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CENTRO DE PSICOLOGIA APLICADA

Instituto de Ciência Humanas


Universidade Paulista
UNIP – CAMPINAS
RELATÓRIO PARCIAL

Disciplina: Psicopatologia Especial

1 – IDENTIFICAÇÃO

Encontro n°: Caso Clínico - 01

3 – OBJETIVO

Compreensão dos sinais/sintomas e as formas de tratamentos

4 – DESCRIÇÃO DO ATENDIMENTO

Jason Vaughan, um estudante do segundo ano de faculdade, de 20 anos, foi


encaminhado pelo orientador residente do alojamento estudantil para a clínica de saúde
mental da faculdade depois de parecer “estranho e aéreo”. O sr. Vaughan disse ao
terapeuta que fazia a avaliação que não estava “no meu normal” há cerca de três meses.
Afirmou que seguidamente tinha brancos, como se seus pensamentos não lhe
pertencessem.
Com os pensamentos “suspenso do seu corpo”, relatou que cada vez mais estava
desligado de seu corpo físico e fazia suas atividades diárias como um “robô
desconectado”. Por vezes, sentia dúvida se estava vivo ou morto, como se a existência
fosse um sonho. Afirmou que se sentia como se “não houvesse um eu”.
Essas experiências com o corpo estipulavam estado de terror durante horas. Suas
notas despencaram, e sua socialização foi reduzida a um mínimo. O sr. Vaughan disse ter
ficado deprimido depois do rompimento com a namorada, Jill, alguns meses antes,
descrevendo humor triste durante cerca de um mês com sintomas vegetativos leves, mas
sem prejuízo de funcionamento.
Durante esse tempo, ele começou a perceber sentimentos de embotamento e
irrealidade, mas no início não prestou atenção nestes sinais. Com a resolução do humor
deprimido e a percepção de que estava cada vez mais desligado, começou a se preocupar
cada vez mais até finalmente buscar ajuda. Contou ao orientador que seu namoro de um

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ano com Jill havia significado muito para ele e que havia planejado apresentá-la à sua
mãe durante o feriado.
O sr. Vaughan descreveu um surto de extrema ansiedade, de duração limitada, na
2a série do ensino médio. Foi quando começaram os ataques de pânico, que aumentaram
de gravidade e frequência ao longo de dois meses. Durante esses ataques, ele se sentia
muito desconectado, como se tudo fosse irreal. Às vezes os sintomas duravam várias
horas e se pareciam com suas queixas atuais. O início pareceu coincidir com a internação
da mãe em um hospital psiquiátrico.
Quando ela recebeu alta, todos os sintomas sumiram rapidamente. Na época, não
buscou tratamento. O sr. Vaughan também descreveu vários dias de sintomas de
irrealidade transitória durante o ensino fundamental, logo após o divórcio dos pais, quando
o pai deixou o jovem Jason morando apenas com a mãe, que sofria de esquizofrenia
paranoide. Durante a infância, sentiu solidão global significativa e a sensação de que era o
único adulto na família.
Sua mãe tinha funcionamento limítrofe, mas de modo geral não era ativamente
psicótica. Seu pai raramente voltava para visitá-lo, mas fornecia fundos suficientes para
que continuassem a viver em uma situação razoavelmente confortável. Jason costumava
ficar com os avós durante os fins de semana, mas, de modo geral, ele e a mãe viviam
isolados. Saía-se bem na escola e tinha alguns amigos mais íntimos, mas normalmente
era reservado e era raro levar amigos para sua casa.
Jill seria a primeira namorada a conhecer sua mãe. O sr. Vaughan negou uso de
drogas, especialmente de Cannabis, alucinógenos, cetamina ou sálvia, e o exame
toxicológico de urina resultou negativo. Ele negou abuso físico e sexual. Também negou
história de depressão, mania, psicose ou outros sintomas psiquiátricos anteriores. Negou
especificamente amnésia, blackouts, identidades múltiplas, alucinações, paranoia e outros
pensamentos ou experiências incomuns.
Os resultados de testes laboratoriais de rotina, o exame toxicológico e o exame
físico se mostraram normais, assim como a imagem de ressonância magnética do
encéfalo e o eletrencefalograma. Consultas com um otorrinolaringologista e um
neurologista não acrescentaram dados relevantes.

5 – COMPREENSÃO TEÓRICO-CLÍNICA

O sr. Vaughan está vivenciando um desligamento persistente do corpo físico, da


mente e das emoções e tem uma sensação global de ausência de self. Durante essas

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experiências, seu teste de realidade continuou preservado. A história indica que não há
causas médicas nem psiquiátricas para esses sintomas. Os sintomas são persistentes e o
funcionamento está significativamente comprometido. O paciente satisfaz os critérios para
transtorno de despersonalização/desrealização do DSM-5. O sr. Vaughan apresentou
sintomas semelhantes duas outras vezes, mas nenhum episódio parece ter satisfeito os
critérios para transtorno de despersonalização/desrealização.
O primeiro episódio do sr. Vaughan, durante o ensino fundamental, foi
desencadeado pelo abandono do pai e, de acordo com o relato, durou apenas alguns dias.
Embora não especifique uma duração mínima para o transtorno de
despersonalização/desrealização, o DSM-5 indica que os sintomas precisam ser
“persistentes ou recorrentes”. A apresentação durante a infância parece mais compatível
com outro transtorno dissociativo especificado (reações dissociativas agudas a eventos
estres 168 Casos Clínicos do DSM-5 santes) do DSM-5, o qual se refere a uma condição
aguda e transitória com duração inferior a um mês.
O segundo episódio ocorreu no contexto de dois meses de ataques de pânico
crescentes precipitados pela hospitalização psiquiátrica da mãe. Esses sintomas
satisfizeram os critérios de duração para transtorno de despersonalização/desrealização,
mas ocorreram exclusivamente no contexto de outra condição psiquiátrica (pânico) e se
resolveram com a resolução do outro transtorno psiquiátrico. Embora o caso não forneça
informações clínicas suficientes para maior especificidade, esse segundo episódio parece
se encaixar melhor em um diagnóstico entre os transtornos de ansiedade – transtorno de
ansiedade não especificado do DSM-5 – do que entre os transtornos dissociativos.
O episódio mais recente, no entanto, é clássico do transtorno de
despersonalização/desrealização: persistiu durante vários meses após a resolução do
episódio depressivo de curta duração, não está associado a outro transtorno psiquiátrico
por uso de substância ou médico e está associado a um teste de realidade preservado.
Observa-se que o segundo episódio de sintomas teve um peso maior voltado para
desrealização, enquanto o terceiro episódio, com diagnóstico clínico, pendia para a
despersonalização. De acordo com pesquisas recentes na área, o DSM-5 combinou
sintomas de despersonalização e de desrealização em um único transtorno que pode ser
constituído por qualquer um dos dois tipos de sintomas ou, mais comumente, por ambos.
Antes que se possa estabelecer o diagnóstico, outras causas psiquiátricas e
médicas devem ser investigadas. Devido à esquizofrenia da mãe, a explicação alternativa
mais provável parece ser a de transtorno psicótico ou pródromo de esquizofrenia.

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Contudo, o sr. Vaughan parece ter mantido seu funcionamento social e acadêmico até o
agravamento da despersonalização e manteve o teste de realidade apesar dos sintomas;
em consequência, ele não satisfaz os critérios para psicose atual. Atualmente não é
possível predizer o risco de desenvolvimento de esquizofrenia no futuro, portanto, uma
observação e um apoio longitudinais serão importantes.
Assim como vários pacientes com transtorno de despersonalização/desrealização,
o sr. Vaughan não considera seu sofrimento delirante e está convencido de sua natureza
“física”. Essa convicção pode levar a exames médicos que tranquilizem o paciente mais do
que o ajudem a identificar uma etiologia médica. Jovens com apresentações típicas e sem
fatores de risco ou achados em exames físicos e neurológicos têm pouca probabilidade de
apresentar algum tipo de doença clínica ou neurológica subjacente.
A bateria de exames pode ajudar esses pacientes a continuar com o tratamento
psiquiátrico; no entanto, o psiquiatra pode tentar, de forma relevante, conter o entusiasmo
de outros médicos, os quais podem sugerir testes mais prolongados ou invasivos. Embora
todos os transtornos dissociativos estejam frequentemente associados a traumas no início
da vida, pacientes com transtorno de despersonalização/ desrealização relatam traumas
que costumam ser menos extremos, tanto física quanto sexualmente. O sr. Vaughan
parece ter negado abuso, mas tem um pai que o abandonou e o deixou ao encargo de
uma mãe com esquizofrenia. Mesmo sem evocação de eventos traumáticos específicos,
pode-se pressupor que a infância do sr. Vaughan foi difícil e contribuiu para esse
transtorno.

6 – EVOLUÇÃO

Os sintomas do Sr. Vaughan são consistentes com um transtorno de desrealização,


ele relata como se estivesse fora de seu corpo, como se estivesse observando a vida
acontecer a sua volta. Ele também relata sentir que o mundo ao seu redor é irrealista ou
falso. Esses sintomas podem ser muito angustiantes e pode causar um impacto
significativo em sua vida.

7 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Cuesta MJ, Basterra V, Sanchez-Torres A, Peralta V: Controversies surrounding the


diagnosis of schizophrenia and other psychoses. Expert Rev Neurother 9(10):1475–1486,
2009

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AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION - APA. Manual diagnóstico e estatístico de
transtornos mentais: DSM-5. Porto Alegre: Artmed, 2014.

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