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07122022 3835
artigo article
da produção científica brasileira
Abstract The National Policy of Comprehensive Resumo A Política Nacional de Saúde Integral
Health of Lesbians, Gays, Bisexuals, Transvestites de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transe-
and Transsexuals (LGBT) was an important step xuais (LGBT) foi um importante passo na busca
in the search for equity. The lack of specific rese- de equidade. A falta de pesquisas específicas pode
arch can be an obstacle for the design of strategies ser um entrave na elaboração de estratégias que
that address LGBT health needs. The objective of abarquem as necessidades de saúde dessa popula-
this study is to map and characterize the Brazi- ção. O objetivo deste estudo foi mapear e caracte-
lian scientific production on the LGBT popula- rizar a produção científica brasileira sobre a saú-
tion health. We used the rapid scoping review me- de da população LGBT. Utilizamos a metodologia
thodology to perform a thematic and bibliometric de revisão de escopo rápida para realizar uma
analysis. We included Brazilian researchers’ stu- análise temática e bibliométrica. Incluímos es-
dies published in scientific journals. Searches tudos de pesquisadores(as) brasileiros(as) publi-
were carried out in four databases, with inclusion cados em periódicos científicos. As buscas foram
of 381 articles in the analysis. The results indica- realizadas em quatro bases de dados, sendo inclu-
te that Brazilian production about the health of ídos 381 artigos. Os resultados indicam que a pro-
LGBT has increased over time, particularly from dução científica brasileira sobre a saúde de LGBT
2016, but there are some gaps in specific needs aumentou ao longo do tempo, particularmente a
and vulnerabilities within the subgroups of peo- partir de 2016, porém observam-se lacunas em
1
Núcleo de Evidências, ple covered by the acronyms LGBTQIA+. Despite necessidades e vulnerabilidades específicas dentro
Instituto de Saúde, the advances launched from the National Policy dos subgrupos abarcados pela sigla LGBTQIA+.
Secretaria de Estado da of Health Integral LGBT, there are still many gaps Apesar dos avanços promovidos a partir da Polí-
Saúde de São Paulo. R. Santo
Antônio 590, Bela Vista. in Brazilian scientific production, which could be tica Nacional de Saúde Integral LGBT, há ainda
01314-000 São Paulo SP included in the agenda of priorities for promoting muitas lacunas na produção científica brasileira,
Brasil. fernando.domene@ research. que poderiam ser incluídas na agenda de priori-
alumni.usp.br
2
Fundação Oswaldo Cruz. Key words Sexual and gender minorities, Gen- dades para fomento à pesquisa.
Brasília DF Brasil. der and health, Health policy, Brazil, Review Palavras-chave Minorias sexuais e de gênero,
3
Departamento de Estudos Gênero e saúde, Política de saúde, Brasil, Revisão
sobre Violência e Saúde
Jorge Careli (Claves), Escola
Nacional de Saúde Pública
Sergio Arouca, Fundação
Oswaldo Cruz. Rio de
Janeiro RJ Brasil.
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associação entre as duas unidades de análise de de uma diminuição circunstancial em 2020 (Grá-
interesse (autores e termos dos títulos). Para a fico 1).
rede de coautoria, foram considerados os seguin- Pouco mais da metade dos estudos (198) foi
tes critérios de inclusão: i) autores(as) com mais publicada em revistas nacionais. Entre as 61 re-
de um artigo; ii) autores(as) com coautoria e iii) vistas nacionais identificadas, Cadernos de Saú-
autores(as) que apresentaram força de associação de Pública foi a que apresentou maior número
maior que zero. Já para a rede lexical de termos de publicações, 30 (15%), seguida de Ciência &
recorrentes nos títulos dos artigos selecionados, Saúde Coletiva com 23 (12%), Sexualidad, Salud
os critérios de inclusão foram: i) termos com y Sociedad com 12 (6%) e Revista Brasileira de
cinco ou mais ocorrências e ii) termos com força Enfermagem com 10 (5%). De 69 revistas inter-
de associação maior que zero. A força de associa- nacionais, as que apresentaram maior número de
ção foi calculada automaticamente pelo software publicações foram a AIDS and Behavior com 17
VOSviewer21, seguindo os métodos descritos por (9%), PLoS One com 14 (8%), Journal of Acqui-
Van Eck e Waltman21 (2010). red Immune Deficiency Syndromes com 12 (7%) e
Os resultados foram apresentados na forma AIDS Care com 8 (4%). Entre os estudos publica-
de grafos de rede, possibilitando a inspeção vi- dos em revistas internacionais, os pesquisadores
sual e a identificação das características de co- brasileiros participaram na condição de coauto-
laboração e associação nas redes analisadas. Os res em 23 (13%) deles.
grafos apresentam as seguintes informações visu-
ais: i) nós (autores individuais e termos), ii) co- Delineamento dos estudos
nexões (coautoria e co-ocorrência) e iii) métricas e local de realização
de associação (proximidade, representada pela
localização dos nós na rede, e força de associa- Com relação ao delineamento metodológico,
ção, representada pelo tamanho da bolha e pela 224 (59%) estudos foram categorizados como
espessura da linha conectora). quantitativos (transversal, coorte, caso-controle,
ecológico), 116 (30%) qualitativos (qualitativo,
etnografia), 3 (1%) mistos e 38 (10%) revisões
Resultados (narrativa, sistemática, integrativa). Vale ressaltar
que os estudos quantitativos transversais repre-
De 1.020 registros identificados na busca, 749 tí- sentam 43% das publicações, seguidos de 19% de
tulos e resumos foram avaliados, após a exclusão pesquisas qualitativas.
de duplicatas. Desses, 403 relatos foram conside- A maioria das pesquisas não cita especifica-
rados elegíveis e checados quanto aos critérios de mente as cidades do Brasil onde foi conduzida.
inclusão e exclusão em uma segunda leitura dos Quando essa informação estava disponível, ob-
resumos ou acesso ao artigo completo, sendo 22 servou-se que os estados com maior frequência
excluídos por não atenderem aos critérios estabe- foram São Paulo (41), Rio de Janeiro (39), Rio
lecidos, em especial: não envolver a população de Grande do Sul (20), Ceará (15), Bahia (14), Mi-
interesse, não ter disponibilidade eletrônica, não nas Gerais (11), em geral abrangendo as capitais.
ter sido publicado em periódico científico, não O Brasil também aparece mencionado como lo-
ter sido realizado no Brasil e não contar com a cal de realização em 23 estudos, juntamente com
participação de pesquisadores(as) brasileiros(as). outros países.
No final, 381 publicações foram incluídas nesta
revisão de escopo (Figura 1). A lista dos estu- Instituições e financiamentos envolvidos
dos incluídos é apresentada no material suple-
mentar (Apêndice 2, disponível em: https://doi. A respeito da instituição de filiação do(a)
org/10.48331/scielodata.MVLPDP). primeiro(a) autor(a), a Fundação Oswaldo Cruz
(Fiocruz) apareceu em 60 publicações (16%),
Publicações por ano e periódico principalmente por meio do Instituto Nacional
de Infectologia Evandro Chagas e da Escola Na-
Os estudos incluídos foram publicados de cional de Saúde Pública Sergio Arouca, ambas no
setembro de 1985 a fevereiro de 2022, sendo 61 Rio de Janeiro. Entre as filiações a departamentos
deles (16%) de 2021. Na análise temporal das pu- ou programas de pós-graduação de universida-
blicações por ano, percebeu-se que, a partir de des, destacaram-se a Universidade de São Paulo
2016, um crescimento acentuado de publicações (USP), com 43 autores (11%), representada por
pode ser verificado, com pico em 2019, seguido seus campi na capital e em Ribeirão Preto, segui-
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elegibilidade (n = 1)
(n = 403)
Relatos excluídos:
Relatos avaliados para Não foi publicado em periódico (n = 8)
elegibilidade Não foi realizado no Brasil (n = 5)
(n = 402) Não têm pesquisador(a) brasileiro(a) (n = 4)
Não aborda população BGBTQI+ (n = 4)
Incluídos
da da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Entre os 194 contaram com fomento nacional, as
(UFRGS), com 22 (6%), da Universidade Fede- principais agências citadas foram o Conselho Na-
ral de Minas Gerais (UFMG), com 17 (5%) e da cional de Desenvolvimento Científico e Tecnoló-
Universidade Federal da Bahia (UFBA), com 10 gico (CNPq), em 80 publicações (41%), a Coor-
(3%). denação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Os estudos internacionais dos quais partici- Superior (Capes), em 50 publicações, (26%) e al-
param pesquisadores(as) brasileiros(as) (11%) guns departamentos do Ministério da Saúde, em
foram representados por instituições localizadas 42 (22%). Vale também destacar a participação
nos Estados Unidos (University of California, das fundações de amparo à pesquisa (FAP) refe-
Cancer Center and Research Institute, Gladstone ridas em 48 publicações (25%), principalmente a
Institute of Virology and Immunology, San Fran- do estado de São Paulo (FAPESP).
cisco Department of Public Health) e na Austrá- De 43 pesquisas que contaram apenas com
lia (University of New South Wales). apoio de instituições de fomento internacional,
Quanto ao financiamento, pouco mais de nota-se que houve mais financiamento do NIAID
um terço das publicações (130) não apresentou – National Institute of Allergy and Infectious Di-
dados sobre fontes de fomento, enquanto 22 es- seases, dos Estados Unidos, presente em 18 delas
tudos referiram não ter recebido qualquer apoio. (42%), seguido da empresa de biofarmacologia
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Ano
Fonte: Autores.
americana Gilead Sciences, em nove (21%), do sexo com homens (HSH) (142 publicações),
UNAIDS – United Nations Programme on HIV/ mulheres pansexuais (uma publicação), homens
AIDS, em oito (18%), do UNODC – United Na- pansexuais (uma publicação) e não-binários (seis
tions Office on Drugs and Crime, também em publicações). Vale ressaltar que várias publica-
oito pesquisas (18%). Além disso, de 225 estudos ções trouxeram mais de uma população estudada
que informaram algum tipo de financiamento, 30 (Gráfico 2).
(13%) receberam financiamento de instituições Os temas abordados nos estudos foram bas-
de fomento de pesquisa nacionais e internacio- tante diversificados, sendo agrupados por simila-
nais. ridade quando possível: 1) HIV; HIV e Aids; HIV
e sífilis; HIV e DST; HIV e Entamoeba histolyti-
Categorias LGBTQIA+ e temas abordados ca; HIV e tuberculose; HIV, sífilis e hepatites B e
nos estudos C; TARV – terapia anti-retroviral; HAART – te-
rapia antirretroviral altamente ativa; PrEP – pro-
Os 381 estudos citam a população LGBT- filaxia pré-exposição (145 publicações); 2) acesso
QIA+ com nomenclaturas diversas, sendo aqui a serviços de saúde ou atenção à saúde (35 publi-
apresentada em 17 subgrupos: lésbicas (98 pu- cações); 3) DST e IST – Doenças e infecções se-
blicações), gays (116 publicações), mulheres xualmente transmissível; HPV – papilomavírus
bissexuais (76 publicações), homens bissexuais humano; HSV – vírus herpes simples; Chlamy-
(85 publicações), mulheres transexuais (103 pu- dia trachomatis; Neisseria gonorrhoeae e sífilis;
blicações), homens transexuais (83 publicações), HTLV-1 – human T cell lymphotropic virus type
mulheres transgêneros (72 publicações), homens 1; sífilis; vaginose bacteriana (18 publicações); 4)
transgêneros (34 publicações), travestis (93 pu- COVID-19 (14 publicações); 5) política de saúde
blicações), queers (nove publicações), intersexu- (14 publicações); 6) violência; violência sexual;
ais (14 publicações), assexuais (quatro publica- violência simbólica; discriminação; homofobia;
ções), mulheres que fazem sexo com mulheres estigma (14 publicações); 7) saúde mental; suicí-
(MSM) (seis publicações), homens que fazem dio; comportamento suicida (13 publicações); 8)
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15,00%
10,00% 8,9
5,00% 3,6
1,5 1,5 2,3
0,2 0,2 1,0
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Fonte: Autores.
sexo anal receptivo desprotegido; comportamen- Os demais temas a seguir foram abordados
to sexual; sexo inseguro intencional; sexo pago; em uma publicação apenas: privação da liberda-
sexo protegido (12 publicações); 9) processo de de, união civil, acesso à trabalho, alimentação e
redesignação sexual (11 publicações); 10) escala nutrição, atendimento ginecológico, atividade
de atitudes; Escala Multidimensional de Precon- física, autoestima, avaliação da voz, câncer anal,
ceito Sexual; questionário de conhecimento so- câncer de próstata, comportamento, comporta-
bre homossexualidade; Reactions to Homosexua- mento em saúde, direitos, direitos e acesso à saú-
lity Scale/Transsexual Voice Questionnaire; ATLG de, disforia de gênero, dispositivo cis-heteronor-
– Attitudes Toward Lesbians and Gay Men Scale, matividade, diversidade sexual, envelhecimento,
(sete publicações); 11) uso de hormônios; uso de estigma, legislação e saúde, fator neurotrófico de-
silicone líquido industrial (sete publicações); 12) rivado do cérebro, homoparentalidade, microbi-
uso de drogas; uso sexualizado de drogas; abuso cida retal, nome social, padrões de acasalamento,
de álcool (sete publicações); 13) hepatite B; he- políticas públicas, preferências esportivas, preva-
patite A; hepatite C; hepatites (seis publicações); lência de carga viral em LGB, privação de liber-
14) pesquisa; produção do conhecimento (seis dade, processo de criminalização, Projeto Escola
publicações); 15) formação em saúde (5 publica- sem Homofobia, qualidade de vida, rede de ser-
ções); 16) família (quatro publicações); 17) iden- viços, rede social, religião, representação política,
tidade de gênero (quatro publicações); 18) repre- resistência medicamentosa, sistema sexo-gênero,
sentação social (quatro publicações); 19) doação tuberculose, terapias de conversão, transgende-
de sangue (três publicações); 20) vulnerabilidade rismo.
em saúde; vulnerabilidade feminina; vulnerabili- Observa-se que, dos principais temas rela-
dade social (três publicações); 21) movimentos cionados com as populações mais estudadas,
LGBT (três publicações); 22) serviços de concep- houve maior quantidade de publicações de HIV/
ção; tecnologias reprodutivas (duas publicações); Aids relacionado à HSH (57%) e gays (21%). Em
23) morfologia cerebral (duas publicações). relação a DST/IST, nota-se maior concentração
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Tabela 1. Distribuição dos temas mais frequentes nas publicações conforme especificidade da população
LGBTQIA+.
Subgrupos da população LGBTQIA+
Total
Mulheres
Temas mais frequentes HSH Gays Lésbicas Travestis de cada
transexuais
n (%) n (%) n (%) n (%) temática
n (%)
HIV/Aids 82 (57) 31 (21) 21 (14) 16 (11) 19 (13) 145
Acesso e atenção à saúde 3 (9) 15 (43) 20 (57) 16 (46) 17 (49) 35
DST/IST 8 (44) 5 (28) 2 (11) 4 (22) 4 (22) 18
COVID-19 5 (36) 6 (43) 4 (29) 7 (50) 3 (21) 14
Política de saúde 0 (0) 10 (71) 11 (79) 10 (71) 8 (57) 14
Violência 4 (29) 4 (29) 6 (43) 4 (29) 10 (71) 14
Saúde mental 3 (23) 3 (23) 5 (39) 2 (15) 3 (23) 13
Comportamento sexual 7 (58) 2 (17) 2 (17) 1 (8) 0 (0) 12
Processo de redesignação sexual 2 (18) 1 (9) 6 (55) 1 (9) 1 (9) 11
Nota: em algumas publicações, mais de uma população foi estudada.
Fonte: Autores.
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Figura 3. Rede de palavras mais recorrentes nos títulos dos estudos selecionados.
transexuais, mulheres transgêneros e travestis. saúde-doença. Desse modo, a Política LGBT tem
De acordo com os temas abordados nos estudos, como objetivo ampliar o acesso aos serviços do
destacam-se os avanços em pesquisas sobre HIV/ SUS, garantir o respeito e acolhimento das de-
Aids e DST/IST. A respeito de acesso e atenção mandas e necessidades dessa população e insti-
à saúde, houve maior frequência de publicações tuir mudanças na determinação social da saúde,
sobre mulheres transexuais, travestis e lésbicas. a fim de diminuir as desigualdades em saúde
Dessa forma, mesmo com o aumento da produ- para LGBTQIA+2.
ção científica acerca da saúde da população LGB- Mandarino et al.11 (2019) investigam a visibi-
TQIA+ ao longo dos anos, os dados apresentam lidade de pessoas LGBT nas pesquisas em saúde
desafios e barreiras sobre as especificidades de- pública por meio da identificação de projetos de
mandas e necessidades dessa população que pre- pesquisas voltados à Política LGBT nos editais do
cisam ser estudados. Programa de Pesquisa para o SUS (PPSUS). Pri-
A Política Nacional de Saúde Integral de Lés- meiramente, observam que a Agenda Nacional de
bicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais Prioridades de Pesquisa em Saúde, que alicerça o
legitima e estabelece garantias para o direito à edital do PPSUS, não registra como prioritário o
saúde da população LGBTQIA+ e reconhece tema de pesquisa referente à população LGBT.
que a discriminação e a exclusão dessa popula- Ao analisar os registros dos sites das fundações
ção causam efeitos nocivos em seu processo de estaduais de amparo à pesquisa e do Distrito Fe-
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visões abordando esse aspecto. A necessidade de cinzenta, limitando-se aos dados sobre estudos
atenção especial à assistência à saúde mental de publicados. Em geral, é plausível que exista uma
pessoas LBGTQIA+ é prevista pela Política Na- diversidade de pesquisas que não foram publica-
cional2. Segundo Peres26, a população de travestis das como artigos em revistas científicas, mas no
apresenta sintomas como crises de ansiedade, an- presente estudo, a questão de interesse foi deli-
gústias, depressão e síndrome do pânico decor- mitada para abordar exatamente esta forma de
rentes da estigmatização vivenciada. Esses são fa- disseminação. Não há indícios de que os resul-
tores que podem levar a várias situações de risco, tados apresentados mudariam de forma impor-
como uso de álcool e outras drogas. Nesse con- tante com a inclusão da literatura cinzenta, mas é
texto, deve-se reconhecer a necessidade de mais preciso considerar que a inclusão desses estudos
estudos sobre a saúde mental de pessoas LGBT- poderia amplificar e melhorar a confiança nos re-
QIA+, a fim de contribuir para o planejamento sultados apresentados. Outra limitação identifi-
das ações de saúde pública para esta população. cada decorre da análise temática, que considerou
No mapeamento que realizamos, identifi- principalmente os títulos e resumos, podendo
camos outra lacuna referente à população de haver imprecisões em face da insuficiência de in-
travestis, apresentada pela Política LGBT como formações neles apresentadas. Por fim, a análise
uma população de risco para uso prolongado de bibliométrica foi baseada apenas nos dados ex-
hormônios, uso excessivo de medicamentos, dro- traídos diretamente dos registros bibliométricos,
gas e fármacos e alta morbimortalidade. Foram providos pelas bases indexadas onde a busca foi
encontrados poucos estudos abordando essas realizada, e não foram checados individualmen-
temáticas como tema central e investigando essa te, podendo haver algum erro ou imprecisão pré-
população específica. vios, mas é improvável que sejam circunstâncias
Ações e serviços específicos à população que afetem de forma importante as redes de asso-
LGBT são fundamentais para a manutenção da ciação constituídas na análise.
saúde e da qualidade de vida dessas pessoas.
Questões relacionadas a orientação sexual, se-
xualidade e práticas sexuais podem ser conside- Considerações finais
radas sensíveis também em serviços de saúde, e
uma vez que não há garantias de acesso ou de Houve crescimento da produção científica de
confidencialidade do atendimento, muitas pesso- autores(as) brasileiros(as) alguns anos após a
as podem não utilizar os serviços de que preci- criação da Política Nacional de Saúde Integral
sam, com consequências negativas para a saúde. LGBT, com cerca da metade dos estudos sendo
Desse modo, garantir a privacidade, a confiden- publicados em revistas nacionais. Observamos
cialidade e a tomada de decisão informada são que a maioria dos estudos analisou infecções
importantes, especialmente na prestação de ser- sexualmente transmissíveis em suas diversas
viços27. populações. Identificamos lacunas de deman-
Este estudo apresenta algumas limitações. das, necessidades e vulnerabilidades ressaltadas
Primeiramente, por ser uma revisão de escopo na Política e nos manuais de saúde consultados,
rápida, é possível que não tenha coberto a tota- principalmente nas especificidades de saúde de
lidade dos estudos importantes no seu processo cada população presente na sigla LGBTQIA+.
de busca e seleção, no entanto, a busca estrutu- Essa defasagem de pesquisas focais pode dificul-
rada e o processo de seleção duplicado e checado tar na elaboração de ações específicas para alcan-
podem ter ajudado a minimizar os riscos rela- çar maior integralidade e equidade no cuidado
cionados a tal limitação. Além disso, não foram da população LGBTQIA+ brasileira.
incluídas teses e dissertações, nem a literatura
3847
FM Domene, JL Silva e TS Toma elaboraram o 1. Brasil. Lei 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe
sobre as condições para a promoção, proteção e recu-
protocolo, trabalharam no planejamento, pro-
peração da saúde, a organização e o funcionamento
cesso de seleção, extração e análise dos dados dos serviços correspondentes e dá outras providên-
e escrita do texto. LALB Silva e RC Melo parti- cias. Diário Oficial da União 1990; 20 set.
ciparam da análise dos dados, interpretação e 2. Brasil. Ministério da Saúde (MS). Secretaria de Gestão
descrição dos resultados e escrita do texto. JOM Estratégica e Participativa. Departamento de Apoio à
Gestão Participativa. Política Nacional de Saúde In-
Barreto participou do planejamento, análise dos
tegral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Tran-
resultados e escrita do texto. A Silva planejou e sexuais / Ministério da Saúde, Secretaria de Gestão
elaborou a estratégia de busca. Todos os autores Estratégica e Participativa, Departamento de Apoio à
revisaram e aprovaram a versão final. Os autores Gestão Participativa. Brasília: MS; 2013. –
declaram não haver conflito de interesses. 3. TODXS, UNAIDS. Cartilha de Saúde LGBTQI+ –
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