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VEM PRA RODA! VEM PRA REDE!
Guia de apoio à construção de rede de serviços
para o enfrentamento da violência contra a mulher
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APRESENTAÇÃO
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Por que, então, não é maior o impacto destas ações tão
impor tantes?
importantes?
Esta foi a pergunta que deu origem ao projeto que culminou com a
elaboração deste guia de apoio à construção de redes, uma experiência inova-
dora destinada a contribuir para a indispensável articulação de ações organiza-
das para enfrentar os desafios colocados à superação de uma das expressões
planetárias mais antigas e mais pesadas da subordinação da mulher ao ho-
mem: a violência sexual e doméstica.
O motiv
motivoo desta pub licação
publicação
O Guia VEM PRA RODA! VEM PRA REDE! pretende servir como material
de apoio e estímulo à construção de ações articuladas entre os diferentes
atores/instituições que realizam trabalhos de atendimento, detecção e preven-
ção em casos de violência contra a mulher nos municípios e estados brasilei-
ros. Ela foi pensada como contribuição à ação de organismos de direitos da
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mulher, serviços públicos, organizações não-governamentais e demais institui-
ções que atuam na área
A Rede Mulher de Educação assumiu a iniciativa deste processo não
como especialista na área da violência contra a mulher, mas por sua experiên-
cia reconhecida em educação popular feminista, na qual os processos educativos
desenvolvidos sempre trazem à tona a necessária competência e articulação
dos atores sociais que interferem nas questões políticas e sociais abordadas.
Nesta publicação, que recolhe o melhor do que foi trabalhado durante o
Projeto ”Superando Obstáculos na Prevenção e combate à Violência contra a
Mulher”, enfocamos de maneira particular um dos desafios da problemática: a
construção, aprimoramento e maior institucionalização de procedimentos e
ações conjuntas entre serviços e instituições governamentais e da sociedade
civil que prestam atendimento, realizam a identificação e encaminhamento de
casos ou desenvolvem políticas/projetos de prevenção.
A visão integrada que inclui prevenção-identificação para encaminha-
mento-atendimento, é fundamental. Entretanto, o aspecto mais complicado
situa-se nos serviços que, se não funcionam de forma efetiva e eficaz, tiram a
força da prevenção e do encaminhamento. Estudos realizados em lugares
diversos já comprovaram largamente que, se a violência contra a mulher per-
manece impune e suas vítimas e agressores não recebem atendimento ade-
quado para saírem de situações de violência, a mesma continuará sendo soci-
almente entendida como assunto privado, problema das pessoas envolvidas.
É preciso ter coragem de colocar o dedo na ferida e aceitar que a desar-
ticulação dos serviços constitui um dos principais nós de estrangulamento na
qualidade do atendimento oferecido à população. Por isso, o coração do aten-
dimento merece maior cuidado, para que as estratégias de prevenção / en-
caminhamento / identificação logrem um enfrentamento mais efetivo do proble-
ma. Um depende do outro, mas os caminhos e as prioridades são diferentes.
A publicação que ora apresentamos - VEM PRA RODA! VEM PRA REDE!
Guia de apoio à construção de rede de serviços no enfrentamento da violência
contra a mulher - é uma edição da Rede Mulher de Educação (RME) com
patrocínio da GTZ - Cooperação Técnica Alemã e do UNIFEM – Fundo das
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Nações Unidas para o Desenvolvimento da Mulher que apoiaram também as
duas etapas anteriores .
A forma como o projeto foi concebido na Rede Mulher de Educação e
trabalhado com as equipes que o apoiaram na GTZ e no UNIFEM, assim como
as entidades parceiras das oficinas, fez também do mesmo mais uma contribui-
ção no marco do monitoramento da Plataforma de Ação das Mulheres aprovada
na Conferência Mundial sobre Mulher, Desenvolvimento e Paz, que fechou o
ciclo das duas décadas da Mulher das Nações Unidas em Beijing, 1995.
Esta publicação se insere no marco do projeto institucional da RME, cujo
eixo principal é a formação de lideranças, e contou com um projeto específico
para superar obstáculos na prevenção e combate à violência contra a mulher
desenvolvido em duas fases:
• 1ª Fase. Realização da Oficina “Superando Obstáculos nas Estratégias
de Prevenção e Combate à Violência contra a Mulher”, de 6 a 9 de
novembro de 1998, em Campinas/SP.
Promovida pela RME, em parceria com o Conselho Nacional dos Direi-
tos da Mulher, e com suporte local do SOS Ação Mulher e Família, a oficina
realizada na primeira fase envolveu o trabalho de mulheres especialistas no
tema da violência contra a mulher, dentre elas: representantes de organismos
governamentais das áreas de saúde, segurança pública, Procuradoria Geral da
República, Defensoria Pública, Ministério Público, bem como representantes
de grupos e organizações não-governamentais (ONGs) de mulheres.
Através da utilização de uma metodologia interativa, a oficina constituiu-
se em espaço privilegiado para que as participantes produzissem coletivamen-
te – como de fato produziram - um diagnóstico sobre obstáculos e avanços na
luta pela eliminação da violência contra a mulher em nosso país, durante as
duas últimas décadas. A abordagem da problemática foi desenvolvida, basica-
mente, a partir de quatro eixos principais: 1) valores e práticas sociais; 2)
legislação; 3) políticas públicas e serviços; 4) movimentos de mulheres e
ONGs.
Como produto da reflexão e análise coletiva das especialistas na oficina
foi publicado pela RME, com o apoio da NOVIB e, posteriormente pelo UNIFEM,
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em português e espanhol, o documento “Superando Obstáculos nas Estratégi-
as de Prevenção e Combate à Violência contra a Mulher”, além de uma edição
especial do Cunhary em 1998 (publicação da RME).
• 2ª Fase. Realização da Oficina “Tecendo a Rede de Serviços na Preven-
ção e Combate à Violência contra a Mulher nos Municípios – Desafios e
Propostas”, nos dias 26 e 27 de outubro de 2000, em Porto Alegre/RS.
Dando continuidade aos trabalhos, essa fase do projeto teve como obje-
tivo desenvolver uma estratégia de prevenção e combate à violência contra a
mulher voltada, especificamente, à prática cotidiana dos municípios.
Para tanto, foi estabelecida parceria com a municipalidade de Porto Ale-
gre por várias razões: 1) no âmbito desse município, já existiam diferentes
atores sociais relevantes para o tema (por exemplo: delegacia da mulher, casa-
abrigo, ONGs de mulheres, etc.); 2) o Conselho Municipal dos Direitos da
Mulher (COMDIM) já tinha manifestado interesse em firmar a parceria, e 3) um
certo nível de trabalho local em rede já estava ocorrendo , nos serviços de
atendimento à violência contra a mulher, envolvendo diversas organizações.
Como atividade central do projeto, a RME promoveu, em parceria com o
COMDIM e a Casa de Apoio Viva Maria, um seminário e uma oficina com
especialistas na área de gênero e violência, que muito contribuíram para as
bases de construção deste material ora se apresenta.
O guia, na verdade, é resultado de um processo. Diversas atividades
desenvolvidas anterior e posteriormente aos eventos de Porto Alegre foram
fundamentais para o acúmulo, consolidação e maturação das idéias aqui apre-
sentadas. Vale mencionar a contribuição especial de experiências inspiradoras,
tais como aquelas desenvolvidas junto à Secretaria Especial da Mulher de Lon-
drina (SEM), no Paraná; à Coordenadoria Especial de Políticas Públicas do
Estado do Mato Grosso do Sul (CEPPM); ao Centro de Educação Popular e
Direitos Humanos do Acre (CDHEP) e ao Departamento de Relações Sociais
de Gênero do Governo do Estado do Acre.
Todas essas experiências partem também de uma base sólida de cons-
trução de processos de formação e capacitação em violência contra a mulher,
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em especial a partir do projeto QSL: Quebrando Silêncios e Lendas – Comba-
tendo e prevenindo a violência contra as mulheres, concebido pelo IPÊ - Insti-
tuto para Promoção da Equidade, em parceria com o CECIP –Centro de Cria-
ção e Imagem Popular, que desenvolveu uma série de materiais educativos de
apoio e programas de treinamento na temática, voltado mais especificamente
para policiais e demais agentes de justiça e segurança pública que atuam na
temática.
A publicação que apresentamos marca o final de um ciclo onde primou
a vontade de construir propostas novas, mais adequadas às necessidades de
pensar holisticamente a questão e criar sinergia em torno ao tema nela abordado.
Esperamos que seu lançamento, numa hora em que “novos ventos”
sopram neste país, abra um novo ciclo, em que este trabalho seja transforma-
do numa ferramenta útil e valiosa para instituições públicas e privadas no
processo de construção e fortalecimento de redes locais de serviços para prevenir
e combater a violência contra a mulher e para sua articulação com as instâncias de
serviço/poder que atuam nesta área em nível estadual e nacional.
Moema L. Viezzer
Coordenadora Geral do Projeto
Rede Mulher de Educação
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SUMÁRIO
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INTRODUÇÃO
Por uma vida
sem violência
A construção de redes de serviços para o enfrentamento da violência
contra a mulher se constitui em uma das estratégias mais relevantes e desafia-
doras para a erradicação de um problema tão complexo e multifacetado, que
destrói vidas e compromete o desenvolvimento pleno e integral de milhões de
meninas e mulheres no Brasil e no mundo.
As relações de poder historicamente desiguais entre homens e mulheres
têm na violência de gênero uma das suas manifestações mais perversas. O
componente cultural – fortemente calcado também em bases econômicas, jurídi-
cas, sociais e políticas desiguais - é seu sustentáculo e fator de perpetuação.
Além de acarretar sérias e graves conseqüências para as mulheres, e para
as crianças e adolescentes que vivenciam o ciclo da violência doméstica e
intrafamiliar, a violência de gênero compromete também o desenvolvimento
socioeconômico de um país. Alguns dados ilustram a dimensão e o “custo
social” dessa violência.
No mundo:
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Na América Latina:
No Brasil:
Av anços
Nas últimas décadas, muitos passos fundamentais foram dados rumo à
erradicação da violência contra as mulheres. Conquistas que resultaram de
esforços - em âmbito internacional, regional e nacional - de diferentes atores
políticos e sociais: movimentos feminista e de mulheres; redes e organizações
não-governamentais; organismos governamentais e intergovernamentais; setores
da sociedade civil, instituições, programas, fundos e agências de cooperação.
No plano internacional, as Conferências da Organização das Nações
Unidas (ONU), em especial, a Conferência Mundial de Direitos Humanos (Vi-
ena, 1993) e a Conferência Mundial da Mulher (Pequim,1995), constituíram-se
em espaços importantes de afirmação de concepções e denúncia da proble-
mática, assim como, de proposição e conquista de instrumentos que garantis-
sem avanços mais significativos em todo o mundo.
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• Conferência Mundial de Direitos Humanos: reconhece que os
direitos humanos das mulheres e das meninas são inalienáveis e
constituem parte integrante e indivisível dos direitos humanos uni-
versais”, e que a violência de gênero é incompatível com a digni-
dade e o valor da pessoa humana.
Conquistas rreg
eg ionais
egionais
No plano regional, a maior conquista na América Latina e Caribe foi a
adoção pela Organização dos Estados Americanos (OEA) da Convenção
Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher
(Convenção de Belém do Pará, 1994), ratificada pelo Brasil em 1995. A Con-
venção estabelece que o direito de toda a mulher a viver livre de violência
abrange o direito de ser livre de toda forma de discriminação.
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A Convenção de Belém do Pará define violência contra a mulher
como “qualquer ato ou conduta baseada no gênero, que cause mor-
te, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto
na esfera pública quanto na privada”. Estabelece que esta violência
pode ocorrer “no âmbito da família ou na unidade doméstica, ou
em qualquer relação interpessoal, quer o agressor compartilhe, te-
nha compartilhado ou não da mesma residência com a mulher, in-
cluindo, entre outras formas, o estupro, maus-tratos e abuso sexual”;
“na comunidade e cometida por qualquer pessoa” e, ainda, pode ser
“perpetrada ou tolerada pelo Estado e seus agentes, onde quer que
ocorra” .
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mecanismos jurídico-políticos internacionais na promoção, defesa e garantia
dos direitos humanos no âmbito interno.
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aplicação. A ineficácia e a inadequação da lei 9.099 traz à tona uma antiga
reivindicação do movimento de mulheres brasileiro, no sentido de se criar
uma lei específica nacional para enfrentar a violência de gênero no mundo
privado.
Ainda, parte da legislação infraconstitucional brasileira, em especial dis-
positivos dos Códigos Civil (1917) e Penal (1940), do início do século XX,
reproduzem estereótipos, preconceitos e discriminações contra as mulheres.
Felizmente, em janeiro de 2003, entrou em vigor o Novo Código Civil brasilei-
ro, eliminando dispositivos discriminatórios de gênero. Quanto ao Código
Penal, o movimento de mulheres segue lutando por sua reforma.
Entretanto, apesar das dificuldades e limites do caminho, há um cres-
cente reconhecimento público no país quanto à importância da questão da
violência de gênero e a necessidade de ações, programas e políticas que en-
frentem com maior efetividade um problema presente em grande parte dos
lares brasileiros.
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• práticas de atendimento e jurídicas que reproduzem estereótipos, dis-
criminações e preconceitos contra a mulher, em especial a vítima da
violência.
Mas é no campo das políticas públicas e dos serviços que se concen-
tram as maiores dificuldades para ações eficazes destinadas ao atendimento e
prevenção da violência contra mulher, devido à2:
• ausência de uma política integrada, nacional, estadual e municipal,
nas esferas dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, voltada
para a concretização e o respeito aos direitos humanos das mulheres;
• inexistência de um sistema eficaz de registro, produção e análise de
dados estatísticos no que diz respeito à violência contra a mulher;
• falta de vontade política do Estado para incorporar a problemática no
âmbito central das políticas públicas;
• ausência de uma articulação entre as várias instâncias governamentais
para responder a esse fenômeno;
• falta de integração (desarticulação) entre os serviços já instalados;
• insuficiência de investimentos governamentais, gerando crise nos ser-
viços já existentes;
• falta de dotação orçamentária para a implementação de novos serviços.
Nesse sentido, surge como prioridade absoluta, para o enfrentamento da
violência contra a mulher nas políticas públicas, “a constituição de uma rede
integrada de serviços voltada para a promoção da cidadania e da eqüidade,
de caráter participativo, com o envolvimento da sociedade civil, particular-
mente do movimento de mulheres”.
A tradicional percepção do Estado de que tais serviços não são prioritários
e a contínua tendência da ação governamental em se desvincular de suas res-
ponsabilidades, transferindo-as para organizações não-governamentais (ONGs),
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Documento “Superando Obstáculos nas Estratégias de Prevenção e Combate à Violência contra a Mulher”,
Rede Mulher de Educação, 1998.
2
Idem nota anterior.
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são fatores que reforçam a necessidade de se colocar na agenda dos poderes
municipais, estaduais e federal a importância da criação de redes de serviço.
Essas redes podem somar esforços a partir da articulação de instituições e gru-
pos governamentais e da sociedade civil, reconhecendo-se os diferentes níveis e
tipos de responsabilidades e de atuação com relação ao problema, contribuindo
para o aprimoramento e a maior efetividade de ações, projetos e políticas de
atendimento, encaminhamento e prevenção à violência contra a mulher.
Esta publicação foi elaborada como uma contribuição a esse complexo
desafio. Nesse processo, a equipe contribuiu e dialogou com algumas das
várias iniciativas existentes no país que vêm buscando essa articulação orgâni-
ca dos serviços, grupos e organizações. Levando em conta que a construção
dessas redes mexe com paradigmas de organização do Estado, relações de
poder e com formas instituídas de ação social, vamos apresentar alguns con-
teúdos, pistas e trilhas que podem contribuir no caminho. Não há receitas
prontas: é necessário experimentar, reinventar, avaliar e trocar muito com ou-
tros e outras que se propuseram a enfrentar este desafio. Vamos nessa?
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MODULO 1
O poder das redes
“Nenhum de nós é tão bom, e tão
inteligente quanto todos nós...”
Marilyn Ferguson
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1. As redes de relações no cotidiano
Em nossa vida cotidiana, fazemos parte de diversas redes de relações: de
amizades, de parentesco, profissionais, religiosas, esportivas, entre outras. Cada
pessoa é o centro de uma rede. Nessas redes, trocamos informações, compar-
tilhamos sentimentos, recebemos e prestamos apoio e solidariedade, criamos
e fortalecemos laços, construímos coisas e conhecimentos juntos, aprendemos
e ensinamos, brigamos, ficamos de mal e de bem, crescemos e tantas outras
coisas. Essa rede de relacionamentos de cada indivíduo é chamada de rede
primária. Ela pode ser formada por aqueles(as) parentes, amigos(as),
conhecidos(as) e vizinhos(as) que fazem a diferença na vida de cada um.
A rede primária é fundamental no enfrentamento da violência de gêne-
ro. Quanto mais isoladas(os) estiverem as mulheres e os homens que vivenciam
situações de violência ou o ciclo da violência doméstica, mais vulneráveis as
vítimas estarão e maiores as dificuldades para que a violência acabe. As redes
primárias têm importante papel na prevenção e na denúncia de situações de
violência de gênero, além de propicia o necessário apoio emocional, material
e social para o rompimento do ciclo da violência, que muitas vezes se mantém
por anos quando não há atendimento e apoio adequados.
Fortalecer os vínculos das redes primárias deve se constituir em objetivo
para os projetos, os programas e as políticas que visam ao enfrentamento da
problemática, como também para todos(as) aqueles(as) responsáveis por criar
condições de proteção e desenvolvimento de qualquer população, comunida-
de ou grupo socialmente vulnerável, como crianças e adolescentes, idosos,
mulheres chefes de família de comunidade de baixa renda, portadores de
necessidades especiais, entre outros.
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A força dos vínculos
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Entre as redes primárias e secundárias existem pessoas e grupos que
contribuem para a ponte entre uma e outra. Eles fazem parte das chamadas
redes intermediárias e divulgam as informações e o caminho das pedras, pres-
tam orientação, contribuem na prevenção de problemas e para que a popula-
ção exerça os seus direitos. As agentes da Pastoral da Criança e as promotoras
legais populares são alguns exemplos.
A maior efetividade da ação social, em especial no enfrentamento da
violência de gênero, passa pelo reconhecimento, pelo fortalecimento e pela
articulação dessas redes de relações, como:
• o isolamento de vítimas e agressores;
• a baixa qualidade e desarticulação dos serviços de atendimento;
• a desinformação;
• o preconceito e a naturalização do problema na sociedade;
• a desvalorização da problemática dentro das políticas públicas.
É importante aproveitar o potencial das redes de relações secundária e
intermediária na criação de uma rede de serviços para o enfrentamento da
violência de gênero em seu município ou estado. Assim como, é fundamental
que a rede de serviços reconheça e alimente os vínculos das redes de relações
primária, secundária e intermediária.
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2. Um jeito de atuar junto
As redes, como forma de atuação conjunta de um grupo de pessoas e/
ou instituições, não são uma invenção dos dias de hoje, elas estão presentes
de diversas maneiras na história da humanidade e em diferentes culturas e
sociedades: de comunidades indígenas às empresas transnacionais. Mas foi na
década de 90, que as redes ganharam força como forma de organização em
vários campos do conhecimento e da ação humana. Elas passaram a ser con-
sideradas como arranjos mais flexíveis e cooperativos, capazes de dar respos-
tas aos problemas e desafios cada vez mais complexos vivenciados pela hu-
manidade. Essa valorização das redes também se articulou à crescente globalização
dos mercados e ao desenvolvimento do progresso das novas tecnologias, que
possibilitaram a comunicação ágil e o trabalho articulado entre pessoas, grupos
e instituições localizados em cidades, regiões e países, muitas vezes, distantes.
Vamos nos deter nas redes que constituem uma forma de organização
conjunta entre elementos autônomos. Nessas redes, buscam-se desenvolver
relações pautadas por interdependência, complementaridade e horizontalidade,
nas quais o poder deve estar distribuído de forma mais igualitária. Diferente-
mente das organizações baseadas no modelo piramidal, que ainda é o mais
comum na sociedade, no qual o poder está concentrado na ponta e cresce à
medida que sobe o nível hierárquico, as redes ganham força e dinamismo por
meio da descentralização e da ação articulada.
PIRÂMIDE REDE
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No mundo, no Brasil, em nossos municípios há vários jeitos de se cons-
truir redes. Muitas cruzam os acúmulos dos modelos piramidal e de rede,
outras nascem e se mantêm como algo superinformal, outras criam regras e
outras se institucionalizam. Existem redes que nasceram formais e verticalizadas
como as existentes nos sistemas público de educação e saúde. Tudo isso varia
conforme os objetivos, as naturezas, as características da rede e quem a constitui.
Geralmente, pessoas, grupos e/ou instituições constituem redes para:
• se apoiar mutuamente
• trocar experiências e acúmulos;
• desenvolver projetos, ações conjuntas;
• articular esforços e competências;
• influenciar politicamente;
• desenvolver formação;
• outras tantas finalidades e motivos.
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fundações empresariais. Exemplo: a rede Gife (Grupo de Institutos,
Fundações e Empresas), a rede Abong (Associação Brasileira de Orga-
nizações não-Governamentais);
Permanentes ou temporárias: têm redes que nascem para responder
a uma determinada conjuntura, já outras pretendem ser espaços per-
manentes de atuação. Há redes que surgem com a perspectiva de se-
rem permanentes e que depois – por diversos motivos – acabam ou
mudam de foco;
Informais e formais: há redes informais de que as pessoas, os grupos
e as instituições participam e que alimentam a rede mobilizadas pelo
foco temático ou regional da articulação. Geralmente, as redes de in-
tercâmbio e informação são informais. Outras redes optam por algum
nível ou tipo de formalização, muitas vezes construída e pactuada en-
tre seus integrantes. Essa formalização pode prever divisão de atribui-
ções, modo de funcionamento, regras de deliberação, entre outros
aspectos. Redes que buscam influenciar políticas públicas, executar
projetos comuns ou articular serviços geralmente apresentam algum
tipo de formalização.
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pode elucidar e revelar, como também ocultar e cegar. Dessa forma, as pesso-
as conhecem, pensam e agem conforme paradigmas inscritos culturalmente. O
paradigma predominante em nossa sociedade é o paradigma cartesiano que
compartimenta o conhecimento, estabelece relações hierarquizadas e dissocia
sujeito e objeto, natureza e humanidade, qualidade e quantidade, alma e cor-
po, masculino e feminino, finalidade e causalidade, sentimento e razão, entre
outros. Desenvolver trabalhos em redes faz parte desse outro jeito de ser no
mundo.
Par
araa que uma rrede
ede decole é necessár io:
necessário:
Sentido: a construção de uma rede e a participação nela devem ter um
sentido claro e cristalino na vida daqueles e daquelas que a constituem ou que
pretendem constituí-la. Como as redes são estruturas dinâmicas e flexíveis,
que exigem uma postura ativa dos indivíduos, não podem ser fruto de impo-
sições burocráticas;
Objetivos: como já dissemos, é importante definir os objetivos comuns
que vão animar a construção dessa relação conjunta. Por que estamos juntos?
O que buscamos? Pra que vamos tocar essa rede? As respostas às tais questões
necessitam ser precisas e pactuadas, mesmo que com o tempo tais respostas
mudem conforme o contexto, o surgimento e a transformação dos desafios;
Valores e posturas: para funcionar, as redes exigem uma cultura reno-
vada de fazer organização, o compromisso não só no discurso, mas na prática
cotidiana, com valores e posturas que favoreçam a transparência, a coopera-
ção, a negociação e o enfrentamento assertivo de conflitos, o trabalho articu-
lado e a potencialização da diversidade. Além das regras, pactos coletivos
referentes a modos de funcionamento e espaços de decisão, exigem também,
por parte dos indivíduos, uma postura aberta a aprender, a trocar, a negociar;
Comunicação: a comunicação é vital para o funcionamento de uma
rede. Comunicação que possibilite a transparência, a circulação de informa-
ções estratégicas, a visibilização de esforços, o compartilhamento de aprendi-
zagens, a construção de identidades coletivas, a mobilização social e o desen-
volvimento de sentimentos de pertença e confiança. Além de se constituir em
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uma estratégia com políticas e ações e estar presente nos pactos e no modo de
funcionamento, a comunicação deve ser promovida como postura dos indiví-
duos. Por medo de perder ou compartilhar o poder, por insegurança, por
formação, desorganização, sobrecarga, falta de procedimentos institucionais
adequados, orientação de nossas instituições ou por outros diversos motivos,
muitos de nós agarramos e “sentamos em cima” de informações fundamentais
para o funcionamento de um trabalho em rede. Como podemos fazer fluir essa
informação?
Funcionamento: conforme os desafios e objetivos de uma rede, é ne-
cessário criar e definir regras de funcionamento. As regras, os pactos, as nor-
mas não devem burocratizar o funcionamento, mas facilitar e potencializar o
trabalho em rede. Há redes que possuem animadores(as), coordenadores(as),
facilitadores(as) ou outros grupos e instâncias responsáveis por determinadas
funções. A maior ou menor complexidade desses arranjos depende da
abrangência e dos objetivos. É importante que todos e todas integrantes co-
nheçam e na medida do possível participem dos pactos e da legitimação do
modo de funcionamento.
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do Estado democrático como agente regulador e promotor da cidadania, com
capacidade de enfrentamento dos problemas.
O trabalho em rede aparece como um dos caminhos para se superar a
fragmentação e a descontinuidade impostas pela estrutura segmentada e pela
falta de cooperação entre níveis de governo (Municipal, Estadual e da União)
por meio da ação coordenada e descentralizada de diferentes áreas de gover-
no, com apoio, influência e monitoramento de organizações e grupos da soci-
edade civil. Possibilita uma abordagem mais integral e holística dos problemas
cotidianos vivenciados pelas comunidades e das condições para a maior
efetividade e qualidade das políticas e serviços públicos. Entre esses proble-
mas, que atingem milhões de brasileiras e brasileiros, está a violência contra a
mulher.
No próximo módulo, trataremos da construção de uma rede de serviços
para o enfrentamento da violência contra a mulher como uma forma de ofere-
cer um atendimento de melhor qualidade à população, aprimorar estratégias
de prevenção e dinamizar a identificação e encaminhamento de casos, contri-
buindo com a democratização das políticas públicas. Sem perder de vista os
diferentes papéis, responsabilidades e contribuições de organismos e institui-
ções governamentais e de organizações da sociedade civil, ou seja, que cabe
ao Estado a garantia dos direitos à população, vamos ver como podemos
contribuir para articular forças, acúmulos e competências com o objetivo de
promover uma sociedade sem violência.
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• É necessário costurar o fortalecimento das redes de relações coti-
dianas à construção de uma rede de serviços que articule a atuação
das diversas instituições, organizações e grupos que realizam aten-
dimento, prevenção, apoio e pesquisa com relação à violência con-
tra a mulher.
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MODULO 2
Quem vem pra Roda?
Quem vem pra Rede?
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1. O papel de cada um na rede
Além de identificar os reais e possíveis atores/instituições integrantes da
rede, é fundamental conhecer sua missão institucional, seu funcionamento e
as dificuldades que enfrentam para a configuração da rede de serviços. A
identificação dos papéis que cada um dos atores desempenham, podem ou
devem desempenhar na rede de serviços é essencial para seu funcionamento.
É importante que haja um reconhecimento, entre as instituições e gru-
pos que farão parte da construção da rede de serviços, do que cada organização
faz e não faz, de suas potencialidades e limitações, para que não haja confusão
e/ou superposição de papéis, bem como não se alimentem frustrações e expec-
tativas equivocadas de umas em relação às outras, ou seja, para que as atribui-
ções e as responsabilidades de cada uma delas estejam bem claras.
Assim, será possível também melhor otimizar suas competências e esta-
belecer fluxos e dinâmicas de trabalho reais e eficazes, permitindo adequada
orientação e encaminhamento das vítimas aos serviços disponíveis na rede
que se pretende constituir.
As instituições são dotadas de missões próprias, mas seu papel na rede de
serviços pode ganhar outras dimensões e significados, de acordo com a realida-
de local e da forma como se darão as composições dentro da rede. É fundamen-
tal, pois, identificar as diferenças de natureza, papel, capacidade e função de
cada instituição que integra ou que se pretender integrar na rede de serviços.
31
Tratam-se daquelas instituições mais diretamente responsáveis pelo aten-
dimento de casos de violência contra a mulher, em situações de crise ou
emergência. Destaquemos algumas delas, que devem atuar na rede de servi-
ços locais que se almeja articular:
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representem um avanço nesta área, hoje não cobrem nem 10% dos
5.561 municípios do país (IBGE, janeiro de 2001*) e carecem de
estrutura material e humana para um atendimento mais qualificado
às mulheres em situação de violência.
33
cia praticada contra a mulher, além de ser ouvido em casos de sepa-
ração judicial e/ou divórcio, defendendo também os interesses de
crianças e adolescentes envolvidos.
34
mes praticados contra a mulher no âmbito doméstico, como menci-
onado na introdução deste guia. É fundamental que os(as) juízes(as)
atuem para que não se configure, no âmbito dos processos judiciais
que presidem, a duplicação da violência, evitando a reprodução de
estereótipos, preconceitos e discriminações em relação às mulheres
vítimas de violência, em especial de violência sexual. Tais situações
de duplicação da violência contra as mulheres ainda são comuns na
justiça brasileira. O Poder Judiciário tem papel essencial na rede de
serviços, garantindo às mulheres a proteção de seus direitos e o
combate à impunidade dos agressores.
35
Centros de Referência. Em geral, são centros de atendimento à
mulher, vinculados a órgãos públicos governamentais. Muitos con-
tam com assessoria de organizações de direitos das mulheres. Os
Centros prestam orientações e serviços de natureza multidisciplinar
às mulheres em situação de violência: assistência social, jurídica,
psicológica, etc. São absolutamente relevantes na rede de serviços,
na medida em que se constituem, via de regra, como instituições
“mais acolhedoras” às mulheres em situação de violência. Presentes
somente em algumas localidades, desempenharão na rede papel
fundamental no atendimento, orientação, assistência e encaminha-
mento das mulheres para os demais serviços.
36
Conselhos Tutelares. Com atuação prevista e regulamentada na
Lei 8069/90, o Conselho Tutelar é órgão permanente e autônomo,
encarregado pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos
da criança e do adolescente. A lei prevê a existência de pelo menos
um Conselho Tutelar em cada município brasileiro. O papel dos
Conselhos Tutelares pode ser extremamente relevante na rede de
serviços, como porta de entrada para o atendimento de casos de
violência praticada contra as meninas, assim também como espaços
de detecção da violência de gênero no contexto doméstico e/ou
intrafamiliar. Ademais, a lei lhes confere inclusive poderes de requi-
sitar serviços públicos nas áreas de saúde, educação, serviço social,
previdência, trabalho e segurança, bem como de representar à auto-
ridade judiciária em casos de descumprimento injustificado de suas
deliberações, o que pode ser de extrema importância especialmente
em contextos de violência, na qual se requer uma atenção prioritária
e absoluta às crianças e adolescentes envolvidos.
37
trabalham em uma dinâmica que permita um fluxo orgânico institucionalizado
e normatizado e o compartilhamento de informações fundamentais para o
atendimento qualificado das situações de violência.
38
atendimento na rede de serviços, tais como aquelas voltadas à educação, habi-
tação, emprego etc.
Ainda, outras instituições no âmbito governamental e não-governamen-
tal que, embora não atuam em geral no atendimento direto, de crise ou emer-
gência, são também importantes na configuração da rede de serviços. São
aquelas instituições que terão papel fundamental no encaminhamento para
o atendimento, bem como na prevenção da violência contra a mulher.
Por exemplo, há que se mencionar, nesse sentido, instituições, serviços e gru-
pos como: organizações não-governamentais, conselhos de direitos, secretari-
as, assessorias e/ou coordenadorias, em especial aquelas voltadas aos direitos
das mulheres, universidades, escolas, sindicatos, promotoras legais populares,
igrejas, etc.
Dentre estas, destacamos, neste momento, as Organizações Não-Go-
vernamentais (ONGs), especialmente do movimento feminista e de mulhe-
res locais, que representam uma grande expressão da sociedade civil organi-
zada no apoio à construção e ao funcionamento da rede de serviços. Estas
ONGs têm um papel mobilizador, reivindicativo, informativo e educativo fun-
damental em uma rede desta natureza. Em geral, possuem articulações com as
comunidades locais, conhecem profundamente a problemática da violência
contra a mulher e se configuram como pólos de informação privilegiados à
população. Muitas delas desenvolvem trabalhos de assessoria, formação e ca-
pacitação a respeito do tema para diferentes públicos alvos, além de outros
projetos específicos em áreas afins. Costumam também produzir diversos estu-
dos, textos, pesquisas, materiais informativos e educativos de grande utilidade
para as instituições e usuárias(os) da rede.
As ONGs se configuram também como portas de entrada para o atendi-
mento da mulher, na medida em que muitas vezes as mulheres se sentem mais
à vontade em procurar uma instituição dessa natureza para receber informa-
ções e orientações sobre o que fazer, ao invés de ir diretamente a uma delega-
cia ou a um serviço de saúde. Algumas poucas ONGs também prestam assis-
tência jurídica e psicossocial individual, em casos emblemáticos. A ponte
estabelecida pelas ONGs entre as mulheres e os serviços públicos pode ser um
canal extremamente valioso no fluxo da rede de serviços.
39
Também relevante e diferenciado é o papel que organismos governa-
mentais de direitos da mulher, tais como Conselhos de Direitos, Secretari-
as, Assessorias e/ou Coordenadorias, podem desempenhar na rede de
enfrentamento da violência contra a mulher. Vale a pena examiná-los um pou-
co mais detalhadamente.
1
Ver as seguintes publicações: Diagnóstico Nacional e Balanço Regional - Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos – Brasil,
América Latina, Caribe - Campanha por uma Convenção Interamericana de Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos , CLADEM-
Brasil, Redesaúde, Ipas-Brasil e CFEMEA, São Paulo, 2001; Diretrizes para a criação dos Conselhos Estaduais e Municipais dos
Direitos da Mulher,: MTE, MJU/Secretaria-Executiva do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, Brasília, 2001, disponível no site do
CNDM: http://www.mj.gov.br/sedh/cndm e Gênero nas administrações – Desafios para prefeituras e governos estaduais Friedrich
Ebert Stiftung/ILDES, São Paulo, 2000
40
lheres, bem como direitos e garantias fundamentais - individuais e sociais -
específicos às mulheres no que se refere ao tema da violência e do exercício
da saúde sexual e reprodutiva.
No final de 2002, quando se encerrava o segundo mandato do então
Presidente Fernando Henrique Cardoso, foi criada a Secretaria de Estado dos
Direitos da Mulher, ligada ao Ministério da Justiça, também uma antiga reivin-
dicação do movimento por um órgão executivo para a temática. No governo
Lula, a Secretaria passou a estar ligada diretamente ao gabinete da Presidência
da República.
Em alguns governos estaduais e municipais, na última década, foram
criados organismos de direitos da mulher de natureza executiva, tais como
Secretarias, Assessorias e/ou Coordenadorias da Mulher. Seguem como desa-
fio para o aprimoramento desses organismos uma maior e melhor definição da
inserção, alcance e papel de todas essas instituições, bem como do nível de
institucionalidade, autonomia político-administrativa e financeira, legitimida-
de e articulação com a sociedade civil e com as demais instâncias governa-
mentais.
A criação e funcionamento efetivo dos organismos governamentais de
direitos da mulher é passo importante para honrar os compromissos internaci-
onais assumidos pelo Governo brasileiro na Plataforma de Ação aprovada na
IV Conferência Mundial sobre a Mulher, realizada em 1995, em Pequim, China.
A Plataforma recomenda aos Estados Nacionais a elaboração de planos de
ação para capitalizar e potencializar as ações bem-sucedidas, com vistas a
eliminar as discriminacões de gênero e consolidar a cidadania plena da mu-
lher. A implantação de organismos voltados especificamente para a defesa dos
direitos da mulher está contemplada também na já mencionada Convenção
Internacional sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra
a Mulher (CEDAW).
Na sua forma institucional, estes organismos (Conselhos, Secretarias, As-
sessorias e/ou Coordenadorias) têm como função básica a de promover no
Estado e/ou no Município, políticas para eliminar a discriminação contra a mu-
lher e assegurar-lhe condições de liberdade e de igualdade de direitos, fortale-
cendo a sua participação plena na vida política, econômica, social e cultural.
41
Dif er
Difer enças e desaf
erenças ios
desafios
Fonte: CNDM
42
Conselhos Estaduais e Municipais dos Direitos da Mulher
Principais Atribuições e Competências:
Fonte: CNDM
43
Ebert Stiftung/ILDES). Estamos falando das Secretarias, Assessorias e/ou
Coordenadorias da Mulher.
44
Na construção da rede de serviços os Conselhos de Direitos, as Secreta-
rias, as Assessorias e/ou as Coordenadorias da Mulher podem desempenhar
um papel diferenciado das demais instituições.
Para a rede de serviços acontecer, como em toda rede, é fundamental a
figura de um organismo articulador, impusionador, animador. Ele deve
ter um poder de convocatória junto aos demais atores da rede para que possa
costurar essas relações entre órgãos governamentais e da sociedade civil com
legitimidade, assumindo e desempenhando um papel referencial e agregador
na rede.
Sabemos que uma rede de serviços não nasce, nem se articula e se
organiza de forma espontânea. É necessário que alguma ou algumas institui-
ções “puxem” esse processo para que ela aconteça e se consolide.
A configuração de uma instituição articuladora, impulsionadora e ani-
madora na rede de serviços, entretanto, não significa que está manterá uma
relação de autoridade hierárquica superior com as demais integrantes da rede,
tampouco implica que deverá arcar com as responsabilidades e sobrecargas
de trabalho. O papel impulsionador-aticulador no processo visa garantir a
implementação e a continuidade do trabalho por meio da promoção de uma
articulação permanente e institucionalizada. No processo de consolidação da
rede, serão os próprios atores da rede de serviços que vão configurar melhor
o papel desse organismo ou grupo impulsionador.
Nesse sentido, conforme a realidade local, os Conselhos de Direitos,
Secretarias, Assessorias e/ou Coordenadorias, de âmbito municipal e/ou esta-
dual, poderão exercer esse papel de organismos articuladores, impulsionadores
e animadores da rede de serviços, dada a própria especificidade da sua missão
e de seu nível de instituticionalidade no âmbito governamental. A sua configu-
ração poderá selar maiores compromissos no âmbito governamental, trazer
um caráter mais público e institucional para a rede, assim como facilitar o
diálogo entre sociedade civil e Estado.
Entretanto, a iniciativa da construção da rede de serviços pode partir de
outras instituições, assim como pode ser diferenciada a avaliação de qual ou
quais organismos devem seguir como impulsionadores da mesma. Conforme
45
a realidade local, esse organismo pode ser, por exemplo, uma organização
não-governamental que já tenha acúmulo de trabalho, legitimidade e experi-
ências de atuação na área de violência contra a mulher. Ainda é possível, no
decorrer do desenvolvimento da rede, que se tire um grupo diretivo que fun-
cione como facilitador da rede, até mesmo que haja uma rotatividade de insti-
tuições no desempenho deste papel... Enfim, tudo dependerá do contexto e
da dinâmica que se criar.
46
Às vezes, tem-se a idéia de que se trabalha em rede, mas de fato não é o
que ocorre. Muitas vezes, o que se tem são relações de parceria entre uma ou
outra instituição, uniões estabelecidas para uma tarefa pontual, alianças mais
ou menos constantes, outras temporárias, mas que não se configuram em um
trabalho em rede como tal. O trabalho em rede é muito mais que uma parceria
ou aliança pontual.
Para que a rede de serviços aconteça é necessário estabelecer objetivos,
definir competências, papéis e relações entre os atores da rede, trabalhar a
relação existente entre eles, identificar obstáculos, avanços e desafios para o
funcionamento da rede, pactuar compromissos e metas, distribuir tarefas e
responsabilidades, garantir a execução de ações articuladas, desenvolver pro-
cedimentos / rotinas / fluxos no atendimento e na dinâmica da rede, enfim,
proceder ao planejamento, monitoramento e avaliação conjunto.
E, por fim, o mais importante: não perder de vista que no centro desta
rede está a mulher em situação de violência, destinatária dos serviços, em
função de quem a rede se constitui, se justifica e por quem deverá se manter.
47
encaminhamento para o atendimento e a prevenção da violência
contra a mulher. Na linha de frente do atendimento e/ou mais na
retaguarda, as organizações podem ocupar diversas posições na
rede de forma a potencializar ao máximo seu funcionamento;
• refletir sobre o que é preciso para fazer essa rede acontecer, iden-
tificando as relações já existentes entre os atores da rede e promo-
vendo uma maior institucionalidade em seu funcionamento;
48
MÓDULO 3
Pondo a mão na massa
“Uma visão sem uma tarefa, é apenas um sonho.
Uma tarefa sem uma visão, é somente um trabalho árduo.
Mas, uma visão com uma tarefa, pode mudar o mundo.”
Declaração de Mount Abu
49
participativo forem esses espaços (reuniões, oficinas, seminários), melhor os
resultados. A intenção é de que o próprio processo de identificação de atores,
o levantamento de informações, a priorização de problemas e a definição de
objetivos, de estratégias e de passos, crie e fortaleça vínculos entre as institui-
ções e as pessoas que as representam nesses espaços coletivos.
DINÂMICAS PARTICIPATIVAS
50
• Muitas vozes e cores: todos(as) os(as) participantes são impor-
tantes e têm contribuições que podem trazer novos olhares, infor-
mações e propostas com relação ao problema. Garantir espaços
para que as pessoas se manifestem, assim como propiciar diferen-
tes formas para que essa manifestação se expresse (por meio de
desenhos, dramatizações, pequenos textos, etc), somente enrique-
ce o trabalho do grupo;
51
bobo a princípio, mas que não custa salientar: nada de sobrecarre-
gar a pauta com duzentos pontos ou de não esgotar um ponto e
passar para outro sem tirar definições;
52
cesso já trilhado pelo grupo e que se sinta acolhida para trazer a sua
contribuição. Promover e cuidar dos vínculos é fundamental!;
53
ações crônicas ou episódicas de violência e a seus agressores. Entre
eles, estão as delegacias gerais, as delegacias da mulher, os prontos-
socorros, as defensorias, o Judiciário, o Ministério Público, a Casa-
abrigo, os conselhos tutelares, os centros de referência da mulher, as
organizações não-governamentais especializadas, entre outros. Esse
nível de atendimento articula as esferas de justiça e segurança pública,
do atendimento emergencial de saúde e do apoio multiprofissional às
vítimas da violência. Como todos sabemos, a maioria dos municípios
brasileiros, e mesmo alguns estados, não possui todos esses serviços.
Comece identificando o que existe;
• no apoio complementar, identificação e encaminhamento de ca-
sos: são as instituições, as organizações e os grupos comunitários que
não trabalham especificamente com a problemática da violência con-
tra a mulher, mas que podem identificar e encaminhar casos para o
atendimento especializado. Entre eles, estão as escolas, as igrejas, os
programas de assistência, as associações comunitárias, os sindicatos e
as organizações não-governamentais. As Secretarias Municipais e Esta-
duais de Habitação, Educação, Assistência Social, entre outras, tam-
bém têm um papel fundamental em um plano de ação integrada para
o atendimento de mulheres em situação de violência. Por exemplo,
muitas mulheres ameaçadas de morte que vão para as casas abrigo
precisam recomeçar a vida, mudar os filhos de escola, exercer sua
profissão, retomar os vínculos com amigos e familiares, entre outras
necessidades que podem ser apoiadas por serviços vinculados a essas
Secretarias;
• na prevenção: todas as instituições públicas e organizações da soci-
edade têm um papel fundamental na construção de uma nova cultura
que promova a equidade e o respeito entre os sexos. O problema da
violência de gênero é um desafio de toda a sociedade. Levando em
conta isso, destacamos as escolas, os sindicatos, as organizações em-
presariais e comunitárias, as organizações não-governamentais, os mo-
vimentos sociais, os meios de comunicação e as entidades religiosas.
54
Um tipo de atuação não exclui o outro, ao contrário: os serviços, as
organizações e os grupos envolvidos podem atuar em mais de uma frente. Por
exemplo, a grande maioria das organizações que realizam a identificação e o
encaminhamento de casos também pode atuar na prevenção e vice-versa,
assim como aqueles que realizam o atendimento também têm um papel im-
portante na prevenção.
A prevenção é o nível mais abrangente, entendida aqui como envolven-
do tantas ações, projetos, programas e políticas de instituições, organizações e
grupos como atitudes pessoais comprometidas com a equidade entre mulhe-
res e homens e com o reconhecimento de que qualquer forma de discrimina-
ção sexista representa violação aos direitos humanos das mulheres. Ou seja,
além de estratégias concretas e objetivas, prevenção também é atitude.
Essa visão abrangente das diferentes naturezas de atuação das organiza-
ções é fundamental para traçarmos estratégias mais efetivas de enfrentamento
do problema. Mas é importante ter claro que a construção de uma rede de
serviços deve ter como prioridade a articulação das instituições e dos serviços
responsáveis pelo atendimento de casos de mulheres afetadas pela violência,
como as delegacias gerais, as delegacias da mulher, os prontos-socorros, as
defensorias, o judiciário, o ministério público, a casa abrigo, os conselhos
tutelares, os centros de referência da mulher, entre outros.
Esses serviços são de responsabilidade do Estado. A partir deles o Esta-
do brasileiro deve fazer valer o que está previsto na Convenção Interamericana
para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher, conhecida como
Convenção de Belém do Pará (1994), como medidas urgentes para garantir
proteção a mulheres vulneráveis à violência. Cabe a essas instituições a puni-
ção dos responsáveis; a proteção e a garantia de vida das vítimas; a assistência
apropriada para que as mulheres se recuperem e para que tanto elas como os
agressores envolvidos no ciclo da violência tenham condições de rompê-lo.
Essas instituições e esses órgãos constituem o coração de uma rede de serviços.
55
Atendimento: resgatando e fortalecendo vínculos
1.2 Pr epar
Prepar ando o meio de campo
eparando
Mesmo que já existam espaços de articulação entre instituições, organi-
zações e grupos em seu município ou Estado, a construção da rede exige o
desenvolvimento de um processo de trabalho focado nesse objetivo. Esse pro-
cesso deve ser contínuo e envolver diferentes momentos como oficinas, reuni-
ões e seminários.
56
O organismo de direitos da mulher, a organização não-governamental
ou qualquer outra instituição que puxe o processo de construção da rede terá
o importante papel de criar condições para que esse processo nasça, cresça e
aconteça. Visitar as instituições e os grupos, sensibilizar os(as) dirigentes des-
sas organizações para a importância da iniciativa e identificar aquela pessoa na
instituição que pode ser representante (e fazer a diferença no processo) são
ações fundamentais. É claro que é difícil indicar a pessoa que representará a
outra instituição, mas às vezes há espaço para participar dessa decisão. Na
medida do possível, é importante que a pessoa esteja legitimada pela institui-
ção para representá-la nesse processo e tenha o mínimo de poder de decisão
para pactuar com os demais os rumos do processo.
Com o objetivo de sensibilizar as instituições e valorizar a proposta, é
fundamental dar projeção pública à idéia da rede de serviços. A realização de
um seminário sobre o assunto, envolvendo as diversas instituições, organiza-
ções e movimentos da sociedade, além de autoridades; a divulgação ampla
nos meios de comunicação locais sobre a importância da construção de redes
e a proposta para concretizá-la no município e estado; o lançamento público
da idéia em uma data de luta como o 8 de Março (Dia Internacional da Mu-
lher) ou o 25 de novembro (Dia Internacional da Não-Violência contra a Mu-
lher), apoiado em dados sobre a situação da violência de gênero no local, são
algumas dicas para colocar o processo em evidência. Além de ganhar a opi-
nião pública, essas iniciativas podem contribuir para a maior sensibilização dos
níveis dirigentes das instituições com relação à importância desse trabalho.
Muitas vezes nem todas as instituições que atuam no campo da violência
terão condições ou estarão sensibilizadas para participar da rede de serviços.
Um dos caminhos é investir na maior sensibilização desses atores e na divul-
gação da proposta. Outras vezes, o jeito é começar com quem pode e está afim
e depois ir envolvendo outras instituições e outros grupos. Pode também ser
uma boa opção priorizar um município ou região para mostrar o impacto de
um trabalho em rede. Essa avaliação dependerá muito do contexto e das con-
dições locais.
57
2. Cirandas e espaços de encontros
É hora de realizar aquela primeira reunião ou oficina que vai definir o
caminho para a construção da rede de serviços. Para que ela ocorra, além da
convocatória formal (por meio de carta, memorando, etc.), fundamental para
que o processo seja assumido como algo institucional, é importante também
desenvolver uma comunicação mais pessoal com as/os representantes que
atuarão diretamente no processo. Nesse ponto vale um alerta: cuidado para
que o processo não seja informal e assumido somente como algo das pessoas
engajadas com a idéia, independente das instituições; ou ao contrário: que
seja formal demais e que acabe se burocratizando, não mobilizando o com-
promisso, a garra e a criatividade das pessoas que fazem a instituição.
58
festem suas expectativas com relação ao processo. Em seguida, é interessante
que os participantes tragam “pra roda” suas idéias, seus sonhos e suas imagens
sobre redes: o que surge na cabeça, quando se pensa na palavra “rede”? As
respostas podem ser expressadas por meio de tarjetas, cartazes, desenhos indi-
viduais ou feitos em dupla para serem pregados em uma parede ou um qua-
dro e discutidos coletivamente.
59
2.4 Identificação dos vínculos já existentes entre as organizações
Que tipo de relação as instituições, organizações e grupos participantes
mantêm entre si? O objetivo desse momento é mapear os vínculos já existentes
entre essas organizações, que podem ser potencializados ou aprimorados em
um trabalho em rede. Para efeito prático (sabemos que a realidade é muito
mais complexa do que qualquer classificação), podemos definir essas relações
como sendo:
• informais – nascem e se desenvolvem por iniciativa de seus mem-
bros, decorrentes de laços de amizade ou de sensibilidade para a im-
portância dessa relação. Geralmente, estão à margem do comprometi-
mento institucional. Se saírem as pessoas que puxam a história, há
grandes chances de a relação acabar ali. Mas esses vínculos informais
(da rede de relações primárias) são muito importantes como ponto de
partida de um trabalho em rede, trazem compromisso com a proposta,
acúmulos, experiências concretas e novas idéias;
• formais – já existe algum nível de contratualização e se dão muitas
vezes por meio de convênios, termos de compromisso, parcerias que
visam à troca de informações, ao aprimoramento de processos de tra-
balho, ao desenvolvimento de ações, projetos ou programas conjuntos
ou a qualquer outra forma de cooperação;
• inexistente – como o próprio nome diz, não existe uma relação entre
as instituições para além daquela que é obrigação legal. As instituições
não conversam, não trocam entre si e nem desenvolvem trabalhos
conjuntos. O encaminhamento de casos, quando acontece, não é se-
guido de acompanhamento: é aquela história de “passar a bola pra
frente e acabou ”. Mas, o que aconteceu com aquela mulher? O que
aconteceu com aquele homem? Como as outras instituições atenderam
o caso? Ninguém ou pouquíssimas pessoas sabem as respostas.
• Com o quadro de vínculos na parede (vide Anexos-dinâmicas), o
grupo terá uma visão das relações existentes e poderá enxergar novas
possibilidades de trabalho conjunto.
60
2.5 O caminho que a vítima percorre entre as instituições
Como vimos nos módulos e no item anterior, muitas são as vezes em
que vítimas e agressores ficam perdidos entre as instituições que prestam aten-
dimento ou que dão encaminhamento a casos de violência contra a mulher.
Esse momento visa identificar a existência ou não de formas de encaminha-
mento e de acompanhamento de casos, assim como, quando existentes, como
eles se desenvolvem, se há acompanhamento, que dificuldades enfrentam,
suas possibilidades e seus desafios. Nesse exercício, utilizamos geralmente
casos concretos e identificamos qual o circuito que a vítima e agressor percor-
rem no atendimento. O uso de casos concretos é importante porque permite
que apareçam questões e situações que estão fora da percepção isolada de
cada instituição.
61
se faz, um resultado que pode ser medido. Quais são as nossas metas para
daqui seis meses? Onde queremos estar em um ano? Cuidado: é fundamental
definir metas que sejam factíveis, sem entrar na megolomania. Ainda mais em
um esforço que envolve instituições e organizações heterogêneas, é necessá-
rio levar com calma o andor. Se as metas são muitas e os grupos ficam muito
longe delas, a frustração toma lugar e fragiliza o poder de ação das pessoas. O
objetivo acaba ficando muito longínquo e inalcançável, cheio de dificuldades.
Mas se as metas forem poucas e puderem ser alcançadas, pelo menos em
parte, o grupo vai se sentindo mais forte e competente para o desafio, ganhan-
do asas para voar mais longe.
Para se definir coletivamente, com todos os parceiros, de forma
intersetorial, os objetivos e as metas do trabalho em rede, a metodologia do
planejamento estratégico é uma poderosa ferramenta. O planejamento estraté-
gico é um conjunto de procedimentos que ajuda as organizações e as comuni-
dades a definirem suas prioridades, metas, estratégias e criar vínculos, confian-
ça e compromissos entre os(as) participantes. Possibilita o reconhecimento de
diferentes visões e conflitos no grupo e a construção de pactos em torno de
objetivos comuns. Existem diversas abordagens de planejamento estratégicos,
as mais recomendadas para o trabalho em rede são as que permitem processos
mais participativos.
62
6 - Traçar o plano de ação com as metas, o cronograma e a divisão
de responsabilidades
Indicadores de monitoramento
63
racionalidade do uso dos recursos, ao maior controle social desses
serviços e à resposta rápida e adequada às demandas sociais. Além
do benefício à comunidade, o monitoramento contribui para que os
funcionários consigam visualizar de forma mais clara os resultados e
impactos do trabalho e, conforme utilizado, pode garantir maior
transparência, permitindo que a comunidade tenha condições de
fiscalizar e influenciar o aprimoramento dos serviços públicos. Exis-
tem diversas concepções, abordagens e tipos de metodologias de
avaliação e monitoramento. Vamos aqui trazer alguns tipos de indi-
cadores que costumam ser monitorados nesses processos e que
poderão ser definidos com relação ao desenvolvimento da rede de
serviços.
64
• Indicadores de efetividade – monitoram a satisfação das neces-
sidades da população com relação a determinados serviços e se as
metas alcançadas estão contribuindo para que o objetivo maior se
realize. Exemplo: os cursos de profissionais estão contribuindo
para a maior qualidade no atendimento? As campanhas educativas
sobre assédio sexual no trabalho estão possibilitando a denúncia
e o encaminhamento de casos? Os folhetos disponíveis nos servi-
ços e nas organizações de atendimento, encaminhamento e pre-
venção estão fazendo com que a população esteja mais informada
sobre as redes de serviços?
4.1 Inf or
Infor mação par
ormação paraa na
navv egar
• Compartilhando – Muitas das instituições, organizações e grupos
que fazem parte da rede possuem informações fundamentais quanto à
problemática da violência contra a mulher. A identificação, a
disponibilização, o compartilhamento e o tratamento dessas informa-
ções possibilitam que se conheça melhor a problemática no local ou
na região.
• Diagnóstico – Fazer um diagnóstico conjunto da questão, inclusive
envolvendo outras instituições de pesquisa, é um passo fundamental
para a construção de uma estratégia mais efetiva que dê conta dos
problemas em questão. O diagnóstico pode levantar também as pos-
sibilidades, os recursos existentes na comunidade e os desafios
65
institucionais que existem no município. Há vários tipos de diagnósti-
co. Informação é fundamental para que se avance na qualidade.
• Universidade – Além das instituições governamentais e de organiza-
ções não-governamentais que participam da rede, muitas universida-
des pelo país possuem estudos importantes sobre violência, violência
contra a mulher e questões de gênero que vale a pena conhecer e
utilizar nas discussões do grupo. Se não existe nenhum estudo na
região sobre violência de gênero, por que não propor a uma universi-
dade de sua cidade que desenvolva um pesquisa importante para o
trabalho da rede?
• Antenado com o Mundo – Conhecer experiências desenvolvidas em
outros lugares do Brasil, participar de redes regionais e nacionais de
troca de aprendizagens e acúmulos sobre o tema, conhecer publica-
ções e sites (Veja Anexo) alimentam a criatividade, a capacidade e a
força da equipe. Compartilhar a própria experiência com outros tam-
bém possibilita enxergar com outros olhos nossa atuação cotidiana.
66
o atendimento. O desenvolvimento de uma rede depende da compre-
ensão e do compromisso efetivo que os dirigentes e os níveis interme-
diários das instituições tenham com a proposta. Desenvolver encon-
tros, seminários, reuniões e conversas, apresentar resultados de pes-
quisas podem ser formas de construir compromissos efetivos com a
questão.
• Capacitação (no tema da violência contra a mulher, no atendi-
mento específico e/ou no trabalho em rede) – Do pessoal da pon-
ta aos dirigentes, os processos de formação podem abordar diferentes
questões envolvidas no atendimento e no desenvolvimento do traba-
lho em rede. Uma delas é a própria problemática da violência de gêne-
ro, questão complexa e objeto de diversas pesquisas no Brasil e no
mundo. As questões práticas vinculadas ao aprimoramento do atendi-
mento colocam diversos desafios para o profissional das diferentes
áreas e instituições e pode ser objeto de cursos, oficinas específicas,
seminários, grupos de estudo e muito mais. O trabalho em rede tam-
bém deve figurar como uma das questões que exigem formação. É
importante ter claro que os intercâmbios com outros lugares também
constituem uma oportunidade de formação.
67
tico e criativo de gestão pública, comprometido com ações transformadoras da
realidade social e com a oferta de serviços de qualidade para cidadãs e cida-
dãos, devemos definir procedimentos, rotinas e instrumentos que garantam
melhores condições e ampliem a estabilidade do trabalho em rede, mas que
não a engessem, a burocratizem ou limitem seu crescimento e sua flexibilida-
de. Tudo isso ocorre no fio da navalha, mas é um desafio que vale a pena
enfrentar.
Quais os procedimentos internos e entre as instituições da rede que
contribuem para fazer acontecer as ações e os projetos definidos no planeja-
mento estratégico? Que rotinas e normas das instituições precisam ser revistas?
A busca de respostas para essas duas questões deve se constituir em um mo-
mento de discussão entre os integrantes da rede. De tempos em tempos, é
importante avaliar e rever esses procedimentos e essas rotinas e verificar se
eles estão dando conta do recado ou se é necessário aprimorá-los ou criar
outros.
Por exemplo, o fluxo de comunicação entre as instituições, como criá-lo
ou aprimorá-lo para dar conta de um trabalho em rede? Que tipos de informa-
ção são relevantes circular e que podem contribuir para o processo de tomada
de decisões? Como circular? Quais são os melhores meios e veículos? Como se
dá a alimentação desse fluxo? A questão da comunicação interna da rede
voltará a ser abordada em um próximo tópico.
Vamos abordar agora alguns instrumentos que poderão ser utilizados
para efetivar a gestão compartilhada exigida pelos processos em rede.
• Protocolos de atendimento: são documentos que definem orienta-
ções, procedimentos e condições para serviços de atendimento. Geral-
mente, os protocolos são utilizados como forma de garantir um deter-
minado padrão de qualidade entre diferentes serviços e instituições
que atuam no atendimento especializado ou vinculado a uma determi-
nada questão, problemática, região, etc. O sistema de saúde no Brasil
possui várias experiências de protocolo. Uma delas, ligada ao atendi-
mento à mulher em situação de violência na rede pública de saúde, foi
desenvolvida em Belo Horizonte em 1998. Esse protocolo (disponível
68
no site www.redesaude.org.br/jornal) foi elaborado pelo Grupo de
Trabalho “A violência contra a mulher também é uma questão de saú-
de pública”, projeto realizado pelo Movimento Popular da Mulher e
pelo Nzinga (Coletivo de Mulheres Negras), em parceria com o Pronto
Socorro do Hospital Municipal Odiolon Behrens e o Pronto-Socorro
Jão XXIII, ambos de Belo Horizonte. Para responder ao desafio de
uma rede de serviços envolvendo instituições de diferentes áreas (jus-
tiça, segurança pública, saúde, assistência social, etc), municípios como
Belo Horizonte, Porto Alegre e Recife e estados como Mato Grosso do
Sul e Acre vêm construindo protocolos de atendimento que possam
ser assumidos pelas diferentes instituições, serviços e grupos – gover-
namentais e da sociedade civil – que atuam no atendimento, no apoio,
na identificação/encaminhamento e na prevenção. Além dessas, há
muitas outras experiências germinando, nascendo e ganhando força
em diversos lugares do país.
Conteúdos
69
• Convênios e termos de parcerias: são instrumentos que formalizam
relações de cooperação entre duas ou mais instituições, sejam elas,
para a troca de informações e experiências, desenvolvimento de ações
ou projetos conjuntos, assessoria técnica, entre outras. Na construção
de uma rede de serviços, os convênios e termos de parcerias podem
ser utilizados para formalizar compromissos e responsabilidades e dar
legitimidade institucional a algumas ações, projetos e programas reali-
zados entre duas ou mais instituições e serviços da rede. Deve-se ter
cuidado para que não engessem as possibilidades de parceria e do
trabalho conjunto entre as organizações.
• Consórcios intermunicipais: referendados em legislação, os con-
sórcios constituem instrumentos operacionais que viabilizam a coope-
ração entre dois ou mais municípios limítrofes para o desenvolvimento
de obras, serviços e ações de interesse comum. Além de buscar a
soma de esforços, a maior racionalidade e o melhor aproveitamento
do uso dos recursos públicos, os consórcios têm por base o respeito à
autonomia dos municípios envolvidos. Além dos convênios, os con-
sórcios podem ser uma boa alternativa de formalização de relações de
cooperação entre pequenos e médios municípios para o desenvolvi-
mento de redes de serviço de enfrentamento da violência contra a
mulher. Entre outras ações que nasçam de um planejamento conjunto,
estão a construção, a manutenção e o uso de equipamentos comuns
(casas abrigo, centros de referência, etc.); o desenvolvimento de progra-
ma de formação continuada; o diagnóstico regional do problema, etc.
4.4 FFor
or talecimento institucional
ortalecimento
As redes de serviço podem se constituir em um poderoso instrumento
de fortalecimento institucional das organizações e dos serviços que a inte-
gram. Por exemplo, conforme a natureza, a necessidade e a legitimidade para
a rede, determinadas reivindicações que antes eram apresentadas de forma
isolada junto às autoridades responsáveis poderão ganhar mais força em um
contexto de atuação articulada e de reivindicação coletiva.
70
Além disso, levando-se em conta as especificidades de cada contexto, as
instituições integrantes poderão pleitear coletivamente recursos e condições
para projetos e ações definidos no planejamento da rede. Quem sabe conquis-
tar até um rubrica orçamentária... Tal conquista pode não acontecer no primei-
ro momento de trabalho conjunto, mas como consequência da solidez e da
maior legitimidade pública conquistadas. Outro caminho é a somatória de
recursos de cada instituição para garantir a viabilidade de várias das ações.
Mas é importante ter claro que grande parte das ações, projetos e pro-
gramas que serão definidos em um planejamento estratégico da rede não de-
pende, necessariamente, de novos recursos financeiros, mas de um jeito dife-
rente de tratar e reorganizar as condições, os recursos e os trabalhos em de-
senvolvimento. Essa clareza é fundamental para que o grupo não sucumba a
um clima de impotência e de “braços cruzados”: se não há mais e novos
recursos financeiros, não dá para fazer nada!
Como abordamos no módulo 2, o organismo impulsionador da rede de
serviços poderá ser um organismo governamental dos direitos da mulher (con-
selho, assessoria, secretaria, coordenadoria), uma organização não-governa-
mental ou qualquer outra instituição legitimada e com poder de convocatória
para essa missão. Tudo vai depender do contexto local.
O organismo impulsionador não pode ser assumido pelos demais como
o responsável por “carregar o piano” de todo o trabalho em rede e nem como
o “dono da rede”. Se a coisa começa assim, o próprio conceito de rede já entra
em conflito. Não podemos reproduzir a cultura tradicional das relações pira-
midais de poder! Um organismo facilitador tem o papel de animar, de dinami-
zar as relações entre as integrantes e de criar condições para que a rede vá se
fortalecendo enquanto modelo de gestão compartilhada. Para isso, é necessá-
rio que o organismo impulsionador tenha pessoas com perfil de liderança
facilitadora. Uma instituição ou grupo pode até ter legitimidade para mobilizar
o processo, mas se a pessoa ou pessoas que encabeçam essa mobilização
forem centralizadoras, não tiverem capacidade de articulação, entre outras
limitações, o processo obviamente terá mais dificuldades para decolar.
Muitas vezes pessoas, grupos e instituições têm o desejo de que haja
alguém ou algo que responda por tudo, faça tudo e mantenha uma relação
71
tutelada com as demais. Cuidado: esse processo leva os integrantes a se
desresponsabilizarem pelo desenvolvimento, aprimoramento e consolidação
da rede de serviços, limitando todo o potencial criativo e inovador que as
redes possuem, conforme já colocado no módulo 1.
E aí chegamos na discussão sobre as relações de poder e espaços de
decisão na rede. Na medida do possível, é importante que as principais deci-
sões sejam pactuadas em espaços que tenham representantes de todas as ins-
tituições, grupos e organizações integrantes. Pode-se também eleger um gru-
po gestor que divida atribuições com o organismo impulsionador ou que, com
o tempo, exerça esse papel impulsionador. O grupo gestor pode ser renovado
de tempos em tempos, permitindo que outras instituições exerçam esse papel.
A conexão do processo com um fórum amplo de instituições, grupos, movi-
mentos que atuam na problemática da violência contra a mulher, dos direitos
das mulheres e da promoção dos direitos humanos também poderá ser mais
um espaço de influência, proposição, monitoramento do trabalho em rede
pela sociedade civil.
Como já ressaltado, é fundamental que a rede de serviços dialogue e se
articule com os movimentos de mulheres da região, assim como estabeleça
conexões com redes e articulações locais, regionais e nacionais ligadas às
questões abordadas pela rede. As trocas, os diálogos e a divulgação do pró-
prio trabalho contribui com outros olhares e acúmulos para o enriquecimento
e o fortalecimento das instituições e das pessoas que a constituem.
72
ainda que grande parte das instituições, organizações e grupos no país
ainda não possui acesso à internet (que pode ser uma meta do traba-
lho em rede!). É importante ter claro que a questão não é “encher” as
pessoas com uma avalanche de informações, mas circular informações
relevantes para o funcionamento do trabalho em rede, entre elas, as
decisões pactuadas, as agendas de eventos, os relatos de experiências
inovadoras, etc. No Mato Grosso do Sul e no Acre, os integrantes da
rede definiram pela criação de um informe-fax, que facilite a conexão
entre as pessoas e instituições.
• Comunicação com o público do atendimento – É importante que a
rede, como tal, tenha formas de comunicação com o seu público:
mulheres e homens que vivenciam situações de violência de gênero.
Cartilhas e folhetos com orientações sobre os serviços em rede, contri-
buem para que as pessoas envolvidas compreendam os caminhos para
denunciar situações e buscar apoio.
• Trabalhando com a mídia – O desenvolvimento da relação com a
mídia possibilita a divulgação do trabalho em rede para a população e
sensibiliza autoridades e dirigentes de instituições e movimentos, con-
tribuindo para a legitimação pública da proposta. Além disso, a
mídia tem um importante papel educativo, podendo desenvolver ma-
térias e campanhas e abrindo espaços para o debate público sobre a
problemática e suas soluções.
73
violência contra a mulher. Ao mesmo tempo, ressaltamos que não dá para
esquecer: a rede é feita de gente, gente que faz a rede se tornar realidade.
É fundamental reconhecer que esse esforço contra a corrente das formas
tradicionais de lidar com os problemas sociais geralmente nasce de uma ou
mais pessoas que, em suas instituições e entidades, buscam construir outros
olhares, jeitos e caminhos de atuação. As motivações muitas vezes são diver-
sas, mas garantem aquela energia necessária para que um processo inovador
comece a acontecer em uma ou mais instituição. Por isso, na construção de
uma rede de serviços, é fundamental identificar aquelas pessoas que podem
fazer toda a diferença nesse trabalho e trazê-las para a roda.
A pessoa ou o grupo que estiver exercendo a liderança facilitadora des-
se processo deve, na medida do possível, valorizar e investir no desenvolvi-
mento das pessoas, fazendo com que se sintam parte do todo e sujeitos da
construção de um trabalho importante da comunidade. Conflitos fazem parte
de um processo plural como esse, que envolve indivíduos e instituições com
diferentes visões políticas, prioridades, concepções e forma de trabalhar. Em
nome “da união e da harmonia”, cuidado para não esvaziar e despolitizar
conflitos que devem ser discutidos e enfrentados no grupo e que muitas vezes
podem ser importantes para o amadurecimento do trabalho conjunto. As pes-
soas não têm que pensar e agir da mesma forma, ao contrário, o trabalho em
rede (como abordado no módulo 1) se baseia na busca de caminhos de ação
conjunta entre pessoas, grupos e instituições diversos e autônomos. A partir
dessas diferenças, o desafio é estabelecer os objetivos, as estratégias e as ações
que podem ser pactuados e assumidos pelo grupo como base da ação co-
mum. Capacidades de ouvir, de discutir sem desqualificar o outro e de nego-
ciar aquilo que é possível são fundamentais nesse processo.
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FONTES DE CONFLITOS
• imposições e violências;
Fonte: Mudando o Mundo: a liderança feminina no século XXI. Rede Mulher de Educação/
Editora Cortez, São Paulo, 2001.
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entre outros. Ninguém está dizendo aqui que os integrantes da rede devem
virar grandes amigos, mas que podem desenvolver relações de companheirismo
e solidariedade mais intensas.
Além de enxergar as mulheres e os homens em situação de violência
como pessoas integrais, é necessário também que se assumam os/as partici-
pantes da rede de serviços como seres humanos com múltiplas e diversas
dimensões e necessidades (afetiva, intelectual, física, social, econômica, espi-
ritual – para quem acreditar, etc.). Podem-se realizar atividades que abordem
questões ligadas ao autocuidado e à valorização de uma perspectiva mais
integral da vida. Todas essas questões têm impactos na auto-estima do(a) pro-
fissional e na forma como este(esta) entende e exerce o seu papel na rede de
serviços.
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Desejamos a todos e a todas
BOA SORTE!!!!!!!!!
SE EM SEU MUNICÍPIO NASCER UM PROCESSO DE CONSTRUÇÃO
DE REDES DE SERVIÇOS, COMPARTILHE COM A SECRETARIA ES-
PECIAL DOS DIREITOS DA MULHER (SEDIM – www.mj.gov.br/
sedim), COM O CONSELHO DOS DIREITOS DA MULHER DO SEU
ESTADO E COM A GENTE. ENVIE UMA MENSAGEM PARA:
rdmulher@redemulher.org.br
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