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DOI: 10.54751/revistafoco.v16n3-009
Recebido em: 01 de fevereiro de 2023
Aceito em: 03 de Março de 2023
RESUMO
O presente artigo pretende analisar a prevalência do autismo na população brasileira e
trazer luz sobre a necessidade da adequada mensuração da mesma. Para tanto,
utilizou-se de pesquisa qualitativa e quantitativa, bem como revisão bibliográfica
atualizada, apoiando-se nos estudos mais recentes realizados no país mais avançado
em termos estatísticos sobre o tema, os Estados Unidos. Como resultado, estimou-se
uma amplitude de mais de 5 milhões de pessoas, além de suas famílias, que podem
não estar recebendo a devida atenção. Com o agravante de que a correta identificação
da condição é elemento primordial para o dimensionamento das políticas públicas.
ABSTRACT
This article analyzes the prevalence of autism in the Brazilian population and highlights
the need for it's adequate measurement. Qualitative and quantitative research was used,
as well as an updated revised review, based on the most recent studies carried out in
the most advanced country in statistical terms on the subject, the United States. As a
result, it was estimated that more than 5 million people, in addition to their families, may
not be receiving necessary attention. Moreover, the correct identification of the condition
is a primordial element for the targeting and optimization of public policies.
1
Pós-graduanda em Docência com ênfase na Educação Especial e Inclusiva pelo Instituto Federal de Educação, Ciência
e Tecnologia de Minas Gerais (IFMG). Av. Juscelino Kubitscheck, 485, Distrito Industrial II, Arcos - MG, CEP: 35588-000.
E-mail: julianamsfreire@gmail.com
2
Doutora em Bioengenharia neuronal pela Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ). Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais (IFMG). Av. Juscelino Kubitscheck, 485, Distrito Industrial II, Arcos
- MG, CEP: 35588-000. E-mail: gisele.nogueira@ifmg.edu.br
RESUMEN
Este artículo tiene como objetivo analizar la prevalencia del autismo en la población
brasileña y arrojar luz sobre la necesidad de medirlo adecuadamente. Para ello, se
utilizó una investigación cualitativa y cuantitativa, así como una revisión bibliográfica
actualizada, basada en los estudios más recientes realizados en el país
estadísticamente más avanzado sobre el tema, los Estados Unidos. Como resultado, se
estimó un abanico de más de 5 millones de personas, además de sus familiares, que
podrían no estar recibiendo la atención adecuada. Com o agravante de que a correta
identificação da condição é elemento primordial para o dimensionamento das políticas
públicas.
1. Introdução
O contexto e o conceito sobre o que se entende sobre o autismo mudaram
com o passar do tempo. Parte porque há uma evolução das descobertas
científicas e parte porque, ao longo do tempo, houve alterações nos critérios
diagnósticos da condição. Isto posto, atualmente, sabe-se que o autismo é mais
comum do que se conhecia antigamente (CNS, 2011). Estudar o tema é um
grande desafio do nosso tempo, tendo em vista que se trata de um transtorno
quantitativamente (e até qualitativamente) pouco conhecido no país.
Na pesquisa objetivou-se analisar e compreender a importância de se
conhecer a correta quantidade de indivíduos com Transtorno do Espectro Autista
(TEA) no Brasil. Considera-se TEA como um transtorno do
neurodesenvolvimento complexo, de origem predominantemente genética,
marcado pela heterogeneidade e que interfere no processamento das
informações e na aprendizagem, causando prejuízos na vida social. Essa
condição complexa trás desafios para toda a sociedade, tais como: identificação,
tratamentos e políticas públicas (CID-11, 2018; Del Monde et al. 2018; DSM-5,
2014).
Com o intuito de refletir sobre o impacto (e a falta) do dimensionamento
da população autista no Brasil e seus desdobramentos, utilizou-se um estudo
misto qualitativo e quantitativo de base populacional e pesquisa bibliográfica em
agências governamentais e não-governamentais, legislações pertinentes,
artigos científicos e jornais.
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Nos dias atuais, essas dificuldades alimentares e intolerância a sons são reconhecidas como
alterações sensoriais.
Enquanto isso, a versão mais atual do CID, a versão 11, publicada pela
Organização Mundial da Saúde em 2018, indica que os critérios que
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Entende-se como estereotipias movimentos repetitivos e relaxantes e que auxiliam a manter a
mente focada para lidar com ambientes sensorialmente estressores. Assim, embora o conceito
de estereotipia e stimming/ stim estejam adotados muitas vezes de maneira similar na literatura,
na visão da comunidade autista, há uma preferência pelo termo stim ou stimming, que são,
sim, movimentos corporais repetitivos e de autoestimulação em um ou mais sentidos, de maneira
regulada, porém sem o viés patológico que acompanha a palavra estereotipia.
Além disso, a lei nº 7.853 de 1989 versa sobre apoios às pessoas com
deficiência, dentre os quais, destaca-se: educação especial5, saúde e recursos
humanos (formação de profissionais habilitados para atuar nesse nicho). Isto
posto, fica claro que é responsabilidade conjunta de toda a sociedade (do Estado
e da família) prover o pleno desenvolvimento da pessoa com autismo. Para isso,
é preciso ter profissionais da saúde habilitados para identificar e acompanhar o
desenvolvimento da manifestação, as escolas precisam ter profissionais
capacitados e, por fim, os pais necessitam de auxílio para que seus filhos sejam
capazes de se desenvolver da melhor maneira possível.
Diante do impacto do autismo nas famílias, a literatura reconhece o
estresse nos pais, intensificado pela sobrecarga de cuidados, tanto emocionais
quanto financeiros. Interferindo, portanto, nas tarefas domésticas, nas relações
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Há 3 paradigmas: 1) Segregação, em que as pessoas são distanciadas da sociedade,
geralmente, em instituições específicas; 2) Integração, em que a pessoa com deficiência começa
a ter acesso às instituições regulares, mas sem os devidos suportes, às vezes, até em uma sala
segregada dos ditos “normais”; e 3) Inclusão, em que envolve uma evolução dos paradigmas
anteriores, que respeita à diversidade e busca favorecer o desenvolvimento, independente das
dificuldades que a pessoa apresente. No Brasil, atualmente, embora não seja um consenso
absoluto, a Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva é reconhecida como a
melhor opção.
realidade brasileira. Por sua vez, esses estudos divergem, muitas vezes, quanto
à metodologia, nos grupos etários e nas regiões de abrangência, mesmo que
sejam convergentes nos resultados encontrados.
7. Considerações Finais
Diante da ausência de estatísticas de prevalência de autismo no Brasil,
constata-se que o país precisa avançar na identificação dessa população que,
por sua vez, possui uma condição reconhecidamente complexa e desafiadora,
tanto no quesito de diagnóstico quanto nos acompanhamentos necessários.
Como observado em outros estudos científicos, o desconhecimento gera
preconceitos, discriminação e, frequentemente, exclusão. Favorecer o
conhecimento minimiza barreiras que eventualmente atrapalham o
desenvolvimento pleno, possibilita ampliar a visibilidade e promover um melhor
prognóstico futuro.
Consequentemente, torna-se necessária a capacitação de profissionais
da educação e da saúde, para que se tornem aptos a auxiliar nesse processo,
com a melhor qualidade possível, em busca de garantir, inclusive, os direitos
previstos na Constituição Federal.
Não investir na correta identificação e posterior quantificação da
prevalência, constitui um desperdício do potencial humano, pois, tendo cada ser
humano a sua individualidade (facilidades, dificuldades e interesses), podem
eventualmente necessitar de estratégias diferenciadas de ensino-aprendizagem,
o que só é possível com acesso a profissionais capacitados. Inclusive, ignorar
as especificidades pode configurar instrumento indireto de violação dos direitos.
O cenário mais adequado no que tange aos estudos de prevalência de
autismo seria aquele em que houvesse pesquisas nacionais onde refletissem
melhor a realidade e as especificidades do país. Afinal, estamos falando de uma
população de 1,3 milhão ou 6,5 milhões de pessoas no espectro? Fica, portanto,
a sugestão para que sejam conduzidos novos estudos, algo que é fundamental
para aprimoramento das políticas públicas visando o correto atendimento dos
envolvidos e de seus familiares.
REFERÊNCIAS
______. Lei nº 7.853: Apoio às pessoas com deficiência, 1989. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7853.htm
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