Racismo e Doenças Crônicas e Evitáveis

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Universidade Federal do Sul da Bahia – UFSB

Campus Paulo Freire/ Teixeira de Freitas-BA

Psicologia e Relações étnico-raciais

Racismo e Doenças Crônicas e Evitáveis: Principais


achados

Iasmim Santana; Isis Silva; Késsia Alicia;


Maithê Maria; Milena da Silva; Vyvian Andrade

Teixeira de Freitas-Bahia

2023
Racializando o olhar (sociológico) sobre a saúde ambiental em
saneamento da população negra: um continuum colonial chamado
racismo ambiental.

O artigo vai se fundamentar na premissa de que o problema das doenças


crônicas e evitáveis serem mais presentes na população negra é devido ao
racismo institucional, que vai interferir em várias áreas da vida da pessoa negra,
inclusive a saúde e o ambiente. O racismo institucional é um determinante social
da saúde que desempenha um papel significativo nas disparidades em saúde
entre grupos raciais e étnicos. Ele se refere a políticas, práticas e estruturas
institucionais que perpetuam a discriminação racial de forma sistemática, de
modo que impossibilita que pessoas negras marginalizadas, sejam privadas do
acesso digno à saúde.

Instituições de saúde podem perpetuar disparidades ao fornecer acesso desigual


a serviços de saúde com base na raça ou etnia. Isso irá resultar em menor
qualidade dos cuidados e menor utilização de serviços preventivos de doenças
crônicas e de cuidados com esse paciente. Ademais, comunidades de minorias
étnicas e raciais foram estrategicamente alocadas nas extremidades das
cidades, em favelas, cortiços, o que se verifica até a atualidade, e, portanto,
muitas vezes enfrentam condições de vida precárias, incluindo habitação
superlotada e insalubre. Isso pode aumentar a exposição a doenças infecciosas
e problemas de saúde ambiental.

O termo racismo ambiental então vai ser trazido no artigo para explicar toda essa
problemática envolvendo a precariedade sanitária, e insegurança territorial
referente a essa insalubridade que causa danos diretos à comunidade negra. O
racismo ambiental é uma manifestação do racismo sistêmico assim dizendo.
Envolve a colocação desproporcional de comunidades racialmente
discriminadas em ambientes poluídos, perigosos ou prejudiciais à saúde, bem
como a negação de acesso a recursos naturais, como água limpa, ar puro e
áreas verdes.

O autor vai fazer um paralelo com a precariedade herdada da época do Brasil


Colônia. No contexto colonial, as condições de higiene e saúde da população
negra foram severamente afetadas devido ao sistema de colonização. Isso
resultou em doenças relacionadas ao saneamento ambiental inadequado,
incluindo doenças relacionadas ao abastecimento de água e saneamento.
Durante o tráfico negreiro, as condições precárias de higiene e saneamento nos
navios tumbeiros resultaram em uma alta mortalidade, principalmente devido à
disenteria (cólera). Ainda, como ele chama a atenção: “Além disso, muitos
negros escravizados moravam e trabalhavam em locais onde proliferavam
mosquitos transmissores de malária, como pântanos, áreas de alagamento das
chuvas, áreas de despejo de lixo e dejetos, depósitos, cemitérios, hospitais e
prisões. ” Ou seja, o racismo herdado de que pessoas negras não devem ter
direito à saúde e mínima dignidade de atendimento ainda é muito forte por conta
desse passado racista.

Racismo Institucional: Um fator determinante das iniquidades em saúde.


Com base nesse artigo, percebe-se que há uma escassez sobre a discussão
dessa problemática, em que o racismo institucional se perpetua de maneira
explícita no campo da saúde, deixando em evidência as desigualdades sofridas
na realidade brasileira por grande parte da população, que são representados
por negros e pardos. Ainda que essas desigualdades também ocorram por conta
de questões socioeconômicas, é claro para todos que essa parcela da população
tem os menores ganhos, e então o racismo institucional continua sendo um fator
de suma importância nas desigualdades na promoção do cuidado (Brasil apud
Brito 2021). Pelo fator do racismo ser estrutural, acaba provocando invisibilidade
e dificulta mudanças no campo da saúde. Mesmo com ações governamentais,
ainda há muitas desvantagens de acesso à saúde pública pela população negra
e parda (Mesquita apud Brito, 2021).

Então, dessa forma, o racismo institucional realiza um bloqueio na promoção da


igualdade, ao que influencia todo o processo (saúde – doença – cuidado –
morte), cooperando com um quadro muito frequente de morbimortalidade por
doenças evitáveis e impulsiona a violação dos direitos humanos para essa
parcela da população já muito afetada cotidianamente (Jesus apud Brito, 2021).
De acordo com a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra
(PNSIPN), criada em 2006 como um instrumento do Sistema único de Saúde
(SUS) para combater o racismo e promover o fornecimento igualitário do
atendimento à saúde pública para a população negra, em 2017 trouxe que a
população negra está mais propícia para adquirir doenças evitáveis, podendo
ser por exemplo a diabetes tipo II e hipertensão arterial (Brito, 2021).

As desigualdades sociais vividas no âmbito da saúde pela população negra


também estão ligadas com outras desvantagens vividas por esses indivíduos
como condições de extrema pobreza, acesso precário ao saneamento básico no
local onde vivem e baixo índice de desenvolvimento humano (Jesus apud Brito,
2021). Todos esses fatores corroboram com o que ocorre dentro dos campos de
serviços a saúde restringindo o acesso à indivíduos negros, as diferenças
marcantes na forma de cuidar destas pessoas, a qualidade da atenção fornecida
pelos profissionais, e até mesmo o despreparo e falta de inclusão de questões
raciais na educação destes profissionais. Principalmente com doenças que
afetam majoritariamente a população negra, como a anemia falciforme, as
condições em que estas pessoas são, e quando são, atendidas é um fator que
se deve ter muita atenção e cuidado (Brito, 2021).

Nota-se também que é muito difícil perceber, analisar e trabalhar questões e


situações de racismo institucional, por conta do “mito da democracia racial” que
é muito perpetuado no Brasil, construindo assim uma realidade utópica em que
socialmente a mestiçagem vivenciada no país sucedeu uma igualdade pelas
raças, dificultando as pessoas de enxergar os problemas da realidade que a
população negra vivencia na saúde pública (Rosa Apud Brito, 2021).
Compreende-se então que os impactos que são causados pelo racismo
institucional causam danos irreversíveis na saúde da população negra e parda,
tanto por doenças evitáveis, quanto por outros fatores em que o racismo colabora
com a discriminação e perpetuação de diversos estereótipos negativos ligados
a pessoas negras (Brito, 2021).
Acessibilidade da População Negra ao Cuidado Oncológico no Brasil:
Revisão Integrativa. Revista Brasileira de Cancerologia

O trabalho "Acessibilidade da População Negra ao Cuidado Oncológico no


Brasil: Revisão Integrativa" publicado na Revista Brasileira de Cancerologia em
2020, apresenta uma análise aprofundada da acessibilidade da população negra
ao cuidado oncológico no contexto brasileiro. A pesquisa é baseada em uma
revisão integrativa que engloba diversos estudos, análises de políticas de saúde
e dados demográficos relacionados ao câncer e às disparidades raciais no Brasil.

Apesar de ser fundamentado nos princípios da universalidade, o SUS (Sistema


Único de Saúde) não contempla a todos plenamente, mesmo que seu acesso
seja gratuito. A acessibilidade à saúde parte da disponibilidade dos serviços de
saúde e da capacidade real de utilizá-los, porém fatores socioeconômicos,
geográficos, culturais e políticos podem criar barreiras para o acesso. Ainda que
a maior parte da população brasileira se autodeclare como preta ou parda, a
discriminação racial e a vulnerabilidade econômica dificultam o acesso aos
serviços de atenção oncológica e à saúde no geral.

O racismo institucional manifesta-se na dificuldade de reconhecer determinantes


sociais das condições de saúde, falta de coleta de dados desagregados e
alocação desigual de recursos. Além disso, os fatores determinantes de
acessibilidade à saúde, relacionados diretamente aos profissionais da área
também são pouco abordados ou discutidos de forma superficial. Para enfrentar
essas desigualdades, o Conselho Nacional de Saúde aprovou em 2006 a Política
Nacional de Atenção Integral à Saúde da População Negra (PnSiPn),
reconhecendo o impacto do racismo na saúde.

Os fatores de iniquidade relacionados à raça, idade, renda e educação são


destacados em estudos que se concentram em quatro sítios tumorais: mama,
colo do útero, próstata e cavidade oral. As pesquisas indicam que a raça tem um
impacto significativo nas disparidades no acesso ao cuidado, mas também
ressaltam a necessidade de mais estudos para uma compreensão abrangente
dessas questões. No contexto do câncer, o estudo identificou um total de 203
trabalhos, dos quais 13 foram incluídos para análise. É importante observar que
questões relacionadas a recursos tecnológicos, cultura e religião não foram
abordadas como barreiras nos estudos analisados, apesar de também serem
determinantes estruturais de desigualdades em saúde.

Saúde da população negra brasileira no contexto das doenças crônicas:


uma reflexão para políticas públicas.

O artigo “Saúde da população negra brasileira no contexto das doenças crônicas:


uma reflexão para políticas públicas. ” Apresenta e discorre sobre vários pontos
sobre como é o tratamento, a desigualdade e o descaso em relação a população
negra e a vulneráveis, levando em conta as doenças crônicas que é acometido
nesse grupo, e nesse contexto refletir sobre as políticas públicas perante essa
população.

Diante desses dilemas que a população negra enfrenta de desigualdade e


negligência, o artigo discorre e aponta no artigo algumas atitudes e posturas que
foram tomadas enquanto políticas públicas. No caso do SUS é a Política
Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN), tem como propósito,
expor e reconhecer o racismo e tudo que ele acarreta. Mesmo após anos do fim
da escravidão, é perceptível como toda a carga histórica de anos de escravidão
e também de desprezo enquanto a essa população, até hoje é refletido em
diversos ambientes.

Algumas das principais doenças crônicas acometidas e de maior ocorrência


no povo preto são hipertensão arterial, diabetes mellitus, doenças falciformes,
HIV/AIDS, sífilis gestacional, hepatites virais e tuberculose, anemia falciforme,
deficiência de glicose-6- fosfato desidrogenase e câncer de mama na população
negra. Doenças essas que vão desde doenças infecciosas, doenças crônico-
degenerativas e doenças evitáveis, doenças genéticas e hereditárias.

A metodologia foi uma revisão bibliográfica a partir dos principais meios de


pesquisa acadêmica nacional e internacional, “U. S. National Library of Medicine
(PubMed), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde
(LILACS), e na biblioteca Scientific Electronic Library Online (SciELO) ”. A
pesquisa foi pelas palavras chaves e de interesse deste artigo, elas sendo
a “Saúde das Minorias Étnicas (Health of Ethnic Minorities), Doença Crônica
(Chronic Disease) e Política Pública (Public Policy), e o termo alternativo Saúde
da População Negra (Health of the Black Population). ”

Dos resultados e discussões apresentado no artigo foram apresentados três


temas: Indicadores sociais na cronicidade de doenças na população negra,
Indicadores de saúde da população negra frente às doenças crônicas e Políticas
públicas para a saúde da população negra na cronicidade de doenças.

É apontado pelo primeiro tema, a questão de que a população é base da


pirâmide social, o grupo que menos tem suporte, e piores condições
socioeconômicas, e devido a isso e a demais outros fatores genéticos e
históricos culturais, são o grupo que está mais propenso apresentar doenças
crônicas. Portanto é necessária uma maior atenção e ampliar o
acompanhamento desse grupo.

O segundo tema sobre Políticas públicas para a saúde da população negra na


cronicidade de doenças, apresenta mais o quantitativo das doenças, agravos e
óbitos em relação a regiões e diversas populações, questões sociodemográficas
e socioeconômicas é levantado a questão de muitos não fazerem os exames de
rotina, para uma melhor qualidade de vida.

No último tema apresentado sobre a “Políticas públicas para a saúde da


população negra na cronicidade de doenças” é discorrido sobre a postura das
políticas públicas diante a situação dessa população vulnerável, as medidas
tomadas muitas das vezes são insuficientes e precárias e com poucos avanços.

Escravismo, racismo e exclusão são fatores de risco da hipertensão


arterial em negros?

O presente artigo, “Escravismo, racismo e exclusão são fatores de hipertensão


arterial em negros? ”, publicado por Isabel Cristina Fonseca da Cruz, apresenta
uma análise sobre a história da população negra no Brasil, destacando os
tempos de escravidão e como os problemas vividos na época trouxeram riscos
para a saúde dos escravizados, causando hipertensão arterial através da
alimentação.

Segundos estudos de literatura americana, a hipertensão arterial essencial


(HAE) é proporcionalmente mais frequente em indivíduos negros em relação aos
brancos. Isso se dá ao fato de que, durante o período escravagista, os mesmos
eram sujeitados a trabalhos de alto risco, restrição de alimentação e cuidados
humanitários básicos.

Segundo SCARANO (1994), no século XVIII, na região de Minas gerais, existia


um número considerável de pessoas negras escravizadas denominadas de
incapazes por possuírem deficiências físicas, que em sua grande maioria podem
ter sido consequências da hipertensão, resultando em cegueira e insuficiência
cardíaca.

Outro fator de risco evidenciado pela pesquisa do artigo foi a condição


alimentícia. Alimentos com proteínas e fibras eram restritos, o que favorecia o
surgimento de doenças crônico-degenerativas, como diabetes. O consumo
excessivo de aguardente apresentava diversos riscos para a saúde, tais como
doenças hepáticas, vício em álcool, danos ao sistema nervoso e aumento da
vulnerabilidade e acidentes no trabalho. Além disso, a alimentação não atendia
em quantidades necessárias corporais de crianças, homens e mulheres.

Como resultado, esse hábito de consumo de alimentos ricos em gordura


saturada contribuiu para o aumento da incidência de hipertensão na população.
É importante ressaltar que, mesmo após a abolição da escravidão e a melhora
das condições de vida e alimentação, muitas praticas foram mantidas por
questões culturais ou pela falta de acesso a alimentos mais saudáveis.

Em síntese, ao analisar os dados obtidos pelo trabalho de JARDIM et al. (1992),


é de suma importância destacar que as condições em que viviam a população
negra sequestrada da África durante o período colonial e mantida com
exploração são fatores patogênicos não só da hipertensão arterial, mas também
de outras doenças crônicas.

Referências Bibliográficas

ALVES, JOSÉ GERFESON et al. SAÚDE DA POPULAÇÃO NEGRA


BRASILEIRA NO CONTEXTO DAS DOENÇAS CRÔNICAS: UMA REFLEXÃO
PARA POLÍTICAS PÚBLICAS. Revista Enfermagem Atual In Derme, v. 97, n.
2, 2023.

BRITO, K. F. O; FEITOZA, H. F. F. Racismo Institucional: Um fator determinante


das iniquidades em saúde. Rev.Multi.Sert. v.03, n.2, p. 192-202, Abr-Jun, 2021.

CRUZ, I. C. F. Escravismo, racismo e exclusão são fatores de risco da


hipertensão arterial em negros? BIS. Boletim do Instituto de Saúde, São Paulo,
n. 31, p. 23–26, 2003. Disponível em:
https://periodicos.saude.sp.gov.br/bis/article/view/38033.

JESUS, V. Racializando o olhar (sociológico) sobre a saúde ambiental em


saneamento da população negra: um continuum colonial chamado racismo
ambiental. Saúde e Sociedade,São Paulo, v.29, n.2, e180519, 2020.

SANTOS PAULISTA, J.; GONÇALVES ASSUNÇÃO, P.; LOPES TAVARES DE


LIMA, F. Acessibilidade da População Negra ao Cuidado Oncológico no
Brasil: Revisão Integrativa. Revista Brasileira de Cancerologia, [S. l.], v. 65,
n. 4, p. e–06453, 2020. DOI: 10.32635/2176-9745.RBC.2019v65n4.453.
Disponível em: https://rbc.inca.gov.br/index.php/revista/article/view/453. Acesso
em: 26 out. 2023.

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