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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SOCIOLOGIA


PROCESSO SELETIVO DE MESTRADO
PROJETO DE TESE

SAÚDE DA POPULAÇÃO NEGRA EM TEMPOS PANDÊMICOS:

Análise do impacto da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra


durante a COVID-19

Projeto de Dissertação apresentado ao Programa de


Pós-Graduação em Sociologia da Universidade
Federal de Sergipe, como requisito parcial para
ingresso no Curso de Mestrado em Sociologia

Linha do curso: Instituições, Movimentos Sociais e


Políticas Públicas

Orientador: Prof. Dr. Frank Nilton Marcon

SÃO CRISTOVÃO
2022
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SUMÁRIO

1 APRESENTAÇÃO E JUSTIFICATIVA...........................................................................3

2 OBJETIVOS.........................................................................................................................4
2.1 Objetivos Específicos.....................................................................................................5
3 PROBLEMA
4 DISCUSSÃO TEÓRICA.....................................................................................................5
5 METODOLOGIA................................................................................................................6
6 REFERENCIAL TEÓRICO
REFERÊNCIAS........................................................................................................................7
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1 APRESENTAÇÃO E JUSTIFICATIVA

O presente trabalho tem como objetivo entender de que forma o fator raça
influencia no campo da saúde, correlacionando direitos humanos e saúde pública, áreas
estas que busco aprofundamento desde a graduação onde fora estudado a saúde e os
direitos da população em situação de rua em Aracaju. Nesta construção, tive
oportunidade de entrevistar pessoas que trabalham com essa população, auxiliando com
alimentação, distribuição de kits de higiene básica, roupas, administram campanhas de
agasalho e afins, de maneira a tornar a situação de rua menos degradante. A partir de
então o interesse em combinar esses dois campos foi crescente de maneira que com o
estudo e compreensão do espectro da saúde enquanto direito humano fora percebido que
a determinante raça era fator dificultador do acesso da PSR a vários direitos básicos,
como saúde, lazer e emprego.
Com a pandemia veio com ela também a necessidade de concluir o curso de
graduação e escolha de um tema para elaboração do trabalho. Todavia, inseridos em
outro contexto mundial pandêmico, não poderia executar o que ora havia pensado em
apresentar – um trabalho de campo e análise de políticas públicas voltadas para a PSR e
a funcionalidade dessas políticas em Aracaju. Portanto, me fora sugerido do qual me
aproximasse em vida prática e estudo. Conciliou que durante o período de isolamento
social, cresceu em mim o interesse e vontade em (me) entender como negro, o nosso
lugar na sociedade e como o racismo nos usurpou vários acessos, locais e direitos.
Passei a ler artigos e autores como Silvio Almeida (Racismo Estrutural), Juliana Borges
(Encarceramento em Massa), Achille Mbembe (Crítica da Razão Negra) entre outros,
que trouxeram a percepção de o racismo e suas diversas vertentes enraizadas na
sociedade cooperaram e cooperam para adoecimento (físico e mental) e mortalidade.
Assim, partindo dessa percepção, da necessidade desse estudo uma vez que dada
a época tampouco existia trabalhos nessa vertente, bem como da combinação de uma
pretérita vontade de mergulho nesses campos de estudo – direitos humanos, saúde e raça
–, fora proposta a reflexão sobre como caminhava a saúde da população negra em
tempos de pandemia por COVID-19. Entretanto, a escassez de trabalhos era uma das
consequências de como a gestão da saúde no atual governo é tratada, cominando na
falta de dados mais concretos e detalhados. Neste ínterim, ora ter concluído que a
população negra fora majoritariamente mais afetada pelo vírus, faltaram recortes a fim
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de tornar a pesquisa mais fidedigna e transformá-la em instrumento de fomento e


conscientização sobre a saúde da população negra Brasil adentro.

2 PROBLEMA
Este trabalho tem como objetivo estudar como o homem e a mulher negros
foram afetados durante a pandemia, em que medida foram, assim como buscar como
estes são mensurados nas políticas públicas de saúde. Ciente de que há uma disparidade
no tocante ao tratamento para pessoas negras dentro do universo da saúde pública, tentar
entender o que leva a essa diferença no tocante a raça e como atinge homens e mulheres
é um papel de suma importância uma vez que tais dados ainda não foram notados ou
ganharam conhecimento. Portanto, torná-los conhecidos ou até mesmo notados infere-se
no direito a uma saúde equânime e igualitária independente de circunstância.
Assim, de maneira sucinta trago o panorama intervencionista dos direitos
humanos na saúde pública, até onde um interfere no outro e como essa relação reverbera
de maneira assertiva para ambas as áreas. A fim de discutir na temática Saúde e
População Negra como esta é afetada pelo sistema de saúde, bem como da sua ausência,
como se deu durante o período pandêmico da COVID-19, as causas e consequências da
mesma para o povo negro no Brasil. De maneira introdutória, utilizo o artigo Direitos
Humanos e Saúde, de Jonathan Mann (1996) como referência inicial para debater como
a saúde ainda é um direito não adquirido, apesar de garantido, para essa população.
É comum na área jurídica afirmações acerca da mutabilidade do direito, que este
se adapta à sociedade e à época. Mas se essa liquidez do direito é tão presente porque há
expressiva dificuldade na manutenção de direitos considerados basilares? É perceptível
o esforçado avanço de demais áreas do direito como o eleitoral, porém, se tais espectros
caminham à passos mais ritmados, a dificuldade em garantir direitos mínimos como à
saúde deveria ser ínfima. É essa correlação destoante entre categorias dos direitos, sobre
a qual também se debruça.
O referido trabalho traz uma problemática pretérita, mas que ainda se arrasta até
hoje: o vilipêndio aos direitos humanos básicos. Em seu artigo científico, Jonathan
Mann (1996) desenvolve sua tese a partir do acompanhamento ao tratamento de
portadores do HIV (vírus causador da Aids), analisando como muitas vezes os direitos
humanos são violados em detrimento da saúde. De acordo com sua pesquisa, essa
violação frequentemente corrompia o paciente, expondo e humilhando-o, uma vez que
na época os exames também serviam para novas descobertas sobre a doença. Ainda que
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fosse uma doença recém encontrada e que sua contaminação fosse desconhecida, o
anseio pela cura e tratamento não justifica, muito menos viabiliza, essa espécie de
laboratório.
Detalhe que, dentro do levantamento bibliográfico realizado, poucas pesquisas
inserem a variante racial em seu espectro a exemplo de Batista (2020) em sua avaliação
sobre a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra. Portanto, apesar da
relevância, esses estudos ignoram o que no Brasil representa a maior parcela da
população.
Assim essa ignorância gera uma desumanização da população negra no Brasil,
historicamente subalternizada. Quantas negros e negras ainda não possuem moradia
digna com água potável, corrente de esgoto, assistência à saúde, entre outros direitos?
Quantas pessoas negras são nossa representação na política, seja na Câmara ou
Congresso, sem que seja alvo de incitações e ameaças? Da mesma forma, é expressivo o
número dessa parcela da população que não consegue acessar e usufruir plenamente do
nosso sistema público de saúde, essencial a estes.
Tudo isso enseja numa dificuldade que ao contrário da crença comum, é um
problema de saúde pública. Para além das controvérsias já citadas, há uma problemática
muito mais delicada: a notória taxa de adoecimento e mortalidade dessa população
(COLLUCCI, 2021; BATISTA, 2020; WERNECK, 2005). Dentre as sucessivas
barreiras ao uso do sistema de saúde, temos a inacessibilidade à tratamentos,
medicamentos, acompanhamento e o seu custeio quando necessário. O usuário do SUS
(Sistema Único de Saúde) deveria ter como garantido amparo integral desse órgão que,
apesar de ser referência, ainda diverge muito o seu exercício da teoria.
De acordo com Mann, há uma lista de princípios essenciais ligados diretamente
aos direitos (humanos) internacionais onde destaco dois itens: “6) os direitos geralmente
são invioláveis; eles “superam” os outros bens sociais (a saúde pública é uma exceção
importante); 7) os direitos são inseparáveis e indivisíveis, não há hierarquia de direitos.”
(MANN, 1996, p. 4). Ora, uma vez que não há separação entre tais direitos porque são
tratados de maneira hierárquica, onde há o desmonte de um em detrimento do outro?
Além disso, em contrapartida ao entendimento de Mann (1996) que afirma que “os
direitos humanos são uma crença nas pessoas e sobre o que é necessário para promover
e proteger seu bem-estar.”, compreendo o escopo dos direitos (humanos) como
inerentes à pessoa, à sua construção e evolução e que, ainda que “não possam ser
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refutados ou provados empiricamente”, são legítimos quando se entende que todo ser
humano os adquire quando nascido vivo.

3 DISCUSSÃO TEÓRICA
2 SAÚDE, CONCEITO E HISTORICIDADE

Precipuamente ao tema ‘Direitos Humanos e Saúde’, é necessário nos


aprofundarmos no que é saúde em seu conceito mais amplo e como é entendido dentro
do Sistema Único de Saúde. De fato, esse conceito não se limita apenas ao próprio
campo, uma vez que ao falarmos em saúde devemos ter ciência de que não se trata de
um termo ligado somente às doenças, vacinas, insumos, entre outros termos sanitários.
Ao nos debruçarmos sobre a historicidade desse termo, inicialmente
encontramos a saúde preocupando-se com o ser humano por meio da sua qualidade de
vida. Essa qualidade é estudada, inicialmente, a partir da inserção do ser humano em
sociedade e sua vida dentro da cidade, uma vez que seus modos e costumes, segundo
Hipócrates, (século IV a.C.) “ditam o ritmo e sua desenvoltura enquanto cidadão”.
Posteriormente, Paracelso (século XVI d.C.), médico suíço-alemão, salientou que a
saúde está ligada ao mundo exterior, ou seja, para além da influência de si próprio sobre
seu corpo, “o cidadão sofre interferência também das leis da natureza e dos fenômenos
biológicos” (GUIMARÃES apud PARACELSO, 2013), compreendendo o ser humano
de fora (externo) para dentro (interno).
No século XIX, às vésperas da Revolução Industrial, Engels, de maneira
complementar à Hipócrates, reitera que “a saúde do ser humano é delimitada a partir da
sua inserção no mercado de trabalho” (GUIMARÃES apud ENGELS, 2013), na cidade
(externo) e na sua infraestrutura - saneamento básico, distribuição de água, transporte
público etc. -, como também o seu estilo de vida (interno). Durante o processo de
industrialização, o Estado foi levado a interferir na saúde, devendo garantir aos cidadãos
um planejamento e organização mínimos, a fim de solucionar alguns problemas de
infraestrutura decorrentes, por exemplo, da falta de saneamento básico. É então que se
percebe a saúde mais extensa do que ela fora compreendida anteriormente, partindo de
seus cidadãos-usuários as pautas das reais necessidades que os afetavam e impediam do
real gozo da qualidade de vida.
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Com o surgimento da Organização Mundial da Saúde (OMS), pôde-se


compreender melhor, a partir do preâmbulo da sua constituição, que saúde nada mais
seria que “um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não consiste
apenas na ausência de doença ou de enfermidade” (OMS, 1946). Assim, reconhecendo
que a saúde advém da harmonia entre o equilíbrio interno do indivíduo e da sua relação
com o meio ambiente externo, estabeleceu-se tais pilares como fundamentais e
essenciais para atingir a paz e segurança. Todavia, esse conceito provocou diversas
críticas, principalmente no que tange ao “estado de completo bem-estar”, ora tratado
como um objetivo quase impossível de ser alcançado de maneira concreta e, para além
disso, ao considerar a saúde como um objetivo a ser alcançado acaba-se por silenciar e
ignorar os processos que a constroem. Reputar a esse termo o sentido de recompensa é
diminuir e passar por cima dos cidadãos, suas subjetividades e individualidades, haja
vista a saúde não possuir dimensões iguais para todos.
Ou seja, não há como falar em saúde sem dimensioná-la a partir dos indivíduos
que por ela são assistidos, para mais, alavancando a um status que se distancia do
coletivo (cidadãos). Porquanto, discorrer sobre saúde é entender que esta provém do
Estado, que atende as demandas dos indivíduos-coletivos devendo respeitar suas
individualidades, não se tratando de um objetivo elevado à um alto status, mas sim a
construção e regularização da qualidade de vida por meio da organização, planejamento
e infraestrutura, em constante busca do bem-estar físico, mental e social.

4 OBJETIVO GERAL
Entender como a determinante raça, em perpasse de gênero, interfere na
elaboração e aplicação de políticas públicas de saúde para população negra, bem como a
aplicabilidade destas políticas durante o período da pandemia da COVID-19, buscando
ponderar como o fator raça é compreendido no campo da saúde.

4.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

- Entender como se dá o acesso dessa população aos aparatos públicos de saúde

- Analisar as contribuições das políticas públicas de saúde para população negra

- Compreender os impactos das políticas públicas de saúde dentro do quadro da


COVID-19
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- Estudar a hipótese de disparidade no tratamento entre homens e mulheres negras


enquanto usuários do sistema de saúde

5 METODOLOGIA

A respeito da metodologia esta será desenvolvida a partir de análises, estudos e


interpretação de pesquisas estatísticas qualitativas cujo propósito eleger um montante
avaliativo do atendimento e alcance da saúde para população negra no país. Para isso,
fez-se necessário ponderar estatísticas sobre a saúde, adoecimento e morbimortalidade
da população negra desde a criação da PNSIPN – Política Nacional de Saúde Integral da
População Negra. Com isso, serão confrontadas as estatísticas da população em geral,
levando em conta a particularidade raça, para reflexão e tracejo de um panorama
comparativo estatístico.
Para depreender as causas – objetivas e subjetivas – dos resultados da análise
relacional entre a população geral e população negra em que pese assistência à saúde,
valho-me da leitura e estudo de projetos, artigos científicos, dissertações que debatem a
saúde e raça, bem como também de programas e políticas públicas de saúde, como a
PNSIPN. Além disso bem como intervenções de ativistas e estudiosos nas áreas do
direito, da saúde e de raça, além também do estudo da Constituição e elaboração de leis
e decretos acerca de direitos humanos e saúde, curva-se ao interesse entender como as
políticas públicas de saúde lidam com o fator raça no Brasil. Não são respostas curtas ou
breves, para mais, é uma problemática de larga escala, espalhado por órgãos públicos e
privados, bem como nas instituições, e que comumente é invisível aos olhos da
sociedade, seja pela falta de debate sobre o tema ou pela desinformação.

6 CRONOGRAMA

REFERÊNCIAS

BATISTA, Luís Eduardo et al. Indicadores de monitoramento e avaliação da


implementação da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra. Saude
soc., São Paulo, v. 29, n. 3, e190151, 2020. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
12902020000300315&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 27 jul. 2022. Epub Oct 12,
2020. https://doi.org/10.1590/s0104-12902020190151.
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COLLUCCI, Cláudia. Com pandemia, SP registra 25% de mortes a mais entre negros e
11,5% entre brancos em 2020. Folha de São Paulo, 2021. Disponível em:
https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2021/03/com-pandemia-sp-registra-25-de-
mortes-a-mais-entre-negros-e-115-entre-brancos-em-2020.shtml. Acesso em 31 jul.
2022.

COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS DA USP. Constituição da Organização


Mundial da Saúde (OMS/WHO) – 1946. Universidade de São Paulo – Biblioteca
Virtual de Direitos Humanos. Disponível em:
http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/OMS-Organização-Mundial-da-Saúde/
constituicao-da-organizacao-mundial-da-saude-omswho.html. Acesso em: 29 jul. 2022.

GUIMARÃES, Marcia; PILAU SOBRINHO, Liton Lanes. O Direito à Saúde sob a


Ótica do Mínimo Existencial e da Reserva do Possível. Revista Eletrônica de
Iniciação Científica. Itajaí, Centro de Ciências Sociais e Jurídicas da UNIVALI. v. 4,
n.4, p. 574-594, 4º Trimestre de 2013. Disponível em: www.univali.br/ricc - ISSN
2236-5044. Acesso em: 28 jul. 2022.

MANN, Jonathan. Saúde pública e direitos humanos. Physis, Rio de Janeiro, v. 6, n.


1-2, p. 135-145, 1996. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?
script=sci_arttext&pid=S0103-73311996000100007&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 28
jul. 2022.
WERNECK, J. Iniquidades raciais em saúde e políticas de enfrentamento: as
experiências do Canadá, Estados Unidos, África do Sul e Reino Unido. In: BRASIL.
Fundação Nacional De Saúde. Saúde da população negra no Brasil: contribuições para a
promoção da equidade. Brasília: Funasa, 2005. p.315-386.

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