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EIXO 4: PSICOLOGIA E A ÁREA EM FOCO ...................................................................... 12
9:
:5
EIXO 5: ATUAÇÃO DA(O) PSICÓLOGA(O) NA DESCONSTRUÇÃO DO RACISMO E
00
PROMOÇÃO DA IGUALDADE ........................................................................................... 14
1
02
8) CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. REFERÊNCIAS TÉCNICAS PARA A
/2
12
ATUAÇÃO DE PSICÓLOGAS(OS) EM VARAS DE FAMÍLIA. BRASÍLIA: CFP, 2019.
6/
................................................................................................................................................. 16
-1
DIMENSÃO ÉTICO-POLÍTICA DA ÁREA EM FOCO ...................................................................... 16
om
ORIGEM DA PSICOLOGIA JURÍDICA E INSERÇÃO DOS PROFISSIONAIS NO SISTEMA JURÍDICO 17
l.c
A ATUAÇÃO DA PSICOLOGIA NAS AÇÕES JUDICIAIS DE FAMÍLIA ............................................ 20
ai
FORMAÇÃO PARA ATUAÇÃO E GESTÃO DO TRABALHO ........................................................... 30
gm
r@
12) GUIA OPERACIONAL DE ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA SEXUAL
le
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Aula 04
7) CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Relações Raciais:
Referências Técnicas para atuação de psicólogas/os.
Brasília: CFP, 2017.
Disponível em < https://site.cfp.org.br/wp-
content/uploads/2017/09/relacoes_raciais_baixa.pdf>
Essa obra foi publicada em 2017. É uma obra prima, mas como tornar isso
concursável? É o que veremos agora.
24
Baixe o pdf (é gratuito), leia todo e volte para os pontos principais
9:
apresentados neste pdf e retrabalhados no vídeo.
:5
00
1
02
ATENÇÃO: DISPA-SE DE TODO PRECONCEITO OU JULGAMENTOS E
/2
12
CAPTE O QUE TEM DE BEM NESTE TEXTO PARA O SEU CONCURSO (E PARA
6/
A SUA VIDA)
-1
om
l.c
Objetivo do documento
ai
Explicitar a produção de teorias e que contribuam com a superação do
gm
r@
racismo, do preconceito e das diferentes formas discriminação
le
el
ez
O que é o Racismo?
lin
INTRODUÇÃO
-3
za
e indígenas
de
ra
Essa primeira definição sobre racismo pode ser usada como base para, de
forma geral, também pensarmos o sexismo e o “classismo”. A diferença é que, em
vez de se pautar na crença de que há raças superiores e inferiores, o sexismo
fundamenta-se no pressuposto ideológico de que há uma identidade de gênero
superior, a do homem heterossexual, e que as demais são inferiores, o que inclui as
mulheres, lésbicas, gays, transexuais, travestis, intersexos, queers, dentre outras; por
sua vez, o “classismo” ou a discriminação de classe tem como lastro a crença de que
em qualquer âmbito da vida os ricos são superiores aos pobres.
Voltando à discussão sobre racismo, naquela escala hierárquica, e em relação
aos diferentes âmbitos da vida, ao grupo racial negro (preto e pardo)
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historicamente tem sido atribuído os lugares mais desqualificados e, ao grupo racial
branco, o topo da hierarquia. Esse escalonamento marca suas identidades e seus
modos de vida, pois, se o topo, portanto, o ideal, está associado à população branca,
ela tem maior probabilidade de constituir-se subjetivamente de forma afirmativa, já
a população negra é comumente assolada por uma luta constante e, às vezes,
inglória, contra o sentimento de inferioridade e, junto com ele, o de culpa por não
corresponder àquele suposto ideal, bem como pelo sentimento de angústia por
persistentemente passar por situações de opressão. Sobre esse aspecto, Sales, um
dos entrevistados de Neusa Souza, mencionou: “Eu sinto o problema racial como uma
24
ferida. É uma coisa que penso e sinto todo tempo. É um negócio que não cicatriza
9:
nunca”
:5
00
[...] há uma representação hegemônica enganosamente positiva quanto à
1
sexualidade de negros e negras, como se fossem os mais potentes. Todavia, trata-se
02
/2
de um estereótipo que aprisiona o(a) negro(a) no campo da sexualidade, do corpo, do
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biológico e propaga a imagem de que homens negros são tarados e, por isso,
6/
-1
violentos, e as mulheres negras prostitutas. Vê-se que, mesmo naquilo que,
om
aparentemente, poderia parecer uma valorização, há demérito, há discriminação.
l.c
[...]
ai
gm
Estereótipos são generalizações – positivas ou negativas –
r@
Negritude, 2008).
e
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Al
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Não preciso educar meus filhos para estarem cientes do racismo
sistêmico para a sua própria proteção física diária.
Eu tenho bastante certeza de que, se peço para falar com a “pessoa
responsável”, vou encontrar uma pessoa da minha raça.
Posso voltar para casa da maioria das reuniões das organizações às
quais pertenço e sentir-me mais ou menos conectada, em vez de
isolada, fora de lugar, ser demais, não ouvida, mantida à distância,
ou ser temida.
Posso me preocupar com racismo sem ser vista como
autointeressada ou interesseira. Posso escolher lugares públicos sem
24
ter medo de que pessoas de minha raça não possam entrar ou vão
9:
:5
ser maltratadas nos lugares que escolhi.
00
Posso ter certeza de que, se precisar de assistência jurídica ou
1
02
médica, minha raça não irá agir contra mim
/2
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6/
EIXO 1: DIMENSÃO HISTÓRICA, CONCEITUAL, IDEOLÓGICO-
-1
om
POLÍTICA DA TEMÁTICA RACIAL.
l.c
O Brasil, última nação das Américas a abolir a escravização, foi o maior país
ai
gm
escravista dos tempos modernos, sendo que o tráfico de escravizados para esta nação
r@
subsaariana.
ez
[...]
lin
-a
e as negras que, desde sempre, atuaram na luta pela liberdade. Inclusive, segundo
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-3
Abolicionista.
u
So
[...]
de
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mais do que outros; para os poligenistas, a espécie humana se dividiria em
subespécies biologicamente diferentes, em raças com origens distintas, sendo que
haveria aquelas exclusivamente superiores e outras invariavelmente inferiores
(Schwarcz, 1993; 1996).
No Brasil, Sílvio Romero foi um dos principais defensores da primeira
concepção [monogenista], acreditava na purificação racial do país por meio da
miscigenação entre negros e brancos, notadamente, italianos e alemães. Postulava
que, em função da seleção natural, em um futuro próximo a nação seria composta
basicamente por brancos, ou seja, por civilizados (Munanga, 2004). Raimundo Nina
24
Rodrigues (1933/2008) foi representante do repúdio à miscigenação. Para ele, o
9:
mestiço não deixaria de ser um degenerado, já que o negro (miscigenado ou não) era
:5
00
inegável e invariavelmente inferior. Ele, assim como, Afrânio Peixoto e Arthur Ramos
1
(membros da Escola Nina Rodrigues) foram alguns dos principais pensadores do
02
/2
ideário eugenista e higienista aplicado no Brasil no século XIX e primeira metade do
12
século XX.
6/
-1
[...]
om
Ou seja, a raça no imaginário do racista não é exclusivamente um grupo
l.c
definido pelos traços físicos. A raça na cabeça dele é um grupo social
ai
gm
com traços culturais, linguísticos, religiosos etc. que ele considera
r@
[...]
ra
[...]
in
Al
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grupo, por exemplo, um mito, uma língua, uma religião. Logo, grupos étnicos são
grupos específicos.
[...]
Como não há nenhuma construção sociocultural que unifique o grupo dos
brancos, nem o grupo dos negros ou dos indígenas, não podemos falar em etnia
branca, ou negra ou indígena... O que há em comum entre eles é a ideia construída
socialmente de corpo considerado branco, negro, indígena ou oriental, ou seja, a raça
e as vivências de privilégio de um lado e de exploração do outro. A raça não pressupõe
contato nem união, ela direciona o olhar, é pela percepção que os sujeitos se
24
reconhecem como semelhantes ou diferentes.
9:
:5
00
Entendemos que a discriminação étnica é um desdobramento da
1
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discriminação racial (e não o contrário). Quando expressividades culturais
/2
e religiosas de negros e indígenas são debeladas, elas são em função do
12
6/
racismo (além da discriminação de classe), já que o racismo implica a
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continuidade entre corpo e mente e, por extensão, cultura. Por assim dizer,
om
não há discriminação étnica que não seja também discriminação racial.
l.c
ai
[...]
gm
r@
fenotípicos.
ez
lin
[...]
-a
formado pelos mestiços. Nesse caso, o pardo pode ser visto como a negação dos
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considera-se pardo aquele que tem ascendência preta miscigenada com um dos
-3
outros grupos raciais, é por isso que o Movimento Negro, pesquisadores da área e
za
Ciências Sociais (Flacso) Brasil, consideram negro uma categoria política composta
ra
[...]
rP
vistas como tendo algo a mais, um diferencial. [...] “Ser branco exige pele clara, feições
e
europeias, cabelo liso; ser branco no Brasil é uma função social e implica
in
Al
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um(a) negro(a) em destaque maior do que um(a) branco(a) não representa
desmantelamento do racismo, pois, ele (o racismo) não diz respeito apenas a uma
experiência singular e afetiva de uma pessoa em relação à outra, trata-se de um
fenômeno que ocorre há longa data e que é concernente à identidade grupal racial.
Igualmente, o conceito de racismo não contempla a possibilidade
de uma pessoa negra ser racista contra outro indivíduo negro, mesmo
considerando que haja no Brasil uma variação significativa no matiz da cor
da pele dos negros (dos mais escuros aos mais claros), do ponto de vista
histórico e conceitual, não é possível considerar que os mais claros, por
24
exemplo, oprimam os mais escuros.
9:
:5
[...]
00
Escalonamento dentro do grupo racial branco
1
02
A partir de suas pesquisas sobre branquitude, isso é, acerca das
/2
12
representações que o(a) branco(a) tem sobre ser branco(a), Schucman (2012, 2014)
6/
salienta que, dentro do grupo racial branco, há também hierarquizações, as quais
-1
foram alocadas pela autora em três grupos, são eles: o dos branquíssimos, dos
om
brancos e dos encardidos. Trata-se de uma graduação fruto do entrecruzamento das
l.c
ai
categorias de raça e de classe, quanto mais ariano e rico, branquíssimo; quanto mais
gm
pobre e branco miscigenado, encardido.
r@
[...]
le
el
[...]
98
época, em função das lutas dos povos negros para aniquilar o sistema escravista, a
-3
elite fez uso de diferentes artifícios para manter o escravismo, entre eles, o
za
uma hierarquização, sendo que as mulheres eram preferidas aos homens, os pardos
ra
aos pretos, os nascidos no Brasil aos africanos, os escravizados urbanos aos das
ei
er
regiões rurais (Marquese, 2006). Em outras palavras: está enraizado no Brasil que é
rP
lle
[...]
e
in
[...]
1.3 Branqueamento e Mito da democracia racial
Nas últimas décadas do escravismo, numa tentativa de diminuir o número de
negros no país e de torná-lo mais branco, foram instituídas políticas imigratórias que
incentivavam a vinda principalmente de alemães e italianos. Elas foram mais intensas
entre 1880 e 1920, no entanto, uma “política mais consistente passou a vigorar em
1850, com a promulgação da Lei 601, que regulamentou a concessão de terras
públicas e tornou mais fácil a expedição de títulos de propriedade para estrangeiros
– um ato coincidente com a abolição do tráfico de escravos” (Seyferth, 1996, p. 44).
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Por assim dizer, essa foi a primeira política pública focal estabelecida no Brasil, a qual,
como é notório, beneficiava sobremaneira os imigrantes.
Essa população imigrante assumiu os postos de trabalho mais valorizados,
referentes à indústria fabril incipiente e à agricultura cafeeira. Entretanto, segundo
Kowarick (1994), não havia necessidade de mão de obra externa especializada, pois,
as atividades que realizaram não exigiam qualificação profissional, já que as fábricas
operavam com máquinas que parcializavam os processos produtivos e poucos eram
os imigrantes que possuíam experiência industrial prévia.
[...]
24
Especialmente a partir da década de 1930, o discurso ideológico do
9:
embranquecimento (e, com ele, a crença de que o povo negro, por inferioridade
:5
00
biológica, e em função da miscigenação, seria suprimido) foi, em maior ou menor
1
grau, rearranjado pelo da democracia racial, cujo principal mentor intelectual foi
02
/2
Gilberto Freyre.
12
Desde então, investe-se na imagem oficial do país como um paraíso racial e na
6/
-1
recriação de uma história em que a miscigenação apareceria associada a uma
om
herança portuguesa e a sua suposta tolerância racial manifesta num modelo
l.c
escravocrata mais brando, ocultando, assim, a violência que foi o processo de
ai
gm
escravização no Brasil (Schwarcz, 2001; Domingos, 2005). Aliás, a abolição da
r@
escravatura no Brasil foi transmitida historicamente não como fruto da luta pela
le
el
liberdade travada pelos negros(as), nem mesmo como resultado da pressão imposta
ez
pelo sistema capitalista (sobretudo o inglês) que almejava cada vez mais
lin
-a
de resistência negra.
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a brancura. No tocante ao mito da democracia racial, a existência
fenotípica do negro poderia estar em alguma medida assegurada desde
que pela sua negação linguística (preto e pardo igual a “moreno”) e
também fenotípica (preto/pardo mais branco igual à descendência
progressivamente “morena”). É possível considerar que tal mito é um
desdobramento da ideologia do branqueamento. Como rearranjo é mais
plausível do que ela, mesmo porque dá algum lugar para o negro e vazão
para relações de proximidades, e não apenas de desprezo ao suposto
degenerado. Assim, age como redutor de conflitos. Supostamente, esse
24
deve ser um dos motivos para que se mantenha atuante ainda hoje. De
9:
toda maneira, nessas duas situações há um ataque ao negro. Logo,
:5
00
nesses casos, a mestiçagem pode ser entendida como uma ação a serviço
1
do racismo.
02
/2
[...]
12
O mito da democracia racial se estabeleceu como uma imposição política:
6/
-1
a proibição social de se falar em racismo. “Ao se tentar falar ou agir contra essa
om
definição pode-se incorrer em custos políticos e sociais elevados. Um desses custos é
l.c
a sempre repetida acusação de se tentar importar um problema que inexiste na
ai
sociedade brasileira” gm
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[...]
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el
INTERPESSOAL E PESSOAL.
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à ação maior, como consequência desta. Em outros termos, às prioridades
e escolhas de gestão que privilegiam ou negligenciam determinados
aspectos, infligindo condições desfavoráveis de vida à população negra e
indígena e/ou corroborando o imaginário social acerca de inferioridade
dessa população, e, na contramão, atua como principal alavanca social para
os(as) brancos(as).
A prática de racismo institucional pode ser considerada a principal
responsável pelas violações de direitos dos grupos raciais subalternizados. Efetivada
em estruturas públicas e privadas do país, essa prática é marcada pelo tratamento
24
diferenciado, desigual. Indica, pois, a falha do Estado em prover assistência
9:
:5
igualitária aos diferentes grupos sociais.
00
[...]
1
02
Como o nome diz, a dimensão do racismo interpessoal versa sobre
/2
12
os processos de desigualdade política com base na raça/cor que ocorrem
6/
entre os sujeitos em interação. Inclui, por exemplo, as relações que
-1
om
acontecem no interior das organizações, as quais envolvem gestores e
l.c
profissionais, profissionais e usuárias(os), entre os próprios profissionais e
ai
gm
entre os próprios usuários; assim como os laços estabelecidos entre
r@
familiares, casais, amigos, colegas ou, quem sabe, entre inimigos. Perpassa,
le
pode ocorrer entre aquele que, do ponto de vista do papel social, ocupa
.1
56
[...]
de
possível delinearmos três efeitos psicossociais do racismo para a vítima. São eles:
rP
sociais para enfrentá-lo. Esse é o caso, por exemplo, daqueles que escolhem lutar
Al
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trauma vivido, o que pode incluir terapia individual, familiar, acesso a políticas
públicas reparadoras etc.
24
vividas pelo brasileiro, a ditadura da era Vargas e a civil militar.
9:
:5
00
Na primeira fase do que hoje em dia chamamos de Movimento Negro –
1
02
que se estendeu da Primeira República ao Estado Novo (1889 a 1937) –, diversas
/2
associações, comunidades, grêmios, clubes negros, jornais escritos por e para
12
6/
negros foram criados. Dentre essas entidades, destacou-se a Frente Negra
-1
Brasileira (FNB). Fundada em 1931, combateu a discriminação racial de diferentes
om
modos, inclusive, criou escolas voltadas especificamente para a população negra.
l.c
Em 1936, tornou-se um partido político de extrema direita. Silenciada pelo governo
ai
Vargas, a FNB perdeu representatividade. gm
r@
civil militar (1945-1964), uma das entidades que se destacou foi a do Teatro
ez
poder negro e a luta pela liberdade dos povos africanos colonizados; o do diálogo
-0
98
[...]
e
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Na década seguinte surgiram, em São Paulo, duas organizações não
governamentais do Movimento Negro decisivas para o direcionamento das
discussões de cunho político-jurídico e psicológico sobre racismo, sexismo e
igualdade racial e de gênero no Brasil. São elas: Centro de Estudos das Relações de
Trabalho e Desigualdades (CEERT), criado em 1990, e Instituto AMMA PSIQUE
NEGRITUDE, instituído em 1995. Ambas desenvolvem projetos locais e nacionais que
primam pela igualdade política.
[...]
Como resultado dessa reflexão, o CFP publicou a Resolução nº18/2002, que
24
estabelece normas de atuação para as(os) psicólogas(os) em relação ao preconceito
9:
e à discriminação racial.
:5
00
[...]
1
Fruto desse processo de discussão, em 2005, foi lançado o terceiro Código de
02
/2
Ética Profissional, o qual tem seus princípios fundamentais baseados na Declaração
12
Universal dos Direitos Humanos (CFP, 2005).
6/
-1
om
EIXO 4: PSICOLOGIA E A ÁREA EM FOCO
l.c
ai
Historicamente, a Psicologia brasileira posicionou-se como cúmplice do
gm
racismo, tendo produzido conhecimento que o legitimasse, validando
r@
discriminatórias, inclusive por tomar por padrão uma realidade que não contempla a
ez
lin
diversidade brasileira.
-a
9
-0
1930, disseminou a ideia de que não todos, mas parte dos negros(as)
u
So
Nesse sentido, vale lembrar que o campo psi, que se estruturou no Brasil
e
in
Al
entre os anos de 1930 e1970 era feito com base na ideia da “carência”, das
crianças “problemas”, das crianças com “dificuldades” de aprendizagem
e/ou emocional”. Como ressaltou Patto (1990), havia um processo de
biopsicologização da sociedade e da educação. A Psicologia era a área
encarregada de detectar a anormalidade psíquica.
[...]
Em função do recorte cronológico, começamos pelo estudo feito por
Alessandro de Oliveira Santos et al (2012), que, dentre outros aspectos, descreve três
momentos do pensamento psicológico brasileiro acerca das relações étnico-raciais:
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o primeiro envolve o final do século XIX e começo do XX e foi marcado pela influência
do pensamento da Escola Nina Rodrigues; o segundo refere-se ao período de 1930 a
1950 e o último iniciou nos anos de 1990 e estende-se até os dias de hoje, cujo marco
tem sido, dentre outros, a publicação de estudos sobre branquitude. Vale ressaltar
que, em relação ao segundo período, foram apresentados autores que estão na base
da Psicologia Social brasileira e que abordaram aspectos das relações raciais, mas
que, no entanto, são pouco conhecidos no cenário acadêmico.
Curiosamente, eles são os principais responsáveis pela organização dos
primeiros cursos de Psicologia Social no Brasil e, consequentemente, pela primeira
24
delimitação do campo da Psicologia Social. São eles: Raul Carlos Briquet (1887-1953);
9:
Donald Pierson (1900-1995); Aniela Meyer Ginsberg (1902-1986); Arthur Ramos de
:5
00
Araújo Pereira (1903- 1949); Virgínia Leone Bicudo (1915-2003); e Dante Moreira Leite
1
(1927-1976). Apesar de terem sido estudos matriciais da área de Psicologia Social,
02
/2
durante um longo período posterior à produção dos autores listados, a Psicologia
12
manteve-se reticente no que tange à temática racial. É preciso salientar, contudo, que
6/
-1
há diferenças nesses estudos quanto ao olhar em relação ao negro, se Ginsberg e
om
Bicudo reconheciam a questão da desigualdade política pela qual a população negra
l.c
passava naquela ocasião, não podemos nos esquecer que, ao contrário, Arthur
ai
gm
Ramos, ao deslocar a questão da raça para a da cultura, fez apenas um rearranjo,
r@
mudou o foco mas não o seu fundamento: ele continuou a propagar um olhar racista
le
el
[...]
lin
-a
[...]
za
Faremos, portanto, um recorte para que, minimamente, o leitor possa ter uma
u
So
(a) GERACIONAL
ra
CRIANÇA/INFÂNCIA
ei
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IDOSOS
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(b) IDENTIDADE
lle
GERACIONAL
Ze
GÊNERO
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(f) ESTÉTICA E MÍDIA
(g) DISCRIMINAÇÃO ENTRE BRASILEIROS E ESTRANGEIROS
(h) CONTRIBUIÇÃO TÉCNICA
24
9:
intenção de discriminar, mas tem impacto diferencial e negativo em
:5
00
membros de um grupo determinado. Por exemplo, práticas informais que
1
dificultam o acesso de empregadas(os) a experiências significativas para
02
/2
ocupação de cargos de comando, bem como poucas oportunidades para
12
6/
participarem de treinamentos de qualidade, gerando menor
-1
competitividade para ascensão a cargos de direção. Nenhuma empresa
om
brasileira declara por escrito: “não aceitamos negras(os) para o cargo de
l.c
ai
chefia”. Mas o resultado é a quase invisibilidade desse segmento nos lugares
gm
de comando das grandes empresas.
r@
do agente. O que interessa são os efeitos de sua ação. Esses efeitos só se verificam
ez
lin
trabalho da empresa.
9
-0
[...]
98
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Aula 04
(d) Quesito raça/cor
Para possibilitar a intervenção, torna-se fundamental conhecer o
panorama e identificar os pontos críticos. Assim, cabe identificar as
ações já desenvolvidas pelos serviços e que podem evidenciar as
desigualdades raciais. Para tanto, é crucial, por exemplo, que o quesito
cor esteja presente nos formulários, fichas cadastrais das(os)
usuárias(os), de modo a poder visualizar o perfil da população
atendida, bem como a forma com que as ações alcançam os diferentes
grupos raciais. Tal como a variável renda, sexo e idade, a raça/cor é
24
também de grande relevância ao conhecimento do perfil da(o)
9:
usuária(o) atendida(o) e suas especificidades, e é elemento essencial
:5
00
ao reconhecimento das desigualdades. Primeiramente, cabe
1
perguntar: o quesito cor faz parte do cadastro da população atendida
02
/2
no serviço? Caso ele não conste nos formulários de rotina, cabe inserí-
12
lo, de modo a possibilitar traçar o perfil da população atendida, suas
6/
-1
demandas e necessidades. Nos casos em que o quesito raça/cor já faz
om
parte dos documentos, cabe verificar cuidadosamente a forma de
l.c
apresentação do quesito e o modo do seu preenchimento, o qual pode
ai
gm
ser verificado através do padrão das respostas obtidas.
r@
le
el
ez
lin
-a
9
-0
98
.1
56
.0
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Psicologia Jurídica atual, cujo impasse situa-se na dicotomia entre a
9:
:5
demanda por perícia e as práticas ditas alternativas à confecção de
00
laudos. Para o autor, numa primeira abordagem, esta crise está ligada a
1
02
contradição entre as demandas dirigidas pelos operadores do direito às(aos)
/2
12
psicólogas(os) e a resposta que esses profissionais buscam construir na
6/
-1
realidade cotidiana das varas de família (BRANDÃO, op. cit., p. 36).
om
l.c
Desse modo, a solicitação de perícias e confecção de laudos para subsidiar as
ai
gm
decisões judiciais, os quesitos elaborados pelos operadores do direito, a necessidade
r@
de assistentes técnicos para acompanhar as ações do perito nos casos, são práticas
le
respaldadas por linhas de força que mantém o poder simbólico do juiz e colocam em
el
ez
Para tanto, existem sete princípios fundamentais dispostos nos Código Ética
u
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[...]
in
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reforça a desigualdade de gênero, abrindo caminho para a construção de outros
modelos que não sejam violentos, mas baseados no afeto e no cuidado. Segundo o
primeiro relatório sobre “A Situação da Paternidade no Brasil” (INSTITUTO
PROMUNDO, 2016) muitos estudos e experiências confirmam o impacto positivo da
paternidade cuidadora na saúde e no desenvolvimento das crianças, na equidade de
gênero, na redução da violência e do machismo, no bem-estar do próprio homem e
na qualidade de seus relacionamentos afetivos.
[...]
Nesta perspectiva, além de distinguir conjugalidade e parentalidade, faz-se
24
necessário avançar nas ações profissionais que possam vir a promover relações
9:
parentais responsáveis e afetivas após a dissolução da relação conjugal — matéria
:5
00
amplamente debatida nestas diretrizes.
1
02
/2
Questões de gênero
12
[...]
6/
-1
Uma adoção acrítica de noções naturalizantes de gênero, sexualidade e
om
subjetividade por parte da Psicologia Jurídica pode criar, manter ou reforçar
l.c
preconceitos, estigmas, estereótipos ou discriminações em relação às pessoas
ai
transexuais e travestis envolvidas em questões judiciais. gm
r@
[...]
le
el
[...]
lin
-a
contribuindo com o seu conhecimento para uma reflexão sobre o preconceito e para
-0
98
a eliminação do racismo.
.1
56
.0
crianças/adolescentes
za
[...]
u
So
Sistema Jurídico
e
in
Al
| 17
Psicologia para o TJSP 2021/22
Professor Alyson Barros
Aula 04
[...]
O desenvolvimento da Psicologia Jurídica no Brasil ocorreu com a
ampliação do campo de atuação e a mudança do paradigma pericial
inicial. Além das avaliações psicológicas, realizadas comumente nos
trabalhos nesta área, as(os) psicólogas(os) ampliaram suas intervenções,
realizando orientação, aconselhamento, encaminhamento, práticas
alternativas de resolução pacífica de conflitos, trabalhos com grupos,
mediação, participação ativa na articulação de políticas públicas de
atendimento em rede, entre outros. A mudança de postura, mais
24
preocupada com os efeitos do trabalho para as pessoas que encaminharam
9:
:5
seus conflitos ao Judiciário, demarca também um avanço nas reflexões
00
sobre a prática cotidiana nas instituições judiciais. Nota-se, assim, que o
1
02
trabalho a ser executado não se restringe à realização de diagnósticos ou às
/2
12
perícias judiciais.
6/
-1
[...]
om
A inserção das(os) psicólogas(os) no Sistema de Justiça tornou-se obrigatória
l.c
a partir do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) que definiu, em 1990, as
ai
gm
funções das equipes interdisciplinares (artigos 150-151) como órgão auxiliar do Juízo
r@
em todos os Tribunais de Justiça do país. O ECA organiza os princípios e diretrizes da
le
[...]
uza
foram criados nos anos 1980, tendo sido o estado de São Paulo pioneiro na
ei
er
| 18
Psicologia para o TJSP 2021/22
Professor Alyson Barros
Aula 04
única vara instalada, o Juiz e a equipe atendem todas as demandas do município, sem
distinção de matéria cível ou criminal. Já nas comarcas de segunda entrância, de
tamanho intermediário, pode haver mais Varas e atender vários municípios. Por fim,
a comarca de terceira entrância ou entrância especial seria aquela que possui cinco
ou mais varas, incluindo os juizados especiais, atendendo a uma população igual ou
superior a cento e trinta mil habitantes. É comum que estejam situadas na capital ou
metrópoles. Nestas comarcas, as(os) psicólogas(os) ficam, em geral, na comarca sede
e se deslocam para atender os demais municípios daquela circunscrição, tanto em
ações relacionadas ao Direito de Família quanto às do Direito da Infância e Juventude.
24
No que diz respeito às atribuições das(os) profissionais concursadas(os),
9:
observa-se que, em algumas localidades, as varas de família não são
:5
00
desmembradas das varas de infância e da juventude. Sendo assim, a(o)
1
psicóloga(o) que atua nessas varas atende tanto a casos relacionados ao Direito da
02
/2
Infância e da Juventude como ao Direito de Família. Em outras comarcas,6 as varas
12
são desmembradas, sendo algo mais frequente nas capitais do que nas cidades do
6/
-1
interior. Existe também a situação em que as(os) psicólogas(os) respondem a
om
demandas dirigidas a centrais nas quais estão lotados, podendo atender varas de
l.c
família, assim como Infância e Juventude, Idoso, Violência doméstica e varas
ai
gm
criminais. Ocorre situação semelhante em municípios com vara única, nas
r@
por apenas um juiz, e a(o) psicóloga(o) que ali atua desenvolve trabalhos no contexto
ez
de essas matérias serem tratadas em uma mesma vara que tem a responsabilidade
.1
56
ação de alimentos, entre outros. Por sua vez, em outros estados, sobretudo nas
za
[...]
rP
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Psicologia para o TJSP 2021/22
Professor Alyson Barros
Aula 04
Estado de São Paulo, ressalvando que muitas(os) profissionais estão próximos da
aposentadoria sem previsão de reposição imediata dos quadros, problema este
também presente em outros estados. Por fim, destaca-se também que, no TJ SP,
as(os) psicólogas(os) que atuam na capital estão subordinadas(os) à chefia técnica e
nas demais comarcas estão subordinadas(os) ao juiz diretor do Fórum.
[...]
O excesso de demanda é uma queixa recorrente das(os) psicólogas(os) nos
tribunais de diversos estados brasileiros, ressalvando que estão ligadas
frequentemente a assuntos geradores de alto grau de estresse e desequilíbrio
24
emocional, com sérios riscos às pessoas envolvidas. Soma-se às queixas mais comuns
9:
a pressão por cumprimento de prazos exíguos, um número excessivo de processos e
:5
00
a expectativa dos magistrados para que a(o) psicóloga(o) investigue e revele a
1
verdade dos fatos. Em algumas comarcas, são feitas demandas equivocadas ao
02
/2
psicóloga(o), seja por não serem atribuições que constam das normas da
12
Corregedoria, seja por serem derivadas de interpretação da lei que interferem na
6/
-1
autonomia técnica. Assim, são feitas demandas, por exemplo, para que a(o)
om
profissional avalie matérias previdenciárias, monitore visitas de familiares, avalie
l.c
casos ligados a direitos adquiridos (por exemplo, autorização para laqueadura,
ai
gm
medicamento, avaliação de capacidade intelectual para inclusão em programas e em
r@
escolas) e situações que seriam competência da área da Saúde; ou, ainda, são
le
el
Conselho de Classe.
20
-3
uza
So
quais demandas serão respondidas, como expõe Brito (2002a, p. 16). Dessa
Ze
| 20
Psicologia para o TJSP 2021/22
Professor Alyson Barros
Aula 04
existiria um modelo de diagnóstico específico a ser aplicado no contexto
jurídico.
[...]
A(O) psicóloga(o) não deve incorrer em julgamento ou, através da avaliação,
ter pretensão de definir um arranjo de guarda ou uma regulamentação de
convivência, cuja atribuição é exclusivamente do juiz. A função da(o) psicóloga(o)
seria lançar luz sobre os fatores psicológicos em jogo, sem responder à questão final
sobre o julgamento: “se o processo judicial é o de guarda, a avaliação psicológica
buscará as potencialidades e as dificuldades de cada um dos genitores à luz do
24
relacionamento e das necessidades especificas do (a) filho (a) em questão” (SHINE,
9:
2017, p. 3).
:5
00
[...]
1
02
No que diz respeito aos processos que chegam às varas de família, percebe-se
/2
que são comumente encaminhados aos Serviços de Psicologia processos
12
6/
relacionados às disputas de guarda de filhos. Nesses, os pais da criança romperam
-1
um relacionamento conjugal e estão em busca de solução jurídica para equacionar e
om
fixar responsabilidades parentais. No presente, de acordo com a legislação em vigor,
l.c
a convivência familiar da criança é um direito que deve ser mantido, procurando-se,
ai
gm
sempre que possível, a equidade entre as responsabilidades parentais. Para isto,
r@
conjugal.
lin
-a
contexto estruturado pela demanda legal. Logo, tal relação opõe dois sujeitos na qual
-0
98
que o primeiro seja intermediário de uma resposta que atenda a sua demanda e que,
20
-3
portanto, o beneficie.
za
[...]
u
So
dos Fatos nos Processos Jurídicos, o emprego de uma mesma técnica não garante
ra
se faz pertinente por se constatar que, hoje, muitos profissionais que atuam em varas
e
Alertou Freud que no atendimento para fins jurídicos, a pessoa pode ter
dificuldade para verbalizar espontaneamente seus pensamentos sem censurá-los. A
censura nesses casos pode ser extrema, em razão das questões que estão sendo
julgadas. São situações nas quais o sujeito tem consciência de que seu relato poderá
influenciar o desfecho de questões pelas quais luta judicialmente. Se no decorrer de
um atendimento terapêutico procura-se entender, junto com o paciente, os motivos
de tais censuras, no atendimento para fins jurídicos, a censura que se apresenta é algo
que o sujeito tem consciência e que, por algum motivo, não deseja expressar, muitas
vezes por medo de possíveis prejuízos ao processo jurídico.
| 21
Psicologia para o TJSP 2021/22
Professor Alyson Barros
Aula 04
[...]
Não é aconselhável, também, que se fixe, a priori, número máximo de
atendimentos para cada caso, mesmo que a equipe esteja sobrecarregada. Estes
devem ocorrer de acordo com a necessidade e com a dinâmica de cada situação.
Recomenda-se que o uso de testes psicológicos, ou qualquer outra intervenção,
ocorra quando o profissional considerar necessário e não com o objetivo único de dar
legitimidade ao laudo ou relatório psicológico.
[...]
Visando à manutenção de um trabalho específico de psicóloga(o), não se
24
considera pertinente incluir nas atribuições desses profissionais o
9:
acompanhamento de diligências para a busca e apreensão de crianças, tarefa que
:5
00
se distancia das funções de um profissional de Psicologia.
1
[...]
02
/2
Recentemente se tem notícias de magistrados que determinam, no âmbito
12
dos atendimentos em varas de família, a realização, por psicólogas(os), de técnica
6/
-1
denominada de Constelações Familiares. Ressalta-se, todavia, que a citada técnica
om
não é reconhecida pelo Conselho Federal de Psicologia, inexistindo normativa
l.c
específica acerca do seu uso. Como determina o Código de Ética Profissional da(o)
ai
Psicóloga(o): gm
r@
[...]
le
el
Psicologia e o de Serviço Social, emitiu o Ofício Circular n.º 17, explicitando que
ei
er
psicólogas(os) e assistentes sociais que atuam nas políticas públicas não devem ser
rP
No Brasil, o casamento pode ser rompido desde 1977, quando foi sancionada
a denominada Lei do Divórcio (Lei n.º 6.515, de 26 dez. 1977). Desfeita a união
conjugal, há possibilidade de serem formados novos casais surgindo, por vezes,
dilemas sobre os cuidados e as atribuições com os filhos da união anterior.
[...]
Ainda de acordo com a Lei do Divórcio, aquele que fosse considerado culpado
pela separação, descumprindo deveres do casamento previstos no Código Civil, não
ficaria com a guarda dos filhos, como disposto no artigo 10 daquele diploma legal.
Entendia o legislador que não poderia ser considerado bom pai, ou boa mãe, quem
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Psicologia para o TJSP 2021/22
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Aula 04
não demonstrou ser bom marido, ou boa esposa. Unia-se, portanto, conjugalidade e
parentalidade, orientação que também vigorou em legislação de outros países.
Um dos motivos para o encaminhamento dos processos na Justiça era a
disputa pela guarda dos filhos. Como naquela época a primazia da guarda era dada à
mulher, em casos de solicitação do pai para permanecer com a guarda dos filhos
havia necessidade de alegar que a guarda materna seria prejudicial às crianças,
muitas vezes atribuindo-se às mães problemas psíquicos. Nessas circunstâncias, era
comum o pedido de realização de perícia, para que se avaliasse a situação, havendo,
por vezes, pedido para que o perito indicasse qual dos pais possuía melhores
24
condições emocionais para permanecer com a guarda dos filhos.
9:
Com o advento da CF e do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a
:5
00
criança e o adolescente passaram a ser reconhecidos como sujeitos de direitos, dada
1
a condição peculiar de pessoa em desenvolvimento, introduzindo o critério subjetivo
02
/2
de ‘melhor interesse’ na definição da guarda.
12
[...]
6/
-1
A partir da segunda metade do século XX, estudos das ciências humanas
om
mostraram que a separação dos cônjuges pode ocorrer pelo fato de estes, ou de um
l.c
deles, não possuir mais vontade de permanecer junto, não cabendo a atribuição de
ai
gm
culpa a um dos membros do casal, uma vez que na conjugalidade, por vezes, a
r@
compreendeu-se que as crianças podem e devem conviver com o pai e com a mãe,
ez
descendentes.
de
[...]
ra
Com a Lei de 2014 o legislador deixa claro que a guarda compartilhada deve
ei
er
cabem avaliações de qual dos pais estaria mais apto a ficar com a guarda. Agora, a
citada lei dispõe sobre “aptos a exercer o poder familiar”, sendo que a suspensão,
extinção ou perda do poder familiar ocorre por ato judicial em casos nos quais existe
grave motivo.
[...]
É digno de nota que a Lei n.º 13.058/2014 não estabelece divisão rígida de convivência
entre a prole e os genitores ou responsáveis. Ela orienta tão somente em seu artigo
1.583, parágrafo 2.º, que, “na guarda compartilhada, o tempo de convívio com os
filhos deve ser dividido de forma equilibrada com a mãe e com o pai, sempre tendo
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Psicologia para o TJSP 2021/22
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Aula 04
em vista as condições fáticas e os interesses dos filhos”. Equilibrada não significa
alternada, como se períodos fossem divididos de forma idêntica entre um e outro.
Apesar do disposto na legislação persevera certa confusão, tanto para jurisdicionados
quanto para operadores do direito, entre o significado de uma guarda compartilhada
e o que seria uma guarda alternada, cuja modalidade sequer existe em nossos códigos
jurídicos. Pode-se recordar que a guarda alternada está inserida na modalidade
monoparental, havendo preocupação de uma igualdade estrita das horas que cada
responsável passa com a criança. Na modalidade de compartilhamento os dois
responsáveis possuem a guarda da criança, com uma convivência equilibrada, ou
24
seja, a mais próxima possível com ambos.
9:
:5
00
Sobre Alienação Parental
1
02
No período entre a promulgação das duas Leis sobre guarda compartilhada foi
/2
promulgada, em 26 de agosto de 2010, a Lei n.º 12.318 que “dispõe sobre a alienação
12
parental e altera o artigo 236 da Lei n. 8069, de 13 de julho de 1990”. Além de definir o
6/
-1
que seria alienação parental, a citada legislação exemplifica algumas formas desse
om
comportamento. Trata-se de texto legal baseado no conceito de síndrome de
l.c
alienação parental (SAP), termo cunhado pelo psiquiatra norte-americano Richard
ai
gm
Gardner nos anos 1980. Para esse autor a SAP seria um distúrbio infantil, que atingiria
r@
uma “lavagem cerebral” ou uma “programação” no filho para que rejeitasse o outro
lin
-a
ser um dos fatores que pode contribuir para que se forme um forte vínculo
za
doentio do guardião, bem como na ideia de que a criança seria portadora de uma
e
in
| 24
Psicologia para o TJSP 2021/22
Professor Alyson Barros
Aula 04
[...]
É preciso cuidado, também, para não haver confusão entre o direito de
crianças serem ouvidas em processos dessa natureza e o fato de se achar que, nos
encaminhamentos jurídicos, deve ser privilegiada a palavra de uma criança. Ouvir
atentamente a criança pode ser uma das possibilidades que a(o) psicóloga(o) tem
para contribuir com uma mudança nos casos conflituosos. Escutá-las, como pessoas
que têm o que dizer sobre seus sentimentos, entendendo o sentido dessa vivência,
pode ressignificar tal experiência para todo o grupo familiar e inverter a lógica do
conflito pela mediação dos interesses em jogo.
24
[...]
9:
Tem-se a compreensão de que ouvir a criança — deixar que ela fale livremente
:5
00
sobre seus sentimentos, anseios e dúvidas — é algo distinto da imposição de escolha.
1
Ouvir a criança seria, no entanto, essa outra escuta que as(os) psicólogas(os) se
02
/2
propõem a fazer e que lhes permite, por vezes, entender o motivo de o filho querer
12
afirmar com quem deseja residir. Hoje, deve ser preocupação das(os) psicólogas(os)
6/
-1
avaliar se mesmo após o rompimento conjugal dos genitores estão sendo
om
proporcionadas à criança a filiação materna e a filiação paterna, garantindo-se,
l.c
assim, seu direito à convivência familiar e a preservação de sua integridade.
ai
gm
r@
(2003), adverte sobre a culpa que a criança pode sentir com o divórcio dos pais,
lin
-a
embora isso não seja motivo de vergonha e, portanto, deva ser falado. É preciso
9
dizer a verdade às crianças e esperar que cada qual reaja de acordo com suas
-0
98
afetivo de suas afirmações, cabendo decodificar o desejo por trás de seus ditos.
56
.0
Para Dolto, “a criança deve sempre ser ouvida — o que de modo algum implica
20
que, depois disso, se deva fazer o que ela pede” (DOLTO, 2003, p. 134).
-3
la, mas que ela também ouça de um terceiro que o divórcio de seus pais foi validado
So
pela justiça, sem que, contudo, eles tenham sido liberados da parentalidade e que,
de
apesar das dificuldades de relacionamento entre seus pais, o fato de eles terem
ra
ei
tido uma descendência constitui um êxito do casal. Outro dito estruturante que
er
rP
também deve ser lembrado é, ainda segundo Dolto, que “a criança não tem o
lle
direito de fazer mal a um genitor a quem ama, porque, ao mesmo tempo, faz mal a
Ze
si mesma” (DOLTO, 2003, p. 60). Dito de outro modo, a criança não tem direito de
e
in
fazer mal a si mesma, não estando livre, portanto, de seus deveres filiais.
Al
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Psicologia para o TJSP 2021/22
Professor Alyson Barros
Aula 04
[...]
Não obstante a recomendação disposta na Resolução 08/2010 para que não
haja a co-presença do perito e assistente técnico, o Código de Processo Civil (CPC),
sancionado em 2015, estabelece no artigo 446 a obrigatoriedade de colaboração do
perito em relação ao assistente técnico: § 2.º O perito deve assegurar aos assistentes
das partes o acesso e o acompanhamento das diligências e dos exames que realizar,
com prévia comunicação, comprovada nos autos, com antecedência mínima de 5
(cinco) dias.
Obviamente o CPC refere-se à perícia de qualquer área, incluídas as ciências
24
exatas, de modo que não poderia discriminar o campo específico da Psicologia. Como
9:
se tem conhecimento, esta última está ligada à subjetividade humana e,
:5
00
considerando-se as variáveis em jogo em um litígio familiar, a presença do assistente
1
técnico nas entrevistas pode ser um fator de constrangimento sobre o periciando e,
02
/2
por consequência, interferir nos resultados da perícia. Com efeito, recomenda-se
12
que as(os) psicólogas(os) lotadas(os) nos Tribunais de Justiça recorram às
6/
-1
administrações superiores para que sejam estabelecidas normativas que
om
protejam o seu trabalho. A exemplo disso, a Corregedora Geral da Justiça do Estado
l.c
do Rio de Janeiro publicou, no ano de 2016, um aviso da (CGJ n.º 1247 / 2016) no Diário
ai
gm
Oficial, determinando que: 4. É vedada a participação do assistente técnico da
r@
2.º do artigo 466 do Código de Processo Civil não inclui a efetiva presença do
20
-3
que dispõe sobre a Política Judiciária Nacional de tratamento adequado dos conflitos
in
Al
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Aula 04
tentativa de solução de um problema, sem a necessidade de uma decisão judicial. O
conciliador ou mediador deve ser capacitado com a função de ajudar os envolvidos
na demanda a encontrarem uma solução juntos, dentro da lei.
Nos Núcleos de Conciliação as partes confiam a um terceiro, estranho ao
processo, a função de auxiliá-las a chegar a um acordo em vários tipos de conflitos:
pensão alimentícia, guarda dos filhos, divórcio; partilha de bens; acidentes de
trânsito; dívidas em bancos; danos morais; demissão do trabalho; questões de
vizinhança etc
[...]
24
Não se trata de impor a solução consensual aos sujeitos envolvidos nos
9:
conflitos, mas de buscar, junto com eles, estratégias que favoreçam a construção de
:5
00
um ambiente propício de escuta, em que possam falar e ouvir o que o outro tem a
1
dizer, bem como promover o redimensionamento das relações familiares, no sentido
02
/2
de contribuir para o restabelecimento de uma relação dialógica entre os indivíduos
12
envolvidos na lide.
6/
-1
[...]
om
Sobre o depoimento especial
l.c
Outra legislação importante a ser destacada é a Lei n.º 13.431, sancionada pelo
ai
gm
Presidente da República em quatro de abril de 2017 e que “estabelece o sistema de
r@
O artigo quarto da referida Lei descreve as formas de violência que a mesma se refere,
lin
-a
parágrafo primeiro do artigo quarto que: “para os efeitos desta Lei, a criança e o
-0
98
sendo implantado em 2003 no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, para inquirir
crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual. Trata-se de técnica que já foi tema
de inúmeros seminários, debates e publicações organizadas pelo Conselho Federal
de Psicologia (CFP, 2009), preocupado com a descaracterização da prática
profissional das(os) psicólogas(os) na realização da inquirição.
No ano de 2010, o Conselho Federal de Psicologia publicou a Resolução n.
10, visando a regulamentar a escuta psicológica de crianças e de adolescentes,
vedando ao psicóloga(o) o papel de inquiridor. Em julho de 2012 a Resolução CFP
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Psicologia para o TJSP 2021/22
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Aula 04
10/2010 foi suspensa em todo o território nacional, por decisão do Juiz da 28.ª
Vara Federal da Seção Judiciária do Rio de Janeiro.
Em 2018, o Conselho Federal de Psicologia emitiu a nota técnica n.
1/2018/CTEC/CG, “Nota Técnica sobre os impactos da Lei n. 13.431/2017 na
Atuação das Psicólogas e Psicólogas(os)”. Neste documento o CFP destaca a
“ausência de debates públicos durante a tramitação do Projeto (PL n. 3.792/2015)
que deu origem à Lei n. 13.431/2017” e o “risco de disseminação da prática do
depoimento especial para além dos casos de violência sexual”, dentre outros. No
que diz respeito ao segundo assunto, há crítica quanto ao fato de a lei estender a
prática do depoimento especial às varas de família nos casos de alegação de
24
alienação parental, situações que necessitariam de um aprofundado estudo
9:
:5
psicossocial.
00
No que abrange a escuta especializada (item 4 da Nota técnica n. 1/2018)
1
02
encontra-se que “a escuta especializada realizada por psicólogas e psicólogas(os)
/2
12
na rede de proteção tem como objetivo o acolhimento, permitir o relato livre, com
6/
perguntas estritamente necessárias para que a proteção e o cuidado sejam
-1
prestados”. Encontra-se também a observação de que a mesma “não se configura
om
como relato para a produção de prova”.
l.c
ai
Em dois de julho de 2019 o Conselho Federal de Psicologia, em sua página
gm
eletrônica, convida psicólogas(os) a participarem de pesquisa organizada pelo
r@
de Justiça junto aos profissionais que atuam no Sistema Único de Assistência Social
lin
-a
e até diretamente para profissionais do SUAS […]”. Ainda de acordo com Nota
56
.0
especial” (p. 6), considerando, dentre outros, “que existem diferenças conceituais
So
[...]
ra
ei
[...]
lle
processos de natureza criminal, medida que os impede de ter contato com sua prole.
Al
Outras vezes, a situação tem início com a suspensão de visitas aos filhos nos juizados
de violência contra a mulher, visando à prevenção de incidentes, sendo as partes
orientadas a buscar a Vara de Família para resolução de questões que envolvem o
divórcio, o que inclui o direito de convivência familiar dos filhos.
[...]
Entende-se que certamente a Lei n.º 11.340/2006 é um dispositivo para
assegurar os direitos das mulheres, contudo, seus desdobramentos junto aos filhos
devem ser constantemente analisados, lembrando-se que conjugalidade e relações
entre pais e filhos são categorias diferenciadas. [...]
| 28
Psicologia para o TJSP 2021/22
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Aula 04
Questões éticas e elaboração de documentos escritos
[...]
Algumas vezes há solicitações para que a(o) profissional psicóloga(o) participe
de audiências na condição de perito ou profissional responsável pelo caso,
diferenciando-se de uma testemunha comum que pode dizer sobre o que viu. Nessa
situação, a(o) psicóloga(o) deve apresentar-se munida(o) do relatório, ou laudo, e do
Código de Ética Profissional, para elucidar dúvidas e responder quesitos a respeito do
estudo realizado. Vale destacar que caso o juiz, em seu livre convencimento, entenda
não suficientemente esclarecido algum ponto, pode designar nova perícia, conforme
24
estabelece artigo 480 do CPC (lei n.º 13.105/2015).
9:
[...]
:5
00
Se a(o) profissional forneceu um parecer técnico sobre o caso, não faz sentido
1
02
ser arrolada(o) como testemunha e, sim como profissional que realizou a
/2
avaliação encaminhada ao juízo, portanto, somente poderá prestar
12
esclarecimentos sobre seu laudo ou relatório psicológico. Contudo, a participação
6/
-1
na audiência é compulsória, sob pena de desobediência civil. Em sendo assim a(o)
om
profissional deve comparecer em dia e hora determinados na intimação, mas não
l.c
necessariamente atender às exigências feitas pela justiça, caso sejam contrárias aos
ai
princípios éticos da profissão. gm
r@
Outro ponto relevante é que a(o) psicóloga(o) não tem o direito de colher
le
el
sobre as conclusões a que chegou. Entrevistas de devolução fazem parte das tarefas
lin
-a
estejam atuando. Tal tarefa torna-se ainda mais premente quando a(o) psicóloga(o)
-0
98
chega a conclusões contrárias ao pleito judicial da pessoa atendida, de tal modo que
.1
56
[...]
za
sentenças ou soluções jurídicas como, por exemplo, decidir disputas de guarda, fixar
ei
er
psicológicas para que um dos responsáveis detenha a guarda ou conviva com o filho.
lle
Ze
Fora isso, a determinação de qual modalidade de guarda será aplicada ou, ainda,
e
quem será o guardião, se for o caso, será estabelecida na sentença a ser proferida pelo
in
Al
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Aula 04
dados disponíveis na peça processual e do disposto no sistema de leis que regem a
sociedade, julgar.
[...]
Por essa razão, a resolução CFP n.º 008/2010 estabelece em seu artigo 10:
Com intuito de preservar o direito à intimidade e equidade de
condições, é vedado ao psicóloga(o) que esteja atuando como
psicoterapeuta das partes envolvidas em um litígio: I – Atuar como
perito ou assistente técnico de pessoas atendidas por ele e/ou de
terceiros envolvidos na mesma situação litigiosa; II – Produzir
24
documentos advindos do processo psicoterápico com a finalidade de
9:
fornecer informações à instância judicial acerca das pessoas
:5
00
atendidas, sem o consentimento formal destas últimas, à exceção de
1
Declarações, conforme a Resolução CFP n.º 07/2003 (revogada pela
02
/2
resolução 04/2019).
12
[...]
6/
-1
om
Formação para atuação e gestão do trabalho
l.c
ai
Nota-se que até o momento não houve construção coletiva entre as entidades
gm
de Psicologia e as do Judiciário de critérios objetivos para alocação de recursos
r@
atendidas. Uma das consequências possíveis da falta de critérios objetivos para fixar
-a
número de pessoas atendidas por profissional, que acaba por determinar práticas
98
| 30
Psicologia para o TJSP 2021/22
Professor Alyson Barros
Aula 04
12) GUIA OPERACIONAL DE ENFRENTAMENTO À
VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA CRIANÇAS E
ADOLESCENTES. ALANA e MPSP, 2020.
Disponível em:
http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/Cartilhas/GuiaOperacionalInfanciaMPS
P.pdf
24
instituídos, tampouco soluções dadas a casos concretos. Isso, porque a proposta se
9:
baseia no grande enriquecimento e amadurecimento que podem advir das reflexões
:5
00
e discussões para a construção coletiva aqui proposta, lembrando que as
1
02
possibilidades são muitas e devem ser conjunta e incessantemente buscadas pelos
/2
atores das redes protetivas, respeitadas as condições, estruturas e peculiaridades
12
6/
locais. Afinal, tudo o que é coletivamente construído garante sensação de
-1
pertencimento e aumenta sensivelmente o efetivo engajamento e implicação de cada
om
um dos envolvidos.
l.c
ai
[...]
gm
Este projeto surge a partir de uma experiência exitosa de articulação da rede
r@
[...]
98
[...]
ei
er
| 31
Psicologia para o TJSP 2021/22
Professor Alyson Barros
Aula 04
adolescência com absoluta prioridade, tendo no Ministério Público fundamental
apoio nesta construção. A proposta de articulação da rede de proteção para
atendimento de crianças e adolescentes em situação de violência sexual em Jacareí
nasceu ainda no ano de 2014, a partir de demandas da própria rede protetiva do
município, sensível ao baixo número de notificações de violência, dentre elas a sexual,
à falta de capacitação dos atores da rede de atendimento de forma conjunta e à
atuação fragilizada em termos de articulação entre os diferentes serviços e
instituições do Sistema de Garantia de Direitos.
[...]
24
No ano de 2015, foi instaurado um Inquérito Civil com o objetivo de
9:
documentar os pilares, as premissas e as bases que estavam sendo construídas. Esse
:5
00
processo antecedeu a Lei 13.431/17 e os debates iniciais se fixaram na necessidade de
1
garantir a acolhida da criança e da família por profissionais qualificados(as), no
02
/2
menor tempo possível, visando à escuta, à avaliação, ao monitoramento, à
12
assistência integral, à redução do risco e à superação da violação.
6/
-1
[...]
om
2. UM BREVE PANORAMA DO PROBLEMA
l.c
A violência sexual contra crianças e adolescentes é uma grave violação de
ai
gm
direitos que atinge a dignidade humana e a integridade física e mental das
r@
pode ser cometida dentro da residência da vítima, nas escolas, nas instituições de
u
So
acolhimento e, ainda, pela internet, fenômeno que vem demandando novas formas
de
[...]
ei
er
A Lei 13.431 de 2017 trouxe definições conceituais do termo, em seu artigo 4º,
rP
no sentido de que a violência sexual pode ser entendida como: “qualquer conduta
lle
ou qualquer outro ato libidinoso, inclusive exposição do corpo em foto ou vídeo por
e
in
Al
| 32
Psicologia para o TJSP 2021/22
Professor Alyson Barros
Aula 04
realização de atos incompatíveis com o seu desenvolvimento físico, psicológico,
cognitivo e emocional
[...]
Conceitos Básicos
Abuso Sexual
O abuso sexual é entendido como toda ação que se utiliza da criança ou do
adolescente para fins sexuais, seja conjunção carnal ou outro ato libidinoso, realizado
de modo presencial ou por meio eletrônico, para estimulação sexual do agente ou de
terceiro. Configura-se como a violência praticada contra o corpo da criança ou do
24
adolescente, isto é, a utilização de sua sexualidade, para a prática de qualquer ato de
9:
natureza sexual, no contexto de uma relação desigual de poder entre o abusador e a
:5
00
vítima. A relação abusiva pode ser dividida em intrafamiliar, em que a vítima e o(a)
1
agressor(a) possuem algum grau de parentesco; e extrafamiliar, em que não há
02
/2
vínculo; ou, ainda, em urbana e doméstica. Na maioria dos casos, o abuso sexual não
12
se constitui em fato único, mas sim, em uma sequência de fatos, num processo com
6/
-1
fases em escalada, desde a sedução até o abuso propriamente dito, e que pode durar
om
anos até a ocorrência de eventual conjunção carnal36 . Por ser uma violência que
l.c
acontece, em sua grande maioria, dentro de casa, no âmbito privado e sem
ai
gm
testemunhas, o abuso sexual apresenta uma dimensão extremamente complexa, que
r@
Abuso Online
-0
98
com a vítima, o qual pode culminar em atos de violência física e sexual. A pessoa que
20
-3
pratica esse tipo de violência, muitas vezes, age de forma sedutora, conquistando a
za
internet, neste caso, pode facilitar ações maliciosas, inclusive, porque a criança, via
de
Exploração Sexual
Ze
envolve, necessariamente, uma moeda de troca, que pode ser tanto dinheiro, como
qualquer objeto com valor ou mercadoria. Nesse caso, ocorre o pagamento à vítima
para que a violência ocorra. É necessário destacar que essa modalidade de violência
se configura por ato que ocorre entre a vítima e o abusador, sem intermédio de
terceiros, diferentemente da exploração sexual comercial. Diante destas
características, é importante considerar que a exploração sexual se relaciona
diretamente com as situações de vulnerabilidade que as crianças, adolescentes e
suas famílias vivenciam, com contornos de pobreza, privação, fome, ausência de
| 33
Psicologia para o TJSP 2021/22
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Aula 04
recursos, etc. Contextos nos quais a moeda de troca financeira ou mesmo de atenção,
promessas e regalias, representa grande poder de manipulação.
24
consentimento, o que a criança ou o adolescente não possui condições de dar42. Com
9:
efeito, crianças e adolescentes são inseridos em uma realidade desumana de maneira
:5
00
compulsória ou por manipulação, a qual configura uma das piores formas de trabalho
1
infantil. Revela-se um uso perverso das vulnerabilidades econômicas e sociais,
02
/2
pautado nas estruturas racista, machista e misógina da sociedade brasileira, cujas
12
consequências, para crianças e adolescentes, são devastadoras.
6/
-1
om
Pornografia Infantil
l.c
A pornografia infantil consiste nos atos de produzir, reproduzir, dirigir,
ai
gm
fotografar, filmar ou registrar, por qualquer meio, cena de sexo explícito ou
r@
“cena pornográfica” nos delitos tipificados no artigo 241 e suas letras, do ECA. No
20
-3
presença dos aliciadores quanto a divulgação das imagens se faz, comumente, via
ra
internet. O acesso às imagens, portanto, é perene, de modo que a vítima corre o risco
ei
er
de se deparar com elas durante toda a vida, o que provoca uma eterna atualização do
rP
trauma.
lle
Ze
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Psicologia para o TJSP 2021/22
Professor Alyson Barros
Aula 04
crime dificultam sobremaneira seu descortinamento e resgate das vítimas. Nesse
contexto, a prevenção é imprescindível, com informação e educação de crianças,
adolescentes, suas famílias e comunidades, bem como a instrução de todas as
pessoas quanto à identificação de sinais suspeitos e aos canais de denúncia
[...]
MARCOS LEGAIS
[...]
Convenção sobre os Direitos da Criança e do Adolescente
24
A Convenção sobre os Direitos da Criança e do Adolescente, tratado internacional
9:
ratificado por diversos países, incluindo o Brasil, assegura direitos e obriga os Estados
:5
00
a diversos compromissos referentes aos direitos de crianças e adolescentes.
1
[...]
02
/2
Convenção de Belém do Pará
12
No âmbito internacional, as implicações da desigualdade de gênero na violência,
6/
-1
especialmente a sexual, também receberam especial atenção por meio da Convenção
om
de Belém do Pará de 1994. Esse instrumento estabelece que a violência contra a
l.c
mulher abrange a violência física, sexual e psicológica, ocorrida em âmbito familiar,
ai
gm
unidades domésticas, na comunidade da vítima ou perpetrada pelo Estado e seus
r@
agentes. Ainda, reconhece que a violência afeta as mulheres por múltiplas vias,
le
el
e mulheres. Ademais, aponta que toda mulher tem direito a uma vida livre de
-0
98
[...]
20
-3
Constituição Federal
za
A sociedade brasileira optou pela Doutrina da Proteção Integral no que diz respeito
u
So
melhor interesse.
lle
[...]
Ze
O Estatuto da Criança e do Adolescente surge como uma legislação que visa efetivar
a proteção de direitos fundamentais de crianças e adolescentes, como o direito à vida,
à segurança, à integridade física, à saúde e à dignidade, desenvolvendo e
operacionalizando as diretrizes constitucionais.
[...]
Código Penal
No que diz respeito à violência sexual, o Código Penal prevê como crimes, sem
distinção quanto à vítima, o estupro (artigo 213) e o assédio sexual (artigo 216-A). No
entanto, a compreensão de que determinados sujeitos são mais vulneráveis aos
| 35
Psicologia para o TJSP 2021/22
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Aula 04
crimes sexuais, como as crianças, levaram à tipificação de crimes específicos
praticados contra essa parcela da população, como o estupro de vulnerável (art. 217-
A), a corrupção de menores (art. 218), a satisfação de lascívia mediante presença de
criança ou adolescente (art. 218-A), o favorecimento da prostituição ou de outra
forma de exploração sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável (art. 218-B) e
a divulgação de cena de estupro ou de cena de estupro de vulnerável, de cena de sexo
ou de pornografia (218-C). Aqui, cabe destacar que a violência sexual contra meninas
crianças e adolescentes gera graves violações de seus direitos e corpos, com diversas
consequências, sendo uma delas a gravidez precoce. Reconhecendo o dever
24
estabelecido pela Constituição Federal de 1988 de proteção de crianças e
9:
adolescentes com absoluta prioridade, o artigo 128 do Código Penal prevê que não
:5
00
haverá punição para interrupção de gravidez quando a mesma é resultante de
1
estupro ou quando traz riscos à vida da gestante.
02
/2
[...]
12
Lei nº 13.431 de 2017
6/
-1
A Lei 13.431/17, que estabelece o sistema de garantia de direitos da criança e do
om
adolescente vítimas ou testemunhas de violência, reforça os direitos fundamentais de
l.c
crianças e adolescentes e, ainda, assegura outros direitos específicos à condição
ai
gm
especial de vítima ou testemunha de violência. Mais do que fixar diretrizes que
r@
mecanismos para a concretização do disposto pela Lei 13.431/17, dentre eles, estão
za
Defensoria Pública.
de
[...]
ra
| 36
Psicologia para o TJSP 2021/22
Professor Alyson Barros
Aula 04
Escuta Especializada
A escuta especializada é prevista, respectivamente, no artigo 7º da Lei 13.431/17 e no
artigo 19 do Decreto 9.603 de 2018, da seguinte maneira:
Art. 7º Escuta especializada é o procedimento de entrevista sobre situação de
violência com criança ou adolescente perante órgão da rede de proteção,
limitado o relato estritamente ao necessário para o cumprimento de sua
finalidade.
Art. 19. A escuta especializada é o procedimento realizado pelos órgãos da
rede de proteção nos campos da educação, da saúde, da assistência social, da
24
segurança pública e dos direitos humanos, com o objetivo de assegurar o
9:
acompanhamento da vítima ou da testemunha de violência, para a superação
:5
00
das consequências da violação sofrida, limitado ao estritamente necessário
1
para o cumprimento da finalidade de proteção social e de provimento de
02
/2
cuidados.
12
6/
-1
A finalidade dessa modalidade de escuta é permitir que qualquer criança ou
om
adolescente em situação de violência possa ser ouvido(a) de forma qualificada
l.c
perante órgão da rede de proteção. A questão principal que deve nortear a atuação
ai
gm
da rede protetiva, nesse momento, é como acolher, dar credibilidade à palavra da
r@
especializada é fundamental para pensar nas intervenções que devem ou não ser
ez
atendimento que é muito mais amplo que a simples escuta, pois deve incluir a
ei
er
outras.
Ze
adolescentes estão sujeitos(as), os meios para lidar com elas, ao trazer, dentre as
modalidades de escuta, a ESCUTA ESPECIALIZADA pela rede de proteção, a legislação
rompe paradigmas ao garantir que a criança e o adolescente sejam efetivamente
vistos como sujeitos de direitos, e não como meros instrumentos de prova para fins
de responsabilização pelo sistema de Justiça, alçando a proteção integral a finalidade
prioritária.
Importante, aqui, a perspectiva de que os atores da rede de proteção não são
encarregados de investigar a veracidade e os detalhes dos relatos e situações de
violência, motivo pelo qual devem se abster de realizar perguntas que não sejam
| 37
Psicologia para o TJSP 2021/22
Professor Alyson Barros
Aula 04
necessárias para o devido encaminhamento do caso no âmbito protetivo. Como
determinado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, a mera suspeita da
ocorrência de violência já basta para que se acione a rede de proteção para que seja
realizada a escuta especializada, sem necessidade de sua confirmação,
especialmente, por meio de perguntas que coloquem sob suspeita o próprio relato da
vítima.
[...]
Diante disso, faz-se relevante destacar que a escuta especializada é entendida
aqui como uma escuta qualificada, realizada com o objetivo de fazer uma
24
identificação inicial de como a violência sofrida impactou a criança ou o adolescente,
9:
sua família e sua comunidade, compreendendo o quanto a vítima entendeu ou não a
:5
00
violência sofrida, as relações estabelecidas pelos sujeitos envolvidos, dentre outros
1
aspectos que permitam, a partir desse primeiro retrato, elaborar, em conjunto pela
02
/2
rede, as estratégias de intervenção com a criança ou adolescente e sua família.
12
Acredita-se que a escuta especializada nesses moldes garante que as intervenções
6/
-1
para proteção e cuidado propostas não revitimizem a criança ou o adolescente, não
om
seja desproporcional em relação à necessidade da vítima e seja sensível e cuidadosa
l.c
a partir das particularidades do caso e da individualidade da criança ou do
ai
adolescente vítima ou testemunha de violência. gm
r@
[...]
le
el
este não se restringe à escuta; a acolhida deve ser realizada sempre que a
lin
-a
se incentiva a criança ou o adolescente a falar dos fatos ocorridos, mas sim sobre o
20
-3
assistência social não precisam de detalhes dos fatos ocorridos para planejar as
u
So
intervenções protetivas.
de
Nesse contexto, vale lembrar que a escuta especializada deve ser feita sem
ra
fragilidade emocional. Ainda, deve-se utilizar uma linguagem compatível com a idade
da vítima ou testemunha de violência, bem como “escutar” o que é dito e, também, o
que não é falado. Recorda-se, ainda, que as crianças ou os adolescentes devem poder
escolher se desejam ser ouvidas com seus responsáveis ou sozinhas, devendo-se
ouvir e informar também os acompanhantes sobre o motivo do atendimento.
[...]
Depoimento Especial
A definição de depoimento especial é dada pelo artigo 8º da Lei 13.431/17:
| 38
Psicologia para o TJSP 2021/22
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Aula 04
Art. 8º Depoimento especial é o procedimento de oitiva de criança ou
adolescente vítima ou testemunha de violência perante autoridade
policial ou judiciária. Essa forma de escuta tem o fim de colher provas
em um procedimento administrativo (policial) ou processo judicial.
Esse procedimento não pode prescindir das técnicas e dos princípios que o
orientam, não podendo, em nenhum momento, a finalidade judicial de
responsabilização do(a) agressor(a) prevalecer sobre o bem-estar e o melhor
interesse da criança ou do adolescente. Ainda, de acordo com o parágrafo 2º do artigo
22 do Decreto 9.603, de 2018, o depoimento especial deverá primar pela não
24
revitimização e pelos limites etários e psicológicos de desenvolvimento da criança ou
9:
do adolescente. Por isso, o depoimento especial deverá ser regido por protocolos e,
:5
00
sempre que possível, realizado uma única vez, em sede de produção antecipada de
1
prova judicial para todas as formas de violência contra crianças de até 7 anos e
02
/2
crianças e adolescentes de até 17 anos vítimas de violência sexual, garantida a ampla
12
defesa do investigado.
6/
-1
[...]
om
O SISTEMA DE GARANTIA DE DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (SGD)
l.c
ai
gm
A sistemática estabelecida pelo Estatuto da Criança e do Adolescente para
r@
| 39
Psicologia para o TJSP 2021/22
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Aula 04
sociais, culturais, coletivos e difusos, em sua integralidade, em favor de todas as
crianças e adolescentes, de modo que sejam reconhecidos e respeitados como sujeitos
de direitos e pessoas em condição peculiar de desenvolvimento; colocando-os a salvo
de ameaças e violações a quaisquer de seus direitos, além de garantir a apuração e
reparação dessas ameaças e violações.
[...]
O Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente é caracterizado
por uma organização em rede, por meio da qual os atores que dele fazem parte atuam
a partir de três eixos: (a) defesa, (b) promoção e (c) controle social, conforme
24
explicitado na Resolução 113 do CONANDA:
9:
A. Defesa: o eixo da defesa dos direitos humanos de crianças e
:5
00
adolescentes se caracteriza pela garantia do acesso à Justiça, ou seja,
1
pelo recurso às instâncias públicas e aos mecanismos jurídicos de
02
/2
proteção legal dos direitos humanos, gerais e especiais, da infância e
12
da adolescência, para assegurar a impositividade de tais direitos e sua
6/
-1
exigibilidade em concreto. São atores que integram este eixo:
om
conselheiros(as) tutelares, promotores(as) e juízes(as) das Varas da
l.c
Infância e Juventude, defensores(as) públicos(as), conselheiros(as) de
ai
gm
direitos da criança e do adolescente, profissionais que trabalham em
r@
| 40
Psicologia para o TJSP 2021/22
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Aula 04
(CMDCA) é um órgão articulador das iniciativas de promoção e defesa
dos direitos da criança e do adolescente, responsável pela elaboração
das diretrizes e prioridades da política de atendimento aos direitos da
criança e do adolescente, bem como pelo seu acompanhamento,
controle e avaliação. Os Conselhos são, também, responsáveis pela
gestão do Fundo Municipal da Criança e do Adolescente, o qual financia
ações na área da infância e adolescência, bem como pela elaboração e
controle da execução de Planos Municipais, [...]
24
Vale registrar que o artigo 3º do Decreto 9.603/2018 enfatiza que o Sistema de
9:
Garantia de Direitos intervirá nas situações de violência contra crianças e
:5
00
adolescentes com as seguintes finalidades:
1
I. mapear as ocorrências das formas de violência e suas
02
/2
particularidades no território nacional;
12
II. prevenir os atos de violência contra crianças e adolescentes;
6/
-1
III. fazer cessar a violência quando esta ocorrer;
om
IV. prevenir a reiteração da violência já ocorrida;
l.c
V. promover o atendimento de crianças e adolescentes para minimizar
ai
as sequelas da violência sofrida; e gm
r@
adolescente
ez
[...]
lin
-a
| 41
Psicologia para o TJSP 2021/22
Professor Alyson Barros
Aula 04
quando assim desejar. Como sujeitos de direitos, crianças e adolescentes têm o
direito de expressar suas opiniões e ser levadas em consideração de acordo com sua
idade e desenvolvimento, devendo ser consultados(as) sobre seu desejo de
participação em qualquer procedimento.
6. Interesse superior da criança e do adolescente - implica em, sobretudo, evitar a
revitimização da criança ou do adolescente, promovendo um acompanhamento
protetivo, multidisciplinar e intersetorial, eficiente e especializado, considerando-se
seu direito à proteção integral. Para essa proteção, é importante enxergar a situação
pela perspectiva da criança ou do adolescente e, a partir desse lugar, entender qual
24
seria de fato o superior interesse desse sujeito.
9:
7. Igualdade e não discriminação - especialmente no caso de crianças e
:5
00
adolescentes em situação de vulnerabilidade (socioeconômica, orientação sexual,
1
identidade de gênero, entre outras), desde a perspectiva interseccional, deve-se
02
/2
considerar abordagens integrais que impeçam que os preconceitos afetem a garantia
12
de seus direitos.
6/
-1
8. Tratamento digno e compreensivo - crianças e adolescentes devem ser
om
tratados(as) com sensibilidade e respeito ao longo do atendimento pelas diferentes
l.c
instituições encarregadas de proteger seus direitos, levando-se em consideração a
ai
gm
situação pessoal e as necessidades mais imediatas, a idade, o gênero e o
r@
sobre o evento violento, sobre o(a) agressor(a) e sobre sua situação em geral,
lin
-a
9. Escuta ativa - a escuta ativa é uma técnica que se caracteriza por dar relevância ao
-0
98
interpretar, não apenas o que diz, mas como diz e o que não diz. Baseia-se em
de
estabelecer uma relação empática, uma atitude livre de preconceitos e uma escuta
ra
acolhido(a), sabendo que seu relato é valorizado. A escuta acontece sem julgamento
rP
| 42
Psicologia para o TJSP 2021/22
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Aula 04
nos moldes em que foi estabelecido pela Constituição Federal de 198862, pode atuar
judicial e extrajudicialmente, tanto na seara individual quanto na coletiva.
Na atuação judicial relacionada à criança e ao adolescente, o artigo 201 do
Estatuto da Criança e Adolescente representa importante diretriz funcional ao
Ministério Público. No âmbito judicial coletivo, destaca-se a competência do órgão
para defender direitos difusos e coletivos, por meio de ações coletivas, visando
interesses metaindividuais.
Tratando-se ainda de um aspecto coletivo, o Ministério Público também tem
papel fiscalizador da ordem jurídica. Dessa forma, está incumbido de apurar
24
irregularidades em unidades de atendimento e infrações administrativas às normas
9:
de proteção previstas no ECA. Nesse cenário, também pode ser realizada a
:5
00
fiscalização de políticas públicas, ainda que não tenha sido constatado nenhum ato
1
ilícito. Essa prerrogativa oferece a possibilidade de atuação preventiva, garantindo
02
/2
que, por meio de procedimentos administrativos, ocorra o monitoramento e a
12
proposta de regularização e melhoria dessas políticas.
6/
-1
Fora do âmbito judicial, o órgão pode exercer o papel de articulador dessas
om
políticas por intermédio de diversos mecanismos. Como indutor de políticas públicas,
l.c
por exemplo, garante que diversos atores e a sociedade civil sejam ouvidos,
ai
gm
identificando problemas e propondo melhorias para o fluxo de serviços. Ainda, a
r@
[...]
9
| 43
Psicologia para o TJSP 2021/22
Professor Alyson Barros
Aula 04
A presente proposta de atuação das Promotorias de Justiça no enfrentamento
à violência contra crianças e adolescentes tem como perspectiva a
interdisciplinaridade e a articulação em rede, entendendo o Ministério Público como
integrante desta rede.
Nesse sentido, desde 2012, o Ministério Público do Estado de São Paulo conta
com o Núcleo de Assessoria Técnica (NAT)67, formado por assistentes sociais e
psicólogas(os) que atuam na área dos interesses difusos e coletivos, no que diz
respeito ao acompanhamento da implementação e execução de políticas públicas,
com vistas à defesa dos direitos sociais. A partir do saber de cada uma dessas áreas,
24
trazendo perspectivas e visões diferentes daquelas encontradas no campo do Direito,
9:
as equipes do NAT contribuem com a atuação do(a) promotor(a) de Justiça e para o
:5
00
fortalecimento do papel de agente político na defesa dos direitos sociais dessa
1
parcela da população.
02
/2
[...]
12
Articulação em Rede
6/
-1
Um dos aspectos fundamentais do atendimento a crianças e adolescentes
om
vítimas ou testemunhas de violência é seu caráter transversal, ou seja, inclui
l.c
serviços/órgãos das diferentes políticas públicas, como Conselho Tutelar, Conselhos
ai
gm
de Direito e sistema de Justiça. Logo, pensar no atendimento ao referido público é
r@
Para que uma “rede de proteção”, de fato, possa ser como tal
9
| 44
Psicologia para o TJSP 2021/22
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Aula 04
Implementação e funcionamento e 5) Avaliação, monitoramento e continuidade
(institucionalização).
[...]
24
a) Diagnóstico,
9:
b) Fluxo intersetorial e
:5
00
c) Fluxos e protocolos internos.
1
[...]
02
/2
FASE 3: Interface /Articulação com o Sistema de Justiça
12
[...]
6/
-1
FASE 4: Implementação e Funcionamento
om
[...]
l.c
FASE 5: Avaliação, Monitoramento e Continuidade
ai
[...] gm
r@
le
el
ez
lin
-a
9
-0
98
.1
56
.0
20
-3
uza
So
de
ra
ei
er
rP
lle
Ze
e
in
Al
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Psicologia para o TJSP 2021/22
Professor Alyson Barros
Aula 04
13) GONÇALVES, A. S.; GUARÁ, I. M. F. R. Redes de
Proteção Social na Comunidade: por uma nova cultura de
articulação e cooperação em rede. In: Redes de Proteção
Social. São Paulo: NECA - Associação dos Pesquisadores de
Núcleos de Estudos e Pesquisas sobre a Criança e o
Adolescente, 2010. p. 11-29.
Disponível em: < https://www.neca.org.br/wp-content/uploads/Livro4.pdf >
24
9:
:5
Aqui nos interessa apenas o capítulo 01.
00
1
02
Uma nova realidade, mais complexa e multifacetada, tem provocado
/2
12
mudanças na forma como a sociedade se organiza: a articulação em parcerias e
6/
redes é um desses novos arranjos que afloraram fortemente nos últimos anos,
-1
mesclando ações da sociedade civil organizada, órgãos de governo e empresas
om
privadas. [...]
l.c
ai
Hoje, porém, os novos desafios da vida e a própria ciência nos levam a
gm
perceber que a realidade é complexa e exige também um olhar mais amplo e global
r@
le
que inclui a incorporação dos fenômenos inusitados e das incertezas que não
el
ez
setoriais;
e
in
Al
| 46
Psicologia para o TJSP 2021/22
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Aula 04
ancorada numa intencionalidade clara e aberta, que respeita ritmos e espaços e
estabelece os pactos necessários à continuidade de cada ação.
24
também precisamos, cada vez mais, trabalhar em conjunto para obter melhores
9:
:5
resultados das políticas públicas, especialmente nas áreas sociais.
00
A democracia obriga a coalisões. Os serviços já não são de seus
1
02
agentes/trabalhadores. São de um coletivo societário. Nas democracias
/2
contemporâneas, as coalizões ganharam enorme importância para assegurar
12
6/
participação efetiva da sociedade como um todo; representam o canal e o espaço de
-1
construção democrática e coletiva da política pública.
om
l.c
ai
A construção da política exige a participação dos atores internos da
gm
própria política pública (seus trabalhadores e gestores públicos) e atores
r@
le
A gestão pública caminha para um novo modo de ação, cada vez mais
9
-0
realidades locais.
56
para que as crianças e os adolescentes sejam atendidos de modo integral, como prevê
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promove uma intervenção mais cooperativa e agregadora que permite uma visão e
Ze
uma atuação mais efetiva sobre a realidade e a construção de uma teia de novos
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dispõe de programas e serviços de proteção social básica ou especial atendendo às
pessoas ou grupos que se encontrem mais vulneráveis.
[...]
A proteção social não está circunscrita apenas ao âmbito do Estado e
apresenta-se originariamente nas relações da família e comunidade. Não obstante, o
Estado tem entre suas responsabilidades fundamentais a de oferecer políticas sociais
que garantam a proteção social como direito e deve fazê-lo em conjunto com a
sociedade promovendo ações que focalizam as pessoas, as famílias e os grupos
sociais que se encontram em situação de vulnerabilidade social.
24
Essa vulnerabilidade pode ser decorrente da insuficiência ou ausência de
9:
renda, desemprego, trabalhos informais, doenças etc., dificuldades de acesso aos
:5
00
serviços das diferentes políticas públicas, ruptura ou fragilização dos vínculos de
1
pertencimento aos grupos sociais e familiares.
02
/2
12
No conceito de rede, as relações humanas
6/
-1
O vocábulo “rede” lembra uma imagem utilizada hoje para qualificar sistemas,
om
estruturas ou modos de organização empresarial ou governamental que se
l.c
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caracterizam por reunir elementos com similaridade de produtos ou serviços que
gm
mantêm alguma ligação entre si, mesmo que se localizem em diferentes pontos de
r@
públicas.
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as diferenças que podem residir entre eles e ressaltando que, ainda assim, não se
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Construir redes significa apostar em relações humanas articuladas entre
pessoas e grupos que, no debate das diferenças, possam ajustar intenções mais
coletivas e produtivas para todos. M. Clotilde Rossetti-Ferreira (2000) introduz uma
nova interpretação de rede a partir do conceito de rede de significações,
possibilitando uma compreensão do conteúdo simbólico das relações como
mediadoras do desenvolvimento humano nas situações interativas.
[...]
Como os componentes da rede são diversos em sua natureza, estrutura e
capacidade de ação, é preciso trabalhar na perspectiva de compatibilizar tempos
24
heterogêneos e buscar consensos parciais para cada momento do processo.
9:
Sendo uma nova cultura para a gestão pública, a rede sugere, sobretudo, uma
:5
00
arquitetura de complementaridade na ação. Os desafios para sua implementação
1
ainda são muitos, pois a atuação em rede supõe a socialização do poder, o respeito
02
/2
às autonomias e a negociação.
12
[...]
6/
-1
Pesquisas têm demonstrado que a existência de capital social e
om
também a presença de associações, organizações, escolas, empresas,
l.c
igrejas, grupos culturais etc. fazem a diferença para o desenvolvimento
ai
gm
humano e social e aumenta a confiança e a sensação de proteção social.
r@
de implementação nos processos das diferentes redes têm gerado inúmeros estudos,
ra
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definido pode ser decisivo para o sucesso dessa rede. Uma “ideia-
força” faz grande diferença!
A rede pressupõe a assunção de papéis e responsabilidades que
podem se alternar no processo, uma vez que o revezamento nesses
papéis adquire um caráter de desenvolvimento permanente de seus
participantes, sem haver sobrecarga para eles.
Os papéis de facilitadores ou mediadores na rede são de grande
importância, pois se faz necessária a competência para organizar as
pautas, a partir das propostas coletivas, moderar as discussões nos
24
encontros e objetivar os diferentes encaminhamentos. O caráter de
9:
adesão muitas vezes confere uma informalidade que não pode incorrer
:5
00
na indefinição das responsabilidades e consequente esfacelamento da
1
rede.
02
/2
A articulação com todas as redes formais e especificamente com as
12
redes de proteção sociocomunitárias é fundamental e ocorre em
6/
-1
diferentes níveis. Para tanto, atores ou grupos que tenham maior
om
habilidade nessa tarefa devem ser identificados e mobilizados a
l.c
colaborar nessas ações. São “os pontos da rede” que assumem
ai
gm
continuamente as ações de articulação internas e externas à rede.
r@
momentos iniciais.
-0
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comuniquem previamente sua ausência e, se possível, enviem outros
representantes ou, ainda, a presença de pelo menos dois participantes
por segmento institucional, quando for o caso, independentemente da
presença de representantes.
A comunicação das diversas etapas do desenvolvimento, propostas
e ações no processo da rede deve ser assegurada a todos os
envolvidos, de modo a contribuir no sentimento de pertença e de
pertinência. Sentir-se parte da rede é estar conectado com e no
processo.
24
Os registros precisam de uma atenção especial. Entre os diferentes
9:
papéis a serem assumidos, a tarefa da realização de registros e o
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00
rodízio de relatores ao longo do processo é de vital importância, pois
1
assim serão asseguradas a história e a memória dos diversos
02
/2
momentos da rede, sob a riqueza dos diferentes estilos e percepções
12
dos relatores. Os registros são o instrumento de identidade de uma
6/
-1
rede.
om
Os registros podem ter mais de uma dimensão. O uso de diários de
l.c
bordo – registro de cada encontro – pode constituir a memória
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gm
documental do processo da rede a médio e a longo prazos e ter a
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anteriores.
9
todos os participantes;
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uma comunidade “muito fechada”, aqueles que tiverem mais
habilidade de articulação ou conhecimento do local deverão ser
lembrados para colaborar diretamente;
• que os diferentes papéis na rede não são fixos; assim, o
revezamento constitui uma grande oportunidade para o
desenvolvimento de novas habilidades e competências.
Uma rede de proteção social deve ter como condição inerente à
realização de seus objetivos uma proposta de desenvolvimento
permanente de seus integrantes. Uma maior eficiência e efetividade
24
requerem um aprofundamento maior e domínio sobre o campo em que
9:
se pretende atuar. Assim, momentos de discussão precedidos de
:5
00
estudos das contribuições dos diversos atores, bem como a pesquisa e
1
a busca de novos subsídios para enriquecer o debate, serão de suma
02
/2
importância.
12
A rede demanda uma reflexão contínua sobre as suas formas de
6/
-1
funcionamento e as diferentes estratégias empregadas em sua
om
constante mobilização. Queremos dizer com isso que, em suas
l.c
diferentes etapas, a estrutura deve assegurar relativa flexibilidade para
ai
gm
se adequar às novas necessidades, podendo haver modificações
r@
rede, um núcleo animador que zele pelo seu foco e que esteja alerta
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A presença de estruturas ainda piramidais e verticalizadas é uma realidade
que gradativamente vem se flexibilizando para permitir a oxigenação das estruturas
que a dinâmica das redes favorece. Nesse processo, atualmente já se podem observar
ações governamentais congregando várias secretarias municipais e a forte atuação
de representantes públicos em movimentos, fóruns e projetos mistos com presença
de organizações e grupos sociais. Um aspecto importante dessa classificação foi o
reconhecimento das redes informais que se “tecem a partir do espaço doméstico, da
família, da vizinhança; da rua, do quarteirão; da pequena comunidade” (GUARÁ,
2000).
24
[...]
9:
À exceção da rede de proteção espontânea, que consideramos uma rede do
:5
00
tipo rede primária, todas as demais podem ser entendidas como redes secundárias
1
de proteção.
02
/2
Segundo Lia Sanicola (2001), as redes secundárias formais (instituições,
12
organizações, serviços) organizam-se sob a base do princípio da igualdade e da
6/
-1
exigibilidade, utilizam a redistribuição como método e caracterizam-se pela troca
om
fundada no direito de cidadania.
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estimuladas pelas demandas de apoio, convivência e, frequentemente, passam
despercebidas pelos sujeitos que nela se inserem e se relacionam.
Essas redes informais independem da presença ou contato com as redes mais
estruturadas, ainda que tais pessoas ou grupos possam estar interligados,
participando de outras redes. As formas primárias de proteção, com o conceito
alargado de família, constituem uma base de segurança do grupo familiar, pois
frequentemente se mantêm quando outras formas de redes se desarticulam.
Essa segurança se esgarça mais comumente em famílias que vivem nas
grandes cidades em situação de pobreza e alta vulnerabilidade, em territórios fora da
24
legalidade da cidade e da cidadania. Vivem em geral em ocupações irregulares,
9:
trabalham no mercado informal, não pagam impostos nem possuem seguros e
:5
00
dependem da assistência social. Nesse caso, as redes primárias que constroem
1
também são frágeis e têm pouca potência de inclusão citadina (CARVALHO, 2008b).
02
/2
A fragilização dos círculos de proteção sustentados por essas redes é um
12
significativo fator de risco para a ruptura do cuidado familiar, sem considerarmos os
6/
-1
graves prejuízos para as crianças e os adolescentes que se encontram em estado de
om
abandono ou negligência.
l.c
[...]
ai
Redes de serviços sociocomunitários gm
r@
A efetividade dos serviços das políticas públicas depende de sua inserção nos
9
-0
cidade carece de comunidade. Carvalho (2008b) nos ajuda a precisar o que hoje se
de
chama de comunidade:
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legitimidade, confiança e efetividade aos serviços públicos instalados nos territórios
da cidade.
[...]
As redes de serviços sociocomunitários são uma extensão das redes sociais
espontâneas. O que as diferencia é o grau de organização dessas últimas para atender
demandas mais coletivas e menos difusas no espaço comunitário. O que lhes garante
identidade é a relação comunitária cidadã, solidária no acolhimento das demandas
emergentes que resultam da inexistência ou insuficiência das políticas sociais
públicas.
24
9:
Nessas redes, a solidariedade do convívio e do afeto da rede espontânea é
:5
00
substituída pela solidariedade do compromisso e da responsabilidade
1
compartilhada. As redes de serviços sociocomunitários oferecem ajudas pontuais,
02
/2
serviços e programas cuja demanda não tem cobertura dos serviços públicos. Esses
12
serviços apresentam mais flexibilidade e respostas mais ágeis em relação às
6/
-1
demandas, pois, em geral, estão mais próximos à população.
om
O desenvolvimento de uma criança depende não apenas das condições de
l.c
proteção dentro de sua rede primária básica – no microssistema familiar – mas
ai
gm
também, segundo Bronfenbrenner (1979), da interação com o mesossistema, que
r@
[...]
9
qualidade de vida. Com sua ação política e de controle social, elas balançam os
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alicerces corroídos das estruturas e dos serviços que estagnaram, pois são instituintes
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politicamente e/ou sensibilizados no seu cotidiano pelo limite e alcance das políticas
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da violência doméstica. Foram também responsáveis pela aprovação ou pelo
bloqueio de emendas ou leis regulamentadoras.
A existência dos “fóruns de direitos”, simpósios e debates, nos diferentes
níveis de ação, são estratégias importantes para a rearticulação ou a articulação de
redes sociais movimentalistas instituintes, que tornam visíveis e problematizam as
novas demandas da realidade local ampliando as conquistas legais com a
participação da sociedade civil.
24
Denominamos de redes setoriais públicas aquelas que prestam serviços de
9:
:5
natureza específica e especializada, resultantes das obrigações e dos deveres do
00
Estado para com seus cidadãos. Muitos de seus serviços fundamentais,
1
02
especialmente para a população de mais baixa renda, já estão consolidados e são
/2
permanentes, mas podem funcionar também como pontos de resistência a
12
6/
mudanças que exigem a desacomodação das posições e poderes instituídos. Assim,
-1
qualquer ação interinstitucional tende a caminhar de modo mais lento, pois fica à
om
mercê da burocracia e sem conexão real entre programas e serviços.
l.c
ai
O termo “rede” é empregado para se referir ao modo como os serviços
gm
públicos, a partir das políticas setoriais, se organizam. Aqui, a “rede” é um sistema
r@
sua oferta à população. Resulta desse modelo de organização, uma baixa eficiência
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Rede privada
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embora estas sejam bastante distintas do conceito de rede que aqui se discute
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[...]
A interconexão entre as redes
Ao enfocarmos as redes de proteção social na comunidade, temos de
considerar, necessariamente, a presença de redes informais ou primárias, bem como
a de redes mais estruturadas ou formais. Anteriormente, abordamos separadamente
as distintas redes, de modo a nos determos um pouco mais sobre sua caracterização.
Na prática, as redes podem, na perspectiva dos sujeitos a elas referenciados, coexistir,
variando em seus objetivos, abrangências, estratégias empregadas de articulação e,
consequentemente, nos resultados alcançados.
24
As redes primárias coexistem com todas as outras formas mais estruturadas
9:
:5
de rede. Como as relações nelas se dão de modo espontâneo, tecidas no cotidiano,
00
podemos considerá-las como a capilarização que alimenta outros modos de
1
02
articulação que se formalizam em uma comunidade.
/2
As redes movimentalistas também não encontrariam sua ancoragem e
12
6/
legitimidade não fossem os pontos de contato e articulação com as demandas reais
-1
da população, expressas e organizadas, por meio das redes sociocomunitárias. No
om
contexto da proteção social comunitária, as redes setoriais públicas ora são referidas
l.c
ai
em suas limitações – ausência ou presença parcial do Estado – o que muitas vezes é o
gm
disparador para a organização de redes sociocomunitárias ou movimentalistas, ora
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alyson@psicologianova.com.br
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