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UMA INTERVENÇÃO BREVE DA PSICOLOGIA FRENTE À VIOLÊNCIA CONTRA A

MULHER
a)
Raquel Ferreira da Rosa, Maiton Bernadelli*
a) Curso de Psicologia, Centro Universitário da Serra Gaúcha, Caxias do Sul, RS.
*Orientador (autor correspondente): Palavras-chave:
Endereço: Rua Os Dezoito do Forte, 2366. Violência – Mulher - Psicologia
Caxias do Sul – RS. CEP: 95020-472.
E-mail: maiton.bernadelli@fsg.edu.br
INTRODUÇÃO/FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA: O presente trabalho vem apresentar os
resultados de uma intervenção breve da psicologia, pensada e aplicada considerando a temática
relacionada à programas de atenção à mulher em situação de violência, enquanto estudante da
graduação e da disciplina de Saúde Coletiva, Políticas Públicas e Direitos Humanos. Assunto
este importante e pertinente no que se refere a um problema social que historicamente tem no
machismo e na desigualdade de gênero entre homens e mulheres a sua vertente. MATERIAL
E MÉTODOS: A intervenção foi pensada com o intuito de atuar de maneira preventiva e
informativa. Sabe-se que a violência contra as mulheres vem a ser um assunto que passou a ser
mais abordado, porém ainda se percebe que o problema persiste e que não somente a violência
física vem a ser a consequência mais comum nas relações entre homens e mulheres, mas
também outras formas que as levam a colocar-se em risco e a não buscar os serviços disponíveis
que as auxiliem ao enfrentamento, bem como as questões legais que podem orientar o processo
de buscarem recursos, proteção e amparo, que por vezes é desconhecida. Um folder explicativo
com os tipos de violência e os serviços de auxílio às mulheres em situação de violência de nossa
cidade foi organizado e distribuído em uma Unidade Básica de Saúde, buscando assim
esclarecer e orientar as mulheres para procurarem ajuda. RESULTADOS E DISCUSSÕES:
A violência contra a mulher nos remete aos primeiros tempos da sociedade, acontecendo
primeiramente nos espaços restritos ao lar e não sendo divulgados de forma pública. A mulher
tinha papéis bem estabelecidos, mãe e do lar. Sendo vítima constante que ia passando de
geração em geração, dentro de suas próprias casas, em muitos momentos elas não se
manifestavam e nem tinham a dimensão do que sofriam, de forma silenciosa. A violência contra
às mulheres faz parte do histórico de vida de muitas delas, por vezes desde a infância, causadas
especialmente pelo sexo masculino, reproduzida posteriormente na relação com o companheiro
escolhido. A temática em questão vem a ser de suma importância a nível nacional e
internacional, e os cursos de Psicologia, bem como os Conselhos Federal e Estaduais vem
buscando uma aproximação com as questões de Políticas Públicas de atenção às mulheres em
situação de risco, dos diferentes tipos de violência a que elas são submetidas, assim como no
contexto da defesa e de seus direitos. A construção do Documento de Referências Técnicas para
a práticas de psicólogas em programas de atenção às mulheres em situações de violência veio
a ser um marco que ampliou as possibilidades de atuação deste profissional no que se refere à
temática. Com base em pesquisas que foram dando as diretrizes sobre a atuação deste
profissional sob diferentes aspectos, o documento visa apresentar perspectivas teóricas, técnicas
e práticas para a que a psicologia, e os psicólogos, sejam atuantes e capazes de visualizar a
temática em suas diferentes nuances e eixos, tais como as dimensões ético-políticas, a relação
da psicologia com mulheres, o psicólogo e a rede e a gestão do trabalho. Ao analisar-se o
documento, a partir das pesquisas realizadas, percebe-se que a atuação do psicólogo é muito
ampla: serviços de plantão, Centros de referência para mulheres em situação de violência,
órgãos formuladores de políticas públicas, Delegacias Especializadas de Atendimento às
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mulheres, Hospital Geral, Juizado da Mulher, Abrigos, Serviços específicos de atenção às


vítimas de violência sexual, CREAS, CRAS, Organizações Não Governamentais, serviços
dirigidos a vítima de violência e/ou à prevenção de violência de um modo geral. (CFP, 2012).
As intervenções realizadas nestes locais têm como intuito dar conta das diferentes demandas e
especificidades das populações atendidas, por vezes de alta complexidade e
multidimensionalidade. Conforme o documento que traz as referências, organizado pelo
Conselho Federal de Psicologia (2012) para orientação aos psicólogos no atendimento à mulher
em situação de violência (CREPOP), o profissional da psicologia, geralmente, trabalha em
conjunto com outros profissionais da rede. Sendo assim, deve-se destacar o trabalho integrado,
geralmente complexo, e que deve ser realizado de forma fidedigna e ética, exigindo
comprometimento dos profissionais envolvidos. O psicólogo, vem a ser um dos profissionais
que contribui para a promoção dos Direitos Humanos, independente da área em que estiver
atuando, relacionando-se assim com as diferentes áreas do conhecimento humano: saúde,
educação, social, privada, políticas públicas e demais áreas. Quando se referir à atuação deste
profissional no trato com mulheres em situação de violência, a necessidade de articulações com
as políticas públicas é muito necessária, estabelecendo assim um diálogo entre o Estado e a
sociedade, para atender os direitos fundamentais dos envolvidos. A Lei Maria da Penha, marco
legal que entrou para o rol das leis de proteção à mulher, define os tipos de violência contra a
mulher. Em seu artigo 8º, destaca a implantação de meios preventivos para tal tipo de
ocorrência, que poderiam ser desenvolvidos em escolas, empresas, meios de comunicação,
entre outros setores; discutindo-se assim os papeis de gênero e trazendo informações sobre leis
e os direitos das mulheres no que se refere à violência conjugal. Em seu Artigo 5º, caracteriza
“violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero
que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou
patrimonial”. Além disso, especifica também que tais atos podem ocorrer no âmbito da unidade
doméstica, da família ou em qualquer relação íntima de afeto. No Artigo 7º são definidas as
formas possíveis que a violência pode se manifestar, a saber: física, psicológica, moral,
patrimonial e/ou sexual. Esse conhecimento também se faz necessário para os psicólogos, na
medida em que dar orientações para as mulheres na busca de seus direitos e como forma de
buscarem medidas legais contra o agressor precisam ser tomadas. Também veio para “coibir”
e “prevenir” a violência doméstica e familiar, estabelecendo medidas de proteção e prevenção.
Destaca-se também, no Brasil a Lei do Feminicídio (Lei 13.104/2015), que altera o Código
Penal para prever o feminicídio como agravante, ou seja, os assassinatos cometidos por homens
contra mulheres, companheiras atuais ou passadas, bem como relacionamentos ocasionais. A
questão da violência contra a mulher passou a ser vista como algo preocupante e sério, que
precisa ser combatido e trabalhado de forma preventiva na sociedade. A psicologia tem papel
fundamental e pode trazer importantes contribuições nestes dois sentidos, o preventivo e o de
auxiliar nos processos pós violência, na ressignificação do ocorrido pela mulher para a busca
de alternativas diferentes às vivenciadas. O conhecimento da psicologia jurídica, bem como
estimular o protagonismo das mulheres, entendendo o fenômeno da violência como algo
multidimensional, também são importantes e necessários. CONCLUSÃO: Pensar a violência
contra as mulheres significa pensar que tal prática pode ser causadora de doenças psíquicas,
sendo considerada uma questão para a saúde pública dar conta e a Psicologia precisa estar
inserida. Como nos diz Porto “[...] não é apenas a cura do corpo que se busca, não é a busca
por medicamentos que motiva a procura, e sim, a necessidade de falar e de ser ouvida
em seu sofrimento e, imediatamente, o profissional da escuta é identificado como a/o
psicóloga/o.” (2006, p. 435 ). Bock (2002) citado por Eichenberg e Bernardi (2016) nos diz
que a prática de um psicólogo deve estar aliada à transformação social e ao movimento
da sociedade, buscando oferecer serviços que conduzam a uma sociedade mais justa. A
violência contra a mulher exige da Psicologia repensar suas práticas e modelos de intervenção
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tradicionais, especialmente os modelos clínicos voltados para o interpsíquico, devendo agregar


o desenvolvimento de novas práticas que incorporem a perspectiva social, a clínica ampliada,
a clínica social ou ainda intervenções psicossociais articuladas com as práticas de outros
profissionais e serviços. O atendimento às mulheres em situações de violências requer
discussões a respeito das contextualizações das novas demandas sociais que exigem da
Psicologia uma ampliação de suas práticas e novos campos de atuação. (CFP, 2011, p. 23). As
redes sociais também são instrumentos de informação e que quando acessadas podem contribuir
para processos de libertação e de orientação em como buscar caminhos diferentes àqueles em
que a violência se faça presente. O tema deve ser abordado pelo viés da violação dos direitos
humanos das mulheres. Os aspectos ligados às questões sociais, culturais, econômicas e
subjetividade dos envolvidos também precisam ser considerados. Inclusive a dependência
econômica do parceiro por vezes coloca as mulheres em situação submissa e passiva diante da
violência sofrida. A condição de vulnerabilidade social, pobreza, miséria, aliadas à casamentos
precoces, gravidez, sem perspectiva de trabalho e renda própria, dependentes financeiramente
dos companheiros que as agridem, são também aspectos que as mantém no ciclo da violência.
Cabe ao psicólogo desenvolver e trabalhar estratégias de desenvolvimento e fortalecimento da
autonomia dessas mulheres.

REFERÊNCIAS

D’OLIVEIRA, L.; HANADA, H.; PIRES, A.F.; SCHRAIBER, L.B. Os psicólogos na rede de
assistência a mulheres em situação de violência. Rev. Estud. Fem. 18, Abr 2010. Disponível em:
https://doi.org/10.1590/S0104-026X2010000100003. Acesso em: 19 jun. 20221.

MACARINI, S. M.; MIRANDA, K. P. Atuação da psicologia no âmbito da violência conjugal


em uma delegacia de atendimento à mulher. Pensando família, Porto Alegre , v. 22, n. 1, p.
163-178, jun. 2018. Disponível em:
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679494X2018000100013&ln
g=pt&nrm=iso>. Acesso em: 19 jun. 2022.

PORTO, M. Violência contra a Mulher e Atendimento Psicológico: o que Pensam os/as


Gestores/as Municipais do SUS. Psicologia Ciência e Profissão, 2006, p. 426-439. Disponível
em: https://www.scielo.br/j/pcp/a/bFwrhK5bWyYZ6xLqv9mpHzk/?format=pdf&lang=pt.
Acesso em: 19 jun. 2022.

Referências técnicas para atuação de psicólogas (os) em Programas de Atenção à


Mulher em situação de Violência. Conselho Federal de Psicologia. - Brasília: CFP, 2012.

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