Victoria Owens, uma organizadora de eventos de 58 anos, marcou
consulta com um psiquiatra para ajuda-la com sua ansiedade. A Sra. Owens chegou à consulta bem vestida e um pouco agitada. Falando em ritmo normal, explicou que seus sintomas depressivos haviam começado há dois anos, quando deu início ao processo de divórcio de com seu marido. Ela descreveu humor baixo, preocupação incapacitante com o futuro e má concentração. Esses sintomas progrediram para anedonia, diminuição da energia, hipersonia com interrupção de sono, ideação suicida passiva e aumento de apetite com desejo de ingesta de carboidratos. Ela parou de ir ao trabalho e começou a passar a maior parte do dia na cama. A Sra. Owens, inicialmente, buscou tratamento com um homeopata, o qual receitou vários medicamentos que não fizeram efeito. Por fim, consultou seu médico internista, receitando 0,25 mg de alprazolam, três vezes ao dia, conforme necessário. Essa medicação reduziu a preocupação, mas surtiu pouco efeito sobre seu humor. Seu médico então receitou, 50 mg de sertralina por dia. Ao longo dos dois meses seguintes, o sono da Sra. Owens melhorou e os pensamentos suicidas pararam. Contudo, ela ficou mais ansiosa, irritável, agitada e enérgica e percebeu que seus pensamentos se moviam rapidamente. Negou impulsividade e sintomas psicóticos. A Sra. Owens tinha histórico antigo de sintomas depressivos semelhantes. Os primeiros episódios ocorreram na época da faculdade, com duração de vários meses e não foi tratado. Ao ser indagada de maneira específica, descreveu múltiplos períodos de sua vida, nos quais havia apresentado humor moderadamente elevado, pensamentos rápidos e aumento de energia. Aparentemente, muitas conquistas em sua vida haviam ocorrido nesses períodos. Por exemplo, quando era uma jovem mãe, solteira, desempregada, ela concordou em realizar um chá de panela para sua melhor amiga. Muniu-se de várias revistas sobre noivas e trabalhos manuais, decidida a criar uma festa fabulosa com pouco dinheiro. Dedicou-se totalmente ao projeto e aparentemente dispunha de energia e ideias sem fim. Essa festa foi um sucesso, o que deu início à carreira da Sra. Owens como organizadora de festas. Ela escondia as oscilações de humor de seus clientes e parentes, tirando vantagem de seus estados de humor elevado para projetar uma imagem cheia de energia, mas depois se retraía, evitando trabalhar quando seu humor estava baixo. Ela também se tornava mais irritável durante os episódios de energia elevada, de modo que acreditava que o seu casamento havia começado e terminado devido à tendência de “ficar emotiva”. Embora esses períodos pudessem durar diversas semanas, ela não passava por alterações no sono, não se entregava a comportamentos de risco, não falava rapidamente e tampouco tinha sentimentos de grandiosidade, de modo que não os encarava de modo problemático. A Sra. Owens também relatou que consumia álcool em demasia quando estava na faixa dos 40 anos, mas hoje em dia raramente bebe. Negou tentativas de suicídio e internações anteriores. Sua mãe havia sido tratada com sertralina para depressão e seu irmão tomava lítio para transtorno bipolar.
DESENVOLVIMENTO – ESTUDO DE CASO
Paciente Vitória Owens, 58 anos, diagnosticada com quadro de
Transtorno Bipolar I. A paciente demostra iniciativa, procurando uma profissional psiquiatra para tratamento de ansiedade. Foi relatado várias oscilações de humor ao longo do caso desde um estado deprimido intenso à um estado de humor elevado com aumento de energia.
Também foi informado no caso em questão, a ocorrência de episódios
depressivos durante a vida da paciente, onde houve ausência de tratamento. As alterações de humor, de acordo com a paciente, eram camufladas com intuito de transmitir aos outros, ser uma persona enérgica e vigorosa em todos os momentos. O caso trouxe também o fator genético, conforme mencionado sobre os medicamentos para depressão e transtorno bipolar tomados pela mãe e irmão. De acordo com DSM-5 (2013), as oscilações relatadas se encaixam no código F31.12 – Estados de mania Moderado (Aumento muito significativo na atividade ou prejuízo no julgamento), apresentando humor elevado e excesso de euforia, aceleração de pensamentos e irritabilidade) e F31.32 - estados depressivos moderado (O número de sintomas, intensidade dos sintomas e/ou comprometimento funcional estão entre os especificados para “leve” e “grave”.), apresentando angústia, cansaço, diminuição de energia e baixo humor). Há indícios de TDM (Transtorno Depressivo Maior) intercalados aos sintomas da TB, com base nos demais sintomas descritos no caso, como interrupção do sono, fadiga e aumento de apetite. Com base no CID-11 o código 6A60.4 (Transtorno Bipolar I, episódio atual depressivo, sem sintomas psicóticos: O transtorno bipolar tipo I, atual depressivo episódio, moderada, sem sintomas psicóticos é diagnosticada quando foram cumpridos os requisitos de definição de transtorno bipolar tipo I e o episódio atual é depressivo em um nível moderado de gravidade e não há delírios ou alucinações durante o episódio. Um episódio depressivo é caracterizado por um período de humor quase diariamente deprimido ou diminuição do interesse em atividades com duração de pelo menos duas semanas acompanhada de outros sintomas tais como dificuldade de concentração, sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva ou inadequada, desesperança, pensamentos recorrentes de morte ou suicídio, alterações no apetite ou no sono, agitação ou retardo psicomotor, e reduzido de energia ou fadiga. Num episódio depressivo moderado, vários sintomas de um episódio depressivo estão presentes a um grau marcado, ou um grande número de sintomas depressivos de menor gravidade estão presentes global. Um indivíduo com um episódio depressivo moderado normalmente tem dificuldade considerável em continuar com o trabalho, sociais ou atividades domésticas, mas ainda é capaz de funcionar em pelo menos algumas áreas.), se encaixa ao diagnóstico, levando em consideração histórico relatado. O TB é uma doença crônica, influenciada por diversos fatores estressantes que desencadeiam consequências interpessoais e psicossociais, que reduzem a qualidade de vida do indivíduo. A eficácia dos tratamentos não são excepcionais em sua totalidade, por mais adequados que sejam. Na TCC, o tratamento precisa ser feito atrelado aos familiares e amigos, pois além do entendimento do paciente sobre o transtorno, as pessoas que convivem com ele, precisam entender o funcionamento e dificuldades da doença para saberem lidar com as crises da melhor maneira possível, sabendo diferenciar o transtorno do paciente. A terapia cognitiva, educa o paciente, com métodos de monitoração da ocorrência dos sintomas maníaco-depressivos, técnicas para lidar com emoções, pensamentos e comportamentos prejudiciais controlando assim sintomas leves, auxilia a enfrentar fatores de estresse, trabalha a aceitação da doença entre outros contribuintes para o bem-estar do paciente.
Referências:
Juruena MF. Terapia cognitiva: abordagem para o transtorno afetivo