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TEMA: Historia clinica psiquiatrica

Objectivo
No final da aula, o aluno/estudante deve ser capaz de:
Conhecer a Historia Clínica Psiquiátrica;
Perceber a importância de cada item;
Listar e explicar quais devem ser os cuidados éticos no atendimento do
utente e familiares em saúde mental.
Identificar os diferentes dados e seu impacto.
ANAMNESE PSIQUIÁTRICA: IDENTIFICAÇÃO, QUEIXA
PRINCIPAL E HISTÓRIA DA DOENÇA ACTUAL

• Identificação
• Na identificação do paciente é importante colher os seguintes dados:
• Nome: quando o paciente souber dizer o seu nome, isso permite nos
avaliar a sua orientação autopsíquica (em relação a sua pessoa, sua
identidade).
• Idade: existe algum tipo de esquizofrenia que inicia em adolescentes
jovens aos 15 e 25 anos de idade. A demência de Alzheimer é comum
em indivíduos idosos com mais de 60 anos de idade.
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• Sexo: as perturbações depressivas são mais comuns em indivíduos do
sexo feminino. Os casos de suicídio consumado são mais comuns nos
homens devido a maior letalidade dos métodos usados. Geralmente
os homens consomem mais drogas em relação as mulheres
provavelmente pela maior exposição, alto poder de compra e maior
tolerância por parte da sociedade.
• Estado civil: os indivíduos solteiros estão mais susceptíveis a sofrer de
perturbação depressiva comparativamente comos casados.
Geralmente o estado civil casado ou união de facto funciona como
factor protector contra a depressão.
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• Residência: o conhecimento da residência é fundamental no
caso de necessidade de reintegração social dos pacientes, por
outro lado, pode permitir o acesso a outras fontes próximas
(vizinhos, familiares) para melhor entender a dinâmica do
paciente em casa e outros aspectos que possam ajudar no
processo diagnóstico.
• Naturalidade: o conhecimento da naturalidade pode permitir
nos ter uma noção sobre os hábitos culturais de uma
determinada região, factor importante no conhecimento da
dimensão social. Pode permitir melhor compreensão da doença
e melhor intervenção terapêutica.
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• Nível de escolaridade: geralmentequanto maior for a
escolaridade, maior será a probabilidade de boa
compreensão sobre a doença e boa adesão terapêutica. No
caso de indivíduos com atraso mental poderá haver relatos
de baixa escolaridade associada a dificuldade de
aprendizagem na escola.
• Contacto de familiares ou conhecidos: o contacto de
familiares ou conhecidos é de extrema importância para a
entrevista psiquiátrica dado que sempre deve-se confrontar
os relatos do paciente com os dos familiares principalmente
nos casos de falta de juízo crítico, comum nas perturbações
psicóticas (cursam com alucinações, delírios).
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• Profissão ou ocupação: a falta de emprego associado a
ausência de bom suporte social constitui um factor de mau
prognóstico para a evolução das perturbações mentais,
principalmente aquelas que levam à grandes incapacidades
cognitivas (esquizofrenia). Por outro lado, a ocupação
constitui algo terapêutico para os pacientes com
perturbações mentais (ex: depressão), devido ao grande
isolamento e estigma nestes pacientes. Mas a mesma
ocupação deverá ser adequada ao seu estado de
incapacidade mental
Queixa Principal e História da Doença Actual

• Os pacientes com patologia psiquiátrica, apresentam


sintomas específicos que reflectem alterações à nível das
funções psíquicas normais (descritas na aula 2). Abaixo,
descrevem-se os principais sintomas psiquiátricos
agrupados por tipo de função psíquica anormal:
• Alterações das Funções de Síntese: Turvação da
Consciência, Estupor, Desorientação Apática,
Confabulação, Hipoprosexia.
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• Turvação da Consciência: cursa com graus menores de prejuízo da
consciência e com compromisso do pensamento, atenção,
concentração, compreensão, julgamento lógico e comunicação. É
comum nas síndromes cerebrais orgânicos agudos (malária
cerebral, meningite), incluindo intoxicação por álcool e outras
drogas.
• Estupor: é uma alteração da consciência caracterizada pela
redução ou ausência das funções de relação (acção e fala). Há
incapacidade de iniciar a fala (mutismo) ou acção (acinesia) em
paciente que parece desperto até mesmo alerta. Comum nas
doenças psiquiátricas funcionais (esquizofrenia, psicoses afectivas,
histeria).
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• Desorientação Apática: é uma alteração em que o paciente
está lúcido e percebe com clareza o que se passa no mundo
externo, mas sem juízo crítico sobre a sua situação. Há falta
de interesse, inibição psíquica, insuficiente energia psíquica.
Comum na Esquizofrenia Crónica e nos quadros depressivos.
• Confabulação: é uma alteração qualitativa da memória em
que memórias falsas preenchem as
• lacunas mnésicas (lacunas de memória). Consiste no relato
de factos que nunca aconteceram e são tomados como
acontecimentos vividos. Comum no alcoolismo crónico.
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• Hipoprosexia: é uma alteração quantitativa da
atenção com diminuição acentuada da atenção.
Comum na Embriaguez Alcoólica, Perturbações
Mentais Orgânicas, Estados Depressivos, Debilidade
Intelectual.
• Alterações das Funções Cognitivas: Sensação
(Hipoestesia, Anestesia, Analgesia); Percepção
(Alucinação, Ilusão, Pseudoalucinação); Pensamento
(Delírio), Inteligência (Transtornos da capacidade de
abstração e das operações).
Alterações da Sensação
• Hipoestesia: alteração quantitativa das sensações com diminuição da intensidade
das mesmas. Comum em pessoas normais, quadros depressivos e em estados
estuporosos.
• Anestesia: é uma alteração qualitativa da sensação caracterizada pela abolição de
todas as formas de sensibilidade. É comum nas doenças neurológicas focais e em
quadros conversivos (Histeria).
• Analgesia: é uma alteração qualitativa caracterizada pela abolição da sensibilidade
dolorosa. Comum nas doenças cerebrais focais e na esquizofrenia (forma
catatónica).
• O estudo das alterações das sensações é importante pois há quadros psiquiátricos
que
• cursam com sintomas neurológicos sem evidência de uma afeção neurológica
(quadros
• conversivos, esquizofrenia).
Alterações da Percepção
• Alucinação: é uma alteração cognitiva caracterizada pela percepção de
objecto na
• ausência de estímulo externo. Pode ser auditiva (comum na esquizofrenia) ou
visual
• (comum nos síndromes cerebrais orgânicos agudos ou intoxicação alcoólica).
• Nas alucinações autitivas o paciente doente pode referir ouvir uma única voz
que repete uma palavra ou frases completas, ou muitas vozes que mantêm
entra si uma conversa (vozes dialogadas).
• As alucinações tácteis são frequentes em perturbações mentais tóxicas. Os
doentes sentem que, pequenos animais como baratas, aranhas, percevejos,
pulgas, piolhos e formigas, andam sobre a pele. Acontece no delírium
tremens onde os doentes, durante a observação, tentam retirar esses animais
e colocar sobre a mesa para mostrar ao clínico que naturalmente não os vê.
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• As alucinações visuais são características de algumas
intoxicações (cocaína, álcool) ou de Perturbações
Mentais Orgânicas. O paciente pode referir ver pessoas
estranhas que falam mal de si ou alguns bichos
assustadores. Geralmente ele fica assustado e tenta
defender se e fugir da suposta ameaça.
• Pseudoalucinação: falsa percepção, localizada fora do
campo sensorial do paciente, em locais normalmente
não perceptíveis: “.escuto vozes dentro da minha
cabeça...” , “.. sinto cheiro desagradável dentro da minha
cabeça...”. Comum nos Quadros Psicóticos.
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• A ilusão caracteriza - se pela percepção deformada
de objecto real existente no campo sensorial do
indivíduo. Por si só não constitui sintoma de doença
mental e é comum em estados de falta de atenção
ou de alterações emocionais. Exemplo: num quarto
escuro o paciente percebe como se fosse imagem
de uma pessoa um chapéu e um casaco
pendurados, neste caso fala-se de ilusão visual.
 
Alterações do Pensamento
• O delírio constitui uma alteração do conteúdo do pensamento e é um
sintoma muito
• importante em psiquiatria. Define - se como ideia ou crença falsa,
inabalável, fora do
• contexto educacional, cultural e social do paciente e mantida com
extraordinária convicção e certeza subjectiva. Ex: o paciente pode referir
que possui uma riqueza inestimável (delírio de grandeza), enquanto na
verdade é um indivíduo carenciado.
• Constitui um sintoma comum na esquizofrenia, perturbação delirante
persistente ou em algumas síndromes demenciais.
Alterações da Inteligência
• Transtornos da capacidade de abstração constituem
expressão de anormalidades do processo de pensamento e
podem classificar - se em:
• Sobre inclusão: consiste nacriação de conceitos pouco
precisos e sendo incorporados em categorias onde
normalmente estariam excluídos pela sua essência. Um
paciente ao referir-se aos materiais de construção pode
relatar “blocos”, “cimento” e “mãos do pedreiro”. O
conceito “materiais de construção” sobreinclue “mãos
do pedreiro”. Comum na Psicose Esquizofrénica.
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• Metonímia: o paciente denomina um objecto ou fenómeno
por uma palavra existente no vocabulário com um significado
diferente do verdadeiro.
• Pensamento concreto: paciente é incapaz de libertar-se do
significado literal das palavras, apresenta pensamento
concreto, vinculado com as percepções ou suas evocações
directas sem captar a sua essência. Ex: Ao definir lanterna
“tubo de metal com duas pilhas” ao em vez de “instrumento
que projecta a luz”. Ao ser interrogado “como vai?” responde
“vou de carro”. Comum na Esquizofrenia, Demência e Atraso
Mental.
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• Transtornos das operações: expressam - se pelo
raciocínio, juízo ou conclusões que violam as leis da
lógica dando contradições. Podem classificar se em:
• Contradições: identificam-se os sujeitos quando têm
atributos iguais. Ex:” Os três
• mosqueteiros eram três e nós somos três, logo somos os
três mosqueteiros”.
• Pensamento simétrico: “se José é o pai de Fernando,
logo Fernando é o pai do José”.
Alteração das Funções Afectivas
• Anedonia é uma alteração de humor caracterizada
pela ausência de prazer em actividades habitualmente
e anteriormente prazerosas. Sintoma comum em
estados depressivos e constitui um bom indicador da
resposta terapêutica aos antidepressivos.
• Euforia é um humor elevado, excessivamente feliz,
alegria exagerada. Comum em indivíduos normais
nalgumas situações (ex: ganho de lotaria, paixão) ou
na mania.
Alterações das Funções da Conduta
• Alterações da conduta implícita (Abulia, Hiperbulia,
Hipererotismo)
• Abulia: perda total do desejo de fazer as coisas. É
frequente em depressões graves, esquizofrenia e
outros quadros que inibem a conduta humana.
• Hiperbulia: aumento exagerado do desejo de fazer
as coisas. Comum nos quadros de mania.
• Hipererotismo: aumento do desejo sexual. Comum
nos Quadros Maníacos.
Alterações da conduta explícita
• Agitação psicomotora: é o aumento na conduta do
paciente de movimentos reflexos incoordenados e
inconscientes que chegam a adquirir preponderância sobre
as actividades conscientes e voluntárias. Comum na
esquizofrenia, psicoses tóxicas, psicoses orgânicas,
síndrome demencial, atraso mental. O paciente pode
chegar no serviço de urgências, na companhia de familiares
ou amigos relatando alteração de comportamento
caracterizado por partir objectos em casa, agredir as
pessoas, andar de um lado para o outro sem destino.
Alterações do Julgamento: Juízo crítico

• Clinicamente, o juízo crítico foca-se na capacidade dos


pacientes reconhecerem que estão doentes,
compreenderem que os seus problemas são resultantes
do desvio da normalidade, e compreenderem que o
tratamento pode ser útil para o alívio dos sintomas.
• Pacientes com psicose esquizofrénica, psicose delirante
persistente não têm juízo crítico em relação a sua
doença e a necessidade de tratamento. Referem que
estão muito bem, não necessitam de tratamento e tão
pouco sabem porquê estão no hospital.
Alterações das Funções de Relação
• Avalia as relações:
• Consigo mesmo: Solicitando o paciente para definir-se e
dizer as bases ou modelos para edificação da sua
personalidade, e dizer também o que acha que os outros
pensam dele.
• Com os outros: O objectivo é identificar tipos de relacões
como por exemplo de dependência ou passividade,
dominante (sentindo-se como líder nas suas relações
humanas), comunicativo, etc. É necessário explorar também
a base em que essas relações se estabelecem (insegurança,
depressão).
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• Com as coisas: Procurar conhecer área de interesse do
paciente, se pela arte, literatura, ciência, cinema, religião,
política, etc.
• Nos transtornos mentais, por exemplo, depressivos pode se
notar uma alteração das funções de relação com os outros
(isolamento) com as coisas (redução do interesse pela
ocupação laboral, académica, recreativa e outras actividades
geralmente prazerosas.
• NB: A descrição das alterações das funções psíquicas será
abordada com mais detalhes na aula do exame do estado
mental.
Fim!

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