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DISCIPLINA: Psicopatologia II
PROFESSORA: Raquel G. de Ávila
Psicopatologia II
1-Objetivos Gerais
• Conhecer os transtornos Psicopatológicos (CID -10/11): critérios diagnósticos e
avaliação clínica
• Conhecer e analisar casos clínicos
• Compreensão teórica nas mais diferentes abordagens psicoterápicas
2-Conteúdo
3-Metodologia
• Aula expositiva
• Aulas práticas (estudos de caso)
4- Avaliação
• Avaliação Parcial: a avaliação parcial ocorrerá em dois momentos, tendo datas definidas,
em duplas e/ou individual e consulta de material didático, porém não será aceito
consulta em celular. Todo material deve perfazer anotações no caderno, material
impresso e livros disponíveis na biblioteca. O relatório dos casos clínicos terá uma
diretriz de preenchimento que será abordada mais adiante.
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Unidade- Av. João Pinheiro, 1046, centro
CEP 37701386 (35) 21076006
• Avaliação Oficial: É individual, aplicada em sala de aula e deve ser entregue à caneta.
Sem consulta.
Bibliografia Básica
APA. Manual Diagnóstico e Estatístico das Doenças Mentais – DSM V. Porto Alegre: Artes
Médicas, 2014.
De acordo com Augras (1986) grande parte da psicopatologia deveria ser reconstituída
a partir de um estudo a respeito da maneira como o indivíduo se situa em relação à vivência do
tempo e do espaço. Longe de serem aspectos adjetivos na expressão de experiências
específicas, tempo e espaço afirmam-se como dimensões significativas do ser.
Assim, para essa disciplina, as leituras acerca de psicopatologia nas diversas
abordagens psicológicas deverão fundamentar a prática de observação e escrita acadêmica.
O relatório de Casos Clínicos, será embasado nos saberes construídos ao longo do
semestre pelo discente, bem como o ponto de contato entre os mesmos e professora, pleiteando,
sobremaneira, os passos de sua experiência com a Saúde Mental e Psicopatologia.
Para tanto, você deverá preencher o relatório abaixo para cada caso apresentado
tomando por base os manuais DSM 5 e CID 10/11, bem como o balizamento com os diversos
autores que se debruçam sobre o tema psicopatologia.
Em cada registro, observe os passos:
1 – Leitura atenta do caso apresentado.
2 – Anote suas impressões, tendo como base teórica a abordagem desejada, bem como
os estudiosos da área.
3 – Anote suas dúvidas ao final do relatório.
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DISCIPLINA: Psicopatologia II
PROFESSORA: Raquel G. de Ávila
RELATÓRIO INDIVIDUAL – ESTUDO DE CASO NOTA:
3 – Dúvidas (neste item você deve anotar suas dúvidas, a fim de podermos realizar nosso ponto
de contato)
• Aparência
• Atitude
• Consciência
• Atenção
• Sensopercepção
• Memória
• Linguagem
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Alterações das Funções Psíquicas
Aparência
• Descuidada
• Bizarra
• Exibicionista
Atitude
• Não cooperante
• De oposição
• Hostil
• De fuga
• Suspicaz (que causa suspeita)
• Querelante (queixoso, reivindicador)
• Arrogante
• Evasiva
• Invasiva
• De esquiva
• Inibida
• Desinibida
• Jocosa (significa ser brincalhão, ser divertido, é ter a capacidade de propagar alegria, de
fazer rir, principalmente através da gozação, da zombaria)
• Irônica
• Lamuriosa
• Dramática
• Teatral
• Sedutora
• Pueril (ideias ou atitudes infantilizadas)
• Gliscroide (está insistentemente querendo companhia, com quem é difícil encerrar
conversa devido ao fato de querer manter a atenção do interlocutor sobre ele)
• Simuladora/dissimuladora (falsa, que finge algo, que engana)
• Indiferente
• Manipuladora
• Submissa
• Expansiva
• Amaneirada
• Reação de último momento
2 - Atenção: pode ser definida como a direção da consciência, ou seja, o estado de concentração
da atividade mental sobre o objeto.
Alterações quantitativas:
• Hipoprosexia: perda básica da capacidade de concentração, dificuldade de percepção
de estímulos ambientais e de compreensão (raciocinar, lembrar, pensar).
• Aprosexia: total abolição da capacidade de atenção por mais fortes e variados que sejam
os estímulos utilizados.
• Hiperprosexia: estado de atenção exacerbada, onde há tendência a deter-se sobre
certos objetos com forte infatigabilidade.
• Distração: superconcentração ativa da atenção sobre determinados conteúdos ou
objetos, com a inibição de tudo mais.
• Distrabilidade: estado patológico onde há dificuldade de fixar ou manter a atenção em
qualquer coisa que implique esforço produtivo. A atenção do indivíduo é facilmente
desviada de um objeto para outro.
• Eidetismo ou imagens eidéticas: ver cenas ou objetos na própria mente, ouvir sons.
• Alucinação: é a percepção de um objeto, sem que este esteja presente, sem o estímulo
sensorial receptivo.
• Alucinação auditiva: podem ser divididas em dois tipos. Nas simples, se ouve apenas
ruídos primários. Nas complexas, as alucinações mais frequentes são as audioverbais,
na qual o paciente escuta vozes, sem qualquer estímulo real, que apresentam conteúdo
depreciativo ou de perseguição. Nesse tipo de alucinação, existem dois tipos de vozes:
as que comentam as ações e as vozes de comando. Outros fenômenos muito próximos
das alucinações são: a sonorização do pensamento, o eco do pensamento (são
percebidas como se a pessoa ouvisse os próprios pensamentos) e publicação do
pensamento (quando o paciente tem a nítida percepção de que outros podem ouvir seus
pensamentos).
• Alucinações audiovisuais: ocorrem com mais frequência na esquizofrenia, transtorno de
humor, alcoolismo crônico, transtornos de personalidade e transtorno dissociativo.
• Alucinação Visual: são visões nítidas que o paciente experimenta, sem a presença de
estímulos visuais. Podem ser simples, quando o paciente vê cores, bolas e ponto, ou
complexas, quando se vê figuras, imagens, cenas (alucinações cenográficas),
personagens e partes do corpo. Ocorrem em enxaquecas, doenças oftalmológicas
(alucinação simples), narcolepsia (caracterizado por sonolência excessiva), cataplesia
(condição transitória de incapacidade de mover membros, cabeça e até falar), demência
por corpos de Lewy (degenerativo, podendo apresentar alucinações entre os estados de
vigília e sonolência), doença de Parkinson com demência, delirium, esquizofrenia, entre
outros.
• Alucinações táteis: o paciente pode sentir espetadas, choques, insetos ou pequenos
animais correndo sobre sua pele. São frequentes em esquizofrenia, nos quadros
histéricos, no delirium tremens e nas psicoses tóxicas.
• Alucinações olfativas e gustativas: são relativamente raras. Nas olfativas, manifestam-
se como o sentir o odor de coisas podres, de cadáver, fezes, pano queimado, etc.
Frequentes em quadros histéricos, esquizofrênicos e psico-orgânicos. As alucinações
gustativas, manifestam-se quando os pacientes sentem gosto de ácido, de sangue, de
urina, sem qualquer estímulo gustativo presente. Frequentes em esquizofrenia e quadros
histéricos.
• Alucinações funcionais: alucinações desencadeadas por estímulos sensoriais. Não
existe o objeto, mas o estímulo sim. Frequente em esquizofrenia.
• Alucinose: ocorre quando o paciente percebe a alucinação como estranha à sua pessoa.
O indivíduo está consciente de que aquilo é um fenômeno estranho, patológico,
estabelecendo distanciamento entre si e o sintoma. Frequente em quadros psico-
orgâncos.
• Alucinação negativa: ausência de visão de objetos reais, presentes no campo visual do
indivíduo. Geralmente é determinada por fatores psicogênicos em pacientes histéricos e
muito sugestionáveis.
6 – Afetivo: compreende várias modalidades de vivência afetiva que dão “cor, brilho e calor a
todas as vivências humanas. Compreende o humor, as emoções e os sentimentos. Cinco tipos
básicos de vivências afetivas: o humor ou estado de ânimo, as emoções, sentimentos, afetos e
paixões.
Alterações patológicas:
• Distimia: termo que designa a alteração básica do humor, tanto no sentido de inibição
como no sentido de exaltação. Transtorno depressivo leve e crônico.
• Disforia: diz respeito à distimia, acompanhada de uma tonalidade desagradável, mal-
humorada.
• Euforia ou mania: humor morbidamente exagerado, predominante em estado de alegria
intenso.
• Elação: expansão do eu, sensação de subjetividade e grandeza.
• A apatia, o embotamento e a indiferença afetiva, indicam diminuição da mobilidade
afetiva.
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10 – Juízo: Definir valores ou atributos que damos aos objetos. É expresso através do
pensamento.
Alterações:
• Vivência delirante primária: alteração global da consciência da realidade. O paciente
passa a acreditar que há algo novo no ar, no mundo, diferente, estranho e impreciso.
• Vivência delirante secundária: quando um juízo falso se origina de outras vivências. Por
exemplo, acreditar que todo mal do mundo é culpa dela.
• Percepção delirante: ocorre quando se atribui à percepção normal, um significado novo,
diferente.
• Podem ser identificados por temas: de perseguição, grandeza, ciúmes, de controle, de
invenção secreta, de referência, erotomaníaco, megalomaníaco, etc.
• Delírio compartilhado: folie-à-deux (transtorno delirante induzido de um sujeito psicótico
para outros).
16 – Pragmatismo: não é uma função psíquica, porém fornece uma medida do funcionamento
conjunto das funções presentes. Demostra as funções psíquicas, capazes de levar a ação,
realizando algo que seja útil a si mesmo, trazendo satisfação e êxito.
Alteração:
• Paciente não apresenta produzir nenhum comportamento que o satisfaça (pessoa
trancada em um quarto, isolado, descuidado em relação a aparência e higiene pessoal).
Referências:
PSICOPATOLOGIA II
Nesta seção, daremos início aos estudos referentes às síndromes psicóticas, tendo em
vista as diversas abordagens psicológicas. Vale ressaltar que este material não substitui as
leituras que devem ser realizadas acerca dos manuais (CID 10/11, DSM 5, Dalgarrondo, 2019,
APA 2014, entre outros).
A confecção deste material permeia apenas o campo de um “sobrevoo “ou de uma visão
panorâmica acerca das psicopatologias. Realiza-se, portanto, um resumo de todo conteúdo que
será visto neste semestre.
Nota:
Em 18 de junho de 2018, foi lançada pela OMS a CID-11, que entrou em vigor em janeiro
de 2022, porém, ainda em processo de tradução para o Português. Tem-se disponível, na
internet, apenas alguns poucos capítulos traduzidos para o Português.
1 – TRANSTORNOS PSICÓTICOS
As psicoses breves, reativas ou psicogênicas são quadros psicóticos breves que surgem,
geralmente, após uma situação traumática e que não deixam sequelas no psiquismo.
Caracterizam-se por ideias delirantes, geralmente paranoides, alucinação visual e ou auditiva,
intensa perplexidade e confusão mental, ansiedade e medo (DALGALARRONDO, 2000). O DSM
-5 (APA, 2014) estabelece como critérios diagnósticos para este tipo de psicose: A - a presença
de pelo menos um dos quatro sintomas como: delírios, alucinações, discurso desorganizado e
comportamento grosseiramente desorganizado, sendo imprescindível a presença de pelo menos
um dos três primeiros sintomas especificados; B – A perturbação deve durar pelo menos um dia,
mas ser inferior a um mês, sendo que o indivíduo deve necessariamente retornar a um estado
de funcionamento pré – mórbido; e C- não deve ser decorrente de outros transtornos.
1.3 - ESQUIZOFRENIA
1 – Sintomas Negativos:
• Perda de certas funções psíquicas (vontade, pensamento, linguagem),
• Empobrecimento global da vida social, afetiva, cognitiva,
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2-Sintomas Positivos:
• Alucinações,
• Ideias delirantes (delírios),
• Distorção da realidade,
Ampliando-se mais os sintomas característicos, para uma avaliação mais robusta:
• Percepção delirante,
• Alucinações auditiva,
• Eco do pensamento,
• Difusão, divulgação ou publicação de pensamentos,
• Roubo de pensamento,
• Distúrbios da vivência do eu.
Caso Clínico
Gregory Baker era um jovem afro americano de 20 anos levado ao pronto-socorro pela
polícia do campus universitário de onde havia sido suspenso vários meses antes. A polícia foi
chamada por um professor, o qual relatou que o Sr. Baker havido entrado na sala de aula gritando
“Eu sou o Coringa, estou procurando o Batman”. Quando o Sr. Baker recusou se retirar do local,
o professor chamou os seguranças.
Embora o Sr. Baker tivesse um bom desempenho escolar na adolescência, seu
comportamento ficou cada vez mais estranho no ano anterior. Ele parou de encontrar os amigos
e passava a maior parte do tempo deitado na cama, olhando para o teto. Ele vivia com vários
familiares, mas raramente falava com eles. Foi suspenso da faculdade por faltas. Sua irmã
afirmou que o viu várias vezes murmurando baixinho para si mesmo e percebeu que às vezes,
à noite, ele se postava no telhado da casa e mexia os braços como se estivesse “conduzindo
uma orquestra”. Ele negou ter a intenção de pular do telhado ou de ter pensamentos de
autoagressão, mas afirmou que se sentia livre e em sintonia com a música quando estava no
telhado. Embora seu pai e irmã tentassem encorajá-lo a fazer uma consulta com alguém no
departamento de saúde da universidade, o Sr. Baker nunca havia se consultado com um
psiquiatra, nem sofrido internação hospitalar anteriormente.
Durante os meses que antecederam o incidente, o Sr. Baker ficou cada vez mais
obcecado por uma amiga, Anne, que vivia na mesma rua. Embora ele insistia afirmar para a
família que estavam noivos, Anne informou à irmã do Sr. Baker que mal haviam conversado e
que decididamente não estavam namorando. A irmã do Sr. Baker também relatou que ele havia
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escrito várias cartas para Anne, mas nunca as havia enviado, em vez disso, elas simplesmente
se empilhavam em sua escrivaninha.
Seus familiares afirmaram que, pelo que sabiam, ele nunca havia utilizando substâncias
ilícitas nem álcool, e seu exame toxicológico resultou negativo. Ao ser perguntado sobre o uso
de drogas, o Sr. Baker parece zangado e não respondeu.
Durante o exame no pronto-socorro, o Sr. Baker aparentava ter bons cuidados pessoais
de higiene e, de modo geral, não foi cooperativo. Parecia contido, resguardado, desatento e
preocupado. Zangou-se quando a equipe do pronto-socorro levou o jantar a ele. Insistiu em voz
alta que toda a comida do hospital estava envenenada e que só iria beber um tipo específico de
água engarrafada. Percebeu-se que ele tinha delírios paranoides, românticos e de
grandiosidade. Ele parecia estar internamente preocupado, embora negasse alucinações. O Sr.
Baker relatou-se sentir-se mal mas negou depressão e não apresentava perturbações do sono
nem de apetite. Estava orientado e se expressava bem oralmente, mas se recusou a fazer testes
cognitivos e formais. Seu insights e julgamentos forma considerados ruins.
A avó de Sr. Baker, morrera internada em um hospital psiquiátrico público, onde viveu
por 30 anos.
Por fim, o Sr. Baker concordou em ser internado na unidade psiquiátrica, afirmando: “Não
me importo de ficar aqui. Provavelmente, Anne já esteja aqui, então posso passar meu tempo
com ela”.
2 – TRANSTORNO DE ANSIEDADE
Neste item, serão abordados os transtornos mentais nos quais sintomas ansiosos
configuram formas “puras” ou “quase puras” de transtornos de ansiedade (transtorno de
ansiedade generalizada [TAG] e transtorno de pânico) ou aqueles nos quais a ansiedade tem
importância central ou muito relevante (fobias, ansiedade social, estresse pós-traumático,
quadros dissociativos e conversivos, quadros hipocondríacos e de somatização e transtorno
obsessivo-compulsivo [TOC]).
Vejamos os códigos diagnósticos nos manuais:
6B60 – Transtornos
dissociativos e subtipos
2.1 – AS FOBIAS
A compreensão psicodinâmica das fobias, segundo Nemiah (1981) apud Gabbard (1998,
2016), de um modo geral, está relacionada a pensamentos sexuais ou agressivos proibidos, que
podem levar a punição; surgem do inconsciente e ativam a angústia sinal, levando ao
desenvolvimento dos mecanismos de recalcamento, deslocamento e evitação. Por exemplo, a
pessoa que tem medo dos seus desejos sexuais (namorar alguém), porque acha que pode ser
punida por isso, pode ficar angustiada e manter a ideia ligada a este desejo/ medo no
inconsciente (recalcamento) e transferir este medo/ desejo para outras situações parecidas
(bares, e locais onde possa encontrar um namorado) – (deslocamento), passando a manter
distância desses lugares (evitação). Segundo Gabbard (1992), apud Gabbard (1998, 2016), na
fobia social estão presentes certos relacionamentos objetais característicos. São crianças que
têm a representação dos cuidadores, como pessoas que os deixam com vergonha, criticam,
ridicularizam, humilham e abandonam.Estas introjeções são estabelecidas precocemente e
depois projetadas em pessoas do ambiente que devem ser evitadas. Parece haver para isso
uma predisposição genética. Porém, à medida que os cuidadores podem ser sensíveis aos
medos da criança, estas introjeções podem ser mais benignas e menos ameaçadoras.
Gabbard (2016), como autor vinculado a abordagem psicodinâmica, focaliza em sua obra mais
a fobia social, justificando que as fobias específicas respondem bem a outros tipos de
intervenções como as exposições à situação fóbica, como a dessensibilização sistemática,
proposta pela abordagem comportamental. Ressalta ainda, que as agorafobias também podem
se beneficiar das intervenções psicodinâmicas.
A ansiedade, segundo GABBARD (2016) pode estar vinculada a um medo consciente e
aceitável, mas que disfarça uma preocupação mais profunda e, portanto, menos aceitável. Por
isso, o indivíduo pode apresentar-se ansioso, sem ter uma pista da origem desta ansiedade.
A compreensão cognitivista – comportamental supõe que na fobia (HOLMES, 2001, p.101-5),
uma resposta de medo foi equiparada a um estímulo neutro e, em consequência deste
condicionamento, o estímulo que era neutro, agora passa a provocar o medo (condicionamento
clássico). Por exemplo, um indivíduo que se mostra assustado por qualquer motivo, quando
estiver perto de um elevador (estímulo neutro), pode sempre se sentir assustado em situações
relacionadas a um elevador, porque associou o estar assustado a este estímulo. Também,
devido aos processos de generalização, pode passar a ter medo de estímulos semelhantes ao
original. Usando o mesmo exemplo do elevador, o indivíduo pode, pelo processo de
generalização, temer todos os lugares pequenos e fechados.
Outra forma de explicar a fobia é por meio do condicionamento clássico vicário , já que nem
sempre o indivíduo com fobia teve contato direto com o estímulo que a provoca. Supõe-se então
que o indivíduo pode desenvolver um medo por ter ouvido falar de uma experiência infeliz, e isso
ser suficiente para equiparar o medo ao estímulo (HOLMES, 2001).
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O DSM-5 (APA, 2014) sugere que para se levantar esta hipótese diagnóstica, se tenha como
base:
1. Presença de obsessão,compulsão ou ambas;
2. As obsessões ou compulsões devem tomar tempo, ou causam sofrimento significativo,
ou geram prejuízo social;
3. Os sintomas não devem ser mais bem explicados por outros transtornos e nem devem
ser consequência do uso de substâncias como drogas ou medicamentos.
O DSM-5 (APA, 2014) também sugere que se especifique se o transtorno vem acompanhado
de: a) insight bom ou razoável; b) insight pobre ou ausente; c) com
insight ausente e crenças delirantes e também se está ou esteve relacionado a um transtorno de
tique. Vale salientar que no DSM-5 (APA, 2014) estão dentro do grupo do TOC, como transtornos
relacionados os: transtorno de escoriação, acumulação e tricotilomania.
O consenso do pensamento atual é que o TOC envolve uma predisposição biológica que
interage com fatores psicológicos e ambientais (GABBARD, 1998).
Partindo de uma compreensão psicodinâmica (GABBARD, 1998), Nemiah (1988), apud Gabbard
(1998), resume que frente a um estímulo que desperta a libido edípica provocadora de
ansiedade, o indivíduo obsessivo compulsivo afasta-se da posição edípica e regride para a fase
anal do desenvolvimento psicossexual. Tal regressão se deve a fixações nesta fase do
desenvolvimento, durante o início da infância. Além disso, outro motivo da regressão é a discreta
fusão entre impulsos sexuais e agressivos, característicos da fase edípica. No indivíduo
obsessivos compulsivos tais impulsos não estão fundidos, provocando uma intensa
ambivalência. A simultânea presença de sentimentos amorosos e de ódio deixa a pessoa em
dúvida sobre o curso adequado da ação e assim paralisado pela indecisão. Para lidar com
impulsos sexuais e agressivos primitivos que devem ser contidos e controlados, tais pessoas
utilizam como defesas: o isolamento, formação reativa, intelectualização e anulação.
O TOC pode acompanhar qualquer estrutura de personalidade ou organização, por isso
merece uma avaliação psicodinâmica cuidadosa. Além disso, muitos destes pacientes parecem
agarrar-se aos seus sintomas como forma de defesa a uma desintegração psicótica. Neste
sentido, tais sintomas parecem ser úteis para o equilíbrio psíquico (GABBARD, 1998).
A compreensão cognitivista – comportamental (HOLMES, 2001) do TOC é muito
parecida com a das fobias. Nesta perspectiva, este transtorno parece estar
relacionado aos comportamentos de evitação que são explicados pelos processos de
condicionamento operante, conforme explicado na página 15.
Outra explicação é que os indivíduos com este transtorno usam respostas irracionais para
combater aquilo que lhes deixam ansiosos. Estas respostas inapropriadas para combater/ reduzir
a ansiedade são operacionalmente condicionadas e dificilmente se extinguem, porque tem um
esquema de gratificação intermitente, que aumenta a resistência à extinção. Por exemplo, o
indivíduo que não pisa na linha da calçada, imaginando que algo ruim possa acontecer, tem tanto
um medo como uma estratégia para combate-lo, que são irracionais. Assim, se algumas vezes
o indivíduo não pisou na linha da calçada e nada aconteceu, ele se assegura que precisa usar
sempre esta resposta (HOLMES, 2001).
Caso Clínico
Medo Avassalador
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No DSM-5, para o diagnóstico de Transtorno depressivo maior devem ser observados, pelo
menos cinco destes critérios, presentes por pelo menos duas semanas. Segundo Dalgalarrondo
(2019) o DSM-5 traz: sintomas obrigatórios - humor deprimido ou perda de interesse ou prazer
na maior parte do dia, quase todos os dias. Mais quatro dos seguintes sintomas:
• Desânimo ou acentuada perda de interesse e prazer (anedonia);
• Redução ou aumento do apetite (redução ou ganho de peso de 5% em um mês;
• Sono: insônia ou hipersonia;
• Fadiga, perda de energia;
• Sentimentos de culpa e inutilidade, pessimismo;
• Baixa autoestima;
• Concentração prejudicada e dificuldade para pensar;
• Pensamentos recorrentes de morte ou suicídio;
• Retardo/agitação psicomotora.
A) Transtorno Bipolar I
B) Transtorno Bipolar II
C) Ciclotímico
Trata-se de episódios leves de depressão e hipomania; devem durar no mínimo dois anos,
mas geralmente acompanham o indivíduo ao longo da sua vida. A pessoa permanece, aos
olhos de uma grande maioria, dentro da normalidade, muitas vezes nem passando por
tratamento médico (DALGALARRONDO, 2019).
Caso Clínico
Ansiedade?
4.2-Piromania
(Critério D). Os incêndios não são provocados com fins monetários, como uma expressão de
ideologia sociopolítica, para ocultar atividades criminais, para expressar raiva ou vingança, para
melhorar as circunstâncias de vida de uma pessoa ou em resposta a um delírio ou alucinação
(Critério E). O ato de provocar incêndios não resulta de julgamento alterado (p. ex., no transtorno
neurocognitivo maior, na deficiência intelectual [transtorno do desenvolvimento intelectual]). O
diagnóstico não é feito se a provocação de incêndio for mais bem explicada por transtorno da
conduta, por episódio maníaco ou por transtorno da personalidade antissocial (Critério F).
4.4- Tricotilomania
Caso Clínico
Jogo
Tomás Zambrano era um homem hispânico, casado, com 36 anos, que se apresentou a
uma clínica especializada em jogos de azar de um grande centro médico para avaliação e
tratamento.
Técnico de um time escolar de futebol americano, o sr. Zambrano tinha um filho de 5
anos. O paciente negou ter história psiquiátrica ou de abuso de substância anterior. Ele estava
vestido de forma arrumada e adequada, expressava-se fluentemente tanto em inglês quanto em
espanhol, falava em tom e volume normais e, durante exame, função cognitiva preservada e
inteligência na média.
O sr. Zambrano fazia apostas em eventos esportivos e jogos de cartas desde a infância
e indicou, durante a avaliação, que jogos com apostas “fazem parte de nossa cultura. O
passatempo preferido de seu pai, e que também funcionava como alívio para o estresse, eram
jogos de pôquer com os amigos à noite, de modo que o sr. Zambranose lembrava dos momentos
especiais entre pai e filho que compartilhavam. Para ele, o pôquer se tornou uma atividade
familiar que realizava com cada vez mais frequência para aliviar o estresse relacionado ao
trabalho. Ele adorava a excitação, o desafio intelectual e a competição.
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Contudo, jogos de cartas não permaneceram sendo um passatempo inocente para o sr.
Zambrano. Ele começou a perder mais dinheiro do que podia gastar. Ao longo dos dois anos
anteriores, aumentou gradativamente a frequência e o risco de suas noites de pôquer. Quando
perdia, apostava ainda mais, convencido de que teria sorte na vez seguinte. Quando ganhava,
sentia-se fantástico e continuava a jogar, convencido de que estava em uma maré de sorte.
Embora as perdas fizessem com que se sentia inútil, tolo e irritável, acreditava que venceria se
pudesse refinar sua estratégia. Sentia um impulso forte, quase constante, de aumentar o ritmo
dos jogos e recuperar o dinheiro que havia perdido. Quando tentava reduzir o jogo, ficava irritável,
obcecado, e log retomava as noites de pôquer.
Quando o sr. Zambrano finalmente foi à clínica, já estava desesperado. Jogar pôquer
todas as noites levou a uma fadiga diurna e ao baixo desempenho do trabalho como técnico, que
antes ele adorava. Ele estava sendo consumido com pensamentos sobre a próxima partida de
pôquer. A esposa e o filho há muito se ressentiam do pouco tempo que lhes dedicava, mas ele
havia recém descoberto que ele gastara toda a poupança dedicada à faculdade do filho e
acumulava uma dívida de R$ 30.000,00 no cartão de crédito. Quando ela ameaçou entrar com
um pedido de divórcio na justiça, ele sentiu-se triste, deprimido e resolveu buscar tratamento.
5 – TRANSTORNOS SOMATOFORMES
para indivíduos cujos sintomas somáticos envolvem predominantemente dor. Especificar se:
Persistente: Um curso persistente é caracterizado por sintomas graves, prejuízo marcante e
longa duração (mais de seis meses). Especificar a gravidade atual: Leve: Apenas um dos
sintomas especificados no Critério B é satisfeito. Moderada: Dois ou mais sintomas especificados
no Critério B são satisfeitos. Grave: Dois ou mais sintomas especificados no Critério B são
satisfeitos, além da presença de múltiplas queixas somáticas (ou um sintoma somático muito
grave).
Já na CID 11, teremos que verificar cada caso específico dentro das categorias
específicas na nova classificação. Veremos em detalhe essas mudanças em aula.
6 – Outros Transtornos
7 – Transtornos Sexuais
As disfunções sexuais são síndromes que incluem as várias formas pelas quais
indivíduos adultos apresentam dificuldades na experiência pessoal de atividade sexual não
coercitiva. Na CID-11, para se considerar uma síndrome como disfunção sexual, os seguintes
fatores devem estar presentes:
1.ocorrência frequente do transtorno ou disfunção, podendo estar ausente em algumas
situações;
2.o transtorno deve estar presente por pelo menos alguns meses;
3.o transtorno deve estar associado a sofrimento ou disfunção clinicamente significativos
8 – Transtorno de Personalidade
Segundo o DSM-5, os TPs podem ser agrupados em três grandes subgrupos com
semelhanças descritivas (ou seja, esse agrupamento tem valor apenas descritivo e didático):
a.padrão: esquisitos e/ou desconfiados;
b.padrão: instáveis e/ou manipuladores e/ou centro das atenções; e
c.padrão: ansiosos e/ou controlados-controladores.
Os TPs da CID-11 e do DSM-5 se sobrepõem em boa medida, havendo, portanto, certo
consenso em relação a quais TPs se utilizar na clínica e em pesquisa.
Quadro 5 – Principais características dos diferentes Transtornos de Personalidade
Esquizoide Borderline
Anancástico ou Obsessivo
(distanciamento) - (emocionalmente instável)
Indiferença; - Relações pessoais muito - Rígido, metódico e minucioso; -
instáveis; Não tolera variações ou
- Distante, sem relações - Atos autolesivos improvisações;
íntimas; repetitivos; - Perfeccionista e escrupuloso; -
- Esquisito, estranho; - Humor muito instável; Muito convencional, segue
- Vive no seu próprio - Impulsivo e explosivo; rigorosamente as regras;
mundo; - Solitário; - Graves problemas de
identidade;
- Sentimentos intensos de - Controlador (dos outros e de si)
- Não se emociona
(imperturbável) vazio.
Antissocial (Dissocial)
Paranoide
Dependente
- Frio e insensível;
- Desconfiança
- Sem compaixão; - Dependente e alto grau;
constante; - Sensível às
- Agressivo e cruel; - Necessita muito agradar;
críticas;
- Não sente culpa ou - Desamparado quando sozinho;
- Rancoroso, arrogante;
remorso; - Mente - Sem iniciativa;
- culpa os outros;
recorrentemente; - Sem energia;
- Sem autonomia pessoal
- Reivindicativo;
- Aproveita-se dos outros
- Sente-se prejudicado
nas relações
Esquizotípico
Histriônico Evitativo
- Ideias e crenças estranhas e de
autorreferência; - Busca atenção; visa ser o - Evita ao máximo
- Desconforto nas relações centro das atenções; interações sociais;
interpessoais; - Dramatiza, é muito teatral; - - Sentimentos
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- Pensamento muito vago e Sugestionável e superficial; - constantes de
excessivamente metafórico; - Manipulador; inadequação;
aparência física excêntrica; (não
está na CID 11 como TP) - Discurso vago, impressionista; - Muita
- Erotiza situações, não sensibilidade à
normalmente erotizáveis; avaliação
negativa;
(não está na CID
11 como TP)
Narcisista
- Grandiosidade.
Segundo Bastos (1997), citado por Dalgalarrondo (2019) define-se personalidade como
“[...] o conjunto integrado de traços psíquicos, consistindo no total das características individuais
em sua relação com o meio, conjugando tendências inatas e experiências adquiridas no curso
de sua existência” (p.270).
Segundo o DSM-5 (APA, 2014), transtorno de personalidade [...] é um padrão persistente
de experiência interna e comportamento que se devia acentuadamente das expectativas da
cultura do indivíduo, é difuso e inflexível, começa na adolescência
ou início da fase adulta, é estável ao longo do tempo e leva a sofrimento ou prejuízo (APA, 214,
p.645).
O diagnóstico de transtorno de personalidade aplica-se a adultos e as apresentam as
seguintes características gerais, segundo Dalgalarrondo (2019), que se baseia na CID 11 e no
DSM-5:
• Surgem na infância e adolescência e tendem a se manter estável durante toda a vida;
o padrão anormal de comportamento não é limitado ao episódio de qualquer doença
mental (esquizofrenia, depressão, etc) e ocorre permanentemente e de longa duração;
• Manifesta um conjunto de comportamentos e reações afetivas desarmônicas,
envolvendo partes da vida do indivíduo como: a afetividade, o controle de impulsos,
relacionamentos interpessoais, etc; esse padrão anormal de comportamento inclui
muitos aspectos, tanto do psiquismo, como da vida social, não se restringindo a apenas
um aspecto;
• O padrão comportamental é mal adaptativo, produzindo uma série de dificuldades para
o indivíduo, assim como as pessoas que convivem com ele;
• São condições não relacionadas diretamente à lesão cerebral ou a outro transtorno
psiquiátrico (salvo algumas exceções);
• O transtorno da personalidade leva a algum grau de sofrimento (angústia, solidão,
sensação de fracasso, etc);
• Geralmente, o transtorno de personalidade contribui para um mau desempenho
ocupacional e social, embora essa afirmação não seja obrigatória;
Estudos atuais mostram que alguns dos transtornos de personalidade tendem a se
manter estáveis até a velhice, enquanto outros podem apresentar mudanças,
principalmente a atenuação da impulsividade e instabilidade afetiva – como borderline,
antissocial, narcisista e histriônica (DALGALARRONDO, 2019).
Vale destacar que os termos: psicopata, sociopata e personalidade antissocial podem
ser utilizados por alguns autores e profissionais como sinônimos; entretanto,
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Schneider (1976), apud Dalgalarrondo (2019) amplia o termo psicopatia a
todos os transtornos de personalidade que segundo o DSM-5 e a CID 11, conforme destaca
Dalgalarrondo (2019) são:
• Aqueles marcados por esquisitice e desconfiança (Esquizoide, Paranoide,
Esquizotípica);
• Aqueles marcados ela impulsividade e manipulação (Borderline, antissocial, histriônica
e narcisista);
• Aqueles marcados por ansiedade e controle (Anancástico ou Obsessivo, Dependente
e Evitativo).
Segundo Dalgalarrondo (2019), os estudos atuais mostram que alguns dos
transtornos de personalidade tendem a se manter estáveis até a velhice, enquanto
outros podem apresentar mudanças, principalmente a atenuação da impulsividade e
instabilidade afetiva – como borderline, antissocial, narcisista e histriônica
(DALGALARRONDO, 2019).
Essa tese busca identificar mecanismos de defesa, estrutura do ego, desejos, conflitos,
temores e angústias, proporcionando uma visão aprofundada do mundo interno das pessoas
avaliadas. O legado de Freud persiste como um marco importante na compreensão da psicologia
e da personalidade.
podem se combinar de distintas formas, foi defendida pelo psicólogo humanista norte-
americano Gordon Allport (1897-1967).
Esse importante autor, entretanto, estava bem mais interessado em avaliações individuais
de cada paciente, nas suas pesquisas de traços de personalidade, não investindo em
validações objetivas de uma teoria de personalidade. Sua visão foi mais idiográfica (centrada
nas singularidades de cada pessoa, de cada paciente), com uma profunda sensibilidade sobre
aspectos existenciais, únicos e profundos de cada indivíduo, ao longo de sua história pessoal
(Allport, 1973; Tavares; Gorenstein, 2016).
Desde então, a noção de traço na psicologia e psicopatologia da personalidade vem
ganhando muita importância, sobretudo nas últimas décadas. Traços são tendências,
características, modos específicos, que são estáveis e determinantes para a personalidade do
indivíduo. Traços se diferenciam de estados, que são aspectos temporários e breves, eliciados
por fatores externos circunstanciais, como uma demissão, briga familiar ou outro fator
estressante momentâneo. Gordon Allport propôs distinguir os traços de personalidade em três
grupos (Pervin & John, 2004):
1.traços cardiais, que revelam disposições penetrantes e marcantes para o conjunto da
personalidade de uma pessoa (p. ex., ser marcadamente autoritário, sádico, tímido);
2.traços centrais (como honestidade, assertividade, generosidade), que são importantes e
cobrem amplas áreas da vida de uma pessoa (não sua totalidade);
3.traços secundários, que seriam disposições menos significativas, consistentes e conspícuas.
Perspectivas fenomenológicas
• Karl Jaspers
• Ludwig Binswanger
Ludwig Binswanger (1881-1966), médico suíço com formação psiquiátrica junto a Bleuer e
Jung, diretor do Sanatório Bellevue, iniciou sua carreira na clínica psicanalítica, mas afastou-se
gradualmente das proposições metapsicológicas de Freud à medida que se aprofundava em
estudos da fenomenologia de Husserl e da ontologia fundamental de Heidegger. Em seu texto
"Analyse Existentielle et Psychothérapie", apresentado no Congresso Internacional de
Psicoterapia em Barcelona em 1958, Binswanger expressou sua divergência em relação à
psicanálise, especialmente no que diz respeito à concepção da relação entre corpo e alma,
instinto e espírito.
Ao contrário da psicanálise, que surgiu como uma abordagem terapêutica, a análise
existencial de Binswanger começou como um novo método de pesquisa, originado da
insatisfação com os projetos de compreensão científica da psiquiatria da época. Sua abordagem
mais abrangente e elaborada da psicopatologia resultou da análise existencial, que trouxe uma
ruptura com a tradição médica e psiquiátrica da psicopatologia.
Na perspectiva da Daseinanalyse de Binswanger e de sua antropologia fenomenológica, ele
propôs a especificação da psicopatologia como um campo separado das ciências naturais,
baseando-se na visão do homem como um ser pessoal cuja continuidade se desdobra em
história. Ele destacou a importância das dimensões fundamentais do Dasein, como a
temporalidade e a espacialidade, derivadas da análise do Dasein heideggeriano, em sua
psicopatologia.
Binswanger introduziu os conceitos de Umwelt, Mitwelt e Eigenwelt para descrever os modos
simultâneos de ser-no-mundo de seus pacientes, enfatizando a importância de compreender
como cada indivíduo vivencia essas dimensões. Seu método fenomenológico na psicopatologia
buscou descrever a experiência de mundo e as condições de existência específicas de cada
Dasein, indo além de uma abordagem meramente descritiva ou subjetiva.
Binswanger também abordou a relação entre fenomenologia e psicopatologia, destacando a
diferença entre a pesquisa fenomenológica das essências e a busca dos fatos psicopatológicos.
Ele enfatizou a importância de uma fenomenologia psicopatológica que busque o sentido e a
significação da experiência vivida, adentrando a experiência concreta do outro e focando nas
estruturas a priori da existência.
No contexto da psicopatologia fenomenológica de Binswanger, ele identificou formas de
existência frustrada, nas quais a presença psicopatológica se manifesta limitada em torno de
categorias existenciais prioritárias, resultando em diferentes tipos de distúrbios mentais. Sua
visão da psicopatologia como a análise do homem em sua totalidade, discriminar o doente do
sadio e entender como a presença do doente pode ser transformada em uma presença sadia,
marcou sua contribuição significativa para o campo.
• Fenomenologia Hermenêutica
modo, a partir de si mesmo" (p. 114). As falas trazem evidências do sentido, podendo
construir compreensões do modo de ser que permitam ao cliente situar-se e orientar-se em seu
percurso existencial.
• TCC
A TCC está baseada no modelo cognitivo, que parte da hipótese de que as emoções, os
comportamentos e as respostas fisiológicas de uma pessoa são influenciados pela percepção
que ela tem dos eventos que vive. O que importa, dessa forma, não é o que acontece ao
paciente, mas a forma como ele interpreta o ocorrido. A partir disso, compreende-se que a
delineação do tratamento deve basear-se em uma conceituação, ou compreensão, das crenças
específicas e padrões de comportamento de cada paciente, o que influenciará o uso das técnicas
e os objetivos nas sessões. Esse processo de conceituação ocorre logo após os atendimentos
iniciais e perdura durante todo o tratamento, sendo fundamental que o terapeuta atualize,
aprimore e acompanhe (BECK, 2014). Para a construção do diagrama de conceitualização,
levam-se em conta os três níveis de processamento cognitivo: os pensamentos automáticos
(PAs), que são espontâneos e fluem em nossa mente a partir de acontecimentos do cotidiano;
as crenças intermediárias, também entendidas como regras, atitudes ou suposições, mais
enraizadas que os PAs; e as crenças centrais ou nucleares, desenvolvidas na infância através
das interações do indivíduo com outras pessoas relevantes e da vivência de muitas situações
que fortaleçam essa ideia (BECK, 2014). Pacientes com TP costumam ter menos
relacionamentos sociais, pois têm certeza de que serão rejeitados, o que lhes parece
insuportável. Consequentemente, desenvolvem estratégias de enfrentamento desadaptativas
pautadas na evitação. A evitação social é visível, enquanto a evitação cognitiva e emocional é
menos óbvia, podendo levar o paciente a evitar pensar sobre coisas que levem a sentimentos
disfóricos. A baixa tolerância à disforia também os leva a se distraírem de suas cognições
negativas (BECK; DAVIS; FREEMAN, 2017).
Lara Gonzalez, uma jornalista autônoma de 51 anos, divorciada, foi sozinha ao pronto-
socorro solicitar uma avaliação dermatológica por causa de infestação de pulgas. Quando o
exame da pele não revelou evidências para a queixa e a paciente insistiu que não estava a salvo
em casa, ela foi internada em um serviço psiquiátrico com “transtorno psicótico não
especificado”.
Suas preocupações começaram cerca de uma semana antes da apresentação.
Para lidar com uma crise financeira, ela havia alugado um quarto extra em sua casa para
hóspedes temporários e começado a cuidar de animais de estimação para alguns vizinhos. Sob
essas condições, percebeu insetos marrons escondendo-se em sua pele, nas paredes,
recobrindo seus tapetes e o colchão. Ela jogou fora uma sacola com roupas, acreditando que
ouvia pulgas “esfregando e arranhando dentro do saco”. Ela não estava dormindo bem e havia
passado as 36 horas anteriores à apresentação limpando a casa freneticamente, com medo que
os hóspedes não pagassem se vissem as pulgas. Tomou vários banhos usando produtos para
tratar infestações de bichos. Chamou um dedetizador que não encontrou evidências de pulgas,
mas não acreditou nele. Estava chateada com a infestação, mas não sofria sintomas depressivos
ou maníacos nem paranoia. Não usava drogas nem álcool. Ninguém na família tinha história de
doença psiquiátrica. A sra. Gonzalez teve depressão uma vez no passado e foi tratada
brevemente com um antidepressivo. Não apresentava problemas médicos relevantes.
Suas preocupações com a infestação começaram em meio ao diagnóstico de câncer
invasivo de sua irmã, o início da menopausa, as dificuldades financeiras que provavelmente a
forçariam a se mudar dos Estados Unidos de volta para a Argentina (seu país de origem) e o
rompimento recente com seu namorado. Como parâmetro, descreveu a si mesma como uma
pessoa obsessiva que sempre teve fobias de contaminação, que se agravavam em momentos
de ansiedade.
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Durante o exame de estado mental, a sra. Gonzalez estava calma e participativa, com
relacionamento e contato visual normais. Ela ofereceu uma pequena sacola plástica contendo
“pulgas e larvas” que havia coletado no hospital enquanto esperava a avaliação. A inspeção da
sacola revelou pedaços de fios e de reboco. Seu discurso tinha um tom de urgência e descreveu
seu humor como “triste agora”.
Ficava lacrimosa em intervalos, mas, fora isso, reagia com sorrisos. Seus pensamentos
estavam excessivamente inclusivos e intensamente concentrados em pulgas. Ela expressou a
crença de que, cada vez que um fio de cabelo caía de sua cabeça, ele se transformava em uma
larva. Quando chorava, acreditava que um ovo saía de seu canal lacrimal. Não estava suicida
nem homicida. Expressou uma crença inabalável de que os fiapos eram larvas e de que
estava infestada. Negou alucinações. Sua cognição estava intacta. Seu insight estava
prejudicado, mas seu julgamento foi considerado razoavelmente adequado. O exame
dermatológico revelou que não havia insetos nem larvas na pele da sra. Gonzalez. Os resultados
do exame neurológico, a tomografia computadorizada da cabeça, os testes laboratoriais e os
dados toxicológicos estavam normais. Ela teve alta medicada com antipsicóticos de baixa
dosagem e consultas semanais para psicoterapia de apoio. Sua preocupação melhorou em
alguns dias e se resolveu totalmente em duas semanas. Ela desenvolveu insight suficiente para
se referir à crença de que havia pulgas em sua pele como um “pensamento maluco”. Atribuiu
sua “fuga da realidade” a estressores múltiplos e conseguiu elaborar a noção de que dependia
de seu delírio como forma de desviar sua atenção dos problemas reais. Sua família confirmou a
rápida volta a seus padrões de normalidade.
Diagnóstico
Discussão
apresentam estabilidade relativamente baixa ao longo do tempo, o que faz sentido, uma
vez que – ao contrário da esquizofrenia – episódios psicóticos breves têm, por definição, curta
duração e não podem ser diagnosticados sem que haja tanto a remissão dos sintomas quanto
um acompanhamento criterioso.