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Martina era uma mulher solteira de 23 anos que foi encaminhada para avaliação
psiquiátrica por seu cardiologista. Nos dois meses anteriores, ela esteve no pronto-socorro
quatro vezes devido a queixas agudas de palpitações, falta de ar, sudorese, tremores e
medo de que estava prestes a morrer. Cada um desses eventos teve início rápido. Os
sintomas chegaram ao ápice em minutos, deixando-a assustada, exausta e totalmente
convencida de que havia recém tido um ataque cardíaco.
As avaliações médicas realizadas logo após esses episódios revelaram achados
normais nos exames físicos, sinais vitais, resultados laboratoriais, exames toxicológicos
e eletrocardiogramas. A paciente relatou um total de cinco situações parecidas nos três
meses anteriores, sendo que um deles ocorrera no trabalho, outro em casa e outro
enquanto estava dirigindo. Ela desenvolveu um medo persistente de se sentir assim
novamente, o que a levou a tirar vários dias de folga, a evitar exercícios, dirigir e beber
café. Sua qualidade de sono decaiu, assim como seu humor. Passou a evitar
relacionamentos sociais. Não aceitava a tranquilização oferecida por amigos e médicos,
acreditando que os exames médicos resultavam negativos porque eram executados depois
da resolução dos sintomas. Continuou a suspeitar que houvesse algo errado com seu
coração e que, sem um diagnóstico preciso, morreria. Quando teve outra crise durante o
sono, fazendo com que ela acordasse assustada, com o coração acelerado, finalmente
concordou em consultar com um psiquiatra.
Martina contou que nunca sentira nada parecido, nem tinha história de transtornos
psiquiátricos anteriores, exceto uma ocorrência de ansiedade durante a infância que havia
sido diagnosticada como “fobia da escola”. A mãe da paciente havia cometido suicídio
por meio de overdose quatro anos antes, com quadro de depressão maior recorrente.
Durante a avaliação, a paciente estava morando com o pai e dois irmãos mais novos.
Havia se formado no ensino médio, trabalhava como telefonista e não estava namorando
ninguém. Suas histórias familiar e social, fora o ocorrido, não acrescentaram nada
relevante. Durante o exame, a aparência da paciente era a de uma jovem ansiosa,
cooperativa e coerente. Ele negou depressão, mas parecia receosa e estava preocupada
em ter uma doença cardíaca. Negou sintomas psicóticos, confusão e qualquer tipo de
pensamento suicida. Sua cognição estava preservada, o insight era limitado e o
julgamento era bom.
Diagnóstico
Transtorno de pânico.
A. Ataques de pânico recorrentes e inesperados.
Um ataque de pânico é um surto abrupto de medo intenso ou desconforto intenso que
alcança um pico em minutos e durante o qual ocorrem quatro (ou mais) dos seguintes
sintomas:
1. Palpitações, coração acelerado, taquicardia
2. Sudorese
3. Tremores ou abalos
4. Sensação de falta de ar ou sufocamento
5. Sensação de asfixia
6. Dor ou desconforto torácico
7. Náusea ou desconforto abdominal
8. Sensação de tontura, instabilidade, vertigem, desmaio
9. Calafrios ou ondas de calor
10. Parestesias (anestesia ou sensação de formigamento)
11. Desrealização ou despersonalização (sensação de estar distanciado de si mesmo)
12. Medo de perder o controle ou enlouquecer
13. Medo de morrer
B. Pelo menos um dos ataques foi seguido de um mês (ou mais) de uma ou de ambas as
seguintes características:
1. Apreensão ou preocupação persistente acerca de ataques de pânico adicionais
ou sobre suas consequências (p. ex., perder o controle, ter um ataque cardíaco,
“enlouquecer”).
2. Uma mudança desadaptativa significativa no comportamento relacionada aos
ataques (p. ex., comportamentos que têm por finalidade evitar ter ataques de
pânico, como a esquiva de exercícios ou situações desconhecidas).
Eliane, 58 anos.
Eliane, uma organizadora de eventos de 58 anos, marcou consulta com um
psiquiatra para ajudá-la com sua ansiedade. Ela chegou à consulta bem-vestida e um
pouco agitada. Falando em ritmo normal, explicou que há dois anos começara a sentir-se
triste, quando deu início ao processo de divórcio do seu quarto marido. Ela descreveu
humor baixo, uma preocupação intensa com o futuro e muita dificuldade de concentração.
Esses sintomas progrediram para anedonia (falta de prazer), diminuição da energia,
hipersonia com interrupção do sono, ideação suicida e aumento do apetite com desejo de
ingerir carboidratos. Ela parou de ir ao trabalho e começou a passar a maior parte do dia
na cama.
A paciente, inicialmente, buscou tratamento com um homeopata, o qual receitou
vários remédios que não surtiram efeito. Por fim, consultou seu médico internista, o qual
receitou 0,25 mg de alprazolam (benzodiazepínico), três vezes ao dia, conforme
necessário. Essa medicação reduziu a preocupação, mas surtiu pouco efeito sobre seu
humor. Seu médico, então, receitou 50 mg de sertralina (antidepressivo inibidor da
recaptação da serotonina) por dia, com titulação até 200 mg diárias. Ao longo dos dois
meses seguintes, seu sono melhorou e os pensamentos suicidas pararam. Contudo, ela
ficou mais ansiosa, irritável, agitada e enérgica, e percebeu que seus pensamentos se
moviam rapidamente. Negou impulsividade e sintomas psicóticos.
Eliane tinha história antiga de episódios semelhantes nos quais seu humor estava
rebaixado. O primeiro episódio dessa natureza havia ocorrido durante a faculdade, com
duração de vários meses, e não foi tratado. Ao ser indagada de maneira específica,
descreveu múltiplos períodos de sua vida nos quais havia apresentado humor
moderadamente elevado, pensamentos rápidos e aumento de energia. Aparentemente,
muitas conquistas em sua vida haviam acontecido durante esses períodos. Por exemplo,
quando era uma jovem mãe solteira, recentemente divorciada e desempregada, ela
concordou em organizar um chá de panela para sua melhor amiga. Muniu-se de várias
revistas sobre noivas e trabalhos manuais, decidida a criar uma festa fabulosa com pouco
dinheiro. Dedicou-se totalmente ao projeto e aparentemente dispunha de energia e ideias
sem fim. Essa festa foi um sucesso retumbante e deu início à sua carreira como
organizadora de festas.
Ela escondia as mudanças de humor de seus clientes e colegas, tirando vantagem
de seus estados de humor elevado para projetar uma imagem cheia de energia, mas depois
se retraía, trabalhando de maneira mais reservada quando seu humor ficava baixo. Nos
momentos de humor elevado, Eliane criava festas enormes e luxuosas, exibindo toda sua
capacidade. Ela também se tornava mais irritável durante os episódios de energia elevada,
de modo que acreditava que cada um de seus casamentos havia começado e terminado
devido à tendência de “ficar emotiva” quando estava assim. Embora esses períodos
pudessem durar várias semanas, ela não passava por alterações no sono, não se entregava
a comportamentos de risco, não falava rapidamente, de modo que não os encarava como
aspectos problemáticos.
A paciente também relatou que consumia álcool em demasia quando estava
na faixa dos 40 anos, mas hoje em dia raramente bebia. Negou tentativas de suicídio
e internações psiquiátricas anteriores.
Critérios:
A. Um período distinto de humor anormal e persistentemente elevado, expansivo
ou irritável e aumento anormal e persistente da atividade dirigida a objetivos
ou da energia, com duração mínima de uma semana
B. Período persistente de humor elevado, expansivo ou irritável (3 sintomas; se
só irritável, 4 sintomas):
Embora esses períodos pudessem durar várias semanas, ela não passava por alterações no
sono, não se entregava a comportamentos de risco, não falava rapidamente, de modo que
não os encarava como aspectos problemáticos.
Critérios EDM:
A. Cinco (ou mais) dos sintomas estiveram presentes por pelo menos duas semanas,
representando uma mudança em relação ao funcionamento anterior; pelo menos um dos
sintomas é (1) humor deprimido ou (2) perda de interesse ou prazer.
1. Humor deprimido, quase todos os dias (ex: sente-se triste, vazio, sem esperança);
2. Acentuada diminuição do interesse ou prazer em todas ou quase todas atividades
na maior parte do dia, quase todos os dias;
3. Perda ou ganho de peso sem estar fazendo dieta (fala em aumento do apetite,
podemos inferir ganho de peso pela ingestão de carboidratos)
4. Insônia ou hipersonia quase todos os dias;
5. Agitação ou retardo psicomotor quase todos os dias;
6. Fadiga ou perda de energia quase todos os dias;
7. Sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva ou inapropriada quase todos os dias
(não meramente autorrecriminação por estar doente);
8. Capacidade diminuída para pensar ou se concentrar, indecisão quase todos os dias;
9. Pensamentos recorrentes de morte (não somente medo de morrer), ideação suicida
recorrente sem um plano específico, uma tentativa de suicídio ou plano específico.
Critério B. Sintomas causam sofrimento significativo ou prejuízo no funcionamento
profissional, social ou outras áreas.
Critério C. O episódio não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância ou outra
condição médica.
“Contudo, ela ficou mais ansiosa, irritável, agitada e enérgica, e percebeu que seus
pensamentos se moviam rapidamente. Negou impulsividade e sintomas psicóticos”
Especificar se:
Com sintomas ansiosos: A presença de pelo menos dois dos sintomas a seguir, durante
a maioria dos dias do episódio atual ou mais recente de mania, hipomania ou depressão:
1. Sentir-se nervoso ou tenso.
2. Sentir-se incomumente inquieto.
3. Dificuldade de concentrar-se por estar preocupado.
4. Medo de que algo terrível possa acontecer.
5. Sensação de que a pessoa pode perder o controle de si mesma.
Especificar a gravidade atual:
Leve: Dois sintomas.
Moderada: Três sintomas.
Moderada-grave: Quatro ou cinco sintomas.
Grave: Quatro ou cinco sintomas com agitação motora.
Nota: Sintomas de ansiedade têm sido observados como característica marcante dos
transtornos bipolar e depressivo maior no contexto de cuidado primário e especializado
em saúde mental. Níveis elevados de ansiedade estão associados a risco maior de suicídio,
duração maior da doença e maior probabilidade de não resposta ao tratamento. Em
consequência,
é de utilidade clínica especificar, com exatidão, a presença e os níveis de gravidade
dos sintomas de ansiedade, para planejar o tratamento e monitorar a resposta a ele.
Caso Ana, 41 anos
Critério A – Apresentar pelo menos 1 EDM (NUNCA pode ter apresentado EH ou EM)
Critério B – Sintomas causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no
funcionamento social, profissional ou outras áreas.
Critério C – O episódio não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância ou
outra condição médica.
Critério D – A ocorrência de EDM não é mais bem explicada por [transtornos
psicóticos]
Critério E – Nunca houve um episódio maníaco ou episódio hipomaníaco (exceto
induzidos por substâncias ou outra condição médica).
Critérios EDM:
Critério A. Cinco (ou mais) dos sintomas estiveram presentes por pelo menos duas
semanas, representando uma mudança em relação ao funcionamento anterior; pelo
menos um dos sintomas é (1) humor deprimido ou (2) perda de interesse ou prazer.
1. Humor deprimido, quase todos os dias (ex: sente-se triste, vazio, sem
esperança); “Tristeza no olhar, afeto embotado”; “disfórica”
2. Acentuada diminuição do interesse ou prazer em todas ou quase todas atividades
na maior parte do dia, quase todos os dias; “receosa e sem entusiasmo desde que
descobrira a gravidez”
3. Perda ou ganho de peso sem estar fazendo dieta;
4. Insônia ou hipersonia quase todos os dias; “dormia pouco” (claro que poderia
ser em função de um recém nascido; mas, neste contexto, corrobora com os
outros sintomas)
5. Agitação ou retardo psicomotor quase todos os dias;
6. Fadiga ou perda de energia quase todos os dias;
7. Sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva ou inapropriada quase todos os
dias (não meramente autorrecriminação por estar doente);
8. Capacidade diminuída para pensar ou se concentrar, indecisão quase todos os
dias;
9. Pensamentos recorrentes de morte (não somente medo de morrer), ideação
suicida recorrente sem um plano específico, uma tentativa de suicídio ou plano
específico.
Critério B. Sintomas causam sofrimento significativo ou prejuízo no funcionamento
profissional, social ou outras áreas.
Critério C. O episódio não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância ou
outra condição médica.
Em remissão parcial (<2 meses sem sintomas ou alguns sintomas que não fecham
critérios de EDM)
Em remissão completa (>2 meses sem sintomas)
*ela ainda está em um EDM
Diagnósticos
Fobia específica situacional (andar de avião).
Fobia específica, animais.
Diagnóstico
• Transtorno de estresse pós-traumático.
Diagnósticos
Transtorno bipolar tipo II (em função dos dias dos sintomas, não preencheria critério
para EM), episódio atual depressivo; nível elevado de preocupação com suicídio.
Transtorno de ansiedade não especificado
Transtornos de ansiedade normalmente também são comórbidos com transtorno bipolar.
Olívia descreveu um “efeito calmante” do uso de maconha e álcool, o que talvez seja
um indicador de uma ansiedade não identificada. Mais tarde ela passou por episódios de
despersonalização e ataques de pânico, os quais causaram profundo sofrimento. Na falta
de mais informações, provavelmente seria justificado um diagnóstico de transtorno de
ansiedade não especificado. Talvez ela ainda tivesse um transtorno de personalidade
borderline, mas, nesse momento, não preenche os critérios diagnósticos.