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ISSN: 2527-1288

Recebido em: 10/03/2020 Aceito em: 01/12/2020


Como citar: Dal Santo, A., & Zambenedetti, G. (2021). Prevenção às ISTs/HIV entre mulheres lésbicas e bissexuais:
uma revisão bibliográfica (2013-2017). PSI UNISC, 5(1), 111-126. doi: 10.17058/psiunisc.v5i1.14846

Prevenção às ISTs/HIV entre mulheres lésbicas e bissexuais: uma revisão


bibliográfica (2013-2017)
Prevención de las ETS/VIH entre lesbianas y bisexuales: una revisión bibliográfica
(2013-2017)

Prevention of STI/HIV between lesbian and bisexual women: a bibliographic research


(2013-2017)

Amanda Dal Santo


Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), Irati - PR/Brasil
ORCID: 0000-0001-5261-466X
E-mail: dalsantoamanda@gmail.com

Gustavo Zambenedetti
Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), Irati - PR/Brasil
ORCID: 0000-0002-7372-9930
E-mail: gugazam@yahoo.com.br

Resumo
A prevenção às ISTs/HIV deve considerar os diferentes aspectos que podem colocar determinadas populações em situação
de vulnerabilidade. Com base nesta compreensão, esta pesquisa realizou uma revisão bibliográfica acerca da prevenção às
ISTs/HIV entre mulheres lésbicas e bissexuais. As plataformas de busca utilizadas foram a Scielo e a Biblioteca Virtual
em Saúde (BVS), abrangendo artigos em inglês, português e espanhol, publicados entre 2013 e 2017. Apresentamos os
resultados e discussão sob a forma de linhas de análise. Estas revelam aspectos que atuam na vulnerabilidade do público
estudado, como a percepção acerca da orientação sexual, raça, estigma, despreparo das/os profissionais de saúde e
desconhecimento/conhecimento impreciso com relação a métodos de barreira. Apontamos para a necessidade da criação
de políticas que abordem o tema estudado, considerando sua complexidade e a diversidade de vivências a partir do
atravessamento de diferentes marcadores sociais. Por fim, indicamos sugestões de novos estudos a serem realizados.

Palavras-chaves: Prevenção; IST; HIV; Lésbicas; Bissexuais.

Resumen experiencias de diferentes marcadores sociales. Al final,


La prevención de ETS/VIH debe considerar los presentamos sugerencias para que se hagan nuevos
diferentes aspectos que pueden colocar ciertas estudios en el campo temático.
poblaciones en la situación de vulnerabilidad. En base a
esta comprensión, esta investigación llevó a cabo una Palabras clave: Prevención; ETS; VIH; Lesbiana;
revisión bibliográfica de la prevención de las ETS/VIH Bisexual.
entre lesbianas y bisexuales. Las plataformas de
búsqueda utilizadas fueron la Scielo e la Biblioteca Abstract
Virtual en Salud (BVS), que cubren artículos en inglés, Prevention in STIs/HIV must consider different aspects
portugués y español, publicados entre 2013 y 2017. that can put certain populations in situation of
Presentamos los resultados y discusiones en forma de vulnerability. Based on this understanding, this research
lineas de análisis. Estos revelan aspectos que actúan carried out a bibliographic research about prevention of
sobre la vulnerabilidad del público, como las STIs/HIV among lesbian and bisexual women. The
percepciones sobre la orientación sexual, el racismo, el search platforms used were Scielo and the Virtual Health
estigma, el descuido de los profesionales de la salud y el Library (VHL), covering articles in English, Portuguese
descontento/conocimiento inexacto de las mujeres and Spanish, published between 2013 and 2017. We
relacionadas con los métodos de barrera. Señalamos la presented the results and discussion in the form of lines
111

necesidad de desarrollar políticas que abordan el emita, of analysis. These reveal aspects of the vulnerability of
considerando su complejidad y diversidad de the studied public, such as the perception of sexual

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orientation, race, stigma, unpreparedness of health experiences from the crossing of different social
professionals and lack of knowledge/imprecise markers. At the end, we indicate suggestions for new
knowledge of women related to barrier methods. We studies to be carried out on this theme.
point to the need to create policies that address the theme,
considering its complexity and the diversity of Keywords: Prevention; STI; HIV; Lesbian; Bisexual.

_________________________________________________________________________________________________

Introdução identidades dentro do movimento LGBTQ+,


assim como do movimento feminista e negro
A necessidade de investigar as (Barbosa, Nascimento, Carvalho & Cavalcante,
produções acadêmicas existentes que abordam 2014). A partir dessas organizações, houve
o contexto de prevenção às Infecções também um aumento do interesse voltado à
Sexualmente Transmissíveis (ISTs) e HIV saúde dessas mulheres e de suas demandas
(Vírus da Imunodeficiência Humana) entre específicas (Facchini & Barbosa, 2006), mas
mulheres lésbicas e bissexuais foi construída ainda não foi suficiente para desencadear em
diariamente na vivência da primeira autora ações preventivas voltadas para saúde lésbica e
deste artigo enquanto mulher lésbica. A bissexual, pois além de invisibilizadas dentro
necessidade de protagonizar esta pesquisa dos movimentos sociais, elas não eram
expressa uma dimensão política, pois surgiu contempladas nos então chamados “grupos de
como uma forma de afirmar a existência de risco da AIDS” (Ministério da Saúde, 2013).
mulheres lésbicas e bissexuais, de compor com
a construção de materiais que atendam as O apagamento lésbico e bissexual e as
demandas específicas desses grupos e de forças que limitam essas existências nos
auxiliar no movimento de reivindicação do espaços sociais são reflexos de sistemas e
direito ao acesso universal e equitativo à saúde. fenômenos institucionais complexos que
Junto a isto, há a nossa motivação enquanto estruturam a sociedade, como o patriarcado1 e
pesquisadora e pesquisador do campo da a heterossexualidade compulsória. Adrienne
prevenção, que buscam a equidade do acesso à Rich (2010) aponta esta como uma instituição
saúde, afirmando uma abordagem que leve em política que fortalece as opressões sofridas
consideração os direitos humanos e os direitos pelas mulheres, diminuindo seu poder. Assim,
sexuais (Carrara, 2010). o modelo heterossexual é visto como uma
imposição, reforçada e naturalizada por
Quando analisamos o contexto dos discursos religiosos, censuras históricas e
movimentos de enfrentamento da epidemia da imagens midiáticas - como a idealização do
AIDS nos anos 1980, a temática saúde da amor romântico heterossexual - estando a favor
mulher lésbica e bissexual não aparece com do patriarcado e negando a existência de
destaque entre as pautas levantadas, e isso pode mulheres lésbicas e bissexuais. Por conta disso,
apontar para o entendimento do porquê ela o apagamento dessas existências não ocorre
ainda é tão pouco discutida. Nesse período, somente no campo da saúde, podendo ser
diversos movimentos sociais emergiram e se visualizado em outros setores, como na
aliaram ao enfrentamento da epidemia, educação, na economia e na mídia. Chama-nos
protagonizados predominantemente por a atenção o fato de que o primeiro dossiê de
homens gays (Ministério da Saúde, 2013). Os lesbocídio (assassinato de mulheres lésbicas
grupos exclusivamente de mulheres lésbicas e por ódio ou discriminação) (Peres, Soares &
bissexuais surgiram justamente por conta da Dias, 2017) - foi divulgado apenas em 2018.
necessidade da autoafirmação dessas

1
Em “Gênero: a história de um conceito” (2009),
Adriana Piscitelli define o patriarcado como “um
sistema social no qual a diferença sexual serve como
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base da opressão e da subordinação da mulher pelo


homem” (p.132).

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Também devemos considerar que sociais na reinvidicação do direito à saúde de


mulheres lésbicas e bissexuais não são um mulheres lésbicas e bissexuais.
grupo homogêneo e possuem experiências
distintas. Por conta disso, tomamos a Método
interseccionalidade como perspectiva e
categoria de análise nos resultados e discussão. Realizamos uma pesquisa bibliográfica
A interseccionalidade compreende que as que, segundo Gil (2002), é desenvolvida a
relações de poder desencadeiam em formas partir de materiais já elaborados, permitindo
conjugadas de opressão a partir de diferentes com que a pesquisadora ou o pesquisador entre
marcadores sociais - como raça, gênero, classe em contato com um amplo conjunto de
e sexualidade - que se potencializam na medida fenômenos. Por possuir caráter exploratório,
em que se entrecruzam (Hirata, 2014; López, optamos por utilizar a perspectiva da revisão
2011). Nessa perspectiva, esses marcadores narrativa. De acordo com Rother (2007), esta é
devem ser analisados de forma indissociada e de caráter aberto, flexível e qualitativo,
não-hierarquizada, pois entende-se que as bases possibilitando conhecer o estado da arte de
estruturantes da sociedade, como o racismo e o determinado contexto.
sexismo, coexistem, não sendo possível
A coleta de dados foi realizada através
analisar um sem o outro. Não se trata de uma
da Scientific Electronic Library Online
somatória de marcadores, mas da produção de
(SciELO) e do portal da Biblioteca Virtual em
experiências e corpos distintos a partir desses
Saúde (BVS), selecionado para a amostra da
entrecruzamentos.
pesquisa apenas artigos, publicados entre 2013
Tomamos ainda como instrumento de e 2017, em língua inglesa, espanhola e
análise nesta revisão o conceito de portuguesa. Optamos por abranger essas três
vulnerabilidade apresentado por Ayres, Junior, linguas com o intuito de ampliar a compreensão
Calazans e Saletti (2009). A vulnerabilidade acerca do tema investigado em diferentes
compreende a suscetibilidade ao adoecimento e países. O período delimitado visou a fornecer
às ISTs como advinda de um conjunto de um panorama atualizado acerca da temática
aspectos que para além de individuais, são investigada. Iniciamos a busca em outubro de
também sociais, coletivos e contextuais, 2018 e finalizamos em janeiro de 2019.
influenciando na disponibilidade de acesso à Excluímos os artigos duplicados, não
recursos de proteção pelos grupos disponíveis em seu formato completo ou que
vulnerabilizados. Dessa forma, os marcadores não tinham relação com o tema da pesquisa. As
sociais também podem ser vistos como palavras-chaves utilizadas na busca foram
aspectos que produzem relações de “STI”, “STD” e “HIV” em cruzamento com
vulnerabilidade às ISTs/HIV. “lesbian”, “bisexual” e “female
homosexuality”. Apesar da seleção das
Diante disso, esta pesquisa teve como palavras-chaves, a grande maioria dos
objetivo analisar a literatura acerca da materiais encontrados abordavam questões do
prevenção de ISTs/HIV entre mulheres lésbicas contexto preventivo de ISTs/HIV de homens
e bissexuais, contribuindo para o conhecimento que se relacionam sexualmente com homens,
do estado da arte, para a compreensão das sendo tais artigos excluídos. Esta seleção foi
vulnerabilidades associadas a esse público e possível através da leitura dos resumos dos
também para a indicação de pontos que possam artigos.
ser ampliados em novas produções.
Destacamos a relevância desse estudo para o Através dos critérios mencionados,
campo da formulação de políticas públicas, do selecionamos 23 artigos, os quais foram lidos
aperfeiçoamento de abordagens profissionais por ordem de publicação e analisados. Os
na saúde no que tange os temas prevenção de resultados e a discussão são apresentados de
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ISTs/HIV e diversidade sexual e também como forma integrada. Inicialmente, mostramos uma
material a ser utilizado pelos movimentos caracterização dos estudos. Na sequência,

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apresentamos linhas de análise que revelam outra é dos estudos que tomam como foco as
aspectos que atuam na ampliação ou práticas sexuais das mulheres, utilizando os
diminuição da vulnerabilidade do público termos: mulheres que fazem sexo com
estudado, contribuindo para a discussão da mulheres (MSM), mulheres que fazem sexo
prevenção às ISTs/HIV. com homens e mulheres (MSHM), mulheres de
práticas homoeróticas e mulheres de práticas
Resultados e Discussão bissexuais.
Caracterização dos estudos
A segunda categoria é utilizada para
Apesar da amostra do estudo incluir na discussão mulheres que não se
abranger artigos em inglês, português e identificam como não-heterossexuais2 ou
espanhol, apenas quatro artigos foram feitos e qualquer outra orientação sexual, mas que se
publicados na América Latina (Batista & relacionam sexualmente com outras mulheres.
Zambenedetti, 2017; Carvalho et al., 2013; Além disso, também é utilizada para abranger
Mora & Monteiro, 2013; Silberman, Buedo & mulheres das mais diversas orientações sexuais
Burgos, 2016). Também, apenas três artigos da em uma mesma caracterização. Há discussões
SciELO foram selecionados (Mora & quanto ao uso desses termos comportamentais,
Monteiro, 2013; Muranda, Mugo, & Antonites, pois ao não considerarem a orientação sexual,
2014; Palma & Orcasita, 2017), sendo as outras acabam generalizando a categoria e
vinte fontes da BVS. Há um maior número de subalternizando uma série de aspectos
artigos publicados em 2013 e 2014, resultando relacionados a vivências não-heterossexuais
em 6 artigos por ano, enquanto em 2016 e 2017 específicas, que influenciam no contexto de
foram publicados 3 artigos. Há também uma prevenção às ISTs/HIV (como estigma por
predominância de estudos realizados nos conta da orientação sexual).
Estados Unidos e Canadá, de cunho
quantitativo e transversal. A maioria dos Há uma discrepância com relação a
estudos foi realizado com mulheres, orientação, práticas e desejos sexuais nesse
predominantemente jovens ou adultas, sendo grupo de mulheres, demonstrando não serem
que apenas dois artigos abrangeram esferas fixas ou em consonância. No estudo de
adolescentes (Doull et al., 2017; Muzny, Mora e Monteiro (2013), poucas mulheres que
Harbison, Pembleton, & Austin, 2013) e se autodeclararam lésbicas possuíam trajetória
nenhum incluiu mulheres idosas. sexual exclusiva com mulheres, semelhante ao
que Herrick, Kuhns, Kinsky, Johnson e
Garofalo (2013), Lindley, Walsemann e Carter
Orientação sexual x Práticas x Desejos
Jr (2013) e Logie, Navia e Loutfy (2015)
Há uma variância nos termos utilizados encontraram. Nesse contexto, “as experiências
para se referir às mulheres que se relacionam sexuais com homens adquirem diversos
com mulheres dentro desses estudos, sendo significados e nem sempre são associadas à
possível dividi-los em duas categorias. A identidade bissexual” (Mora & Monteiro, 2013,
primeira é dos estudos que focam p. 907).
predominantemente na orientação sexual,
Além disso, constatamos uma fluidez na
utilizando os termos: lésbicas, bissexuais,
orientação, expressão e desejo sexual na
minoria sexual feminina, queer e
trajetória de vida dessas mulheres (Mora &
predominantemente lésbica ou bissexual. E a
Monteiro, 2013). É também por conta desse

2
Utilizamos o termo “não-heterossexual” para tentar
abarcar uma experiência não-heteronormativa.
Entretanto, apontamos ser uma limitação conceitual que
deve ser superada, já que coloca a heterossexualidade
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enquanto modelo, e outras experiências afetivas como


alteridade em relação à norma.

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complexo cenário que os estudos utilizam discriminação de determinado grupo, sendo a


diversos termos, e isso deve ser considerado agressão sexual uma de suas formas.
nas discussões dessa temática, assim como na
construção de espaços de acolhimento nos Esses aspectos estão associados ao
serviços de saúde. aumento da vulnerabilidade de determinados
grupos populacionais às ISTs/HIV. Por conta
Compreendendo esse cenário de fluidez da violência com base em gênero, mulheres são
e incongruência, optamos por utilizar o termo um grupo mais propenso a ser violentado
mulheres cisgêneras de vivências não- (Daly, Spicer & Willan, 2016; Logie, Navia,
heteronormativas, para se referir a mulheres de Rwigema, Tharao, Este & Loutfy, 2014b) e
orientações, práticas e culturas sexuais não- constituírem vivências de vulnerabilidade, que
heteronormativas. O conceito vivências se estatisticamente são ainda potencializadas em
refere a movimento, a uma não-fixidez, que mulheres não-heterossexuais por conta da
apesar de se materializar em ato, ainda é discriminação por orientação sexual. Como
dinâmica em sua essência. Cisgêneras é por exemplo, existe o denominado ‘estupro
conta desses estudos apenas considerarem corretivo’, termo utilizado para caracterizar -
mulheres que se identificam com o gênero que comumente de forma sensacionalista - os
lhes foi atribuído no nascimento (Jesus, 2012), estupros de mulheres lésbicas com base na ideia
sendo mulheres que possuem vulva. O termo de estar “corrigindo” a orientação sexual delas
não-heteronormativas é para se referir às (Daly et al., 2016; Lindley, Walsemann &
mulheres de diversas orientações sexuais, e Carter Jr., 2013; Logie, Alaggia, & Rwigema,
também aquelas que não se identificam com 2014a; Muranda et al., 2014; Palma & Orcasita,
nenhuma, mas que possuem práticas não- 2017; Poteat et al., 2015).
heteronormativas que as vulnerabilizam no
contexto preventivo entre mulheres. Apesar de Em estudo com mulheres de minoria
utilizarmos esse termo, é necessário ressaltar a sexual de Toronto, 41,7% delas relataram já
importância de considerar a vivência singular terem tido alguma experiência de agressão
de cada orientação sexual, pois a partir delas e sexual, sendo que 20,7% já tiveram alguma
de outros marcadores sociais entrecruzados, IST. Além disso, o histórico de sexo forçado foi
cenários de vulnerabilidade são construídos de associado com escasso apoio social e familiar e
formas distintas. baixa autoestima (Logie et al., 2014a). Daly,
Spicer e Willan (2016) apontam que, por mais
Apontamos que a transição da urgente que seja esse contexto para a saúde,
utilização do termo “lésbicas”, “bissexais”, ainda há mais sensacionalismos sobre essa
“queer” e outros para “mulheres cisgêneras de questão do que discussões públicas para seu
vivências não-heteronormativas” visa ressaltar enfrentamento, não sendo tratado como um
a multiplicidade de expressões da sexualidade problema de saúde pública.
humana e suas formas de fluidez, sugerindo a
necessidade de que o campo da prevenção não As participantes do estudo de Logie,
seja pensado apenas a partir de categorias fixas. Alaggia e Rwigema (2014b), que se identificam
como queer, relataram significativamente mais
Estigma experiências de agressão sexual do que as que
se identificam como lésbicas. As autoras
Estigma é a demarcação de uma pautam-se em Austin, Roberts e Corliss (2008)
diferença, a partir da qual se desqualifica o para discutir esse contexto, apontando que os
sujeito ou grupo de sujeitos. A discriminação motivos que tangem esse dado podem estar
está vinculada ao estigma, e significa tratar de relacionados com: formação da orientação
forma desigual indivíduos estigmatizados sexual - com a violência podendo mudar a
(como negando acesso a algo, por exemplo) forma como a pessoa se identifica -,
congruência de relato e apoio social de grupo
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(UNAIDS, 2017). Há ainda a violência, que


pode ser uma ação desencadeada a partir da identitário, sendo que este pode diminuir a

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vulnerabilidade. Esse dado demonstra a mulheres cisgêneras de vivências não-


importância de considerar diversas orientações heteronormativas, pois a discriminação dentro
sexuais. desses setores limita o acesso a denúncias,
apoio social e, consequentemente, acesso a
Logie et al., (2015) constataram que saúde e seus direitos humanos fundamentais
experiências de estigma sexual3 foram (Daly et al., 2016; Poteat et al., 2015). A
associadas com 6.5 vezes mais relatos de proteção legal pode ser vista como um
histórico de ISTs em amostra com MSM. No elemento importante na prevenção de
estudo de Poteat et al. (2015) com MSM de ISTs/HIV nesse grupo (Poteat et al., 2015).
Lesoto, 74% relataram pelo menos uma Ademais, programas que visam promover
experiência de estigma sexual4. Nesse mesmo saúde sexual para essas mulheres devem incluir
estudo, o estigma no trabalho teve a maior estratégias que desenvolvam redes de apoio
associação com a soropositividade, uma vez social (Palma & Orcasita, 2017), além de
que aquelas que perderam o emprego considerarem cuidados específicos para
obtiveram 15 vezes mais chances de reportar mulheres que sofreram agressão sexual (Logie
diagnóstico de HIV. Além disso, houve et al., 2014a).
diversos relatos de estigma no setor de saúde,
judiciário e no ciclo familiar e comunitário. Despreparo das/os profissionais de saúde
Outra violência mencionada nos Diversos estudos apontam para um
estudos e que foi relacionada com despreparo das/os profissionais de saúde no
vulnerabilidade às ISTs/HIV, é a violência por atendimento de mulheres lésbicas, bissexuais e
parceira/o íntimo/a (VPI). Quase metade (40%) outras mulheres cisgêneras de vivências não-
da amostra de MSM e MSHM afro-americanas heteronormativas. As experiências no setor de
do estudo conduzido por Muzny, Austin, saúde relatadas pelas mulheres eram de caráter
Harbison e Hook (2014a) relataram ter heteronormativo e prescritivo, com orientações
vivenciado tal violência. Segundo Palma e descontextualizadas (Batista & Zambenedetti,
Orcasita (2017), há diversos fatores que 2017; Carvalho et al., 2013; Muranda et al.,
contribuem para a escassa atenção e número de 2014; Muzny et al., 2013; Poteat et al., 2015).
denúncias oficiais dessa questão, tais como “a Além disso, elas apontaram para uma
má aplicação da lei em violência por parceira/o percepção de descaso por parte das/os
íntima/o em relações de mesmo sexo, escasso profissionais quando relatado sexo com outras
apoio social, estigma dentro do sistema jurídico mulheres, seja por não mudarem a abordagem
e centros de cuidado à saúde; e baixa percepção heterocêntrica do atendimento ou por deixarem
social e individual sobre o tema” (p. 1033). de solicitar exames importantes, como de
Destacamos a necessidade de mais ISTs/HIV e o Papanicolau (Agénor, Muzny,
investigações da relação dessa violência com a Schick, Austin & Potter, 2017; Batista &
vulnerabilidade às IST-HIV, além da variância Zambenedetti, 2017; Carvalho et al., 2013;
no número de casos a partir de diferentes Muranda et al., 2014; Silberman et al., 2016).
marcadores sociais.
Esse cenário é atravessado pela ideia de
Esses dados apontam para a imunidade lésbica, presente no imaginário
necessidade das ações em saúde também social, que banaliza o sexo lésbico. Ao
sensibilizarem o setor judiciário e da polícia considerarem o sexo entre mulheres como uma
com relação à violência praticada contra ‘brincadeira’, um não-sexo ou um sexo não tão
3 4
A palavra estigma nesse estudo e no estudo de Poeat et Nesse estudo, as experiências de estigma sexual mais
al. (2015) é utilizada para se referir a violências geradas relatadas foram: assédio verbal ou psíquico (52%),
a partir do estigma. chantagem (29%), apanhar por conta da orientação
sexual (14%) e estupro (9%). Entretanto, 23% não
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responderam à questão do estupro. N = 250 MSM.


(Poteat et al., 2015)

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autêntico quanto o heterossexual, cria-se o alternativas estão: conhecer a trajetória sexual


imaginário de que não é possível transmitir das mulheres no atendimento - considerando a
ISTs/HIV por essas práticas (Mora & Monteiro, diversidade de suas práticas sexuais e a fluidez
2013; Muranda et al., 2014; Muzny et al., e incongruência entre práticas e orientações
2013). Essa questão também é um dos sexuais (Herrick, Kuhns, Kinsky, Johnson &
resultados da invisibilidade lésbica e de outras Garofalo, 2013; Logie et al., 2014a; Mora &
mulheres cisgêneras de vivências não- Monteiro, 2013; Muzny et al., 2013); informar-
heteronormativas, sendo necessário, como um se sobre comportamentos que podem transmitir
primeiro passo, fazer visível essas vivências e ISTs nesse grupo; recomendar o uso de
demandas (Carvalho et al., 2013). camisinha em brinquedos sexuais e no sexo
com parcerias masculinas; encorajar o uso e
Por conta de experiências de adaptações de métodos preventivos com os
discriminação dentro e fora do setor de saúde, quais elas se sintam contempladas no sexo com
essas mulheres relataram medo e desconforto mulheres (como a realização de testes de IST);
ao procurar serviços de saúde (Carvalho et al., e fornecer mensagens que ligam barreiras ao
2013, Muranda et al., 2014; Muzny et al., 2013; prazer (Muzny et al., 2013; Doull et al., 2017),
Poteat et al., 2015). No estudo de Poteat et al como:
(2015), além de 22.3% das mulheres relatarem
esse medo, 23% apontaram ouvir Por exemplo, a borda externa do
trabalharoras/es fofocando sobre elas. Isso preservativo feminino pode estimular
implica: no afastamento das mulheres em o clitóris durante o sexo, ou a
relação a estes; na criação de um imaginário no lubrificação usada na parte inferior de
qual não há necessidade de um um dental dam5 pode aumentar o
acompanhamento de saúde; no prazer para a mulher que recebe sexo
desconhecimento do próprio corpo; e poucas oral. (Doull et al., 2017, p.415).
práticas de autocuidado (Batista &
Zambenedetti, 2017; Carvalho et al., 2013; Essas/esses profissionais também
Lindley et al., 2013; Muranda et al., 2014). devem considerar outros contextos específicos
Além disso, diagnósticos de ISTs foram para um atendimento qualificado, como
associados com atendimento de saúde negado histórico de agressão sexual (Logie et al.,
no estudo de Poteat et al. (2015), e crença de 2014a). Entre outras questões que os estudos
que a/o profissional de saúde se sentiu apontam estão: a importância de considerar que
desconfortável com a orientação sexual no algumas mulheres não tiveram experiência de
estudo de Logie et al. (2015). O único estudo penetração na vida sexual, ou não se sentem
que diferiu nessa questão foi o de Silberman, confortáveis sendo penetradas; não presumir a
Buedo e Burgos (2016), no qual 81,1% das sexualidade a partir de características pessoais
mulheres não perceberam preconceito no – normalmente ligadas a estereóripos de gênero
atendimento médico. Entretanto, a maioria das (Carvalho et al., 2013); não suporem que o sexo
participantes eram universitárias, podendo ser entre mulheres se resume ao sexo oral,
um aspecto que interfere no resultado. direcionando o atendimento para essa prática
(Muzny et al., 2013); e considerar o contexto
Alguns artigos mencionam alternativas diferenciado de mulheres bissexuais (Logie,
para profissionais de saúde reduzirem a lacuna Navia & Loutfy, 2015), que será abordado
no atendimento de mulheres cisgêneras com adiante nesse trabalho.
vivências não-heteronormativas, prestando
serviços qualificados e inclusivos. Entre essas

5
Dental dam é um material de látex em forma de
quadrado usado por dentistas, mas que pode funcionar
117

como um método de barreira entre a língua e a pele no


sexo oral.

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Apesar de grande parte dos estudos considerados improvisos (Carvalho et al.,


apontarem para o despreparo profissional no 2013). Dessa forma, além de políticas e
atendimento dessas mulheres, nenhum deles foi intervenções, devem ser desenvolvidos
realizado com as/os próprias/os profissionais. materiais que atendam as demandas específicas
desse público, e que sejam disseminadas para o
(Des)conhecimento x Conhecimento acesso a informações e métodos de prevenção
impreciso x Práticas de prevenção pelo próprio grupo (Batista & Zambenedetti,
2017; Carvalho et al., 2013).
Além de refletir no despreparo das/os
profissionais de saúde, a falta de discussão Para além do desamparo, as barreiras
sobre o tema também afeta no conhecimento são ainda consideradas componentes que
das próprias mulheres sobre sua saúde sexual. afetam na obtenção de prazer (Batista &
Amostras de mulheres cisgêneras com Zambenedetti, 2017; Doull et al., 2017;
vivências não-heteronormativas de diversos Silberman et al., 2016). A necessidade do toque
artigos analisados relataram um descaso com e do sabor das secreções vaginais foi colocada
relação a prevenção, seja por considerarem o pelas participantes dos estudos como
risco de transmissão às ISTs/HIV no sexo entre importante componente do interesse sexual,
mulheres como baixo ou inexistente; por não além de mencionarem que a utilização dos
saberem ao certo quais ISTs estão relacionadas métodos afetaria na dinâmica da relação sexual
com essas práticas; ou pelo desconhecimento (Batista & Zambenedetti, 2017; Doull et al.,
de possíveis métodos preventivos (Carvalho et 2017). O estudo de Doull et al. (2017) incluiu
al., 2013; Doull et al., 2017; Muranda et al., , mulheres experientes e não-experientes
2014; Muzny et al., 2013; Palma & Orcasita, sexualmente em sua amostra, e o segundo
2017; Silberman et al., 2016). Como exemplo, grupo visualizou algumas vantagens do uso de
no estudo de Muranda, Mugo e Antonites barreiras que o outro não mencionou - como o
(2014), 46% das mulheres demonstraram não desing de camisinhas para aumentar o prazer -
saber onde procurar informações sobre a e ainda demonstraram maior abertura para
utilização de métodos de barreira no sexo entre considerarem a utilização de barreiras. Dessa
mulheres, sendo que 61% acessaram essas forma, fornecer informações antes da iniciação
informações através da internet. sexual pode aumentar o uso de barreiras entre
essas mulheres.
Há ainda uma lacuna com relação a
aplicabilidade desses métodos. Mulheres que Alguns comportamentos e métodos
relataram estarem cientes do risco em relação preventivos citados por esses estudos foram:
às ISTs/HIV em suas relações sexuais com cuidados básicos de higiene, como lavar as
outras mulheres e também conhecerem alguns mãos e manter as unhas cortadas; adaptação da
métodos preventivos, demonstraram camisinha masculina e uso da camisinha de
desamparo quanto a adesão destes em suas língua; uso de luvas descartáveis/luvas látex e
práticas sexuais, seja por incômodo, por soluções microbianas tópicas em gel - que
considerarem que há poucas opções disponíveis possibilitam diminuir a transmissão por
ou por não saberem ao certo como usá-los ou secreção vaginal; uso de preservativos
onde encontrá-los (Batista & Zambenedetti, masculinos em brinquedos sexuais e sua
2017; Muzny et al., 2013). Destacamos a posterior higienização; uso de dental dams e
importância dos serviços de saúde informarem plástico filme; camisinha feminina; realização
onde é possível encontrar métodos de barreira, de testes de ISTs e exames de rotina; e evitar
além da disponibilização dos mesmos através sexo oral durante a menstruação (Batista &
de políticas públicas. A falta de Zambenedetti, 2017; Carvalho et al., 2013;
desenvolvimento de métodos adequados e Muranda et al., , 2014; Muzny et al., 2013).
específicos para o sexo entre mulheres também
118

é um aspecto importante nesse contexto, pois as Os métodos mais bem aceitos pelas
alternativas conhecidas e aplicadas por elas são mulheres foram a realização de testes e

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Prevenção às ISTs/HIV entre mulheres lésbicas e bissexuais: uma revisão bibliográfica (2013-2017)

cuidados básicos de higiene (Muzny et al., 77,5% das mulheres que fazem sexo com
2013), sendo que o primeiro foi colocado por mulheres que conhecem métodos preventivos
Doull et al. (2017) como um dos fatores que dizem não os usar por: parceria fixa (39,7%),
fazem com que as mulheres não utilizem incômodo (23,3%) ou porque não conseguem
métodos de barreira. Entretanto, no estudo de (17,8%). Além disso, muitas mulheres
Muranda et al. (2014), participantes lésbicas demonstraram se considerarem mais
relataram se sentirem desconfortáveis em vulneráveis no sexo com homens,
realizar testes para ISTs por conta do principalmente por ligarem transmissão a
imaginário que mulheres lésbicas reais são prática penetrativa (Carvalho et al., 2013; Doull
imunes, sendo um aspecto que influencia na et al., 2017; Muzny et al., 2013).
vulnerabilidade desse grupo. O uso de dental
dams e luvas látex foi considerado por algumas Percepções acerca de mulheres bissexuais e
participantes do estudo de Muzny, Harbison, outras MSHM
Pembleton e Austin (2013) como útil, porém
não viável para uso. Participantes do estudo de Há uma série de percepções construídas
Batista e Zambenedetti (2017) questionaram se acerca de mulheres bissexuais que impactam no
o desconforto em utilizar métodos preventivos contexto preventivo deste grupo e de mulheres
pode ser resultado do apagamento da mulher lésbicas. No imaginário destas, segundo estudo
lésbica e bissexual nas ações de prevenção, realizado em um bairro do Rio de Janeiro, se
sendo necessária a criação de uma cultura relacionar com mulheres de identidade
preventiva, na qual haja possibilidades de bissexual implica em insegurança, relacionada
práticas que relacionam prazer com prevenção. também à transmissão de HIV (Mora &
Afinal, como será possível criar uma relação de Monteiro, 2013). Alguns estudos apontam que
confiança e prazer com métodos de barreira se isso está relacionado com a ideia de que os
não há informações sobre a existência de homens e a prática penetrativa estão ligadas à
mulheres que fazem uso desses materiais? transmissão, e as ISTs são classificadas como
agentes que ‘infiltram’ na comunidade lésbica
Ademais, muitas mulheres relataram (Muranda et al., 2014; Muzny et al., 2013). Isso
que acessaram informações de prevenção em também está relacionado com a ideia de
espaços online da comunidade LGBT, ou em imunidade lésbica e banalização do sexo
suas relações pessoais (Batista & lésbico abordada anteriormente, além do
Zambenedetti, 2017; Muranda et al., 2014; imaginário que orientação sexual e práticas
Silberman et al., 2016). Por se constituir como sexuais são esferas fixas e congruentes.
um espaço de criação de estratégias e
discussões, a disseminação de informações pela Essa percepção de mulheres lésbicas faz
internet pode ser uma alternativa para mais parte do que Leite e Luna (2002) chamam de
mulheres aderirem a métodos preventivos proteção imaginária. Esta é resultado de
(Muranda et al., 2014). Entretanto, é importante justificativas (nem sempre conscientes)
ressaltar que isso abrange apenas um grupo de construídas para a não adesão de métodos
mulheres: as que possuem acesso à internet. preventivos. Mesmo com o estudo não citando
Insere ainda outro desafio, que é o da mulheres lésbicas, esse conceito se atualiza nas
constituição de referências seguras em meio a percepções construídas por essas mulheres. Em
diversidade de informações disponíveis online. parte, a proteção imaginária nesse contexto é
amparada pela ciência, pois esta afirma que
Outra questão que demonstrou permear existe “menor” probabilidade de infecção nas
o não-uso de barreiras por essas mulheres nos relações entre mulheres.
estudos é a confiança na parceria sexual ou
possuir parceria fixa (Carvalho et al., 2013; Relacionar ISTs e HIV com mulheres
Doull et al., 2017; Mora & Monteiro, 2013; bissexuais, reflete em ações e pensamentos
119

Silberman et al., 2016). Como exemplo, no preconceituosos com relação à estas (Muzny et
estudo de Silberman et al. (2016), no qual al., 2013), e também acaba influenciando na

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vulnerabilidade de mulheres lésbicas no Raça/cor


contexto de prevenção às ISTs/HIV. Ademais,
isso dificulta a discussão de experiências de Outros dois grupos que foram
violência sexual e estupro, já que lésbicas significantemente mencionados nos estudos da
podem acabar contraindo ISTs por conta dessa amostra deste trabalho foram mulheres da
violência (Muranda et al., 2014). África do Sul e mulheres afro-americanas.
Agrupamos em uma mesma linha de análise por
Estudos também apontam que mulheres despertarem discussões similares, colocando
bissexuais ou MSHM estão mais propensas a em evidência o marcador raça/cor. A África do
vivenciarem contextos que potencializam a Sul possui uma das maiores incidências de HIV
vulnerabilidade às ISTs/HIV, relacionando do mundo, além de apresentar elevados índices
alguns comportamentos com mais diagnósticos de discriminação por orientação sexual. Isso
de ISTs nesse grupo (Estrich, Gratzer & advém das normas sociais conservadoras do
Hotton, 2014; Herrick et al., 2013; Lindley et país, agravando a vulnerabilidade às ISTs/HIV
al., 2013; Muzny et al., 2013; Muzny, Austin, em grupos considerados minoritários (Daly et
Harbison & Hook, 2014a; Muzny, et al. 2014b). al., 2016; Muzny et al., 2014a). Nesse mesmo
Entre eles estão: maior número de parcerias contexto, há diferenças no número de MSM
sexuais, de parcerias casuais/novas e parcerias que vivem com HIV a partir de raça, com
masculinas; sexo em grupo; sexo com pessoas índices mais elevados em mulheres negras do
que possuem alguma IST; e prostituição que brancas (Daly et al., 2016). Além disso,
(Lindley et al., 2013; Muzny et al., 2013; Muranda et al. (2014) apontam para um estudo
Muzny et al., 2014a; Muzny et al., 2014b). que menciona que 6,6-9,6% de mulheres que se
identificam como lésbicas ou bissexuais na
No estudo de Bostwick, Hughes e África do Sul são soropositivas, ressaltando ser
Everett (2015), comparado com mulheres um número significante para um grupo visto
lésbicas, mulheres bissexuais relataram mais como não-vulnerável.
uso de cocaína e experiências de ansiedade,
além de marcarem mais pontos em escala de No estudo de Herrick et al. (2013), ser
depressão. No estudo citado, elas não diferiram mulher afro-americana foi associado com mais
em renda e idade, diferente do que Muzny et al. diagnósticos de ISTs. Muzny et al. (2014a)
(2014a) e Agénor, Muzny, Schick, Austin e apontam ainda que estas que fazem sexo com
Potter (2017) encontraram, sendo necessário homens e mulheres se inserem em maior
mais investigações quanto a esse aspecto. proporção em contextos ditos de
Mulheres bissexuais também foram mais comportamento sexual de risco do que MSM do
propensas a terem sido violentadas com sexo mesmo grupo – como maior número de
vaginal forçado por um homem no estudo de parcerias sexuais e parcerias masculinas, sexo
Agénor et al. (2017). em grupo e parcerias que possuem alguma IST.
Também, o número de ISTs curáveis e não-
Schick, Pol, Dodge, Baldwin & curáveis entre MSM e MSHM brancas é menor
Fortenberry (2015) apontaram a realização de do que em afro-americanas, especialmente em
autoamostragem como alternativa para MSHM.
aumentar a adesão de mulheres de práticas
bissexuais a testes de ISTs. Nesse estudo, o Além disso, Muzny et al. (2014a)
método foi bem aceito pelas mulheres, podendo constataram que o uso de drogas ilícitas entre
contribuir para a expansão das possibilidades mulheres afro-americanas de minorias sexuais
de testagem e redução das chances de vivenciar foi significantemente maior (32% MSM e 41%
discriminação no setor de saúde. MSHM) do que em mulheres africanas em um
geral (6,7%)6. Essas constatações demonstram
como não é possível analisar orientação sexual,
120

6
Nation Survey on Drug Use and Health.

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raça, classe e fatores sociodemográficos de fundamentais. Ademais, construir redes


forma indissociada em uma análise complexa coletivas de enfrentamento à discriminação e
de fenômenos que agravam a vulnerabilidade violência, no qual possa ser fornecido um
às ISTs/HIV. Muzny et al. (2014a), mesmo não espaço de compartilhamento de experiências
mencionando o conceito de relacionadas a orientação e práticas sexuais,
interseccionalidade, apontam para o que pode, também, diminuir a vulnerabilidade às
chamam de “risco triplo” (p.611) na ISTs/HIV (Coulter, Kinsky, Herrick, Stall &
experiência de mulheres afro-americanas, já Bauermeister, 2015; Muranda et al., 2014;
que o sexo, a raça e a orientação sexual dessas Palma & Orcasita, 2017; Poteat et al., 2015).
mulheres são marcadores que interferem no Para Coulter, Kinsky, Herrick, Stall &
exercício a saúde. Bauermeister (2015), as intervenções no campo
da saúde devem focar em diminuir a
Os estudos não possibilitaram discriminação e aumentar o enfrentamento
compreender se há diferença na percepção de saudável, já que isto está relacionado com a
risco de transmissão às ISTs e na vivência de diminuição dos ditos comportamentos sexuais
atendimentos desqualificados no setor de saúde de risco, sintomas de depressão e uso de
entre mulheres negras, afro-americanas e da substâncias nesse grupo.
África do Sul e mulheres brancas ou de outros
países. A vulnerabilidade é potencializada no Ao discutir direito à saúde, Muranda et
sentido de desencadear contextos mais al. (2014) apontam para a comunicação Purohit
propensos a experiências de discriminação, and Moore v. The Gambia da Comissão
além de condições socioeconômicas mais Africana dos Direitos Humanos e dos Povos.
precárias. Apontamos para a necessidade de Esta afirma que o direito à saúde não está
mais investigações quanto ao contexto somente ligado ao direito de acessar os serviços
específico dessas mulheres. de saúde, e sim de criar ferramentas que
promovam esse acesso. Dessa forma, exercer
Conscientização política direito à saúde é poder ter acesso a informações
qualificadas sobre o que se demanda e
A partir dos estudos é possível necessita.
compreender que um elemento chave para que
a saúde sexual de mulheres cisgêneras com Assim, é necessário que sejam
vivências não-heteronormativas se torne uma desenvolvidas intervenções, programas e
pauta visível no social e no campo da saúde - e políticas que visem promover saúde sexual para
que suas sexualidades possam ser exercidas de essas mulheres, levando em conta a implicação
forma digna - é a conscientização política em dos contextos específicos abordados neste
relação ao tema e a identidade lésbica, trabalho. Alguns estudos apontam ações
bissexual ou outra. Criar estratégias de específicas necessárias, como: o
empoderamento7 e reivindicação de direitos desenvolvimento de acesso à educação sexual
junto à essas mulheres pode contribuir para que (Herrick et al., 2013); criação de estratégias
estas se sintam encorajadas a buscar serviços de diante de violência sexual e problemas
saúde e exigir que suas demandas sejam familiares, junto com a construção de redes de
atendidas, além de fornecer meios para a apoio e desenvolvimento de competência de
conscientização de seus direitos humanos profissionais para apoiarem e auxiliar essas

7
Segundo Baquero (2012), o empoderamento “[...] pode
ser concebido como emergindo de um processo de ação
social no qual os indivíduos tomam posse de suas
próprias vidas pela interação com outros indivíduos,
gerando pensamento crítico em relação à realidade,
favorecendo a construção da capacidade pessoal e social
121

e possibilitando a transformação de relações sociais de


poder” (p.181).

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mulheres (Logie et al., 2014); explorar amostra do artigo é predominantemente afro-


estratégias de estilos de enfrentamento americana (83%).
considerando as diversas orientações sexuais
(Logie et al., 2014a); criação de programas Considerações Finais
voltados para a conscientização de transmissão
de ISTs e índices de câncer cervical entre O conceito de vulnerabilidade
mulheres que se relacionam com mulheres apresentou-se como uma importante
(Agénor et al., 2017); e integração do tema nos ferramenta de análise do contexto de prevenção
currículos de medicina e outros campos da às ISTs/HIV entre mulheres lésbicas,
saúde (Silberman et al., 2016). bissexuais e outras mulheres cisgêneras de
vivências não-heteronormativas. Além disso,
Outros aspectos relacionados a concluímos que a vulnerabilidade deve ser
vulnerabilidade analisada a partir de diferentes orientações
sexuais – como lésbicas, bissexuais ou queer -,
Entre outros aspectos relacionados à além de outros marcadores sociais, como a raça
vulnerabilidade às ISTs/HIV estão: ter várias e a classe. Indicamos ainda que novos estudos
parcerias sexuais; sexo sob efeito de álcool e possam avaliar a relação de outros marcadores
drogas; sexo vaginal sem proteção; sexo anal; - como o geracional - com a vulnerabilidade, já
possuir relações sexuais com homens e que nenhuma amostra dos artigos analisados
mulheres; status de relacionamento; alto risco incluiu mulheres idosas. Indicamos, como
de pensamentos e tentativas suicidas; e limitação deste estudo, a restrição da pesquisa
sintomas de depressão (Coulter et al., 2015; a duas bases de dados. Também, faz-se
Herrick et al., 2013; Lindley et al., 2013; Logie necessário o desenvolvimento de mais estudos
et al., 2015; Palma & Orcasita, 2017). Além na América Latina, já que apenas quatro artigos
disso, é necessário considerar o número foram feitos e publicados nesse território.
elevado de prisão, encarceramento e Ademais, apesar dos estudos destacarem
instabilidade social nesse grupo (Palma & marcadores que interagem no processo de
Orcasita, 2017). vulnerabilidade, o conceito de
interseccionalidade ainda está pouco presente,
O uso de drogas injetáveis e a condição podendo ser mais explorado em novos
social-econômica também apareceram trabalhos.
8
associadas à vulnerabilidade . German e Latkin
(2015) investigaram se há disparidades entre Mesmo com diversos artigos apontando
instabilidade social e vulnerabilidade ao HIV para a necessidade da sensibilização de equipes
relacionado com orientação sexual. Nesse de saúde, nenhuma das pesquisas foi realizada
estudo, as mulheres de minorias sexuais foram com estas. Nesse sentido, indicamos a
três vezes mais propensas a relatarem sexo por necessidade da realização de pesquisas com
troca de dinheiro ou drogas (prostituição), e profissionais de saúde com o intuito de ampliar
quatro vezes mais propensas a relatarem uma a compreensão acerca de suas percepções sobre
IST recente do que mulheres heterossexuais. a abordagem preventiva com o público lésbico
Além disso, reportaram mais encarceramento e bissexual. Além de pesquisas, apontamos
estendido nos últimos 10 anos; e 60% delas para a necessidade de políticas e programas de
passou pelo menos 6 meses encarcerada, formação profissional que abordem o tema da
comparado com 24% das heterossexuais. A prevenção no sexo entre mulheres. Ademais,
apesar de haver diversos estudos que apontam

8
O termo utilizado pelo artigo era mulheres usuárias de
drogas injetáveis (UDI). Entretanto, por conta do
122

entendimento que esse termo desumaniza o grupo,


optamos por utilizar a nomenclatura recomendada pelo
Guia de Terminologia da UNAIDS (2017).

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Prevenção às ISTs/HIV entre mulheres lésbicas e bissexuais: uma revisão bibliográfica (2013-2017)

para a consideração do contexto específico de métodos que relacionam sexo, cuidado, prazer
mulheres bissexuais, somente uma pesquisa e prevenção.
possuía como amostra exclusivamente
mulheres de práticas bissexuais. Destacamos A construção de uma consciência
também a importância de estudos que política sobre direitos sexuais por essas
considerem a existência de mulheres lésbicas e mulheres e junto a elas também demonstrou ser
bissexuais transexuais, tirando do foco da um elemento chave na diminuição da
prevenção apenas o caráter genitário. vulnerabilidade às ISTs/HIV. Apontamos, por
fim, a necessidade de romper com o
Indicamos ainda a realização de estudos silenciamento em torno da prevenção entre
com mulheres que se relacionam sexualmente mulheres lésbicas e bissexuais, através do
com mulheres e são soropositivas. desenvolvimento de políticas públicas,
Compreender a especificidade desse contexto programas e intervenções que abordem saúde
pode, além de promover apoio e visibilidade sexual e prevenção de ISTs/HIV entre esse
para esse grupo, investigar possíveis métodos grupo, considerando a complexidade de seus
de barreira. Pesquisas com amostras de contextos e a diversidade de vivências a partir
mulheres lésbicas e bissexuais que se previnem do atravessamento de diferentes marcadores
também pode contribuir com esse objetivo e sociais.
auxiliar no desenvolvimento de abordagens e

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Dados sobre os autores:


- Amanda Dal Santo: Graduanda em psicologia na Universidade Estadual do Centro-Oeste
(Unicentro), Campus Irati-PR.
- Gustavo Zambenedetti: Psicólogo (UFSM), Mestre e Doutor em Psicologia Social e
Institucional (UFRGS). Professor do Departamento de Psicologia e do Programa de Pós-
Graduação Interdisciplinar em Desenvolvimento Comunitário, Universidade Estadual do
Centro-Oeste (Unicentro), Campus Irati-PR.

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