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FACULDADE ANHANGUERA POÇOS DE CALDAS – MG

Unidade- Av. João Pinheiro, 1046, centro


CEP 37701386 (35) 21076006

CURSO PSICOLOGIA - ANHANGUERA

DISCIPLINA: Psicopatologia II
PROFESSORA: Raquel G. de Ávila

Psicopatologia II

1-Objetivos Gerais
• Conhecer os transtornos Psicopatológicos (CID -10/11): critérios diagnósticos e
avaliação clínica
• Conhecer e analisar casos clínicos
• Compreensão teórica nas mais diferentes abordagens psicoterápicas

2-Conteúdo

Unidade I – Semiologia e Psicopatologia


• Uma visão breve dos conceitos gerais de semiologia
• Processos psicológicos: sensação, representação, afeto/ humor, pensamento,
linguagem, inteligiência, consciência, memória, atenção/ concentração, orientação,
juízo/crítica, psicomotricidade, conação/ prospecção/ pragmatismo.
• Psicoses e variações: esquizofrenia e psicopatias

Unidade II – Transtorno de ansiedade

Unidade II – Transtorno de humor

Unidade IV – Compreensão maior sobre as psicopatologias e possibilidade de


acompanhamento/tratamento

Unidade V – Transtornos de hábitos e Impulsos

Unidade VI – Transtornos Somatoformes (verificar mudanças na CID 11)

Unidade VII – Compreensão teórica acerca dos transtornos sexuais

Unidade VIII – Outros transtornos Sexuais

Unidade IX – Estudos de casos clínicos (Prático)

Unidade X – Compreensão Conceitual nas abordagens: comportamental, humanista-existencial,


psicanálise, psicologia analítica e cognitivo-comportamental.

3-Metodologia
• Aula expositiva
• Aulas práticas (estudos de caso)

4- Avaliação

• Avaliação Parcial: a avaliação parcial ocorrerá em dois momentos, tendo datas definidas,
em duplas e/ou individual e consulta de material didático, porém não será aceito
consulta em celular. Todo material deve perfazer anotações no caderno, material
impresso e livros disponíveis na biblioteca. O relatório dos casos clínicos terá uma
diretriz de preenchimento que será abordada mais adiante.
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• Avaliação Oficial: É individual, aplicada em sala de aula e deve ser entregue à caneta.
Sem consulta.

Bibliografia Básica

APA. Manual Diagnóstico e Estatístico das Doenças Mentais – DSM V. Porto Alegre: Artes
Médicas, 2014.

AUGRAS, M. O ser da compreensão: fenomenologia da situação de psicodiagnóstico.


Petropolis: Vozes, 2013.

CHENIAUX, E. Manual de Psicopatologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.

DALGALARRONDO, P. Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais. Porto Alegre:


Artes Médicas, 2019.

JASPERS, K. Psicopatologia Geral. Rio de Janeiro: Atheneu, 1985.

WHO. Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID 10/11. Porto


Alegre: Artes Médicas, 2019.

Diretrizes para preenchimento de relatório de casos clínicos/ 2024

De acordo com Augras (1986) grande parte da psicopatologia deveria ser reconstituída
a partir de um estudo a respeito da maneira como o indivíduo se situa em relação à vivência do
tempo e do espaço. Longe de serem aspectos adjetivos na expressão de experiências
específicas, tempo e espaço afirmam-se como dimensões significativas do ser.
Assim, para essa disciplina, as leituras acerca de psicopatologia nas diversas
abordagens psicológicas deverão fundamentar a prática de observação e escrita acadêmica.
O relatório de Casos Clínicos, será embasado nos saberes construídos ao longo do
semestre pelo discente, bem como o ponto de contato entre os mesmos e professora, pleiteando,
sobremaneira, os passos de sua experiência com a Saúde Mental e Psicopatologia.
Para tanto, você deverá preencher o relatório abaixo para cada caso apresentado
tomando por base os manuais DSM 5 e CID 10/11, bem como o balizamento com os diversos
autores que se debruçam sobre o tema psicopatologia.
Em cada registro, observe os passos:
1 – Leitura atenta do caso apresentado.
2 – Anote suas impressões, tendo como base teórica a abordagem desejada, bem como
os estudiosos da área.
3 – Anote suas dúvidas ao final do relatório.
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CURSO PSICOLOGIA – AVALIAÇÃO PARCIAL

DISCIPLINA: Psicopatologia II
PROFESSORA: Raquel G. de Ávila
RELATÓRIO INDIVIDUAL – ESTUDO DE CASO NOTA:

1 – Apresentação de Caso Clínico (transcreva o caso clínico)

2 – Desenvolvimento (Descreva detalhamente suas primeiras apreensões sobre o caso, tomando


como base os autores que deseja referenciar, bem como o código relativo à psicopatologia do
caso clínico, que você define à partir das leituras realizadas. Justifique sua escolha, pautando-
se nos critérios diagnósticos do CID 10/11 ou DSM 5).

3 – Dúvidas (neste item você deve anotar suas dúvidas, a fim de podermos realizar nosso ponto
de contato)

4 – Referências (cite as bibliografias utilizadas).


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Psicopatologia II
Unidade I

Semiologia em psicopatologia – as funções psíquicas básicas

Itens da súmula psicopatológica (funções psíquicas)

• Aparência
• Atitude
• Consciência
• Atenção
• Sensopercepção
• Memória
• Linguagem
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Alterações das Funções Psíquicas

Aparência
• Descuidada
• Bizarra
• Exibicionista

Atitude

• Não cooperante
• De oposição
• Hostil
• De fuga
• Suspicaz (que causa suspeita)
• Querelante (queixoso, reivindicador)
• Arrogante
• Evasiva
• Invasiva
• De esquiva
• Inibida
• Desinibida
• Jocosa (significa ser brincalhão, ser divertido, é ter a capacidade de propagar alegria, de
fazer rir, principalmente através da gozação, da zombaria)
• Irônica
• Lamuriosa
• Dramática
• Teatral
• Sedutora
• Pueril (ideias ou atitudes infantilizadas)
• Gliscroide (está insistentemente querendo companhia, com quem é difícil encerrar
conversa devido ao fato de querer manter a atenção do interlocutor sobre ele)
• Simuladora/dissimuladora (falsa, que finge algo, que engana)
• Indiferente
• Manipuladora
• Submissa
• Expansiva
• Amaneirada
• Reação de último momento

1- Consciência: capacidade de captar o meio e se orientar adequadamente com lucidez,


sendo uma atividade que integra várias funções psíquicas em dado instante.

Alterações qualitativas: relacionam-se ao grau de rebaixamento da consciência, que vai


progressivamente de um nível mais desperto até um estado de perda mais profunda, no qual
não se observa atividade consciente.
• Estado Crepuscular: estreitamento do campo da consciência, restringindo-se a
determinados momentos, tendendo ao onirismo. Podem apresentar alucinações cênicas
(em estados de intoxicação ou abstinência ou confusão pós-ictal – após uma crise
epilética parcial). É um estado transitório, acompanhado de relativa conservação de
atividade motora coordenada. Durante esse estado podem ocorrer descontrole
emocional e explosões agressivas.
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• Dissociação da consciência: designa a fragmentação do campo da consciência. Ocorre


em casos histéricos e geralmente desencadeados por traumas significativos.
• Transe: estado em que se assemelha a sonhar acordado, no entanto, apresenta
atividade motora automática e estereotipada. Vivências religiosas e culturais.
Alterações quantitativas: (nível e claridade das vivências dos fenômenos psíquicos).
• Obnubilação ou turvação da consciência: (rebaixamento leve a moderado) observa-se
claramente diminuição da atenção e concentração, dificuldade de integrar informações
do ambiente e compreender o que ocorre à sua volta, além do pensamento ligeiramente
confuso.
• Sopor ou Topor: o indivíduo encontra-se mais sonolento, podendo ser desperto por
estímulos de natureza dolorosa.
• Coma: é o grau mais profundo de rebaixamento do nível da consciência. Nele não é
possível qualquer atividade voluntária consciente.
• Delirium: quadro com rebaixamento leve a moderado, acompanhados de desorientação
tempoespacial, dificuldade de concentração, perplexidade, ansiedade em graus
variáveis, agitação ou lentificação psicomotora, ilusões, alucinações, ideias deliroides e
delirantes.
• Hipervigilância: estado de muita claridade da consciência, com o aumento do interesse/
captação e diminuição do tempo de reação, trabalho/ concentração/ profundidade.
Consciência do Eu X Outro:
• Despersonalização: relaciona-se a uma experiência de estranhamento de si mesmo,
abarcando o eu psíquico e o eu físico.
• Desrealização: sentimento de que o ambiente a sua volta está estranho e não lhe é
familiar.
• Vivência de influência, em que o eu está deslocado para outrem.

2 - Atenção: pode ser definida como a direção da consciência, ou seja, o estado de concentração
da atividade mental sobre o objeto.
Alterações quantitativas:
• Hipoprosexia: perda básica da capacidade de concentração, dificuldade de percepção
de estímulos ambientais e de compreensão (raciocinar, lembrar, pensar).
• Aprosexia: total abolição da capacidade de atenção por mais fortes e variados que sejam
os estímulos utilizados.
• Hiperprosexia: estado de atenção exacerbada, onde há tendência a deter-se sobre
certos objetos com forte infatigabilidade.
• Distração: superconcentração ativa da atenção sobre determinados conteúdos ou
objetos, com a inibição de tudo mais.
• Distrabilidade: estado patológico onde há dificuldade de fixar ou manter a atenção em
qualquer coisa que implique esforço produtivo. A atenção do indivíduo é facilmente
desviada de um objeto para outro.

3 – Memória: capacidade de registrar, manter e evocar as experiências e os fatos já ocorridos.


Relaciona-se intimamente com o nível de consciência, com a atenção e com o interesse afetivo.
Alterações quantitativas:
• Hiperminésia: as representações (conjuntos mnêmicos) afluem rapidamente, ganhando
em número, mas perdendo em clareza e precisão.
• Amnésia: perda da memória tanto na capacidade de fixar, quanto na capacidade de
evocar e manter antigos conteúdos mnêmicos. Pode ser anterógrafa, no qual o indivíduo
não consegue mais fixar elementos após a situação do dano cerebral, ou retrógrada, na
qual o indivíduo perde a memória para fatos ocorridos antes do trauma.
Alterações qualitativas:
• Paramnésias ou confabulação: tais alterações envolvem a deformação do processo dos
conteúdos fixados. As lembranças deformadas não correspondem à sensopercepção
original.
• Criptomnésia: súbito esquecimento de fatos ou períodos do passado.
• Ecmnésia: súbita recordação do passado, como uma revivência.
• Dejà vu: experiência de já ter visto algo.
• Jamais vu: experiência de jamais ter visto algo.
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• Mentira patológica e mitomania.


• Agnosias: são déficits do reconhecimento de estímulos sensoriais, objetos e fenômenos.
As agnosias são de origem essencialmente cerebral. Podem ser táteis, visuais, auditivas.

4 – Linguagem: é o principal instrumento para a comunicação e expressão do pensamento dos


seres humanos. Suas funções, além da comunicação e expressão, abarcam também a afirmação
do eu e a dimensão artística e lúdica.
Alterações secundárias devido à lesão neuronal identificável: alterações vinculadas a
acidentes vasculares cerebrais, tumores cerebrais, má formação, entre outros.
• Afasias, parafasias, agrafia, alexia.
Alterações quantitativas:
• Logorreia e Taquifasia: produção aumentada e acelerada da linguagem verbal.
• Bradifasia: fala lenta e difícil, onde o paciente fala muito vagarosamente.
• Mutismo: ausência de resposta verbal oral. Pode ser de natureza neurobiológica,
psicótica ou psicogênica.
• Preservação e estereotipia verbal: repetição automática de palavras ou trechos de
frases, de modo estereotipado, mecânico e sem sentido. Pode indicar lesão orgânica.
• Ecolalia: é a repetição da última palavra que a pessoa ou alguém falou. Encontrada
principalmente na esquizofrenia catatônica.
• Palilalia ou logoclonia: repetição das últimas palavras (palilalia) ou sílabas (logoclonia)
que a própria pessoa emitiu em seu discurso.
• Tiques verbais ou fonéticos: são produções de fonemas de forma recorrente, imprópria
e irresistível. No tique verbal, o indivíduo produz sons guturais, abruptos e
espasmódicos.
• Glossolalia: produção de fala gutural, pouco compreensível, que imita a fala normal nos
seus aspectos prosódicos. Sempre que é produzida em um contexto cultural, não é
considerado um fenômeno psicopatológico.
• Pára-respostas: alteração do pensamento e do comportamento verbal mais amplo. Ao
ser questionada, a pessoa coloca em tom de responder a pergunta, mas a resposta é
disparata em relação ao conteúdo da pergunta.
• Fuga de ideias; de um tema a outro, bruscamente, em associação com o pensamento
acelerado.
• Associação frouxa: discurso muda bruscamente de direção, causando bizarria.
• Neologismos: criação de palavras novas.
• Coprolalia: uso involuntário de palavras obscenas e palavrões.

5 – Sensopercepção: fenômeno elementar gerado por estímulos físicos, químicos, biológicos,


que produzem alterações nos órgãos receptores, estimulando-os. Tais estímulos fornecem a
alimentação sensorial aos sistemas do organismo (visuais, táteis, auditivos, gustativos, olfativos,
etc). Do sistema nervoso periférico ao sistema nervoso central, a criação da consciência do
objeto, a percepção da realidade externa e interna (do próprio corpo e a consciência de si
mesmo). A sensopercepção se refere ao objeto numa tomada objetiva e a representação se
refere ao objeto numa tomada subjetiva.
Alterações quantitativas:
• Hiperestesia: condição da qual as percepções encontram-se anormalmente aumentadas
em sua intensidade ou duração. Ocorre nas intoxicações por alucinógenos, em algumas
formas de epilepsia, enxaqueca, hipertireoidismo, entre outros.
• Hipoestesia: condição na qual o mundo é percebido mais escuro, onde as cores se
tornam mais pálidas e sem brilho, alimentos não tem mais sabor, ou seja, as percepções
são anormalmente diminuídas, condição encontrada em pacientes depressivos.
• Anestesia ou hipalgesia: ocorre insensibilidade total, ou em alguns casos, diminuição de
sensibilidade em relação à dor.
Alterações qualitativas:
• Ilusões: se caracteriza pela percepção deformada, alterada, de um objeto real. As ilusões
mais comuns são as visuais e auditivas. Ocorrem por déficit de atenção ou envolvimento
emocional.
• Pareidolias: ilusão provocada voluntariamente (ver “coisas” nas nuvens).
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• Eidetismo ou imagens eidéticas: ver cenas ou objetos na própria mente, ouvir sons.
• Alucinação: é a percepção de um objeto, sem que este esteja presente, sem o estímulo
sensorial receptivo.
• Alucinação auditiva: podem ser divididas em dois tipos. Nas simples, se ouve apenas
ruídos primários. Nas complexas, as alucinações mais frequentes são as audioverbais,
na qual o paciente escuta vozes, sem qualquer estímulo real, que apresentam conteúdo
depreciativo ou de perseguição. Nesse tipo de alucinação, existem dois tipos de vozes:
as que comentam as ações e as vozes de comando. Outros fenômenos muito próximos
das alucinações são: a sonorização do pensamento, o eco do pensamento (são
percebidas como se a pessoa ouvisse os próprios pensamentos) e publicação do
pensamento (quando o paciente tem a nítida percepção de que outros podem ouvir seus
pensamentos).
• Alucinações audiovisuais: ocorrem com mais frequência na esquizofrenia, transtorno de
humor, alcoolismo crônico, transtornos de personalidade e transtorno dissociativo.
• Alucinação Visual: são visões nítidas que o paciente experimenta, sem a presença de
estímulos visuais. Podem ser simples, quando o paciente vê cores, bolas e ponto, ou
complexas, quando se vê figuras, imagens, cenas (alucinações cenográficas),
personagens e partes do corpo. Ocorrem em enxaquecas, doenças oftalmológicas
(alucinação simples), narcolepsia (caracterizado por sonolência excessiva), cataplesia
(condição transitória de incapacidade de mover membros, cabeça e até falar), demência
por corpos de Lewy (degenerativo, podendo apresentar alucinações entre os estados de
vigília e sonolência), doença de Parkinson com demência, delirium, esquizofrenia, entre
outros.
• Alucinações táteis: o paciente pode sentir espetadas, choques, insetos ou pequenos
animais correndo sobre sua pele. São frequentes em esquizofrenia, nos quadros
histéricos, no delirium tremens e nas psicoses tóxicas.
• Alucinações olfativas e gustativas: são relativamente raras. Nas olfativas, manifestam-
se como o sentir o odor de coisas podres, de cadáver, fezes, pano queimado, etc.
Frequentes em quadros histéricos, esquizofrênicos e psico-orgânicos. As alucinações
gustativas, manifestam-se quando os pacientes sentem gosto de ácido, de sangue, de
urina, sem qualquer estímulo gustativo presente. Frequentes em esquizofrenia e quadros
histéricos.
• Alucinações funcionais: alucinações desencadeadas por estímulos sensoriais. Não
existe o objeto, mas o estímulo sim. Frequente em esquizofrenia.
• Alucinose: ocorre quando o paciente percebe a alucinação como estranha à sua pessoa.
O indivíduo está consciente de que aquilo é um fenômeno estranho, patológico,
estabelecendo distanciamento entre si e o sintoma. Frequente em quadros psico-
orgâncos.
• Alucinação negativa: ausência de visão de objetos reais, presentes no campo visual do
indivíduo. Geralmente é determinada por fatores psicogênicos em pacientes histéricos e
muito sugestionáveis.

6 – Afetivo: compreende várias modalidades de vivência afetiva que dão “cor, brilho e calor a
todas as vivências humanas. Compreende o humor, as emoções e os sentimentos. Cinco tipos
básicos de vivências afetivas: o humor ou estado de ânimo, as emoções, sentimentos, afetos e
paixões.
Alterações patológicas:
• Distimia: termo que designa a alteração básica do humor, tanto no sentido de inibição
como no sentido de exaltação. Transtorno depressivo leve e crônico.
• Disforia: diz respeito à distimia, acompanhada de uma tonalidade desagradável, mal-
humorada.
• Euforia ou mania: humor morbidamente exagerado, predominante em estado de alegria
intenso.
• Elação: expansão do eu, sensação de subjetividade e grandeza.
• A apatia, o embotamento e a indiferença afetiva, indicam diminuição da mobilidade
afetiva.
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• Coerência afetiva: em casos de dissociação, a pessoa pode apresentar a ideo-afetiva


(alegria no enterro), na belle indiference (indiferença frente a relatos importantes).

7 – Pensamento: encadear ideias através da linguagem, associando conteúdos de acordo com


o interesse e a necessidade, solucionar problemas.
Alterações de fluxo:
• Diminuído: lentificação do pensamento.
• Lentificação extrema: inibição do pensamento, com associações escassas, preservação
e dificuldade para mudar a atenção, pode levar ao mutismo, quando há abolição total da
linguagem falada.
• Latência de resposta: demora para responder a um a pergunta feita, por exemplo.
• Fuga de ideias: a velocidade do pensamento é tal que a produção verbal se dá por
associação de som (rima e assonância), ou temas. Há uma incapacidade de concluir o
pensamento.
• Estupor maníaco: pode haver associação entre fuga-de-ideias e inibição de pensamento,
quando o paciente diz não conseguir pensar e ordenar suas ideias.
• Arborização: perda da direcionalidade, em que o mesmo não consegue concluir uma
ideia.
• Reverberação: determinado tema persiste em um longo período de tempo.
• Preservação: dificuldade em mudar de tema, de se desvincular de uma ideia.
• Apego à ideias: repetição de ideias, ao longo de um tempo, mesmo que com outras
ideias mais superficiais, tornando o tema prolixo, sem perda do tema central.
• Bloqueio de pensamento: corte brusco no fluxo de ideias. Parada súbita de seu pensar
na ausência de ansiedade, interrompendo seu discurso, sem depois retomar o
pensamento.
• Inserção de pensamentos: é a vivência de introdução de ideias que não são do próprio
indivíduo, alheia à vontade do paciente. Comum em quadros psicóticos, com ideias de
telepatia.
• Condensação de ideias: exprimir várias ideias com o mínimo de palavras, neologismos.
• Sonorização do pensamento: pensamento se repetem fora da mente. Comum na
esquizofrenia.
• Eco de pensamentos: o paciente vivencia o próprio pensamento repetidamente.
• Desagregação: as ideias perdem a ligação entre si, o pensamento fica sem nexo, sem
sentido.
• Incoerência de pensamento: ideias associam-se de forma aleatória. Presente em
quadros de rebaixamento da consciência.
• Ambivalência ideativa: coexistência de pensamentos contraditórios.
• Pensamento autista; influenciado por motivações internas ao invés da realidade.
Paciente voltado para si mesmo. Presente em quadros de autistas esquizofrênicos.
• Prevalente: ideias supervalorizadas persistindo por um longo período de tempo na mente
da pessoa.
• Obsessivo: ideias que se impõem involuntariamente, e que o indivíduo reconhece como
próprias, porém absurdas e irracionais.
• Pensamento empobrecido: aquele que possui poucas representações e ideias.
Pensamento simplista, rasteiro, superficial.

8 - Impulsividade: é o “ellan vital”, o que traz tônus, energia.


Alterações:
• Impulsividade (Hiperestenia): impulsividade determina suas ações, o seu sistema de
filtro é frouxo (sistema de inibições) e não conseguem exercer controle adequado sobre
seus atos. A liberação anormal da impulsividade ocorre em quadros de psicose aguda,
síndromes mentais orgânicas agudas e crônicas e nas personalidades em
desenvolvimento.
• Astenia: rebaixamento da impulsividade. Improdutividade psíquica, incapacidade de
concentração, além do distanciamento do mundo perceptível e de suas atividades reais.
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9 – Orientação: capacidade de situar-se em relação a si e ao mundo no tempo e espaço.


Alterações:
• Amnésia, transtornos delirantes alucinatórios, alteração do nível de consciência, entre
outros. Ela pode alterar-se de forma isolada ou global. Inicia-se em relação ao tempo,
depois ao espaço e a última a autopsíquica.

10 – Juízo: Definir valores ou atributos que damos aos objetos. É expresso através do
pensamento.
Alterações:
• Vivência delirante primária: alteração global da consciência da realidade. O paciente
passa a acreditar que há algo novo no ar, no mundo, diferente, estranho e impreciso.
• Vivência delirante secundária: quando um juízo falso se origina de outras vivências. Por
exemplo, acreditar que todo mal do mundo é culpa dela.
• Percepção delirante: ocorre quando se atribui à percepção normal, um significado novo,
diferente.
• Podem ser identificados por temas: de perseguição, grandeza, ciúmes, de controle, de
invenção secreta, de referência, erotomaníaco, megalomaníaco, etc.
• Delírio compartilhado: folie-à-deux (transtorno delirante induzido de um sujeito psicótico
para outros).

11 – Crítica: Capacidade de comparar juízos, de buscar a coerência e identificar as incoerências


nos três níveis: interno, do indivíduo em relação a seu corpo e em relação ao mundo, e realizar
o encadeamento de juízos afins objetivando a demonstração de uma verdade.
Alterações:
• Exaltada: ideias de autoacusação e culpa (neuróticos e deprimidos)
• Insuficiente (oligofrênicos – referente à capacidade mental)
• Debilitada (nas demências)
• Suspensa (rebaixamento da consciência)
• Diminuição ou perda: paciente psicóticos, quando não reconhecem a própria condição

12 – Inteligência: Conjunto de todas as capacidades, que em quaisquer realizações, são


utilizáveis para adaptação às tarefas vitais e que podem ser empregados com um propósito
determinado. Habilidade para pensar e agir lógica e racionalmente.
Alterações quantitativas: cognição
• Oligofrenia: quadro compromete principalmente a inteligência e outras funções
psíquicas.
• Superdotação: quadro compromete principalmente a inteligência e outras funções
psíquicas.
• Demência: a partir de um dado momento, o paciente apresenta declínio progressivo da
capacidade intelectiva.

13 – Conação: atividade psíquica de direcionamento para a ação (volição, vontade).


Alterações quantitativa:
• Hipobulia: queixa de completa impotência de vontade, com sentimento de passividade e
abandono. Falta de motivação, interesse e prazer, tanto a nível corporal e realização de
atos, quanto de pensamentos e suas representações.
• Hiperbulia: sentimentos gigantescos de forças, em que qualquer estímulo representa
motivação.
Alterações qualitativas:
• Negativismo: tendência permanente e instintiva de reação contra toda e qualquer
solicitação do mundo externo.
• Sugestionabilidade: há uma tendência a adotar qualquer solicitação externa.

14 – Psicomotricidade: refere-se à exteriorização e o resultado da elaboração interna de


estímulos. Fazem parte dessa função psíquica as atitudes, a maneira de se comportar, as
posturas e a produção verbal.
Alterações:
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• Acinesia: ausente de qualquer elaboração, flexibilidade cérea (ausência total de


movimento voluntário)
• Hipercinesia: movimentação global aumentada, aparece em quadros que compreendem
desde irritabilidade, inquietude leve, excitação até agitação motora.
• Hipocinesia: lentificação, inibição psicomotora, inflexibilidade cérea (paciente
permanece na mesma posição que foi colocado).
• Ecopraxia: repetição imitativa de movimento, gesto ou postura de outra pessoa.
• Estereotipia: repetição de um movimento complexo, de maneira constante, quase
mecânica e desprovida de finalidade.
• Maneirismo: ação motora com finalidade particular, repetida de forma não-usual e
modificada. Sentido de bizarrice ao observador.

15 – Prospecção: como alguém se projeta em relação a certo evento vindouro na continuidade


do espaço/tempo.
Alteração:
• Paciente sem esperança em qualquer esfera da vida, não conseguindo retornar para
suas atividades cotidianas.

16 – Pragmatismo: não é uma função psíquica, porém fornece uma medida do funcionamento
conjunto das funções presentes. Demostra as funções psíquicas, capazes de levar a ação,
realizando algo que seja útil a si mesmo, trazendo satisfação e êxito.
Alteração:
• Paciente não apresenta produzir nenhum comportamento que o satisfaça (pessoa
trancada em um quarto, isolado, descuidado em relação a aparência e higiene pessoal).

Referências:

DALGARRONDO, P. Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais. Porto Alegre:


Artes Médicas, 2019.

NETO, M. et al. Psiquiatria Básica. Porto Alegre: Artes Médicas, 2009.


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PSICOPATOLOGIA II

Nesta seção, daremos início aos estudos referentes às síndromes psicóticas, tendo em
vista as diversas abordagens psicológicas. Vale ressaltar que este material não substitui as
leituras que devem ser realizadas acerca dos manuais (CID 10/11, DSM 5, Dalgarrondo, 2019,
APA 2014, entre outros).
A confecção deste material permeia apenas o campo de um “sobrevoo “ou de uma visão
panorâmica acerca das psicopatologias. Realiza-se, portanto, um resumo de todo conteúdo que
será visto neste semestre.

Nota:
Em 18 de junho de 2018, foi lançada pela OMS a CID-11, que entrou em vigor em janeiro
de 2022, porém, ainda em processo de tradução para o Português. Tem-se disponível, na
internet, apenas alguns poucos capítulos traduzidos para o Português.

1 – TRANSTORNOS PSICÓTICOS

CID 10 CID 11 DSM 5


F20 - F29 (Esquizofrenia, 6A20 – 6A2Z (Esquizofrenia e Espectro de Esquizofrenia e
Transtorno Esquizotípico e seus subtipos) outros transtornos Psicóticos
Delirante)
F20 - Esquizofrenia 6A20 a 6A20Z Esquizofrenia Esquizofrenia
e desordens primárias
F22 – Transtorno delirante 6A21 a 6A21Z Transtorno
persistente esquizoafetivo e outras
desordens
6A22 - Desordem
Schizotypal

6A23 a 6A23Z– Transtorno


psicótico agudo a transtorno
psicótico agudo não
especificado
F22.0 – Transtorno delirante 6A24 a 6A24Z – Transtorno Transtorno Delirante
delirante e subtipos
F22.8 – Outros transtornos 6A25 – Perturbações Transtorno Psicótico
delirantes persistentes psicóticas primárias e
subtipos
F22.9 – Transtorno delirante 6A2Z- Esquizofrenia e outras -
persistente, não especificado perturbações não
especificada
F23 – Transtorno psicótico -
agudo e persistente 6A4 – Catatonia (não mais
como um subtipo de
esquizofrenia e sim como um
transtorno psicótico) verificar
CID 11

A principal forma de psicose ou síndrome psicótica segundo (DALGARRONDO, 2019),


é certamente a esquizofrenia. Vejamos como a descrição dos sintomas trazidos pelos principais
sistemas diagnósticos (DSM 5 e CID 11). Os subtipos clínicos da esquizofrenia ( Hebefrênica,
Catatônica, Simples, Paranoide) foram abandonados pelos sistemas de classificação atuais
(CID-11 e DSM-5), pois não se revelaram suficientemente úteis, pelas seguintes razões (Braff et
al., 2013):
•não são estáveis ao longo do tempo (pacientes com frequência “mudam” de subtipo ao longo
dos anos);
•não predizem padrão de evolução da doença;
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•não predizem resposta a tratamentos farmacológicos ou psicossociais;


•são muito heterogêneos em relação às bases genéticas e neuronais da esquizofrenia;
•a delimitação dos subtipos tem sido cada vez menos utilizada em pesquisas.

Os modelos de classificação para os vários tipos de transtornos psicóticos apresentam


diferenças se forem comparados os critérios estabelecidos pela CID 10/11 e pelo DSM - 5. De
um modo geral, neste capitulo, são discutidos os critérios diagnósticos para o Transtorno
delirante e as Psicoses breves e em um subcapitulo específico, é realizada uma discussão mais
aprofundada sobre a Esquizofrenia.
O DSM-5 (APA, 2014) inicia o capítulo dos transtornos do tipo psicótico ressaltando que
estes são definidos a partir das seguintes alterações psíquicas: Delírios, Alucinações,
Pensamento/ discurso desorganizados, comportamento motor desorganizado ou anormal e
sintomas negativos (expressão emocional diminuída; avolia- redução de atividades motivadas e
autoiniciadas; alogia – diminuição na produção do discurso; anedonia e falta de sociabilidade).
Tais critérios são utilizados para todos os transtornos psicóticos discutidos neste capítulo e
podem ser definidos da seguinte forma:

1. Delírios; segundo Dalgalarrondo (2019), os mais comuns são de conteúdo persecutório, de


influência ou autorreferentes, embora outros tipos possam estar presentes. Para o mesmo autor,
embora não sejam propriamente ideias delirantes, podem estar presentes certa distorção da
realidade, ou seja, presença de ideias completamente bizarras ou deturpadas sobre a realidade
ou sobre determinados fatos
2. Alucinações; segundo Dalgalarrondo (2019) pode haver também ilusões e pseudoalucinações.
As alucinações mais comuns são as audioverbais, embora possam estar presentes outros tipos,
segundo o mesmo autor.
3. Discurso desorganizado: é um reflexo de uma desorganização do pensamento, no qual as
ideias são incoerentes e incompreensíveis, segundo Dalgalarrondo (2019);
4. Comportamento grosseiramente desorganizado ou catatônico. Os comportamentos
desorganizados são, particularmente, comportamentos sexuais e sociais bizarros e
inadequados; já nos comportamentos catatônicos, segundo Dalgalarrondo (2019), há
preservação da consciência com estupor – diminuição marcante da atividade psicomotora;
nestes casos, pode haver momentos de agitação psicomotora – chamada de excitação
catatônica (DALAGALARRONDO, 2019);
5. Sintomas negativos (embotamento afetivo, alogia – empobrecimento da linguagem e do
pensamento, avolição – diminuição da vontade).
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1.1- TRANSTORNO PSICÓTICO AGUDO, BREVE E TRANSITÓRIO

As psicoses breves, reativas ou psicogênicas são quadros psicóticos breves que surgem,
geralmente, após uma situação traumática e que não deixam sequelas no psiquismo.
Caracterizam-se por ideias delirantes, geralmente paranoides, alucinação visual e ou auditiva,
intensa perplexidade e confusão mental, ansiedade e medo (DALGALARRONDO, 2000). O DSM
-5 (APA, 2014) estabelece como critérios diagnósticos para este tipo de psicose: A - a presença
de pelo menos um dos quatro sintomas como: delírios, alucinações, discurso desorganizado e
comportamento grosseiramente desorganizado, sendo imprescindível a presença de pelo menos
um dos três primeiros sintomas especificados; B – A perturbação deve durar pelo menos um dia,
mas ser inferior a um mês, sendo que o indivíduo deve necessariamente retornar a um estado
de funcionamento pré – mórbido; e C- não deve ser decorrente de outros transtornos.

1.2 - TRANSTORNO DELIRANTE

Outro tipo de psicose é a paranoia ou transtorno delirante que se caracteriza, segundo


Dalgalarrondo (2019), pelo surgimento e desenvolvimento de um delírio, ou de um sistema
delirante (conjunto de delírios interligados) com preservação da personalidade e do resto do
psiquismo do indivíduo (personalidade, cognição, afetividade). O delírio permanece cristalizado
em um núcleo doente da personalidade, sem comprometer o todo. Para realização deste
diagnóstico, Dalgalarrondo (2019) salienta que não deve haver desorganização do
comportamento e/ou pensamento, e nem sintomas negativos marcantes. Ocorre em pessoas
com mais idade (acima de 40 anos) e tem um curso crônico e estável (DALGALARRONDO,
2019).

1.3 - ESQUIZOFRENIA

Segundo Dalgalarrondo (2019), a principal forma de psicose é a esquizofrenia, que na


CID 10 (OMS, 1993) se divide em vários tipos como a Catatônica, Hebefrênica, Paranoide,
simples. Estas modalidades são contempladas na CID 10 (OMS, 1993), mas foram abandonadas
tanto no DSM-5, quanto na CID 11 (DALGALARRONDO, 2019), por não serem úteis tanto para
a evolução do quadro quanto para tratamento, além de não serem utilizados para pesquisa.
No DSM-5 (APA, 2014) e na CID 11 (DALGALARRONDO, 2019), não há subdivisões
dentro do Transtorno esquizofrênico. Incluem a Esquizofrenia, discutida de um modo geral e a
Catatonia, com características bem especificadas, no sentido dos sintomas apresentados,
exclusão de outros quadros clínicos e tempo de duração dos sintomas.
No DSM-5 (APA, 2014), para o diagnóstico de esquizofrenia devem estar presentes, por
pelo menos um mês, dois ou mais dos cinco sintomas psicóticos, já mencionados acima.
Deve haver também prejuízos sociais, no trabalho e no estudo, tanto no sentido de
perdas de habilidades interpessoais, quanto produtivas. Também deve haver a persistência de
sinais contínuos de perturbação, por pelo menos seis meses.
Os três últimos critérios diagnósticos se referem a diferenciação que deve ser feita,
refutando esta hipótese diagnóstica, se os sintomas podem ser atribuídos ao abuso de drogas e
medicamento; se há um diagnóstico de transtorno esquizoafetivo, depressivo ou bipolar com
características psicóticas, ou se há um histórico de Transtorno do Espectro Autista ou de
comunicação, iniciado na infância, quando se deve adicionar o diagnóstico de esquizofrenia
apenas se houve delírios e alucinações, além dos demais sintomas exigidos para o diagnóstico.

A seguir, veremos os principais grupos de sintomas da esquizofrenia, segundo


(DALGARRONDO, 2019, CID 11, 2019, APA, 2014):

1 – Sintomas Negativos:
• Perda de certas funções psíquicas (vontade, pensamento, linguagem),
• Empobrecimento global da vida social, afetiva, cognitiva,
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• Distanciamento, aplainamento afetivo ou afeto embotado


• Retração social (apatia, abulia, redução do “drive”, restrição de interesses),
• Alogia ou empobrecimento da linguagem e pensamento,
• Anedonia (diminuição da vontade e capacidade de sentir prazer),

Observar se os sintomas apresentados são primários (decorrentes de forma intrínseca da


própria esquizofrenia) ou secundários (decorrentes de efeitos colaterais de medicamentos
antipsicóticos, de depressão ou privação e isolamento social).

2-Sintomas Positivos:
• Alucinações,
• Ideias delirantes (delírios),
• Distorção da realidade,
Ampliando-se mais os sintomas característicos, para uma avaliação mais robusta:
• Percepção delirante,
• Alucinações auditiva,
• Eco do pensamento,
• Difusão, divulgação ou publicação de pensamentos,
• Roubo de pensamento,
• Distúrbios da vivência do eu.

3 – Sintomas Psicomotores e Catatonia

Não é incomum pacientes com esquizofrenia apresentarem lentificação e


empobrecimento psicomotor com restrição do repertório da esfera gestual e motora.
Alterações psicomotoras também são verificadas na forma de estereotipias de
movimentos (atos, gestos, atitudes mais complexos que os tiques, repetidos de forma mecânica,
sem finalidades), maneirismos (gestos complexos, repetidos, que parecem ter um objetivo e
significado para o indivíduo, mas que são percebidos pelo observador como algo excessivo,
excêntrico e muito bizarro) e posturas bizarras. Alguns pacientes fazem caretas (que não se sabe
por que), vestem roupas e usam adornos bizarros.
A síndrome catatônica ou catatonia é a manifestação psicomotora mais marcante na
esquizofrenia. Na catatonia, embora os pacientes apresentem o nível de consciência preservado,
podem revelar sintomas de estupor (diminuição marcante até ausência de atividade psicomotora,
com retenção da consciência, mutismo e negativismo; o paciente fica no leito, parado, sem fazer
nada, sem responder a solicitações, sem se alimentar e às vezes sem sair para urinar ou
defecar).
Também pertencem à catatonia a flexibilidade cerácea, ou catalepsia (o paciente fica na
posição que o colocam, mesmo em posições dos membros contra a gravidade), a ecolalia (repetir
mecanicamente palavras do interlocutor) e/ou a ecopraxia (repetir mecanicamente atos dos
outros). Um grupo menor de pacientes em catatonia apresenta, alternadamente com a
lentificação e o estupor, momentos de muita agitação psicomotora, às vezes com agressividade
impulsiva, aparentemente imotivada (chamada de “excitação catatônica” ou “furor catatônico”).
Cabe salientar que, na CID-11, a catatonia é também considerada uma síndrome psicopatológica
autônoma, situada na “vizinhança” da esquizofrenia.

1.4 – DESORDEM SCHIZOTYPAL

Desordem Schizotypal é caracterizada por um padrão persistente (ie, característica do


funcionamento da pessoa durante um período de pelo menos vários anos) de excentricidades
no comportamento, aparência e discurso, acompanhado por distorções cognitivas e perceptivas,
crenças incomuns e desconforto com- e muitas vezes reduzida capacidade de for- relações
interpessoais. Os sintomas podem incluir constrição ou inadequados afetam e anedonia
(esquizotipia negativo). ideias paranóide, ideias de referência, ou outros sintomas psicóticos,
incluindo alucinações em qualquer modalidade, pode ocorrer (esquizotipia positivo), mas não
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são de intensidade ou duração suficiente para satisfazer os requisitos de diagnóstico da


esquizofrenia, desordem esquizoafectiva, perturbação delirante ou. Os sintomas causam
sofrimento ou prejuízo no pessoal, familiar, social, educacional.

1.5 TRANSTORNO ESQUIZOAFETIVO

O transtorno esquizoafetivo é uma desordem episódica em que o diagnóstico requisitos


de esquizofrenia e um episódio maníaco-depressiva, misto, ou moderada ou severa são
satisfeitas dentro do mesmo episódio de doença, seja simultaneamente ou dentro de poucos
dias um do outro. sintomas proeminentes de esquizofrenia (por exemplo, delírios, alucinações,
desorganização na forma de pensamento, experiências de influência, passividade e controle)
são acompanhados por sintomas típicos de um episódio depressivo (por exemplo, humor
deprimido, perda de interesse, energia reduzida), um episódio maníaco (por exemplo, humor
elevado, aumentar a qualidade e velocidade da actividade física e mental) ou um episódio misto.
perturbações psicomotoras, incluindo catatonia, podem estar presentes. Os sintomas devem ter
persistido por pelo menos um mês. Os sintomas não são uma manifestação de outra condição
de saúde (por exemplo, um tumor cerebral) e não são, devido ao efeito de uma substância ou de
medicação no sistema nervoso central (por exemplo, corticosterdes), incluindo a retirada (por
exemplo, retirada de álcool).

1.6 – CATATONIA (TRANSTORNO PSICÓTICO)

Catatonia é uma perturbação marcada no controle voluntário dos movimentos


caracterizado por vários dos seguintes procedimentos: extrema lentidão ou ausência de atividade
motora, mutismo, atividade motora proposital não relacionada a estímulos externos, suposição
e manutenção de posturas rígidas, anormais ou estranhos, resistência à instruções ou tentativas
de ser movida, ou conformidade automática com instruções. Catatonia pode ser diagnosticado
no contexto de certos transtornos mentais específicos, incluindo transtornos de humor,
esquizofrenia e transtorno do espectro do autismo. Catatonia também pode ser causada por
perturbações ou doenças classificadas noutro local.

Caso Clínico

Cada vez mais estranho

Gregory Baker era um jovem afro americano de 20 anos levado ao pronto-socorro pela
polícia do campus universitário de onde havia sido suspenso vários meses antes. A polícia foi
chamada por um professor, o qual relatou que o Sr. Baker havido entrado na sala de aula gritando
“Eu sou o Coringa, estou procurando o Batman”. Quando o Sr. Baker recusou se retirar do local,
o professor chamou os seguranças.
Embora o Sr. Baker tivesse um bom desempenho escolar na adolescência, seu
comportamento ficou cada vez mais estranho no ano anterior. Ele parou de encontrar os amigos
e passava a maior parte do tempo deitado na cama, olhando para o teto. Ele vivia com vários
familiares, mas raramente falava com eles. Foi suspenso da faculdade por faltas. Sua irmã
afirmou que o viu várias vezes murmurando baixinho para si mesmo e percebeu que às vezes,
à noite, ele se postava no telhado da casa e mexia os braços como se estivesse “conduzindo
uma orquestra”. Ele negou ter a intenção de pular do telhado ou de ter pensamentos de
autoagressão, mas afirmou que se sentia livre e em sintonia com a música quando estava no
telhado. Embora seu pai e irmã tentassem encorajá-lo a fazer uma consulta com alguém no
departamento de saúde da universidade, o Sr. Baker nunca havia se consultado com um
psiquiatra, nem sofrido internação hospitalar anteriormente.
Durante os meses que antecederam o incidente, o Sr. Baker ficou cada vez mais
obcecado por uma amiga, Anne, que vivia na mesma rua. Embora ele insistia afirmar para a
família que estavam noivos, Anne informou à irmã do Sr. Baker que mal haviam conversado e
que decididamente não estavam namorando. A irmã do Sr. Baker também relatou que ele havia
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escrito várias cartas para Anne, mas nunca as havia enviado, em vez disso, elas simplesmente
se empilhavam em sua escrivaninha.
Seus familiares afirmaram que, pelo que sabiam, ele nunca havia utilizando substâncias
ilícitas nem álcool, e seu exame toxicológico resultou negativo. Ao ser perguntado sobre o uso
de drogas, o Sr. Baker parece zangado e não respondeu.
Durante o exame no pronto-socorro, o Sr. Baker aparentava ter bons cuidados pessoais
de higiene e, de modo geral, não foi cooperativo. Parecia contido, resguardado, desatento e
preocupado. Zangou-se quando a equipe do pronto-socorro levou o jantar a ele. Insistiu em voz
alta que toda a comida do hospital estava envenenada e que só iria beber um tipo específico de
água engarrafada. Percebeu-se que ele tinha delírios paranoides, românticos e de
grandiosidade. Ele parecia estar internamente preocupado, embora negasse alucinações. O Sr.
Baker relatou-se sentir-se mal mas negou depressão e não apresentava perturbações do sono
nem de apetite. Estava orientado e se expressava bem oralmente, mas se recusou a fazer testes
cognitivos e formais. Seu insights e julgamentos forma considerados ruins.
A avó de Sr. Baker, morrera internada em um hospital psiquiátrico público, onde viveu
por 30 anos.
Por fim, o Sr. Baker concordou em ser internado na unidade psiquiátrica, afirmando: “Não
me importo de ficar aqui. Provavelmente, Anne já esteja aqui, então posso passar meu tempo
com ela”.

(Verificar instruções para a análise de caso clínico).

Indicação de Filme – A visita

2 – TRANSTORNO DE ANSIEDADE

Neste item, serão abordados os transtornos mentais nos quais sintomas ansiosos
configuram formas “puras” ou “quase puras” de transtornos de ansiedade (transtorno de
ansiedade generalizada [TAG] e transtorno de pânico) ou aqueles nos quais a ansiedade tem
importância central ou muito relevante (fobias, ansiedade social, estresse pós-traumático,
quadros dissociativos e conversivos, quadros hipocondríacos e de somatização e transtorno
obsessivo-compulsivo [TOC]).
Vejamos os códigos diagnósticos nos manuais:

CID 10 CID 11 DSM 5


F40-48 Transtornos 6B0 – Ansiedade ou
Neuróticos somados ao distúrbios relacionados ao
estresse e somatoformes medo
F40 – Transtornos fóbico- 6B00 – 6B0Z Ansiedade Transtorno de ansiedade
ansiosos. generalizada, pânico,
agorafobia, fobia específica, Agorafobia
F40.0 Agorafobia transtorno de ansiedade
social, de separação, Transtorno de ansiedade
F40.1 Fobias sociais mutismo seletivo, social

F40.2 Fobias específicas 6B21 a 6B22Z Fobia específica


despersonalização,
desrealização, conversivo,
F41 – Outros transtornos não especificado. Transtorno de pânico
ansiosos
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F41.0 - Transtorno de pânico 6B23 – Hipocondria e Transtorno de ansiedade
subtipos generalizada
F41.1 – Transtorno de
ansiedade generalizado 6B40 a 6B4Z – distúrbios
associados ao estresse e
subtipos
F42 – Transtorno obsessivo- 6B20 – 6B20Z Transtorno Transtorno obsessivo-
compulsivo obsessivo-compulsivo, compulsivo e relacionados
transtornos obsessivo-
compulsivo subgrupos a
transtorno obsessivo-
compulsivo não especificado

6B60 – Transtornos
dissociativos e subtipos

2.1 – AS FOBIAS

Dentro dos transtornos de ansiedade há um destaque para a sintomatologia fóbica. Na


psicopatologia descritiva (DALGALARRONDO, 2019, p.368), pode-se definir as fobias como “[...]
medos intensos e irracionais, desproporcionais, desencadeados por situações, objetos e animais
que objetivamente não oferecem ao indivíduo um perigo real e proporcional à intensidade de tal
medo”.
Em todos os transtornos deste tipo, a ansiedade deve ser evocada por certas situações
ou objetos (externos ao indivíduo), definidos e que não sejam perigosos, sendo que têm como
consequência o pavor ou a evitação do objeto. Pode envolver uma ansiedade antecipatória, que
diz respeito à possibilidade do indivíduo em entrar em contato com a situação (OMS, 1993).
Sendo o medo definido como “... resposta emocional à ameaça iminente real ou
percebida [...]” (APA, 2014, 189) e a ansiedade como uma “[...] antecipação de ameaça futura.”
(APA, 2014, 189), os transtornos de ansiedade incluem estes dois estados, manifestados de
forma excessiva e de maneira sobreposta um ao outro. Além disso, os comportamentos de
cautela e de esquiva são comuns, o que pode minimizar a intensidade do medo e da ansiedade
(APA, 2014).
As fobias mais importantes são, segundo Dalgalarrondo (2019): a fobia simples ou
específica, ou isolada, a agorafobia e a fobia social.
Para todas as fobias citadas acima, deve-se considerar, segundo o DSM-5:
- A intensidade do medo ou ansiedade diante do objeto ou situação;
- Se há resposta imediata de medo ou ansiedade diante do objeto ou situação;
- Se o objeto ou situação fóbica é evitado ou suportado com intensa ansiedade ou sofrimento;
- O quanto o medo ou ansiedade é desproporcional à ameaça real, imposta pela situação ou
relacionada ao contexto cultural;
- A persistência do medo, ansiedade ou esquiva, que geralmente devem ter a duração mínima
de seis meses;
- Se os sintomas de medo, ansiedade ou esquiva não é mais bem explicado por outros
transtornos;
- O prejuízo que o medo, ansiedade ou esquiva pode provocar no funcionamento, social,
profissional ou de outras áreas importantes da vida do indivíduo (APA, 2014).
Fobia específica: medo intenso, desproporcional e irracional de objetos ou animais
simples como baratas, ratos, sangue, vidro, avião, altura, etc, sendo que a exposição ao objeto
fóbico pode gerar uma crise de ansiedade (DALGALARRONDO, 2019).
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Segundo a CID 10 (OMS, 1993), devem ser provocadas por situações bem delimitadas
e específicas, muito embora, o DSM 5 (APA, 2014) saliente que a maioria dos indivíduos com
fobia específica, apresente medo de mais de um objeto.
Agorafobia: Medo de aglomerado de pessoas em espaços amplos ou em que haja
dificuldade de escapar ou de ter acesso a algum auxílio, caso necessite. Tais indivíduos têm
crises de medo e angústia, se estão fora de casa ou em local com muitas pessoas. Há uma
tendência a evitar essas situações (DALGALARRONDO, 2019); o DSM 5 (APA, 2014) também
sugere presença de medo ou ansiedade frente a duas ou mais de cinco situações, sendo elas:
permanecer em espaço aberto, em algum tipo de transporte público, em locais fechados, filas ou
multidões e sair de casa sozinho.
Fobia social: medo intenso e persistente de situações sociais que envolvam a pessoa
a expor-se ao contato social, precisar demonstrar desempenho ou estar exposto a uma situação
de cobrança. O medo à exposição é mais forte com pessoas estranhas e de maior autoridade.
O indivíduo tende a lidar com tais situações reconhecendo o caráter absurdo dos seus medos
(DALGALARRONDO, 2019). O DSM 5 (APA, 2014) chama a atenção para um dos critérios para
levantamento desta hipótese diagnóstica que dizem respeito ao temor do indivíduo em
demonstrar os sintomas de ansiedade, pois acreditam que serão avaliados de forma negativa
pelo outro: como algo humilhante, constrangedor, ofensivo ou provocador de rejeição.

2.2 - Compreensão da Fobia por outras Abordagens Psicológicas

A compreensão psicodinâmica das fobias, segundo Nemiah (1981) apud Gabbard (1998,
2016), de um modo geral, está relacionada a pensamentos sexuais ou agressivos proibidos, que
podem levar a punição; surgem do inconsciente e ativam a angústia sinal, levando ao
desenvolvimento dos mecanismos de recalcamento, deslocamento e evitação. Por exemplo, a
pessoa que tem medo dos seus desejos sexuais (namorar alguém), porque acha que pode ser
punida por isso, pode ficar angustiada e manter a ideia ligada a este desejo/ medo no
inconsciente (recalcamento) e transferir este medo/ desejo para outras situações parecidas
(bares, e locais onde possa encontrar um namorado) – (deslocamento), passando a manter
distância desses lugares (evitação). Segundo Gabbard (1992), apud Gabbard (1998, 2016), na
fobia social estão presentes certos relacionamentos objetais característicos. São crianças que
têm a representação dos cuidadores, como pessoas que os deixam com vergonha, criticam,
ridicularizam, humilham e abandonam.Estas introjeções são estabelecidas precocemente e
depois projetadas em pessoas do ambiente que devem ser evitadas. Parece haver para isso
uma predisposição genética. Porém, à medida que os cuidadores podem ser sensíveis aos
medos da criança, estas introjeções podem ser mais benignas e menos ameaçadoras.
Gabbard (2016), como autor vinculado a abordagem psicodinâmica, focaliza em sua obra mais
a fobia social, justificando que as fobias específicas respondem bem a outros tipos de
intervenções como as exposições à situação fóbica, como a dessensibilização sistemática,
proposta pela abordagem comportamental. Ressalta ainda, que as agorafobias também podem
se beneficiar das intervenções psicodinâmicas.
A ansiedade, segundo GABBARD (2016) pode estar vinculada a um medo consciente e
aceitável, mas que disfarça uma preocupação mais profunda e, portanto, menos aceitável. Por
isso, o indivíduo pode apresentar-se ansioso, sem ter uma pista da origem desta ansiedade.
A compreensão cognitivista – comportamental supõe que na fobia (HOLMES, 2001, p.101-5),
uma resposta de medo foi equiparada a um estímulo neutro e, em consequência deste
condicionamento, o estímulo que era neutro, agora passa a provocar o medo (condicionamento
clássico). Por exemplo, um indivíduo que se mostra assustado por qualquer motivo, quando
estiver perto de um elevador (estímulo neutro), pode sempre se sentir assustado em situações
relacionadas a um elevador, porque associou o estar assustado a este estímulo. Também,
devido aos processos de generalização, pode passar a ter medo de estímulos semelhantes ao
original. Usando o mesmo exemplo do elevador, o indivíduo pode, pelo processo de
generalização, temer todos os lugares pequenos e fechados.

Outra forma de explicar a fobia é por meio do condicionamento clássico vicário , já que nem
sempre o indivíduo com fobia teve contato direto com o estímulo que a provoca. Supõe-se então
que o indivíduo pode desenvolver um medo por ter ouvido falar de uma experiência infeliz, e isso
ser suficiente para equiparar o medo ao estímulo (HOLMES, 2001).
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As fobias também podem ser compreendidas pelos comportamentos de evitação que


são explicados pelos processos de condicionamento operante. No condicionamento operante
tem-se a seguinte explicação: Como a ansiedade é desagradável, tenta-se, sempre que possível,
evita-la ou reduzi-la, Se é feito algo eficaz para reduzi-la, por exemplo, fugir da situação que
provoca a ansiedade, sente- se melhor, logo, “sentir-se melhor” é uma gratificação para usar a
resposta. Como as respostas gratificadas tendem a ser usadas novamente, da próxima vez que
houver ansiedade, há uma tendência a utilizar de novo a mesma resposta no intuito de reduzi-la
(HOLMES, 2001).

Uma das explicações da abordagem cognitivista para as fobias e os transtornos de


ansiedade em geral, segundo Holmes (2001), é que tais indivíduos apresentam problemas em
processar informações relacionadas à ameaça. Assim, indivíduos podem apresentar tais
transtornos se:
• Seletivamente prestam atenção às ameaças ao seu redor (atenção seletiva);
• Seletivamente recordam as ameaças passadas (memória seletiva);
• Interpretam mal as situações neutras como ameaçadoras;
• Erroneamente esperam que algo ruim aconteça (esperam sempre que as situações
sejam ameaçadoras).

As explicações humanistas existenciais (HOLMES, 2001) para os transtornos ansiosos, de


uma maneira geral, centram-se nas origens da ansiedade. Para os humanistas, a ansiedade
surge da discrepância entre o eu atual (nível atual de funcionamento) e o eu – ideal (nível mais
elevado de funcionamento que leva à auto realização), impedindo a auto realização. A pessoa
fica estacionada em um ponto insatisfatório do desenvolvimento permanecendo ansiosa.

Já os teóricos existencialistas, segundo o mesmo autor, acreditam que a ansiedade esteja


relacionada à responsabilidade da liberdade de realizar escolhas. Permanecendo ligado às
escolhas e suas implicações, o indivíduo pode ficar constantemente ansioso. Assim, enquanto
os teóricos humanistas acreditam que a ansiedade se origina do fracasso em alcançar a auto
realização, os teóricos existencialistas acham que ela é decorrente dos problemas e das
responsabilidades implicadas em atingi-la.

2.3 – TRANSTORNO DE PÂNICO

É possível definir as crises de pânico, dentro da psicopatologia descritiva


(DALGALARRONDO, 2019) como intensas crises de ansiedade associadas a sintomas físicos
como taquicardia, sudorese, tremores, entre outros. Na crise, o paciente pode experimentar
diversos graus de despersonalização: sensação de cabeça leve, corpo estranho, sentimento de
perda de controle. Também experimenta sentimento de desrealização: de que o ambiente está
estranho, não familiar. Geralmente, o indivíduo tem medo de morrer ou enlouquecer. As crises
são abruptas e rápidas (geralmente chegam ao pico em cinco a 10 minutos e duram de meia a
uma hora) e podem ser desencadeadas por: aglomerados humanos, túneis, situações de
ameaça, etc (DALGALARRONDO, 2019).
É comum que os pacientes com este tipo de transtorno apresentem também agorafobia.
Pode ser definida “transtorno de pânico” quando as crises são recorrentes, com desenvolvimento
de medo de ter novas crises, de perder o controle e de enlouquecer (DALGALARRONDO, 2019).
Segundo o DSM-5 (APA, 2014), os critérios diagnósticos dizem respeito a:
- Ataques recorrentes (repetitivos) e inesperados, que pode partir de um estado calmo ou
ansioso; (APA, 2014);
- Ocorrência de pelo menos quatro de 13 sintomas físicos e cognitivos especificados no DSM-5
(APA, 2014, p.208). Tais sintomas relacionam-se também àqueles mencionados por
Dalgalarrondo (2019), no início deste subcapítulo, além de sensação de falta de ar,
formigamento, sufocamento, asfixia, náusea, dor ou desconforto torácico e abdominal, calafrios
e ondas de calor.
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- Pelo menos um ataque foi seguido de uma ou ambas as seguintes características: apreensão
ou preocupação acerca de ataques adicionais ou sobre suas consequências (enlouquecer, ter
ataque cardíaco); mudanças comportamentais, a fim de evitar ataques de pânico;
- Outros dois critérios é que os ataques não devem ser consequência do uso de substâncias
(drogas ou medicamentos) ou outra condição médica; e também não deve ser mais bem
explicada por outro transtorno mental.

2.4 – Compreensão do Pânico por outras Abordagens Psicológicas

Na compreensão psicodinâmica do transtorno de pânico (GABBARD, 1998, 2016) pode-


se dizer que os fatores neurobiológicos envolvidos dizem respeito mais à patogênese do que à
etiologia. Pesquisas comprovam que a etiologia deste transtorno pode envolver um significado
inconsciente dos fatos ocorridos enquanto a patogenia envolve sintomas físicos desencadeados
pela reação psicológica ao evento. Por exemplo, pode ocorrer alguma situação / fato que
provoque ansiedade e, em decorrência disso, a pessoa passa a ter tais sintomas. Busch et.al.
(1991), apud Gabbard (1998) ressaltam que um evento estressante externo pode ou não levar
ao pânico, dependendo do significado psicológico que tenha para o indivíduo envolvido na
situação.
Um grande número de pesquisas inclui que as pessoas com transtorno de pânico podem
ter uma maior incidência de eventos estressantes na vida, principalmente aqueles que envolvem
angústia de separação, como as situações de perda que antecedem o aparecimento dos
sintomas; ou então, que o indivíduo possa ter sentido um estresse maior em relação aos eventos
ocorridos em sua vida no período anterior à doença. (GABBARD, 1998, 2016). Uma dessas
pesquisas, desenvolvidas por Milrod e cols (2004), apud Gabbard (2016) constatou que o pânico
pode ser resultante de um luto complicado, decorrente de uma perda interpessoal. Avaliando 51
pacientes, constaram que 47% deles, apresentaram os sintomas em até seis semanas após uma
significativa perda interpessoal.
Há pesquisas que sugerem que indivíduos com transtorno de pânico apresentam
desenvolvimento insuficiente da constância objetal. Ele não pode fazer uso de uma imagem
interna dos seus terapeutas e até mesmo das pessoas de seu relacionamento capaz de aliviar
sua ansiedade. Gabbard (1998) relata que tais pacientes podem entrar em pânico mesmo em
tratamento, quando os terapeutas saem de férias, ou nos finais de semana, desencadeados por
medo de perder o terapeuta.

A compreensão cognitivista – comportamental (HOLMES, 2001) ressalta que os ataques


de pânico podem ser explicados tanto pela interpretação errônea de situações neutras como
ameaçadoras, como pela expectativa errônea em relação a uma determinada situação, ou seja:
primeiro o indivíduo pode mostrar sinais menores de ansiedade ou estimulação; logo, esses
sinais são interpretados erroneamente como sinais de uma ansiedade maior que está por vir; o
indivíduo torna-se então mais ansioso em antecipação a esta ansiedade mais intensa que ele
pensa que está por vir; assim, o nível de ansiedade vai se movendo em espiral para fora de
controle até chegar ao pânico.

2.5 -TRANSTONO DE ANSIEDADE GENERALIZADA

Segundo a CID 11 (2019), trata-se de um quadro caracterizado por ansiedade


persistente, mas flutuante, com um estado de apreensão constante (preocupação com
desgraças futuras, por exemplo), que acompanha uma tensão motora (inquietação, tremores,
incapacidade de relaxar) e sensação de cabeça leve, tontura, sudorese e boca seca.
O DSM-5 (APA, 2014) especifica que o diagnóstico deve observar a presença de três ou
mais dos seguintes sintomas, que devem estar presentes na maioria dos dias dos últimos seis
meses:
1. Inquietação ou sensação de estar com os nervos à flor da pele. 2. Fatigabilidade.3. Dificuldade
em concentrar-se ou sensação de branco na mente.4. Irritabilidade. 5. Tensão muscular. 6.
Perturbação do sono (dificuldade de conciliar ou manter o sono, ou sono insatisfatório ou
inquieto) (p.222).
Além disso, ainda sugere mais cinco critérios:
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- Ansiedade e preocupação excessivas ocorrendo na maioria dos dias, por pelo menos seis
meses;
- O indivíduo deve considerar difícil controlar suas preocupações; - Os sintomas devem causar
sofrimento e prejuízo social;
- Os sintomas não devem ser mais bem explicados por outros transtornos e nem devem ser
consequência do uso de substâncias como drogas ou medicamentos.
Gabbard (2016) destaca que os estudos apontam que entre os transtornos de ansiedade, o TAG
é o que apresenta taxas de comorbidade mais elevadas com outros transtornos, inclusive de
ansiedade.

2.6 – TRASNTORNO DE ANSIEDADE DE SEPARAÇÃO

Sobretudo em crianças, pode haver medo e ansiedade importantes relacionados a


separar-se de pessoas significativas, percebidas como protetoras (mães, avós, pais, entre
outras). Tipicamente, a criança tem muito medo e ansiedade de, para ir à escola, separar-se da
mãe ou de outros membros da família. Chora muito, fica muito ansiosa e amedrontada, tem medo
de que algo muito ruim ocorra.

2.7 – TRANSTORNOS CONVERSIVOS E DISSOCIATIVOS

Na conversão, ocorrem tipicamente alterações das funções sensoriais ou das funções


motoras, que lembram sintomas neurológicos, mas que são, na realidade, claramente distintos
das condições neurológicas. Há, assim, a conversão de um conflito psíquico inconsciente
(desejos, temores inconscientes e inaceitáveis para o indivíduo) para o corpo; conversão aqui
significa, portanto, “salto” do plano psíquico para o plano de sintomas corporais.
Em relação às funções sensoriais, pode haver anestesias de partes do corpo, perda da
visão, do olfato ou da audição. Em relação às funções motoras, pode haver fraqueza ou
paralisias, contraturas, movimentos anormais, perturbações do andar e no ficar de pé (astasia-
abasia) e rouquidão psicogênicas ou perda total da voz (afonia conversiva).
Na dissociação, ocorre a perturbação, a separação e o isolamento de aspectos da mente
e da personalidade. Aqui, dissociação significa “separação”, “rechaço”, de uma parte da mente
inaceitável para o indivíduo.
A dissociação pode ocorrer por meio de crises em que se perde parcialmente a
consciência (a pessoa se “desliga” do ambiente e de si mesma, com desmaio parcial e abalos
musculares), ou em episódios em que parte da memória é momentaneamente apagada, como a
memória retrógrada de eventos traumáticos do passado (Micale, 1995). Pensamentos, desejos
e experiências vividas, conflitantes com os valores do paciente, são isolados e suprimidos do
campo da consciência e da memória.
A CID-11 coloca todos os transtornos conversivos e dissociativos em um capítulo único,
denominado “transtornos dissociativos”.

2.8 – TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO

Segundo a psicopatologia descritiva, o TOC (Dalgalarrondo, 2019) caracteriza- se por


ideias, fantasis e imagens obsessivas e por atos, rituais ou comportamento
compulsivos. Tais situações são vividas como algo que os obriga e os submete. Divide-se em
dois subtipos:
Aquele no qual predominam as ideias obsessivas ou ruminações: são ideias,
pensamentos, fantasias ou imagens persistentes, que “invadem” a consciência e são vivenciados
com muita angústia; Há um reconhecimento do caráter irracional e absurdo de tais pensamentos,
assim como tentativas de neutraliza-los com outros atos, pensamentos e rituais
(DALGALARRONDO, 2019); segundo a CID 11 (2019), a angústia pode ser gerada porque os
pensamentos são violentos, obscenos ou percebidos como sem sentido, frente aos quais, o
indivíduo tenta resistir, sem sucesso.
Aquele no qual predominam os atos e comportamentos compulsivos: são
comportamentos e rituais repetitivos e atos mentais (repetir palavras e fazer contas mentalmente,
p.ex.), quase sempre em resposta a ideias obsessivas como p.ex. ter uma doença; Podem surgir
como forma de cumprir regras que precisam ser rigidamente seguidas, para afastar um desejo
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temível ou indesejável – ou seja, estão vinculados ao pensamento mágico
(DALGALARRONDO, 2019); esses atos, entretanto, não têm conexões realistas com o que
tentam neutralizar, ou são evidentemente excessivos (APA, 2014).
São frequentes as formas mistas. (DALGALARRONDO, 2019).

O DSM-5 (APA, 2014) sugere que para se levantar esta hipótese diagnóstica, se tenha como
base:
1. Presença de obsessão,compulsão ou ambas;
2. As obsessões ou compulsões devem tomar tempo, ou causam sofrimento significativo,
ou geram prejuízo social;
3. Os sintomas não devem ser mais bem explicados por outros transtornos e nem devem
ser consequência do uso de substâncias como drogas ou medicamentos.
O DSM-5 (APA, 2014) também sugere que se especifique se o transtorno vem acompanhado
de: a) insight bom ou razoável; b) insight pobre ou ausente; c) com
insight ausente e crenças delirantes e também se está ou esteve relacionado a um transtorno de
tique. Vale salientar que no DSM-5 (APA, 2014) estão dentro do grupo do TOC, como transtornos
relacionados os: transtorno de escoriação, acumulação e tricotilomania.

2.7 – Compreensão do TOC por outras abordagens Psicológicas

O consenso do pensamento atual é que o TOC envolve uma predisposição biológica que
interage com fatores psicológicos e ambientais (GABBARD, 1998).
Partindo de uma compreensão psicodinâmica (GABBARD, 1998), Nemiah (1988), apud Gabbard
(1998), resume que frente a um estímulo que desperta a libido edípica provocadora de
ansiedade, o indivíduo obsessivo compulsivo afasta-se da posição edípica e regride para a fase
anal do desenvolvimento psicossexual. Tal regressão se deve a fixações nesta fase do
desenvolvimento, durante o início da infância. Além disso, outro motivo da regressão é a discreta
fusão entre impulsos sexuais e agressivos, característicos da fase edípica. No indivíduo
obsessivos compulsivos tais impulsos não estão fundidos, provocando uma intensa
ambivalência. A simultânea presença de sentimentos amorosos e de ódio deixa a pessoa em
dúvida sobre o curso adequado da ação e assim paralisado pela indecisão. Para lidar com
impulsos sexuais e agressivos primitivos que devem ser contidos e controlados, tais pessoas
utilizam como defesas: o isolamento, formação reativa, intelectualização e anulação.
O TOC pode acompanhar qualquer estrutura de personalidade ou organização, por isso
merece uma avaliação psicodinâmica cuidadosa. Além disso, muitos destes pacientes parecem
agarrar-se aos seus sintomas como forma de defesa a uma desintegração psicótica. Neste
sentido, tais sintomas parecem ser úteis para o equilíbrio psíquico (GABBARD, 1998).
A compreensão cognitivista – comportamental (HOLMES, 2001) do TOC é muito
parecida com a das fobias. Nesta perspectiva, este transtorno parece estar
relacionado aos comportamentos de evitação que são explicados pelos processos de
condicionamento operante, conforme explicado na página 15.

Outra explicação é que os indivíduos com este transtorno usam respostas irracionais para
combater aquilo que lhes deixam ansiosos. Estas respostas inapropriadas para combater/ reduzir
a ansiedade são operacionalmente condicionadas e dificilmente se extinguem, porque tem um
esquema de gratificação intermitente, que aumenta a resistência à extinção. Por exemplo, o
indivíduo que não pisa na linha da calçada, imaginando que algo ruim possa acontecer, tem tanto
um medo como uma estratégia para combate-lo, que são irracionais. Assim, se algumas vezes
o indivíduo não pisou na linha da calçada e nada aconteceu, ele se assegura que precisa usar
sempre esta resposta (HOLMES, 2001).

Caso Clínico

Medo Avassalador
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Paciente do sexo feminino, 28 anos, parda, solteira, natural e procedente de Brasília –


DF, estudante de nível superior, católica e heterossexual procurou atendimento ambulatorial de
clínica médica e após avaliação foi encaminhada para psiquiatria com queixa de piora da
ansiedade, tremor e coração batendo muito rápido há 2 dias.
Paciente refere piora da ansiedade e da insegurança há 2 dias, ao ter que participar de
um seminário na faculdade por ter que falar em público, com sintomas associados de sudorese
recorrente, principalmente nas regiões palmares, além de taquicardia, tremores, urgência
urinária, náusea, rubor, dificuldade para dormir, com duração de 4 horas por noite e dificuldade
para pegar no sono, e, por vezes, vômitos, apresentando piora em situações de estresse e
exposição social.
Dessa forma, relata fazer uso de atenolol 10mg sempre que precisa estar em público ou
quando sente muita ansiedade, geralmente apresentando melhora nos sintomas, porém não
sentiu melhora hoje, e por isso procurou o serviço de saúde. Diz sentir medo de ser julgada
negativamente ao se expor em diversas situações cotidianas, e dessa forma tenta ao máximo
evitá-las. Sabe que esse sentimento é excessivo e sem sentido, mas não consegue contê-lo e
isso afeta constantemente sua vida social e acadêmica e que já perdeu algumas oportunidades
devido à sua condição temerosa.
Pela história de vida, paciente se considera uma pessoa reservada, tímida e quieta,
sempre teve dificuldade de iniciar e manter uma conversa, principalmente com pessoas que
estão em posições sociais de autoridade (como professores, policiais e diretores) e por isso tem
poucos amigos e nunca namorou. Sempre que pode, evita lugares com aglomeração ou
situações que a façam ter contato com pessoas não familiares que possam trazer algum
constrangimento, vergonha ou humilhação pública como festa, reuniões, banheiros públicos e
restaurantes. Apresentava bom rendimento escolar. Conta que apresentou os primeiros sinais e
sintomas de ansiedade aos 11 anos quando precisou ser filmada, por seu pai (militar), para um
trabalho da escola, e que isso marcou seu medo de falar em público. Teve dificuldades em passar
no vestibular e no exame prático para tirar a carteira de motorista, por “sentir os olhares de
reprovação dos analisadores e dos fiscais”. Relatou já ter tido crise de pânico relacionada a um
evento ou situação social.
Não relatou doença clínica importante, mas diz já ter tido ataques de pânico na
adolescência. Não faz uso de medicação contínua. Faz uso de DIU Mirena. Nega etilismo,
tabagismo ou uso de drogas ilícitas. Baixa qualidade de sono com dificuldade para iniciar o sono.
Sedentária. Submetida à apendicectomia aos 16 anos, sem sequelas. Realiza 4 refeições ao dia,
dieta hipercalórica com moderada ingestão de proteínas, frutas e verduras. Ingere em média 2
litros de água por dia. Mora com os pais em uma casa de alvenaria com 5 cômodos. Pai com
histórico de depressão há 8 anos. Mãe rígida.
Ao exame físico, a paciente encontrava-se em bom estado geral, acianótica, anictérica,
hidratada, taquipneica (27 irp), hipertensa (140 x 90 mmHg) e taquicárdica (112 bpm).
Ao exame psíquico, aparência cuidada, porém inquieta, com dificuldade para se
expressar e com sinais de desregulação de sono. Orientada, cooperante, vigil, agitada,
pensamento acelerado, sem delírios aparentes. Memória imediata preservada, linguagem
preservada, sensopercepção aparentemente preservada, e consciência de morbidade presente.

(Verificar instruções para a análise de caso clínico).

Indicação de filme – TOC TOC (2017)


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3 – TRANSTORNOS DE HUMOR

CID 10 CID 11 DSM 5


F30 – F39 Transtornos de 6A6 Transtorno de humor Transtorno de Humor ou
Humor afetivos transtornos relacionados
F31.81 – Outros transtornos 6A60 – 6A60Z transtorno Transtorno bipolar tipo I
afetivos bipolares- bipolar bipolar tipo I e subtipos Transtorno bipolar tipo II
tipo II 6A61 – 6A61Z transtorno
bipolar tipo II e subtipos
F34 – Transtornos 6A62 – Transtorno Transtornos ciclotímicos
persistentes de humor ciclotímico a 6A6Z –
F34.0 – Ciclotímia transtornos relacionados
F32 – Episódios depressivos 6A70 – 6A70Z – transtornos Transtornos depressivos
depressivos episódio único a Transtorno depressivo maior
transtorno depressivo
episódio único não
especificado
6A71 – 6A71Z – transtornos
depressivos recorrentes a
transtorno depressivo
recorrente não especificado
F34.1 - Distimia 6A72 – 6A7Z transtornos Transtorno depressivo
distímicos a transtornos persisitente (distimia)
depressivos não
especificados
6A73 – Depressivo Misto e
Transtorno de Ansiedade
6A80 – 6A8Z episódios de
humor em transtornos de
humor a transtornos de
humor não -especificado

Segundo o quadro acima, observa-se que há algumas diferenciações nos modelos de


classificação propostos pela CID 11 (OMS, 2013) e DSM-5 (APA, 2104), no primeiro, têm-se
divisões bem específicas dos quadros depressivo, maníacos e no transtorno bipolar. Já no
segundo, há uma divisão entre depressão e o Transtorno bipolar, sendo o episódio maníaco,
tratado como uma fase do transtorno bipolar. Este capítulo destaca a depressão, ou os
transtornos depressivos de forma mais específica e aprofundada e comenta sobre os transtornos
bipolares e maníacos.

3.1 – TRANSTORNOS DEPRESSIVOS

Para a psicopatologia descritiva (DALGALARRONDO, 2019) o elemento central das


síndromes depressivas é o humor triste e o desânimo, que são mais intensos e duradouros, que
nas reações normais de tristeza, presente no decorrer da vida que coexiste com vários outros
sintomas (DEL PINO, 2003, apud DALGALARRONDO, 2019).

Os subtipos de síndromes e transtornos depressivos mais utilizados na prática clínica,


de acordo com a Classificação internacional de doenças e problemas relacionados à saúde (CID-
11) e o Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM-5), são:

1.Episódio de depressão e transtorno depressivo maior recorrente (CID-11 e DSM-5)

2.Transtorno depressivo persistente e transtorno distímico (CID-11 e DSM-5)


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3.Depressão atípica (DSM-5)

4.Depressão tipo melancólica ou endógena (CID-11 e DSM-5)

5.Depressão psicótica (CID-11 e DSM-5)

6.Estupor depressivo ou depressão catatônica (DSM-5)

7.Depressão ansiosa ou com sintomas ansiosos proeminentes (CID-11 e DSM-5) e


transtorno misto de depressão e ansiedade (CID-11)

8.Depressão unipolar ou depressão bipolar

9.Depressão como transtorno disfórico pré-menstrual (CID-11 e DSM-5)

10.Depressão mista (DSM-5)

11.Depressão secundária ou transtorno depressivo devido a condição médica (incluindo


aqui o transtorno depressivo induzido por substância ou medicamento) (CID-11 e DSM-5)

A) Transtorno depressivo maior

No DSM-5, para o diagnóstico de Transtorno depressivo maior devem ser observados, pelo
menos cinco destes critérios, presentes por pelo menos duas semanas. Segundo Dalgalarrondo
(2019) o DSM-5 traz: sintomas obrigatórios - humor deprimido ou perda de interesse ou prazer
na maior parte do dia, quase todos os dias. Mais quatro dos seguintes sintomas:
• Desânimo ou acentuada perda de interesse e prazer (anedonia);
• Redução ou aumento do apetite (redução ou ganho de peso de 5% em um mês;
• Sono: insônia ou hipersonia;
• Fadiga, perda de energia;
• Sentimentos de culpa e inutilidade, pessimismo;
• Baixa autoestima;
• Concentração prejudicada e dificuldade para pensar;
• Pensamentos recorrentes de morte ou suicídio;
• Retardo/agitação psicomotora.

A exemplo dos outros transtornos, os demais critérios, dizem respeito ao


sofrimento e prejuízo que os sintomas causam na vida social e ocupacional do indivíduo,
ao fato de os sintomas não serem mais bem explicados por outra condição médica ou
abuso de drogas ou medicamentos e a realização de uma diferenciação deste de outros
quadros clínicos.
A gravidade do quadro depressivo está relacionada ao número de sintomas dos
critérios, na sua gravidade e no grau de incapacidade funcional (APA, 2014). Segundo
o DSM-5 (APA, 2014), em um grau leve ocorrem poucos sintomas além dos necessários
para se fazer o diagnóstico, estes causam um sofrimento manejável e resultam em
pouco prejuízo social e ocupacional. No grave, o número de sintomas está além
daqueles necessários para se fazer o diagnóstico, o sofrimento não é manejável e o
funcionamento profissional e social são afetados acentuadamente. O nível moderado
encontra-se intermediário ao grau leve e grave (APA, 2014)
Também pode haver quadro depressivo com sintomas psicóticos, que merece
uma classificação específica, dentro do transtorno depressivo maior. Nessa situação
ocorrem associados aos sintomas depressivos, um ou mais sintomas psicóticos, como
delírio de ruína ou culpa, delírio hipocondríaco ou de negação de órgãos, alucinações
com conteúdo depressivo, como vozes que dizem que a pessoa não é digna ou de
punição merecida – a pessoa acredita que as coisas vão lhe acontecer, porque merece
(DALGALARRONDO, 2019).
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B) Transtorno depressivo persistente e Transtorno Distímico

Trata-se de uma depressão crônica de intensidade leve e duradoura. Alterna- se com


momentos de normalidade. Os sintomas devem estar presentes de forma ininterrupta por pelo
menos dois anos, segundo Dalgalarrondo (2019). O sintoma principal é o humor triste na maior
parte do dia, seguido de pelo menos dois dos seguintes sintomas: diminuição de autoestima;
fatigabilidade aumentada ou falta de energia; insônia ou hipersonia; apetite diminuído ou
aumentado; dificuldades de tomar decisões ou se concentrar; e sentimentos de desesperança.
Segundo o mesmo autor, é comum na distimia um mau humor crônico e certa irritabilidade.

C) Depressão tipo Melancólica ou endógena

Trata-se de um subtipo no qual predominam os sintomas classicamente endógenos. Nesse caso,


a pessoa deve apresentar: 1) perda de prazer ou incapacidade de sentir prazer (anedonia) em
todas ou quase todas as atividades ou 2) falta de reatividade a estímulos em geral prazerosos.
Além de um desses dois sintomas, deve apresentar pelo menos três dos seguintes sintomas:

•humor depressivo característico com prostração profunda, desespero, hiporreatividade geral;


•lentificação psicomotora, demora em responder às perguntas (aumento da latência entre
perguntas e respostas) ou agitação psicomotora;
•ideias ou sentimentos de culpa excessivos e/ou inadequados;
•perda do apetite e/ou de peso corporal;
•depressão pior pela manhã, que pode melhorar um pouco ao longo do dia.

3.2 – Compreensão do Transtorno Depressivo por outras Abordagens Psicológicas

Os fatores genéticos biológicos e neuroquímicos têm peso nos diversos quadros


depressivos, porém, do ponto de vista psicológico, a depressão está relacionada a experiências
de perda como: pessoas significativas, emprego, entre outras (DALGALARRONDO, 2019). Para
o mesmo autor, também é necessário diferenciar a depressão das reações intensas diante do
luto, o que para ele não é tarefa fácil.
Gabbard (2016) chama atenção para o fato de que no DSM-5 (APA, 2014) as situações
de luto não estão mais excluídas do diagnóstico de depressão maior. Isso pode ser justificado
por Kendler et al (2008) apud Gabbard (2016) que realizaram um
estudo comparativo entre pessoas, cuja depressão havia sido desencadeada por luto, e
depressões desencadeadas por outros fatores estressores e encontrou muito mais similaridades
do que diferenças. Do mesmo modo, os estudos de Stroebe et al (2005) apud Gabbard (2016)
com 60 viúvos e viúvas e 60 sujeitos casados mostraram que as pessoas enlutadas tem maior
chance de ter ideação suicida do que as que não estão em luto, o que justificaria uma atenção
clínica maior aos que se encontram em processo de luto. Reconhece-se que a depressão, à
exemplo de outros transtornos, é resultado de uma combinação de fatores ambientais (60%) e
genéticos (40%), segundo Nemeroff, (2003) apud Gabbard (2016).
Os estudos de Kendler e cols (1999) apud Gabbard (2016) encontraram relação entre os
inícios da depressão e a presença de fatores estressores que estavam relacionados à morte de
um parente próximo, agressão, conflitos conjugais graves e divórcio/ separação. Esses mesmos
autores também evidenciaram em seus estudos, que experiências precoces de separação,
abuso ou negligência podem gerar uma sensibilidade neurobiológica que resulta em uma
predisposição a responder com um quadro de depressão maior, quando expostos a estressores.
A partir da compreensão psicodinâmica (GABBARD, 1998, 2016), os estudos atuais
confirmam a ideia de Freud de que uma perda ocorrida precocemente pode levar o indivíduo a
desenvolver uma predisposição à depressão na fase adulta.
Hammen (1995) apud Gabbard (2016) chama atenção para o consenso entre os profissionais de
saúde de que o evento negativo ocorrido na vida do paciente depressivo necessariamente tem
relação não com a situação em si, mas com a interpretação do significado desta para o próprio
indivíduo, além da sua importância no contexto em que aconteceu.
Dentro da abordagem psicodinâmica, deu-se destaque à teoria kleiniana e à
compreensão de Bibring no que diz respeito à depressão.
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Sob o ponto de vista de Melanie Klein (1975), apud Gabbard (1998, 2016), as pessoas
depressivas nunca conseguiram elaborar o luto próprio da posição
depressiva (ver melancolia, nas obras da autora), que ocorre quando se tem a noção de objeto
total, bom e ruim ao mesmo tempo. O reconhecimento que o objeto atacado, tambémé amado,
porque provê ao indivíduo coisas boas, faz com que tenha que elaborar diversos sentimentos
que advém deste reconhecimento: o luto, o anseio pelo objeto bom sentido como perdido e
destruído e a culpa por ter perdido o objeto bom pela própria destrutividade. Assim, os indivíduos
deprimidos estão muito preocupados emterem destruído os objetos bons, ou amados dentro
deles mesmos, como resultado de sua própria voracidade e destrutividade. Eles se sentem então
perseguidos pelos objetos maus, ou odiados, ao mesmo tempo que anseiam os bons objetos
perdidos.
Bibring (1953) apud Gabbard (1998, 2016) entendia a depressão como surgindo da
tensão entre ideais e realidade. São três aspirações narcisistas investidas: ter valor e ser amado,
ser forte e superior, ser bom e amoroso. Entretanto, a consciência do ego de sua incapacidade
real ou imaginada, de estar à altura destes padrões, provoca a depressão. A pessoa sente-se
então desamparada e sem poder.

A explicação mais aplicada na compreensão cognitivista-comportamental (HOLMES, 2001) é


que a depressão se origina de baixos níveis de gratificação e altos níveis de punição, ou ambos.
Sendo assim, o indivíduo teria uma vida menos agradável, baixa auto estima, resultando em
depressão. Um comportamento sendo punido ou não gratificado gera uma propensão a não se
utiliza-lo novamente, resultando num baixo nível de atividade que também é encontrado na
depressão.

A abordagem cognitivista, segundo Holmes (2001), sugere duas explicações para a


depressão: A depressão ocorre por problemas no processamento das informações. Tais
indivíduos focalizam-se nos aspectos negativos da vida. Essas redes associativas podem ser
estabelecidas quando o indivíduo vivenciou algumas experiências relacionadas à depressão;
O sentimento de desamparo em relação ao controle dos resultados negativos da vida
conduz à depressão. Isso ocorre quando os indivíduos aprendem correta ou incorretamente que
não podem controlar os resultados negativos futuros.
Vale ressaltar que a diferença entre essas duas teorias cognitivistas é que na primeira o indivíduo
acha que ele é responsável pelo que ocorre em sua vida, e na segunda, acredita estar
desamparado para lidar com coisas negativas (HOLMES, 2001).

Em uma perspectiva humanista-existencial (HOLMES, 2001), a depressão pode ser


entendida como uma desistência do indivíduo em alcançar a auto-realização, decorrente de uma
distância muito grande e intransponível, entre o eu-real e o eu- ideal. Tal explicação é baseada
no pensamento humanista. O existencialismo, por sua vez, compreende a depressão como uma
interrupção do indivíduo em fazer escolhas e assumir responsabilidades. Logo, deixa de existir
como pessoa real, o que significa uma morte simbólica.

3.3 - Transtorno Bipolar

Para a psicopatologia descritiva (DALGALARRONDO, 2019), a base da síndrome


maníaca é a euforia, alegria patológica, a elação ou expansão do eu, grandiosidade e
irritabilidade, estes desproporcionais em relação às reações de alegria e entusiasmo do
indivíduo, frente a fatos da vida. Há também uma aceleração de todas as funções psíquicas. A
síndrome maníaca encontra-se, no DSM-5, especificada dentro do transtorno bipolar.
A hipomania é uma forma atenuada de episódio maníaco. A pessoa fica mais disposta
que o normal, fala muito, conta piadas, faz planos, não se ressente com os limites da vida. Nem
o indivíduo, nem o meio são seriamente prejudicados. É comum que a pessoa não procure ajuda
nesses casos (DALGALARRONDO, 2019);
No transtorno bipolar há episódios depressivos de leves a graves, com fases de
normalidade e mania ou hipomania (DALGALARRONDO, 2019). Precisa haver pelo menos dois
episódios repetidos nos quais o humor esteja alterado. Isto implica em ocasiões de elevação de
humor e aumento de atividade e energia (mania – duração média ao redor de quatro meses) e
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outro de rebaixamento de humor e diminuição da energia (depressão – duração mediana
ao redor de seis meses, raramente por mais de um ano).

A) Transtorno Bipolar I

Relaciona-se a episódios com sintomas depressivos, intercalados com fases de normalidade


e pelo menos uma fase de sintomas maníacos bem caracterizada (DALGALARRONDO,
2019).

B) Transtorno Bipolar II

Relaciona-se a episódios com sintomas depressivos, intercalados com fases de normalidade


e pelo menos uma fase de sintomas hipomaníacos bem caracterizada (DALGALARRONDO,
2019).

C) Ciclotímico

Trata-se de episódios leves de depressão e hipomania; devem durar no mínimo dois anos,
mas geralmente acompanham o indivíduo ao longo da sua vida. A pessoa permanece, aos
olhos de uma grande maioria, dentro da normalidade, muitas vezes nem passando por
tratamento médico (DALGALARRONDO, 2019).

3.4 – Compreensão da Bipolaridade e Sintomas Maníacos de acordo com outras


Abordagens Psicológicas

Para a compreensão psicodinâmica (GABBARD, 1998, 2016) da mania, à exemplo da


depressão, também serão utilizadas as explicações de Melanie Klein e Bibring.
Com base nas ideias de Melanie Klein, pode-se sugerir que a mania está diretamente
relacionada à depressão, porque surge a partir da mesma dificuldade de elaboração dos lutos
próprios da posição depressiva. Ao reconhecer o objeto como
total (bom e mau), o indivíduo percebe que atacou o objeto bom e que este não é nem totalmente
bom e nem totalmente mau. Isto implica em um sofrimento pelos objetos amados perdidos. Tal
dificuldade pode acionar defesas maníacas que servem para minimizar este sofrimento. As
defesas maníacas estão alicerçadas na onipotência (sentimento de poder), negação (da
dependência do objeto), desdém (desprezo pelo objeto) e idealização (tentativa de se sentir e de
sentir que o objeto é totalmente bom) (GABBARD, 1998, 2016).
O indivíduo pode expressar tais defesas como uma negação de agressividade ou
destrutividade em relação a outros, uma disposição eufórica contrária a sua real situação, uma
idealização de outros ou atitude de desprezo em relação às outras pessoas que serve para negar
a necessidade dos relacionamentos. Para Bibring (1953), apud Gabbard (1998), a elação
maníaca é uma reação compensatória à depressão, e também uma expressão do preenchimento
da fantasia das aspirações narcisistas do indivíduo (ter valor e ser amado, ser forte e superior, e
ser bom e amoroso).
Gabbard (2016) chama a atenção para a cisão ou descontinuidade presente no
transtorno bipolar, dada a dificuldade do paciente em reconhecer as fases de mania na qual pode
ter sido destrutivo, por isso essa dificuldade de reconhecimento desta situação.
Estudos confirmam que pessoas que tiveram uma perda parental precoce, sobretudo da mãe,
têm quatro vezes mais chance de desenvolver o transtorno bipolar (MORTENSEN, ET AL, 2003
apud GABBARD 2016)

Na compreensão cognitivista-comportamental não há explicações a respeito. No caso do


transtorno bipolar, as teorias nesta abordagem não se desenvolveram devido às fortes
indicações de que haja um componente orgânico neste transtorno e porque as drogas parecem
atuar com muito sucesso nestes casos (HOLMES, 2001).
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Caso Clínico

Ansiedade?

Victoria Owens, uma organizadora de eventos de 58 anos, marcou consulta com um


psiquiatra para ajuda-la com sua ansiedade. A Sra. Owens chegou à consulta bem vestida e um
pouco agitada. Falando em ritmo normal, explicou que seus sintomas depressivos haviam
começado há dois anos, quando deu início ao processo de divórcio de com seu marido. Ela
descreveu humor baixo, preocupação incapacitante com o futuro e má concentração. Esses
sintomas progrediram para anedonia, diminuição da energia, hipersonia com interrupção de
sono, ideação suicida passiva e aumento de apetite com desejo de ingesta de carboidratos. Ela
parou de ir ao trabalho e começou a passar a maior parte do dia na cama.
A Sra. Owens, inicialmente, buscou tratamento com um homeopata, o qual receitou
vários medicamentos que não fizeram efeito. Por fim, consultou seu médico internista, receitando
0,25 mg de alprazolam, três vezes ao dia, conforme necessário. Essa medicação reduziu a
preocupação, mas surtiu pouco efeito sobre seu humor. Seu médico então receitou, 50 mg de
sertralina por dia. Ao longo dos dois meses seguintes, o sono da Sra. Owens melhorou e os
pensamentos suicidas pararam. Contudo, ela ficou mais ansiosa, irritável, agitada e enérgica e
percebeu que seus pensamentos se moviam rapidamente. Negou impulsividade e sintomas
psicóticos.
A Sra. Owens tinha histórico antigo de sintomas depressivos semelhantes. Os primeiros
episódios ocorreram na época da faculdade, com duração de vários meses e não foi tratado.
Ao ser indagada de maneira específica, descreveu múltiplos períodos de sua vida, nos
quais havia apresentado humor moderadamente elevado, pensamentos rápidos e aumento de
energia. Aparentemente, muitas conquistas em sua vida haviam ocorrido nesses períodos. Por
exemplo, quando era uma jovem mãe, solteira, desempregada, ela concordou em realizar um
chá de panela para sua melhor amiga. Muniu-se de várias revistas sobre noivas e trabalhos
manuais, decidida a criar uma festa fabulosa com pouco dinheiro. Dedicou-se totalmente ao
projeto e aparentemente dispunha de energia e ideias sem fim. Essa festa foi um sucesso, o que
deu início à carreira da Sra. Owens como organizadora de festas. Ela escondia as oscilações de
humor de seus clientes e parentes, tirando vantagem de seus estados de humor elevado para
projetar uma imagem cheia de energia, mas depois se retraía, evitando trabalhar quando seu
humor estava baixo. Ela também se tornava mais irritável durante os episódios de energia
elevada, de modo que acreditava que o seu casamento havia começado e terminado devido à
tendência de “ficar emotiva”. Embora esses períodos pudessem durar diversas semanas, ela não
passava por alterações no sono, não se entregava a comportamentos de risco, não falava
rapidamente e tampouco tinha sentimentos de grandiosidade, de modo que não os encarava de
modo problemático.
A Sra. Owens também relatou que consumia álcool em demasia quando estava na faixa
dos 40 anos, mas hoje em dia raramente bebe. Negou tentativas de suicídio e internações
anteriores. Sua mãe havia sido tratada com sertralina para depressão e seu irmão tomava lítio
para transtono bipolar.

(Verificar instruções para a análise de caso clínico).

Indicação de filme: O lado bom da vida.


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4 – TRANSTORNOS DE HÁBITOS E IMPULSOS

CID 10 CID 11 DSM 5


F63 – Transtornos dos 6C5- Transtornos devido à Transtornos disruptivos, do
hábitos e impulsos comportamentos de controle de impulsos e da
dependência * conduta
F63.0 – Jogo Patológico 6C50 -desordem glambling a 312.31 – Transtorno de jogos
6C5Z – Transtornos de vido a
comportamentos de
dependência não
especificado
F63.1 - Piromania 6C70 Piromania 312.33 Piromania
F63.2 – Roubo Patológico 6C71 Cleptomania (roubo 312.32 Cleptomania
patológico)
F63.3 - Tricotilomania 6B25.0 Tricotilomania 312.39 Tricotilomania
(subtipo em transtorno
obsessivo compulsivo)
F63.8 – Outros transtornos 6C7Z distúrbios de controle 312.89 Outro transtorno
dos hábitos e dos impulsos de impulsos e hábitos não disruptivo, dos hábitos e
especificado impulsos
F63.9 – Transtorno dos - -
hábitos e impulsos não
especificados

4.1-Transtorno de jogos e apostas

Distúrbio de jogo é caracterizado por um padrão de comportamento persistente ou


recorrente de jogo, que pode ser em linha (isto é, através da internet) ou fora de linha, que se
manifesta por: 1) controlo prejudicada através de jogo (por exemplo, surgimento, frequência,
intensidade, duração, terminação, contexto); 2) prioridade crescente dada aos jogos de azar na
medida em que o jogo tem precedência sobre outros interesses de vida e atividades diárias; e 3)
a continuação ou a escalada de jogo, apesar da ocorrência de consequências negativas. O
padrão de comportamento é de gravidade suficiente para resultar em prejuízo significativo no
pessoal, familiar, educacional, ocupacional ou em outras áreas sociais importantes de
funcionamento. O padrão de comportamento de jogo pode ser contínuo ou esporádico e
recorrente. O comportamento de jogo e outras características são normalmente evidentes
durante um período de pelo menos 12 meses para que um diagnóstico a ser atribuído, embora
a duração necessária pode ser reduzida se todos os requisitos de diagnóstico sejam cumpridos
e os sintomas são graves.

4.2-Piromania

A característica essencial da piromania é a presença de vários episódios de provocação


deliberada e proposital de incêndios (Critério A). Indivíduos com esse transtorno experimentam
tensão Piromania 477 ou excitação afetiva antes de provocar um incêndio (Critério B). Há grande
fascinação, interesse, curiosidade ou atração pelo fogo e seus contextos situacionais (p. ex.,
equipamentos, usos, consequências) (Critério C). Indivíduos com esse transtorno são
frequentemente “expectadores” regulares de incêndios em suas vizinhanças, podem disparar
falsos alarmes e obter prazer do convívio com instituições, equipamentos e pessoal associados
a incêndio. Podem passar tempo no corpo de bombeiros local, provocar incêndios para se afiliar
ao corpo de bombeiros ou mesmo se tornarem bombeiros. Sentem prazer, gratificação ou alívio
ao provocar um incêndio, ao testemunhar seus efeitos ou participar de suas consequências
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(Critério D). Os incêndios não são provocados com fins monetários, como uma expressão de
ideologia sociopolítica, para ocultar atividades criminais, para expressar raiva ou vingança, para
melhorar as circunstâncias de vida de uma pessoa ou em resposta a um delírio ou alucinação
(Critério E). O ato de provocar incêndios não resulta de julgamento alterado (p. ex., no transtorno
neurocognitivo maior, na deficiência intelectual [transtorno do desenvolvimento intelectual]). O
diagnóstico não é feito se a provocação de incêndio for mais bem explicada por transtorno da
conduta, por episódio maníaco ou por transtorno da personalidade antissocial (Critério F).

4.3- Roubo Patológico

A característica essencial da cleptomania é a falha recorrente em resistir aos impulsos


de furtar itens, mesmo que eles não sejam necessários para uso pessoal ou em razão de seu
valor monetário (Critério A). O indivíduo experimenta uma sensação subjetiva crescente de
tensão antes do furto (Critério B) e sente prazer, gratificação ou alívio quando o comete (Critério
C). O ato de roubar não é cometido para expressar raiva ou vingança, não é executado em
resposta a um delírio ou a uma alucinação (Critério D) e não é mais bem explicado por transtorno
da conduta, por um episódio maníaco ou por transtorno da personalidade antissocial (Critério E).
Os objetos são roubados mesmo que, em geral, tenham pouco valor para o indivíduo, que teria
condições de pagar por eles e que com frequência os oferece em doação ou os descarta. Às
vezes o indivíduo poderá colecionar os objetos roubados ou devolvê-los disfarçadamente.
Embora as pessoas com esse transtorno geralmente não pratiquem o ato de roubar quando
existe a probabilidade de prisão imediata (p. ex., à vista de um policial), não costumam planejar
com antecedência os furtos ou levar totalmente em conta as chances de serem pegas. O ato de
roubar é executado sem assistência ou colaboração de outras pessoas.

4.4- Tricotilomania

A Tricotilomania é definida pelo DSM-IV-TR como um transtorno de controle de impulsos


não especificado, o que quer dizer que seus sintomas e tratamentos ainda não estão totalmente
definidos, além de sinalizar especialmente a característica de impossibilidade de controle diante
do impulso. Nesse caso, o impulso incontrolável é o de arrancar cabelos. É importante ressaltar
que o termo cabelo, utilizado para essa definição, vem do termo hair, do inglês, que pode
significar qualquer pelo. Assim, o transtorno inclui o hábito de arrancar cabelos de qualquer parte
do corpo. No CID 11, esse transtorno é subtipo de Transtorno Obsessivo compulsivo.

Caso Clínico

Jogo

Tomás Zambrano era um homem hispânico, casado, com 36 anos, que se apresentou a
uma clínica especializada em jogos de azar de um grande centro médico para avaliação e
tratamento.
Técnico de um time escolar de futebol americano, o sr. Zambrano tinha um filho de 5
anos. O paciente negou ter história psiquiátrica ou de abuso de substância anterior. Ele estava
vestido de forma arrumada e adequada, expressava-se fluentemente tanto em inglês quanto em
espanhol, falava em tom e volume normais e, durante exame, função cognitiva preservada e
inteligência na média.
O sr. Zambrano fazia apostas em eventos esportivos e jogos de cartas desde a infância
e indicou, durante a avaliação, que jogos com apostas “fazem parte de nossa cultura. O
passatempo preferido de seu pai, e que também funcionava como alívio para o estresse, eram
jogos de pôquer com os amigos à noite, de modo que o sr. Zambranose lembrava dos momentos
especiais entre pai e filho que compartilhavam. Para ele, o pôquer se tornou uma atividade
familiar que realizava com cada vez mais frequência para aliviar o estresse relacionado ao
trabalho. Ele adorava a excitação, o desafio intelectual e a competição.
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Contudo, jogos de cartas não permaneceram sendo um passatempo inocente para o sr.
Zambrano. Ele começou a perder mais dinheiro do que podia gastar. Ao longo dos dois anos
anteriores, aumentou gradativamente a frequência e o risco de suas noites de pôquer. Quando
perdia, apostava ainda mais, convencido de que teria sorte na vez seguinte. Quando ganhava,
sentia-se fantástico e continuava a jogar, convencido de que estava em uma maré de sorte.
Embora as perdas fizessem com que se sentia inútil, tolo e irritável, acreditava que venceria se
pudesse refinar sua estratégia. Sentia um impulso forte, quase constante, de aumentar o ritmo
dos jogos e recuperar o dinheiro que havia perdido. Quando tentava reduzir o jogo, ficava irritável,
obcecado, e log retomava as noites de pôquer.
Quando o sr. Zambrano finalmente foi à clínica, já estava desesperado. Jogar pôquer
todas as noites levou a uma fadiga diurna e ao baixo desempenho do trabalho como técnico, que
antes ele adorava. Ele estava sendo consumido com pensamentos sobre a próxima partida de
pôquer. A esposa e o filho há muito se ressentiam do pouco tempo que lhes dedicava, mas ele
havia recém descoberto que ele gastara toda a poupança dedicada à faculdade do filho e
acumulava uma dívida de R$ 30.000,00 no cartão de crédito. Quando ela ameaçou entrar com
um pedido de divórcio na justiça, ele sentiu-se triste, deprimido e resolveu buscar tratamento.

(Verificar instruções para a análise de caso clínico).

Indicação de filme – Delírios de consumo de Becky Bloom

5 – TRANSTORNOS SOMATOFORMES

CID 10 CID 11 DSM5


F45 – Transtornos 6B23 -6B23Z – Hipocondria Transtorno de sintomas
Somatoformes (transtorno obsessivo- somáticos 300.82
F45.2 - Hipocondria compulsivo e relacionados Transtorno de ansiedade de
6B2) e subtipos doença 300.7
F48 – Outros transtornos 6C20 – Desordem de Transtorno de sintomas
neuróticos sofrimento corporal somáticos e transtornos
F48.8 - Neurastenia (neurastenia é incluída nesse relacionados - 300.82
item)
F45.0 -F45.9 – Transtorno de 6C20 – 6C2Z Transtorno de Transtorno de sintomas
somatização a Transtorno estresse físico e ou somáticos e transtornos
somatoforme não experiência corporal relacionados 300.82
especificado (capítulo)

Nota: Os distúrbios da CID-11 de sofrimento físico e experiência corporal abrangem dois


distúrbios: distúrbio de sofrimento corporal e disforia de integridade corporal. O transtorno de
angústia corporal CID-11 substitui os transtornos somatoformes CID-10 e também inclui o
conceito de neurastenia CID-10. A hipocondria CID-10 não está incluída e, em vez disso, é
reatribuída ao grupo OCRD.

Segundo o DSM 5, teremos como critérios diagnósticos as seguintes especificações:


A. Um ou mais sintomas somáticos que causam aflição ou resultam em perturbação significativa
da vida diária. B. Pensamentos, sentimentos ou comportamentos excessivos relacionados aos
sintomas somáticos ou associados a preocupações com a saúde manifestados por pelo menos
um dos seguintes: 1. Pensamentos desproporcionais e persistentes acerca da gravidade dos
próprios sintomas. 2. Nível de ansiedade persistentemente elevado acerca da saúde e dos
sintomas. 3. Tempo e energia excessivos dedicados a esses sintomas ou a preocupações a
respeito da saúde. C. Embora algum dos sintomas somáticos possa não estar continuamente
presente, a condição de estar sintomático é persistente (em geral mais de seis meses).
Especificar se: Com dor predominante (anteriormente transtorno doloroso): Este especificador é
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para indivíduos cujos sintomas somáticos envolvem predominantemente dor. Especificar se:
Persistente: Um curso persistente é caracterizado por sintomas graves, prejuízo marcante e
longa duração (mais de seis meses). Especificar a gravidade atual: Leve: Apenas um dos
sintomas especificados no Critério B é satisfeito. Moderada: Dois ou mais sintomas especificados
no Critério B são satisfeitos. Grave: Dois ou mais sintomas especificados no Critério B são
satisfeitos, além da presença de múltiplas queixas somáticas (ou um sintoma somático muito
grave).
Já na CID 11, teremos que verificar cada caso específico dentro das categorias
específicas na nova classificação. Veremos em detalhe essas mudanças em aula.

6 – Outros Transtornos

6.1- Transtornos Parafílicos e Parafilias (CID 11 e DSM 5)

Os transtornos parafílicos referem-se a padrões de fantasias, impulsos e comportamentos


sexuais que causam sofrimento significativo à pessoa afetada ou representam um risco de dano
para outros. O termo "parafilia" abrange interesses sexuais intensos e persistentes que diferem
da estimulação genital padrão com parceiros consensuais e maduros. Os transtornos parafílicos
são formas mais graves de parafilias, envolvendo sofrimento ou prejuízo significativos para o
indivíduo ou outros.
Anteriormente chamados de "perversões sexuais", o termo foi abandonado devido à sua
associação negativa. A fronteira entre o normal e o patológico nos transtornos parafílicos pode
ser arbitrária, pois distinguir entre gostar de uma fantasia e fixar-se intensamente em padrões
sexuais exclusivos que causam sofrimento pode ser desafiador.
É crucial notar que o diagnóstico de transtornos parafílicos requer a associação com
sofrimento significativo ou risco de dano para si mesmo e/ou para outros. Em geral, os
comportamentos devem persistir por pelo menos seis meses para serem considerados para o
diagnóstico.

6.2 – Alguns dos principais Transtornos Parafílicos

O transtorno exibicionista envolve a compulsão de homens mostrar seus genitais a


mulheres, crianças, adolescentes ou jovens femininas desprevenidas, causando violência
percebida por elas. O transtorno voyeurista é a compulsão de observar pessoas, especialmente
mulheres, despindo-se ou envolvendo-se em atividades sexuais, sem que elas saibam que estão
sendo observadas.
No transtorno do sadismo sexual, o prazer está ligado a causar dor ou humilhação no
parceiro, enquanto no masoquismo sexual, a excitação ocorre ao ser subjugado, humilhado ou
ameaçado pelo parceiro. O transtorno pedofílico envolve fantasias, impulsos ou
comportamentos sexuais intensos e recorrentes com crianças pré-púberes, podendo ser
heterossexual, homossexual ou bissexual.
O transtorno fetichista é caracterizado pela obtenção de prazer ao usar objetos
específicos durante a masturbação ou ato sexual, causando sofrimento significativo. Na zoofilia,
um ou mais animais são utilizados para atividade sexual. O transtorno transvéstico envolve
excitação ao vestir-se como o sexo oposto, sendo considerado transtorno apenas se causar

sofrimento clinicamente significativo. O transtorno frotteurista é caracterizado pela


excitação sexual ao tocar ou esfregar-se em pessoas sem consentimento, sendo diagnóstico se
os comportamentos causarem sofrimento significativo.

CID 11 – Distúrbios Parafílicos 6D3


6D30 – Desordem Exibicionsta
6D31 – Transtorno Voyeurista
6D32 – Desordem Pedófilo
6D33 – Desordem sadismo sexual coercitivo
6D34 – Desordem Frotteuristic
6D35 – Outro distúrbio parafílico envolvendo indivíduos não-consensuais
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6D36 – Desordem parafílico envolvendo comportamento solitário ou indivíduo consentido


6D3Z – Transtornos parafilicos não especificados

7 – Transtornos Sexuais

As disfunções sexuais são síndromes que incluem as várias formas pelas quais
indivíduos adultos apresentam dificuldades na experiência pessoal de atividade sexual não
coercitiva. Na CID-11, para se considerar uma síndrome como disfunção sexual, os seguintes
fatores devem estar presentes:
1.ocorrência frequente do transtorno ou disfunção, podendo estar ausente em algumas
situações;
2.o transtorno deve estar presente por pelo menos alguns meses;
3.o transtorno deve estar associado a sofrimento ou disfunção clinicamente significativos

7.1 – Desejo sexual inibido: transtorno do interesse/excitação sexual feminino e


transtorno do desejo sexual masculino hipoativo

A inibição persistente do desejo sexual, fantasias ou interesse em atividades sexuais


está relacionada a padrões culturais, faixa etária e situação de vida da pessoa afetada. É
relevante quando a ausência de desejo sexual causa sofrimento no indivíduo ou em seu parceiro.
Fatores como conflitos intrapsíquicos, repressão exacerbada, padrões educacionais/culturais
negativos em relação à sexualidade e conflitos interpessoais, especialmente no relacionamento
do casal, podem contribuir para a inibição do desejo. Disfunções fisiológicas também podem ser
um fator, como desequilíbrios hormonais ou efeitos de medicamentos.
Estudos indicam que o desejo sexual é mais frequente em homens jovens e de meia-
idade, assim como em mulheres no início dos relacionamentos. No entanto, mulheres de meia-
idade relatam menos frequência de desejo, embora muitas delas ainda expressem satisfação
em suas vidas sexuais. Algumas mulheres relatam que, apesar da falta de desejo inicial, as
relações sexuais são satisfatórias. Essas diferenças de gênero devem ser consideradas ao
definir o transtorno do desejo sexual inibido, conforme apontado por Basson e Schultz (2007).

7.2 – Disfunção éretil

O termo "transtorno erétil", preferido em relação a "impotência sexual", é utilizado para


evitar conotações pejorativas associadas à ideia de "impotência". A disfunção erétil é
caracterizada pela falha parcial ou total em alcançar e/ou manter uma ereção até o fim do ato
sexual, ou pela diminuição acentuada na rigidez erétil. A duração mínima para ser diagnosticada
é de seis meses, e a condição deve causar sofrimento clinicamente significativo.
A ereção reflexa é controlada pelo plexo sacral e nervos pudendo e erigente, enquanto
a ereção mediada por mecanismos "psicogênicos" é influenciada pelo córtex cerebral, plexos
simpáticos toracolombares e parassimpáticos sacrais. O sistema límbico no cérebro
desempenha um papel crucial na ereção, explicando a forte influência inibitória da ansiedade
sobre esse processo.
Tradicionalmente, a disfunção erétil era diferenciada entre psicogênica e orgânica, mas
muitos casos envolvem a combinação de ambos. A disfunção erétil de base psicogênica é mais
situacional e transitória, enquanto a de base orgânica é mais constante e inespecífica. De modo
geral, a disfunção erétil persistente resulta de uma interação complexa de fatores psicológicos,
psicopatológicos, neurológicos, vasculares, endócrinos e mecânicos.

Na CID 11 – temos os seguintes critérios de classificação:

HA0 – Disfunções sexuais


HA00 – Disfunção do desejo sexual hipoativo e todos os subtipos da categorias que vão
até HA00.Z – Disfunção do desejo sexual hipoativo não especificado
HA01 – Disfunções de excitação sexual e todos os subtipos tanto feminina quanto
masculina, que vão até HA01.Z – Disfunção de excitação sexual não especificado.
HA02 – Disfunções orgásticas que vao até HA02.Z – Disfunções orgásticas não
especificads.
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HA03 – Disfunções ejaculatórias Ha03.Z – Disfunções ejaculatórias não especificadas.


HA2 – Transtorno de dor sexual
HA20 – HA20.Z Transtorno de dor sexual não especificado.
HA40 -Considerações etiológicas em disfunções sexuais e perturbações de dor sexual

8 – Transtorno de Personalidade

Segundo o DSM-5, os TPs podem ser agrupados em três grandes subgrupos com
semelhanças descritivas (ou seja, esse agrupamento tem valor apenas descritivo e didático):
a.padrão: esquisitos e/ou desconfiados;
b.padrão: instáveis e/ou manipuladores e/ou centro das atenções; e
c.padrão: ansiosos e/ou controlados-controladores.
Os TPs da CID-11 e do DSM-5 se sobrepõem em boa medida, havendo, portanto, certo
consenso em relação a quais TPs se utilizar na clínica e em pesquisa.
Quadro 5 – Principais características dos diferentes Transtornos de Personalidade

Esquizoide Borderline
Anancástico ou Obsessivo
(distanciamento) - (emocionalmente instável)
Indiferença; - Relações pessoais muito - Rígido, metódico e minucioso; -
instáveis; Não tolera variações ou
- Distante, sem relações - Atos autolesivos improvisações;
íntimas; repetitivos; - Perfeccionista e escrupuloso; -
- Esquisito, estranho; - Humor muito instável; Muito convencional, segue
- Vive no seu próprio - Impulsivo e explosivo; rigorosamente as regras;
mundo; - Solitário; - Graves problemas de
identidade;
- Sentimentos intensos de - Controlador (dos outros e de si)
- Não se emociona
(imperturbável) vazio.
Antissocial (Dissocial)
Paranoide
Dependente
- Frio e insensível;
- Desconfiança
- Sem compaixão; - Dependente e alto grau;
constante; - Sensível às
- Agressivo e cruel; - Necessita muito agradar;
críticas;
- Não sente culpa ou - Desamparado quando sozinho;
- Rancoroso, arrogante;
remorso; - Mente - Sem iniciativa;
- culpa os outros;
recorrentemente; - Sem energia;
- Sem autonomia pessoal
- Reivindicativo;
- Aproveita-se dos outros
- Sente-se prejudicado
nas relações

Esquizotípico
Histriônico Evitativo
- Ideias e crenças estranhas e de
autorreferência; - Busca atenção; visa ser o - Evita ao máximo
- Desconforto nas relações centro das atenções; interações sociais;
interpessoais; - Dramatiza, é muito teatral; - - Sentimentos
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- Pensamento muito vago e Sugestionável e superficial; - constantes de
excessivamente metafórico; - Manipulador; inadequação;
aparência física excêntrica; (não
está na CID 11 como TP) - Discurso vago, impressionista; - Muita
- Erotiza situações, não sensibilidade à
normalmente erotizáveis; avaliação
negativa;
(não está na CID
11 como TP)
Narcisista

- Tem necessidade intensa e


constante de admiração, sente-
se muito superior, muito melhor
que os outros;

- Grandiosidade.

(não está na CID 11 como TP)

(Fonte: DALGALARRONDO, 2019, p. 282)

Segundo Bastos (1997), citado por Dalgalarrondo (2019) define-se personalidade como
“[...] o conjunto integrado de traços psíquicos, consistindo no total das características individuais
em sua relação com o meio, conjugando tendências inatas e experiências adquiridas no curso
de sua existência” (p.270).
Segundo o DSM-5 (APA, 2014), transtorno de personalidade [...] é um padrão persistente
de experiência interna e comportamento que se devia acentuadamente das expectativas da
cultura do indivíduo, é difuso e inflexível, começa na adolescência
ou início da fase adulta, é estável ao longo do tempo e leva a sofrimento ou prejuízo (APA, 214,
p.645).
O diagnóstico de transtorno de personalidade aplica-se a adultos e as apresentam as
seguintes características gerais, segundo Dalgalarrondo (2019), que se baseia na CID 11 e no
DSM-5:
• Surgem na infância e adolescência e tendem a se manter estável durante toda a vida;
o padrão anormal de comportamento não é limitado ao episódio de qualquer doença
mental (esquizofrenia, depressão, etc) e ocorre permanentemente e de longa duração;
• Manifesta um conjunto de comportamentos e reações afetivas desarmônicas,
envolvendo partes da vida do indivíduo como: a afetividade, o controle de impulsos,
relacionamentos interpessoais, etc; esse padrão anormal de comportamento inclui
muitos aspectos, tanto do psiquismo, como da vida social, não se restringindo a apenas
um aspecto;
• O padrão comportamental é mal adaptativo, produzindo uma série de dificuldades para
o indivíduo, assim como as pessoas que convivem com ele;
• São condições não relacionadas diretamente à lesão cerebral ou a outro transtorno
psiquiátrico (salvo algumas exceções);
• O transtorno da personalidade leva a algum grau de sofrimento (angústia, solidão,
sensação de fracasso, etc);
• Geralmente, o transtorno de personalidade contribui para um mau desempenho
ocupacional e social, embora essa afirmação não seja obrigatória;
Estudos atuais mostram que alguns dos transtornos de personalidade tendem a se
manter estáveis até a velhice, enquanto outros podem apresentar mudanças,
principalmente a atenuação da impulsividade e instabilidade afetiva – como borderline,
antissocial, narcisista e histriônica (DALGALARRONDO, 2019).
Vale destacar que os termos: psicopata, sociopata e personalidade antissocial podem
ser utilizados por alguns autores e profissionais como sinônimos; entretanto,
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Schneider (1976), apud Dalgalarrondo (2019) amplia o termo psicopatia a
todos os transtornos de personalidade que segundo o DSM-5 e a CID 11, conforme destaca
Dalgalarrondo (2019) são:
• Aqueles marcados por esquisitice e desconfiança (Esquizoide, Paranoide,
Esquizotípica);
• Aqueles marcados ela impulsividade e manipulação (Borderline, antissocial, histriônica
e narcisista);
• Aqueles marcados por ansiedade e controle (Anancástico ou Obsessivo, Dependente
e Evitativo).
Segundo Dalgalarrondo (2019), os estudos atuais mostram que alguns dos
transtornos de personalidade tendem a se manter estáveis até a velhice, enquanto
outros podem apresentar mudanças, principalmente a atenuação da impulsividade e
instabilidade afetiva – como borderline, antissocial, narcisista e histriônica
(DALGALARRONDO, 2019).

8.1 – Transtorno de Personalidade e as Escolas Psicológicas

• Carl Gustav Jung (Psicologia Analítica)

A tipologia de Carl Gustav Jung, apresentada em "Tipos Psicológicos", destaca duas


atitudes básicas, extroversão e introversão, que indicam a direção fundamental da energia
psíquica na personalidade humana. Na extroversão, a libido flui sem impedimentos em direção
aos objetos externos, enquanto na introversão, a libido recua diante do mundo externo, voltando-
se para o interior. Elementos como pensamento, sentimento, percepção e intuição compõem o
tipo de personalidade resultante.
O trabalho de Jung influenciou a criação do Indicador de Myers-Briggs (MBTI), um teste
de tipologia amplamente utilizado nos Estados Unidos e na Europa. No Brasil, existem dois testes
de personalidade baseados nas teorias de Jung: o Questionário de Avaliação Tipológica (QUATI)
e o Teste de Wartegg, este último focado na teoria junguiana dos arquétipos e mais comumente
utilizado na área de recursos humanos.

• Sigmund Freud (Psicanálise)

A teoria psicanalítica de Sigmund Freud exerce uma influência profunda na compreensão da


personalidade humana. A personalidade, de acordo com Freud, é moldada pela gratificação da
libido durante diversas fases da infância. A fixação em fases pré-genitais e a possibilidade de
regressão a esses estágios determinam não apenas neuroses, mas também o perfil de
personalidade do adulto.
Um componente crucial na visão de Freud é o complexo de Édipo, um emaranhado de
sentimentos de amor, ódio e temor de represália em relação aos pais. Este complexo
desempenha um papel fundamental na formação da personalidade adulta, moldada pela
introjeção de dinâmicas familiares, principalmente as interações entre a criança e seus pais.
Freud categoriza três tipos libidinais básicos: erótico, compulsivo e narcisista. O tipo erótico
busca intensamente o amor e é altamente dependente dos outros. O tipo compulsivo é dominado
pelo superego, regido por normas morais, enquanto o tipo narcisista não atribui grande
importância às necessidades eróticas, preferindo ser amado do que amar.
Embora a teoria de Freud tenha enfrentado críticas à sua base empírica, suas
concepções continuam a ser influentes, especialmente em testes projetivos de personalidade.

Essa tese busca identificar mecanismos de defesa, estrutura do ego, desejos, conflitos,
temores e angústias, proporcionando uma visão aprofundada do mundo interno das pessoas
avaliadas. O legado de Freud persiste como um marco importante na compreensão da psicologia
e da personalidade.

• Métodos Empíricos e Psicométricos (Análise Fatorial)

A ideia de estudar a personalidade, não buscando tipos formulados em relação a teorias


globais do psiquismo humano, mas por meio da identificação de traços de personalidade que
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podem se combinar de distintas formas, foi defendida pelo psicólogo humanista norte-
americano Gordon Allport (1897-1967).
Esse importante autor, entretanto, estava bem mais interessado em avaliações individuais
de cada paciente, nas suas pesquisas de traços de personalidade, não investindo em
validações objetivas de uma teoria de personalidade. Sua visão foi mais idiográfica (centrada
nas singularidades de cada pessoa, de cada paciente), com uma profunda sensibilidade sobre
aspectos existenciais, únicos e profundos de cada indivíduo, ao longo de sua história pessoal
(Allport, 1973; Tavares; Gorenstein, 2016).
Desde então, a noção de traço na psicologia e psicopatologia da personalidade vem
ganhando muita importância, sobretudo nas últimas décadas. Traços são tendências,
características, modos específicos, que são estáveis e determinantes para a personalidade do
indivíduo. Traços se diferenciam de estados, que são aspectos temporários e breves, eliciados
por fatores externos circunstanciais, como uma demissão, briga familiar ou outro fator
estressante momentâneo. Gordon Allport propôs distinguir os traços de personalidade em três
grupos (Pervin & John, 2004):
1.traços cardiais, que revelam disposições penetrantes e marcantes para o conjunto da
personalidade de uma pessoa (p. ex., ser marcadamente autoritário, sádico, tímido);
2.traços centrais (como honestidade, assertividade, generosidade), que são importantes e
cobrem amplas áreas da vida de uma pessoa (não sua totalidade);
3.traços secundários, que seriam disposições menos significativas, consistentes e conspícuas.

Perspectivas fenomenológicas

• Karl Jaspers

Karl Jaspers (1883-1902), um psiquiatra alemão e professor de filosofia na Universidade de


Heidelberg, incorporou desde o início de seu pensamento o interesse em integrar as ciências
naturais e humanas, culminando em seu desenvolvimento da psicopatologia. Essa integração foi
viabilizada pela posição privilegiada de Jaspers como filósofo, permitindo-lhe fundamentar suas
ideias com base nos elementos empíricos disponíveis na Clínica Psiquiátrica de Heidelberg
(Rodrigues, 2005).
A publicação de "Psicopatologia Geral" em 1913 marcou o início da psicopatologia como um
campo distinto do saber, separado da psiquiatria. Jaspers propôs integrar o modelo causal
explicativo das ciências naturais ao modelo histórico compreensivo das ciências humanas para
descrever e compreender fenômenos psíquicos. Sua obra destacou-se pela crítica metodológica
e sistematização de dados, mapeando conceitos e métodos existentes e propondo um modelo
de psicopatologia geral com base na descrição e compreensão de casos individuais (Rodrigues,
2005).
A psiquiatria da época era predominantemente vista como parte das ciências naturais,
adotando exclusivamente o modelo explicativo-causal para compreender fenômenos objetivos.
Jaspers, visando unir esse modelo ao histórico-compreensivo, introduziu o método
fenomenológico em "Psicopatologia Geral", tornando-se uma inovação significativa em seu
pensamento psiquiátrico. No entanto, é essencial notar que, apesar de frequentes equívocos,
Jaspers não via seu trabalho como exclusivamente fenomenológico, esclarecendo que a
fenomenologia era apenas um dos métodos possíveis para a psicopatologia (Jaspers,
1913/1987, p. 7).
Jaspers concebia a psicopatologia como uma ciência separada da prática psiquiátrica,
enfocando casos individuais na profissão, enquanto a ciência buscava desenvolver conceitos e
regras gerais para compreender modos de experiências e seus significados (Jaspers, 1913/1987,
p. 13). O objeto da psicopatologia, para Jaspers, era a vivência psíquica consciente, explorando
não apenas as vivências em si, mas também suas condições e causas (Jaspers, 1913/1987, p.
13).
Ao abordar a introdução do método fenomenológico, Jaspers destacava a distinção entre
sintomas objetivos e subjetivos ao examinar pacientes psiquiátricos. Os sintomas objetivos eram
mensuráveis e perceptíveis, enquanto os subjetivos demandavam empatia para compreensão,
incluindo emoções como alegria, medo e tristeza. Jaspers defendia a necessidade de
representação, definição e classificação dos fenômenos psíquicos para abordar questões
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subjetivas, utilizando a fenomenologia como método para compreender cientificamente os
sintomas subjetivos (Jaspers, 1912/2005).
Embora seja comum associar Jaspers à psicopatologia fenomenológica, ele mesmo
esclarecia que sua abordagem era mais compreensiva do que fenomenológica. A
fenomenologia, para Jaspers, era um método para garantir a cientificidade na compreensão dos
sintomas subjetivos, sendo parte de sua busca por uma psicopatologia científica (Rodrigues,
2005, p. 764).
Apesar de não ser considerado o iniciador da Psicopatologia Fenomenológica, Jaspers
desempenhou um papel pioneiro ao preocupar-se com a cientificidade dos sintomas subjetivos.
Sua contribuição histórica para o desenvolvimento da psicopatologia fenomenológica é
reconhecida, mesmo que suas concepções não se alinhem totalmente com esse termo. Em
Jaspers, encontramos os fundamentos que mais tarde foram desenvolvidos por Binswanger e
outros na tradição da psicopatologia fenomenológica até os dias atuais. A discussão entre
subjetividade e objetividade, iniciada por Jaspers, continua a ser central na contemporaneidade
no campo da psicopatologia.

• Ludwig Binswanger

Ludwig Binswanger (1881-1966), médico suíço com formação psiquiátrica junto a Bleuer e
Jung, diretor do Sanatório Bellevue, iniciou sua carreira na clínica psicanalítica, mas afastou-se
gradualmente das proposições metapsicológicas de Freud à medida que se aprofundava em
estudos da fenomenologia de Husserl e da ontologia fundamental de Heidegger. Em seu texto
"Analyse Existentielle et Psychothérapie", apresentado no Congresso Internacional de
Psicoterapia em Barcelona em 1958, Binswanger expressou sua divergência em relação à
psicanálise, especialmente no que diz respeito à concepção da relação entre corpo e alma,
instinto e espírito.
Ao contrário da psicanálise, que surgiu como uma abordagem terapêutica, a análise
existencial de Binswanger começou como um novo método de pesquisa, originado da
insatisfação com os projetos de compreensão científica da psiquiatria da época. Sua abordagem
mais abrangente e elaborada da psicopatologia resultou da análise existencial, que trouxe uma
ruptura com a tradição médica e psiquiátrica da psicopatologia.
Na perspectiva da Daseinanalyse de Binswanger e de sua antropologia fenomenológica, ele
propôs a especificação da psicopatologia como um campo separado das ciências naturais,
baseando-se na visão do homem como um ser pessoal cuja continuidade se desdobra em
história. Ele destacou a importância das dimensões fundamentais do Dasein, como a
temporalidade e a espacialidade, derivadas da análise do Dasein heideggeriano, em sua
psicopatologia.
Binswanger introduziu os conceitos de Umwelt, Mitwelt e Eigenwelt para descrever os modos
simultâneos de ser-no-mundo de seus pacientes, enfatizando a importância de compreender
como cada indivíduo vivencia essas dimensões. Seu método fenomenológico na psicopatologia
buscou descrever a experiência de mundo e as condições de existência específicas de cada
Dasein, indo além de uma abordagem meramente descritiva ou subjetiva.
Binswanger também abordou a relação entre fenomenologia e psicopatologia, destacando a
diferença entre a pesquisa fenomenológica das essências e a busca dos fatos psicopatológicos.
Ele enfatizou a importância de uma fenomenologia psicopatológica que busque o sentido e a
significação da experiência vivida, adentrando a experiência concreta do outro e focando nas
estruturas a priori da existência.
No contexto da psicopatologia fenomenológica de Binswanger, ele identificou formas de
existência frustrada, nas quais a presença psicopatológica se manifesta limitada em torno de
categorias existenciais prioritárias, resultando em diferentes tipos de distúrbios mentais. Sua
visão da psicopatologia como a análise do homem em sua totalidade, discriminar o doente do
sadio e entender como a presença do doente pode ser transformada em uma presença sadia,
marcou sua contribuição significativa para o campo.

• Fenomenologia Hermenêutica

Na abordagem heideggeriana, ao questionar o ser do ente, nos deparamos sempre com


respostas incompletas, dado o caráter ek-stático do Dasein, que não permite aprisioná-lo em
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modos de ser específicos. Somos constituídos a partir do horizonte concreto e da tradição


hermenêutica do mundo que nos envolve, não existindo em um "psiquismo" isolado de nosso
contexto histórico, social, cultural, relacional, corporal ou dos entes ao nosso redor. Em vez disso,
existimos na abertura, onde o mundo nos molda. Heidegger critica a psicologia, argumentando
que, ao reconhecer dimensões não materiais, ela tenta defini-las através de métodos de
objetivação material, o que considera inadequado.
Heidegger explora a diferença entre objetividade (o olhar que objetiva os entes) e
objetidade (a característica objetual de alguns entes). Ele também aborda a subjetividade como
um elemento supostamente substancial presente em qualquer eu, enquanto a subjetidade
denota a condição adjetiva de ser um eu, sem uma substância definidora. No movimento de ser
quem somos, a indeterminação e incompletude da experiência se articulam à totalidade da
experiência fática que somos a cada momento.
Heidegger critica a concepção de subjetividade intrapsíquica e solipsista, propondo uma
análise existencial que não descomponha em elementos, mas revele conexões. Ele destaca a
inadequação da análise baseada na decomposição, inspirada no Discurso do Método de
Descartes, que propõe dividir a realidade em partes simples para compreendê-la totalmente. Ao
contrário, Heidegger sugere uma abordagem que articule a unidade ontológica das
possibilidades de ser dos entes.
Partindo de Kant, Heidegger entende que a essência de uma decomposição não é
reduzir a elementos, mas reconduzir a uma unidade ontológica, mostrando as interconexões
sistemáticas que explicitam a compreensão do real. A analítica heideggeriana envolve a relação
de conhecimento entre consciência e mundo, buscando evidenciar a unidade em vez de focar
na causalidade. Ele resgata o sentido etimológico de "análise" como desfazer uma trama,
desconstruir.
Heidegger critica a psicanálise freudiana, observando que Freud não justifica o uso da
palavra "análise" e resgata o sentido original de desconstrução. Ele enfatiza a importância de
uma analítica do Dasein, não como decomposição em elementos, mas como articulação da
unidade de uma estrutura. Heidegger destaca que a Daseinsanalyse não é um produto final, mas
um exercício das possibilidades compreensivas em desvelamento a cada momento de ser.
Ao considerar a totalidade da existência, Heidegger rejeita a separação entre sujeito e
objeto. Ele destaca a impossibilidade de desmembramento entre o Dasein e a totalidade da
existência, criticando qualquer tendência ao solipsismo ou subjetivismo. Heidegger destaca a
necessidade de superar a noção substancialista da subjetividade em favor de uma compreensão
do ser humano a partir dos modos de ser manifestos situacionalmente e em constante
desenrolar.
Heidegger faz uma crítica à abordagem causalista e objetificadora na psicologia,
propondo uma análise que reconheça as conexões ontológicas e articule a unidade estrutural.
Ele destaca que a analítica do Dasein não é um solipsismo, mas uma investigação ontológica do
ser humano em sua totalidade. Heidegger também comenta sobre a necessidade de uma análise
clínica que, em vez de reduzir manifestações sintomáticas a elementos de origem, compreenda
a totalidade da presença humana no mundo.
A perspectiva de Heidegger enfatiza a importância da experiência transitiva e infinitiva
de ser, destacando que a análise clínica deve considerar todo o contexto existencial do Dasein.
Ele resgata a relação entre ser e tempo, explorando como a dimensão ontológica do ser se
manifesta na experiência temporal. A analítica heideggeriana busca mostrar o todo de uma
unidade de condições ontológicas, articulando a estrutura do Dasein.
Heidegger ressalta a necessidade de uma abordagem fenomenológica na práxis clínica,
que reconheça a abertura na qual os entes estão presentes para o ser humano. Ele critica teorias
psicológicas que objetificam a experiência humana, propondo uma análise que leve em conta a
sensibilidade ek-stática, a historicidade e a totalidade da existência. Heidegger destaca a
importância de compreender os recursos psíquicos como modos de ser solicitado e do
corresponder, enfatizando que a experiência e os entes continuam presentes, codeterminando
o Dasein.
Ao abordar a questão da personalidade, Heidegger critica a abordagem categorial que
tenta classificar os entes em categorias prévias, propondo uma análise existencial que interprete
as estruturas do ser do aí. Ele destaca a diferença entre existencial e categorial,
A partir das discussões propostas por Heidegger, é possível realizar uma crítica a noções
psicológicas que determinam como essência humana propriedades quididativas prévias, em que
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uma estrutura de metapersonalidade mecanicista pode tomar o lugar da experiência
vivida. Apontamos aqui a necessidade de uma desconstrução da ideia de uma personalidade
rigidamente estruturada, que se contrapõe à objetivação em categorias conceituais
universalizáveis (Stein, 2012). A subjetividade não se reduz a qualquer conceito que busque
encontrar a essência humana para além de seu campo de mostração. Noções como "traço de
personalidade histriônico" ou "superego rígido" tendem apenas a objetificar, imobilizar o
processo dinâmico do existir. Outrossim, a ideia de um modelo universal de personalidade com
engrenagens correlacionais, na lógica de causa e efeito, pode ser desconstruída em favor de um
fluxo do vivido se realizando frente ao acontecimento da existência em suas múltiplas dimensões.
Em tal perspectiva, a análise voltada à práxis clínica não teria como foco reconduzir
manifestações sintomáticas a seus elementos de origem como pode ser compreendido na
intenção inicial da obra freudiana, mas compreender a totalidade da presença humana no
mundo. Se a analítica ontológica volta-se para o Dasein em sua possibilidade de desvelar a
questão do ser em geral, a análise ôntica presente na perspectiva clínica volta-se para as
experiências singularizantes na relação entre cada Dasein e o mundo. Nesse sentido, seria
necessário voltar-se a um método de análise clínica que, em vez de desvelar uma abertura do
Dasein alinhada à metafísica moderna como o faz a psicanálise freudiana, pudesse preservar o
aí como abertura de um horizonte de presença do ente, como elemento distintivo do humano do
homem. Heidegger (1987/2009) chega a comentar sobre a correta acentuação do termo alemão
Dasein, com ênfase no elemento sein (ser), e sobre o erro de tradução de Dasein para o francês,
que seria mais propriamente designada por être-le-là do que por être-là. Em português, isso
significaria traduzir Dasein por ser-o-aí, no sentido de que somos a abertura para o aí que é o
nosso. Nessa tal abertura, uma análise de inspiração heideggeriana significaria a consideração
de todo o contexto existencial do Dasein em suas múltiplas conexões, que não existem de
maneira separada e, posteriormente, se articulam, mas já nascem indissociadas e se desenrolam
no mundo como totalidade acontecimental.
Contrariamente a uma perspectiva determinante ou objetificadora, uma práxis clínica,
como olhar sobre manifestações ônticas iluminado pela condição ontológica do Dasein, deve
conduzir ao reconhecimento da abertura na qual os entes podem estar presentes para o homem,
inclusive ele para si mesmo. Isso não significa a mera aplicação do método de desvelamento
ontológico para fenômenos ônticos, mas a assunção de uma perspectiva fenomenológica,
iluminada pela dimensão ontológica do Dasein, na contemplação de nossas manifestações
ônticas. Uma proposta de práxis clínica assim alinhada deve considerar, segundo Heidegger
(1987/2009), que "recursos psíquicos devem ser compreendidos como modos do ser solicitado
e do corresponder" (p. 258), que a dimensão histórica está presente na manifestação de nossos
modos de ser, que "experiências e entes podem continuar constantemente presentes como
aquilo que codetermina meu dasein" (p. 259) e que as próprias experiências corporais, tais como
a dor fantasma, se referem a nossa sensibilidade ek-statica.
Como desdobramento reflexivo acerca do pensamento heideggeriano, podemos
compreender que, na manifestação ôntica da experiência singular, a relação eu-mundo ocorre
em um fluxo perceptivo em que os elementos se relacionam e significam para além daquilo que
é designado diretamente pela palavra no transcurso do vivido. A vivência no tempo vai tecendo
os elementos em vias de experienciação, em uma composição eu-mundo pré-reflexiva, que pode
ser resgatada pela palavra em torno da experiência, como dimensão elaborada e nomeada da
linguagem e do próprio movimento existencial. A trama vivencial forjada a partir das elaborações
desses elementos cria para o homem possibilidades de compreender a si e ao mundo,
constituindo os modos de singularização por meio dos quais tecemos nossas existências. A
percepção de si, do outro e do mundo estão imbricadas em um todo: a percepção de si se tece
na historicidade da relação eu-mundo, compondo nossos modos de ser.
Assim, não se trata de construir uma teoria da personalidade a partir de Heidegger, já
que o próprio autor aponta o viés calculante da teoria como compreendida no sentido moderno,
mas de renunciar ao pensamento calculista na práxis clínica para tornar possível nos
aproximarmos daquilo que se apresenta. Na perspectiva de uma constituição dinâmica e em
constante desenrolar dos modos de ser, a noção de personalidade pode ter seu foco deslocado
para o próprio movimento do existir.
Diversas propostas buscam compreender a experiência referida no encontro clínico
como expressão ôntica singular daquilo que, do ponto de vista ontológico, é discutido na analítica
do Dasein. Para Feijoo (2010), a perspectiva fenomenológica em psicoterapia implica que o
terapeuta investigue em um deixar-ser, permitindo que quem se mostra faça-o "a seu próprio
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modo, a partir de si mesmo" (p. 114). As falas trazem evidências do sentido, podendo
construir compreensões do modo de ser que permitam ao cliente situar-se e orientar-se em seu
percurso existencial.

• TCC

A TCC está baseada no modelo cognitivo, que parte da hipótese de que as emoções, os
comportamentos e as respostas fisiológicas de uma pessoa são influenciados pela percepção
que ela tem dos eventos que vive. O que importa, dessa forma, não é o que acontece ao
paciente, mas a forma como ele interpreta o ocorrido. A partir disso, compreende-se que a
delineação do tratamento deve basear-se em uma conceituação, ou compreensão, das crenças
específicas e padrões de comportamento de cada paciente, o que influenciará o uso das técnicas
e os objetivos nas sessões. Esse processo de conceituação ocorre logo após os atendimentos
iniciais e perdura durante todo o tratamento, sendo fundamental que o terapeuta atualize,
aprimore e acompanhe (BECK, 2014). Para a construção do diagrama de conceitualização,
levam-se em conta os três níveis de processamento cognitivo: os pensamentos automáticos
(PAs), que são espontâneos e fluem em nossa mente a partir de acontecimentos do cotidiano;
as crenças intermediárias, também entendidas como regras, atitudes ou suposições, mais
enraizadas que os PAs; e as crenças centrais ou nucleares, desenvolvidas na infância através
das interações do indivíduo com outras pessoas relevantes e da vivência de muitas situações
que fortaleçam essa ideia (BECK, 2014). Pacientes com TP costumam ter menos
relacionamentos sociais, pois têm certeza de que serão rejeitados, o que lhes parece
insuportável. Consequentemente, desenvolvem estratégias de enfrentamento desadaptativas
pautadas na evitação. A evitação social é visível, enquanto a evitação cognitiva e emocional é
menos óbvia, podendo levar o paciente a evitar pensar sobre coisas que levem a sentimentos
disfóricos. A baixa tolerância à disforia também os leva a se distraírem de suas cognições
negativas (BECK; DAVIS; FREEMAN, 2017).

9 – Análise de Casos Clínicos (Prático)

Modelo Caso Clínico Infestação de Pulgas

Lara Gonzalez, uma jornalista autônoma de 51 anos, divorciada, foi sozinha ao pronto-
socorro solicitar uma avaliação dermatológica por causa de infestação de pulgas. Quando o
exame da pele não revelou evidências para a queixa e a paciente insistiu que não estava a salvo
em casa, ela foi internada em um serviço psiquiátrico com “transtorno psicótico não
especificado”.
Suas preocupações começaram cerca de uma semana antes da apresentação.
Para lidar com uma crise financeira, ela havia alugado um quarto extra em sua casa para
hóspedes temporários e começado a cuidar de animais de estimação para alguns vizinhos. Sob
essas condições, percebeu insetos marrons escondendo-se em sua pele, nas paredes,
recobrindo seus tapetes e o colchão. Ela jogou fora uma sacola com roupas, acreditando que
ouvia pulgas “esfregando e arranhando dentro do saco”. Ela não estava dormindo bem e havia
passado as 36 horas anteriores à apresentação limpando a casa freneticamente, com medo que
os hóspedes não pagassem se vissem as pulgas. Tomou vários banhos usando produtos para
tratar infestações de bichos. Chamou um dedetizador que não encontrou evidências de pulgas,
mas não acreditou nele. Estava chateada com a infestação, mas não sofria sintomas depressivos
ou maníacos nem paranoia. Não usava drogas nem álcool. Ninguém na família tinha história de
doença psiquiátrica. A sra. Gonzalez teve depressão uma vez no passado e foi tratada
brevemente com um antidepressivo. Não apresentava problemas médicos relevantes.
Suas preocupações com a infestação começaram em meio ao diagnóstico de câncer
invasivo de sua irmã, o início da menopausa, as dificuldades financeiras que provavelmente a
forçariam a se mudar dos Estados Unidos de volta para a Argentina (seu país de origem) e o
rompimento recente com seu namorado. Como parâmetro, descreveu a si mesma como uma
pessoa obsessiva que sempre teve fobias de contaminação, que se agravavam em momentos
de ansiedade.
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Durante o exame de estado mental, a sra. Gonzalez estava calma e participativa, com
relacionamento e contato visual normais. Ela ofereceu uma pequena sacola plástica contendo
“pulgas e larvas” que havia coletado no hospital enquanto esperava a avaliação. A inspeção da
sacola revelou pedaços de fios e de reboco. Seu discurso tinha um tom de urgência e descreveu
seu humor como “triste agora”.
Ficava lacrimosa em intervalos, mas, fora isso, reagia com sorrisos. Seus pensamentos
estavam excessivamente inclusivos e intensamente concentrados em pulgas. Ela expressou a
crença de que, cada vez que um fio de cabelo caía de sua cabeça, ele se transformava em uma
larva. Quando chorava, acreditava que um ovo saía de seu canal lacrimal. Não estava suicida
nem homicida. Expressou uma crença inabalável de que os fiapos eram larvas e de que
estava infestada. Negou alucinações. Sua cognição estava intacta. Seu insight estava
prejudicado, mas seu julgamento foi considerado razoavelmente adequado. O exame
dermatológico revelou que não havia insetos nem larvas na pele da sra. Gonzalez. Os resultados
do exame neurológico, a tomografia computadorizada da cabeça, os testes laboratoriais e os
dados toxicológicos estavam normais. Ela teve alta medicada com antipsicóticos de baixa
dosagem e consultas semanais para psicoterapia de apoio. Sua preocupação melhorou em
alguns dias e se resolveu totalmente em duas semanas. Ela desenvolveu insight suficiente para
se referir à crença de que havia pulgas em sua pele como um “pensamento maluco”. Atribuiu
sua “fuga da realidade” a estressores múltiplos e conseguiu elaborar a noção de que dependia
de seu delírio como forma de desviar sua atenção dos problemas reais. Sua família confirmou a
rápida volta a seus padrões de normalidade.

Diagnóstico

• Transtorno psicótico breve com estressores evidentes.

Discussão

Os delírios da sra. Gonzalez com retorno rápido ao funcionamento total pré-mórbido


sugerem um diagnóstico de transtorno psicótico breve com estressores evidentes. Anteriormente
denominado “psicose reativa breve”, um transtorno psicótico breve (com ou sem estressores
evidentes) não pode ser diagnosticado até o retorno aos parâmetros de referência. O diagnóstico
diferencial dessa condição é importante.No momento da admissão, a paciente
foi diagnosticada com “transtorno psicótico não especificado”, uma expressão usada com
frequência quando a psicose está presente, mas as informações são incompletas. Apenas depois
que seus sintomas se resolveram rapidamente, ela pôde ser diagnosticada com um transtorno
psicótico breve. O insight da sra. Gonzales retornou de forma rápida, e ela conseguiu estabelecer
a conexão entre seus sintomas e os estressores que os antecederam. Embora o tratamento
provavelmente reduza a duração de um episódio psicótico agudo, o DSM-5 não contabiliza
especificamente o tratamento nas exigências de que o episódio dure menos de um mês.
Vale observar que os estressores podem ser positivos (p. ex., casamento, novo em-
prego, bebê recém-nascido) ou negativos, como no caso da sra. Gonzalez. Um prognóstico
favorável costuma estar associado a uma história de bom funcionamento pré-mórbido,
estressores agudos significativos e ausência de história familiar ou pessoal de doença
psiquiátrica.
A falta de sono da sra. Gonzalez, sua agitação comportamental e a história depressiva
pré-mórbida também poderiam sugerir episódio bipolar, mas não há outros sintomas que
sustentem esse diagnóstico. De modo semelhante, sua obsessão delirante com infestação de
pulgas sugere um possível transtorno delirante, os sintomas da sra. Gonzalez, porém, se
resolveram rápido demais para que essa probabilidade existisse. Pacientes com transtornos da
personalidade podem ter “micropsicoses”, no entanto, a sra. Gonzalez não parece apresentar
transtorno da personalidade nem vulnerabilidade específica da personalidade. Simulação e
transtorno factício parecem improváveis, assim como delirium e outras doenças médicas.
Episódios psicóticos breves têm baixa prevalência na população, o que poderia indicar
que psicoses breves são incomuns. Mas também é possível que pessoas com sintomas
psicóticos de curtíssima duração não busquem auxílio psiquiátrico. Além disso, a brevidade e a
imprevisibilidade dos sintomas dificultam pesquisas e o desenvolvimento de especialização por
parte de clínicos ou de instituições. Também se observa que episódios psicóticos breves
FACULDADE ANHANGUERA POÇOS DE CALDAS – MG
Unidade- Av. João Pinheiro, 1046, centro
CEP 37701386 (35) 21076006

apresentam estabilidade relativamente baixa ao longo do tempo, o que faz sentido, uma
vez que – ao contrário da esquizofrenia – episódios psicóticos breves têm, por definição, curta
duração e não podem ser diagnosticados sem que haja tanto a remissão dos sintomas quanto
um acompanhamento criterioso.

Indicação de filme – Precisamos falar sobre Kevin

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