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UNIP – UNIVERSIDADE PAULISTA.

Disciplina: Psicologia Hospitalar.


Professora/Supervisora: Ana Paula Parada.
Aluna: Laila Roberta Dos Reis Lopes. RA: T584HA9 7
Livro: “Manuais de Especialização – Psicologia Hospitalar”.
Resumo: Capítulo 05 – A psicopatologia na assistência psicológica no hospital-
geral.

Em 1913, Karl Jaspers delineou o escopo da psicopatologia,


focalizando a atividade mental consciente e real. A busca reside na
compreensão das experiências, sentimentos e ações humanas, bem como na
investigação das causas e circunstâncias subjacentes. Contudo, é essencial
esclarecer que a atenção recai apenas sobre a atividade psíquica patológica.
Na perspectiva contemporânea, a psicopatologia analisa várias facetas
da vida mental, incluindo:

 Processos intelectuais elementares (percepção sensorial).


 Processos intelectuais avançados (pensamento).
 Aspectos cognitivos (consciência, atenção, orientação, memória).
 Emoções (afetos, humor).
 Vontade (volição, psicomotricidade).

As vivências mentais são esclarecidas ao considerarmos a história


pessoal do indivíduo. Elas podem surgir como respostas a eventos
estressantes, estar ligadas a traços de personalidade na ocorrência de
fenômenos psicopatológicos compreensíveis. Além disso, podem estar
enraizadas no desenvolvimento da personalidade ou surgir de rupturas
inexplicáveis, embora elucidáveis.
Neste capítulo, serão abordados dois tópicos: a natureza, função e
distorção de cada fenômeno psíquico, bem como as síndromes psiquiátricas no
contexto hospitalar.
 Consciência:
A consciência é o entendimento compartilhado e interligado com
outros. Sua finalidade é conectar o indivíduo à realidade, possibilitando a
percepção e o entendimento dos elementos circundantes. Mudanças na
consciência podem ocorrer em termos de quantidade ou qualidade.

 Mudanças na Quantidade de Consciência:


Modificações quantitativas na consciência são observadas como
obscuridade da consciência. Elas podem se manifestar por meio de vários
sinais e sintomas, como redução leve ou moderada do estado de alerta (o
indivíduo pode parecer sonolento ou aparentar estar acordado), diminuição da
clareza sensorial, concentração reduzida, dificuldade na compreensão,
desafios para integrar informações sensoriais do ambiente, perplexidade e
pensamentos desordenados. Em estágios mais avançados, podem evoluir para
estupor e, nos casos mais graves, até o coma. Isso resulta em uma notável
diminuição na consciência, com dificuldade para permanecer desperto e com a
inibição da psicomotricidade.

 Mudanças na Qualidade da Consciência:


Alterações qualitativas na consciência dizem respeito a perturbações
focais no campo da consciência. Por exemplo, estados crepusculares, que
envolvem um estreitamento temporário da consciência com a manutenção da
coordenação da atividade psicomotora. Dissociação da consciência, onde
ocorre uma divisão no campo da consciência, resultando na perda da unidade
psíquica. E também estados de transe, caracterizados por uma dissociação
com atividade motora estereotipada.

 Atenção:
Atenção é a focalização da consciência, representando o estado de
concentração da atividade mental. Ela é classificada em dois tipos: atenção
voluntária, caracterizada pela direção consciente para um alvo específico; e
atenção espontânea, que é instintiva e está relacionada à vigilância ambiental.
Alterações quantitativas podem levar a diminuição ou aumento tanto na
atenção voluntária quanto na espontânea. Mudanças podem ocorrer
independentemente de um tipo para o outro.

 Orientação:
Orientação envolve a amplitude e nitidez dos processos de
consciência, refletindo a clareza mental de maneira objetiva. Há uma dimensão
alopsíquica, onde o indivíduo percebe elementos externos à sua consciência,
como tempo e espaço; e uma dimensão autopsíquica, onde o sujeito se
percebe a si mesmo, identificando-se (atividade do eu, unidade do eu,
identidade do eu, contraposição do eu).

 Memória:
Memória é a capacidade de registrar, reter e evocar eventos passados.
Ela está intrinsecamente ligada aos níveis de consciência, atenção e interesse
emocional. O processo de memorização ocorre em três etapas:

 Fase de percepção, registro e fixação.


 Fase de retenção e conservação.
 Fase de reprodução e evocação.
Podem ser avaliados dois tipos fundamentais de memória: memória de
fixação (retenção de eventos recentes) e memória de evocação (capacidade de
recuperar e atualizar dados previamente fixados). A memória pode sofrer
alterações em termos de quantidade (amnésia, hipomnésia, hipermnésia) ou
qualidade, como observado em fabulações e reconhecimentos falsos.

 Pensamento:
O pensamento é construído a partir de elementos sensoriais, que
servem como base para o processo cognitivo. Os componentes essenciais do
pensamento são o conceito, o juízo e o raciocínio. O processo de pensar
envolve a descrição da forma, fluxo e conteúdo:

 Mudanças no fluxo do pensamento: aceleração, lentidão, bloqueio e


roubo de pensamento.
 Mudanças na forma do pensamento: dispersão de ideias, relaxamento
das associações e desintegração do pensamento.
 Mudanças no conteúdo do pensamento: delírios persecutórios,
depreciativos, religiosos, sexuais, de poder, riqueza ou grandiosidade,
ruína, culpa e hipocondríacos.
 Sensação, um fenômeno básico, surge em resposta a estímulos físicos,
químicos ou biológicos, internos ou externos ao corpo. Isso ativa órgãos
receptores visuais, olfativos, gustativos, auditivos, táteis, cenestésicos
(sensações somáticas) e cinestésicos (sensações motoras). A
percepção, por sua vez, é a conscientização de estímulos sensoriais.

 Características da Sensopercepção:
A base da sensopercepção é a imagem perceptiva real, marcada por
nitidez, corporeidade, estabilidade, projeção, imunidade voluntária e totalidade.
Mudanças ocorrem predominantemente na qualidade.

 Ilusões e Alucinações:
Ilusões são percepções distorcidas de objetos reais, frequentemente
visuais ou auditivas, resultando de níveis de consciência reduzidos, fadiga
intensa ou diminuição acentuada de atenção, bem como estados emocionais
(ilusões catatímicas). Alucinações são percepções distintas de objetos sem
estímulos reais, podendo ser visuais, auditivas, táteis, olfativas, gustativas,
cenestésicas e cinestésicas.

 Humor:
O humor é o estado emocional fundamental de uma pessoa em um
determinado momento, influenciado por intensidade, duração e excitabilidade.
Mudanças no humor são categorizadas por:

 Regulação da intensidade: hipertimia (exaltação patológica), eutimia


(normal), hipotimia (retraimento patológico).
 Regulação da duração: disforia (oscilação).
 Regulação da excitabilidade: irritabilidade emocional (propensão à raiva
e fúria).

 Afetividade:
Afetividade envolve o tom emocional ligado a ideias ou vivências. Está
conectada à sensopercepção, memória, pensamento e vontade. Variações na
afetividade podem manifestar-se como apatia (indiferença afetiva),
embotamento afetivo (ausência de conexões afetivas), ambivalência afetiva
(coexistência de estados emocionais contraditórios) e puerilismo
(comportamento infantil regressivo).

 Vontade:
A vontade é a capacidade de escolher, deliberar e realizar ações
voluntárias, permitindo a interação entre elementos cognitivos e emocionais. O
processo volitivo normal abrange etapas de desejo (afetivas), intenção (afetivo-
cognitivas), deliberação (cognitivas) e execução (psicomotoras). Mudanças
quantitativas incluem hiperbulia (aumento da iniciativa), hipobulia (redução da
iniciativa) e abulia (ausência de vontade). Apragmatismo refere-se à
incapacidade de agir de acordo com intenções e pensamentos.

 Aplicação da Psicopatologia na Medicina Interna: Síndromes


Psiquiátricas

Uma parcela significativa dos atendimentos na atenção primária (27 a


48%) aborda problemas de saúde mental, com muitos casos comparáveis em
gravidade aos de clínicas especializadas em psiquiatria. Em uma pesquisa
populacional no Brasil, 36% da população apresentava problemas de saúde
mental, incluindo transtornos ansiosos (18%), dependência de álcool (8%) e
transtornos depressivos (10%). As doenças ansiosas, somatoformes e
depressivas eram mais comuns nas mulheres, enquanto a dependência de
álcool predominava nos homens.
Esses dados destacam a importância do papel do clínico geral com
treinamento em saúde mental para identificar e tratar transtornos psiquiátricos
menores (ansiedade, somatoformes e depressão). No contexto hospitalar, a
presença do psicólogo nas unidades de internação é comum, e sua formação
em saúde mental permite auxiliar o médico na identificação dos principais
sintomas psicopatológicos.
Em medicina interna, transtornos psiquiátricos podem ser primários
(independentemente da doença física) ou secundários (relacionados à doença
física). Exemplos primários incluem pacientes com esquizofrenia buscando
ajuda por problemas respiratórios. No caso secundário, a doença mental pode
estar relacionada à doença orgânica ou ao tratamento. Pacientes com
hipotireoidismo podem apresentar sintomas depressivos devido às mudanças
hormonais. Em hepatopatia crônica por vírus C, a depressão pode ser
influenciada pelo uso de interferon.
Independentemente de ser primário ou secundário, transtornos
psiquiátricos na clínica médica envolvem casos comuns em ambulatórios.
Transtornos somatoformes, por exemplo, apresentam sintomas físicos sem
explicação médica, muitas vezes limitando o paciente emocional, funcional ou
socialmente. A avaliação clínica deve considerar aspectos psicológicos que
contribuem para o quadro. Vale notar que diagnósticos somatoformes
frequentemente se sobrepõem, pois critérios de classificação são superficiais,
excluindo patologias físicas suficiente.

 Transtornos Somatoformes: Dualidade Corpo-Mente na Avaliação

A designação de transtornos somatoformes perpetua a separação entre


corpo e mente, uma categorização que tem sido extensivamente debatida.
Propostas têm surgido para eliminar essa categoria, substituindo-a por uma
descrição mais integrada dos sintomas físicos nas doenças psiquiátricas. No
entanto, neste contexto, apresentamos os critérios atuais definidos pela
Organização Mundial da Saúde (OMS).
Esses transtornos formam um grupo que abrange sintomas físicos,
como náusea, dor e tontura, sem uma explicação médica adequada. Essas
queixas e sintomas somáticos são suficientemente graves para impactar
emocionalmente, funcionalmente ou socialmente os pacientes. O diagnóstico
só é possível quando a avaliação clínica leva em conta aspectos psicológicos
na manifestação desses sintomas, que contribuíram significativamente para o
desenvolvimento, gravidade e persistência do quadro. Importante ressaltar que
esses quadros não são resultantes de simulação, busca deliberada de atenção
ou transtorno factício.

 Transtornos de Ansiedade: Reações Normais e Patológicas

A ansiedade pode ser uma resposta comum do indivíduo ou um


sintoma. A ansiedade normal é um estado de medo ou apreensão subjetiva,
acompanhado por várias alterações autônomas. Este sentimento humano
surge em situações novas, agindo como um alerta que aciona reações
defensivas como palpitações ou diarreia. É uma experiência passageira,
suportável e pode ser produtiva como defesa contra o estresse.
A ansiedade patológica, por outro lado, pode ser um sintoma de
doença física (por exemplo, em casos de crise asmática ou angina pectoris), de
doença mental (como em quadros depressivos com agitação psicomotora ou
em pacientes com delírio paranoide) ou pode ser a própria doença mental
(ansiedade generalizada, síndrome do pânico, entre outros). Quando
considerada uma doença, a ansiedade é definida como um estado emocional
repetitivo ou persistente, no qual a ansiedade patológica desempenha um
papel central.
A ansiedade se caracteriza pela presença de sintomas psicológicos
(como estado constante de alerta, hipervigilância e medo exagerado) e
sintomas físicos (como anorexia, dispneia, hiperventilação, parestesia,
náuseas, vômitos, diarreia, sensação de vazio no estômago, boca seca,
palidez, rubor facial, aumento da frequência urinária, palpitações, tremores,
tonturas, desmaios, tensão muscular e disfunção sexual). Alguns pacientes
podem apresentar mais sintomas físicos, outros mais sintomas psicológicos, e
alguns manifestam ambos os tipos de sintomas.
Na prática clínica médica, os principais quadros de transtornos de
ansiedade seguem os critérios estabelecidos pela Classificação Internacional
de Doenças (CID-10). A tabela a seguir apresenta esses critérios e os quadros
correspondentes.

 Transtornos Confusionais: Delirium

Confusão mental, também conhecida como delirium, é uma síndrome


mental causada por fatores orgânicos, conhecidos ou não, que podem estar
relacionados a condições médicas gerais e/ou ao uso de substâncias. Essa
síndrome leva a um prejuízo na consciência. A característica fundamental é o
início abrupto dos sintomas, com flutuações ao longo do dia e, ocasionalmente,
com sintomas prévios (como inquietação diurna, ansiedade, medo ou
sensibilidade exagerada a sons e luz, além de alterações no ciclo sono-vigília).
 O diagnóstico de confusão mental, categorizado como F05 na CID-10,
deve ser considerado quando há uma alteração na consciência que
resulta em dificuldade de focar, manter ou sustentar a atenção,
alterações na cognição ou desenvolvimento de sintomas
sensoperceptivos que não são causados por uma condição pré-
existente. Esse quadro se desenvolve rapidamente (em horas ou dias) e
pode variar ao longo do dia. É importante identificar evidências clínicas
ou subsidiárias de problemas médicos subjacentes e/ou abuso de
substâncias.

Abordagem Psicológica dos Distúrbios Mentais

O papel do psicólogo hospitalar é essencial para auxiliar o médico geral


a adotar uma abordagem empática em relação ao paciente, colaborando para a
construção de uma percepção conjunta de que a condição de saúde pode
refletir um sofrimento emocional subjacente. A criação de uma aliança
terapêutica sólida é fundamental para que o paciente compreenda a
necessidade de não exagerar em investigações diagnósticas, ao mesmo tempo
em que se atenta para potenciais intercorrências clínicas.
Em situações de transtornos mentais coexistindo com sintomas físicos
de origem orgânica, o médico deve considerar ambas as perspectivas. No
contexto de transtornos somatoformes, é importante explorar a cronologia dos
impactos emocionais no quadro, desenvolver um sistema explicativo e
tranquilizar o paciente em relação aos sintomas físicos.
Nos casos de transtornos ansiosos e somatoformes, o tratamento
focaliza principalmente a ansiedade. No que se refere aos transtornos de
confusão mental, é crucial enfatizar que o tratamento curativo depende da
identificação e abordagem da causa orgânica subjacente. Durante o processo
de investigação, medidas de suporte são implementadas, frequentemente
incluindo internação hospitalar. Para pacientes com quadro confusional, a
criação de um ambiente com poucos estímulos (luz, som ambiente e circulação
limitados) é importante. Quando necessário, a contenção no leito pode ser
realizada, com orientações constantes tanto para o paciente quanto para os
familiares.

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