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O BULLYING COMO FORMA DE MANIFESTAÇÃO DA VIOLÊNCIA ESCOLAR

Raquel Ferreira da Rosa1

Resumo:O presente artigo pretende discorrer acerca do tema violência escolar, a partir de uma
situação vivenciada em sala de aula, no contexto escolar, que caracteriza uma forma muito
comum de violência atualmente nas escolas: o bullying.

Palavras-chaves: Violência. Escola. Bullying

Falar em violência, nos dias de hoje, é assunto corriqueiro. Ela está presente no dia-a-dia,
na família, na sociedade, nas escolas, de forma explícita ou velada. Banalizou-se o assunto. Já
estamos tão acostumados com as notícias, que nem nos damos conta das reais proporções desses
fatos no cotidiano.
Ao abordar uma definição ampla do conceito de violência, entendendo-a como uma
transgressão da ordem e das regras, enquanto ausência e desrespeito aos direitos do outro, na vida
em sociedade, posso assim introduzir o assunto e referir-me à violência escolar.
A escola, como ambiente sistematizador de conhecimento e formadora de sujeitos
cidadãos, aptos para viver e conviver em sociedade, é o espaço privilegiado por excelência para
discutir e refletir sobre esse tema, que aflige diretamente a sociedade, buscando formas de
prevenção e promoção de uma cultura de Paz.
Porém, o que se tem percebido é que a instituição-escola não está conseguindo dar conta
dessa demanda. E o que é ainda pior, é o ambiente onde as diferentes formas de violência têm se
manifestado cada vez mais cedo e mais freqüentemente.
A violência escolar, assim como na sociedade em geral, tem aparecido sob diversas
facetas: agressões físicas, brigas, depredações contra o patrimônio. Há ainda aquelas que
aparecem mascaradas, disfarçadas, de difícil diagnóstico, tais como ofensas verbais,
discriminações, humilhações, indisciplina.
O estudo de caso que apresentarei demonstra uma situação clara de violência escolar
expressa através do bullying, uma manifestação típica muito discutida na atualidade, mas que
ainda é difícil de ser controlada.
Um caso típico de violência escolar
O fato aconteceu em uma turma de alunos de quinta série do ensino fundamental, da rede
estadual de ensino. Num determinado momento, em que eu estava presente realizando uma
1
Acadêmica do oitavo semestre do curso de Pedagogia na Universidade de Caxias do Sul.
atividade de estágio do curso de Pedagogia, desapareceram os óculos de um menino. Ele havia
deixado na classe, e quando foi procurá-lo para usar, não estava mais lá. Ninguém tinha visto.
Ninguém sabia o que havia acontecido. Procuramos por toda a parte da sala, nas mochilas.
Ninguém havia visto. A direção da escola foi comunicada, e iniciou-se a busca. Até que duas
horas depois, os óculos foram deixados na classe do menino. E ninguém foi, ninguém viu.
O menino ficou apavorado. Chorou. Desesperou-se. Pode-se ter uma noção das ideias que
lhe passaram pela cabeça: chegar em casa sem os óculos, apanhar, gastar novamente para fazer
outro, a falta que iria lhe fazer.... além de todo trauma, de todo o sofrimento psicológico que esta
situação lhe causou.
Podemos caracterizar essa situação como um caso típico de bullying. Este aluno, por sinal
um dos mais quietos da turma - tímido, retraído, negro, de poucos amigos - sofreu as
consequências de brincadeiras como esta, maldosas, que fazem sofrer, que machucam, mas que
na visão dos “infratores”, ou seja, de quem pratica, são “brincadeiras”. Não se tratou de uma
violência física, mas tem a mesma proporção em termos psicológicos.
A palavra Bullying é de origem inglesa, e não tem correspondente em português. Esse
termo refere-se à atitude de um bully (valentão) e é utilizado para caracterizar atos de violência
física ou psicológica contra alguém em situação de desvantagem de poder, causando dor e
humilhação a quem sofre. É um fenômeno a nível mundial, que vem crescendo a proporções
inimagináveis, principalmente no contexto escolar.
Quando as escolas não tomam medidas efetivas contra o Bullying, o ambiente torna
totalmente contaminado. Todas as crianças são afetadas negativamente. E a situação torna-se
banalizada no coditiano escolar.
As testemunhas convivem com a violência e se calam com medo de serem as “próximas
vítimas”. Elas podem até se sentir incomodadas com o que vêem, mas sentem-se inseguras e não
sabem como agir perante a situação. E assim os autores do bullying continuam agindo, sabendo
que as punições dificilmente o atingirão.
Não por acaso, estava desenvolvendo um trabalho de orientação educacional nesta escola,
com as turmas de quintas séries, uma vez por semana, durante um período (cinquenta minutos)
sobre motivação e valores, e tinha essa turma como a mais disciplinada. A partir daquele
momento, tive que repensar todas as ideias que tinha construído acerca do perfil dessa turma em
especial, que se difere das outras duas quintas séries da escola, onde também desenvolvi meu
Projeto. Nas outras quintas séries, as situações de bullying acontecem mais abertamente entre os
alunos.
Tive a oportunidade de trabalhar o acontecimento, fazendo-os refletir sobre as
consequências do ato não só para o menino, mas também para toda a turma, já que foi perdida
metade daquela manhã somente para resolver a situação. Porque são questões de falta de valores
que estão presentes nessas situações.
Que atitudes as escolas vêm tomando para combater a violência escolar, em especial o
Bullying? Quais medidas punitivas estão sendo imposta aos alunos que provocam esse tipo de
violência? Quais medidas preventivas estão sendo aplicadas para diminuir essas ocorrências no
ambiente escolar?
Vive-se uma crise de valores ultimamente. Não há respeito. Não há solidariedade. Falta a
ética. Ética que fundamenta nossas ações perante o Outro. Uma ética baseada no Amor. Maturana
(2000) afirma que
A ética tem a ver com a preocupação pelas consequências das próprias ações sobre
o outro. Por isso, para ter preocupações éticas, devo ser capaz de ver o outro como
legítimo Outro em convivência comigo. Quer dizer, o Outro tem que aparecer
diante de mim na Biologia do Amor. O Amor é a emoção que funda a preocupação
ética. (p.43)

O assunto demanda maior investimento e análise, quer das escolas, quer da sociedade em
geral. São muitas as consequências destrutivas que assolam o mundo e que são frutos dessa
banalização e acomodamento perante à violência. Porém requer maiores investimentos em
humanização daqueles que tem um papel importantíssimo na formação de pessoas: os
educadores. Mas isso é uma outra história.

Referências:
MATURANA, Humberto. Formação humana e capacitação. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.
SILVA, Nelson Pedro. Ética, indisciplina & violência nas escolas. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004.
www.bullying.com.br/Bconceituação21.htm Acesso em 02.12.2009

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