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Racismo e saúde: racismo institucional e violência racial

Cleony da Silva Pereira Marques


Milena Raisa Leal da Silva

RESUMO: Este ensaio acadêmico tem como objetivo identificar aspectos do racismo
institucional como uma das manifestações estruturais da violação dos direitos à saúde e
da violência racial contra a população negra. Foram analisadas as características de
fragilidade e desigualdade que suprimem o acesso dos negros à saúde e configuram o
racismo institucional, bem como o marco legal e operacional construído a partir da
PNSIPN e incorporado pelos órgãos de assistência social para institucionalizar culturas
antirracistas que também existem na formação e na formação profissional.

Palavras-Chave: População negra; racismo institucional ; violação de direitos.

1. INTRODUÇÃO:

O racismo institucionalizado e naturalizado em diversas categorias do


cotidiano, ainda hoje, revela as estruturas políticas, sociais e culturais que moldam a
nação brasileira sob as contradições geradas pela população negra escravizada.
Constituímos uma sociedade que tolera e aceita falsamente as diferenças e
diversidades, promovendo o respeito racial e cultural, ao mesmo tempo em que
contradiz as estatísticas e os diferentes exemplos de práticas racistas que insistem em
limitar, reprimir e desvalorizar as pessoas e sua visão de futuro por causa de suas
diferenças raciais.

Dados recentes indicam que 50,7% da população brasileira é negra, isolada


socialmente em espaços urbanos, ocupando áreas periféricas, vivendo em condições
precárias, em situação de desemprego, ou vítimas de trabalho escravo. Estes têm baixa
escolaridade e são mais suscetíveis a diversos tipos de violência, que aumentam a
mortalidade por homicídios, bem como a morbimortalidade por violações por falta de
serviços preventivos e assistenciais no Sistema Único de Saúde (SUS) (INSTITUTO
DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA, 2019). Isso ilustra a forma como o
racismo subjacente no Brasil se expressa: a violência estrutural e simbólica permeia
todas as esferas da vida, reafirmando a crença no mito da supremacia branca que
perpassa instituições, ocupações e estruturas de poder, responsabilizando os negros por
fracassos socioeconômicos historicamente herdados.

Apesar da legislação brasileira reconheça a saúde como um direito universal


independentemente de raça, credo, etc., parece ser um direito alienado, uma vez que a
saúde física e mental dos negros é limitada pelas dificuldades de acesso que esses
indivíduos têm para acessar moradia, saneamento básico, educação, emprego, cultura,

lazer, proteção, etc. A violação de qualquer um desses direitos afeta a saúde,


exacerbando variáveis associadas à doença e à adesão ao tratamento, principalmente
aquelas que podem ser evitadas ou controladas por meio da prevenção.

2. DESENVOLVIMENTO:

2.1. População negra e direito à saúde

Desde o período escravagista brasileiro até a atualidade, é a parcela da


população mais exposta às doenças contagiosas e às condições inabitáveis e insalubres,
bem como vítimas de constante violência física e simbólica (preconceito religioso e
cultural) (CRUZ, 1993).

Em relação ao perfil dos usuários dos SUS, percebe-se que pessoas negras são
maioria, devido às suas condições socioeconômicas. Com exceção dos pobres, os
brancos geralmente tendem a pagar pelos serviços privados de saúde. Os negros são,
portanto, mais vulneráveis à instabilidade nos serviços públicos de saúde, como por
exemplo: longas filas, falta de médicos, falta de materiais.

Assim, as atitudes racistas no Brasil não são um fato isolado/ocasional, mas


constituem um ciclo vicioso que separa as pessoas e as desumaniza ao negar-lhes seus
direitos. As atitudes cotidianas dos profissionais de saúde não materializam programas
nacionais voltados para a indução e institucionalização de práticas democráticas e
humanizadas no SUS, pois se as equipes estiverem eticamente comprometidas com o
cumprimento das normas legais vigentes, alterarão significativamente a relação com os
usuários.

2.2. Criação da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra

Foi por meio da PNSIPN que partes das reivindicações do movimento negro
foram institucionalizadas, a saber, denunciar o racismo institucional e reestruturar o
SUS para combater sistematicamente a discriminação. As ações iniciais implementadas
incluíram: a) formação de recursos humanos; b) construção de vontade política para
criminalizar o racismo, estabelecimento e implementação de mecanismos de controle e
punição para casos de recusa de atendimento e defesa dos direitos humanos nas
unidades de saúde.

No entanto, até 2019 apenas 57 municípios brasileiros a implementaram, e a


maioria dos profissionais de saúde nem sabe que ela existe, demonstrando o descaso
dos governantes. O Código de Ética dos Assistentes Sociais de 1993 promove atitudes
antirracistas e orienta os assistentes sociais em suas ações nas diversas profissões em

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prol do antirracismo. No entanto, a abordagem ainda é tímida. Isso é agravado pela


falta de qualificação sobre o tema, empobrecendo a ação socioeducativa que deveria
pautar o racismo.

3. CONCLUSÃO:

Em suma, as adversidades que os negros enfrentam têm motivos concretos e


impactantes em suas vidas. A violência racial é demanda para políticas que acolham e
assistam os indivíduos que tiveram seus direitos violados. Como, por exemplo, a
produção de material didático-informativo para ilustrar e potencializar o processo
educativo em torno de temas relevantes à promoção da saúde e para a conscientização
e divulgação de ações de enfrentamento do racismo institucional, promover cursos de
capacitações aos profissionais da saúde, para compreender que o racismo nos
atravessa, permeia nosso subconsciente e se manifesta nas atitudes discriminatórias
cotidianas, mobilizações político-organizativo para fortalecer os movimentos negros,
entre outros.

REFERÊNCIAS

ASSIS, J. F. de. Interseccionalidade, racismo institucional e direitos humanos:


compreensões à violência obstétrica. Revista Serviço Social e Sociedade, São Paulo,
n. 133, p. 547-565, dez. 2018. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/sssoc/
n133/0101-6628-sssoc-133-0547.pdf Acesso: 12 jun. 2019.

BRASIL. [Ministério da Saúde]. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. Departamento de


Apoio à Gestão Participativa e ao Controle Social. Política Nacional de Saúde Integral da
População Negra: uma política para o SUS 3. ed. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2017.

CERQUEIRA, D. R. C.; MOURA, R. L. de. Vidas Perdidas e Racismo no Brasil


Brasília: Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas, 2013. (Nota técnica nº 10).

CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL. CFESS Manifesta: Dia


Nacional da Consciência Negra. Brasília (DF), 20 nov. 2017. Disponível em:
http://www.cfess.org.br/arquivos/2017-CfessManifesta-ConscienciaNegra.pdf
Acesso: 20 set. 2019.

CRUZ, I. C. F. da; MONTEIRO, M. do C. S. Racismo Institucional. In: CRUZ, I.


C. F. da; MONTEIRO, M. do C. S. Unidade 1: Contextualizando a Saúde da
População Negra. Ed. Universidade Aberta do SUS (UMA-SUS), 2016.
Disponível em: https://ares.unasus.gov.br/acervo/handle/ARES/2981 Acesso: 28
set. 2019.

SILVA, H. C. B. População Negra e Racismo Institucional: desafios à concretização


do direito à saúde e demandas para o Serviço Social. 2019. Trabalho de Conclusão
de Curso em Serviço Social, Universidade Federal de Alagoas, Faculdade de
Serviço Social, Maceió, 2019.

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