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https://gestaoescolar.org.br/conteudo/1974/como-combater-o-
bullying-na-escola
Blog Direção
No ambiente escolar, o bullying pode ser definido como uma forma de agressão
praticada por um ou mais estudantes contra outro(s), de maneira intencional e
repetidamente, que ocorre sem motivação evidente, causando dor e angústia – sendo
caracterizada também pela relação desigual de poder.
Com os recursos proporcionados pelas novas tecnologias há ainda outro
desdobramento dessa forma de violência: o ciberbullying, que é a prática do bullying
no ambiente virtual. Isso evidencia como essas manifestações de violência se
modificam e se atualizam de acordo com o contexto histórico-social e tecnológico. Para
alguns pesquisadores dessa área, essa forma de manifestação de violência contra a
dignidade do outro pode ser ainda mais devastadora do que aquela própria da
convivência ou do relacionamento direto entre agressor e vítima, porque o seu alcance
é ainda maior devido à capacidade de propagação nas redes virtuais.
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Uma coisa importante para os educadores é identificar o bullying. Mesmo sabendo que
os jogos de ofensas entre os jovens são corriqueiros não se pode ignorar as
manifestações de violência, seja na sala de aula ou fora dela. A humilhação e os
ataques contra a dignidade humana não podem ser confundidos com brincadeiras, e o
que caracteriza o bullying é a opressão. Não negligenciar as situações de agressão é
fundamental para a superação do problema.
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escola
A cultura de paz está no ideal pedagógico dos educadores e das escolas, mas essa
harmonia será uma realidade se houver a atuação da organização escolar com vistas a
atingir esse objetivo. Logo, nunca é demais lembrar que toda aspiração pedagógica
deve ser seguida de um conteúdo programático que conduza a essa realidade. Nesse
sentido, eu descreverei um exemplo concreto de reversão da ordem, em que uma
escola sai da situação de violência e de indisciplina e passa a ser referência de inclusão
dos seus alunos.
Sala de aula na EMEF Infante Dom Henrique, onde 20% dos alunos são
estrangeiros Foto: Mariana Pekin
Feito isso, nós montamos um painel e criamos categorias a partir do que era
identificado nos papeis. Como resultado, identificamos três grandes problemas na
escola: a) a indisciplina; b) a violência (incluindo o bullying) e c) a falta de comunicação.
Constatamos várias formas de violência, a desagregação e o sentimento de impotência
dos educadores para lidar com esses problemas na escola.
Criamos, então, o Projeto Político-Pedagógico (PPP) intitulado “Valores que não têm
preço”, sendo que cada valor (tema) passou a ser trabalhado bimestralmente. O
primeiro valor foi o respeito, em seguida a amizade, a família e a solidariedade. Para
iniciar o trabalho com o tema respeito foram distribuímos folhas para todas pessoas e
de todos os segmentos da escola (alunos, professores, funcionários, coordenadores,
gestores) com a seguinte frase a ser completada: “Me sinto desrespeitado quando”... As
respostas resultaram em um painel imenso que ocupou duas paredes de um dos
corredores da escola. A participação foi efetiva, todos aderiram à proposta, e ficou
evidente que muitas pessoas na escola estavam incomodadas e queriam dar um basta
naquela situação.
Esses temas eram transversais e projetos interdisciplinares foram criados, inclusive no
campo das artes visuais com quadros pintados pelos alunos, que foram emoldurados,
transformados em obras de arte e distribuídos pela escola, além de produções
literárias, algumas das quais publicadas no livro “Talentos Literários”, organizado por
uma das nossas escolas parceiras, cabendo a nós um dos capítulos com dez textos e
uma ilustração para esse capítulo. Desde então, um desses textos passou a ser
também a epígrafe do nosso PPP.
Dois anos depois, a situação foi alterada completamente. Antes, prevalecia a violência,
a indisciplina e o desrespeito, até mesmo a violência física (os alunos saíam em vias de
fato). Carteiras eram atiradas em professor. Depois, passou a imperar a disciplina, o
respeito e a solidariedade entre todos, inclusive em relação aos alunos estrangeiros.
Esses eram os que mais sofriam o preconceito e a discriminação na escola. Nesse caso,
a formação em serviço foi importante para compreendermos que o bullying existia na
escola, mas esse conceito não podia ser aplicado em casos de alunos estrangeiros, pois
o tipo de violência que eles sofriam era a xenofobia. Ou seja, além do bullying, que não
era um problema simples de resolver, nós tínhamos também a xenofobia, que é o
temor, a antipatia e/ou preconceito contra o estrangeiro.
Resumindo, o nosso ideal de escola passou a ser algo possível de se conquistar a partir
de um conteúdo programático que consistiu na identificação dos problemas, na
discussão das formas de resolução e nas estratégias para alcançar os efeitos desejados.
Os resultados obtidos de fevereiro de 2011 até dezembro de 2017 foram
impressionantes. Até dezembro de 2014, nós superamos a violência física, o bullying, a
xenofobia e a desorganização da escola. Em 2015, a escola foi a 2ª colocada no Prêmio
Educação em Direitos Humanos, promovido pela Secretaria de Direitos Humanos da
cidade de São Paulo. Em janeiro de 2017, a instituição foi certificada pela UNESCO e
passou a ser uma de suas escolas associadas. Nesse mesmo ano conquistamos quatro
prêmios, três dos quais em projetos de inclusão e integração entre os alunos,
principalmente em relação aos alunos estrangeiros, que correspondem a 20% do total
de estudantes da escola.
É importante destacar que entre as crianças e jovens a tiração de sarro está entre as
formas de socialização mais frequentes. As brincadeiras fazem parte de um conjunto
de práticas relacionais entre esses sujeitos. É por meio delas que eles fazem amizades
e, às vezes, ganham até prestígio entre os colegas por essa habilidade de se divertir, de
divertir os outros e de animar as rodas de conversa. No entanto, em muitos casos, a
linha que separa a brincadeira do bullying é tênue.
O bullying como forma de violência passa a ser real quando há a violação da dignidade
do outro e contém uma gravidade intrínseca. É uma agressão intencional e repetida,
que passa pela desqualificação do outro em forma de constrangimento. Esse
constrangimento, na maior parte das vezes, é feito ao apontar características físicas ou
identitárias da vítima.
Tanto mais valor terão as ações criadas para combater o bullying, as escolas e os seus
professores quanto mais se entender que as crianças e jovens poderão se tornar seres
humanos mais excepcionais a partir das oportunidades que lhes são oferecidas no
ambiente educativo. A esse respeito já dizia Simone de Beauvoir: “É do ponto de vista
das oportunidades concretas dadas aos indivíduos que julgamos as instituições”.
SILVA, A. B. B. Bullying: Projeto Justiça nas Escolas - Cartilha 2010. Brasília, DF: MEC,
2010.
Cláudio Marques da Silva Neto é diretor da EMEF Infante Dom Henrique, em São
Paulo. Tem experiência em direitos humanos, formação docente, cultura escolar,
indisciplina, violência e gênero. É mestre e doutorando em Educação pela
Universidade de São Paulo (USP) e autor do livro Indisciplina e Violência Escolar:
dilemas e possibilidades.