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Canavarro, M.C. (no prelo). Inventário de Sintomas Psicopatológicos: Uma Revisão crítica dos estudos
realizados em Portugal. In L. Almeida, M. Simões, C. Macahado e M. Gonçalves (Eds.) Avaliação
psicológica. Instrumentos validados para a população Portuguesa, vol. III. Coimbra: Quarteto Editora.
Introdução
O presente texto retoma, descrevendo e actualizando, os principais estudos psicométricos
realizados em Portugal com o Inventário de Sintomas Psicopatológicos (Canavarro, 1999) que
constituem a adaptação portuguesa do Brief Symptom Inventory (BSI) de L. Derogatis (1982).
Através da referência a estudos recentes realizados em grupos particulares (clínicos e outros)
é também objectivo deste texto revelar as possíveis utilizações deste instrumento de avaliação.
1. Indicações
1
Depressão: Os itens que compõem esta dimensão reflectem o grande número de indicadores
de depressão clínica. Estão representados os sintomas de afecto e humor disfórico, perda de
energia vital, falta de motivação e de interesse pela vida (inclui os itens 9, 16, 17, 18, 35 e
50).
Ansiedade: Indicadores gerais tais como nervosismo e tensão foram incluídos nesta
dimensão. São igualmente contemplados sintomas de ansiedade generalizada e de ataques de
pânico. Componentes cognitivas que envolvem apreensão e alguns correIatos somáticos da
ansiedade também foram considerados (inclui os itens 1, 12, 19, 38, 45 e 49).
Hostilidade: A dimensão hostilidade inclui pensamentos, emoções e comportamentos
característicos do estado afectivo negativo da cólera (inclui os itens 6, 13, 40, 41 e 46).
Ansiedade Fóbica: A ansiedade fóbica é definida como a resposta de medo persistente (em
relação a uma pessoa, local ou situação específica) que sendo irracional e desproporcionado
em relação ao estímulo, conduz ao comportamento de evitamento. Os itens desta dimensão
centram-se nas manifestações do comportamento fóbico mais patognomónicas e disruptivas
(inclui os itens 8, 28, 31, 43 e 47).
Ideação Paranóide: Esta dimensão representa o comportamento paranóide
fundamentalmente como um modo perturbado de funcionamento cognitivo. O pensamento
projectivo, hostilidade, suspeição, grandiosidade, egocentrismo, medo da perda de
autonomia e delírios são vistos primariamente como os reflexos desta perturbação. A
selecção dos itens foi orientada de acordo com esta conceptualização (inclui os itens 4, 10,
24, 48 e 51).
Psicoticismo: Esta escala foi desenvolvida de modo a representar este constructo como uma
dimensão contínua da experiência humana. Abrange itens indicadores de isolamento e de
estilo de vida esquizóide, assim como sintomas primários de esquizofrenia como alucinações
e controlo de pensamento. A escala fornece um contínuo graduado desde o isolamento
interpessoal ligeiro à evidência dramática de psicose (inclui os itens 3, 14, 34, 44 e 53).
Quatro dos itens do BSI (itens 11, 25, 39 e 52) embora contribuam com algum peso para as
dimensões descritas não pertencem univocamente a nenhuma delas. Assim, por critérios estatísticos
não deveriam ser incluídos no inventário mas, dada a sua relevância clínica são apenas
considerados nas pontuações dos três Índices Globais.
Estas três pontuações gerais foram recentemente descritas por Derogatis (1993) do seguinte
modo:
Índice Geral de Sintomas (IGS): Este índice representa uma pontuação combinada que
pondera a intensidade do mal-estar experienciado com o número de sintomas assinalados.
Índice de Sintomas Positivos (ISP): O ISP oferece-nos a média da intensidade de todos os
sintomas que foram assinalados.
Total de Sintomas Positivos (TSP): Enquanto que o ISP é uma medida de intensidade dos
sintomas, o TSP representa o número de queixas sintomáticas apresentadas. Teoricamente,
um indivíduo pode apresentar um ISP baixo, indicando que os sintomas que tem não são
particularmente intensos e perturbadores mas possuir um TSP elevado, apontando para uma
constelação complexa de sintomatologia.
1.2. Populações-alvo
2
O BSI pode ser administrado a doentes do foro psiquiátrico, indivíduos perturbados
emocionalmente, a quaisquer outros doentes e a pessoas da população em geral.
Pode ser utilizado com adolescentes (a idade mínima recomendada é de 13 anos), com a
condição de um técnico se encontrar disponível para esclarecer possíveis dúvidas em relação a
alguns itens.
2. História
Diversas tentativas de quantificação das dimensões da psicopatologia têm sido feitas (Crown
& Crisp, 1966; Derogatis, 1977, Goldberg & Williams, 1981; Kellner & Sheffield, 1973;
Woodworth, 1918), seguindo a ideia de Woodworth (1918) de "cada homem se poder entrevistar a
si próprio".
Um dos questionários de auto-resposta mais utilizados foi elaborado por L. Derogatis (1977)
e é conhecido na literatura por SCL-90 (Symptom Check-List). O SCL-90-R, como a designação
sugere, é composto por 90 descrições de sintomas psicopatológicos, correspondentes aos 90 itens.
A construção deste questionário, teve por base o Hopkins Symptom Checklist (HSCH, Derogatis,
Lipman, Rickels, Uhlenhuth & Covi, 1974) que, de acordo com os autores, por sua vez encontra as
suas raízes no Disconfort Scale (Parloff, 1954) e no Cornell Medical Index (Wider, 1948).
O SCL-90-R, em relação a outros construídos com a mesma finalidade, possui a vantagem de
avaliar um maior número de dimensões psicopatológicas. No entanto, o facto de ser constituído por
90 itens, implica a necessidade de um tempo de preenchimento de 12 a 20 minutos o que em
determinados contextos, constitui uma limitação à sua utilização.
O Brief Symptom Inventory (BSI; Derogatis, 1982) foi desenvolvido numa tentativa de
resposta a esta desvantagem apontada ao SCL-90-R. A análise das correlações dos itens com as
escalas a que pertencem, no SCL-90-R (Derogatis & Cleary, 1977), sugeriu que cinco ou seis itens
de cada escala teriam suficiente peso, para suportar sozinhos a definição operacional de cada
dimensão psicopatológica (Derogatis, 1993). Os itens com maior peso em cada dimensão foram
seleccionados para formar o BSI. As correlações encontradas para as nove dimensões
psicopatológicas entre o BSI e o SCL-90-R, variam entre .31 e .72, permitindo concluir que “para a
população clínica, estes dois instrumentos medem o mesmo constructo (Derogatis, 1993, p. 19).
3. Fundamentação teórica
Os itens que formam as nove dimensões de psicossintomatologia avaliadas pelo instrumento
constituem, no seu conjunto, importantes elementos da psicopatologia. São considerados pelos
Manuais de Classificação Diagnóstica mais utilizados, CID-10 e DSM-IV, como aspectos
importantes para a elaboração de diagnósticos das primeiras cinco categorias (F00 a F49) segundo
o CID-l0 e para as perturbações do Eixo I, segundo o DSM-IV.
Também os níveis de consistência interna para as nove escalas, com valores de alfa entre .71
(Psicoticismo) e .85 (Depressão) e a sua estrutura factorial, avaliada na população em geral e em
população clínica (que confirmaram a estrutura dimensional subjacente à versão longa do SCL-90-
R) são indicadores da unidade e consistência subjacentes, do ponto de vista conceptual.
3
Os primeiros estudos de adaptação do BSI à população portuguesa (Canavarro, 1999) tiveram
o objectivo de permitir o estudo científico de variáveis psicopatológicas, medidas através de um
questionário adequado a contextos em que a brevidade de tempo de preenchimento fosse um
requisito importante. Na época apenas conhecíamos o trabalho efectuado por Baptista (1993),
relativo aos estudos de fiabilidade e validade do SCL-90-R. Como referimos anteriormente, este
instrumento que comporta algumas limitações devido ao tempo necessário para o seu
preenchimento.
Posteriormente, outros estudos realizados por diversos autores com o BSI, aos quais nos
referiremos mais adiante no presente texto, têm oferecido importantes contributos para o estudo da
validade deste instrumento.
1
A tradução do inventário foi feita de acordo com o sugerido por De Figueiredo e Lemkau (1980) nomeadamente, foi
feita a tradução, seguida de retroversão e administração prévia a pequenos grupos com o objectivo de verificar a
acessibilidade do vocabulário e a compreensão unívoca dos itens.
2
As normas referem-se aos seguintes procedimentos: explicação sobre a natureza do estudo e do tipo de tratamento
dos dados; informação sobre a confidencialidade das respostas; fornecimento de instruções gerais e apoio da autora do
estudo ou de duas psicólogas que connosco colaboraram na colheita dos dados, para o esclarecimento de dúvidas,
sempre que necessário.
3
Perguntámos aos indivíduos se "sofriam, ou tinham sofrido, dos nervos", expressão do senso comum que traduz a
presença de emoções negativas fortes e persistentes que perturbam o indivíduo, aspecto cuja existência pretendíamos
avaliar.
4
Utilizámos a classificação, em nove categorias distintas, da Organização das Nações Unidas (1989), também utilizada
pelo Instituto Nacional de Estatística (1991), definida a partir da profissão e situação na profissão, condição perante o
trabalho, ramo de actividade e principal meio de vida do representante do agregado: 1- Empresários Agrícolas, 2-
Trabalhadores por conta de outrem na agricultura, 3- Trabalhadores de profissões liberais e similares e trabalhadores
familiares não remunerados, 4- Empresários não agrícolas, 5- Quadros de direcção, técnicos e científicos, artísticos e
similares, 6- Outros trabalhadores por conta de outrem na indústria, 7- Outros trabalhadores por conta de outrem no
comércio, nos serviços e na administração pública, 8- Outros activos, 9- Não activos.
4
Formada por 56 homens e 91 mulheres, num total de 147 indivíduos, nesta amostra a maioria
das pessoas era solteira ou casada, tinha escolaridade obrigatória e pertencia às categorias sócio-
económicas 7 e 9 (de acordo com a classificação referida anteriormente).
É de referir que a classificação diagnostica utilizada na caracterização da amostra 2 se baseou
no diagnóstico definido em contexto hospitalar (Quadro 1).
5
O diagnóstico utilizado na classificação dos doentes é o diagnóstico hospitalar, elaborado pelo psiquiatra ou pelo
psicólogo que acompanhou o doente, e confirmado no final do tratamento isto é, na altura em que foi dada alta ao
indivíduo.
6
Os códigos do DSM-IV incluídos para os diagnósticos considerados são, respectivamente: Depressão: 296.3, 300.4 e
311.0; Perturbação Obsessivo-Compulsiva: 300.3; Fobia Social: 300.23; Fobias Específicas: 300.29; Perturbação de
Pânico: 300.21 e 300.01; Outros distúrbios mediados pela ansiedade: 300.02, 300.00 e 309.81; perturbações
alimentares: 307.1, 307.51 e 309.81; Perturbações de Personalidade: 301.83, 301.50, 301.4, 301.6, 301.86 e 301.9;
Distúrbios Psicóticos: 295.3, 295.9, 297.10 e 298.9; Perturbações Bipolares I: 296.4, 296.6 e 296.5.
5
itens que fazem parte destas escalas, como é o caso do item 47, da escala de Ansiedade Fóbica e de
todos os itens que constituem a escala de Psicoticismo.
As correlações split-half e os coeficientes de Spearman-Brown (Quadro 2) surgem igualmente
como dados abonatórios da boa consistência interna da escala, embora também eles corroborem a
menor consistência interna das escalas de Ansiedade Fóbica e Psicoticismo, quando comparadas
com as restantes.
Escala R Coeficiente α
split-half Spearman-
Brown
Somatização .682 .811 .797
Obsessões-Compulsões .584 .737 .773
Sensibilidade .689 .816 .760
Interpessoal
Depressão .630 .773 .728
Ansiedade .651 .789 .766
Hostilidade .599 .749 .759
Ansiedade Fóbica .403 .574 .624
Ideação Paranóide .598 .749 .718
Psicoticismo .413 .585 .621
r p
Somatização .760 .000
Obsessões-Compulsões .709 .000
Sensibilidade Interpessoal .675 .000
Depressão .808 .000
Ansiedade .735 .000
Hostilidade .649 .000
Ansiedade Fóbica .788 .000
Ideação Paranóide .626 .000
Psicoticismo .783 .000
6
4.5. Resultados relativos à validade
A validade de constructo procura avaliar em que medida os resultados do teste são indicativos
de constructos teóricos subjacentes isto é, das dimensões que o instrumento procura medir. É por
alguns autores (Jaeger, 1983, cit por Vaz-Serra, 1994; Nunally, 1978, Stevens, 1996) considerado
que este tipo de validação subordina todos os outros.
Os contributos dos nossos estudos de validade de constructo incluíram a análise de
consistência interna, nomeadamente na análise das correlações entre os itens e a nota global
(índices já mencionados a propósito dos estudos de fiabilidade, mas cujo objectivo nos estudos de
validade é avaliar a existência de uma dimensão global subjacente).
Seguindo o caminho percorrido por investigações na aferição do SCL-90R às populações
Holandesa e Alemã (Arrindell e Ettma, 1989; Franke, 1995, respectivamente) procurámos dar uma
outra contribuição para o estudo da validade do instrumento, a partir da matriz de correlações de
Spearman entre as notas das nove dimensões de sintomatologia e das três notas globais.
As correlações apresentadas no Quadro 4 são todas estatisticamente significativas (p < .001),
embora se deva ter em conta o elevado número de indivíduos que compõem a amostra (N = 404) o
que certamente inflaciona as correlações encontradas.
A variação das correlações indica que o aumento numa das dimensões da psicopatologia se
encontra associada a aumentos em todas as outras dimensões.
Como é óbvio, todas as escalas apresentam correlações mais elevadas com as três notas
globais de psicopatologia do que entre si.
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No sentido de avaliar a forma como as variáveis discriminadoras (pontuações obtidas nas
escalas do BSI e os três Índices Gerais) se relacionam com a variável dependente (Saúde mental)
utilizámos o teste estatístico Análise Discriminante (Quadro 5).
Esta, para além do poder explicativo referido, tem ainda poder preditivo, permitindo
determinar as probabilidades de pertença a um dado grupo, comparando-as posteriormente com a
classificação prévia, dado abonatório em relação à validade preditiva do instrumento.
Verificámos que a função de forma global é estatisticamente significativa, dado que existem
diferenças multivariadas significativas entre os dois grupos, o que é igualmente corroborado pelo
valor do Lambda de Wilks (.17), que nos revela que as variáveis individuais em causa diferenciam
os indivíduos perturbados emocionalmente dos indivíduos da população em geral, contribuindo
para a explicação de 83% da variância relacionada com a pertença ao grupo.
Julgamos curioso o facto de, embora sendo todos os F altamente significativos, aqueles que
apresentam valores mais elevados (Obsessões-Compulsões, Depressão e Ansiedade) se
relacionarem com sintomatologia característica dos quadros clínicos com maior incidência na nossa
amostra (Quadro 1), o que parece ser mais um dado abonatório em favor da capacidade
discriminativa do BSI.
A análise da função discriminante permite que sejam correctamente classificados no seu
grupo de pertença 92.51% dos indivíduos perturbados emocionalmente e 99.75% dos indivíduos da
população em geral.
O coeficiente de concordância de Kappa Cohen (.943) revela que se obtém uma concordância
que corresponde a 94% da máxima que se poderia alcançar, independentemente do acaso.
Combinando-a com o erro padrão (.016), podemos afirmar que a eficiência destas variáveis na
classificação dos indivíduos nos dois grupos referidos varia entre 92% a 95%, em relação ao
método clínico. A função discriminante revelou assim uma boa capacidade para classificar os
indivíduos nos grupos.
Após constatar que todas as variáveis eram importantes para a diferenciação dos grupos
(Quadro 5), fomos confirmar, através das médias das variáveis discriminadoras, se o sentido da
diferença era o esperado (Quadro 6).
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Como seria de prever, podemos constatar que, para todas as escalas do BSI e para os três
índices gerais, os indivíduos perturbados emocionalmente revelam valores mais elevados de
sintomas psicopatológicos, do que os indivíduos da população em geral, tal como esta é avaliada
pelo BSI.
Verificado que todas as pontuações obtidas no BSI (nas nove escalas e nos três índices gerais)
permitem discriminar entre indivíduos perturbados emocionalmente e indivíduos pertencentes à
população em geral, tentámos estabelecer pontos de corte entre estes dois grupos.
Neste procedimento ponderámos a utilização do IGS e do ISP. Apesar do IGS, pela sua
fórmula de cálculo, surgir como o melhor indicador único de sintomas psicopatológicos, das três
pontuações globais, o ISP é aquele que, de acordo com o valor de F apresentado, melhor discrimina
os dois grupos nos estudos que realizámos (cf. Quadro 5). Por este motivo optámos por utilizar o
valor do ISP para determinar o ponto de corte entre os dois grupos considerados. Este ponto de
corte foi obtido a partir das médias e desvios-padrão (Quadro 6) obedecendo à fórmula de Fisher
para o ponto de corte (Angoff, 1971)7. Com base neste resultado pode referir-se que, com uma nota
no ISP do BSI ≥ 1.7, é provável encontrar pessoas perturbadas emocionalmente; e abaixo desse
valor, indivíduos da população em geral.
9
Um importante contributo para a validade concorrente do BSI, foi encontrada por Moura-
Ramos, Oliveira, Monteiro, Pedrosa e Canavarro (2004) ao procurar estabelecer associações entre o
inventário e a Escala de Avaliação de Emoções (EAS; Carlson, Collins, Stewart, Porzelius, Nitz &
Lind, 1989; versão portuguesa de Moura-Ramos; Canavarro & Pedrosa, 2004), no contexto de uma
investigação sobre adaptação à parentalidade. Todas as emoções de cariz mais negativo avaliadas
pela EAS (medo, ansiedade, culpa, cólera e tristeza) se correlacionam positivamente de forma
muito significativa com as pontuações totais do BSI e com as suas nove dimensões; por sua vez, a
emoção felicidade apresenta correlações negativas com as três pontuações gerais do inventário,
assim como com as dimensões Somatização, Obsessões-compulsões, Sensibilidade inter-pessoal,
Depressão, Ansiedade, Hostilidade e Psicoticismo. Finalmente, a emoção surpresa, apenas se
correlaciona positivamente de forma muito significativa com a dimensão Ansiedade e de forma
significativa com a dimensão Psicoticismo.
No âmbito do estudo referido anteriormente, foram igualmente altamente significativas as
associações encontradas entre o BSI e o total da Perceived Stress Scale (PSS; Cohen, 1983, 1997;
Versão Portuguesa de Mota-Cardoso, Araújo, Ramos, Gonçalves & Ramos, 2001), variando entre
.265 e .396.
Ao construir a 23QVS, uma escala para avaliar a vulnerabilidade ao stress, Vaz Serra (2000)
procurou relacioná-la com níveis de psicopatologia, avaliados examinados através do BSI. Todos
os factores da escala se correlacionam positivamente com pelo menos um, ou mais do que um
agrupamento psicossintomatológico. Por uma questão de relevância passamos apenas a referir as
que se revelaram estatisticamente muito significativas (p≤.001). Nomeadamente, o Factor 1
(Perfeccionismo e intolerância à frustração) apresenta correlações positivas e significativas com as
nove dimensões do BSI; o Factor 2 (Inibição e dependência funcional) apresenta correlações
positivas com as dimensões Obsessões-Compulsões, Sensibilidade interpessoal, Depressão,
Ansiedade fóbica e Psicoticismo; o Factor 3 (Carência de apoio social) apresenta correlações com a
Sensibilidade interpessoal e a Ideacção paranóide; o Factor 4 (Condições de vida adversas)
apresenta correlações positivas com a Ideacção paranóide; O Factor 5 (Dramatização da existência)
apresenta correlações positivas com a Somatização e a Depressão; O Factor 6 (Subjugação)
apresenta correlações positivas com as dimensões Obsessões/Compulsões e com a Ideação
paranóide ; e, por fim, o Factor 7 (Deprivação de afecto e rejeição) apresenta correlações positivas
com a Hostilidade.
Num estudo recente que teve como objectivo a validação, para a população portuguesa, do
instrumento de qualidade de vida da Organização Mundial de Saúde (WHOQOL), nas suas versões
longa (WHOQOL-100) (Vaz Serra, Canavarro, Simões, Pereira, Gameiro, Quartilho, Rijo, Carona,
C. & Paredes, no prelo a) e breve (WHOQOL-Bref) (Vaz Serra, Canavarro, Simões, Pereira,
Gameiro, Quartilho, Rijo, Carona, C. & Paredes, no prelo b; Canavarro, Simões, Vaz Serra, Pereira,
Rijo, Quartilho, Gameiro, Paredes & Carona, no prelo), os autores procuraram conhecer as
associações entre qualidade de vida e sintomatologia psicopatológica, avaliada através do BSI. Foi
possível verificar que, em ambas as versões do instrumento, todos os domínios de qualidade de
vida apresentam coeficientes de correlação significativos com todas as dimensões do BSI, assim
como com as suas pontuações globais. Como seria esperado, todas as correlações são inversas, isto
é, uma melhor pontuação nas medidas da qualidade de vida associa-se a resultados mais baixos nos
indicadores psicopatológicos. Mais especificamente, as correlações entre os seis domínios do
WHOQOL-100 e as nove dimensões do BSI foram maiores para o domínio Psicológico, (variando
entre -4.52, para a Ideação Paranóide, e -7.40 para a Depressão) e menores para o domínio
Espiritualidade e Crenças (variando entre -.082, para a Somatização, e -1.70 para a Ansiedade
Fóbica). Os quatro domínios do WHOQOL-Bref apresentam um padrão de associação com as
dimensões do BSI semelhante ao observado na versão longa. As correlações mais elevadas
reportam-se igualmente às encontradas para o domínio Psicológico (variando entre -4.62, para a
10
Ideação Paranóide, e -7.41 para a Depressão) e as menores dizem respeito ao domínio Ambiente
(variando entre -.3.00, para a Hostilidade, e -4.50 para a Depressão).
Os resultados das associações encontradas entre as pontuações do BSI e as que são fornecidas
pelo EAS, PSS, 23QVS e WHOQOL são consistentes do ponto de vista conceptual e reforçadores
da validade do instrumento.
11
maternas para a Somatização, que aumenta significativamente, (t=-3.780, gl=209); Hostilidade,
Psicoticismo e TSP que não apresentam diferenças significativas. Estes resultados indicam que, de
forma geral, o nascimento de um filho é um factor associado a um aumento de bem-estar para
ambos os pais. Ainda nesta investigação, os autores compararam os valores apresentados pelos pais
e pelas mães na mesma ocasião. É interessante notar que, para todas as dimensões do BSI as
diferenças encontradas são muito significativas, à excepção da dimensão Ideação paranóide para a
qual não há diferenças entre os pais e as mães. Após o nascimento de uma criança a mãe apresenta
valores mais elevados do que o pai em todas as dimensões e também nas três pontuações globais,
embora como referimos esses valores são significativamente mais baixos do que os apresentados
pela população em geral.
Por sua vez, Pedrosa, Canavarro, Oliveira Moura-Ramos e Pereira (2004) utilizaram o BSI
para comparar os padrões de sintomatologia psicopatológica das mães e dos pais de 48 bebés
nascidos prematuramente, em dois momentos distintos: dois a cinco dias após o nascimento e três
meses após o nascimento. Os resultados revelaram que as mães, comparativamente com os pais,
apresentam pontuações mais elevadas em todas as dimensões do BSI, assim como nos três índices
gerais em ambos os momentos assinalados. No entanto, no primeiro momento as diferenças apenas
são estatisticamente significativas para as dimensões Somatização, Depressão, Ansiedade e TSP;
no segundo momento, todas as pontuações de sintomatologia psicopatológica diminuem e as
diferenças entre os pais e as mães só são relevantes para a dimensão Hostilidade, onde os pais
apresentam valores significativamente mais elevados.
Num outro estudo realizado por Rocha (2004), foram comparados em relação à
sintomatologia psicopatológica dois grupos de mães, umas seropositivas e outras sem qualquer
doença crónica. As mães seropositivas, apesar de apresentarem pontuações ligeiramente mais
elevadas nas diversas dimensões do BSI e nos três índices gerais, só para a dimensão Depressão
esse valor representa uma diferença estatisticamente significativa entre os grupos (t=2.398, p=.02).
Num estudo sobre factores promotores de ajustamento emocional em adolescentes durante a
gravidez (Pereira, Canavarro, Mendonça & Cardoso, 2003), o BSI foi utilizado como uma das
medidas de avaliação do ajustamento emocional das jovens. Os resultados revelaram que a
sobreprotecção materna é a variável que maior valor preditivo tem em relação ao índice geral de
sintomas (IGS) do BSI.
Por sua vez, Mendonça (2003), numa amostra de 309 mulheres grávidas, entre as 22 e as 25
semanas de gestação verificou que a adaptação das grávidas, avaliada através do BSI, é
influenciada pelas condições sociais e demográficas, pelos hábitos de vida e pelo estado de saúde.
As condições sócio-demográficas parecem encontrar-se associadas às dimensões Depressão,
Hostilidade (F=4.574, p=0.011) e Ansiedade Fóbica (F=5.077, p=.007); os hábitos de vida,
nomeadamente o consumo de tabaco, encontra-se associado às dimensões Sensibilidade
Interpesssoal (F=4.735, p=0.03), Depressão (F=12.435, p=.000) e Hostilidade (F= 10.680, p= .01);
por último, o estado de saúde, encontra-se associado à Somatização (F= 7.674, p= .006) e
Obsessões Compulsões (F= 4.126, p=.006).
Outros estudos
Numa investigação com pais da comunidade em geral e pais alegadamente maltratantes,
Figueiredo, Ribeiro, Clemente, Maia, Fernandes, Matos e Paiva (2002), referem, para os pais da
comunidade em geral valores do BSI semelhantes aos que nós próprios encontrámos nos estudos
realizados em 1999 com indivíduos da população em geral. Verificaram ainda que 71.4% das mães
e 37.5% dos pais alegadamente maltratantes, apresentam valores do ISP superiores ao ponto de
corte referido, o que alerta para a possibilidade destes indivíduos poderem sofrer de perturbação
psicopatológica. Ao comparar os valores globais do BSI obtidos pelos pais alegadamente
maltratantes, com os por nós próprios encontrados, em 1999, para os indivíduos da população em
geral e para os indivíduos perturbados emocionalmente, Figueiredo et al. (2002) referem que estes
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são significativamente superiores aos apresentados pelos indivíduos da população em geral (e
também pelos pais da comunidade em geral), sendo no entanto inferiores aos característicos dos
indivíduos perturbados. Recordamos que situação idêntica havia sido referida por Almeida, Vieira,
Almeida, Rijo e Felisberto (2005) a propósito de um grupo de indivíduos toxicodependentes.
A influência de experiências de adversidade ocorridas durante a infância (como doenças
graves, violência familiar, negligência, abuso físico, psicológico e sexual) na psicopatologia e
comportamentos de saúde apresentados na idade adulta foi estudada por Maia e Seabra (2005)
utilizando uma amostra de estudantes do ensino superior. Os resultados revelam uma associação
positiva entre adversidade na infância e sintomatologia psicopatológica, nomeadamente
Somatização e os índices gerais do BSI.
Por sua vez, Costa, Pacheco e Figueiredo (2002) ao explorar a influência de diversos factores
na qualidade da aliança terapêutica estabelecida em contexto psicoterapêutico, procuraram
conhecer especificamente a influência da psicopatologia. Na avaliação da qualidade da aliança
terapêutica, foram contempladas medidas que traduzem a percepção do paciente e do
psicoterapeuta. Utilizaram o ponto de corte por nós referido e constataram a existência de
diferenças significativas entre os pacientes que apresentam valores do ISP superiores e inferiores a
1.7. Mais especificamente, os pacientes que apresentam valores no ISP superiores a 1.7, possuindo
assim uma maior probabilidade de apresentarem perturbação emocional, têm significativamente
uma percepção mais desfavorável da relevância das tarefas terapêuticas. Uma tendência no mesmo
sentido, embora sem relevância estatística, é observada quando é utilizada a percepção do
psicoterapeuta sobre a qualidade da aliança psicoterapêutica estabelecida.
Num outro estudo, Rebelo e Lopes (2001), ao procurarem conhecer os efeitos de alguns
factores relacionados com a integração académica dos alunos do 1ª ano da Faculdade de
Engenharia da Universidade do Porto, encontraram valores para as diferentes dimensões e índices
gerais do BSI que não diferem de forma significativa dos dados referentes aos estudos
psicométricos do BSI por nós realizados em 1999 na população em geral.
13
5. Interpretação dos resultados
De forma geral, a interpretação das pontuações do BSI é linear, dada a natureza descritiva da
informação que este instrumento de avaliação permite obter (Groth-Marnat, 2003). No entanto, a
forma de leitura dos resultados dependerá do objectivo de utilização do inventário.
Do ponto de vista clínico a análise das pontuações obtidas nas nove dimensões fornece
informação sobre o tipo de sintomatologia que preponderantemente perturba mais o indivíduo. A
simples leitura dos índices globais permite avaliar, de forma geral, o nível de sintomas
psicopatológicos apresentado. A título de exemplo, a intensidade da sensibilidade ao criticismo dos
outros pode ser avaliada com base na pontuação obtida na dimensão Sensibilidade interpessoal.
No entanto, os clínicos, com base nos seus conhecimentos específicos, podem desejar ir além
da interpretação descritiva. No caso exemplificado, podem considerar que um indivíduo com
pontuações elevadas na dimensão Sensibilidade interpessoal, poderá amplificar as situações de
criticismo, ruminar sobre esses acontecimentos, possuir baixa auto-estima e capacidade de auto-
afirmação. Nesse caso, os aspectos referidos deverão ser analisados através de outros
procedimentos de avaliação, sendo os resultados do BSI utilizados como “ponto de partida” para a
exploração de outros dados.
O que acabámos de referir é igualmente válido em relação à informação adicional que pode
ser obtida através de uma análise qualitativa, referente ao conteúdo específico dos itens assinalados
pelo indivíduo. Por exemplo, itens pertencentes à dimensão Depressão, podem fornecer informação
particular sobre ideação suicida, aspecto que deverá ser posteriormente avaliado através de outros
instrumentos e/ou métodos de avaliação.
Para fins de investigação os mesmos parâmetros poderão ser tidos em conta e ainda, se o
inventário for utilizado com o objectivo de formação de grupos (indivíduos perturbados
emocionalmente versus indivíduos não perturbados emocionalmente) poderá utilizar-se o ponto de
corte como critério de probabilidade de pertença ao grupo.
6. Avaliação crítica
14
Bowen, R.C. & D'Arcy, C., 2003; Davis, R., McVey, G., Heinmaa, M., Rockert, W. & Kennedy,
S., 1999; Erickson, D.J., Wolfe, J., King, D.W., King, L.A. & Sharkansky, E.J., 2001) e outras
áreas clínicas. De forma global, estes estudos têm corroborado a sensibilidade do instrumento a
manifestações de mal-estar psíquico, contribuindo para a sua validade.
6.2. Limitações
No sentido do exposto, parece-nos que o maior inconveniente da utilização do BSI, não se
prende com o inventário em si, mas com eventuais interpretações abusivas dos seus resultados. Um
clínico menos esclarecido poderá sentir-se tentado a considerar os resultados não como indicadores
de sintomatologia, mas como fundamentos únicos para a definição de um critério diagnóstico.
Especificamente sobre os estudos psicométricos realizados na população portuguesa, dadas as
limitações do estudo preliminar de validação do instrumento em relação à estratificação da amostra,
não realizámos os estudos de normalização dos resultados, considerados como a etapa final de um
processo de aferição (Simões, 1994). No entanto, com vista a uma futura estandardização do
inventário, avaliámos a sensibilidade do BSI em relação às diferenças de sexo, idade e grau de
instrução, já que os valores T padronizados são habitualmente calculados em função do sexo e do
grupo etário (Derogatis, 1993) e algumas investigações (cf. Franke, 1995) mostraram a
interferência da escolaridade nas notas do SCL-90-R. Os resultados obtidos8 levam-nos a ponderar
a futura elaboração de valores normativos para a população portuguesa de forma separada para
cada sexo, grupo etário e grau de instrução.
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8
Na comparação dos resultados por sexos, usámos testes t de student para amostras independentes e verificámos
que existiam diferenças estatísticas significativas para as escalas Somatização (t=-2.511, gl=230, p=.013) e Obsessões-
Compulsões (t=-2.806, gl=206, p=.005) apresentando as mulheres, em ambas as dimensões, um maior índice de
sintomatologia.
A realização de correlações entre as notas do BSI e a idade mostrou que apenas as dimensões de Somatização e
Depressão são sensíveis à idade dos indivíduos (r=0.143, p=0.04, para a Somatização e r=-0.114, p= 0.022, para
Depressão).
No que toca ao efeito do grau de instrução, efectuámos análises de variância utilizando o teste de Tukey para
comparar, emparelhando, as médias das notas do BSI para os grupos de indivíduos com diferentes graus de instrução.
Os resultados mostram diferenças estatisticamente significativas para as dimensões de Somatização (f=10.447, p=.001,
r2= 0.095), apresentando os indivíduos com um grau de escolaridade primária ou obrigatória resultados mais elevados
do que os indivíduos pertencentes a todos os outros grupos e diferenciando-se inclusivamente entre si no sentido de
uma maior escolaridade estar ligada a um maior índice de somatização. A Paranóia é igualmente sensível à influência
do grau de instrução (f=3.456, p=0.009 e r2=0.033). Apenas os indivíduos com escolaridade obrigatória apresentam
maior índice de sintomatologia quando comparados com os indivíduos com grau de instrução superior.
15
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Com objectivos de investigação, a versão portuguesa do BSI pode ser disponibilizado
mediante pedido formal à autora.
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