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Geografia
Vice-Presidente da República
Michel Miguel Elias Temer Lulia
Ministro da Educação
Fernando Haddad
Vice-Reitora
Maria de Fátima Freire Melo Ximenes
FICHA TÉCNICA
Diagramação
REVISÃO DE MATERIAIS Ana Paula Resende
Revisão de Estrutura e Linguagem Carolina Aires Mayer
Eugenio Tavares Borges Davi Jose di Giacomo Koshiyama
Janio Gustavo Barbosa Elizabeth da Silva Ferreira
Jeremias Alves de Araújo Ivana Lima
José Correia Torres Neto José Antonio Bezerra Junior
Kaline Sampaio de Araújo Rafael Marques Garcia
Luciane Almeida Mascarenhas de Andrade
Thalyta Mabel Nobre Barbosa Módulo matemático
Joacy Guilherme de A. F. Filho
Revisão de Língua Portuguesa
Camila Maria Gomes
IMAGENS UTILIZADAS
Cristinara Ferreira dos Santos
Acervo da UFRN
Emanuelle Pereira de Lima Diniz
www.depositphotos.com
Janaina Tomaz Capistrano
www.morguefile.com
Priscila Xavier de Macedo
www.sxc.hu
Rhena Raize Peixoto de Lima
Encyclopædia Britannica, Inc.
ISBN 978-85-7273-828-6
CDU 005.44
L811e
© Copyright 2005. Todos os direitos reservados a Editora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – EDUFRN.
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Sumário
Apresentação Institucional 5
A
Secretaria de Educação a Distância – SEDIS da Universidade Federal do Rio Grande
do Norte – UFRN, desde 2005, vem atuando como fomentadora, no âmbito local, das
Políticas Nacionais de Educação a Distância em parceira com a Secretaria de Educação
a Distância – SEED, o Ministério da Educação – MEC e a Universidade Aberta do Brasil –
UAB/CAPES. Duas linhas de atuação têm caracterizado o esforço em EaD desta instituição: a
primeira está voltada para a Formação Continuada de Professores do Ensino Básico, sendo
implementados cursos de licenciatura e pós-graduação lato e stricto sensu; a segunda volta-se
para a Formação de Gestores Públicos, através da oferta de bacharelados e especializações
em Administração Pública e Administração Pública Municipal.
Para dar suporte à oferta dos cursos de EaD, a Sedis tem disponibilizado um conjunto de
meios didáticos e pedagógicos, dentre os quais se destacam os materiais impressos que são
elaborados por disciplinas, utilizando linguagem e projeto gráfico para atender às necessidades
de um aluno que aprende a distância. O conteúdo é elaborado por profissionais qualificados e
que têm experiência relevante na área, com o apoio de uma equipe multidisciplinar. O material
impresso é a referência primária para o aluno, sendo indicadas outras mídias, como videoaulas,
livros, textos, filmes, videoconferências, materiais digitais e interativos e webconferências, que
possibilitam ampliar os conteúdos e a interação entre os sujeitos do processo de aprendizagem.
Assim, a UFRN através da SEDIS se integra o grupo de instituições que assumiram o
desafio de contribuir com a formação desse “capital” humano e incorporou a EaD como moda-
lidade capaz de superar as barreiras espaciais e políticas que tornaram cada vez mais seleto o
acesso à graduação e à pós-graduação no Brasil. No Rio Grande do Norte, a UFRN está presente
em polos presenciais de apoio localizados nas mais diferentes regiões, ofertando cursos de
graduação, aperfeiçoamento, especialização e mestrado, interiorizando e tornando o Ensino
Superior uma realidade que contribui para diminuir as diferenças regionais e o conhecimento
uma possibilidade concreta para o desenvolvimento local.
Nesse sentido, este material que você recebe é resultado de um investimento intelectual
e econômico assumido por diversas instituições que se comprometeram com a Educação e
com a reversão da seletividade do espaço quanto ao acesso e ao consumo do saber E REFLE-
TE O COMPROMISSO DA SEDIS/UFRN COM A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA como modalidade
estratégica para a melhoria dos indicadores educacionais no RN e no Brasil.
5
Conceituando espaço,
técnica e globalização
Aula
1
Apresentação
N
esta primeira aula, estudaremos as bases conceituais sobre espaço, técnica, tecnologia
e globalização. Nesse sentido, discutiremos diferentes concepções sobre o espaço,
especialmente aquela concebida por Milton Santos, além de analisar os elementos do
espaço e as categorias analíticas que ajudam a entendê-lo. Ademais, analisaremos a técnica,
buscando entender o seu domínio pelo homem, em diferentes contextos históricos, sociais,
políticos e culturais, de modo que se compreenda também o processo de produção espacial.
Por fim, abordaremos a globalização e sua relação com a técnica e a produção do espaço
inerente a essa fase do capitalismo. Nesse contexto, discutiremos a configuração do meio
técnico-científico-informacional, intrínseco a esse processo de globalização.
Objetivos
Conhecer os conceitos pertinentes ao tema, tais como:
1 espaço, meio técnico e globalização.
Q
ualquer tentativa de definição conceitual sempre se constitui numa tarefa difícil e es-
corregadia, pois envolve abstrações e muitas vezes diversas acepções. Abstrações no
sentido de se tentar explicar uma dada realidade. Por isso mesmo, há diversas formas
de interpretar e explicar a realidade, dependendo, fundamentalmente, do ângulo pelo qual se
observa ao se tentar conceituar, da ciência ou área do conhecimento que se está estudando,
de suas diferentes correntes de pensamento, além do tempo a que se refere.
É sabido que o objeto de estudo da Geografia é o espaço geográfico. Logo, para entender
o espaço, o estudioso dessa ciência necessita fazer algumas abstrações teórico-conceituais, as
quais ora relaciona-se com o pensamento de determinados autores, ora como resultado das
discussões e teorias propostas por esses, nas diferentes escolas do pensamento geográfico.
Vale frisar que cada escola apresenta uma concepção diferente sobre o espaço, uma não menos
importante que a outra, mesmo que em alguns momentos ocorram abstrações divergentes e/
ou parecidas e convergentes.
O conceito de espaço
Na obra A Natureza do espaço, Milton Santos (2008a, p. 22) apresenta de forma bastante
clara uma definição coerente acerca do objeto de estudo da Geografia, entendendo-o como “um
conjunto indissociável de sistemas de objetos e sistemas de ações”. O autor aponta também para
a necessidade de se buscar entender a técnica no sentido de se compreender o espaço, pois “as
técnicas são um conjunto de meios instrumentais e sociais, com os quais o homem realiza sua
vida, produz e, ao mesmo tempo, cria espaço”. Assim, a técnica se constitui na principal forma
de interação entre o homem e o meio, sendo que nem sempre é estudada como deveria.
Nesse sentido, ao definir o espaço como um conjunto indissociável de sistemas de ob-
jetos e ações, o autor mostra que há categorias analíticas internas que merecem sempre ser
rediscutidas, a exemplo da paisagem, do lugar, do espaço produzido ou produtivo, da divisão
territorial do trabalho, das rugosidades e das formas-conteúdo, redes etc.
Já a técnica abrange categorias internas e externas que permitem assimilação empírica
sobre a coerência interna e externa. Essa necessita “ser vista sob um tríplice aspecto: como
reveladora da produção histórica da realidade; como inspiradora de um método unitário (afas-
tando dualismos e ambigüidades) e, finalmente, como garantia da conquista do futuro” numa
perspectiva de todo (SANTOS, 2008a, p. 23).
Na obra Espaço e Método, Milton Santos (1992, p. 1) considera o espaço
[...] uma instância da sociedade, ao mesmo título que a instância econômica e a instância
cultural-ideológica. Isso significa que, como instância, ele contém e é contido pelas demais
instâncias, assim como cada uma delas o contém e é por ele contida. A economia está no
espaço, assim como o espaço está na economia. O mesmo se dá com o político-institucional
e com o cultural-ideológico. Isso quer dizer que a essência do espaço é social.
[...] o espaço não é suporte, substrato ou receptáculo das ações humanas. E não se
confunde com a base física. O espaço geográfico é um espaço produzido. Nele a natureza
não é mera base ou parte integrante. É uma condição concreta de sua produção social.
E isso porque a natureza é uma condição concreta da existência social dos homens.
Conquanto a ‘primeira natureza’ não seja o espaço geográfico, não há espaço geográfico
sem ela (MOREIRA, 2007, p. 64-65).
Elementos do espaço
Para explicar os elementos do espaço, Milton Santos faz referência a alguns autores, entre
eles Bertrand Russell, o qual entende que esses, os elementos do espaço, são a “base de toda
dedução”, ou melhor, “os princípios óbvios, luminosamente óbvios, admitidos por todos os
homens”. Nesse sentido, os elementos do espaço correspondem aos “homens, as firmas, as
instituições, o chamado meio ecológico e as infra-estruturas” (SANTOS, 1992, p. 6).
Logo, esses elementos que constituem o espaço apresentam funções e, por conseguinte,
interações, uma vez que “na medida em que função é ação, a interação supõe interdependência
funcional entre os elementos”. Diante dessa concepção, entende-se que:
[...] a demanda de cada indivíduo como membro da sociedade total é respondida em parte
pelas firmas e em parte pelas instituições. As firmas têm como função essencial a produ-
ção de bens, serviços e idéias. As instituições por seu turno produzem normas, ordens e
Dessa forma, os elementos que formam o espaço precisam ser estudados e entendidos a
partir de suas funções e, em especial, conjuntamente, mesmo sabendo-se que ao serem estuda-
dos, esses se apresentam na forma de conceitos, os quais traduzem significados de abstrações
realizadas através da observação de fatos particulares, sem perder de vista a perspectiva do todo.
Vale ressaltar a importância do movimento do todo, pois ao estudar “diversas relações
bilaterais, como, por exemplo, entre homens e natureza, ou entre firmas e homens (capital e
trabalho), ou entre firmas e Estado (poder econômico e poder político) ou entre Estado e os
cidadãos, estaremos fazendo uma análise multivariável” e creditando valor em cada variável em
si mesma. No entanto, isso não ocorre de fato, haja vista que “somente através do movimento
do conjunto, isto é, do todo, ou do contexto, é que podemos corretamente valorizar cada parte
e analisá-la, para, em seguida, reconhecer concretamente esse todo” (SANTOS, 1992, p. 11).
[...] pode-se expressar a forma como uma estrutura revelada. Sendo mais visível, ela é,
aparentemente e até certo ponto, mais fácil de analisar que a estrutura. As formas ou
artefatos de uma paisagem são o resultado de processos passados ocorridos na estrutura
subjacente, Todavia, divorciada da estrutura, a forma conduzirá a uma falsa análise: com
efeito, formas semelhantes resultaram de situações passadas e presentes extremamente
diversas. A refletir os diferentes tipos de estruturas, aí estão as diferentes formas revela-
das – naturais e artificiais. Ambas estão sujeitas a evolução e, por esse meio, as formas
naturais podem tornar-se sociais (SANTOS, 1992, p. 51).
Essa gravura, de meados do século XVI, retrata uma série de técnicas dispo-
níveis na sociedade europeia, naquele momento. Ela é uma espécie de pour
pourri do que estimulava a atenção dos europeus ocidentais urbanos até 1560,
o que se poderia chamar de “sonho renascentista ocidental”. Para que isso se
concretizasse, houve um intercâmbio de informações entre artistas/desenhis-
tas, astrônomos, comerciantes, cartógrafos, fabricantes de instrumentos, etc.,
resultante do Renascimento. Todas essas técnicas aí representadas, como ca-
nhões, a ciência representada pelo livro, a matemática pela régua e o compas-
so, as artes com a música e o teatro, entre outros, corresponde a um sistema
técnico que deu suporte ao expansionismo e imperialismo europeu dos séculos
seguintes (CROSBY, 1998).
Esse raciocínio permite fazer referência a várias técnicas, como as agrícolas, industriais,
comerciais, culturais, políticas, da difusão da informação, dos transportes, das comunicações,
da distribuição, entre outras, que são um dos dados que pode servir para explicar o espaço.
Porém, Santos (2008b, p. 57) argumenta que
Tais técnicas não tem a mesma idade e, desse modo, pode-se falar do anacronismo de
algumas e do modernismo de outras [...]. Essas técnicas se efetivam em relações con-
cretas, relações materiais ou não, que presidem a elas, o que nos conduz sem dificuldade
à noção de modo de produção e de relações de produção.
Linhares (2006) ressalta que os sistemas técnicos recentes assumam um caráter mundia-
lizado, ainda que nos países periféricos tais sistemas apresentem uma distribuição geográfica
irregular e, em muitos casos, incompleta, além de um uso social excludente. Contudo, de
acordo com Santos (2008b), trata-se de um sistema técnico único (atrelado a um modo de
produção mundial ou globalizado), hegemônico que é apropriado, monopolizado e utilizado
pelos agentes hegemônicos da constituição social e, portanto, da produção do espaço. Nesse
sentido, para Santos (2008a), as técnicas funcionam como sistemas que marcam as diversas
[...] conjunto das suposições fundamentais sob o qual todas as sociedades até hoje
organizaram, viveram e apoiaram sua condição de unidades territoriais mutuamente
separadas. Globalidade significa o desmanche da unidade do Estado e da sociedade na-
cional, novas relações de poder e de concorrência, novos conflitos e incompatibilidades
entre atores e unidades do Estado nacional por um lado e, pelo outro, atores, identidades,
espaços sociais e processos sociais transnacionais (BECK, 1999, p. 49).
é nesse meio que se vêm implantar, tanto no campo como na cidade, as produções
materiais ou imateriais características da época. Em uma frase, poderíamos dizer que as
ações hegemônicas se estabelecem e realizam-se por intermédio de objetos hegemônicos
(SANTOS, 2005, p. 148).
[...] aparece hoje como a inevitável referência mítica em toda reflexão econômica, política
e social contemporânea, como peça principal da nova ideologia dominante. A persistente
desaceleração da atividade econômica nas duas últimas décadas, a aplicação de políticas
restritivas e monetaristas, a extinção da coesão social com a instalação do desemprego em
massa, da pobreza e das exclusões em larga escala, mesmo nos países industrializados,
são apresentadas pela ideologia corrente como conseqüências diretas da globalização.
Leitura complementar
Autoavaliação
Apresente as principais definições conceituais sobre o espaço, relacionando aos
1 principais elementos e categorias que o constitui.
Referências
BECK, Ulrich. O que é globalização? equívocos do globalismo: respostas à globalização.
Tradução de André Carone. São Paulo: Paz e Terra, 1999.
GAMA, Ruy. História da técnica colonial no Brasil. Revista Brasileira de História da Ciência,
n. 3, p. 131-136, 1989.
______. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência. universal. Rio de
Janeiro: Record, 2001.
SANTOS, Milton; SOUZA, Maria Adélia A. de; SILVEIRA, Maria Laura (Org.). Território: globa-
lização e fragmentação. São Paulo: Hucitec, 2006.
Aula
2
Apresentação
N
a primeira aula, discutimos as bases conceituais sobre espaço, técnica, tecnologia e
globalização. Vimos a importância desses conceitos para a ciência geográfica, uma vez
que eles se constituem em noções explicativas sobre a realidade social e suas nuances.
Nesta aula, abordaremos especificamente o papel da tecnologia no processo de (re)produção
do espaço no contexto capitalista. Retomaremos a discussão sobre técnica e tecnologia para
entender o processo de produção e organização do espaço inerente ao atual processo de glo-
balização. Abordaremos o processo de produção do espaço urbano na contemporaneidade,
elucidando a diversidade, complexidade e contradições que permeiam a cidade do presente.
Objetivos
Compreender as abordagens teóricas referentes à técnica,
1 tecnologia e reprodução do espaço.
A
história do homem envolve também a própria história da técnica, uma vez que desde os
primórdios o homem busca cada vez mais aperfeiçoar seus instrumentos de trabalho,
condições e meios de sobrevivência. Para tal, normalmente recorre à técnica que pode
ser entendida como algo que pertence à indústria e/ou à arte, no contexto dos domínios da
atividade humana. Ela também pode ser compreendida como um conhecimento prático, o
saber fazer, que surge através da relação do homem com o meio, logo, é reflexiva, inventiva e
passível de aperfeiçoamento constante.
Já a tecnologia corresponde a um conjunto sistematizado de conhecimentos sobre a téc-
nica, normalmente alcançado através da ciência, mas aplicável de forma prática nos processos
produtivos que marcam a própria história da humanidade, em diferentes contextos temporais
e espaciais. Portanto, os avanços tecnológicos marcam a evolução dos diferentes modos de
produção e suas respectivas sociedades e culturas.
Para Milton Santos (2008b, p. 57), “técnicas agrícolas, industriais, comerciais, culturais,
políticas, da difusão da informação, dos transportes, das comunicações, da distribuição, etc.”
se constituem em dados explicativos sobre o espaço, mesmo que visíveis ou não na paisagem.
Assim, para entender a produção do espaço é preciso entender o papel das técnicas e, por
conseguinte, da tecnologia.
É importante frisar que as técnicas não têm a mesma idade, por isso fala-se de anacro-
nismo de algumas e modernismo de outras, além de situações intermediárias. As técnicas “se
efetivam em relações concretas, relações materiais ou não, que presidem a elas, o que nos
conduz sem dificuldade à noção de modo de produção e de relações de produção” (SANTOS,
2008b, p. 57). Cada modo de produção apresenta diferentes aparatos tecnológicos e, por isso,
diversos usos e apropriações da técnica.
Baseado em Lévy (1999, p. 23), é possível entender como as técnicas interferem no
processo de (re)produção do espaço, pois elas “carregam consigo projetos, esquemas ima-
ginários, implicações sociais e culturais bastante variados. Sua presença e uso em lugar e
época determinados cristalizam relações de força sempre diferentes entre seres humanos”.
Ao aprofundar as discussões sobre o papel da técnica num dado contexto social, Lévy
(1999, p. 26) enfatiza que:
uma técnica não é nem boa, nem má (isto depende dos contextos, dos usos e dos pontos
de vista), tampouco neutra (já que é condicionante ou restritiva, já que de um lado abre
e de outra fecha o espectro de possibilidades). Não se trata de avaliar seus ‘impactos’,
mas de situar as irreversibilidades as quais um de seus usos nos levaria, de formular os
projetos que explorariam as virtualidades a que se reporta e de decidir o que fazer dela
(LÉVY, 1999, p. 26).
Toda essa discussão serve para chamar a atenção sobre o papel e a importância da tec-
nologia no processo de produção espacial, haja vista que não se pode entender o espaço sem
entender como se dá o uso efetivo, e muitas vezes racional e desigual da tecnologia, mesmo
que de modo diferenciado no espaço e no tempo.
Sendo assim, os espaços se (re)produzem com usos diferenciados, mais ou menos in-
tensos de tecnologia, logo todos sofrem influências dela. Um exemplo desses aspectos pode
ser verificado no campo brasileiro, onde o agronegócio utiliza todo um aparato tecnológico
(Figura 1), isto é, um sistema de técnicas extremamente complexo e diverso, ao passo que os
plantios de sequeiro, ainda bastante desenvolvidos no sertão do nordeste brasileiro, se utilizam
de tecnologia sem a mesma complexidade e diversidade do primeiro (Figura 2).
O espaço aqui pode ser entendido como o locus da reprodução das relações capitalistas
de produção, isso para se fazer referência ao pensamento lefebvreano. Baseando-se em Lefe-
bvre (1973), entende-se que o espaço possui múltiplas propriedades na dimensão estrutural,
construção dos edifícios corporativos que, sob a forma de ‘produto imobiliário’, se voltam
ao mercado de locação (fundamentalmente no que se refere aos edifícios corporativos de
escritórios, rede hoteleira e flats). Na sua construção, associa várias frações do capital a
partir do atendimento do setor de serviços modernos. Nesse sentido, estabelece-se um
movimento de passagem da predominância/presença do capital industrial produtor de
mercadorias destinadas ao consumo individual (ou produtivo) à preponderância do capital
financeiro que produz o espaço como mercadoria enquanto condição de sua realização.
Mas o espaço-mercadoria, tornado ‘produto imobiliário’, transforma-se numa merca-
doria substancialmente diferente daquela produzida até então, pois se trata, agora, de
uma mercadoria voltada essencialmente ao ‘consumo produtivo’, isto é, entendido como
lugar da reprodução do capital financeiro em articulação estreita com o capital industrial
(basicamente o setor de construção civil) que, pela mediação do setor imobiliário, trans-
forma o investimento produtivo no espaço sobrepondo-se ao investimento improdutivo,
regulando a repartição das atividades e usos (CARLOS, 2006, p. 82).
Dessa forma, o espaço urbano se reproduz por meio da presença efetiva de diferentes
sistemas técnicos, que evidenciam diferentes tempos inscritos na paisagem urbana. Isto se
dá por meio de diferentes atores e agentes, com diferentes formas de uso da tecnologia, mas
que em conjunto propiciam a reprodução do espaço capitalista. Nota-se que no interior desse
processo, a economia e a tecnologia exercem papel importantíssimo, pela própria relação
simbiótica que apresentam entre si.
não mais a partir dos imperativos da técnica a que a economia se tornou subordinada,
mas a partir dos valores, o que ensejaria uma nova forma de pensar um porvir onde o
social deixaria de ser residual e se atribuiria à economia e à tecnologia um papel histórico
subordinado em benefício do maior número (SANTOS, 2008b, p.149).
O maior desafio é conseguir fazer com que a maioria escreva sua própria história, sobre-
pujando a minoria que normalmente detém o controle da economia e da tecnologia no contexto
atual. A partir daí ter-se-ia uma outra forma de produção do espaço urbano, bastante diferente
do que se verifica na contemporaneidade.
Com base no texto, o que se entende por produção do espaço urbano associado ao
2 uso da tecnologia no contexto histórico atual?
CARLOS, Ana Fani Alessandri. A (re)produção do espaço urbano. São Paulo: EDUSP, 1994.
Nessa obra, a autora utiliza a perspectiva teórica do materialismo dialético de Marx para
explicar a (re)produção do espaço urbano, rediscutindo inclusive o papel da Geografia. Ela
também analisa a reprodução do espaço urbano, associando ao desenvolvimento capitalista
em curso no Brasil, no final do século XX.
CORRÊA, Roberto Lobato. O espaço urbano. São Paulo: Ática, 2004. (Série Princípios).
Nesse texto, o autor analisa a produção do espaço urbano na cidade capitalista, buscando
entender a ação dos diferentes agentes sociais que produzem o espaço urbano e participam
dos processos e formas espaciais.
Resumo
Referências
CARLOS, Ana Fani Alessandri. A (re)produção do espaço urbano. São Paulo: EDUSP, 1994.
______. Dinâmicas urbanas na metrópole de São Paulo. In: LEMOS, Amalia Inés Geraiges
de; ARROYO, Mónica; SILVEIRA, María Laura. América Latina: cidade, campo e turismo. São
Paulo: CLACSO, Conselho Latinoamericano de Ciências Sociais, 2006.
CORRÊA, Roberto Lobato. Região e organização espacial. São Paulo: Ática, 1998.
GODOY, Paulo Roberto Teixeira de. A produção do espaço: uma reaproximação conceitual da
perspectiva lefebvriana. Revista GEOUSP, São Paulo, n. 23, p. 125-132, 2008.
LÉVY, Pierre. Cibercultura. Tradução de Carlos Irineu da Costa. São Paulo: Edições 34, 1999.
______. Por uma geografia nova: da crítica da geografia a uma geografia crítica. São Paulo:
EDUSP, 2008a.
VIDAL, Diana Gonçalves. Técnica e sociedade no Brasil. São Paulo: Contexto, 1994.
Anotações
Aula
3
Apresentação
N
esta aula, discutiremos as transformações recentes observadas na agricultura e suas
relações com a revolução técnico-científica. Nesse sentido, focaremos a análise na im-
portância da ciência aplicada ao desenvolvimento de tecnologias voltadas ao processo
produtivo agrícola. Ressaltaremos ainda a influência das novas tecnologias da comunicação e
da informação na organização da produção agrícola, com a utilização de sistemas informatiza-
dos, planos de controle de gestão e exploração, aplicação da agricultura de precisão e ligação
da produção ao mercado internacional em tempo real. Para tanto, num primeiro momento, as
discussões estarão focadas na evolução das tecnologias agrícolas e, nesse contexto, a moder-
nização da agricultura brasileira, ocorrida a partir da década de 1960. Agricultura de precisão
e agricultura e internet são os temas explorados na sequência. Para finalizar, realizamos uma
discussão sobre as consequências da incorporação das NTIC no setor agropecuário brasileiro.
Objetivos
Analisar a importância da ciência numa relação espaço-tempo
1 para o desenvolvimento tecnológico aplicado à agricultura.
A
s Novas Tecnologias de Informação e da Comunicação (NTIC) estão produzindo mudan-
ças em todas as atividades humanas, incluindo a agricultura. Sua influência varia desde
pesquisa sobre melhoramento genético, com a utilização de sistemas informatizados,
planos de controle de gestão e exploração, aplicação da agricultura de precisão, ligação da Sistemas de
produção ao mercado internacional em tempo real, realidade virtual e uso de sistemas de inteligência artificial
Há possibilidade de uso
inteligência artificial. Mas, a sua incorporação tem sido mais intensa, como era esperado,
de inteligência artificial
no contexto rural dos países centrais. Nesse sentido, consideramos pertinente concentrarmos para o planejamento,
esforços para compreender a incorporação das NTIC no processo produtivo agrícola dos pa- controle, monitoramento,
íses centrais e periféricos na tentativa de identificar os impactos e as implicações territoriais projeção ou diagnósticos
de problemas na prática
e sociais, em diferentes contextos.
agrícola e em aspectos
Iniciamos nossa discussão com algumas observações gerais sobre a incorporação de relacionados (CHAPARRO;
tecnologia na produção agrícola e, mais especificamente no Brasil, a partir da modernização LOCATEL, 2004).
agrícola. Em seguida, é apresentada a análise da aplicação de alguns softwares projetados para
apoiar as atividades agrícolas. Num segundo momento, discutem-se alguns aspectos relativos
à introdução da agricultura de precisão e da Internet em atividades rurais, para concluir serão
feitos alguns comentários sobre as implicações sociais, com o aumento do fosso entre os
agricultores com a chegada do aparato técnico digital ao mundo rural.
Tecnologia e agricultura
O desenvolvimento e implementação de sistemas de manejo das explorações agrícolas
e fazendas incluem quatro etapas principais: a fase em que todas as tarefas eram realizadas
manualmente; em seguida, houve outra fase em que se incorporaram alguns sistemas e téc-
nicas – a mecanização –, mas o trabalho manual ainda continuou sendo fortemente utilizado.
Posteriormente, incorporou o uso de computadores e softwares e, então, uma fase final em
que foi introduzida a Internet (LEWIS, 1998). É precisamente esse último, ou seja, a rede das
redes, que se constitui um dos fatores que estão causando mais mudanças, porque oferece a
possibilidade da intensificação e da incorporação da produção aos mercados mundiais, com a
facilidade da teleoperação – manejo a distância –, de fazendas de consideráveis dimensões a
partir de praticamente qualquer lugar conectado à rede, a exemplo das grandes fazendas no Brasil
que pertencem a grupos multinacionais ligados ao agronegócio (CHAPARRO; LOCATEL, 2004).
Historicamente, o progresso tecnológico na agricultura foi lento, em especial até a Re-
volução Industrial, quando se nota grandes transformações. Até esse momento, a enxada e
o arado romano representavam os meios mais eficazes de produção agrícola. Fatores como
o desconhecimento técnico e a escassez de capitais impediam um progresso mais acelerado
desse setor, de tal modo que a agricultura pré-industrial foi também denominada de pré-
capitalista (MOLINERO, 1990).
A partir da Revolução Agrária (século XVIII), que precede a Revolução Industrial, as trans-
formações passam a ocorrer de forma acelerada, rompendo definitivamente com a situação
A modernização
da agricultura brasileira
A modernização da agricultura brasileira, através da incorporação de insumos químicos
e equipamentos específicos, teve seu início na década de 1950. A incorporação das inovações
técnicas conduz a um progresso tecnológico marcado por mudanças na intensidade e no ritmo
da jornada de trabalho, com as inovações mecânicas, modificações nas condições naturais
do solo, elevando a produtividade do trabalho aplicado a esse meio de produção, mediante a
aplicação de inovações físico-químicas e, por fim, ocorrem mudanças na velocidade de rotação
do capital variável utilizado no processo produtivo, com a utilização das inovações biológicas,
já que essas possibilitam a redução do período de trabalho e potencializam as inovações
mecânicas e físico-químicas, de acordo com Silva (1981). Para Graziano Neto (1982, p. 68),
[...] nesse processo, a agricultura, que era auto-suficiente, vai perdendo esta condição,
tornando-se cada vez mais dependente. Isto ocorre porque a dinâmica da acumulação
econômica se encontra nos setores industriais, onde os capitais são mais concentrados
ou oligopolizados e tendem, portanto, a comandar as rédeas da economia.
produtos agrícolas. Esses são alguns dos aspectos relacionados com as mudanças que estão
germinando vinculada a atividade agropecuária no mundo, assim como no Brasil. Monsanto
Ver o site da empresa
Monsanto: <http://www.
monsanto.com.br/institu-
cional/institucional.asp>.
Acesso em: 21 out. 2010.
Massey Ferguson
1 Agricultura de Precisão.
Acesse: <http://www.
massey.com.br/portugues/
default.asp>. Acesso em:
Descreva o processo de incorporação técnica à produção agrícola, destacando as 21 out. 2010.
1 transformações ocorridas no emprego da mão de obra.
Telemática
Explique o contexto de contradições que marca o processo de transformações no De acordo com o dicioná-
2 espaço agrário dos países subdesenvolvidos, especialmente no Brasil, destacando
rio Michaelis (WEISZFLOG,
2010), telemática é a
como se dá a acessibilidade às NTIC. “ciência que trata da
manipulação e utilização
de informação através do
computador e da teleco-
municação”.
A agricultura de precisão
A agricultura de precisão está ligada a estratégias de gestão que utilizam tecnologias de
informação para coletar e analisar dados de várias fontes, com o objetivo de apoiar a tomada
de decisões relacionadas à produção agrícola (MACHADO, 2003). Esses sistemas informa-
tizados também se destinam a aumentar a eficácia e a eficiência da produção em uma área
específica ou em toda a propriedade, além de buscar aumentar os lucros com a minimização
simultânea dos custos de produção e impactos ambientais causados por atividades agrícola e
pecuária, embora seja necessário salientar que o sistema por si só não significa uso racional
dos recursos naturais.
Os benefícios gerados pela agricultura de precisão dependerão da quantidade de in-
formação disponível. Considerando que esse é um tipo de agricultura, com um processo
contínuo de acumulação de informações, de modo que os resultados tendem a melhorar com
a continuação da sua aplicação.
A incorporação da agricultura de precisão implica requisitos iniciais, compostos princi-
palmente de equipamentos agrícolas e sofisticados sistemas de processamento de dados de
certa complexidade, bem como o uso de satélites, indispensáveis para o uso de GPS (Global
Positioning System) (BAYER DO BRASIL, 2002). Essas possibilidades tecnológicas aplicadas
à agricultura permitem o controle de metro por metro da área cultivada, enquanto tornam
possível a ação localizada em cada porção do terreno de acordo com suas necessidades
técnicas individuais.
SISTEMAS
Sensoramento remoto;
Hardware;
Posicionamento 1 2
Software;
(GPS); Mapa de Produtividade; Coleta dos Processamento SIG.
Monitoramento de Dados dos Dados
Culturas
Análise de solo.
PESSOAS
Fases da
MÁQUINAS
Agricultura de
Precisão
A primeira fase começa no momento da colheita. O uso de máquinas equipadas com sen-
sores e receptores GPS gera informações de produtividade metro por metro de área cultivada.
Em seguida, é necessário reunir informações diretamente no campo, associada, por exemplo,
à análise da fertilidade da terra, impacto dos processos erosivos e da interferência de outros
fatores que podem causar variações ou modificações da produtividade (JOHN DEERE, 2003).
Na segunda fase, com o processamento e análise dos dados, são gerados mapas de pro-
dutividade. A partir da análise e representação cartográfica das variáveis, é possível identificar
a maioria dos procedimentos técnicos adequados para alcançar uma maior rentabilidade nos
cultivos. Com a orientação técnica necessária, inicia-se a intervenção mediante a aplicação
de corretivos e fertilizantes em quantidades variadas de acordo com os resultados da análise.
A partir desta etapa, com o solo já preparado, efetua-se o plantio de sementes, também
em quantidades variadas de acordo com o potencial produtivo de cada setor analisado.
Essas duas etapas podem ser executadas ao mesmo tempo através do uso de tratores e
equipamentos que possuem sofisticados sistemas automáticos que regulam a quantidade de
adubo e sementes que devem ser distribuídas no solo de acordo com as informações armaze-
nadas no computador de bordo e os sinais recebidos de satélites via GPS (JOHN DEERE, 2003).
Após o plantio das sementes, inicia-se a fase de acompanhamento do cultivo para o
mapeamento de plantas invasoras, doenças causadas por fungos e vírus, infestação por inse-
tos e outras situações. A fase seguinte realiza-se com a aplicação de agrotóxicos, variando a
aplicação de acordo com as informações representadas nos mapas produzidos na fase anterior.
Finalmente, o processo é completado com a nova safra que deve ser realizada utilizando má-
quinas equipadas com sensores e receptores de GPS, permitindo a coleta de informações de
Internet e agricultura
Há algumas décadas no Brasil, para iniciar a atividade agrícola, bastava um pedaço de terra,
tratores, silos, algumas vacas, porcos e galinhas, e se podia integrar-se a um mercado, na maioria
dos casos locais, e obter um rendimento suficiente para assegurar a continuidade da atividade.
Hoje, no entanto, a concorrência está aumentando, com interação maior entre o local e
o global, do micro ao macro, o que implica, para os produtores, uma necessária e constante
atualização, a fim de obter retornos suficientes para permitir continuidade na agricultura. A
busca de informações para continuar sendo competitivo está causando mudanças significativas
no campo, onde o computador e a internet estão se tornando ferramentas indispensáveis para a
busca da eficiência na produção e comercialização de produtos agrícolas (AGROSOFT, 2002a).
Outra mudança que pode ser observada é o aumento de sites agro-comerciais eletrônicos,
nos quais tudo pode ser comprado e vendido, desde sêmen de reprodutores bovinos de alto
desempenho até máquinas agrícolas, diretamente ou através de leilão virtual. Vários sites de
agrocomércio eletrônico, empresa-empresa (business-to-business) ou empresa-consumidor
(business-to-consumer) estão chamando a atenção de investidores do mercado de risco, e é
provável que essa nova possibilidade de investimento coloque ações desses portais de agri-
cultura em pregões das bolsas de valores ao redor do mundo (AGROSOFT, 2002b).
[...] o produtor rural que não souber incorporar tecnologia ao processo produtivo da
sua lavoura, compensando com aumentos de produtividade a queda dos preços, muito
provavelmente engrossará o contingente dos desesperançados que habitam as perife-
rias de nossas grandes e pequenas cidades, criando, para a sociedade urbana, um sério
problema social e econômico.
No entanto, existe uma preocupação por parte de alguns pesquisadores de encontrar me-
canismos viáveis para o acesso e utilização dessas novas tecnologias por todos os agricultores.
Precisamente, um dos aspectos mais questionados das NTIC é a relação custo/benefício e a
limitada capacidade de adaptação dos pequenos produtores, do agricultor capitalizado, das
pessoas com um baixo grau de instrução e os semialfabetizados diante da possibilidade de se
ter acesso e poder usar as inovações emergentes.
Sobre esses aspectos, considera-se pertinente as alusões de Luciel H. Oliveira, que
destaca que “Não se espera que todos os produtores comprem um microcomputador, que
façam cursos de operação e programação e contratem analistas de sistemas” (OLIVEIRA,
1995, extraído da internet). O autor destaca ainda que
todos os produtores rurais podem e devem utilizar-se da TI. O acesso à tecnologia não
demanda, necessariamente, altos investimentos. Um empresário pode adquirir um mi-
crocomputador e instalá-lo em seu escritório na sede da fazenda, ou pode até mesmo
trabalhar em redes locais, nos casos de empresas maiores. Por outro lado, uma coopera-
tiva ou mesmo um sindicato rural pode fazer esse investimento, constituindo um centro
de informações para os pequenos produtores, que poderiam beneficiar-se da tecnologia
disponível, melhorando a qualidade de suas decisões, e seu planejamento, sem, contudo,
investir em equipamentos ou sistemas (OLIVEIRA, 1995, extraído da internet).
Finalmente, pode-se notar que a crescente integração das NTIC em áreas rurais e na
produção agropecuária em países periféricos, em especial aqueles que possuem economia
depende em grande medida desse setor, oferece desafios significativos para os produtores,
acadêmicos, investigadores e legisladores.
No caso brasileiro, as novas possibilidades de emprego da informática afeta a atividade
agropecuária em termos de intervenção física no solo, como na disponibilidade de infor-
mações para o planejamento e para a colocação de produtos no mercado. Nesse sentido, é
Leitura complementar
Autoavaliação
Destaque os principais conceitos apreendidos nesta aula e como eles contribuem
1 para a compreensão do espaço geográfico.
Referências
AGROSOFT. Internet rural. Revista Agrosoft, n. 9. São Paulo: Agrosoft, 2002a. Disponível em:
<http://agrosoft.softex.br/agrosobr/ver.php?page=44>. Acesso em: 15 jul. 2010.
______. Os destaques agro na web brasileira. Revista Agrosoft, n. 9. São Paulo: Agrosoft,
2002b. Disponível em: <http://agrosoft.softex.br/agrosobr/ver.php?page=41>. Acesso em: 25
jun. 2010.
BAYER DO BRASIL. Novas tecnologias: agricultura de precisão. 2002. Disponível em: <www.
bayer.com.br>. Acesso em: 20 jun. 2010.
CHAPARRO, J.; LOCATEL, C. ¿Sueñan los granjeros con ovejas eléctricas? Algunos elementos
clave para pensar la nueva divisoria digital rural. Scripta Nova: Revista electrónica de geografía y
ciencias sociales, Barcelona: Universidad de Barcelona, v. 8, n. 170 (18), 1 ago. 2004. Disponível
em: <http://www.ub.es/geocrit/sn/sn-170-18.htm>. Acesso em: 15 maio 2010.
CIGANA, C. A redução de custos prometida pela agricultura de precisão. Porto Alegre: Her-
bário, 2002. Disponível em: <http://www.herbario.com.br/bot/agripec/intercan.htm>. Acesso
em: 20 jun. 2010.
HERBÁRIO. Web no campo abre mercado à tecnologia. Porto Alegre: Herbário, 2002. Disponível
em: <http://www.herbario.com.br/bot/agripec/intercan.htm>. Acesso em: 20 jun. 2010.
JOHN DEERE. Solução de gerenciamento agrícola para produtores inovadores. 2003. Dis-
ponível em: <http://www.deere.com.br/pt_BR/ag/infocenter/precisao1.html>. Acesso em: 10
jul. 2010.
MONBEIG, Pierre. Pioneiros e fazendeiros de São Paulo. São Paulo, Hucitec, 1984.
OLIVEIRA, L. H. Potencial e aplicação de sistemas de apoio à decisão para empresas rurais. In:
FEIRA E CONGRESSO DE INFORMÁTICA APLICADA À AGROPECUÁRIA E AGROINDÚSTRIA
- AGROSOFT 95. 1995. São Paulo. Anais... São Paulo, 1995. Disponível em: <http://www.
agrosoft.org.br/trabalhos/ag95/doc03.htm>. Acesso em: 10 jul. 2010.
SERRA, R.; MARTIN, N. B. Sistema de Custo de Produção e Mecanização Agrícola. In: FEIRA
E CONGRESSO DE INFORMÁTICA APLICADA À AGROPECUÁRIA E AGROINDÚSTRIA - AGRO-
SOFT 95. 1995. São Paulo. Anais... São Paulo, 1995. Disponível em: <http://agrosoft.softex.
br/agrosobr/ver.php?page62>. Acesso em: 15 jul. 2010.
SILVA, J. G. Progresso técnico e relações de trabalho na agricultura. São Paulo: Hucitec, 1981.
WEISZFLOG, Walter. Michaelis Moderno Dicionário da Língua Portuguesa. São Paulo: Me-
lhoramentos, 2010.
Aula
4
Apresentação
N
a última aula, estudamos a relação entre tecnologia e reestruturação produtiva no con-
texto da globalização econômica. Nesta aula, discutiremos as transformações ocorridas
no contexto da economia global, buscando entender a formação e o papel dos blocos
econômicos de poder, mostrando o conjunto de ações que marcam essa fase da economia mun-
dial que, por conseguinte, reflete na dinâmica da sociedade e na reorganização dos territórios. É
possível observar que a formação dos blocos econômicos de poder se constitue em estratégias
político-econômica-institucionais de determinados países, no sentido de se fortalecerem frente ao
jogo de interesses do capitalismo contemporâneo, numa escala espaço-temporalmente desigual.
Analisaremos os principais blocos econômicos e suas estratégias de fortalecimento, bem como
mostraremos como o Brasil e a América Latina se inserem nesse processo.
Objetivos
Discutir as transformações recentes ocorridas na econo-
1 mia global, a partir da formação dos blocos econômicos de
poder, buscando entender o papel desses na reorganização
dos territórios.
P
ode-se afirmar que a economia global é diferenciada e heterogênea espaço-temporal-
mente, e ao mesmo tempo contraditória. Trata-se de diferentes processos e diferentes
eventos, envolvendo diversos atores, ditos globais, imbuídos de relações de forças e
interesses muitas vezes consideravelmente desiguais, contraditórios e diversificados.
A gênese da economia global está associada ao avanço do meio técnico-científico-infor-
macional proporcionado principalmente pelos avanços da ciência moderna contemporânea.
A economia global caracteriza-se, dentre outros aspectos, pelas melhorias em infraestrutura
em escala global, no sentido de garantir maior dinamismo e fluidez ao sistema econômico
capitalista como um todo (matéria-prima, mercadorias, informações, dinheiro, pessoas etc.).
Associado a esses eventos, tem-se a elaboração de um avançado sistema de tecnologias
da informação e da comunicação, desregulamentação e liberalização estatal praticadas por
diversos países, além de novas formas de cooperação internacional, evidenciando muitas
vezes o que Ulrick Beck chama de “topoligamia de lugares”, isto é, o casamento do sistema
econômico global com vários lugares ao mesmo tempo, como forma de fazer com que esse
momento histórico aconteça em benefício do capital.
Para Beck (1999), é preciso atentar para os equívocos que envolvem a noção de globa-
lismo, e de modo particular o chamado livre comércio mundial. É um equívoco, por exemplo:
acreditar que a economia globalizada seja a mais adequada para oferecer o bem-estar para todo
o mundo, ou que essa é capaz de eliminar as desigualdades sociais. É evidente que não haverá
jamais a partilha igualitária da riqueza gerada pela economia global, tampouco o atingimento
universal da dignidade de sobrevivência e da cidadania. Ocorre de fato um acirramento das
desigualdades entre nações e regiões, assim como num mesmo país ou região, aumentando
ainda mais o distanciamento entre ricos e pobres.
Há de fato um privilegiamento das relações de mercado em detrimento das questões
sociais. Nesse contexto, constitui-se um núcleo de controle dotado de um conjunto de ele-
mentos necessários à interligação global do sistema econômico, isto é, componentes como:
mercados financeiros, comércio internacional, produção transnacional, ciência e tecnologia.
Nesse sentido, a economia global pode ser entendida como “uma economia cujos componentes
centrais têm a capacidade institucional, organizacional e tecnológica de trabalhar em unidade
e em tempo real, ou em tempo escolhido, em escala planetária” (CASTELLS, 2007, p. 143).
Tudo converge para uma velocidade cada vez maior das transformações, especialmente
tecnológicas, refletindo significativamente no mundo do trabalho, do consumo, portanto, no
sistema econômico, favorecendo, sobretudo, os países que detêm maiores níveis de riqueza
e de desenvolvimento científico e tecnológico.
Com base nos autores trabalhados, faça uma breve contextualização sobre as
1 transformações ocorridas na economia global, associando ao período do meio
técnico-científico-informacional.
2 De acordo com Ulrich Beck (1999), o que se entende por “Topoligamia de Lugares”?
Os blocos econômicos:
uma estratégia capitalista
A diminuição progressiva das barreiras às trocas comerciais bem como os movimentos
de integração econômica tiveram início desde o século XVI quando os europeus iniciaram
os movimentos de expansão e investimentos no mundo por meio das grandes navegações
europeias e das companhias de comércio. E essa integração progressiva se constituiu nas
bases do que mais tarde se denominou processo de globalização ou mundialização do capital.
O período de expansão do pós-guerra entre 1945 e 1973 estava embasado na disciplina
da força de trabalho para os propósitos de acumulação do capital - controle social das capaci-
dades físicas e mentais - tecnologias, hábitos de consumo e configuração de poder político e
econômico. A esse conjunto de práticas, deu-se o nome de Fordista - Keynesiano.
Havia aí o anseio de estabilizar o Capitalismo e evitar as crises cíclicas, bem como o nacio-
nalismo das soluções nacional-socialistas, que só seria possível por meio do estabelecimento
de um conjunto de estratégias administrativas científicas e poderes estatais. De acordo com
Harvey (1990), o Capitalismo ainda era bastante instável e dependia da ação coletiva, ou seja,
dependia de uma regulamentação e intervenção do Estado.
Ocorre que, no final da década de 1980, estabeleceu-se a crise econômica mundial do
Capitalismo, daí o início das políticas de sua reestruturação, iniciando uma nova divisão interna-
cional do trabalho, com ênfase no desenvolvimento tecnológico como subsídio da estruturação
dessa nova divisão, principalmente nas áreas da informática e da comunicação.
Corroborando com isso, Harvey (199, p. 121) afirma que “os novos métodos de trabalho
são inseparáveis de um modo específico de viver e de pensar e sentir a vida”. E é essa mesma
revolução tecnológica que vai agir diretamente em todo o sistema social, econômico, político
e cultural do mundo.
O final do século XX é marcado por transformações na economia política do Capitalismo.
As marcas dessas modificações podem ser observadas em processos de trabalho, hábitos de
consumo, configuração geográfica, regime de acumulação e modo de regulamentação social
União Europeia
A União Europeia é o bloco econômico mais bem estruturado e atuante de todos, e
entende-se que a nova maneira com a qual esses países passaram a se relacionar e se impor
economicamente é bastante influenciada por essa nova realidade na qual estão inseridos. A
União Europeia foi instituída em 1991 e exerce um grande poder sobre os demais países do
mundo, pois, como coloca Castells (2007), dinamiza a economia global, estabelecendo alianças,
realizando fortes transações em segundos, de modo que é responsável por expressivos fluxos
financeiros e uma circulação veloz, complexa e mundialmente conectada.
É importante destacar que as noções de soberania e territorialidade é algo marcante
entre as nações europeias. Logo, a consolidação de um sistema de cooperação e integração
econômica entre esses países demorou décadas e enfrentou diversos obstáculos. Isso pode
ser evidenciado pelos diferentes tratados que foram realizados, objetivando essa configuração,
a exemplo dos tratados de Roma, Maastricht e Amsterdã, buscando a conciliação de inte-
resses e forças que convergiram para a consolidação do bloco econômico regional formado
pelos países europeus na década de 1990, embora alguns países ainda permaneçam de fora,
conforme o Figura 1.
Dos principais objetivos da União Europeia, destaca-se: uma política de comércio comum,
bem como uma política agrícola comum; promoção do bem-estar socioeconômico dos países
membros; política comum no setor de infraestrutura, como energia, transporte e telecomunica-
ções; livre circulação de pessoas, mercadorias, serviços e capitais; política monetária comum,
o que ainda não atingiu a todos os países membros, a exemplo da Inglaterra, que não aderiu
à moeda comum: o Euro.
Vale destacar que há divergência e desigualdade entre os países membros da União Eu-
ropeia, pois nem todos apresentam o mesmo estágio de desenvolvimento, pelo contrário, há
países em situação socioeconômica de acentuada fragilidade, a exemplo da Romênia.
Constituem a União Europeia os seguintes países: Alemanha, Aústria, Bélgica, Bulgária,
Chipre, Dinamarca, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Estônia, Finlândia, França, Grécia, Hungria,
Irlanda (Eire), Itália, Letônia, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Países Baixos (Holanda), Polônia,
Portugal, Reino Unido, República Tcheca, Romênia e Suécia. São países candidatos: Mace-
dônia, Croácia e Turquia.
Além da União Europeia, merece destaque os blocos econômicos Nafta, Mercosul, APEC
e ASEAN, além de outros blocos com menor representatividade política e econômica, mas que
participam do cenário da economia global e da nova configuração dos blocos regionais de poder.
PERU BRASIL
Lima
La Paz Brasilia
BOLÍVIA
Oceano
Pacícifo
PARAGUAI
Rio Grande
Santiago do Sul
CHILE
URUGUAI
Montevidéu
Buenos Aires Oceano
N Atlântico
ARGENTINA
Legenda
0 500 1.000 Capital de país
Km Estados membros do Mercosul
Estados associados ao Mercosul
Apec (Cooperação
Econômica da Ásia e do Pacífico)
A articulação em torno da Apec teve início em 1992, prevendo-se a instalação gradual
e a configuração de uma área de livre-comércio abrangendo países asiáticos, americanos e
da Oceania, banhados pelo Pacífico. O principal objetivo do bloco é aproveitar o crescimento
econômico da bacia do Pacífico e da costa oeste do continente americano, tendo em vista que
os Estados Unidos e o Canadá são países banhados tanto pelo Atlântico quanto pelo Pacífico.
De alguma forma, a Apec também inclui outros blocos, a exemplo do Nafta, e alguns blocos
menores, como o Pacto Andino e Asean.
Os países que compõem a APEC são: Austrália, Brunei, Canadá, Chile, República Po-
pular da China, Singapura, Coreia do Sul, Estados Unidos, Filipinas, Hong Kong, Indonésia,
Japão, Malásia, México, Nova Zelândia, Papua – Nova Guiné, Peru, Rússia, Tailândia, Taiwan,
Vietnã (Figura 4).
Identifique os países que formam a APEC e sua relação com outros blocos, tendo
6 em vista a inserção de países em mais de um bloco.
Leituras complementares
CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999. (A era da informação:
economia, sociedade e cultura, 1). cap. 2, 3 e 4.
No capítulo 2, é possível aprimorar o conhecimento sobre a estrutura e gênese da econo-
mia global, a formação dos mercados financeiros globais, globalização versus regionalização.
No capítulo 3, é possível conhecer o funcionamento da economia em rede, a organização
econômica do bloco do Leste Asiático. No capítulo 4, o autor apresenta uma ampla discussão
sobre as transformações do mercado de trabalho e no sistema de emprego.
SANTOS, Milton et al. Fim de século e globalização: o novo mapa do mundo. São Paulo:
HUCITEC-ANPUR, 2002.
Neste livro, os autores organizadores buscam elaborar uma coletânea de trabalhos bas-
tante diversificada em abordagens que tratam desde os conceitos de globalização, mapas
políticos da globalização, cultura, técnica e meio, Geografia Econômica da globalização e a
globalização dos lugares.
Resumo
Autoavaliação
Contextualize o funcionamento da economia-mundo a partir da política de criação
1 dos blocos regionais de poder e dos mercados globais.
Discorra sobre cada bloco econômico, explicando como se dá a relação entre eles,
2 bem como o contexto de relações entre países de um mesmo bloco.
HARVEY, David. Condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança Cultural.
São Paulo: Edições Loyola, 1992.
IANNI, Octavio. A era do globalismo. 2. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1996.
Anotações
Aula
5
Apresentação
N
esta aula, discutiremos as diferentes concepções sobre região, a atualidade desse
conceito-chave da ciência geográfica, bem como a concepção dele no tempo presente,
face ao avanço do meio técnico-científico-informacional e da globalização. Será aborda-
do principalmente como esse período tem influenciado a reorganização do espaço geográfico
brasileiro, a ponto de sugerir regionalizações consonantes com as transformações socioespa-
ciais verificadas nos distintos períodos técnicos, especialmente no tempo presente. O conteúdo
apresentado fundamenta-se especialmente nas obras de autores como Corrêa (1996), Santos
e Silveira (2001), Haesbaert (1999) entre outros. Mostraremos mapas que ilustram o avanço
do meio técnico-científico-informacional no Brasil, como também a reorganização regional do
espaço geográfico brasileiro.
Objetivos
Entender o conceito de região e suas diferentes concep-
1 ções na evolução da história do pensamento geográfico.
A
o lado dos conceitos de espaço, lugar, território e paisagem, o conceito de região cons-
titui um dos conceitos fundamentais da ciência geográfica. Esse conceito vem sendo
modificado de acordo com os momentos históricos, políticos, econômicos e sociais,
mas, sobretudo, de acordo com os debates teóricos das escolas do pensamento geográfico,
e sempre associado à diferenciação das áreas. De acordo com Corrêa (1996), desde a ins-
titucionalização da ciência geográfica até a década de 1970, três concepções de região são
identificadas. A região natural, a região-paisagem e a região como classe de área. A região
natural é entendida como:
uma porção da superfície terrestre identificada por uma específica combinação de ele-
mentos da natureza como, sobretudo, o clima, a vegetação e o relevo, combinação que
vai se traduzir em uma específica paisagem natural: as áreas de cerrado e de floresta
equatorial são exemplos de regiões naturais (CORRÊA, 1996, p. 184).
Nota-se que os elementos naturais são essenciais na concepção de região natural, ele-
mentos esses presentes na paisagem de forma homogênea e semelhante ou de forma hete-
rogênea e diversa.
A região geográfica, região cultural ou região-paisagem, dependendo da Escola de Ge-
ografia, resulta:
Na Nova Geografia não existe, como na hartshoniana, um método regional, e sim estudos
nos quais as regiões formam classificações espaciais. Em outras palavras, identificam-se
padrões espaciais de fenômenos vistos estaticamente ou em movimento. [...] a região
adquire, junto a sua inexistência como entidade concreta, o sentido de padrão espacial. A
geografia regional, por sua vez, não tem o propósito de reconhecer uma síntese, como em
Vidal de La Blache, nem de procurar pela singularidade de cada área, como em Hartshone.
uma resposta aos processos capitalistas, sendo a região entendida como a organização
espacial dos processos sociais associados ao modo de produção capitalista. Trata-se da
regionalização da divisão social do trabalho, do processo de acumulação capitalista, da
reprodução da força de trabalho e dos processos políticos e ideológicos. Alguns autores
argumentam ainda ser a região o resultado de práticas específicas de classe, de uma
cultura distinta ou do regionalismo (CORRÊA, 1996, p. 187).
A região política é “meio para as interações sociais”, e se baseia “na ideia de que domi-
nação e poder constituem fatores fundamentais na diferenciação de áreas” (CORRÊA, 1996, p.
188). A terceira concepção – região cultural - compreende “um conjunto específico de relações
culturais entre um grupo e lugares particulares, uma apropriação simbólica de uma porção
do espaço por um determinado grupo e, assim, um elemento constituinte de uma identidade”
(CORRÊA, 1996, p. 188).
As três concepções do conceito de região emergem após 1970, e apóiam-se também
na diferenciação de áreas, contrariando a ideia de que o mundo está se homogeneizando e as
regiões desaparecendo. Assim, em um período de globalização, que tende à homogeneização,
exprimi-se a fragmentação, a divisão territorial do trabalho e a constituição das regiões. De
acordo com Haesbaert (1999), a diversidade territorial no período de globalização faz com
que aflorem as regiões.
Remetendo-se às categorias de análise filosófica (universal, particular, e singular), a região
se constitui enquanto particularidade, ou seja, ela está entre o universal e o singular. O universal
na Geografia seria representado pelo espaço geográfico e o singular seria representado pelo
lugar. Assim, a região é resultado de:
TERRITÓRIO DO
TERRITÓRIO
RIO BRANCO
DO AMAPÁ
0°
AM PA MA CE RN
PI PB
PE
TERRITÓRIO AL
DO ACRE TERRITÓRIO DO SE 10° S
GUAPORÉ GO BA
Regiões MT
Norte
Nordeste ocidental MG
ES
Nordeste oriental
SP RJ 20°
TERRITÓRIO DE
Leste setentrional PONTA PORÃ PR DF
Leste meridional TERRITÓRIO DE SC
IGUAÇU 0 250 500 750 1000 Km
Centro-Oeste
RS Escala Aproximada
Sul
30°
TERRITÓRIO DE
TERRITÓRIO
RORAIMA
DO AMAPÁ
0°
AM PA MA CE RN
PI PB
AC PE
AL
TERRITÓRIO DE SE 10° S
RONDÔNIA GO BA
Regiões MT
DF
Norte
Nordeste MG
ES
Sudeste
SP RJ 20°
Centro-Oeste PR GUANABARA (GB)
Sul
SC 0 250 500 750 1000 Km
RS Escala Aproximada
30°
RR AP
0°
AM PA MA CE RN
PI PB
AC PE
TO AL
RO SE 10° S
MT BA
Regiões DF
Norte GO
Nordeste MG
MS ES
Sudeste
SP RJ 20°
Centro-Oeste PR
Sul
SC 0 250 500 750 1000 Km
RS Escala Aproximada
30°
2 De acordo com o que foi visto na aula, identifique e explique as principais defini-
ções conceituais sobre região surgidas na última metade do século XX.
A reorganização do espaço
geográfico brasileiro no período
técnico-científico-informacional
A compreensão do processo de reorganização regional do espaço geográfico brasileiro
pressupõe a análise das diferentes concepções acerca da região, observando o contexto de
relações e transformações que marcam a sociedade nacional, bem como da sociedade-mundo
Nesse contexto, Corrêa (1996) propõe uma nova regionalização do espaço geográfico
brasileiro, reorganizando o território nacional com base em 3 regiões: a Região Centro-Sul, a
Região Nordeste e a Região Amazônica (Figura 4).
RR AP
0°
AM PA MA CE RN
PI PB
AC PE
TO AL
RO SE 10° S
MT BA
Regiões DF
Amazônia GO
Nordeste MG
MS ES
Centro-Sul
SP RJ 20°
PR
30°
NORTE
NORDESTE
CENTRO-OESTE
DESTE
RR AP
0°
AM PA MA CE RN
PI PB
AC PE
TO AL
RO SE 10° S
MT BA
Regiões DF
Amazônica GO
Nordeste MG
MS ES
Concentrada
SP RJ 20°
Centro-Oeste PR
30°
BEZZI, Meri Lourdes. Região: Uma (re)visão historiográfica da gênese aos novos paradigmas.
Santa Maria: UFSM, 2004.
Nesta obra, a autora revisa os diferentes conceitos sobre região, buscando nas escolas
do pensamento geográfico ferramentas para problematizar tais concepções.
CORRÊA, Roberto Lobato. Região e organização espacial. São Paulo: Atlas, 1997.
O autor recorre às diferentes concepções sobre a região nas escolas do pensamento
geográfico, mostrando a evolução do conceito, bem como a importância de tal concepção no
processo de organização espacial
Resumo
Referências
CORRÊA, Roberto Lobato. Trajetórias geográficas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1996.
CORRÊA, Roberto Lobato. Região e organização espacial. São Paulo: Ática, 1986.
SANTOS, Milton; SILVEIRA, Maria Laura. O Brasil: território e sociedade no início do século
XXI. Rio de Janeiro: Record, 2001.
______. O espaço dividido: os dois circuitos da economia urbana dos países subdesenvolvi-
dos. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1979.
Anotações
Aula
6
Apresentação
N
esta aula, discutiremos como a informação e a comunicação se produz e se reproduz
face ao atual processo de globalização, servindo muitas vezes para reforçar o contexto
ideológico vigente, marcado pelo despotismo do consumo, pelo poder das empresas
e pelo poder midiático, eventos marcantes no período atual. Ademais, será discutido como a
informação e a comunicação se (re)produz obedecendo a lógica da acumulação e reprodução
desigual do capital.
Objetivos
Reconhecer como se processa a informação e a comuni-
1 cação no contexto da globalização.
P
ara Mattelart (2002a), o processo de internacionalização da comunicação se originou
a partir de dois pensamentos, a saber: o Iluminismo e o Liberalismo no século XVIII.
Assim, a comunicação internacional surge juntamente com a constituição dos Estados
nacionais burgueses, que exercem suas soberanias nos territórios.
Com a égide do Iluminismo, a comunicação é inventada como a ideia da modernidade e
da perfeição, propondo o comércio como gerador de valores. Nesse sentido, a liberalização
dos fluxos torna-se um importante fator para o crescimento das trocas e do comércio nos
territórios nacionais. O desenvolvimento das ideias iluministas é acompanhado pela revolução
da linguagem, pois, os Estados também necessitavam de uma única língua e da padronização
de pesos e medidas para que houvesse a soberania. A comunicação de sinais torna-se um
importante instrumento, e o telégrafo (Figura 1) é inventado e difundido como fruto da busca
da “linguagem de sinais”. Nesse contexto, se padroniza e se normatiza a comunicação como
forma de facilitar o exercício da soberania do Estado burguês sobre seu território.
O primeiro telégrafo foi patenteado em 1837. Tinha seis fios e cinco agulhas
magnéticas, de onde surgiu o nome de telégrafo de 5 agulhas. As agulhas
eram acionadas por eletroímãs. Eram acionadas duas agulhas de cada vez, pois
cada letra era definida por duas agulhas.
Foi com o pintor Samuel Finlay Breese Morse, o qual inventou um sistema mais
prático, com um interruptor, um eletroímã e apenas um fio, que o telégrafo
avançou significativamente em termos de popularização e eficiência.
._
E . J O ___ T _ Z _ _..
__
A passagem de impulsos elétricos pelo eletroímã fazia com que o lápis se mo-
vesse na superfície de uma fita de papel apoiado sobre um cilindro. À medida
que a fita avançava sobre o cilindro, o lápis ia traçando uma linha ondulada, a
qual incorporava o código ou o dito alfabeto de Morse.
Fonte:<http://www.batlab.ufms.br/~rubens/TEL%C3%89GRAFO.htm>. Acesso em: 8 nov. 2010.
IMPORTANTE
permitir a ampliação do conhecimento do planeta, dos objetos que o formam, das socie-
dades que o habitam e dos homens em sua realidade intrínseca. Todavia nas condições
atuais, as técnicas da informação são principalmente utilizadas por um punhado de
atores em função de seus objetivos particulares. Essas técnicas da informação (por
enquanto) são apropriadas por alguns Estados e por algumas empresas, aprofundando
assim os processos de criação de desigualdades. É desse modo que a periferia do
sistema capitalista acaba se tornando ainda mais periférica, seja porque não dispõe
totalmente dos novos meios de produção, seja porque lhe escapa a possibilidade de
controle (SANTOS, 2001, p. 38).
Leituras complementares
Autoavaliação
Com base nas discussões feitas ao longo do texto, discuta como se dá a configu-
1 ração do sistema informacional em sua evolução histórica.
Referências
MATTELART, Armand. A globalização da comunicação. 2. ed. Tradução de Laureano Pelegrin.
Bauru: EDUSC, 2002a.
SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal.
Rio de Janeiro: Record, 2001.
Aula
7
Apresentação
N
esta aula, buscamos explicitar a importância das Novas Tecnologias da Informação e da
Comunicação na lógica de atuação das empresas no sistema-mundo. O surgimento de
uma Nova Economia em escala global sob a égide das novas tecnologias da informação
tem orientado, desde o último quartel do século XX, novos caminhos para o funcionamento
e sobrevivência das empresas, como é o caso da articulação de sua produção a uma rede.
A organização em rede vem sendo o principal modelo para o aumento da produtividade
e competitividade das empresas no dinâmico contexto da economia global. As estratégias
empresariais estão a cada dia sendo induzidas no sentido de incorporar-se a uma rede para ter
a possibilidade de agregação de mais valor à produção, ou monopolizar mercados, e assumir
assim novos empreendimentos em torno de sistemas produtivos de redes dinâmicas e flexíveis.
Objetivos
Reconhecer a importância das Novas Tecnologias da
1
Informação e da Comunicação para as empresas ditas
globais (multinacionais).
A
s Tecnologias da Informação podem ser definidas como sendo todo o conjunto de
aportes técnicos provenientes do desenvolvimento da Engenharia da Computação
que contempla, fundamentalmente, tecnologias associadas à microeletrônica, de-
senvolvimento de softwares e hardwares aplicados às telecomunicações e radiodifusão. No
entanto, para entendermos a Tecnologia da Informação enquanto processo e paradigma da
“Nova Economia” em escala global, faz-se necessário antes de tudo, delimitar algumas das
principais consequências históricas decorrentes da própria evolução estrutural do capitalis-
mo. Essa “Nova Economia”, segundo Castells (2007, p. 176) “surgiu em local específico, na
década de 1990, em espaço específico, nos Estados Unidos, e ao redor/proveniente de ramos
específicos, em especial da Tecnologia da Informação e das Finanças, com a biotecnologia
avultando-se no horizonte”.
Porém, fases anteriores do capitalismo determinaram a revolução tecnológica atual,
marcada pela eficácia e difusão das tecnologias da informação, processamento e transmissão
de dados, apontada como o cerne das empresas em rede.
O processo evolutivo das tecnologias da informação é assinalado por inovações que ante-
cederam sua atual estrutura e dinâmica. Os períodos críticos pelos quais passaram as principais Períodos críticos
economias mundiais revelam a busca ininterrupta por novas tecnologias que possibilitaram a Faz-se alusão aos
três grandes períodos
reestruturação do sistema capitalista, bem como sua reprodução em escala mundial. Manuel
históricos propulsores da
Castells (2007) divide em três os marcos que pontuam o progresso da tecnologia da informação: revolução tecnológica: a
Segunda Grande Guerra
1) Macromudanças da microeletrônica: eletrônica e informação – essa fase se deu du- Mundial (1939-1945),
Guerra Fria (1945-1989),
rante a Segunda Guerra Mundial (1939-45) e posteriormente a ela, através das principais
e a crise econômica que
descobertas tecnológicas em eletrônica: primeiro computador programável e o transistor, decorreu do choque do
fonte da microeletrônica, o verdadeiro cerne da revolução da tecnologia da informação no petróleo, em
século XX. No entanto, somente na década de 1970 as novas tecnologias da informação 1973-1974.
modelo de redes multidirecionais, posto em prática por empresas de pequeno e médio porte;
Nesse esquema de redes, as pequenas e médias empresas muitas vezes ficam sob o
comando de sistemas de contratação e/ou sob controle financeiro/tecnológico de empresas
de grande porte, dando assim origem a uma estrutura horizontalizada eliminando as burocra-
cias verticalizadas, típicas das grandes empresas da década de 1970, que se mantinham sob
condições de produção padronizada em massa, conservando mercados oligopolistas.
O novo modelo organizacional das empresas globais baseia-se assim numa rede hori-
zontal de subcontratação, com o objetivo principal de adaptar-se às condições de imprevisibi-
lidade introduzidas pela rápida transformação econômica e tecnológica do mercado. Sobre as
características dessa organização horizontal, Castells (2007) elege sete principais tendências
das empresas horizontais:
hierarquia horizontal;
gerenciamento em equipe;
Para se adequar à Nova Economia global, as empresas tiveram que se organizar em rede,
adotando o sistema de produção flexível à lógica imprevisível do mercado, transformando a
própria estrutura interna da empresa numa rede e dinamizando cada elemento da sua com-
posição interna, tornando-os cada vez mais descentralizados e autônomos de suas unidades.
A organização em rede das empresas globais possui estreita ligação com o desenvol-
vimento das tecnologias da informação a nível global. Um dos mecanismos que possibilita a
conexão das empresas em tempo real é a rede mundial de computadores (Figura 2). Porém,
existem outras redes físicas que dão suporte à operação da economia global, como, por
exemplo, a rede mundial de cabos de fibra óptica (Figura 3), além de uma estrutura portuária
227m
França
Alemanha
37m 298m Japão
Usuários de internet
Porcentagem da
41m
66%
67 %
22.4% 94m
74.7% população do país 73.8%
Coréia do Sul
Índia
37m
Brasil 81m 76%
7.1%
68m
34.3%
Redes e fluxos
no contexto da globalização
Foi visto anteriormente que o cenário econômico atual está organizado num sistema com-
plexo de redes globais que estabeleceu uma nova dinâmica para os fluxos de informações entre
as economias hegemônicas e emergentes. Vimos como as novas tecnologias da informação
contribuíram de forma determinante para tornar possível o processamento de informações em
tempo real e interconectando em rede as empresas globais. Agora, analisaremos a tipologia
das redes e os fluxos de informações e produtos dentro das redes empresariais.
Nesse contexto de interconexões globais, as atividades comerciais das empresas hege-
mônicas saem de uma “lógica zonal” para uma “lógica multiterritorial” (HAESBAERT, 2007).
Assim, o império das conexões globais predomina e possibilita a atuação competitiva das
empresas hegemônicas em vários outros territórios economicamente múltiplos. As redes
representam as possibilidades de articulação dos territórios e, nesse caso, assumem caráter
determinante na organização “espaço-territorial” das empresas.
De fato as redes empresariais surgem com a própria necessidade de modernização de
algumas atividades do setor terciário, sobretudo naquelas com maior movimento de capital,
dependentes de uma maior especialização em suas transações comerciais. A aceleração dos
processos globais pelas redes informacionais deixaram as distâncias mais curtas, de forma
que sentimos, aparentemente, o mundo menor, fenômeno esse denominado por David Harvey
(1996) como a “compressão espaço-tempo”, no qual os eventos que se iniciam em determi-
Coalizões-padrão: são iniciadas por potenciais definidores de padrões globais com o objetivo
explícito de prender tantas empresas quanto possível a seu produto ou padrões de interface.
Esse conjunto de redes torna a empresa cada vez mais internacional, e não transnacional,
no sentido de que os elementos de sua gestão resultam da interação administrativa entre as es-
tratégias globais e os interesses nacionalmente/regionalmente imbuídos em seus componentes.
As redes empresariais, de acordo com Castells (2007), também são formadas conforme
a natureza comercial e a orientação político-estratégica de cada país onde estão sediadas,
desenvolvendo assim diferentes tipos de redes empresariais, ou seja, apresentam diferentes
formas conforme os contextos culturais em que se estrutura cada uma delas, por exemplo:
Externalidades
positivas
Normalmente, cabe ao
Estado criar ou estimular
A rede se mostra como um modelo eficiente de organização da produção das empresas, a instalação de atividades
pois consegue agregar uma diversidade bem maior de capacidades em relação à empresa isolada. que constituam externa-
A concentração é extremamente favorável para a captação de externalidades positivas com o lidades positivas (como
a educação), e impedir
aumento das economias de escala, permitindo também a ampliação de mercados, aceleração ou inibir a geração de
de processos de inovação e intercâmbio de competências tecnológicas. externalidades negativas.
Leituras complementares
CARLOS, Ana Fani. O lugar do/no Mundo. São Paulo: Edição Eletrônica/LABUR, 2007.
Nessa obra, a autora defende que a globalização permeia nosso cotidiano. No entanto, os
debates em torno da noção de globalização revelam, fundamentalmente, a dimensão econômica
do processo; que por isso passa a ser visto como articulação de mercados, reunião de empre-
sas, construção do mercado mundial etc. A essa noção contrapõe-se a de mundialização, que
aponta para outra direção ao permitir que se reflita sobre a sociedade urbana em constituição,
bem como sobre o conteúdo da construção de novos valores, de um modo de vida e de outra
identidade, agora mediada pela mercadoria.
SANTOS, Milton. Por uma outra Globalização. Rio de Janeiro: Record, 2000.
Milton Santos mostra como o processo de globalização transforma o espaço mundial,
aumentando as desigualdades, originando os diversos tipos de pobreza explicitados por ele.
Além disso, o autor mostra como o Estado se torna um elemento importante para a atuação
do “globaritarismo”, atendendo aos interesses das grandes corporações mundiais. Por fim, o
estudioso mostra a importância da “flexibilidade tropical” e a construção do “período popular da
história”. Essas duas categorias de análise também dão suporte ao estudo do circuito inferior.
Autoavaliação
O que se entende por Tecnologias da Informação e quais os períodos cruciais que
1
acabaram por estimular o desenvolvimento das novas tecnologias da informação?
Por que as empresas hoje se tornam cada vez mais internacionais e não transna-
4
cionais? O que são fluxos (i)materiais nas redes globais? Cite exemplos.
Explique por que as pequenas e médias empresas têm buscado se adequar à lógica
5
das redes horizontais, e mostre como se processa essa organização em rede.
CORRÊA, Roberto Lobato. Interações espaciais. In: CASTRO, I. E.; GOMES, P. C. da C.; CORRÊA,
R. L. (Org.). Explorações geográficas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1997.
HARVEY, David. Condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural.
São Paulo: Edições Loyola, 1996. 349 p.
Anotações
Aula
8
Apresentação
A
partir do tema proposto, abordaremos, nesta aula, o processo de inserção econômica e
social no contexto da globalização, especialmente no que concerne aos avanços tecno-
lógicos e sua difusão espacial, contraditória e desigual no mundo contemporâneo. Por
conseguinte, problematizaremos o processo de exclusão social em curso no período atual,
fruto, sobretudo, das contradições internas do sistema capitalista de produção, ora mundiali-
zado. Nesse sentido, retomaremos a discussão sobre o processo de globalização, bem como
sobre a tecnologia, buscando explicar o contexto de inserção econômica e social que marca
o atual período. Ademais, discutiremos a noção de cidadania no contexto da globalização.
Objetivos
Avaliar a capacidade de inserção econômica e social diante
1
do nível tecnológico utilizado no processo produtivo.
A
globalização pode ser considerada um dos eventos (faces) da atual fase do sistema
capitalista mundial, no qual tem uma forte ideologia, pregando, sobretudo, a homo-
geneização do mundo. Nesse sentido, Santos (2000) ressalta as diversas unicidades
originárias desse processo, como a unicidade técnica, a unicidade do tempo ou convergência
dos momentos.
A unicidade técnica representa a existência de uma técnica dominante, uma técnica mais
avançada e moderna. A convergência dos momentos remete à capacidade que o indivíduo tem
de poder se comunicar, sem se deslocar, com diversas pessoas e de diversos lugares, tudo
ao mesmo tempo, em um momento de cognoscibilidade do planeta. O motor único mostra
a existência de apenas um caminho, o consumismo, gerando os momentos de crise, que
não se apresentam apenas através de uma crise econômica, tornando-se uma crise política,
ambiental, cultural e, principalmente, social. Vale ressaltar que o motor único é a expressão
utilizada por Milton Santos para explicar o contexto atual do processo de globalização, marcado
principalmente pelo imperativo do consumo despótico, forte política das empresas capitalistas,
associado aos avanços da comunicação e da informação.
O processo de globalização revela-se, portanto, uma fábula e uma perversidade, pois é
desigual, contraditório e excludente. A unicidade das técnicas, a convergência dos momentos
e o motor único não ocorrem de forma homogênea no espaço, pois os eventos e acessos que
marcam esse processo concentram recursos e avanços em alguns lugares em detrimento
de outros, isso de acordo com a lógica e a estratégia capitalista de localização, findando em
mais consumo e mais lucro, fortalecendo assim os agentes já hegemônicos. Nesse sentido, a
homogeneização difundida pela globalização, contraditoriamente, promove heterogeneização
e fragmenta o espaço, gerando desigualdade e exclusão social.
A educação torna-se, portanto uma importante ferramenta (não a única) para a emancipa-
ção e ascensão social de indivíduos. A educação também promove a conscientização política
e social dos indivíduos, fazendo com que eles sejam, acima de tudo, cidadãos, inserindo-os
social e economicamente, gerando uma contrarracionalidade ao atual processo de globalização.
O uso da tecnologia no sistema educacional e no ensino é de grande importância para
auxiliar na inserção dos indivíduos enquanto cidadãos. Mas, como o sistema capitalista se
desenvolve de forma desigual e contraditória, o uso da tecnologia na educação também ocorre
de forma heterogênea e desigual. Nota-se que há, assim, uma concentração da técnica em
determinados lugares e em determinados estratos sociais.
Desenvolvimento humano muito elevado (acima de 0,900) Desenvolvimento humano médio (de 0,500 a 0,799)
Desenvolvimento humano elevado (de 0,800 a 0,899) Desenvolvimento humano baixo (abaixo de 0,500)
É importante frisar que é possível mudar o quadro de exclusão social verificado nos países
subdesenvolvidos, sendo a educação uma possibilidade de inserção econômica e social da
população historicamente excluída e marginalizada.
Nesse contexto, Mittler (2000) analisa o elo existente entre a pobreza e o fracasso escolar
de alguns indivíduos e grupos. Para o autor, é possível diminuir o fracasso escolar das crianças
que vivem na pobreza e na miséria, ou ainda, diminuir a disparidade existente entre as crianças
do mundo. Para isso, deve-se pensar em melhores condições para as escolas e para o sistema
educacional, observando-se que eles são inseparáveis.
Assim, não ter nenhum dinheiro ou viver abaixo da linha de pobreza oficial afeta todos os
outros aspectos da vida. As crianças podem suportar fortes tensões, como o divórcio dos pais
e outras questões, mas o poder delas de se recuperarem diminui com o adicional de tensão,
consequência da pobreza.
A noção de exclusão remete a dimensões sociais, econômicas, políticas e simbólicas
articuladas. A exclusão manifesta-se também por uma frequente marginalização no acesso
aos direitos, que nem sempre é contrabalanceada por uma inserção nas engrenagens da assis-
tência social, como mostram os trabalhos sobre os sem-teto ou sobre aqueles em situação de
indigência. Assim, o processo de exclusão aparece como uma queda, uma espiral, engrenada
a uma ruptura inicial (perda de emprego, dificuldades familiares e separação, fracasso escolar,
doença, invalidez).
Apesar do desigual acesso à tecnologia na educação, contraditoriamente a tecnologia
pode dar oportunidade de emancipação das classes sociais inferiores. Se trabalhado de forma
consciente e bem estruturado, o ensino a distância, por exemplo, torna-se um meio de eman-
cipação individual, pois é a aplicação da tecnologia na educação que pode dar oportunidade de
inclusão para diversos indivíduos socialmente excluídos. Essa concepção pode ser o primeiro
passo para uma globalização como possibilidade.
No Brasil, a política do Ministério das Comunicações voltada para a implantação de tele-
centros no território nacional tem amenizado parcialmente o fosso que há no nível de acesso às
tecnologias da informação e comunicação, especialmente no que concerne ao uso da internet
em comunidades interioranas, inclusive em comunidades rurais (Figura 2).
Figura 3 – Instalações do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande Norte – Campus de Caicó - RN
Leituras complementares
Resumo
Autoavaliação
Faça uma análise correlacionada, observando semelhanças e divergências entre a
1
concepção de pobreza na obra “O tamanho da pobreza” de Salama e Destremau
(1999) e na obra “A pobreza urbana” de M. Santos (2009).
MITTLER, Peter. Educação inclusiva: contextos sociais. Porto Alegre: Artmed, 2000.
SANTOS, Milton. Por uma outra globalização. Rio de Janeiro: Record, 2000.
Anotações
Aula
9
Apresentação
N
esta aula, será enfocado o processo de internacionalização da economia, a partir do
desenvolvimento das forças de produção capitalista, assim como a nova dinâmica
de acumulação e suas implicações na (re)organização do espaço local. Para tanto,
buscamos interpretar esse processo a partir do resgate histórico da ampliação da capacidade
produtiva capitalista, mediante a unicidade das técnicas. Assim, parte-se da ideia do “motor
único”, entendido como a mais-valia mundial, que se tornou possível devido à mundialização
do produto, do dinheiro, do crédito, da dívida, do consumo, da informação. Esses elementos
são os que dão dinamicidade aos processos globais e ao mesmo tempo se realizam no local.
Objetivos
Compreender a reestruturação das forças produtivas do
1
capital, a partir da incorporação crescente da técnica, como
elemento central da dinamização do processo de globalização.
A
discussão sobre a relação do local com o global, sem dúvida nenhuma, se constitui num
dos temas que melhor nos permite aproximar do objeto da Ciência Geográfica, ou seja,
do espaço enquanto totalidade. Não é possível compreender os processos que ganham
materialidade no local sem compreender suas relações com o global, o que nos coloca diante
da necessidade de compreensão dos fenômenos e processos nas suas múltiplas escalas.
Segundo Carlos (1997, p. 309):
O lugar revela, todavia, a especificidade da produção espacial global, [...] ele tem um
conteúdo social; só pode ser entendido nessa globalidade e justificado pela divisão es-
pacial do trabalho que cria uma hierarquia espacial que se manifesta na desigualdade que
configura-se enquanto existência real em função das relações de interdependência com
o todo, fundamentada na indissocialização dos fenômenos sociais.
Para realizar uma abordagem das transformações recentes no cenário mundial, provocadas
pela nova dinâmica do capital e sua territorialidade, faz-se necessário remeter-se a uma aborda-
gem histórica para ressaltar os condicionantes que apontam para essa nova e complexa fase do
desenvolvimento do modo de produção capitalista, a partir da consolidação do “motor único”,
entendido como a mais-valia mundial, de acordo com Santos (2004).
Assim, proceder-se-á com uma descrição da evolução histórica do capitalismo, destacando as
etapas da internacionalização, multinacionalização e globalização do capital, entendidas enquanto
processo histórico, embora do ponto de vista teórico-conceitual essas concepções apresentam
variações. Em seguida, mostra-se a discussão das características da organização da produção no
fordismo e na produção flexível, correlacionando com o avanço tecnológico, indispensável para
se entender as transformações recentes. E, para finalizar, buscar-se-á analisar as implicações do
processo de globalização e da flexibilização da produção na organização do espaço local.
Fonte: Fernández (2010). Disponível em: <http://joseantoniomora.50webs.com/images/industrializacion.jpg>. Acesso em: 9 set. 2010.
Fonte: Revista Vestibular, UERJ, 2009. Disponível em: <http://www.revista.vestibular.uerj.br/questao/busca-questao-imprimir.php?aseq_disciplina=7>. Acesso em: 23 out. 2010.
Fonte: Le Monde Diplomatique, 2003. Disponível em: <http://www.geografiaparatodos.com.br/index.php?pag=geobr_cap25>. Acesso em: 12 out. 2010.
ao surgir uma nova família de técnicas, as outras não desaparecem. Continuam existindo,
mas o novo conjunto de instrumentos passa a ser usado pelos novos atores hegemônicos,
enquanto os não hegemônicos continuam utilizando conjuntos menos atuais e menos
poderosos. Quando um determinado ator não tem condições para mobilizar as técnicas
consideradas mais avançadas, torna-se, por isso mesmo, um ator de menor importância
no período atual.
Dessa forma, esse sistema técnico presente na atualidade é “invasor”, ou seja, ele sem-
pre busca espalhar-se no sistema produtivo e, consequentemente, no território, embora nem
sempre consiga. Essa característica encontra embasamento no próprio funcionamento dos
agentes hegemônicos (principalmente as empresas globais) cuja produção acontece de forma
fragmentada (localizando-se nos territórios mais atraentes às empresas) graças à hegemonia
das técnicas, passível de presença em toda parte. Porém, apesar dessa produção fragmentada
“tudo se junta e articula depois, mediante a ‘inteligência’ da firma”. Sendo assim, “[...] se a
produção se fragmenta tecnicamente, há do outro lado, uma unicidade política de comando”.
Continuando o raciocínio, diante dessa realidade, os Estados e as instituições suprana-
cionais não conseguem eficiência no sentido de impor uma ordem global, porque “não há
propriamente uma unidade de comando do mercado global e cada empresa comanda suas
operações dentro do conjunto de lugares de sua ação” (SANTOS, 2004, p. 25 e 26).
A unicidade das técnicas, tendo o computador como carro-chefe, permite a existência
de uma finança global, principal responsável pela imposição em todo o globo de uma mais-
valia mundial, que, consequentemente, juntamente com a unicidade do tempo torna eficaz a
unicidade da técnica (SANTOS, 2004).
A mais-valia mundial, motor único que move o mundo nos dias atuais, difere do que
ocorria anteriormente, quando havia diversos motores,
Segundo o referido autor, esse motor único se tornou possível devido à mundialização
do produto, do dinheiro, do crédito, da dívida, do consumo, da informação. Dentre as formas
de exercício dessa mais-valia está a competitividade entre as empresas que conclamam uni-
versidades, centros de pesquisas etc., a fornecerem novas técnicas, novos produtos, novas
formas de gestão, enfim, novas formas de aumentar a mais-valia e lhe permitir passar à frente
de uma empresa concorrente.
No período técnico-científico atual passamos a “conceber” os objetos que desejamos –
criamos antes as necessidades e depois os objetos para satisfazê-las –, adquirimos o poder de
conhecer o planeta de forma aprofundada e esse poder tem sido amplamente utilizado pelos
agentes hegemônicos que valorizam as localizações de forma diferenciada.
Porém, apesar da impressão que existe de que o mundo caminha para uma homoge-
neização, devido à mundialização dos fatores até aqui explicitados, isso deve ser encarado,
sobretudo como “[...] tendência, porque em nenhum lugar, em nenhum país, houve completa
internacionalização” (SANTOS, 2004, p. 30).
O autor ressalta ainda que quem comanda a história são os grandes agentes hegemônicos,
os donos da velocidade e os donos do discurso ideológico, o que ele denomina de agentes
do tempo real. E, salienta que os homens não são igualmente agentes desse tempo real, e
que este, só existe “para todos” fisicamente, porém, socialmente ele é privilégio de poucos.
Dessa forma, estamos vivenciando “um período que é uma crise”, pois ele contraria
os períodos anteriores, que eram antecedidos e sucedidos por crises – sempre que algum
(ns) fator (es) comprometia (m) a ordem estabelecida. Diante disso, pode-se afirmar que
‘há um processo ideológico’ que não só justifica o processo de globalização considerando-o
como único caminho histórico, como “impõe uma visão da crise e a aceitação dos remédios
sugeridos” em nível global, como se essa crise fosse a mesma para todos (SANTOS, 2004).
uma concentração geográfica das atividades, que permite obter economias de aglomera-
ção (baseadas na organização da produção e na formação dos mercados locais de traba-
lho), seguida por desconcentração geográfica da produção para evitar as deseconomias
de aglomeração crescente provocadas pela concentração acentuada das atividades [...]
desse modo os novos espaços de produção nascem e os antigos são condenados seja
a renovar-se, seja a desaparecer” (BENKO, 1996, p. 150).
Já para a realidade europeia, os impactos estão se dando de maneira diferente, sendo que
Ainda cumpre destacar que o processo de metropolização na América Latina inicia-se com
o processo de multinacionalização da economia e com a lógica de acumulação e organização
da produção baseadas no fordismo.
Para Cordeiro (1997), a nova dinâmica criada pela expansão do capitalismo (e conse-
quente flexibilização da produção), impõe ao processo de metropolização um ajustamento
às novas situações, o que implica em uma interação das subestruturas de cada subsistema
no seu ajustamento atuam tanto agentes hegemônicos, agindo sobre cada um dos sub-
sistemas, quanto a grande massa de pobres, levando à modernização incompleta, seletiva
e desigual, que privilegia parcelas da sua região e grupos da sua população (CORDEIRO,
1997, p. 318).
Esse processo, por um lado, conduzido pela produção monopolista do espaço, que possi-
bilita a materialização de um novo espaço social, superando o espaço concreto preexistente, por
outro, é influenciado pela condição anterior de um espaço também preexistente mais amplo que
vai determinar a nova forma de organização do espaço, como a acumulação do anterior. Assim:
Diante do exposto, pode-se inferir que a nova dinâmica econômica, que é global, está inter-
ferindo de forma explícita na (re)produção/(re)organização do espaço local, em especial nas áreas
metropolitanas, através das novas formas de territorialização desse processo. Contudo, essa (re)
produção/(re)organização espacial insere-se na fase mais recente do processo de metropolização,
que se desenvolve por meio das forças que possuem o controle do capital que é aplicado na
produção de espaços adaptados às novas condições tecnológicas, com vista à multiplicação da
eficiência desses, enquanto espaços de reprodução ampliada do capital.
HARVEY, David. A produção capitalista do espaço. Tradução: Carlos Szlak. São Paulo:
Annablume, 2005.
Nessa obra, o autor trata sobre as mudanças no sistema capitalista de produção, abor-
dando questões como o fordismo, acumulção flexível, mudanças no mundo do trabalho e seus
desdobramentos no processo de produção espacial. Trata-se de um texto importante para as
análises geográficas que versam sobre o período atual e suas contradições.
Resumo
Referências
ALVES, Waldir. O Ministério Público Federal e o CADE na Lei Antitruste. 2000. Disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/revista/rev_27/artigos/art_Waldir.htm#1>. Acesso
em: 10 out. 2010.
CARLOS, Ana Fani Alessandri. O lugar: mundialização e fragmentação. In: SANTOS, Milton et
al. (Org.) Fim de século e globalização. São Paulo: Hucitec/ANPUR, 1997. p. 303-309.
CORDEIRO, Helena Kohn. A “cidade mundo” de São Paulo e o complexo corporativo do seu
centro metropolitano. In: SANTOS, Milton, et al. (Org.) Fim de século e globalização. São
Paulo: Hucitec/ANPUR, 1997. p. 271-284.
GOTTDINER, Mark. A produção social do espaço urbano. São Paulo: EDUSP, 1993. p. 229-290.
HARVEY, David. Condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural.
São Paulo: Loyola, 1993.
______. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. 11. ed.
Rio de Janeiro: Record, 2004.
SASSEN, Saskia. As cidades na economia mundial. São Paulo: Nobel, 1998. p. 47-73.
Anotações
Aula
10
Apresentação
N
esta aula, discutiremos o processo de construção do meio técnico-científico-informacio-
nal no Brasil, observando suas diferenciações no território, as especificidades regionais,
a reorganização produtiva, a configuração do sistema financeiro e as contradições
inerentes ao processo de construção e uso do sistema de engenharia, o qual obedece tanto
à política do Estado, quanto à política das empresas. Nesse contexto, mostraremos como o
meio técnico-científico avançou desigualmente no território, associado ao processo de globa-
lização, mas como consequência do processo contraditório de expansão capitalista no mundo
subdesenvolvido, especialmente no Brasil. Nossa análise pauta-se, sobretudo, na obra do
geógrafo Milton Santos, haja vista sua contribuição científica no entendimento sobre o espaço
e a técnica e, por conseguinte, sobre a globalização e o meio técnico-científico-informacional.
Objetivos
Apresentar a base teórica que explica o processo de globa-
1 lização e o meio técnico-científico informacional no Brasil.
Fonte: Ministério dos Transportes. Disponível em: <http://www.geomundo.com.br/images/images-geografia/mapa-rodovias.pdf>. Acesso em: 23 out. 2010.
Mais uma vez as regiões Sudeste e Sul despontam pela quantidade de aeroportos cons-
truídos e isso se dá pelo fato de o desenvolvimento nessas regiões ser mais diversificado,
concentrando além da indústria, uma agricultura moderna, ambas exigindo deslocamentos
rápidos de pessoas e produtos, consolidando assim a agroindústria no País.
Em relação à construção dos portos, foram construídos 14 novos, visando o escoa-
mento de produtos nacionais e a difusão de mercadorias importadas no território (Figura 3).
A cada momento as telecomunicações (Figura 4) ampliam as possibilidades de circulação de
informações e o aumento da produção. Nota-se que a necessidade dos fluxos de importação e
exportação contribuiu para que durante toda segunda metade do século XX os portos viessem
a ter sua infraestrutura ampliada e modernizada. Vale salientar que esse processo de moderni-
zação é comandado pelo poder público, por intermédio do Ministério dos Transportes, havendo
uma relação clara entre a política das empresas e a política do Estado. Nesse contexto, são
citados casos de autorização por parte do Estado de construção de terminais de uso privativo,
um exemplo disso é o terminal da Usina Siderúrgica da Bahia S.A.(USIBA). Observa-se que o
custo para o País como um todo é muito elevado, mas o benefício é monopolizado por algumas
poucas empresas.
194 Aula 10 Espaço, Tecnologia e Globalização
Porto de Manaus
VENEZUELA GUIANA GUIANA
SURINAME FRANCESA Porto de Santarém
Aula 10
PARAGUAI SÃO PAULO
ARGENTINA Porto de Angra dos Reis
CHILE
CURITIBA
Porto de São Sebastião
PORTOS FLUVIAIS E MARÍTIMOS Porto de Santos
Portos Administrados por Cia. Docas FLORIANÓPOLIS
Porto de Antonina
Controladas da União Porto de Paranaguá
Portos Administrados por Estados e Municípios PORTO ALEGRE Porto de São Francisco do Sul
Portos Administrados por Empresas Privadas Porto de Itajái
Porto de Imbituba
Observação:
Não foram incluídos os terminais de us exclusivo e misto.
Porto de Laguna
Porto de Estrela
URUGUAI Porto de Porto Alegre
Porto de Cachoeira do Sul
Porto de Pelotas
Porto de Rio Grande
MACAPÁ
Estrada de Ferro Carajás (EFG)
SÃO LUIS
FORTALEZA
TERESINA NATAL
JOÃO PESSOA
PORTO VELHO
RECIFE
RIO
BRANCO PALMAS MACEIÓ
ARACAJÚ
PERU SALVADOR
BOLÍVIA
Ferrovia Centro-Atlântica (FCA)
CUIABÁ
BRASÍLIA
Ferrovia Norte Brasil S.A. (Ferronorte)
GOIÂNIA
BELO
CAMPO HORIZONTE Estrada de Ferro Vitória-Minas (EFVM)
GRANDE
Ferrovia Novoeste S.A. (NOVOESTE)
VITÓRIA
MRS Logística
Uma reorganização
produtiva do território
A partir da década de 1960, as indústrias passam por um processo de descentralização.
Surgem os belts modernos, ou monoculturas modernas, com o uso intensivo da técnica e
da tecnologia, buscando o aumento significativo da produção e da produtividade. Há ainda a
especialização comercial e de serviços em determinadas porções do país.
Dessa forma, tais mecanismos acabam por segmentar o território e por isso exige-se a
maior cooperação entre as partes especializadas do território, e com isso impõe-se uma circu-
lação mais fluida. O resultado disso tudo é a verdadeira fragmentação do território e territórios
alienados quanto à produção completa.
Segundo Santos e Silveira (2008), o movimento de descentralização se iniciou no Brasil
a partir da década de 1970 e a partir da década de 1990 já se estimulava a construção dos
tecnopolos no Brasil. Ao mesmo tempo em que a produção industrial passava a apresentar
maior nível de complexidade, as indústrias se espalhavam pelas regiões Sul, Centro-Oeste,
Nordeste e Norte. Como consequência desses processos de mudanças, observa-se que entre
as décadas de 1970 e 1990 houve uma diminuição do Sudeste quanto à participação no número
de estabelecimentos industriais e pessoal ocupado em relação ao Sul.
A região Centro-Oeste também apresentou aumento dos estabelecimentos industriais,
ainda que tímido, porém quanto às transformações industriais teve um crescimento extraor-
dinário entre 1970 e 1990. O Nordeste apresentou queda no número de estabelecimentos e
empregados, bem como certa estagnação da transformação industrial em relação às outras
regiões. Já no Norte os estabelecimentos diminuíram, mas verificou-se aumento no número
de pessoas ocupadas e no valor de transformação industrial.
Mas foi no estado de São Paulo que a desconcentração industrial se tornou mais evidente.
Entre as décadas de 1970 e 1990 cresceu no interior do estado o número de estabelecimentos
e o valor das transformações industriais, porém não foram capazes de oferecer maior número
de empregos devido ao uso de tecnologias mais avançadas na produção.
Para Santos e Silveira (2008), a nova divisão do trabalho industrial acompanha uma nova
repartição geográfica. Uma evidência disso é o fato de que as indústrias de setores como me-
Já em 1996, o Brasil apresentava um total de 16.224 agências espalhadas pelo seu ter-
ritório, porém apresentando densidades bastante diferenciadas entre as regiões. Um exemplo
desse fato é o menor número de agências estabelecidas nas regiões Norte e Nordeste em
comparação com o Centro-Oeste, o Sul e o Sudeste.
Ao discutir as diferenciações no território, Santos e Silveira (2008) enfatizam as novas
desigualdades territoriais, buscando por meio da análise das zonas de densidade e de rarefação,
de fluidez e viscosidades, espaços de rapidez e de lentidão e espaços luminosos e opacos,
entender a configuração das diferenciações no território, ou seja, entender os espaços que
mandam e os que obedecem.
Resumo
Faça uma relação entre o período do meio natural e o período do meio técnico-cien-
2 tífico-informacional no Brasil, apontando o contexto de mudanças e transformações.
Referências
SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal.
Rio de Janeiro: Record, 2001.
SANTOS, Milton; SILVEIRA, Maria Laura. O Brasil: território e sociedade no início do século
XXI. Rio de Janeiro: Record, 2008.
Aula
11
Apresentação
N
esta penúltima aula da disciplina, discutiremos o contexto de transformações do merca-
do de trabalho no período técnico-científico-informacional. Será abordado o conjunto de
relações que marcam a transição do período de acumulação Fordista para o período de
acumulação flexível, fase esta marcada pela flexibilização da produção e especialização flexível,
uma marca característica do modelo Toyotista. Mostraremos as transformações no mundo
do trabalho, apresentando as contradições que elevam o nível de desemprego, subemprego e
vulnerabilidade social, especialmente no mundo subdesenvolvido. Tais transformações marcam
o espaço geográfico em escala global, ocasionando mudanças tanto nos países desenvolvidos,
quanto nos países subdesenvolvidos.
Objetivos
Estabelecer a relação entre mercado de trabalho e meio
1
técnico-informacional.
A
década de 1980 foi marcada por profundas transformações no mundo do trabalho,
nas suas formas de inserção na estrutura produtiva, bem como nas formas de re-
presentação sindical e política, em especial, nos países capitalistas avançados. As
consequências dessas transformações se manifestam em intensas modificações causadas
pela crise da classe-que-vive-do-trabalho (ANTUNES, 2006).
Para Castells (2007), a evolução histórica do emprego, no âmago da estrutura social,
foi dominada pela tendência secular do aumento da produtividade do trabalho humano.
As inovações tecnológicas passaram a permitir que homens e mulheres aumentassem a
produção de mercadorias com mais qualidade e menos esforço e recursos. O trabalho e
os trabalhadores mudaram da produção direta para indireta, do cultivo, extração e fabri-
cação para o consumo de serviços e trabalhos administrativos e de uma estreita gama de
atividades econômicas para um universo profissional cada vez mais diverso.
Assim, a crise da classe-que-vive-do-trabalho a que se refere Antunes (2006) está
associada às transformações observadas no período técnico-científico-informacional,
que possibilita a reestruturação do processo produtivo na lógica que foi denominada por
vários teóricos como Pós-Fordista ou Toyotista. Essa forma de organização do processo
produtivo possibilita a acumulação flexível do capital, que está diretamente relacionada
com o mundo do trabalho.
Nesse sentido, Antunes (2006) destaca que o grande salto tecnológico, marcado pela
automação, a robótica e a microeletrônica invadindo o universo fabril, propiciou profundas
transformações nas relações de trabalho e nas relações de produção capitalistas.
Nesse contexto de transformações, novos processos de trabalho emergem, no qual
o cronômetro e a produção em série e de massa são “substituídos” pela flexibilização
da produção, pela “especialização flexível”, por novos padrões de busca de produtividade,
por novas formas de adequação da produção à lógica do mercado (ANTUNES, 2006).
Ao desenvolver uma compreensão do Fordismo enquanto processo de produção,
Antunes (2006) entende fundamentalmente a forma pela qual a indústria e o processo de
trabalho consolidaram-se ao longo do século XX, cujos elementos constitutivos básicos
eram dados pela produção em massa, através do controle dos tempos e movimentos pelo
cronômetro taylorista, bem como da produção em série Fordista. Esse contexto é marcado
pela existência de um trabalho parcelar e pela fragmentação das funções; pela separação
entre elaboração e execução no processo de trabalho; pela constituição/consolidação
do operário-massa.
Referente à “especialização flexível”, Antunes (2006) discorre que, essa teria possibilitado
o advento de uma nova forma produtiva que articula, de um lado, um significativo desenvolvi-
mento tecnológico e, de outro, uma desconcentração produtiva baseada em empresas médias
e pequenas “artesanais”. Essa nova forma produtiva é caracterizada também pela sua recusa
à produção em massa, típico da grande indústria Fordista, recuperando uma concepção de
trabalho que, sendo mais flexível, estaria isenta da alienação intrínseca à acumulação de base
Fordista. Vê-se então um processo “artesanal” mais concentrado e tecnologicamente desen-
volvido, produzido para um mercado também mais tecnificado, mais localizado e regional,
que extingue a produção em série. Por sua vez, a fragmentação do trabalho, adicionada ao
incremento tecnológico, pode possibilitar ao capital tanto uma maior exploração quanto um
maior controle sobre a força de trabalho.
Para Castells (2007) a evolução do mercado de trabalho durante o chamado período
“pós-industrial” (1970-90) mostra, ao mesmo tempo, um padrão geral de deslocamento do
emprego industrial em dois caminhos diferentes em relação à atividade industrial: o primeiro
significa uma rápida diminuição do emprego na indústria, aliada a uma grande expansão do
emprego em serviços relacionados à produção e em serviços sociais (em volume), enquanto
outras atividades de serviços ainda são mantidas como fontes de emprego. O segundo cami-
nho liga mais diretamente os serviços industriais e os relacionados à produção, aumenta com
mais cautela o nível de emprego em serviços sociais e mantém os serviços de distribuição.
Numa observação empírica da evolução do emprego nos países do G7, Castells (2007) revela
alguns aspectos básicos que, de fato, parecem ser característicos das sociedades informacionais:
Aumento dos serviços relacionados à produção e dos serviços sociais, com ênfase sobre
serviços de saúde no segundo grupo;
O fato de haver uma proporção mais baixa de emprego industrial ou uma proporção mais
alta de administradores em países de economia central, em parte, é resultado da criação de
emprego industrial nos países periféricos pelas empresas multinacionais e da concentração
das atividades administrativas e de processamento da informação nos países centrais (CAS-
TELLS, 2007).
Nesse sentido, para Antunes (2006) a acumulação flexível envolve rápidas mudanças dos
padrões do desenvolvimento desigual, tanto entre setores como entre regiões geográficas,
criando, por exemplo, um vasto movimento no emprego no chamado setor de serviços, bem
como conjuntos industriais completamente novos em regiões até então subdesenvolvidas.
Baseado nas concepções de Harvey (2003), Antunes (2006) reconhece que as pressões
competitivas, bem como a luta pelo controle da força de trabalho, levaram ao nascimento de
formas industriais totalmente novas ou à integração do Fordismo a toda uma rede de subcon-
tratação e de deslocamento para dar maior flexibilidade diante do aumento da competição e
dos riscos.
Como consequências dessas mudanças, Antunes (2006) afirma que a acumulação flexí-
vel, na medida em que ainda é uma forma própria do capitalismo, mantém três características
essenciais desse modo de produção: 1) é voltado para o crescimento; 2) este crescimento em
valores reais se apoia na exploração do trabalho vivo no universo da produção; 3) o capitalismo
tem uma intrínseca dinâmica tecnológica e organizacional.
A consequência dessa processualidade, quando remetida ao mundo do trabalho orga-
nizado, segundo Antunes (2006), provocou o solapamento deste. Ocorreram altos níveis de
desemprego estrutural e houve retrocesso da ação sindical. O individualismo exacerbado en-
controu também condições especiais favoráveis, entre tantas outras consequências negativas.
O Toyotismo ou modelo japonês apresentou, na década de 1990, uma expansão que
atingiu a escala mundial. Antunes (2006) oferece alguns traços constitutivos desse novo
modelo, de modo a pontuar as enormes consequências que ele acarreta no interior do mundo
do trabalho. Entre os elementos constitutivos desse modelo destacam-se:
É a demanda que determina o que será produzido, e não o contrário. Como se procede na
produção em série e de massa do Fordismo.
Nesse sentido, ao contrário dos que apregoam o fim da luta entre as classes, Antunes
(2006) reconhece “a persistência dos antagonismos entre capital social total e a totalidade do
trabalho”, sem esquecer as particularidades, singularidades, diferencialidades presentes em
tais relações e nos diferentes lugares.
Sociedade informacional e
a nova estrutura ocupacional
A crise estrutural do capital desencadeou várias mudanças na passagem do século XX
para XXI, tendo em vista a superação dessa fase crítica. O processo de produção do capital se
impõe agora metamorfoseado e intervindo de forma direta no processo de trabalho. De acordo
com Antunes (2006), neste cenário de transformações tem papel preponderante o avanço
tecnológico, a constituição das formas de acumulação flexível e dos modelos alternativos ao
binômio Taylorismo-Fordismo em que se destaca o Toyotismo.
O Toyotismo é a expressão mais clara das transformações resultadas da crise estrutural
do capitalismo. Em suma, esse modelo de produção horizontaliza o processo produtivo e
transfere a “terceiros” grande parte do que era produzido dentro da própria empresa.
Para Antunes (2006), esse processo tem como consequências:
Aumento do trabalho feminino, que atinge 40% da força de trabalho nos países avançados,
e que tem absorvido pelo capital o universo de trabalho precarizado e desregulamentado.
Exclusão de jovens e dos idosos no mercado de trabalho dos países centrais: os primeiros
acabam muitas vezes engrossando a fileira de movimentos neonazistas, e aqueles com
cerca de 40 anos ou mais, quando desempregados e excluídos do trabalho dificilmente
conseguem o reingresso no mercado de trabalho.
Expansão do que Marx chamou de trabalho social combinado, a partir daí trabalhadores
de diversas partes do mundo participam do processo de produção e de serviços. Isso não
indica uma tendência à eliminação da classe trabalhadora, mas sua precarização e utilização
de maneira ainda mais intensificada, aumentando os níveis de exploração do trabalho.
Assim, de forma sucinta, Antunes (2006) afirma que a classe trabalhadora fragmentou-se,
heterogeneizou-se e complexificou-se ainda mais. Tornou-se mais qualificada em vários setores,
como na siderurgia, em que houve uma relativa intelectualização do trabalho, mas desqualificou-se
e precarizou-se em diversos ramos, como na indústria automobilística, em que o ferramenteiro não
tem mais a mesma importância, sem falar na redução dos mineiros, dos portuários, dos trabalhadores
da construção naval etc.
Criou-se em escala minoritária, o trabalhador polivalente e multifuncional da era infor-
macional, capaz de operar com máquinas com controle numérico e de, por vezes, exercitar com
mais intensidade sua dimensão mais intelectual. De outro lado há uma massa de trabalhadores
Usar uma mão de obra temporária, trabalhadores de meio expediente ou empresas infor-
mais como fornecedores no país natal; ou
Diante disso, pode-se afirmar que a revolução das tecnologias da informação, em especial
na década de 1990, transformou o processo de trabalho, introduzindo novas formas de divisão
técnica e social, além de alterar o processo diante do paradigma informacional, de acordo com
a análise de Castells (2007).
Ainda para esse autor, a mecanização e, depois, a automação vêm transformando o traba-
lho humano há décadas, sempre provocando debates semelhantes sobre questões relacionadas
à demissão de trabalhadores, “desespecialização” versus “reespecialização”, produtividade
versus alienação, controle administrativo versus autonomia dos trabalhadores.
A automação, que só se completou com o desenvolvimento da tecnologia da informação,
aumenta consideravelmente a importância dos recursos do cérebro humano no processo de
trabalho. Quanto mais ampla e profunda a difusão da tecnologia da informação avançada em
fábricas e escritórios, maior a necessidade de um trabalhador instruído e autônomo, capaz
e disposto a programar e decidir a sequência inteira de trabalho. O trabalhador autônomo
na rede é o agente necessário à empresa em rede, possibilitada pelas novas tecnologias da
informação. Dessa forma o que tende a desaparecer com a automação integral são as tarefas
rotineiras, repetitivas que podem ser pré-codificadas e programadas para que máquinas a
executem (CASTELLS, 2007).
A nova tecnologia da informação está redefinindo os processos de trabalho e os traba-
lhadores e, portanto, o emprego e a estrutura ocupacional. Embora um número substancial
de emprego esteja melhorando de nível em relação a qualificações e, às vezes, a salários e
condições de trabalho nos setores mais dinâmicos, muitos empregos estão sendo eliminados
gradualmente pela automação da indústria e serviços.
Jornada de trabalho: trabalho flexível significa trabalho que não está restrito ao modelo
tradicional de 35-40 horas por semana em expediente integral.
Estabilidade no emprego: o trabalho flexível é regido por tarefas, e não inclui compromisso
com permanência futura no emprego.
Concentração desse tipo de desemprego, tendo por base sua composição por faixa etária,
é maior entre a população na faixa etária de 15 a 49 anos de idade.
Nos anos de 1990 cresceu esse tipo de desemprego para as pessoas com mais de 25 anos,
fato esse que é mais notado nos países desenvolvidos.
nos países subdesenvolvidos 51% dos desempregados referem-se àqueles com menos
de 25 anos de idade, inclui-se neste caso o Brasil, onde as pessoas nessa faixa etária
correspondem a 54% da mão de obra desempregada.
220 6.0
210 5.0
Porcentagem
200 4.0
Milhões
190 3.0
180 2.0
170 1.0
160 0.0
150 -1.0
140 -2.0
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Desemprego total - estimativa limite superior Taxa de crescimento real do PIB
Desemprego total - estimativa preliminar Taxa de desemprego total
Desemprego total - uma estimativa inferior Taxa de desemprego total - Intervalos
Desemprego total de confiança limites inferior e superior
Segundo dados do relatório da OIT (2010), a taxa de desemprego global em 2010 situa-
se em torno de 6,5%, podendo chegar até 7,0%. Observando os dados por regiões, a taxa de
desemprego em economias industrializadas e na União Europeia deverá aumentar de 8,4% em
2009 para 8,9% em 2010, enquanto, nas demais regiões, a taxa deverá manter-se relativamente
estável ou apresentar uma pequena diminuição (Figura 4).
03
Resumo
Referências
ANTUNES, Ricardo. Adeus ao Trabalho? ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do
mundo do trabalho. 11. ed. São Paulo: Cortez; Campinas, SP: Editora da Universidade Estadual
de Campinas, 2006.
HARVEY, David. Condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural.
São Paulo: Ed. Loyola, 2003.
Anotações
Aula
12
Apresentação
N
esta aula, serão abordados os circuitos da economia urbana nos países subdesenvol-
vidos, isto é, o circuito inferior e o circuito superior, os quais marcam a fase atual de
expansão do modo de produção capitalista nos países periféricos, associados, dentre
outros fatores, a questões como a pobreza, a urbanização e ao avanço tecnológico espacialmen-
te desigual. Será discutido como se configuram tais circuitos e como eles apresentam relação
de dependência mútua. Por fim, apresentaremos os estudos recentes que tratam o assunto,
tendo em vista que a teoria dos circuitos da economia urbana em países subdesenvolvidos foi
criada há mais de três décadas pelo geógrafo Milton Santos.
Objetivos
Reconhecer os circuitos da economia urbana nos países
1
subdesenvolvidos, face ao atual processo de globalização.
A
teoria dos dois circuitos da economia urbana dos países subdesenvolvidos foi originalmen-
te publicada na década de 1970, e constitui um esforço único de interpretação sistemática
da evolução econômica, social e política dos países do Terceiro Mundo, em um período
posterior à Segunda Guerra Mundial. O objetivo de Santos (2004) é propor que o fenômeno da
urbanização e a organização do espaço geográfico sejam analisados segundo um enfoque que
leve em consideração a modificação das noções do planejamento urbano e regional.
Os estudos sobre urbanização nos países subdesenvolvidos são relativamente recentes.
Diferentes abordagens foram feitas mostrando a cidade, muitas vezes, de forma dicotômica,
adjetivando as cidades do Terceiro Mundo, comparando-as com as cidades dos países desen-
volvidos. Assim, Santos (2004) propõe uma análise substantiva, que abrange a realidade e a
dinâmica da cidade em sua totalidade.
Na década de 1950, são feitas as primeiras planificações nos países subdesenvolvidos, e
na década seguinte os primeiros estudos sobre a planificação espacial. As planificações eram
feitas de forma rápida e submetidas aos interesses das políticas internacionais.
Os estudos sobre a urbanização do Terceiro Mundo eram feitos tendo como foco principal
as instabilidades (problemas na habitação, no emprego, na marginalidade, na migração, na
miséria). As preocupações eram muito maiores com as consequências dos problemas, como
a miséria, do que com as causas. Os estudos eram sistemáticos e com uma análise feita por
métodos matemáticos, com o intuito de se ter um melhor prognóstico, havendo erros de
interpretação, por não se conhecer a realidade local.
Portanto, via-se a necessidade de um estudo com a dimensão histórica, analisando
o processo de subdesenvolvimento. Os resultados das pesquisas utilizando esse método
colocam em oposição as cidades dos países subdesenvolvidos frente às cidades dos países
desenvolvidos, revelando especificidades na evolução daqueles em relação a estes. Não se
pode comparar os países desenvolvidos com os subdesenvolvidos antes desses últimos se
industrializarem, pois os eventos socioespaciais são diferentes entre esses países.
Os componentes do espaço são os mesmos em todo o mundo, variando na quantidade
e na qualidade, dependendo do lugar, e também variando as combinações, diferenciando os
espaços. O espaço dos países desenvolvidos e subdesenvolvidos se (re)organizam em função
de interesses distantes, muitas vezes, de escala mundial. É um espaço multipolarizado, com
múltiplas influências externas, descontínuo e instável.
O espaço dos países subdesenvolvidos é caracterizado por grandes diferenças de renda
na sociedade, com tendência à hierarquização das atividades, coexistindo no lugar atividades
de mesma natureza, mas, por exemplo, de níveis tecnológicos distintos. A seletividade do
espaço no âmbito econômico e social é a essência da abordagem espacial, observando-se as
diferentes situações geográficas. A cidade pode ser estudada a partir de dois subsistemas: o
circuito superior e o circuito inferior.
O circuito superior e o circuito inferior não significam o mesmo que setores formal e
informal da economia, sucessivamente. Todas as firmas do circuito superior pertencem ao
A pobreza urbana e
os circuitos econômicos
Para Santos (2009), a urbanização e a pobreza são fenômenos profundamente conectados,
fato evidenciado com mais clareza nos países periféricos. Os processos responsáveis pela gene-
ralização da pobreza na escala mundial tem sido frequentemente colocado de modo equivocado.
A singularidade da experiência histórica nos países pobres nos faz refletir sobre os desafios
enfrentados por essas sociedades.
Segundo Santos (2009), a discussão sobre os fenômenos da pobreza tem sido tão inti-
mamente relacionada ao que se chamou de teoria da marginalidade que os dois termos quase
se tornaram sinônimo. Além disso, a discussão desse problema não resultou na elaboração
de nenhuma teoria real. A noção de marginalidade foi julgada inadequada, pois se mostrou
ambígua. O uso da própria expressão marginalidade permitiu que a chamada “população
marginal” de um país fosse julgada excedente ou até inútil, economicamente falando.
Os pobres não são socialmente marginais, mas explorados e reprimidos. Essa discus-
são reabre o debate de Marx sobre o exército industrial de reserva, termo pelo qual muitos
autores substituíram por superpopulação. No entanto, Marx também nos trouxe a expressão
superpopulação relativa, uma ambiguidade intencional, já que superpopulação supõe uma
abundância de pessoas inúteis, enquanto que superpopulação relativa traz de volta a relação
entre necessidades e recursos, acabando com o problema de escassez.
Dentro do mesmo contexto, mas em outro nível, a ideia de “massa marginal” incorreu
também em equívocos e erros interpretativos. O conceito de “massa marginal” aproxima-se da
noção de “pobreza oficial”, mas difere quando o segundo remete ao exército industrial de re-
serva e o primeiro a uma parte funcional ou disfuncional da superpopulação ativa. Outro ponto
de vista é o da justaposição da população urbana com uma grande massa de desempregados
Discuta a relação entre pobreza e urbanização nos países periféricos, fazendo refe-
1
rência à existência do circuito inferior da economia urbana.
Quadro 1 – Características dos Dois Circuitos da Economia Urbana dos Países Subdesenvolvidos
O circuito superior utiliza mais tecnologia, o que implica na utilização de capital intensivo,
e possui uma forma organizacional burocrática (SANTOS, 2003). Os capitais desse circuito são
importantes, o emprego é reduzido, com a predominância do trabalho assalariado. Os estoques
são grandes em quantidade e qualidade e os preços são fixos. A margem de lucro é reduzida
por unidade (com exceção dos produtos de luxo), mas é grande pelo volume de negócios. O
crédito bancário institucional se faz presente nesse circuito. As relações com a clientela são
impessoais, “no papel”. Os custos fixos são importantes, a publicidade é necessária, e tem
uma importante ajuda governamental. É uma atividade com dependência direta do exterior.
O circuito inferior utiliza como tecnologia o trabalho intensivo e se constitui como uma
forma primitiva de organização (SANTOS, 2003). Os capitais são reduzidos. O número de em-
prego é volumoso e o assalariado não é predominante. Os estoques são de pequena quantidade
e qualidade, com o preço submetido à discussão entre o comprador e o vendedor. A margem de
lucro é elevada por unidade e pequena em relação ao volume de negócios. O crédito é pessoal.
Há uma relação direta com a clientela, os custos fixos são desprezíveis, a publicidade é nula,
A partir da realidade do seu município, faça uma correlação dos dois circuitos da
2 economia urbana, identificando as principais características do comércio, serviços
e possíveis indústrias (padarias, fábricas de doce etc.). Explique se existe circuito
superior e se há ou não predominância do circuito inferior. Justifique sua resposta.
O circuito superior marginal não se constitui em outro circuito, nem no circuito intermedi-
ário, como já tratado na obra de Santos. Por isso, não se pode afirmar que existe um comércio
marginal no circuito superior. Várias classificações foram adotadas por diversos estudiosos
devido às diversas intensidades das atividades de fabricação. Santos (2007a) prefere identificar
a existência de dois níveis no circuito superior, baseados na diferença de tecnologia utilizada
e de organização administrativa.
O circuito superior marginal é “causa e conseqüência do acontecer solidário, isto é,
da atual interdependência dos eventos, que advém da tendência à unicidade das técnicas,
o ‘prático-inerte’ por excelência, pois agrega no seu seio um leque de próteses e semo-
ventes de idades diversas e uma pluralidade de práticas, ideias, normas, cosmovisões
e formas de fazer que não se explicam apenas pelo presente nem apenas pela divisão
territorial do trabalho hegemônico (SILVEIRA, 2010, p. 9).
1 O banco é uma importante firma do circuito superior, pois é traço da união entre os
dois circuitos. Nessa perspectiva, descreva sobre a importância dos bancos no que
diz respeito ao financiamento e seus impactos, tanto no circuito superior quanto
no circuito inferior, isto é, explique a relação entre esses dois circuitos a partir das
relações bancárias.
Caracterize o circuito superior marginal, mesmo sabendo que ele não se constitui
2
em um circuito intermediário. Exemplifique.
SANTOS, Milton. Por uma economia política da cidade. 2. ed. São Paulo: Edusp, 2009.
Nessa obra, Milton Santos discute de forma mais aprofundada a economia política da
urbanização e a economia política da cidade, levando em consideração o processo de produção,
circulação, distribuição, consumo, portanto, o funcionamento do capital, e o funcionamento
do trabalho. Além disso, o autor discute sobre o valor de uso e o valor de troca no espaço
urbano, trazendo uma discussão de Marx para a Geografia. Por fim, aponta para a necessidade
de estudarmos a cidade enquanto mercadoria e a cidade enquanto meio ambiente construído,
o que dará respaldo para entendermos os dois circuitos da economia urbana.
SANTOS, Milton. Por uma outra globalização. Rio de Janeiro: Record, 2000.
Milton Santos mostra como o processo de globalização transforma o espaço mundial,
aumentando as desigualdades, originando os diversos tipos de pobreza explicitados pelo autor.
Além disso, o autor mostra como o Estado se torna um elemento importante para a atuação
do “globaritarismo”, atendendo aos interesses das grandes corporações mundiais. Por fim, o
estudioso mostra a importância da “flexibilidade tropical” e a construção do “período popular da
história”. Essas duas categorias de análise também dão suporte ao estudo do circuito inferior.
SANTOS, Milton; SILVEIRA, Maria Laura. O Brasil: território e sociedade no início do século
XXI. Rio de Janeiro: Record, 2001.
Esse livro é importante para pensarmos a construção do meio técnico-científico-informacional
no Brasil, com a criação e a sobreposição de divisões territoriais do trabalho. A noção de território
usado é importante para entender de que forma o circuito superior e o circuito inferior usa o terri-
tório. É importante observar que o uso corporativo do território, ou seja, a forma como as grandes
corporações se apropriam e usam o território, geralmente, com o apoio do Estado, dá à cidade
uma condição oligopolista.
Autoavaliação
Explique o processo de urbanização dos países subdesenvolvidos, tendo como
1 base a teoria dos circuitos da economia urbana.
Referências
SANTOS, Milton. Economia espacial. 2. ed. São Paulo: EDUSP, 2003.
______. Finanças, consumo e circuitos da economia urbana na cidade de São Paulo. Caderno
CRH, Salvador, v. 22, n. 55, p 65-76, jan./abr. 2009.
______. Da pobreza estrutural à resistência: pensando os circuitos da economia urbana. In: EN-
CONTRO NACIONAL DE GEÓGRAFOS, 16., 2010, Florianópolis. Anais... Porto Alegre, jul. 2010.
Anotações