2017).
De acordo com Meneghel e Hirataka (2010), o femicídio é o assassinato
de mulheres cometido por homens respaldados pela superioridade de gênero e
constitui uma das manifestações mais graves da violência perpetrada contra a
mulher. Em outras, palavras, femicídio é a morte de mulheres causada por
homens, unicamente pelo seu autoconvencimento de que é superior ao gênero
feminino.
Estudos indicam que mais da metade dos homicídios de mulheres
correspondem a femicídios. Este fenômeno está presente em escala
mundial, nos Estados Unidos e Canadá estima-se que entre 60 a 70%
dos homicídios de mulheres são cometidos por companheiros ou
excompanheiros.(MENEGHEL; IRAKATA, 2010).

Em consonância com o termo trabalhado neste tópico, é de suma


importância estabelecer um paralelo com a violência patriarcal cometida no
decorrer da história humana.
É de conhecimento universal que em toda a história, as mulheres
sofreram repressão social, muito em virtude dos homens desempenharem um
papel de controle através da violência.
ao longo dos tempos, a violência contra as esposas foi aceito e
promovido como comportamento normal. Isso é importante para
entender como tal violência foi aceita, tolerada, normalizada e
ignorada por indivíduos e instituições. (SEABI, 2009).

Essa informação citada acima, é importante para compreender o motivo


do porquê a violência contra a mulher foi aceita, tolerada, normalizada e
ignorada por indivíduos e instituições. O mito de que mulheres agredidas
provocam sua os homens continuam populares; esse mito nega aos homens a
responsabilidade por suas próprias ações e permite para justificar seu
comportamento violento. (SEABI, 2009).

2.2 FEMINICÍDIO
Enquanto que o femicídio é o mero assassinato de mulheres em virtude
do pensamento de superioridade masculino, o feminicído, além de conceituar
um novo tipo de violência contra o sexo masculino, também desponta como um
grito de protesto contra a violência sexista, exercida quase que integralmente
pelo contingente masculino.

O uso do termo “feminicídio” foi inicialmente defendido pela


ativista do direito das mulheres e deputada federal mexicana Marcela
Lagarde, que utilizou o termo para designar o conjunto de delitos de
lesa humanidade que contém os crimes e os desaparecimentos de
mulheres. (PASINATO, 2011, p. 232).

O termo feminicídio surge, portanto, no cenário político-criminal


brasileiro, como uma expressão que visa dar visibilidade e denunciar a
violência contra as mulheres. Como ensina Azevedo (2019), a palavra
feminicídio visa chamar atenção para o fenômeno da violência de gênero e,
principalmente, para a dimensão do extermínio de mulheres no Brasil.

É nesse sentido que Souza e Barros (2016) destacam a importância da


criminalização da conduta descrita:

A criminalização consagra o papel simbólico de demonstrar que tal


conduta é reprovável, sinalizando publicamente a questão. Seu efeito
simbólico é um elemento importante de formação da identidade e
escolhas dos sujeitos, tendo impactos diretos na liberdade e na
relação entre os sujeitos. A simbologia é ínsita direito penal, não se
confundindo com mero simbolismo. [...] Com a publicização da
violência de gênero e a nomeação dos casos em que a dominação
das mulheres pela sociedade machista chega ao ápice do
assassinato, o recrudescimento do tratamento penal demonstra que
comportamentos misóginos não serão aceitos.

Feminicídio é, portanto, em acordo linear composto pelo femicídio, além


do assassinato de mulheres, um símbolo político-criminal que sagra a luta pela
igualdade e pelo fim da violência sexista, sendo composto, também, por uma
infinidade de situações que inclui

mortes provocadas por mutilação, estupro, espancamento, as


perseguições e morte das bruxas na Europa, as imolações de noivas
e viúvas na Índia e os crimes de honra em alguns países da América
Latina e do Oriente Médio. A morte das mulheres representa então a
etapa final de um continuum de terror que inclui estupro, tortura,
mutilação, escravidão sexual (particularmente na prostituição), incesto
e abuso sexual fora da família, violência física e emocional, assédio
sexual, mutilação genital, cirurgias ginecológicas desnecessárias,
heterossexualidade compulsória, esterilização e/ou maternidade
forçada, cirurgias psíquicas, experimentação abusiva de
medicamentos, negação de proteínas às mulheres em algumas
culturas, cirurgias cosméticas e outras mutilações em nome do
embelezamento. (MENEGHEL; PORTELLA, 2017).

REFERÊNCIAS

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tipos e cenários. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro , v. 22, n. 9, p. 3077-
3086, Set. 2017 . Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?
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em 04 Dec. 2019. http://dx.doi.org/10.1590/1413-81232017229.11412017.

AZEVEDO, Sarah Fernandes Lino de. A ética da monogamia e o espírito do


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<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-
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Epub Dec 02, 2019. http://dx.doi.org/10.1590/1980-4369e2019053.

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