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ISSN 1413-389X Temas em Psicologia – 2013, Vol.

21, nº 3, 531-549
DOI: 10.9788/TP2013.3-EE00-PT

Psicologia na Saúde: Sociopsicológica ou Psicossocial?


Inovações do Campo no Contexto
da Resposta Brasileira à Aids

Vera Silvia Facciolla Paiva1


Departamento de Psicologia Social e do Trabalho da Universidade Estadual de São Paulo,
São Paulo, Brasil

Resumo
Uma revisão crítica da literatura sobre os usos e o sentido do termo psicossocial em periódicos brasi-
leiros inicia este texto. Discutirá, em seguida, como a concepção brasileira do “modo psicossocial” na
atenção ao sofrimento mental, produzida no movimento pela reforma sanitária dos anos 1980, contri-
buiu para constituir um campo de estudos e práticas inovador, desenvolvido centralmente no contexto
da resposta brasileira à Aids. Reconhecida internacionalmente, mas pouco conhecida na intimidade, a
perspectiva baseada nos direitos humanos e de análise no quadro da vulnerabilidade (social, programáti-
ca e individual) produziu uma vertente da psicologia social construcionista na saúde que se define como
psicossocial e não sociopsicológica. As técnicas e processos de trabalho derivados desta abordagem da
vulnerabilidade e dos direitos humanos (V&DH) se distinguem pela valorização da mediação programá-
tica e, portanto, da ação pela proteção ou para mitigação da violação de direitos. Distinguem-se, ainda,
pela abordagem necessariamente psicossocial das práticas nos diversos níveis e territórios de atenção
e prevenção. Inspirada pela hermenêutica e pelo construcionismo social, essa vertente da psicologia
social construcionista priorizará a compreensão da “intersubjetividade em cena” implicada em cenários
socioculturais – nos encontros programáticos em serviços focalizará cenas cotidianas e da trajetória da
pessoa. A noção de pessoa, tomada como sujeito de discursos e de direitos, contrasta com a noção de in-
dividuo biológico-comportamental da psicologia da saúde que permaneceu nos paradigmas para pensar
o processo saúde-doença. Este artigo oferecerá, portanto, referências para uma reflexão crítica sobre o
contexto histórico e acadêmico da produção no campo da Aids incluída neste suplemento.
Palavras-chave: Psicologia Social, direitos humanos, vulnerabilidade, construcionismo, promoção da
saúde.

1
Endereço para correspondência: Departamento de Psicologia Social e do Trabalho, Instituto de Psicologia,
Universidade de São Paulo, Av. Prof. Mello Moares, 1721, Cidade Universitária, São Paulo, SP, Brasil 05508-
900. E-mail: veroca@usp.br
Agradecemos o apoio da Fundação Ford, que nos convidou a sistematizar e, em seguida, a traduzir a produção
que há mais de duas décadas nos distingue como grupo ativo na resposta à Aids. Para a produção e edição deste
suplemento, contei com o incentivo da bolsa PQ/CNPq (Produtividade em Pesquisa/Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico), que valoriza minha dedicação à pesquisa e permite a coordenação
das atividades do NEPAIDS (Núcleo de Estudos para a Prevenção da Aids da Universidade de São Paulo).
Este suplemento não teria sido possível sem o companheirismo e alegria no trabalho dos colegas da rede que
compõe o NEPAIDS, da equipe da revista e do trabalho rigoroso dos pareceristas.
532 Paiva, V. S. F.

Social Psychology and Health: Socio-Psychological


or Psychosocial? Innovation of the Field in the Context
of the Brazilian Responses to AIDS

Abstract
A critical review of the literature on the uses and meanings of the expression psychosocial in Brazilian
journals opens this text. It will discuss how the Brazilian notion of “psychosocial mode” to organize
mental health care, framed within the health reform movements in the 1980s, contributed to the for-
mation of a field of studies and innovative practices, developed mostly in the context of the Brazilian
response to AIDS. Its human rights perspective is unknown in its details as well as its constructionist
approach to health psychology defined as psychosocial rather than socio-psychological, distinguished
also by a psychosocial approach at the various levels and territories of prevention and care practices. The
techniques and work processes derived from a unique Brazilian vulnerability and human rights approach
(V&HR) value the programmatic mediation of the inextricably linked social and individual vulnerability
and, therefore, actions for mitigation of rights violations. Strongly inspired by hermeneutics and the
social sciences constructivism, this approach to constructionist social psychology prioritize the com-
prehension of “inter-subjectivity in scene”, understood as intrinsically related to socio-cultural scenarios
– approached in programmatic encounters at health services through personal trajectory and everyday
life scenes. The notion of person, taken as a subject of discourses and holder of rights, contrasts with the
notion of a biological-behavioral individual of the health psychology tradition that remained active in
other paradigms of health-disease processes. This article will provide references for a critical reflection
on the historical and scholarly production in the field of AIDS included in this supplement.
Keywords: Social Psychology, human rights, vulnerability, constructionism, health promotion.

Psicología en la Salud: Sociopsicológica o Psicosocial?


La Innovación en el Contexto de la Respuesta Brasilera al SIDA

Resumen
Este texto inicia con una revisión crítica de la literatura sobre los usos y el sentido del término psico-
social en periódicos brasileros. Discutirá cómo la concepción brasilera del “modo psicosocial” en la
atención al sufrimiento mental, producida desde el movimiento por la reforma sanitaria, contribuyó
para constituir un campo de estudios y prácticas innovador, desarrollado en el contexto de la respuesta
brasilera al Sida. La perspectiva vulnerabilidad y derechos humanos (V&DH), poco conocida en la
intimidad, basada en los derechos humanos y en la análisis de la vulnerabilidad (social, programática e
individual) produjo una vertiente de la psicología social construccionista en la salud que se define como
psicosocial y no socio psicológica. Se distingue por abordajes psicosociales de las prácticas en diversos
niveles y territorios de atención y prevención. Las técnicas y procesos de trabajo de este abordaje de la
vulnerabilidad, destacan la mediación programática y, efectivamente, de la mitigación de la violación de
derechos. Inspirada por la hermenéutica y por el construccionismo social, esta vertiente de la psicología
social construccionista priorizará la comprensión de la “intersubjetividad en escena” implicada en esce-
narios socioculturales – en los encuentros programáticos en servicios focalizará escenas cotidianas y de
la trayectoria de la persona. La noción de persona, concebida como sujeto de discursos y de derechos,
contrasta con la noción de individuo biológico-comportamental de la psicología de la salud que perma-
neció en otros paradigmas sobre procesos salud-enfermedad. Este artículo ofrecerá referencias para una
reflexión crítica sobre el contexto histórico y académico de la producción incluida en este suplemento.
Palabras clave: Psicología social, derechos humanos, vulnerabilidad, constructivismo, promoción de la
salud.
Psicologia na Saúde: Sociopsicológica ou Psicossocial? 533

Há um saber operante na prática que é fun- Nunn et al., 2009; Paiva, 2002, 2008, 2012a).
damental para produzir sua renovação. Se desde Como retomam vários artigos deste suplemento,
a prática não nos dedicamos a teorizar, desperdi- as práticas psicoeducativas e de aconselhamen-
çamos o trabalho humano da reflexão. A emer- to no âmbito das frentes mais bem sucedidas da
gência da epidemia da Aids nos anos 1980 foi, resposta à Aids no Brasil garantiram a capacita-
sem dúvida, um estímulo para inovação de prá- ção permanente de profissionais e vários setores
ticas, técnicas e teorias implicadas no desafio de (saúde, educação, justiça, assistência social, nas
abordar as dimensões sociais e psicossociais em empresas), investiram na compreensão e mitiga-
processos saúde-doença. ção do processo de estigmatização e discrimi-
Elogiada internacionalmente por expandir nação, valorizaram uma interação profissional-
abordagens individualistas, considerar o con- -paciente e serviço-usuário que consegue apoiar
texto social e por adotar políticas na perspecti- a adesão à medicação e ao preservativo, com
va da defesa e promoção de direitos humanos, a resultados comparáveis aos países mais ricos do
chamada “resposta brasileira à Aids”, um con- hemisfério norte.
junto de programas e práticas organizadas de Muitas dessas práticas são resultantes de
modo pioneiro desde os anos 1980, foi renova- uma produção brasileira sobre as dimensões
dora (Berkman, Garcia, Muñoz-Laboy, Paiva, psicossociais do processo saúde-doença, cujos
& Parker, 2005; Kerrigan et al., 2013; Nunn, da autores nem sempre são psicólogos. Essa pro-
Fonseca, Bastos, & Gruskin, 2009; Paiva, 2002). dução, teórica e prática, é pouco conhecida in-
Vários autores discutem o quanto ela dependeu ternacionalmente e merece atenção especial de
da ativa articulação entre pesquisadores, atores outros campos temáticos e disciplinares. A dis-
governamentais e na sociedade civil que orga- seminação mais organizada desta produção tem
nizaram intervenções estruturais e institucionais ampliado a qualidade da resposta a outros agra-
antes mesmo da existência do SUS (Sistema vos de saúde – doenças sexualmente transmissí-
Único de Saúde), como se pode ler no artigo so- veis, abuso de álcool e drogas, excesso de peso
bre a resposta religiosa deste suplemento. Tem tuberculose e hepatites virais – e respondido ao
sido inspiração para outros países. A produção desafio da humanização das práticas em saúde
de informação rigorosa que, ao mesmo tempo no campo da saúde da mulher e da criança.
em que monitora com ciência as várias faces Este texto oferecerá algumas referências
da epidemia, conta com a participação de pes- para uma reflexão crítica sobre o contexto histó-
soas afetadas diretamente pela Aids, distingue-a rico e acadêmico desta produção e, em especial,
da resposta a várias outros males endêmicos no para o sentido do termo psicossocial adotado
Brasil. Seu mais notável sucesso foi a organiza- neste caminho.
ção de uma rede de serviços de saúde articulados
intersetorialmente que, orientados pelos princí- O Uso do Termo Psicossocial
pios do SUS, têm oferecido o acesso universal e
gratuito à testagem e ao tratamento integral aos A “(baixa) qualidade da atenção psicosso-
que são diagnosticados com a infecção pelo HIV, cial”2 e a necessidade de (maior) “atenção aos
assim como à prevenção centrada no preservati- usuários em risco psicossocial”3 são pondera-
vo (Berkman et al., 2005; Greco & Simon, 2007; ções frequentes de textos no campo da atenção
Malta & Beyrer, 2013; Paiva, 2002). em saúde. Nos documentos institucionais que
É intuitivo reconhecer que essas ações de- organizam programas e políticas públicas de
penderam fortemente de abordagens psicosso- saúde, esta expressão indica largos princípios
ciais que, como veremos, estão inspiradas na tra- para a ação, no bom sentido de defender o prin-
dição das ciências humanas e sociais aplicadas,
especialmente, ao adoecer e à sexualidade e inte- 2
Psicossocial care é o termo mais frequente em
gradas nas práticas em saúde baseadas nos direi-
inglês.
tos humanos (Gruskin & Tarantola, 2008, 2012; 3
Em vários documentos do Ministério da Saúde do
Kalichman & Diniz, 2009; Kerrigan et al., 2013; Brasil (2008).
534 Paiva, V. S. F.

cípio da integralidade que privilegia o cuidar e ciado a outros unitermos. Não é um descritor na
amplia uma clínica tradicionalmente reduzida BVS-Psi ULAPSI (Biblioteca Virtual em Saúde-
ao tratar. Entre os artigos disponíveis na lite- -Psicologia), a referência latina americana sedia-
ratura mais acadêmica, poucos definem preci- da no Brasil, dedicada à atualização profissional
samente o sentido do termo psicossocial ou do do psicólogo e ao avanço da pesquisa em psico-
domínio psicossocial a se abordar. Mais rara- logia. Também não aparece como terminologia
mente ainda, essa literatura dedica-se a descre- em ciências da saúde (DeCS), utilizada no SciE-
ver a intimidade dessas práticas e os detalhes LO. Quando a fonte utilizada é a APA (Ameri-
dos processos de trabalho que poderiam ser can Psychological Association), encontramos o
adotados nessa direção. termo psicossocial qualificando “reabilitação”
Não é uma tarefa simples: afirmar a dimen- (cognitiva, física, de abuso de drogas) ou asso-
são psicossocial é integrar domínios por muito ciado ao “desenvolvimento psicossocial” que
tempo tratados de modo separados na formação pode ser utilizado como sinônimo de “desenvol-
profissional – o social do individual, a socieda- vimento social” quando tem como referência a
de da pessoa. Trata-se de dar conta do hífen em obra de Erick Erikson. Para pensar o caráter da
psico-social4, o sinal que indica uma ligação en- produção brasileira, quando a fonte do termo é
tre palavras compostas e abolido na reforma or- a SBD7 brasileira, o encontramos associado ao
tográfica da língua portuguesa.5 Alguns autores unitermo “Centro de Atenção Psicossocial” ou
de língua inglesa no campo psi o defendem na “intervenção psicossocial”. Na terminologia de
medida em que significaria, ao mesmo tempo, a saúde, nem como adjetivo é possível ser loca-
irredutibilidade da dimensão psicológica à social lizado.
(e vice-versa) e a impossibilidade de um domí- Na literatura disponível no SciELO que
nio existir sem o outro: são complementares. A analisamos8, encontramos diversos sentidos para
manutenção do hífen traduziria uma insistência o que se define como do domínio psicossocial,
na diferença, “uma diferença que não pode ser ou simplesmente qualificado como psicossocial,
superada e que continuamente convida ao enga- a maioria sem uma definição precisa do sentido
jamento e à exploração” (Hogget, 2008, p. 13). do termo. Este costuma ser usado para definir
Como o termo psicossocial aparece em por- uma dimensão que não depende exclusivamen-
tuguês e nas mais acessadas bases de dados de te do indivíduo (quando se estuda o indivíduo)
literatura disponível eletronicamente? Embora ou então qualifica fenômenos compreendidos ao
seja recuperado em numerosos artigos, livros e mesmo tempo como “sociais” e “psicológicos”
teses6, psicossocial não consta como um des- querendo dizer simplesmente que não pode-
critor, é encontrado apenas como adjetivo asso- riam ser apenas psicológicos ou sociais. Quan-

4
O debate sobre o hifen foi iniciado no Depto. de 7
Serviço de Biblioteca e Documentação, sede da
Psicologia Social da Universidade de São Paulo BSV-Psi ULAPSI, no Instituto de Psicologia da
pelas colegas Belinda Mandelbaum, Luiz Galeão Universidade de São Paulo.
e Nelson da Silva Júnior em um documento inter- 8
Trata-se de uma revisão sobre o tema de tipo nar-
no não publicado de 2011, a quem devo a inspira- rativa (Rother, 2007) realizada nos artigos cientí-
ção. ficos recuperados no SciELO em busca que utili-
5
O tradutor deste texto em inglês e espanhol nota zou os termos “psicossocial” ou “psicossociais”
que o hífen é utilizado quando a palavra é usa- e ano de publicação (2000-2012). Indicada para
da como adjetivo (socio-psychological em inglês os objetivos propostos neste texto, uma reflexão
mas sociopsicología em espanhol). A separação crítica sobre o uso do termo psicossocial no cam-
por espaço entre as palavras é usada quando se re- po da saúde, escolhemos a base de dados SciELO
fere ao substantivo, também em inglês e espanhol porque esta base de dados concentra os periódicos
(social psychology, psicología social). que passam pela mais rigorosa avaliação sistemá-
6
Em agosto de 2013, recuperamos com o termo tica e por incluir um número bastante expressivo
psicossocial 841 artigos no scielo.br, 390 na BVS e representativo dos mais bem avaliados artigos
e mais 218 teses e 40 livros. científicos brasileiros.
Psicologia na Saúde: Sociopsicológica ou Psicossocial? 535

do abordam o processo saúde-doença, os artigos ou conceituação de desenvolvimento psicosso-


disponíveis estão, em bom número, usando a cial. Em um grupo menor de artigos, são cita-
definição de saúde da Organização Mundial de dos como referência documentos do Ministé-
Saúde (OMS) como “bem estar físico, mental, rio da Saúde do Brasil, como os que tratam da
social e espiritual”. organização de equipes multidisciplinares na
Por exemplo, em processos de trabalho que comunidade (de profissionais de saúde mental,
descrevem a realização de uma anamnese9, no enfermagem, ginecologia e outras clínicas) para
domínio psicossocial encontram-se as recomen- a atenção integral à saúde dos adolescentes que
dações de levar em conta o contexto de vida do incluem uma noção de contexto como sinônimo
paciente e até mesmo uma avaliação realizada de “meio ambiente”.
pelo profissional do local onde esta pessoa reside “Entende-se por desenvolvimento psicosso-
(sugestão comum de prática no sistema de avalia- cial a capacidade de aquisição progressiva do
ção judicial) distinta de uma abordagem baseada ser humano de interagir com seu meio am-
no clássico processo “psicodiagnóstico”10, pau- biente” (Ministério da Saúde, 1993, p. 37).
tado pela descrição de dinâmicas intrapsíquicas Como neste documento, entretanto, embora
universais e sem contexto.11 Este tipo de avalia- se mencione comunidade e ambiente, a maioria
ção, que incluiria a situação de vida das pessoas, dos textos mantém a noção de “maturação bio-
tem sido denominado “avaliação psicossocial”. posicossocial” e se refere ao “risco de anorma-
Muitos textos falam de “integração psicos- lidade” produzida pelo contexto, maior entre
social” referindo-se a um trabalho de apoio ou os mais pobres “no campo e nas periferias dos
de reabilitação para adaptação das pessoas uma grandes centros urbano” (Ministério da Saúde,
nova condição de vida. O processo de trabalho 1993, p. 18).
bem sucedido no sentido da integração evita iso- Em outra direção, um conjunto crescen-
lamento, sofrimento e a exclusão social. As ex- te de textos disponíveis no SciELO considera
pressões “adequação psicossocial” e “adaptação como do domínio psicossocial o “apoio social”,
psicossocial” e “reabilitação psicossocial” estão as “redes sociais” e as “relações institucionais”
associadas a essa literatura. oferecido pela família, observadas no mundo do
Quando o tema são crianças e adolescentes trabalho, em organizações da sociedade civil e
encontra-se uma noção de adequação associada governamentais. Quando se referem à comuni-
à noção de “desenvolvimento psicossocial” uti- dade, abordam territórios que definem uma iden-
lizada no sentido da adaptação ao que se espera tidade, ou a segmentos da sociedade agrupados
de cada fase da vida, fases tratadas como essen- por afinidade e identidade psicossocial, presumi-
ciais e universais. Consequentemente, não fazem da ou assumida – como a de certa favela, dos ho-
qualquer menção ao contexto, ao gênero, à clas- mossexuais, dos grupos religiosos, ou de pessoas
se social e à tradição cultural nas quais crianças que vivem com HIV.
e jovens estão inseridos. Essa compreensão do Neste conjunto de estudos, ao longo dos úl-
processo de desenvolvimento está mais clara- timos anos somam-se os que incluem na catego-
mente definida quando inspirada nas diversas ria psicossocial as relações de poder e cidadania,
vertentes da psicanálise. A maioria dos artigos, principalmente “relações de gênero” e de classe
entretanto, não faz referências a qualquer autor e, mais raramente, sobre relações étnico-raciais.
Referências à classe ou à pobreza, ou às “ques-
tões de gênero” (expressão que não define nada,
9
Histórico que vai desde os sintomas iniciais até mas sinaliza reconhecimento da desigualdade de
o momento da observação clínica, realizado com gênero) são incluídas no domínio considerado
base nas lembranças do paciente. psicossocial, inspiradas pela tradição de estudos
10
Diagnósticos de doenças mentais que usam méto-
dos ou testes psicológicos.
culturais e de gênero de perspectiva construcio-
11
Interessante notar que se trata de uma tecnologia nista. Essa tradição, ao discutir sobre a diferença
de avaliação psicossocial raramente ensinada nas encarnada em certos segmentos sociais (mulhe-
grandes universidades. res e homens, pobres e ricos) afirma que a de-
536 Paiva, V. S. F.

sigualdade social não pode ser explicadas pela ou pessoa sem definir com o uso da palavra um
“natureza” ou por grandes processos sociais sentido teórico claramente definido. Nos mode-
inevitáveis. São estruturantes sociais historica- los que tratam a dimensão psicossocial como
mente estabelecidos que socializam as pessoas, expressão da associação de “fatores”, o termo
mas a desigualdade não é inevitável, nem tole- indivíduo é o preferido; nos indivíduos, a di-
rável.12 Nesse conjunto de textos, entretanto, são versidade simbólica e cultural é reconhecida no
raros os que utilizam a classe ou o gênero como plano das variáveis que definiriam diferentes
categoria de análise, na organização e narrativa “percepções”, “crenças”, “atitudes”, “opiniões”,
do texto, como propõem Brah (2006) ou Scott “conhecimentos”, “normas” “identidades”.
(1988/1995). De interesse especial para este texto é o uso
Diversos fenômenos são definidos como da reiterado do termo psicossocial como referência
ordem psicossocial nas diferentes abordagens: ao “modo psicossocial” de organizar a assistên-
sentimentos, emoções, atitudes e práticas, dis- cia aos portadores de sofrimento mental, que
cursos extraídos das falas de pessoas ou ana- se expressa na terminologia incluída pela SBD
lisados com base em documentos, dinâmicas mencionado acima – Centro de Apoio Psicosso-
relacionais, resistência e resiliência, cenas e cial. Resultado do movimento de Reforma Sa-
contextos. Entre os autores mais influentes que nitária que concebeu o SUS, o referido uso do
incluiria no campo construcionista, a expressão termo psicossocial expressa uma atenção à saúde
mais utilizada é “aspectos psicossociais”. Ex- mental organizada como assistência na comuni-
pressão adotada nos estudos sobre desigualdade, dade (e não no hospital), além de fazer referên-
quando tratam do mundo do trabalho e das orga- cia a uma “clínica ampliada” e aos direitos hu-
nizações costumam qualificar de psicossocial a manos, em especial às noções de “autonomia” e
relação indivíduo-grupo/instituições, ou indiví- “dignidade” incluída no preâmbulo da Declara-
duo-sociedade. ção dos Direitos Humanos. O modo psicossocial
É visível que, mesmo sem definir mais de- e a sua definição de atenção psicossocial buscam
talhadamente o sentido prático e novas técnicas aprofundar, assim, a prática da “integralidade”
dessas concepções menos adaptativas e univer- no cuidado dos que padecem de sofrimento men-
salistas, se tem considerado cada vez mais o pla- tal e das suas várias “necessidades” – também
no simbólico e cultural como algo mais expres- referidas como direitos; amplia o cuidado antes
sivo da dimensão psicossocial em interação com reduzido ao tratamento do problema definido por
outros “aspectos” ou “fatores” localizados na or- uma nosologia ou taxonomia. Há muitas referên-
ganização social e no indivíduo/sujeito/pessoa. cias no SciELO aos Centros de Atenção Psicos-
Um número crescente de artigos define como social (CAPS, em alguns lugares chamados de
psicossocial os “modos de ver o mundo” do su- Núcleos de Atenção Psicossocial/NAPS). Mes-
jeito/indivíduo/pessoa, assim como a produção mo neste conjunto de textos, as práticas realiza-
“discursiva” e de “sentidos” nas interações so- das com base no “modo psicossocial” são pouco
ciais, interpessoais e nas instituições. descritas de fato, e o termo aparece comumente
O termo sujeito é bastante utilizado, qua- para ressaltar que “nem tudo depende do indi-
se sempre apenas como sinônimo de indivíduo víduo” e em oposição a um genérico “modelo
biomédico”.
É também interessante contrastar esses da-
12
Entre eles, muitos autores latino-americanos que
citam Gergen e Ibañez, Berger e Luckmann ou se dos com o que se observa na literatura interna-
inspiram em George Mead e Goffman entre ou- cional. Há alguns anos, buscando os sentidos
tros autores e os que abordam o domínio psicos- para a expressão atenção psicossocial (“psycho-
social e inspirados pelos interacionismo simbó- social care”) perguntamos à diretora científica
lico e pelo pragmatismo, pelos estudos culturais
estudos feministas e da sexualidade. Todos leram
da área de Psicologia Aplicada da APA que, re-
Foucault e foram marcados pelo Marxismo e pela conhecendo a polissemia da expressão e a falta
fenomenologia e pela hermeneutica de Gadamer, de definição precisa, nos ofereceu uma explica-
Ricouer e Habermas. ção extraída da literatura da área de serviço so-
Psicologia na Saúde: Sociopsicológica ou Psicossocial? 537

cial, com a intenção de apresentar “um contexto lizadas para serem postas em prática em países
para o termo”: em desenvolvimento ou em comunidades empo-
O termo psicossocial descreve uma conste- brecidas ou estigmatizadas (como dos homosse-
lação de necessidades sociais, emocionais xuais), especialmente em países africanos e mais
e de saúde mental e o cuidado oferecido afetados pela Aids, onde, na ausência de servi-
para atendê-las. Um conceito mais amplo ços de saúde organizados e tratamentos, conta-se
e relacionado é o de qualidade de vida, na com a comunidade para assistir aos enfermos e
perspectiva da pessoa, que inclui a sua ex- deficientes com cuidados paliativos.
periência em casa e não apenas o cuidado Já no campo das medicinas, da enfermagem
médico. O cuidado psicossocial é multiface- e da psicologia da saúde, comumente utiliza-se a
tado porque além dos assistentes sociais ou- categoria “fatores psicossociais” para construc-
tros profissionais de saúde podem contribuir tos concebidos com base na análise estatística
para atender as necessidades psicossociais e da associação de respostas a questionários. A
melhorar a qualidade de vida que dependem partir de perguntas e respostas quantificáveis, as
também dos processos e ambiente geral no “condições de vida” e o contexto são frequente-
lar da pessoa. (S. R. Johnson, comunicação mente traduzidos como variáveis “sócio-econô-
pessoal, 21 março, 2007).13 micas” (escolaridade, renda, religião, cor/raça)
Nossa revisão crítica da literatura da déca- ou “sócio-demográficas” (dados sobre os filhos
da 2000-200914, encontrou a expressão “aten- e a conjugalidade). A maior parte desses estudos
ção psicossocial” com o sentido de: (a) atenção descreve a associação entre os fatores psicosso-
aos problemas emocionais ou ao sofrimento ciais (baixo conhecimento, por exemplo) como
mental que limitam o funcionamento social dos constituintes da vida de pessoas que padecem
enfermos; (b) necessidade de organizar o apoio de alguma “doença” ou como efeito psicosso-
às pessoas para lidar com problemas da vida cial, esperado, do adoecer (isolamento). O saber
cotidiana cuja origem é social – como falta mediador adotado é a epidemiologia de risco.
de dinheiro, de moradia adequada, de higiene e Certos grupos de indivíduos são considerados
acesso aos insumos necessários para cuidar da “em maior risco” depois de tipificados nessas
saúde, entre outros; (c) cuidados paliativos para análises, corespondem a “grupo de risco”. Fa-
manter a qualidade de vida dos enfermos em tores psicossociais são associados ao adoecer e
fase terminal. afirma-se a relevância desses fatores nos proces-
Bastante rara na literatura internacional e so saúde-doença. Destes estudos, entretanto, não
frequente na literatura brasileira, como vimos, necessariamente os autores derivam inovação
é possível encontrar a noção de atenção psicos- significativa para a intimidade das práticas de
social associada à (d) assistência que inclui a atenção. Quando o fazem, mais frequentemente
comunidade como parte corresponsável pela indicam a necessidade dos pacientes mudarem
organização do cuidado dos enfermos ou porta- de atitudes, prática que os profissionais tradu-
dores de alguma deficiência. Na literatura não- zem como mais uma item de sua prática “receita-
-brasileira, os textos nessa perspectiva quase dora” em técnicas que permanecem individuali-
sempre discutem iniciativas realizadas ou idea- zante: é responsabilidade individual manter bons
comportamentos e lidar com o contexto.
Os estudos sobre saúde sexual têm uma
13
Stephanie R. Johnson PhD. Diretor de Applied teoria mais sofisticada para interpretar a asso-
Psychological Science. Science Directorate Ame- ciação entre os vários fatores psicossociais. Os
rican Psychological Association. Comunicação resultados de pesquisas clínicas ou epidemioló-
à Eliana Zucchi por e-mail, em 21 de março de gico-comportamentais tem sido discutidos mais
2007.
diretamente à luz de teorias influenciadas pela
14
Pesquisa no MEDLINE e SciELO de 2000-2009,
usando o termo “psychosocial care” e “atenção sexologia cujos ancestrais são Freud, Reich, Kin-
psicossocial” realizada com apoio de Eliana Zu- sey e Master e Johnsons (Paiva, 2008). Também
chi e Bruna Robba Lara. derivam práticas focalizadas nos indivíduos.
538 Paiva, V. S. F.

“. . . de fato o desemprego pode causar pro- A Dimensão Psicossocial na


blemas de erecção” (Abdo, Oliveira, Morei- Organização das Práticas de Saúde
ra, Abdo, & Fittipaldi, 2005)..
Na abordagem construcionista da sexuali- No campo da organização das práticas de
dade, a sexualidade é interpretada à luz das in- saúde e de modo similar, como veremos nessa
terações sociais15, das relações de poder e dos seção, palavras compostas sintetizam o debate
direitos humanos – direitos sexuais e reprodu- sobre como conceber o processo de produção da
tivos. Raramente esses estudos deixam de deri- saúde e da doença que produziu três movimen-
var ações políticas e programáticas, assim como tos paradigmáticos ao longo da segunda metade
agendas de pesquisa para compreender e mitigar do século XX. Palavras compostas também ex-
o sexismo, a homofobia e a inequidade de gêne- pressam uma direção de ações imprecisamente
ro, como na literatura sobre saúde da mulher e descritas. A sua definição como biopsicosocial,
Aids. Interpretações e práticas nesta perspectiva como vimos no caso da saúde do adolescente,
não se pretendem generalizáveis para qualquer pretende a ampliação da perspectiva exclusiva-
contexto. Foi com essa perspectiva que, ao longo mente biológica ou biomédica e exige uma atua-
da resposta à Aids, se discutiu os problemas que ção multiprofissional.
a noção de “grupos de risco” trouxe ao enfreta- Como discutido em Ayres, Paiva e França
mento da epidemia e à vida das pessoas afetadas (2010/2012), o quadro conceitual que, nos anos
– a banalização desta noção estimulou o estig- 1950, primeiro postulou a superação dos limites
ma e a discriminação de segmentos identificados disciplinares entre a intervenção social em saúde
como de risco, além de incitar a negação do pro- pública e a clínica, entre tratamento e prevenção
blema em pessoas que não se identificam com é conhecido como o modelo da História Natu-
esse estigma, sem oferecer propriamente téc- ral das Doenças (HDN). Leavell e Clark (1958)
nicas e práticas ou processos de trabalho apro- descreveram períodos de uma “história natural
priados e segundo os princípios do SUS (Ayres, da doença” (HND) que exigiriam uma constru-
Calazans, Saletti, & França, 2006). ção interdisciplinar para intervir sobre a multi-
A noção de risco psicossocial, entretanto, causalidade das doenças considerando os três
ainda predomina no campo da psicologia da saú- níveis de prevenção (NP). Para este modelo co-
de, hospitalar e nas abordagens mediadas pela nhecido como o HND-NP, ações de prevenção
epidemiologia. Predomina mesmo quando se primária evitam a instalação da doença no perío-
substitui o termo “risco” por “vulnerabilidade” do definido como pré-patogênico (por exemplo,
sem que o sentido se altere, como discutimos a com a aplicação de vacinas, o uso de preserva-
seguir. tivo); no período patogênico, quando o agravo
se instalou, a prevenção secundária (a partir da
detecção precoce e a intervenção clínica adequa-
15 John Gagnon, é o cientista social que incluímos da) evita o avançar da doença e sua transmissão,
como ancestral do construcionismo e de uma abor-
favorecendo melhores desfechos individuais e
dagem dramatúrgica do psicossocial, que muitos
autores adotam nesse suplemento. Interacionista coletivos; a prevenção terciária (por meio da
e herdeiro do pragmatismo e da Escola de Chica- reabilitação e do tratamento continuado) resga-
go, seu uso da “carreira” e “trajetória” ajudou-o taria a melhor qualidade de vida possível em si-
a definir, com Simon (Simon & Gagnon, 1969) tuações de sequela ou cronificação inevitáveis.
e antes de Foucault, o sexo como uma atividade
Neste modelo, a epidemiologia do risco surgiu
social como outra qualquer e como os discursos
sociais sobre o sexo substituem com vantagem a como um dos principais saberes articuladores
noção de impulso. A conduta sexual, em termos deste esforço interdisciplinar.
simbólicos e físicos, pode expressar outros inte- O segundo movimento fundou a “Nova
resses (trabalho, política, religião) que não tem Promoção da Saúde” (NPS), depois de segui-
prioridade na explicação causal. Ou seja, inverte
das conferências internacionais ao longo dos
Freud ao afirmar que o sexo pode significar quase
tudo na vida social e o sexual não tinha prioridade anos 1970 que fortaleceram a centralidade das
na explicação causal (Gagnon, 2006, p. 406). práticas de prevenção e atenção primária, ques-
Psicologia na Saúde: Sociopsicológica ou Psicossocial? 539

tionando a centralidade do hospital como foco tanto, essas psicologias estruturavam a prática
da ação política e programática em saúde. Os em “saúde mental” dos serviços especializados
determinantes sociais da saúde e as ciências para pessoas vivendo com HIV. Como discuti
sociais ganharam relevância nesse movimento, em Paiva (2012b), antes da produção da medica-
que concebeu a melhoria das condições de saú- ção antiHIV, a literatura internacional sobre as
de individual e coletiva com base em princípios práticas junto aos doentes reduzia-se aos estu-
orientadores que validaram no Brasil a inclusão dos sobre stress e coping, que investigavam as
do direito universal à saúde na Constituição de associações estatisticamente significativas entre
1988. A NPS ao mesmo tempo afirmava uma experiências de vida cotidiana e adoecimento ou
concepção integral de saúde (física, mental, so- modos de lidar com este. Mais adiante e espe-
cial e espiritual), a ação intersetorial, o envol- cialmente pra pensar a prevenção, a literatura so-
vimento na transformação de situações sociais ciopsicológica introduziu análises com base em
e em ações multiestratégicas que promoves- variáveis sociais (cor da pele, escolaridade, local
sem a equidade e a sustentabilidade das ações de moradia, sexo, identidade sexual e religiosa,
em saúde, e a participação de usuários.16 Todos principalmente. Dois saberes têm mediado essas
são princípios orientadores do Sistema Único de práticas sociopsicológicas no quadro da NPS: a
Saúde brasileiro que a organização da resposta tradição epidemiológica e as abordagens da psi-
brasileira à Aids buscou implementar. cologia comportamental e sociocognitiva.
Introduziram-se, desde a NPS, algumas Outras abordagens psicossociais dedicadas
práticas para manejo de “variáveis” sociais. A a instrumentalizar o acolhimento e cuidado para
psicologia que faz parte deste movimento tam- além da chamada “saúde mental” tiveram mais
bém identificou aspectos psicossociais da cadeia dificuldades de se estabelecer como referência
multicausal responsável pelo adoecimento. Mui- para a prática. Alternativas desenvolveram-se
tas práticas em psicologia na saúde constituíram- mais facilmente no campo da prevenção e da
-se no Brasil neste esforço pela integralidade, e atenção básica em saúde, onde as práticas esta-
os psicólogos que conversaram com a clínica vam menos consolidadas pelos coletivos tradi-
médica e interagiram no âmbito das práticas cionais de psicólogos e havia maior estímulo à
genericamente definidas como de “perspectiva interdisciplinaridade. No caso da Aids, outros
biopsicossocial” produziram novos arranjos de profissionais (enfermeiros, assistentes sociais,
técnicas e procedimentos. F. M. Santos e Vilela nutricionistas, educadores, além de médicos e
(2009) definem esses arranjos como “coletivos paramédicos) sempre atuaram enfocando aspec-
de pensamento” e nomeiam os mais estruturados tos psicossociais do aconselhamento pós-teste,
e atuantes em hospitais gerais: a Psicologia da da adesão ao uso do preservativo e da medica-
Saúde, a Psicologia Médica, a Psicologia Hospi- ção, e em diversas atividades psicoeducativas
talar e Saúde Mental que, na atenção em saúde, desenvolvidas na atenção básica e nos serviços
tem como fundamento principalmente a psicos- especializados.
somática, o referencial teórico psicanalítico e a A alternativa de uma referência mais defi-
psicologia existencial. nida para instrumentalizar a prática surgiu mais
Muitos autores dessas tradições teorizaram forte quando um terceiro paradigma para pensar
o viver com Aids ou interpretaram a associação o processo saúde-doença foi desenvolvido: o
entre estilos de vida e a prevenção do adoeci- quadro da vulnerabilidade e dos direitos hu-
mento e da infecção pelo HIV segundo modelos manos (V&DH), sistematizado e validado inter-
sociopsicológicos (sociopsychological) aplica- nacionalmente justamente ao longo da constru-
dos à saúde.17 No caso da resposta à Aids, por- ção da resposta à Aids nos anos 1990 (Gruskin

16
Então como resultado da Reforma Sanitária. nhecidos (Tunala, 2012), que permanece como a
17
Neste último caso, Bandura, Proshaska, Lazarus mais citada na literatura internacional da chamada
e Folkman, entre outros, são os autores mais co- “psicologia da saúde”.
540 Paiva, V. S. F.

& Tarantola, 2012; Mann & Tarantola, 1996; produziu uma das vertentes de abordagem psi-
Mann, Tarantola, & Netter, 1992). O quadro da cossocial construcionista na saúde e substituiu a
V&DH ampliou significativamente as perspecti- noção de indivíduo concebido como conjunto de
vas biopsicossocial e sociopsicológicas que cres- fatores biosociopsicológicos, da original obra de
ceram com a Nova Promoção da Saúde na dire- Mann e colaboradores, pela concepção de pes-
ção de incorporar determinantes sociais da saúde soa em contexto, sujeito da saúde e do direito à
para, então, pensar a vulnerabilidade individual saúde (Paiva, 1996, 2002, 2008, 2012a, 2012b).
e social ao adoecimento como inextricavelmente Reconhecendo o avanço que a introdução das
integradas a uma dimensão programática, como variáveis sociais na psicologia da saúde signifi-
a Figura 1 pretende ilustrar – dimensão que se cou no necessário diálogo interdisciplinar, a uni-
realiza na abordagem baseada em direitos huma- dade central ou porta de entrada da abordagem
nos (Gruskin & Tarantola, 2012; Mann, Gruskin, da dimensão psicossocial não é um “indivíduo”,
Grodin, & Annas, 1999). considerado como uma entidade que a tradição
No Brasil, a perspectiva dos direitos huma- da social-psychology concebe como constructo
nos foi bastante expandida: os planos individual, resultante de fatores sócio-cognitivo-comporta-
social e programático têm sido concebidos como mentais. A unidade de análise escolhida é a cena
planos de intersubjetividade, como da esfera da interação intersubjetiva (nos serviços, na
da dinâmica da vida cotidiana, da cidadania e vida social e cotidiana, em uma trajetória pesso-
do sujeito portador de direitos (Ayres, Paiva, & al). Todos os 3 planos da vulnerabilidade estão
França, 2010/2012; Paiva, 2012a). Este quadro mutuamente implicadas como a Figura 1 indica.

Figura 1 – Interdependências das dimensões social, programática e individual da vulnerabilidade concebidas como
intersubjetividade.

Uma primeira novidade a ressaltar des- diminui ou aumenta na presença ou ausência de


te terceiro movimento (V&DH), em contraste programas de saúde (por exemplo, a aplicação
com a NPS, é o peso expandido que se dá ao de vacinação, a existência de saneamento bási-
político-programático, um determinante social e co, ações de prevenção da Aids, acesso à atenção
intersubjetivo que é mediador da vulnerabilidade médica e a tratamentos). Essa abordagem explica
social e individual. Sinteticamente, a vulnerabi- alguns dos sucessos do Brasil na diminuição da
lidade ao adoecimento de pessoas que perten- propagação da Aids ainda nos anos 1990, antes
cem a segmentos socialmente mais vulneráveis de se reduzir a pobreza, o machismo, a homofo-
e marginalizados (por exemplo, os mais pobres) bia e o estigma associado à doença, ou resolver
Psicologia na Saúde: Sociopsicológica ou Psicossocial? 541

os problemas do abuso de drogas e do acesso psicológica permaneceu hegemonicamente dis-


universal à saúde integral. Os programas de Aids seminada pelas instituições das Nações Unidas
desenvolveram iniciativas inovadoras que abor- que adotaram o quadro da V&DH. A tradição
daram tecnicamente e programaticamente esses latino-americana da pedagogia, da psicotera-
determinantes, e obtiveram resultados surpreen- pia e do teatro do oprimido (Boal, 1975; Freire,
dentes. 1968/1973; Moffat, 1987; Oliveira & Araujo,
Essa mediação programática expressa de 2012), em outra direção, inspirou uma psicologia
modo emblemático que quanto maior o desres- dedicada à ação social e comunitária, que alguns
peito aos direitos humanos, maior a chance de chamam de “intervenção psicossocial”, sintoma-
adoecimento; de modo contrário, quanto maior ticamente definida como unitermo pela SBD e
o esforço de promoção e proteção de direitos – à não pela APA, como discutimos acima. Impli-
saúde integral, dos direitos sexuais e reproduti- cada na construção da cidadania pós-colonial e
vos, a não discriminação, à segurança alimentar, pós-ditaduras, essa mesma tradição produziu “o
à moradia digna, ao emprego decente, entre ou- modo de atenção psicossocial” introduzido no
tros – maior a sobrevida e a chance de não se in- Sistema Único de Saúde brasileiro.
fectar. Assume-se nesse quadro, como princípio, Este foi o contexto para o surgimento do
que cada sociedade deve proteger e promover di- movimento teórico-prático que se dedica a ela-
reitos para promover saúde e que seus governos borar uma abordagem psicossocial na saúde no
(nacionais e locais) podem ser responsabilizados quadro da V&DH (Paiva, 2012b). Constrói-se
em caso de displicência ou violação (Gruskin & neste quadro, como em outras vertentes constru-
Tarantola, 2012). O uso deste princípio, por ati- cionistas, uma alternativa à noção de indivíduos
vistas e profissionais de saúde no SUS e em con- “alvos” da intervenção, modelagem, da receita-
dições de responder às demandas do movimento ção e da educação bancária ou da pregação mo-
social, foi marcante na produção da resposta bra- ralizante (Paiva, 1996, 2002, 2007). Preferimos
sileira à Aids o termo pessoa, utilizada na linguagem dos di-
Trata-se de superar a individualização, assim reitos, e as definições de sujeito das diferentes
como a culpabilização da “vítima” ou responsa- vertentes construcionistas (Cañón, 2008).
bilização apenas da pessoa pelo “mau compor- Nesta abordagem psicossocial no quadro
tamento” e pelos fatores contextuais associados dos Direitos Humanos e da Vulnerabilidade19,
ao seu adoecimento. Programas e práticas base- o sujeito é concebido (a) como sujeito dos dis-
ados em uma análise da vulnerabilidade ao ado- cursos a que cada pessoa tem acesso em sua tra-
ecimento necessariamente dependem da ação de jetória e processo de socialização, processo que
diversos saberes em interação (de diversas clíni- não a sujeita (e domina) fundamentalmente; as
cas, da epidemiologia, das ciências humanas e pessoas, como a antropologia e a psicologia so-
sociais) e de práticas na perspectiva dos direitos cial na saúde indicam há décadas, vivem a rein-
humanos (da gestão ao cuidado), ou seja, que o terpretar discursos em diversos contextos de sua
sistema não discrimine, que garanta acesso uni- vida. Em seu cotidiano, por exemplo, as pessoas
versal aos serviços de saúde, a sua aceitabilidade são “sujeitos sexuais” ao reelaborar os diversos
e qualidade, e a participação dos usuários.
Para pensar a chamada dimensão individual
da vulnerabilidade, portanto, abandonamos no que não escrevemos (e, portanto, pensamos) em
Brasil rapidamente a social psychology que ilus- inglês.
trava a obra original de Mann et al. (1992, 1997).
19
Quando estamos compreendendo e interpretando
os dados de vários saberes sobre a vulnerabilidade
Ativa na literatura norte-americana e europeia,
de uma pessoa ou de um segmento social a um
como era de se esperar18, esta perspectiva sócio agravo de saúde costumo dizer que estamos no
quadro da V&DH. Quando estamos desenhando e
planejando a prática, os princípios das abordagens
18
Nossa produção autoctone na América Latina tem em direitos humanos ganham destaque e costumo
pouca força de disseminação, especialmente por- inverter a sigla DH&V.
542 Paiva, V. S. F.

discursos sobre o sexo (o da prevenção, o da re- vertentes da psicologia social construcionista,


ligião, o da mídia) para realizar suas sexualida- inclusive na saúde (Spink, 2013). Não por aca-
des a cada ocasião e cena (Paiva, 1996, 2007) so, essa vertente aglutinou muitos autores im-
Como “sujeitos religiosos”, interpretam dogmas plicados na resposta à Aids em algum momento
e o discurso religioso adaptando-os à sua reli- de sua trajetória profissional.20 Todos reconhe-
giosidade pessoal (García, Muñoz-Laboy, Al- cemos a centralidade do campo dos estudos de
meida, & Parker, 2009; Silva, Santos, Licciardi, gênero e da sexualidade, que ampliou sua legiti-
& Paiva, 2008). Como (b) sujeito de direitos e mação justamente no âmbito da resposta à Aids
em solidariedade com outras pessoas, pode-se e às demandas da organização da saúde integral
decidir pela ampliação e especificação de novos da mulher.
direitos. É como sujeito de direitos que o usuá- Posicionando nossa crítica construcionista
rio do serviço deve ser concebido na intimidade no campo dos direitos humanos e da vulnerabi-
das práticas e técnicas dessa abordagem psicos- lidade, nos parece significativo que sócio venha
social: como sujeitos nos encontros de cuida- antes de psicológico nos modelos de intervenção
do, sujeitos da aprendizagem em solidariedade e práticas resultantes de estudos da psicologia
com outros, como agentes da sua emancipação da saúde ou da epidemiologia sociopsicológica.
da opressão psicossocial e da vulnerabilidade Como mediação para delinear a prática, estes
ao adoecer (Paiva, 2002, 2008, 2012a; Seffner, modelos se baseiam nas associações entre fato-
Paiva, & Pupo, 2012). res obtidas em grandes amostras, com base em
A produção latino-americana dessa verten- dados agregados e populacionais que fazem sen-
te de psicologia social na saúde está, portanto, tido apenas para estudos de tendências e proba-
na mesma direção da reflexão crítica expressa bilidades macrossociais. Quando não recorrem a
por Frosh (2013) que também discute o limi- outros saberes (clinico, educacional) colonizam
te das teorias chamadas de sócio-psicológicas indevidamente, portanto, as práticas de cuidado
(socio-psychological) e individualizantes. Frosh e de prevenção como se essas tendências popula-
ressalta que esta sócio psicologia investiga cog- cionais fossem encontradas desta mesma manei-
nições e comportamentos em contextos sociais ra, com essa mesma dinâmica, na vida cotidiana
operando a noção de indivíduo como um dado, das pessoas. Ao fazer isso, não conseguem ofe-
não como um constructo, sustentando a divisão recer recursos técnicos para renovar a intimidade
intelectual de trabalho que separa em disciplinas das práticas.
diferentes os que estudam a sociedade (o social
antes do hífen) dos que estudam o indivíduo (o
psicológico depois do hífen). Frosh, entre mui- 20
O Brasil organiza há 18 anos o maior encontro
tos, valoriza a intersecção. Desafio complemen- que debate exclusivamente gênero (“Fazendo
tar, na sua perspectiva, seria superar a noção de Gênero”) que junta milhares de pesquisadores
que existe algo “objetivo”, o indivíduo, que pode brasileiros, literalmente. A América Latina é co-
-produtora da grande virada epistemológica pro-
ser estudado de uma posição “neutra”, sem res-
duzida pelos estudos de gênero e sexualidade
ponder ao contexto e as ideias que o habitam. construcionista, inspiração fundamental dessa
O autor valoriza as noções do “asujeitamento” vertente da psicologia há mais de duas décadas.
ao trabalho da sociedade, na formulação de Bu- Como Terezita de Barbieri sintetizou, a produção
tler (1997), e a possibilidade de sermos “sujeito” da categoria gênero de análise é “uma ruptura
epistemológica, talvez a mais importante nas ci-
com poder de agir no mundo. Trata-se de uma
ências sociais nos últimos 20 anos, porque reco-
ampliação da inspiração europeia assentada em nhece uma dimensão da desigualdade social até
Freud e Marx que conceberá e pesquisará um então não tratada, subsumida na dimensão eco-
sujeito que é, ao mesmo tempo, social e psicoló- nômica, nas teorias de classe e de estratificação
gico para além da repressão, constituído social- social” (Barbieri, 1991). Os autores do campo da
Aids valorizam os estudos de gênero bem antes de
mente, portador de agência e de vida interior.
a obra de Butler ser conhecida e conquistar final-
No Brasil, desde os anos 1990, essa mes- mente os que, de algum modo, foram inspirados,
ma crítica informava a produção das diversas como ela, pela tradição psicanalítica.
Psicologia na Saúde: Sociopsicológica ou Psicossocial? 543

Como saber mediador único, a análise de tariamente transformaram os rumos da epidemia


risco coloniza indevidamente outros campos da Aids, argumentam. Como exemplos da cen-
de saber, como o do cuidado das pessoas e da tralidade dessa noção de movimento comuni-
prevenção, com receitas de “estilos de vida ade- tário para a promoção da saúde lembram que a
quados” para indivíduos “genéricos”, biopsíqui- introdução do uso do preservativo, um artefato
cos/comportamentais, pessoas-tipo, que existem contraceptivo, passou a ser norma entre homens
apenas em questionários. Um exemplo dessa gays que, nos anos 1980, se organizaram em um
colonização ineficaz é a insistência na pregação movimento social de resistência à epidemia; ar-
universal do preservativo que, mais de 20 anos gumentam que as mobilização da solidariedade
depois, tem mostrado seus limites. O movimento e do cuidado comunitário produziram o acesso
social de Aids no Brasil insiste, desde 2011, que universal ao tratamento antirretroviral na respos-
na 4ª década da epidemia teríamos necessidade ta brasileira à Aids, discutida em vários artigos
de singularizar a prevenção, pensar nas relações deste suplemento.
de gênero (mulheres não usam o preservativo Por outro lado, o desafio apontado por
disponível e dependem de técnicas de conversa) Frosh, por Kippax e outros construcionistas pa-
e que cada pessoa tem o direito de utilizar todos rece quase insuperável para quem trabalha no
os recursos de prevenção disponíveis no contex- campo da saúde, onde a ambição de objetividade
to suas interações sexuais, inclusive os biomé- e o manejo cirúrgico e clínico do corpo individu-
dicos (ver http://oquenostiraosono.tumblr.com/ al, indivíduo extraído de seu contexto cultural,
home). têm efeito prático inquestionável. Considere o
Como recentemente sintetizaram Kippax, tratamento da infecção pelo HIV de uma pessoa
Stephenson, Parker e Aggleton (2013), as con- vivendo com Aids, por exemplo: seus protoco-
cepções sobre o plano do indivíduo adotado nas los resumem um conjunto de hipóteses teóricas
abordagens da epidemiologia de risco e sócio testadas com técnicas e práticas que se apoiam
psicológicas e por certa versão do quadro da em rigoroso manejo de substâncias, produtos,
V&DH adotada pela Organização Mundial da em corpos extraídos de seu contexto social para
Saúde21, esquecem: (a) que as ações das pessoas serem medicados e tratados, em qualquer outro
não são simples produtos de suas características continente com eficácia inquestionável! Os an-
ou de suas escolhas racionais e estão implicadas tirretrovirais controlam a infecção pelo HIV em
em sentidos e significados; (b) que, portanto, qualquer parte do planeta! Os espaços de prática
quando o plano do indivíduo é reduzido a um multidisciplinar, alternativamente, dependem da
determinado comportamento (o ato sexual sem superação desta noção de indivíduo biológico-
o uso do preservativo) fazem desaparecer os di- -comportamental para que se adotem abordagens
ferentes significados que práticas assumem ao tecnocientíficas que reconheçam que remédios
longo do tempo para uma mesma pessoa, para os são eficazes quando se garante o acesso a eles
diferentes lugares que ocupa e ocasiões que vive e adesão ao tratamento, tarefas implicadas no
(como cônjuge ou amante; por amor ou sendo contexto sociocultural, como esse suplemento
abusado); (c) que a normatividade cultural e as discutirá.
práticas sociais produzem constantemente o in- Essa mesma discussão realizada no campo
divíduo e suas práticas. da sexualidade também parecia insuperável no
Kippax e colegas (2013) substituem a no- início da epidemia da Aids, quando a literatura
ção de indivíduo como foco da prevenção pela global e as psicologias exportadas para várias
centralidade da comunidade, ou seja, pela foca- outras formações disciplinares (em educação e
lização na ação coletiva e interação entre gru- na saúde) expressavam a hegemonia da tradição
pos e redes de pessoas. Mudanças sociais e de sexológica que concebe um sexo biopsicológico,
comportamento que foram articuladas comuni- com igual dinâmica e desenvolvimento psicosse-
xual universal. Essa abordagem ainda se dedica
21
Expresso em documento da UNAIDS (Joint Uni- a revelar as verdades sobre o sexo essencial e a
ted Nations Program on HIV/AIDS, 2011). descobrir o psicossexual normal obtido por meio
544 Paiva, V. S. F.

de inquéritos clínicos ou surveys populacionais Portanto, uma segunda novidade do qua-


que definem o “normal” e derivam práticas di- dro da V&DH, que também distingue sua abor-
retamente para a clínica de transtornos sexuais. dagem psicossocial das outras vertentes constru-
Para que a prevenção da transmissão sexual do cionistas na psicologia social, é sua a ambição
HIV começasse a ter alguma eficácia, a resposta de produzir encontros férteis entre diversos
à Aids também precisou apontar os limites desta saberes. O crescimento do enfoque hermenêu-
concepção sobre o sexo e das suas técnicas dedi- tico incluído na versão brasileira do quadro da
cadas a garantir o “desenvolvimento psicossexu- V&DH o diferencia. A hermenêutica no senti-
al normal” ou “saudável”, como nos programas do filosófico da obra de Gadamer (1997), e não
para adolescentes (Paiva, 2008, 2012b; Paiva, apenas no sentido metodológico, introduziu uma
Ayres, & França, 2004). perspectiva da relação eu-outro nos seus aspec-
O reconhecimento dos limites destes essen- tos não apenas cognitivos, mas éticos, morais,
cialismos para responder à Aids permitiu o cres- políticos e estéticos (Ayres, 2007, 2008). Seja
cimento de visões alternativas. Especialmente para abordar a vulnerabilidade começando pela
no hemisfério sul ou nos bolsões do hemisfério dimensão individual ou social, seja desde o pla-
norte onde ficava evidente que uma sinergia de no programático, a hermenêutica interdita o ob-
pragas (Parker & de Camargo, 2000) que produz jetivismo que promove a redução do social aos
a desigualdade social assentada na dominação de estilos de vida, as dicotomias entre o individual
classe, nos sexismos, no racismo e na naturaliza- e o coletivo, entre o biológico e o social; inter-
ção de genocídios de africanos e homossexuais dita também o sentido puramente instrumental
que sustentava a explosão dos casos de Aids. A dos aspectos estruturais e a politização que per-
epidemia descontrolada exigiu que a reflexão manece externa aos aspectos tecnocientíficos.
crítica chegasse mais rapidamente à reformula- Os aspectos sócio-estruturais devem estar impli-
ção de protocolos para a prática que, então, se cados na prática (definido como saber baseado
desenvolveram implicados na referência ético- nas relações interpessoais, intersubjetivas que é
-política dos direitos humanos; e permitiu que se responsivo e particularizado). Esta hermenêutica
renovasse a técnica (saber operacional que tem permite politizar a teoria e a técnica na intimida-
caráter normativo, prescritivo e metodológico) de de seus protocolos.22
e a teoria (o saber teórico de caráter analítico e Esta hermenêutica produziu a noção de
compreensivo). Cuidado no quadro da vulnerabilidade (Ayres,
Em outras palavras, onde há sinergia de 2004a, 2004b) e valoriza a centralidade do
desigualdades, estigmatização e maior vulnera- cuidado adotada em vários campos de saberes
bilidade ao adoecimento, um hífen é pouco! Os e práticas em saúde (Pinheiro & Lopes, 2010;
envolvidos em promover a saúde precisavam das Pinheiro & Mattos, 2006). Motivada por dife-
flechas da interação e integração, de sinergia de rentes vias e experiências, a aproximação do
saberes e intervenções em diferentes dimensões movimento V&DH desta perspectiva filosófica
institucionais, estruturais e políticas. A emergên- por vários autores brasileiros em campos como
cia da epidemia da Aids, em todo lugar, acirrou a medicina, nutrição, saúde da mulher e enfer-
necessidade de agir sincronicamente, dinamica- magem, permitiu uma produção teórico-técnica
mente e ao mesmo tempo, sobre todas as dimen- sobre o psicossocial que deveria chamar a aten-
sões que afetam o processo saúde-doença. Nessa ção para a importância e relevância de referida
direção, tem sido fundamental manter aceso um perspectiva.
diálogo interdisciplinar enquanto se estruturam O objetivismo, as dicotomias e o estrutural
espaços integrados para ação, e para reconstruir concebido como barreira, assim como a políti-
práticas resultantes deste diálogo que benefi- ca tratada como fator externo ainda persistiram,
ciassem segmentos tradicionalmente incluídos
na vida social pela via da discriminação (Ayres, 22
Sobre essas definições de teoria, técnica e prática
Paiva, & Buchalla, 2012). ver Pupo (2012).
Psicologia na Saúde: Sociopsicológica ou Psicossocial? 545

mesmo que de contrabando, nos discursos e pro- como agente comunitário ou do estado, solidaria-
postas da NPS e nas versões da vulnerabilidade mente promover e proteger os direitos de outras
criticadas por Kippax e colegas (2013). No Bra- pessoas que deve encontrar como co-cidadãos.
sil, a pedagogia de Paulo Freire já superava essa Comunidades não existem apenas abstratamen-
externalidade no campo da educação com sua te nas normas e referências culturais. Além de
pedagogia anticolonização que também inspirou estarem encarnadas em pessoas que irão repro-
concepções de promoção da saúde em todo mun- duzir a história de cada comunidade em seu co-
do. A inclusão da hermenêutica no Brasil fortale- tidiano, dependem de pessoas que serão agentes
ceu a opção pelo uso multicultural e emancipató- institucionais para legitimá-las em suas práticas
rio das abordagens em Direitos Humanos, como e ao longo da socialização de novas gerações.
propõem Boaventura Souza Santos (2003), cuja Ou, muito pelo contrário, das pessoas que serão
hermenêutica diatópica opera o quadro dos di- agentes a inspirar e organizar transformação da
reitos com uma preocupação anticolonialista, comunidade liderando movimentos sociais.23
como a de Freire (Paiva, 2012a). Esta perspectiva e abordagem na saúde nes-
Essa segunda novidade, a perspectiva her- te quadro dos direitos humanos e da vulnerabili-
menêutica, ressalta a centralidade da intersub- dade são, portanto, psicossociais e não sociopsi-
jetividade para pensar a saúde no plano indivi- cológicas (socio-pyschological).
dual, social e programático (como se sintetiza na Nesse modo de interpretá-la, a vulnerabili-
Figura 1) e destaca a reflexão crítica ao indivi- dade ao adoecimento será sempre de uma pes-
dualismo. Porque o sentido forte de diálogo na soa (uma mulher) – não de um grupo de risco
perspectiva hermenêutica, como para Gadamer, (prostitutas) ou de uma comunidade (um terri-
é o da “fusão de horizontes” (Ayres, 2007), a re- tório, um grupo solidário que compartilha uma
flexão crítica se dará também com participação identidade) – em uma determinada situação
direta de usuários dos serviços, nos encontros de social (vivida como cenas dinâmicas com um
cuidado e em qualquer plano institucional e polí- cenário sociocultural pela pessoa) onde seus di-
tico. Abordagens psicossociais estão implicadas reitos estão garantidos – ou violados, negligen-
na produção de práticas de atenção, prevenção ciados. A vulnerabilidade a um agravo de saúde
e educação, assim como no planejamento e na será maior ou menor na presença ou ausência
gestão em saúde. Recupera-se das intervenções de um programa (de prevenção, de apoio, de
estruturais sua dimensão intersubjetiva: melhor assistência à sua saúde). A maioria das mulhe-
que denunciar os traços macrossociais da desi- res brasileiras vivendo com HIV – que tiveram,
gualdade será compreender a concretude das re- em média, apenas um ou dois parceiros na vida
lações de gênero e raciais, de classe e de geração ou uma proporção das prostitutas negligenciadas
na vida cotidiana, no modo como é experimen- em seus diretos básicos e sem acesso a progra-
tada em cada território e por cada pessoa, que mas de prevenção – exemplificam a fertilidade
também encontramos nas práticas em saúde e no desta perspectiva.
modo como se realizam.
Finalmente, a perspectiva psicossocial
adotada nesta vertente brasileira da V&DH não 23
A noção de “encarnada” está na mesma direção
prescinde da centralidade da pessoa, concebida da noção de “embodied health movements” que
como sujeitos em interação com outros e como discute movimentos de saúde nos Estados Unidos
sujeito em relação com os direitos humanos. (Brown et al., 2004). Os autores discutem que es-
ses movimentos introduzem o corpo biológico em
Como sujeito em relação toda pessoa pode ex- movimentos sociais em narrativas de sua experi-
perimentar um dado processo de adoecimento ou ência de sofrimento e negligência, especialmente,
se proteger dele, o que envolve sua constituição sua experiência emocional e não apenas cognitiva;
física e o modo singular de produzir seu cotidia- interpelam a medicina e ciências hegemônicas;
incluem a colabração de ativistas com cientistas
no, como parte de uma comunidade. Como su-
e profissionais de saúde para acessar tratamentos,
jeito portador de direitos pode reivindicá-los ou, prevenção, pesquisa e financiamentos.
546 Paiva, V. S. F.

O Processo de Renovação cam o movimento de humanização das práticas


das Práticas deve Ousar de saúde brasileiro, remonta à década de 1980.
Até a Renovação da Teoria Somou-se a esse movimento, como inspiração
da resposta à Aids, a produção latino-americana
A contribuição das ciências sociais, da his- de psicologia social comunitária, do oprimido e
tória e da filosofia tem sido central para o dese- de intervenção psicossocial, que dialogava com
nho de novas práticas e para a inovação teórica a antipsiquiatria, institucionalizada no Brasil
produzidas no bojo da resposta à Aids brasilei- como Reforma Psiquiátrica e Luta Antimani-
ra. No caso da psicologia, ao produzir uma ver- comial que produziu o “modo psicossocial” na
tente mais politizada24 da psicologia social na saúde mental.
saúde, pode-se informar as práticas das psico- Apenas recentemente esse esforço de refle-
logias que, desde o saber clínico, focalizam o xão crítica e sistematização das práticas exigidas
intersubjetivo e produzem coletivos multiprofis- pela organização do SUS e, mais recentemen-
sionais dedicados à saúde individual e coletiva te, de um Sistema Único de Assistência Social
no âmbito do SUS. Foi longo o caminho para (SUAS) começa resultar em textos escritos que
validação de sua eficácia prática, intensas as traduzem uma importante renovação teórica.
mudanças de rotas para que essas práticas e seus Essa produção é especialmente visível na segun-
saberes específicos, e seus princípios, fossem da década do século XXI.
aplicados com sabedoria nas ações do cotidiano É preciso ter coragem de transformar cole-
de trabalho de cuidado das pessoas vivendo com tivos de pensamentos e práticas em aportes teó-
Aids ou das populações mais vulneráveis social- ricos que sustentem a formação disciplinar dos
mente. O que o quadro da vulnerabilidade nos psicólogos brasileiros das próximas gerações,
ensinou é que não há uma História Natural da ainda presos a escolas dogmáticas, a este ou
Doença, senão uma história social da doença, àquele autor de outro século, ou às socio psicolo-
não só porque são sociais e históricos os conteú- gias produzidas em outro contexto social. Espe-
dos dessa História, mas porque social e histórica ramos que esse suplemento ajude a estimular ou-
é também a forma de contá-la (Ayres, Paiva, & tros números especiais da revista, de diferentes
França, 2010/2012), como alguns artigos deste campos e temas, mas com esse mesmo espírito
suplemento ilustrarão. de inovação teórica e técnica e prática!
No caso da Aids, essa resposta brasileira
precisava ser articulada às práticas em saúde de Referências
um sistema universal e que apenas começava a
ser construído quando a epidemia explodiu. Pa- Abdo, C. H., Oliveira, W. M. de, Jr., Moreira, E.,
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