Mudanças de humor, falta de apetite, irritabilidade, sofrimento, insônia:
ansiedade ou depressão? Alguns sintomas podem ser parecidos e afetar diretamente a vida e a rotina diária daqueles que sofrem com os transtornos causados pelas doenças, mas cada uma possui características próprias. Para entender sobre as causas, como tratar e as diferenças mais comuns entre a ansiedade e a depressão, conversamos com a médica psiquiatra Ilana Abramoff, da Casa de Saúde São José do Rio de Janeiro, e com a psicóloga Lucia Novaes Malagris, diretora do Instituto de Psicologia e Controle do Stress do Rio de Janeiro. Ansiedade e depressão são doenças comuns e presentes em uma grande parcela da população. Os transtornos podem afetar a saúde física e mental, causando mudanças negativas e preocupantes na vida de uma pessoa. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, mais de 300 milhões de pessoas, de todas as idades, sofrem de depressão no mundo hoje, e os casos aumentaram significativamente com a pandemia da covid-19. Podem ter causas hereditárias, genéticas, hormonais e ambientais (estresse excessivo, uso de álcool e drogas, sedentarismo, traumas etc).
O que é depressão:
Dificuldade de concentração, desinteresse por pessoas e coisas,
pensamentos de culpa e baixa autoestima, falta de esperança, alteração de sono ou apetite, falta de energia, pensamentos sobre morte ou suicídio são alguns dos sintomas mais comuns da depressão. Segundo a psiquiatra Ilana Abramoff, a depressão é um transtorno bastante comum e caracterizado principalmente por um humor deprimido e pela falta de prazer nas atividades habituais do cotidiano por no mínimo duas semanas.
Depressão bipolar: a parte depressiva do transtorno bipolar, caracterizado pela alternância entre momentos de depressão e de euforia; Depressão pós-parto: acomete mulheres após o parto e pode ser grave em alguns casos; Distimia: uma forma crônica da depressão, com sintomas normalmente não tão intensos, mas persistentes, constantes; Transtorno disfórico pré-menstrual: forma grave de tensão pré-menstrual que inclui alterações extremas de humor; Depressão psicótica: os sintomas depressivos são acrescidos de alucinações e delírios. Sintomas da depressão
1. Tristeza intensa e incapacitante;
2. Visão de si mesmo como inútil; 3. Dificuldade de concentração e de tomar decisões; 4. Baixa autoestima e autocrítica severa; 5. Visão negativa do futuro; 6. Pensamentos suicidas; 7. Sentimento de culpa; 8. Cansaço profundo ou perda de energia; 9. Diminuição do interesse sexual; 10. Redução do apetite; 11. Dificuldade para dormir; 12. Mudança de humor e irritabilidade; 13. Perda de interesse por qualquer coisa e até pelas outras pessoas; 14. Uso de álcool ou outras drogas.
O que é ansiedade:
Por outro lado, a ansiedade traz um sentimento que, quando ocasional, é
normal do ser humano. Ficar ansioso para uma viagem de férias, para a realização de uma prova, ou mesmo para uma entrevista de emprego, são sentimentos humanos comuns e normais. Mas quando é frequente e piora ao longo do tempo, atrapalhando a rotina e o bem-estar da pessoa, pode-se concluir que o paciente tem um transtorno de ansiedade. Preocupação excessiva que vai além da realidade e mudanças de comportamentos que causam prejuízos às principais atividades do dia a dia, como trabalho, escola ou relações interpessoais, são alguns dos sintomas daqueles que sofrem dos transtornos ansiosos. Alguns tipos de transtornos de ansiedade:
1. Transtorno de Ansiedade generalizada: preocupação exagerada e
persistente; 2. Transtorno do pânico: caracterizada por crises súbitas de ansiedade junto com medo de novas crises, com "fuga" de situações sociais para evitar angústias; 3. Transtorno de ansiedade social: medo persistente e incapacitante de ser olhado e julgado por outras pessoas 4. Outros tipos: transtornos fóbicos, ansiedade de separação, agorafobia.
Sintomas da ansiedade:
1. Preocupação excessiva com as situações;
2. Pensamentos ansiosos; 3. Dificuldade de concentração; 4. Dificuldade de relaxar; 5. Irritabilidade e mudanças de humor; 6. Procrastinação; 7. Uso de álcool ou outras drogas; 8. Dificuldade de dormir; 9. Taquicardia, dor ou aperto no peito, falta de ar, agitação/inquietação; 10. Desconforto gastrointestinal; 11. Transpiração excessiva; 12. Dor de cabeça e dores musculares.
Mudanças no sono, fadiga, dificuldade de concentração, irritabilidade e
procrastinação são alguns dos sintomas em comum tanto para quem sofre de ansiedade, como para quem tem depressão. Apesar disso, segundo a psiquiatra Ilana Abramoff, os transtornos são resultados da interação de fatores biológicos, sociais e psicológicos. Assim como ambos podem apresentar sintomas semelhantes, existem também diferenças notáveis entre eles. Os sintomas da ansiedade e da depressão dependem de cada situação ou gravidade do problema. De acordo com a psicóloga Lucia Novaes, há pessoas que já nascem com predisposição para a ansiedade ou para a depressão, e assim como é possível sofrer com somente uma doença, uma pessoa também pode ter as duas. - O sofrimento é maior e um transtorno acaba agravando o outro. Pode ocorrer predisposição genética para os dois transtornos e a história de vida pode envolver experiências que contribuem para essa comorbidade - explica Lucia. Além disso, existem dois tipos de ansiedade: a adaptativa e a desadaptativa. A psicóloga Lucia Neves explica que a ansiedade adaptativa é aquela que ocorre frente a um perigo real e em grau apropriado ao risco. Já a ansiedade desadaptativa ocorre até mesmo quando não há nenhum perigo ou obstáculo real e a pessoa antecipa riscos sobre os quais não há evidências. A psicóloga afirma que é possível que uma pessoa, de fato, esteja frente à possibilidade de algum risco ou perigo, mas a pessoa sempre antecipa o risco como algo muito maior do que ele, de fato, representa. Na depressão, álcool ou outras drogas acabam sendo usados por muitas pessoas para tentar aliviar de alguma forma o sofrimento. Nesse caso, é ainda mais importante buscar ajuda e pelo tratamento mais adequado. A psicóloga Lucia Novaes explica que na ansiedade acontece a antecipação de uma ameaça futura, colocando a pessoa sempre em alerta na espera de que algo ruim vá acontecer e ela precisa ficar atenta para se proteger. Além disso, uma característica básica e comum da ansiedade, segundo a psicóloga, é a intolerância à incerteza. Na depressão, ocorre uma visão negativa de si mesmo, de tudo o que faz e do futuro. Normalmente uma pessoa com depressão tem falta de energia, enquanto no caso da ansiedade é muito comum agitação motora. - Enquanto os transtornos de ansiedade se caracterizam por uma preocupação constante e patológica com ou sem foco definido, a depressão se caracteriza por tristeza intensa e constante, desinteresse em atividades que a pessoa costumava gostar, sensação de incapacidade e desesperança - diferencia a psiquiatra Ilana Abramoff.
Quando procurar ajuda e tratamento
Os tratamentos da ansiedade e da depressão também podem ser
semelhantes, mas dependem da causa e da gravidade de cada caso. Se o transtorno for leve, com a prática de atividade física, meditação ou psicoterapia é possível ajudar a solucionar o problema. Já em casos mais graves, pode ser necessário uso de medicação, além da psicoterapia.
Entender os sintomas é fundamental para buscar o tratamento mais
adequado para cada situação. A ansiedade ou a depressão são transtornos que podem se manifestar desde a infância até a terceira idade e os sintomas podem variar de acordo com a idade. Nas crianças, por exemplo, a ansiedade pode aparecer com queixas físicas como dores de barriga. Nos idosos, a depressão pode aparecer com quadros de demência, como Doença de Alzheimer, por exemplo, segundo Ilana Abramoff.
- É importante procurar ajuda quando a pessoa nota que a tristeza ou a
ansiedade passam a estar presentes na maior parte do tempo e são acompanhadas de mudanças no sono, apetite e energia. Também quando trazem prejuízos às relações com pessoas próximas, trabalho e estudo, além de sensação de incapacidade e desesperança. A presença de ideias de suicídio sempre é motivo para buscar ajuda imediatamente - alerta a psiquiatra.
De acordo com a psiquiatra, alguns estudos sobre prevenção dos
transtornos depressivos e ansiosos mostram a importância e os benefícios de:
Programas escolares de treinamento de capacidades emocionais;
Prática de atividades físicas; Dieta.
No tratamento, a psicoterapia é fundamental:
- A psicoterapia, especialmente a terapia cognitivo-comportamental, tem
muitos recursos para o tratamento da ansiedade e da depressão. Inclusive, em alguns casos, sem uso da medicação. É muito importante que o profissional de psicologia esteja atento para identificar os casos nos quais a medicação é necessária e, assim, encaminhar o paciente para uma avaliação com um psiquiatra - explica a psicóloga Lucia Novaes. O diagnóstico normalmente é feito pelo psiquiatra ou pelo psicólogo por meio de relatos do próprio paciente. É também muito importante que a pessoa tenha conhecimento sobre si mesma, assim como entender sobre os transtornos para conseguir identificar sua tendência para ansiedade ou para a depressão. Fontes: Ilana Abramoff Continentino é médica psiquiatra da Casa de Saúde São José do Rio de Janeiro. Lucia Novaes é docente no Programa de Pós-Graduação em Psicologia do Instituto de Psicologia da UFRJ, é diretora do Instituto de Psicologia e Controle do Stress do Rio de Janeiro.