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DOI: 10.1590/1413-812320222710.

06602022 3815

ARTIGo ARTIcLe
Desafios da saúde da população LGBTI+ no Brasil:
uma análise do cenário por triangulação de métodos

Health challenges in the LGBTI+ population in Brazil:


a scenario analysis through the triangulation of methods

Richard Miskolci (https://orcid.org/0000-0002-6405-5591) 1


Marcos Claudio Signorelli (https://orcid.org/0000-0003-0677-0121) 2
Daniel Canavese (https://orcid.org/0000-0003-0110-5739) 3
Flavia do Bonsucesso Teixeira (https://orcid.org/0000-0001-5605-636X) 4
Mauricio Polidoro (https://orcid.org/0000-0002-1881-1915) 5
Rodrigo Otavio Moretti-Pires (https://orcid.org/0000-0002-6372-0000) 6
Martha Helena Teixeira de Souza (https://orcid.org/0000-0002-5898-9136) 7
Pedro Paulo Gomes Pereira (https://orcid.org/0000-0002-0298-2138) 1

Abstract This article aims to reflect on the cur- Resumo Este artigo objetiva refletir sobre os
rent health challenges of lesbians, gays, bisexu- desafios da saúde de pessoas lésbicas, gays, bis-
als, transgenders, intersex, and other sexual and sexuais, travestis, transexuais, intersexuais e ou-
gender minorities (LGBTI+) within the Brazilian tras minorias sexuais e de gênero (LGBTI+) no
scenario. This study adopted a triangulation ap- cenário brasileiro atual. Baseado no método de
proach, based on two studies developed in the triangulação, incluiu análise de políticas, pesqui-
Southeast and South of Brazil, which includ- sa qualitativa sobre percepções de atores-chave do
ed policy analysis and qualitative research on Sistema Único de Saúde (SUS) – pessoas usuárias
the perceptions of key actors from the Brazilian LGBTI+, profissionais e gestores(as) – a partir de
Unified Health System (SUS) – LGBTI+ users, dois projetos desenvolvidos no Sudeste e Sul do
1
Departamento de workers, and managers. All data were analyzed Brasil, analisados por equipe interdisciplinar de
Medicina Preventiva, by an interdisciplinary team of researchers. The pesquisadores(as). Foram elencados os principais
Universidade Federal de São
Paulo. R. Botucatu 740, Vila main problems faced by the LGBTI+ population problemas enfrentados pela população LGBTI+,
Clementino. 04023-062 São were registered, indicating some of the necessary sinalizando alguns dos avanços necessários. Al-
Paulo SP Brasil. progress. Some of these challenges include: access guns desses desafios incluem: o acesso de LGBTI+
richard.miskolci@unifesp.br
2
Departamento de Saúde of the LGBTI+ population to SUS; the need to ao SUS; a necessidade de capacitação de profis-
Coletiva, Universidade train health professionals; the decentralization sionais; a interiorização e descentralização de
Federal do Paraná. Curitiba of health services sensitive to the LGBTI+ pop- serviços sensíveis à LGBTI+; as distintas formas
PR Brasil.
3
Departamento de Saúde ulation; the distinct forms of violence and dis- de violências e discriminação; lacunas de pesqui-
Coletiva, Universidade crimination; the lack of research in health care sas em saúde de segmentos específicos, como de
Federal do Rio Grande do conducted with specific groups, such as lesbians, lésbicas, bissexuais, intersexos e outras minorias
Sul. Porto Alegre RS Brasil.
4
Departamento de Saúde bisexuals, intersex, and other sexual minorities. sexuais. Os resultados corroboram a urgência da
Coletiva, Universidade The results reinforce the urgency for the complete implementação plena da “Política Nacional de
Federal de Uberlândia. implementation of the “National Policy for the Saúde Integral de LGBT”. O reconhecimento das
Uberlândia MG Brasil.
5
Instituto Federal do Rio Comprehensive Health of LGBT”. The recognition demandas dessa população contribui para alcan-
Grande do Sul. Porto Alegre of the LGBTI+ health needs will aid in achieving çar os princípios que norteiam o SUS.
RS Brasil. the principles which are the guiding principles of Palavras-chave Minorias sexuais e de gênero,
6
Departamento de Saúde
Pública, Universidade SUS. Pessoas LGBT, Saúde das minorias, Saúde inte-
Federal de Santa Catarina. Key words Sexual and gender minorities, LGBT+ gral, Brasil
Florianópolis SC Brasil. population, Minority health, Comprehensive
7
Universidade Franciscana.
Santa Maria RS Brasil. health, Brazil
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Introdução las violências: mulheres, negros(as), indígenas,


imigrantes e refugiados(as), pessoas com defici-
O reconhecimento dos direitos sociais e de saúde ência, para citar alguns4,12,13.
de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexu- É importante reconhecer o papel pioneiro dos
ais, intersexuais e outras minorias sexuais e de movimentos sociais na inclusão de uma agenda
gênero (LGBTI+) tem sido de difícil consecu- de saúde para pessoas LGBTI+14, mas também é
ção tanto internacionalmente1 quanto em paí- preciso atentar às ameaças e retrocessos atuais,
ses como o Brasil, em que a saúde é um direito tanto no cenário nacional como no internacio-
constitucional e universal. Desde o final do sécu- nal, tal como apresentado por McQueen1. A are-
lo XIX, essas pessoas têm recebido classificações na política brasileira tem sido palco de disputas
patologizantes pautadas no modelo biomédico2. intensas, e diante de algumas conquistas, setores
Foram consideradas, ao longo da história, como conservadores e reacionários nos três poderes da
pecadores(as) pela Igreja, criminosos(as) pela República intensificam as tentativas de (re)pato-
segurança pública e doentes pela medicina3. A logização e deslegitimam as demandas de saúde
partir do terço final do século XX, iniciaram um das pessoas LGBTI+15. A patologização opera por
processo de luta (ainda em curso) pela despato- meio da recusa das evidências científicas, em fa-
logização e pelos direitos humanos, em busca do vor de propostas assentadas em preconceitos. Os
reconhecimento de suas demandas de atenção à termos usados, como “cura gay”, e as “ações tera-
saúde4. pêuticas” parecem propor uma contra-pedagogia
A sigla LGBTI+ é uma das variações recen- que disputa espaço com os avanços em direitos
tes que busca ampliar e reconhecer a diversidade no campo da saúde LGBTI+.
sexual e de gênero contemporânea. O que hoje Diante dessa conjuntura, este artigo busca re-
se denomina por “Saúde LGBTI+” se originou fletir sobre os desafios da saúde de pessoas LGB-
nos estudos sobre homossexualidade masculina TI+ no cenário brasileiro atual. Baseado em uma
em um momento da história em que tal sigla não abordagem de triangulação, que inclui análise
existia, mas que gradualmente passou a reconhe- de políticas públicas, pesquisa qualitativa sobre
cer sua diversidade interna5-7. Foi ampliada, ini- percepções de atores-chave (pessoas LGBTI+ e
cialmente, pela presença de lésbicas, logo depois profissionais do SUS) e análise interdisciplinar de
por bissexuais, pessoas trans (travestis e trans- pesquisadores(as), temos o objetivo de contribuir
sexuais) e, mais tarde, intersexos. Mais recen- para a identificação dos principais problemas en-
temente, incorpora outras formas de autoiden- frentados por essa população, sinalizando alguns
tificação – presentes e futuras – que o sinal “+” dos avanços necessários. Reconhecer as deman-
busca traduzir, mantendo em aberto a sigla e as das dessa população é uma forma de contribuir
demandas políticas das identidades emergentes. para alcançar os princípios da universalidade, da
Abordar a “Saúde LGBTI+” como questão de integralidade e da equidade do acesso à saúde,
um coletivo é urgente, e envolve reconhecer que que norteiam o SUS.
há necessidades específicas, mas que as deman-
das comuns do grupo são fundamentais e podem
gerar respostas políticas mais potentes. Não se Metodologia
trata de um grupo homogêneo. Pelo contrário,
cada letra que compõe a sigla possui necessida- Adotou-se uma abordagem de triangulação16,17,
des de saúde específicas. As tensões são múlti- visando apreender, sob diferentes prismas, a
plas, internas e externas à sigla, e incluem desde complexidade que é a saúde de LGBTI+ e seus
a luta histórica contra as epidemias de HIV/Aids, principais desafios. A triangulação compreen-
a implementação da Política Nacional de Saúde deu17: a) múltiplos métodos qualitativos, incluin-
Integral de LGBT (PNSI-LGBT), as distintas mo- do entrevistas semiestruturadas, grupos focais
dalidades de violência sofridas, o denominado e análise documental e de políticas públicas; b)
“processo transexualizador” no Sistema Único múltiplos perfis de participantes, abrangendo
de Saúde (SUS), a suposta “cura gay” e procedi- usuários(as) LGBTI+, ativistas LGBTI+, pro-
mentos cirúrgicos mutiladores em recém-nas- fissionais e gestores(as) do SUS; c) triangulação
cidos(as) intersexuais, entre outros desafios8-11. teórica, com aportes dos estudos de gênero, da
As especificidades da saúde LGBTI+ ainda se saúde coletiva e das ciências sociais e humanas;
interseccionam com as de outros segmentos, que e d) triangulação de pesquisadores(as), todos(as)
compartilham o fato de serem historicamente com doutorado, de diversas formações (sanitaris-
marcados pelo estigma, pela discriminação e pe- tas, sociólogos, antropólogo, geógrafo, epidemio-
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logista) e integrantes do Grupo Temático (GT) Resultados
de Saúde da População LGBTI+ da ABRASCO
(Associação Brasileira de Saúde Coletiva), que Os resultados foram organizados em duas seções:
realizaram uma análise interdisciplinar. 1) Políticas de saúde; 2) Desafios nos cenários do
Os dados foram coletados por meio de dois SUS.
projetos guarda-chuva:
Sobre direitos sexuais e reprodutivos da po- Políticas de saúde LGBTI+: um pouco
pulação LGBTI+18, que analisou a percepção de da história e dos desafios atuais
profissionais da atenção primária de unidades
básicas de saúde (UBS) e seis sedes das regionais A pesquisa documental revelou aspectos sig-
de saúde de São Paulo (SP) acerca da saúde da nificativos sobre a implementação de políticas de
população LGBTI+; e ainda investigou docu- saúde voltadas à população LGBTI+, necessários
mentalmente a história das políticas de saúde para o entendimento do cenário atual. O Conse-
LGBTI+ de abrangência nacional e sua imple- lho Federal de Medicina, só em 198522 se pronun-
mentação. Ao todo foram entrevistados(as) ciou oficialmente sobre a retirada do termo “ho-
29 profissionais, incluindo gestores(as), médi- mossexualismo” da Classificação Internacional
cos(as), enfermeiros(as), técnicos(as) e auxiliares de Doenças (CID), embora o posicionamento do
de enfermagem, durante o ano de 2019. O proje- Editorial da Revista de Saúde Pública, em 198423,
to foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesqui- defendesse a permanência na CID, deslegitiman-
sas (CEP) da Universidade Federal de São Paulo do a demanda do incipiente movimento social
(Unifesp), sob o número 4.842.078. brasileiro e atribuindo à psiquiatria o poder da
Sobre análise da implementação da PNSI-L- decisão sobre o tema. Na mesma década, auge da
GBT nos três estados da região Sul do Brasil19,20, epidemia de HIV/Aids, deu-se a criação do Pro-
por meio de nove grupos focais (GF) realizados grama Nacional de DST/Aids e a sua posterior
com usuários(as) LGBTI+, ativistas, profissionais consolidação. Portanto, foi a partir do “pânico da
e gestores(as) do SUS, nas seguintes capitais, com Aids” que se pensou em políticas de saúde para
respectivo número de participantes e ano de rea- LGBTI+; muito mais no sentido de controlar
lização: Curitiba (n = 48 em 4 GF, 2018); Floria- tal população, compreendida como agentes de
nópolis (n = 36 em 3 GF, 2019) e Porto Alegre (n transmissão de doenças, do que de fato para pro-
= 21 em 2 GF, 2018). As respectivas secretarias tegê-la ou cuidá-la24. Todavia, a saúde LGBTI+
estaduais de saúde dos três estados colaboraram não pode ser limitada apenas à prevenção e ao
na divulgação, convite e engajamento de parti- tratamento de infecções sexualmente transmissí-
cipantes também de municípios do interior dos veis (ISTs), embora esteja profundamente anco-
estados. O projeto foi aprovado pelo CEP da Uni- rada nesse contexto25-27.
versidade Federal do Rio Grande do Sul (UFR- Demandas de saúde LGBTI+ foram intro-
GS) (Parecer nº 2.632.685/2018). duzidas na agenda política de forma mais am-
Em ambos os estudos que compõem esta aná- pla a partir da menção à categoria homossexu-
lise, tanto entrevistas quanto GF foram conduzi- al no Programa Nacional de Direitos Humanos
dos por pesquisadores(as) doutores(as), sendo (1996)28. Já em 2004, a Política Nacional de
que estudantes de pós-graduação colaboraram Atenção Integral à Saúde da Mulher reconhecia
na mediação dos GF. O material de campo foi a necessidade de atenção à saúde de diversos
gravado, transcrito e analisado tematicamente segmentos de mulheres, incluindo lésbicas29. No
a partir das categorias emergentes21. Todos(as) mesmo ano, o governo federal lançou o Progra-
participantes consentiram livremente em par- ma Brasil sem Homofobia – Programa de Com-
ticipar, assinando o Termo de Consentimento bate à Violência e à Discriminação contra GLTB
Livre e Esclarecido. Para a triangulação16,17, esses e de Promoção da Cidadania Homossexual30. O
diferentes inputs (análise documental, entrevistas Ministério da Saúde (MS) criou o Grupo de Tra-
e GF), de diferentes participantes (usuários(as), balho que depois originaria o “Comitê Técnico
profissionais, gestores(as) e ativistas), foram dis- de Saúde da População de Gays, Lésbicas, Trans-
cutidos pela equipe interdisciplinar de pesquisa, gêneros e Bissexuais”31. Em diálogo com outras
subsidiando a análise final. políticas para a promoção da equidade, foi elabo-
rado o conjunto de diretrizes que fundamentou a
PNSI-LGBT32, cuja versão final foi divulgada em
2010, aprovada em 2011 e pactuada na Comissão
Tripartite em 2013.
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Antes da PNSI-LGBT ser materializada, ou- consultivos de diálogo e controle social para im-
tras iniciativas contemplaram a população LGB- plementação da política em nível local.
TI+, como a Carta dos Direitos dos Usuários da Embora alguns avanços sejam notáveis, há
Saúde33, que explicitava o direito ao cuidado no muito a ser desenvolvido. Pesquisadores(as) des-
SUS livre de discriminação por orientação sexu- tacam a necessidade de se repensar a formação
al e identidade de gênero, abrindo espaço para a de profissionais de saúde18,39, cujos conteúdos
institucionalização do nome social no SUS. Além sobre saúde LGBTI+ são parcamente abordados.
disso, a centralidade da saúde enquanto deman- As ações em saúde voltadas às mulheres lésbicas,
da do movimento LGBTI+ é explicitada em ou- pessoas bissexuais, intersexuais e outras minorias
tros documentos, como os Anais da I Conferên- identitárias ainda são muito incipientes35,40. Cabe
cia Nacional LGBT, sendo que das 559 propostas ressaltar que a PNSI-LGBT sequer menciona in-
aprovadas pela plenária final, 167 dizem respeito tersexuais ou outras minorias sexuais. Além de
à saúde, o que corresponde a cerca de 30% do to- não constar no título (LGBT), não há referência
tal34. alguma no texto da política a esses grupos. A PN-
A PNSI-LGBT32 fundamenta-se nos princí- SI-LGBT necessita, portanto, de atualização.
pios e diretrizes do SUS, priorizando a equidade, Por outro lado, apesar de progressos, nos úl-
a integralidade e a participação social, que envol- timos anos tem havido uma grande lacuna no
vem o reconhecimento do direito à saúde como avanço de ações de abrangência nacional para
um direito básico e princípio da cidadania. Ela saúde de LGBTI+, reflexo de governos conserva-
reconhece que a discriminação e o preconceito dores e medidas de austeridade, com cortes no
institucional são barreiras para o acesso e a qua- financiamento do SUS. O relatório da 16ª Con-
lidade da atenção; desloca a lógica que atribui ao ferência Nacional de Saúde (2019)41 aponta como
indivíduo a responsabilidade única pelo processo desafios sobre a saúde da população LGBTI+ a
e pela condição de estar saudável e coloca o Esta- necessidade de políticas de equidade em uma
do como corresponsável pela produção de saúde; perspectiva interseccional e intersetorial e a ne-
e aponta diretrizes, responsabilidades e atribui- cessidade de intervenções para redução de vio-
ções ao MS e secretarias estaduais e municipais lências, que demandam efetiva ação do Estado.
de saúde.
Entretanto, a implementação da PNSI-LGBT Desafios de saúde da população LGBTI+
nos serviços nem sempre ocorre alinhada às ne- nos cenários do SUS
cessidades dos(as) usuários(as), sendo escassos
estudos sobre sua materialização10,19,35. Sua efeti- As duas pesquisas de campo conduzidas e
vação depende de vários fatores, inclusive o com- cuja análise triangulada subsidia este artigo evi-
prometimento de gestores(as) locais, profissio- denciaram narrativas em comum, que incluem
nais de saúde engajados(as) e a articulação com aspectos como18-20: o estigma e a discriminação
movimentos sociais. Como ações relevantes de de usuários(as) LGBTI+ por parte dos(as) pro-
sua implementação, podem ser apontadas10,19,36-38: fissionais de saúde; a necessidade de formação/
a inclusão do nome social no Cartão SUS; a am- capacitação de profissionais para o tema; proble-
pliação do processo transexualizador no SUS, ha- mas no acesso às redes de atenção; as limitações
bilitando serviços de atendimento especializado nos sistemas de informação do SUS, que acabam
nos estados do RS, RJ, SP, GO, PE, RJ, MG, SP e contribuindo para a falta de informações dessa
PR; cursos de educação a distância (EaD) sobre a população; preocupação da gestão com alimen-
PNSI-LGBT para profissionais do SUS, ofertados tação de dados nos sistemas, e não necessaria-
por universidades e pela Universidade Aberta do mente com as demandas dos usuários LGBTI+;
SUS (UNASUS); a inclusão dos campos “nome visões idealizadas da atenção primária, mas que
social”, “orientação sexual” e “identidade de gê- não condizem necessariamente com a realidade.
nero” nas fichas de cadastro individual do siste- Uma queixa recorrente foi que os sistemas de
ma eletrônico e-SUS da atenção básica (SISAB) e informação em saúde não se adaptaram para a
de notificação de violência do Sistema de Infor- existência das pessoas trans, travestis ou não-bi-
mação de Agravos de Notificação (SINAN), mais nárias, embora a demanda não seja recente. Um
o campo “motivação da violência” por “homo/ exemplo que emergiu do campo foi referente à
lesbo/bi/transfobia”; e, ainda, o fomento à criação dificuldade de realização de exames ginecológi-
de comitês técnicos de saúde LGBTI+ nos esta- cos como o Papanicolau em homens trans e o
dos, articulando junto às secretarias estaduais de exame de próstata em mulheres trans, pois o sis-
saúde e movimentos sociais a criação de espaços tema não permite. Como discute Berenice Ben-
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to42, a manutenção de situações em que a pessoa quando dispõem de serviços próximos ao seu
deve ser lembrada de sua suposta inadequação ou local de moradia18. Essa questão da proximidade
condição extraordinária faz com que ela depen- dos serviços foi ainda mais premente com os(as)
da do favor ou da benevolência de alguém para interlocutores(as) de pesquisa no Sul19 do país,
“ajustar o sistema”, ou seja, reitera o mecanismo que denunciavam que os serviços de saúde para
da cidadania a conta-gotas com a qual o governo pessoas LGBTI+ (como ambulatórios trans) es-
controla e segrega as pessoas trans. tão concentrados apenas em capitais ou grandes
Não obstante, o não-saber e a necessidade de centros urbanos. Portanto, um dos desafios co-
capacitação são argumentos retóricos que pare- locados é a necessidade de descentralização (do
cem justificar o não-desejo e a não-responsabili- centro para as periferias) e a interiorização (das
zação dos(as) profissionais de saúde e gestores(as) grandes cidades para o interior) dos serviços de
na implementação da política, como apontam saúde para pessoas LGBTI+.
Paulino e colaboradores43. Os problemas relacio- Se o acesso ao cuidado é fundamental, tam-
nados à saúde de travestis e transexuais também bém cabe reconhecer que as violências e suas
não podem ser descontextualizados da violência consequências se configuram como principais
cotidiana, dos agravos relativos à saúde mental, desafios de saúde da população LGBTI+8,37,44.
tais como depressão, tentativa de suicídio e a vul- Estudos46,47 reconhecem que esse coletivo fre-
nerabilização ao HIV25,44. Os dados, ainda que quentemente tem sua saúde mental abalada pelos
escassos, permitem destacar que a combinação efeitos da exposição contínua ao preconceito e à
dos efeitos do estigma, violência, discriminação e discriminação, o que alguns pesquisadores de-
transfobia são elementos do cotidiano da violação nominam de “estresse minoritário”. Tal condição
dos direitos das pessoas trans44-46. Nos serviços, explica a maior vulnerabilidade de pessoas LGB-
apesar das normativas existentes, a discrimina- TI+ à depressão e, no limite, ao suicídio. As vio-
ção ainda se constitui como obstáculo ao acesso lências perpassam os ciclos da vida de LGBTI+44:
aos serviços e ao cuidado. A melhoria na quali- iniciam com violência familiar, relacionada à
dade de vida da população de travestis e transe- recusa dos familiares a aceitarem sua orientação
xuais requer um denso debate sobre o modelo sexual e/ou identificação de gênero, prosseguem
biomédico. Enquanto isso, internacionalmente, com bullying nas escolas e continuam com atos
mais um passo foi dado rumo à despatologização de violência interpessoal na vida adulta, que po-
trans. Apesar de a OMS manter a transexualidade dem até culminar em homicídios praticados pelo
como “incongruência de gênero”, na nova edição simples fato de serem LGBTI+, os quais pode-
do Código Internacional de Doenças (CID-11), mos denominar “LGBTcídios”. Em outro estudo
vigente a partir de 2022, é retirada da categoria desenvolvido em nosso GT de Saúde LGBTI+,
“Desordens mentais, comportamentais e do neu- identificamos que a violência continua mesmo
rodesenvolvimento” e incluída em “Condições após a morte, no caso de pessoas trans, fato que
relacionadas à saúde sexual”. denominamos de “violência pós-morte”: suas
O acesso aos serviços de saúde ainda é um identidades de gênero não são respeitadas pelas
grande desafio para a população LGBTI+, e tal- famílias ou por legistas; corpos são vestidos para
vez o primeiro a ser enfrentando. Em pesquisa18 o velório com roupas do sexo de nascimento; ca-
conduzida em São Paulo, cuja análise compõe belos são cortados; nomes são “des-retificados”
essa triangulação, profissionais de saúde reve- nos túmulos e certidões de óbito, entre outros
laram barreiras no acesso de pessoas LGBTI+ atos violentos48.
relacionadas, entre outras razões, à falta de trei- Sob a pressão do “estresse de minorias” e com
namento de pessoal encarregado do acolhimento escassas fontes estruturais de apoio para desen-
nas UBS, de cursos de aperfeiçoamento profissio- volver formas de resiliência, pesquisas futuras
nal sobre a saúde LGBTI+ e, sobretudo, de um poderiam identificar as maneiras de enfrentar
plano que integre ações desse tipo em uma visão as iniquidades que, possivelmente, geram maior
estratégica e articulada na atenção básica, a via propensão à dependência química, tanto de dro-
de entrada das pessoas ao SUS. Gestores(as) de gas legais, como álcool e antidepressivos, quanto
UBS tendem a concordar que são insuficientes as ilegais. Sem a devida assistência e apoio, sujeitos
unidades de atendimento especializado. A come- relegados à própria sorte dispõem de um parco
çar porque a maioria foca apenas em ISTs, mas leque de alternativas para suportar as dores emo-
também porque são poucas e distantes da maio- cionais que se acumulam. Em síntese, no que se
ria, pois as demandas LGBTI+ estão capilariza- refere à saúde mental, é urgente a indução de
das e as pessoas tendem a ser mais bem atendidas pesquisas que explorem as consequências psíqui-
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co-sociais do estigma e da discriminação, assim exigem pesquisas, novas estratégias de preven-


como a criação de formas coletivas e estruturais ção, debate e esclarecimento público.
de enfrentamento do problema e abordagens in- Por fim, não há como ignorar os desafios que
tersetoriais. a pandemia de COVID-19 trouxe para a popula-
No que se refere à saúde das mulheres lésbi- ção LGBTI+. Identidade de gênero e orientação
cas e bissexuais, emergiram questões recorrentes sexual não-hegemônicas são fontes de inequi-
relacionadas às limitações por parte dos(as) pro- dades e por si só precisam ser consideradas no
fissionais de saúde na abordagem desse grupo. planejamento de ações de saúde. A pandemia,
O fenômeno da invisibilidade lésbica é descrito porém, exacerbou tais inequidades, que somadas
na literatura40 e também observado no campo da à invisibilidade na produção de indicadores so-
saúde coletiva. Ainda é escassa a produção cien- bre os impactos da COVID-19 nessa população,
tífica e serão necessários esforços para conheci- apenas reforçam sua marginalização. É um gru-
mento das diversas especificidades desse grupo. po já submetido à “guetização”, e cujas medidas
A literatura40,49-53 sobre mulheres lésbicas e bisse- de isolamento social acabaram por confinar no
xuais indica menor frequência de realização de mesmo espaço domiciliar pessoas LGBTI+ (prin-
exames ginecológicos e de prevenção ao câncer cipalmente as mais jovens) com familiares, que
de mama, procura tardia de cuidados, somente muitas vezes não respeitam sua orientação sexu-
após agravamentos, menor solicitação de exames al/identidade de gênero, configurando situações
por profissionais de saúde que as atendem e aten- de violência doméstica58. O estresse de viver com
ção limitada às dimensões reprodutivas. familiares que não os(as) respeitam leva a uma
Outro desafio é incentivar pesquisas sobre a série de agravos de saúde mental, aumentando
saúde das pessoas intersexo. Investigadores(as) risco de depressão, ansiedade, automutilação,
têm mostrado que, quando uma pessoa interse- tentativa de suicídio, entre outros59,60.
xo decide ir a um serviço de saúde, ela percorre É importante ressaltar que o panorama apre-
diferentes serviços, sendo questionada acerca da sentado neste artigo incide diretamente na dis-
designação sexual que lhe foi atribuída ao nasci- cussão sobre reconhecimento, na medida em que
mento54,55. Nessa trajetória, entra em contato com “o não-reconhecimento [...] significa subordina-
distintos(as) profissionais, em percursos marca- ção social no sentido de ser privado de partici-
dos por dificuldades e violências. As intervenções par como um igual na vida social”, como propõe
são quase sempre cirúrgicas e medicamentosas. Nancy Fraser61 (p. 107). Para essa autora61, as
Dessa forma, a intersexualidade é compreendi- instituições se estruturarão especificamente a
da na esfera da doença. Há uma persistência de partir daquilo que é reconhecido, de forma que
construção binária do gênero e as ambiguidades o não-reconhecimento implica normas que re-
corpórea e subjetiva são tratadas como patoló- gulam a valoração e oportunidades díspares “que
gicas. Para avançar nos debates sobre diretrizes constituem algumas categorias de atores sociais
de cuidado à intersexualidade, é preciso investir como normativos e outros como deficientes ou
na qualificação das equipes atuantes na questão inferiores” (p. 108). Mas não há paridade de
intersexo. oportunidades e de valoração em instituições que
No que se refere aos homens homossexu- não reconheçam as características que colocam
ais, Kerr e colegas56 mostraram que a prevalên- socialmente as pessoas enquanto minorias políti-
cia de HIV em gays e outros homens que fazem cas e sociais, seja na saúde ou não.
sexo com homens (HSH) aumentou de 12,1% Cabem ainda as reflexões de McQueen1 de
em 2009 para 18,4% em 2016. Para os(as) auto- que as questões de reconhecimento da população
res(as), isso se deve a lacunas de ações de pre- LGBTI+ se referem às elaborações estratégicas
venção, movimentos religiosos conservadores das normas que governam as relações sociais,
no governo e alocação insuficiente de recursos56. em processos pelos quais grupos específicos são
As campanhas de prevenção ora se voltam para construídos, regulados, censurados e até mesmo
atitudes individuais, deixando de dar ênfase às apagados. O autor ainda aponta que o que é con-
bases estruturais (como a profilaxia pré-exposi- siderado desviante dos conjuntos estabelecidos
ção – PreP), ora simplesmente evitando os no- de normas posiciona essas pessoas como margi-
vos contornos da epidemia, ignorando práticas nais, “exceção”, o que justifica a omissão ou ex-
como a ChemSex57, fenômeno em que aplicativos clusão. McQueen1 acrescenta que a luta pelo re-
de celular facilitam encontros sexuais com o uso conhecimento das pessoas LGBTI+ não é apenas
de drogas, criando contexto de vulnerabilidade para obter reconhecimento, mas de base ontoló-
a agravos à saúde. Cenários inéditos como esse gica em relação ao que é reconhecível.
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considerações finais ços de desenvolvimento das vidas. Tais criações e
invenções precisam ser investigadas e incorpora-
A triangulação conduzida neste estudo leva a das como políticas públicas intersetoriais.
considerar que a própria noção de saúde LGB- Os desafios à saúde se articulam com a neces-
TI+ é nova, e portanto um campo de estudos que sidade de aprofundar reflexões teórico-conceitu-
precisa ser mais desbravado. Muitas pesquisas ais envolvendo os direitos humanos daqueles(as)
se concentram em apenas um dos segmentos da ainda não abarcados e reconhecidos pela saúde,
sigla. Na perspectiva da saúde coletiva, prioriza- de maneira que a identificação das demandas de
mos reconhecer que se trata de um grupo cuja saúde LGBTI+ se relacionam e amplificam nos-
diversidade é ampla e as demandas ultrapassam sa compreensão sobre essa população. Depois de
aquelas apenas articuladas a partir de identidades décadas da incorporação do conceito de gênero e
e segmentos. A triangulação foi uma tentativa de do desenvolvimento das pesquisas sobre sexuali-
buscar as conexões entre identidades tão diversas dades, hoje é possível afirmar que as fronteiras se
mas que compartilham demandas em comum modificaram, de modo que, em vez de um seg-
para o campo da saúde coletiva. Reconhecemos mento fechado, o LGBTI pode ser compreendido
as limitações deste estudo, que incluem: pesquisa como a parte mais visível, tal qual a ponta de um
de campo feita apenas nas regiões Sul e Sudeste, iceberg, mas que inclui uma população incalculá-
deixando de ouvir interlocutores de outras regi- vel de pessoas “submersas” aos olhos da maioria,
ões do país; o fato de não podermos nos aprofun- e que se busca abarcar no sinal “+”. Inclui desde
dar nos segmentos, já que o intuito era abordar o identificações emergentes, como as de assexuais e
coletivo que compõe a sigla; e ainda não termos pansexuais, até aquelas que não se identificam no
sido capazes de abarcar a discussão sobre as de- binarismo de gênero (não-binárias).
mais minorias sexuais e de gênero. As problemáticas da população LGBTI+ são
Enquanto integrantes de um GT de Saúde cada vez mais de interesse coletivo e estrutural
da População LGBTI+ da ABRASCO, buscamos para políticas públicas, em especial na área de
contribuir para uma agenda de pesquisa ampla saúde. Da mesma forma, interpelam o SUS e
para o reconhecimento dessas pessoas, em pers- sua rede de assistência, exigindo o olhar atento e
pectiva da interseccionalidade dos marcadores. sensível da ciência e de profissionais/gestores da
Da mesma maneira, há a necessidade de elaborar rede, almejando tanto o desenvolvimento de con-
formas de cuidado inclusivas e pautadas na equi- ceitos e teorias quanto a qualificação de práticas
dade, que podem reinventar os caminhos, os iti- afeitas a essa realidade emergente.
nerários terapêuticos, além de reconfigurar espa-

colaboradores

Os autores e as autoras declaram que participa-


ram colaborativamente na construção do artigo.
Idealizaram conjuntamente a proposta, no inte-
rior do Grupo Temático (GT) de Saúde da Popu-
lação LGBTI+ da ABRASCO (Associação Brasi-
leira de Saúde Coletiva), executaram as ações de
campo, compilando os resultados, efetuando a
análise e sistematizando a versão inicial do texto.
Todos(as) revisaram igualmente o texto, apon-
tando melhorias na redação e aprovaram a versão
final do artigo.
3822
Miskolci R et al.

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