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ISSN: 2525-8761
RESUMO
A profissão de psicólogo no Brasil surgiu nos anos de 1960, num momento histórico,
político e social muito importante. O fortalecimento das políticas públicas a partir da
década de 1980 promoveu a abertura de novos espaços de trabalho para os profissionais
da psicologia, principalmente nas políticas de saúde e de assistência social. Esse fato
demandou da psicologia uma série de transformações na formação acadêmica, mas que
ainda carece de subsídios e pesquisas. O presente artigo aborda a história social resumida
do período, as especificidades da profissão e a necessidade do desenvolvimento de
qualidades específicas para mediar o trabalho interdisciplinar com qualidade. Com apoio
epistemológico da fenomenologia, os autores observam o si mesmos no processo e
identificam carências gerais para o exercício da profissão de psicólogo em ambiente de
políticas públicas.
ABSTRACT
The psychologist profession in Brazil emerged in the 1960s, at a very important historical,
political and social moment. The strengthening of public policies from the 1980s onwards
promoted the opening of new work spaces for psychology professionals, especially in
health and social assistance policies. This fact demanded a series of transformations from
psychology in academic training, but which still lacks subsidies and research. This article
addresses the summarized social history of the period, the specificities of the profession
and the need to develop specific qualities to mediate quality interdisciplinary work. With
the epistemological support of phenomenology, the authors observe themselves in the
process and identify general needs for the exercise of the profession of psychologist in a
public policy environment.
1 INTRODUÇÃO
À medida que um profissional da psicologia desenvolve sua profissão,
consequentemente se envolve com inúmeras questões e inquietações que surgem
cotidianamente sobre si mesmo e a relação com o trabalho. Este artigo é o resultado de
reflexões sobre a experiencia de profissionais envolvidos com o atendimento clínico
individual, simultaneamente integrando equipes interdisciplinares dentro das políticas
públicas de saúde e de assistência social. Considerando que os referenciais teóricos e
metodológicos utilizados para o atendimento clínico da psicoterapia individual, não são
os mesmos referenciais para o desenvolvimento dos serviços ou programas oferecidos
nas políticas públicas, praticar a profissão dessa maneira exige constante verificação de
procedimentos técnicos, tanto quanto para se relacionar com profissionais das outras áreas
das equipes interdisciplinares. Cotidianamente os profissionais se deparam com conceitos
e abordagens diferentes, provocando a necessidade de estabelecer um jeito de realizar o
trabalho coletivo, objetivando contribuir com a comunidade. As descobertas se revelam
a cada dia e exigem atenção, pois as vezes as intervenções podem comprometer em algum
aspecto a lógica do trabalho do outro, porém, todos estão disponíveis em compromisso
com a respectiva área científica e a serviço da coletividade.
Para dar conta e manter a coerência no processo profissional, é necessário recorrer
novamente à academia para dar continuidade na formação por ser o lugar onde se
desenvolvem ciências e capacitam pesquisadores.
A motivação para escrever este artigo é o de revelar como fenômeno que se
evidencia para os próprios pesquisadores, pois por meio da exigência em encontrar
palavras para escrever, se reconhecer no processo histórico da própria profissão e daquilo
que poderá ampliar na reflexão sobre a melhor maneira de atuar diante das circunstâncias.
No Brasil, a atuação do psicólogo nas políticas públicas possui modos flexíveis
para executar estes respectivos protocolos, porém as premissas básicas legais que
propiciaram a inserção em equipes interdisciplinares da rede pública são as mesmas e
serão apresentadas neste artigo no capítulo respectivo.
O desenvolvimento deste artigo tem como base a perspectiva sócio-histórica da
Psicologia Social, os documentos elaborados pelo Centro de Referência Técnica em
Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP), que norteiam o debate no que se refere a
como também para os com mais experiência profissional. Nesse momento o Conselho
Federal e os Conselhos Estaduais de Psicologia acirraram as pressões junto aos órgãos
públicos, para a abertura de novos espaços institucionais onde o profissional da psicologia
pudesse atuar.
De acordo com as Referências Técnicas para Atuação dos Psicólogos(as) na
Atenção Básica da Saúde e documento elaborado pelo Centro de Referência Técnica em
Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP), o profissional da psicologia deve reconhecer
que seu fazer é permanentemente afetado pelos atravessamentos sociais, culturais,
econômicos e comunitários em sua clínica individual ou grupal, abrindo espaço para os
enfrentamentos coletivos de questões como a violência, o desemprego, pobreza, gênero,
relações raciais, diversidade sexual, religiosidade e processos de adoecimento. Conforme
o CFP (2019, p.61), um dos princípios fundamentais do Código de Ética do Psicólogo em
seu artigo II, apresenta como diretriz da práxis que: O psicólogo trabalhará visando a
promover a saúde e a qualidade de vida das pessoas e das coletividades e contribuirá para
a eliminação de quaisquer formas de negligência, discriminação, exploração, violência,
crueldade e opressão.
Os pressupostos teóricos das políticas públicas invocam a necessidade de
rompimento com a estrutura tradicional do modo como realizar o processo clínico, pois
os modelos tradicionais já não se encaixam mais. Por isso a proposta é a de estabelecer
relações horizontais e de interlocução entre os profissionais e a comunidade, com saberes
que se complementam e não rivalizem.
A psicologia, assim como toda ciência está em constante reforma e melhorias de
seus protocolos, acompanhando a necessidade do movimento político e social. É nesse
cenário que, no período de 1970 a 1990, Sílvia Lane e seus alunos apresentam novas
concepções teóricas e se torna referência na construção das bases do desenvolvimento da
perspectiva sócio-histórica da Psicologia Social no Brasil. De acordo com Bock (2007, p.
47), Lane se guiou pelo princípio de que o conhecimento produzido deveria sempre ser
útil para a transformação da realidade, na direção da criação de condições dignas de vida
para todos. O conhecimento e a profissão deveriam estar a serviço da transformação, se
ocupando com a construção de um novo projeto para a ciência e para a profissão,
contribuindo para ampliar a consciência dos homens.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Parece inquestionável a realidade de que as políticas públicas estão entre os
principais instrumentos à disposição dos governos, servem para enfrentar os problemas
associados às desigualdades sociais na busca por amenizar as exclusões raciais,
econômicas e políticas presentes na sociedade. Para Stamato (2016, p. 7), as políticas
públicas são entendidas como instrumentos de garantia de direitos individuais e coletivos
de cidadania, pois devem reunir diferentes saberes e práticas, numa visão democrática de
redução das desigualdades sociais e construção da justiça social. São dispositivos para a
REFERÊNCIAS
BOCK, Ana Mercês Bahia et al. Sílvia Lane e o projeto do "Compromisso Social da
Psicologia". Psicologia & Sociedade [online]. 2007, v. 19, n. spe2 [Acesso 19
dezembro/2021], pp. 46-56. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0102-
71822007000500018>.Epub 26 Out 2007. ISSN 1807-0310.
https://doi.org/10.1590/S0102-71822007000500018.
BRASIL, Felipe G.; CAPELLA, Ana Cláudia N. Os estudos das políticas públicas no
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<https://periodicos.ufpe.br/revistas/politicahoje/article/view/3710>
STAMATO, Maria Izabel Calil; VIEIRA, Marina Tucunduva Bittencourt Porto; LEMOS,
Daisy Inocência Margarida de; ALVES, Hélio (org.). Psicologia e Políticas Públicas:
reflexões e experiências. Santos: Editora Universitária Leopoldianum, 2016. 150 p.